COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O tema do presente trimestre é o pentecostalismo no seu aspecto bíblico, teológico e prático. Os pentecostais são conhecidos por suas relações e experiências com a manifestação do Espirito de Deus, mas sua característica básica é o batismo no Espirito Santo, com seus dons e manifestações, como a glossolalia (línguas), as profecias, as curas e as outras operações de maravilhas. A primeira lição mostra uma visão geral sobre a Pessoa do Espirito Santo e o que a Bíblia ensina sobre Ele. – O estudo da Pessoa do Espírito é importante para todos os cristãos, pois é Ele quem guia os crentes e os leva mais próximo de Deus. Ser pentecostal significa ter intimidade com a pessoa do Espírito, pois a teologia pentecostal não é teórica. Nossa doutrina se baseia nas Escrituras Sagradas, única regra de fé e prática para a vida cristã, mas a experiência pentecostal torna Deus mais real, Ele não está longe de cada um de nós (At 17.27). Por isso, é fundamental o conhecimento bíblico sobre a identidade do Espírito Santo como a sua deidade e personalidade, atributos divinos e obras. São elementos que mostram a consubstancialidade do Espírito com o Pai e o Filho, como terceira Pessoa da Trindade.
I. A REVELAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO NAS
ESCRITURAS
O que os crentes precisam saber
sobre o Espirito Santo? Sobre a sua divindade, a sua personalidade, os seus
atributos divinos e as suas obras de acordo com a revelação bíblica.
1. Divindade. A deidade absoluta do Espírito Santo é revelada nas Escrituras, e essa é
a crença da Igreja ao longo dos séculos, Essa verdade está clara na fórmula
batismal, quando o Espírito aparece como Deus igual ao Pai e ao Filho:
“batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espirito Santo” (Mt 28.19). Não
somente na fórmula trinitária, pois a Bíblia revela com clareza a divindade do
Espírito (2 Sm 23,2.3; 2 Co 3.17.18), e mais: “Não sabeis vós que sois o templo
de Deus e que o Espirito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16). O Espirito Santo
é chamado de Deus, pois o apóstolo usa alternadamente os nomes “Deus” e
“Espírito Santo”. Isso porque o cristão é templo de Deus (Jo 14.23). Assim,
habita no crente o Deus trino e uno: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Como em
Atos 5.3,4, Deus e o Espirito Santo são uma mesma deidade.
2. Personalidade. A personalidade do Espírito Santo é uma verdade bíblica. As Escrituras
revelam os elementos constitutivos dessa personalidade, e os principais são o
intelecto, a emoção e a vontade, entre os demais. O Espírito é inteligente e
raciocina (1 Co 2. 10,11; Rm 8.27); Ele tem emoção e sensibilidade, pois ama e
pode se entristecer (Rm 15.30; Ef 4 30) e é volitivo, isto é, tem vontade
própria. Ele não permitiu que Paulo com sua comitiva se dirigissem à Bi tinia
(At 16.7). O Espirito Santo distribui os dons espirituais conforme a Sua
vontade: “Mas um só e o mesmo Espirito opera todas essas coisas, repartindo
particularmente a cada um como quer” (1 Co 12.11) ou “distribuindo a cada um
particularmente como lhe apraz” (TB – Tradução Brasileira),
3. Atributos
divinos. A Bíblia revela todos os
atributos incomunicáveis e comunicáveis, ou seja, metafísicos e naturais de
Deus no Espirito Santo. Ele é onipotente: “no poder de milagres e prodígios, no
poder do Espírito Santo” (Rm 15.19 – TB); e a fonte de poder e milagres (Mt
12.28; At 2.4). 0 Espírito conhece todas as coisas, até as profundezas de Deus
(1 Co 2.10,11), assim como o coração humano (Ez 11.5; Rm 8.26.27); as coisas do
futuro (Jo 16.13; At 20.23), isso por ser onisciente. Ele possui o atributo da
eternidade, pois é chamado de “Espírito eterno’ (Hb 9.14). É o Criador do ser
humano e do mundo (Jó 26.13; 33.4; Sl 104.30) e, também, o Salvador (Ef 1.13;
Ef 4.30; Tt 3.4,5). A Palavra de Deus apresenta, de igual modo, seus atributos
comunicáveis, santidade, verdade, sabedoria, entre outros (Rm 15.16; Jo 14.26;
Ef 1.17; Jo 5.6).
– As Escrituras
Sagradas revelam que Deus é um só em essência e substância indivisível: “Ouve,
Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6.4 - ARC); a Bíblia
Hebraica, edição da Sêfer, traduz assim: “Escuta, Israel! O Eterno é nosso
Deus, o Eterno é um só”. As versões rabínicas preferem a tradução: “o Eterno é
um só”; fraseologia similar aparece em Zacarias: “um só será o SENHOR” (14.9).
Essa substância é indivisível, mas que se manifesta em três pessoas distintas,
o Pai, o Filho e o Espírito Santo (Mt 28.19). Essa formulação teológica aparece
no Credo de Atanásio: “A fé cristã é esta: que adoremos um Deus em trindade, e
trindade em unidade; não confundimos as Pessoas, nem separamos a substância”. O
apóstolo Paulo se refere a um só Deus, mas afirma: “o Espírito é o mesmo... o
Senhor é o mesmo..., mas é o mesmo Deus” (1 Co 12.4-6); isso quando falava em
diversidade de dons, diferentes ministérios e diversidade de operações. O
Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade, por meio de quem Deus age e
revela a sua vontade, concede poder e mostra a sua presença. – O Espírito Santo
aparece pela primeira na Bíblia como “Espírito de Deus” na obra de criação: “A
terra era sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito
de Deus se movia sobre as águas” (Gn 1.2). A expressão hebraica rûah’˘elõhîm,
“Espírito de Deus”, aparece 11 vezes no Antigo Testamento; “Espírito do
SENHOR”, 25 vezes e “Espírito Santo”, três vezes (Sl 51.11 [13]; Is 63.10, 11).
A palavra hebraica para “espírito” é ruah., um substantivo feminino que
aparece 378 vezes no Antigo Testamento e significa, simultaneamente, “vento,
sopro, hálito, espírito, Espírito”. O termo indica “algo que está em movimento
e que tem a força de pôr outras coisas em movimento”. O significado dessa
palavra é amplo, mas o sentido de todas as suas traduções possíveis pertence ao
mesmo campo semântico: “É um fenômeno semântico que reúne, ao mesmo tempo,
aspectos concretos e abstratos, e que encontra paralelos no grego, como, por
exemplo, no termo pneuma que denota um fenômeno tanto natural quanto
espiritual” – O Espírito Santo aparece como Deus, no Antigo Testamento, atuando
na criação do céu e da terra (Gn 1.2; Sl 104.30) e do ser humano (Jó 33.4);
inspirando os profetas (2 Pe 1.19-21), por essa razão o profeta era chamado de
“homem do Espírito” (Os 9.7). A sua manifestação na vida individual era algo
raro, Ele vinha, mas depois voltava. Isso aconteceu com os 70 anciãos (Nm
11.25); Otniel (Jz 6.34), Gideão (Jz 6.34); Jefté (Jz 11.29); Sansão (Jz 14.6);
Saul (1 Sm 10.10); Davi (1 Sm 16.13), dentre outros. Isso acontecia para que
eles pudessem receber recursos do céu para profetizar, julgar, liderar, lutar e
governar, conforme a vontade de Deus. – O Novo Testamento registra o início da
dispensação da plenitude do Espírito e essa nova etapa começou com a descida do
Espírito Santo, no dia de Pentecostes (At 2.1-8). Esse derramamento do Espírito
foi para que ele ficasse conosco “para sempre”, foi promessa de Jesus para a
Dispensação da Igreja (Jo 14.16). A sua manifestação pode ser classificada em
duas etapas: antes do Pentecostes, na vida de Jesus; e depois, na vida da
Igreja. Ele atuou na concepção virginal de Jesus, no ventre de Maria (Mt 1.18;
Lc 1.35) e em todo o ministério terreno de Jesus (At 10.38). No evangelho de
João, 14 a 16, há um relato importante sobre a personalidade e a deidade do
Espírito Santo, bem como suas obras e missão. Essa missão pode perfeitamente
ser vista na vida dos apóstolos, principalmente de Paulo, no livro de Atos.
Sua divindade – O Espírito
iguala-se ao Pai e ao Filho, tendo também um nome, pois o Senhor Jesus
determinou que os seus discípulos batizassem em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo (Mt 28.19). Isso significa ser o Espírito Santo objeto de nossa
fé, pois em Seu nome somos batizados, indicando reconhecimento igual ao do Pai
e do Filho. Sobre a “comunhão com o Espírito Santo” (2 Co 13.13), a Bíblia
mostra que Ele é não apenas objeto de nossa fé, mas também de nossa oração e
adoração. – Os dados da revelação divina a respeito da verdadeira identidade do
Espírito Santo são abundantes nas Escrituras, desde o Gênesis, na criação (Gn
1.2), até o Apocalipse, na redenção (Ap 22.17). Encontramos na Bíblia tudo o
que precisamos saber sobre o Espírito, principalmente no que se refere à sua
deidade absoluta. Isso pode ser visto de maneira direta e por meio de seus
atributos e obras. – O Espírito Santo inspirou os profetas e apóstolos das
Escrituras: “O Espírito do Senhor fala por meio de mim” (2 Sm 23.2); “homens
falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2 Pe 1.21); entretanto,
todos nós sabemos que “é próprio do Espírito esconder-se”. – O Espírito é
eterno, isso significa que ele existe por si mesmo, sem começo e nem fim de
existência. Orígenes escreveu: “o Espírito Santo é uma substância intelectual,
e que subsiste e existe por si mesmo”. Sua
declaração pneumatológica está de acordo com as Escrituras, que tem a palavra
final: “muito mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, a si mesmo
ofereceu sem mácula a Deus” (Hb 9.14). É natural conceber a ideia de que o
Espírito atua no universo desde a sua origem (Gn 1.2; Sl 104.30). – Além de
eterno, ele é onipotente, isso significa ser todo-poderoso: “para que
sejam ricos de esperança no poder do Espírito Santo ... por força de sinais e
prodígios, pelo poder do Espírito de Deus” (Rm 15.13, 19). O Espírito é
identificado como o Altíssimo, “O Espírito Santo virá sobre você, e o
poder do Altíssimo a envolverá com a sua sombra” (Lc 1.35). – O Espírito Santo
é onipresente e onisciente. A onipresença é o poder de estar em todos os
lugares ao mesmo tempo (Jr 23.23, 24), no entanto, isso é visto na ação do
Espírito no mundo e na vida humana (Sl 139.7-10; Jo 14.16; 1 Co 3.16). A
onisciência é o atributo divino para descrever o conhecimento perfeito e
absoluto que Deus possui de todas as coisas, de todos os eventos e de todas
circunstâncias por toda a eternidade passada e futura (Is 46.9, 10). O Espírito
conhece todas as coisas porque ele é Deus (1 Co 2.10, 11). – O Espírito
Santo é Javé: “Mas o Espírito do SENHOR veio com poder sobre Sansão” (Jz
15.14); em seguida lemos que depois de traído por Dalila, Sansão “Não sabia,
porém, que o SENHOR o havia deixado” (Jz 16.20). Assim, tanto o Espírito de
Javé e Javé, ou seja, o Espírito do SENHOR e o SENHOR são nomes divinos usados
alternadamente. Isso fica claro no Antigo Testamento que o Espírito Santo é o
próprio Deus. – O Espírito Santo é chamado nominalmente de Deus. Pedro
perguntou a Ananias: “Então Pedro disse: Ananias, por que você permitiu que
Satanás enchesse o seu coração, para que você mentisse ao Espírito Santo,
retendo parte do valor do campo? Não é verdade que, conservando a propriedade,
seria sua? E, depois de vendida, o dinheiro não estaria em seu poder? Por que
você decidiu fazer uma coisa dessas? Você não mentiu para os homens, mas para
Deus” (At 5.3,4).
Sua personalidade – A Bíblia
revela o Espírito Santo como uma pessoa, a terceira Pessoa da Trindade. Ele
possui intelecto, penetra todas as coisas (1 Co 2.10,11) e é inteligente (Rm
8.27). Ele tem emoção, sensibilidade (Rm 15.30; Ef 4.30) e vontade (At 16.6-11;
1 Co 12.11). As três faculdades: intelecto, emoção e vontade caracterizam a
personalidade. As reações do Espírito Santo são outra prova de Sua
personalidade, pois reage a certos atos praticados pelo ser humano. O Espírito
Santo mantém relações com os cristãos de maneira tal que somente uma pessoa
poderia ter, como mestre, consolador, santificador e guia. – O Espírito Santo
ensina (Jo 14.26). Ele é enviado pelo Pai, assim como o Filho o foi, a
diferença é que o Verbo divino assumiu a forma humana ao entrar no mundo, o
Espírito Santo veio como um “vento impetuoso” (At 2.2), mas foi enviado, e duas
funções dele são apresentadas no presente texto, ele “ensinará a vocês todas as
coisas e fará com se lembrem de tudo o que eu lhes disse”. O Espírito Santo fala
(At 13.2; Ap 2.7, 11, 17). Temos uma narrativa sendo o Espírito Santo um dos
personagens, ele aparece na história falando literalmente, escolhendo obreiros
para o campo missionário. O Espírito Santo guia em toda a verdade (Jo 16.13).
Ele guia e o Senhor Jesus afirma, ainda, que ele fala e ouve e conhece o
futuro. O Espírito julga (At 15.28), pois Ele aparece intervindo numa decisão
do primeiro concílio. O Senhor Jesus fala do Espírito como Juiz (Jo 16.8-11). O
Espírito Santo intercede (Rm 8.26), pois é Ele que nos ajuda, intercede por nós
e Ele geme. O Espírito Santo ama (Rm 15.30). Quem ama tem sentimento e
sensibilidade. Ele contende e age (Gn 6.3) por ser ele é um ser pessoal. O
Espírito Santo Ele convida (Ap 22.17). Junto, o Espírito Santo e a igreja
convidam o mundo inteiro para as bodas do Cordeiro (Ap 19.7).
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Uma boa aula de Escola Dominical
admite um bom diálogo entre professor e alunos. Todo diálogo pressupõe um
começo. Por isso, sugerimos que você inicie a aula fazendo um ponto de contato
com a seguinte pergunta: “O Espírito Santo é uma pessoa?”. A ideia é motivar o
aluno a se envolver com tema a partir desse ponto de contato.
Muitos irmãos e irmãs até acatam
a Lógica de o Espirito Santo ser uma pessoa, mas igualmente permanecem com
dúvidas. Não por acaso, alguns já foram Levados por vento de doutrinas que
apresentam o Espirito Santo, não como uma pessoa, mas como a “força ativa” de
Deus. Isso Lhe parece familiar?
Essa pergunta é uma oportunidade
para você perceber como está o conteúdo de doutrina bíblica em sua classe. De
acordo com as respostas, você pode ponderar se é preciso ou não aparar algumas
arestas doutrinárias com os seus alunos.
Após ouvir as muitas impressões
da classe, apresente o que a Bíblia ensina acerca da pessoa do Espírito Santo
conforme o primeiro tópico desta Lição.
II. O ESPÍRITO SANTO E JESUS CRISTO
Já estudamos diversas vezes
sobre a santíssima Trindade. O Senhor Jesus e o Espírito Santo são um só Deus
juntamente com o Pai, visto que a Trindade é a união de três Pessoas distintas
iguais em glória, poder e majestade.
1. Pericorese. É um termo teológico desconhecido no meio evangélico, que expressa a
relação intratrinitariana do Pai, do Filho e do Espírito Santo, ou seja, a
habitação das Pessoas da Trindade uma na outra. Cada Pessoa está nas outras e
cada uma se dá as duas outras. A intimidade entre o Filho e o Espírito Santo se
dá nesses termos e é eterna. Jesus fala desse relacionamento desde antes que o
mundo existisse (Jo 17 5) e em outro momento Ele diz a Filipe: “Não crés tu que
eu estou no Pai e que o Pai está em mim?” (Jo 14.10). O Espirito está também
nessa Trindade (1 Co 2.1041).
2. “Ele me glorificará” (Jo
16.44). Houve época que entre nós assembleianos alguns
questionavam a adoração ao Espirito Santo. 0 argumento era baseado numa
intepretação equivocada das palavras de Jesus: “Ele me glorificará, porque há
de receber o que é meu” {Jo 16.14). Ainda hoje é comum ouvir alguém dizer que o
Espírito Santo não deve ser adorado porque é Ele que glorifica a Cristo. Tal
argumento é equivocado, pois o Pai glorifica também o Filho (Jo 17.5), e nem por
isso se diz que o Pai não deve ser adorado. Se o Espírito é Deus, logo, pode
ser adorado, do contrário, seria um deus de segunda categoria, e isso não
existe na fé cristã.
3. O efeito prático da
pericorese. A verdade é que quando
expressamos num culto “glória a Deus!”, o Filho e o Espírito são glorificados
no seu louvor (Fp 3-3). Da mesma maneira, quando damos glória a Jesus, o Pai e
o Espírito Santo estão sendo também glorificados, e igualmente quando se
glorifica o Espírito Santo, o Pai e o Filho são glorificados juntamente (Ap
5.6,13). De modo que a declaração do artigo de fé 27 do Credo de Atanásio,
“tanto a unidade na trindade como a trindade na unidade deve ser adorada”, está
fundamentada nas Escrituras. Tanto faz adorar a Jesus separadamente ou a
qualquer das outras Pessoas da Trindade, como adorar a Trindade.
4. Consubstanciai com o
Filho. Consubstanciai quer dizer, “da mesma substância”. 0
Senhor Jesus prometeu enviar o Consolador e o identifica com o Espírito Santo:
“Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome”
(v.26). O Filho é consubstanciai com o Pai (Jo 10.30) da mesma forma que o
Espírito ê consubstanciai com o Filho [Rm 8.9). Jesus disse que o Pai “vos dará
outro Consolador” (v.16). A palavra “outro”, em grego, empregada nessa
passagem, significa ser alguém da mesma natureza, da mesma espécie e da mesma
qualidade. O Espírito Santo, portanto, é alguém como Jesus, da mesma
substância, glória e poder.
– O
Antigo Testamento relaciona a promessa messiânica ao Espírito Santo: “Eis aqui
o meu servo, a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se agrada.
Pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios” (Is
42.1); “O Espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu para
pregar boas-novas aos pobres, enviou-me a curar os quebrantados de coração, a
proclamar libertação aos cativos e a pôr em liberdade os algemados” (Is 61.1).
O Senhor Jesus reconheceu que essa palavra profética se referia a Ele mesmo,
que se cumpriu nEle (Mt 12.18-21; Lc 4.17-21). O Espírito Santo atuou na
concepção virginal de Jesus no ventre de Maria (Mt 1.20; Lc 1.35) e veio sobre
ele por ocasião do seu batismo por João Batista no rio Jordão (Mt 3.17; Mc
1.10; Lc 3.22), e o apóstolo Pedro relata isso na casa de Cornélio: “como Deus
ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder. Jesus andou por toda
parte, fazendo o bem e curando todos os oprimidos do diabo, porque Deus estava
com ele” (At 10.38). A ressurreição de Jesus é obra da Trindade, o Pai (At
2.24; 1 Co 6.14), o Filho, pois Jesus ensinava que ele haveria de
ressuscitar-se a si mesmo (Jo 2.19-22; 10.18). – A ressurreição de Jesus é
também obra do Espírito: “e foi designado Filho de Deus com poder, segundo o
Espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso
Senhor” (Rm 1.4); “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo
pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas
vivificado pelo Espírito” (1 Pe 3.18 - ARC). Outras versões traduzem
“vivificado no Espírito”. A ausência da preposição grega nessa
construção petrina permite ambas traduções. A NVI e a Almeida Século 21
empregam: “mas vivificado pelo Espírito”, e a NVT traduz por, “mas foi
ressuscitado pelo Espírito”. – O Espírito Santo é chamado de Espírito de Jesus
(At 16.6, 7), de Espírito de Cristo: “E, se alguém não tem o Espírito de
Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9); Espírito de seu Filho, “Deus enviou o
Espírito de seu Filho ao nosso coração, e esse Espírito clama: “Aba” (Gl 4.6) e
Espírito de Jesus Cristo, “e com a ajuda do Espírito de Jesus Cristo, isso
resultará em minha libertação” (Fp 1.19). As expressões alternativas “Espírito
Santo” e “Espírito de Jesus Cristo, de Jesus, de Cristo, de seu Filho” revelam
a divindade de Jesus. O Espírito e o Filho são distintos, são o mesmo Deus
juntamente com o Pai, mas não a mesma pessoa. Os unicistas estão equivocados
com a doutrina de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam uma só pessoa. – O
Espírito Santo como eterno e membro da Trindade se relaciona com o Pai e o
Filho e isso desde a eternidade passada. Jesus fala desse relacionamento desde
antes que o mundo existisse (Jo 17.5), e em outro lugar ele afirma que está no
Pai, e o Pai está nele (Jo 14.10, 11). – A pericorese trinitária consiste na
habitação das Pessoas da Trindade uma na outra. Elas são um só Deus porque cada
uma está nas outras e cada uma se dá às duas outras. Mas isso não significa não
poder haver experiência distinta de Jesus como homem com o Espírito Santo (Mt
3.17; At 10.38). A pericorese em cristologia significa a compenetração das duas
naturezas de Cristo, divina e humana, mas distintas na pessoa de Jesus. O termo
perich¯or¯esis, “interpenetração”, ou circumincessio, que em
latim significa “interpenetração mútua, circunsessão” são termos teológicos
usados para explicar um tema importante que pouco sabemos sobre a sua
realidade. O assunto diz respeito ao relacionamento íntimo entre as Pessoas da
Trindade. Compreender isso é importante porque fornece um modelo aplicável às
relações humanas. Muitos teólogos trabalham esse conceito para aplicar nesse
sentido. – Disse Jesus a respeito do Espírito Santo: “Ele me glorificará,
porque há de receber o que é meu” (Jo 16.14). É comum ouvir dizer que o
Espírito Santo não deve ser adorado porque ele glorifica a Cristo. É, na
verdade, um pensamento equivocado, pois se o Espírito é Deus, nisso por si só, a
sua adoração é aceitável, não existe na fé cristã um deus de segunda categoria,
um que deve ser adorado e outro não, isso não seria monoteísmo. Outro ponto
importante é que o próprio Pai também glorifica o Filho (Jo 17.5). O que Jesus
está dizendo é que a missão central do Espírito é revelar o Cristo, seu
ministério traz glória a Jesus por meio da revelação da pessoa e da obra do
Senhor Jesus.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Jesus reivindicava plena divindade
para o Espírito Santo: ’E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador,
para que fique convosco para sempre’ (Jo 14.16). Ao chamar o Espírito Santo
allon parakleton (outro ajudador do mesmo tipo que Ele mesmo), Jesus afirmou
que tudo quanto pode ser afirmado a respeito de sua natureza pode ser dito a
respeito do Espírito Santo. Por isso, a Bíblia dá testemunho da divindade do
Espírito Santo como a Terceira Pessoa da Trindade.
O Salmo 104.30 revela o Espirito
Santo como o Criador: ‘Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a
face da terra’. Pedro se refere a Ele como Deus (At 5.3,4), e autor da Epístola
aos Hebreus chama-o ‘Espírito eterno’ (Hb 9.14)” (HORTON, Stanley (Ed.) Teologia Sistemática: Uma Perspectiva
Pentecostal. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pp. 161-62).
III. O ESPÍRITO SANTO AGE NO
MUNDO E NO SER HUMANO
A atuação do Espírito Santo não
se restringe aos corações humanos, ele age sobre a criação inteira. Ele atua no
mundo e na igreja. Sua ação é ampla na vida humana no passado, no presente e no
futuro.
1. No mundo. Sua atuação é visível a começar pela criação e preservação do planeta
Terra: “e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas” (Gn 1.2). A ação
dele não ficou somente na ordem cósmica do universo. Ele contínua como
mantenedor e preservador de todas as coisas criadas: “Envias o teu Espírito, e
são criados, e assim renovas a face da terra” (Sl 104.30). A atuação do
Espírito acontece também nas coisas naturais do dia a dia, e nem por isso deixa
de ser uma ação milagrosa, como um acerto médico num diagnóstico complicado,
uma aprovação num concurso concorrido, uma promoção de cargo da empresa, entre
outros.
2. No plano divino da
salvação. Foi o Espirito Santo que
conduziu a história da redenção humana por meio da nação escolhida de Israel (1
Pe 1.10-12) e inspirou os profetas (2 Pe 1.19-21). Sua presença está em toda a
história dos antigos hebreus como os 70 anciãos auxiliares de Moisés (Nm 11.25)
e dos demais heróis de Israel como Otniel, Gideão, Sansão, Davi entre outros
(Jz 6.34; 14.6; 1 Sm 16.13). 0 Espírito é a primeira pessoa com quem o pecador
tem contato quando vem a Cristo, embora tal experiência não seja reconhecida ou
identificada no início, pois é Ele que nos leva a Cristo (1 Co 12.3).
3. Na vida humana. O Novo Testamento registra o início da dispensação da plenitude do
Espírito, e essa nova era começou com a descida do Espirito Santo, no dia de
pentecostes (At 2.1-8). Essa descida foi para que Ele ficasse conosco “para
sempre”, foi promessa de Jesus para a Dispensação da Igreja (Jo 14.16). Nos
dias atuais, o Espírito continua atuando na vida dos crentes. Isso pode ser
visto por meio do fruto do Espirito (Gl 5.22) e das manifestações dos dons
espirituais (1 Co 12.4-11).
– O
Espírito Santo age no mundo e no ser humano com poder porque ele é Deus em toda
a sua plenitude, não parte da divindade, igual ao Pai A sua atuação não se
restringe aos corações humanos, ele age sobre a criação inteira. Ele atua no
mundo e na igreja. Sua ação é ampla na vida humana no passado, no presente e no
futuro. O Espírito é Deus com todos os seus atributos e obras da divindade. – As
obras do Espírito no mundo e no ser humano revelam a sua deidade absoluta. Ele
é o Senhor da igreja (At 20.28) e salvador (Ef 1.13; 4.30; Tt 3.4, 5). O
Espírito Santo é bom (Ne 9.20; Sl 143.10). O Espírito é a verdade e é sábio (1
Jo 5.6; Is 11.2; Jo 14.26; Ef 1.17). Ele é aquele que dá a vida eterna (Gl
6.8), é o santificador dos fiéis (Rm 15.16; 1 Pe 1.2), habita nos fiéis (Jo
14.17; Rm 8.11; 1 Co 3.16; 6.19; 2 Tm 1.14; Tg 4.5); é essencialmente santo em
si mesmo (Rm 15.16; 1 Jo 2.20), a fonte de poder e milagres (Mt 12.28; At 2.4;
1 Co 12.9-11), o autor do novo nascimento (Jo 3.5,6; Tt 3.5) e da vida (Ez
37.14; Rm 8.11-13). O Espírito Santo é o distribuidor dos dons espirituais (1
Co 12.7-11); conhecedor do coração humano (Ez 11.5; Rm 8.26,27; 1 Co 12.10; At
5.3-9) e do futuro (Lc 2.26; Jo 16.13; At 20.23; 1 Tm 4.1; 1 Pe 1.11). Ele
gerou a Jesus Cristo (Lc 1.35), guiou e guia o seu povo e os crentes
individualmente (Sl 143.10; Is 63.14; Rm 8.14; Gl. 5.18)
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
Na profecia de Joel, portanto,
vemos uma expansão da atividade do Espirito Santo, e não uma mudança de
qualidade. Desde o Éden até hoje, Deus tem desejado a comunhão com a
humanidade. Não tem fundamento a ideia de que o Espirito Santo era inativo
entre os Leigos do Antigo Testamento. A atividade do Espírito Santo na vida
deles forma um paralelo com o seu envolvimento na vida dos que Ele tem trazido
à salvação dentro da Igreja. O Espírito transforma o coração das pessoas e
também as torna diferentes. Outro paralelo existe entre a vinda do Espírito
sobre o indivíduo, revestindo-o de poder para o seu cargo ou ministério, e a
plenitude do Espírito Santo na Igreja. Roger Stronstad demonstra que um dos
propósitos da ‘plenitude do Espírito Santo’ é equipar os crentes a cumprir o
ministério profético de declarar a vontade e propósitos de Deus para a Igreja e
para o mundo. É possível que isso envolva um comportamento incomum. Mesmo não
sendo assim, receber a plenitude do Espírito é um pico de experiência
emocional, física e religiosa, visando um propósito específico. Não se pode, no
entanto, viver continuamente, dia após dia, nesse pináculo. A presença do
Espírito Santo em nós, a partir do momento da salvação, visa manter-nos em
equilíbrio, dia após dia, momento após momento, principalmente após a
experiência da chegada do Espirito Santo ‘com poder sobre nós (HORTON, Stanley (Ed. J. Teologia Sistemática:
Uma Perspectiva Pentecostal. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pp. 394-95).
CONCLUSÃO
As informações sobre o Espírito
Santo são abundantes; procuramos apresentar um estudo conciso e compreensível.
Os pontos principais da doutrina pentecostal são temas das lições que se
seguem. É importante, por enquanto, saber que o estudo sobre o pentecostalismo
é o estudo sobre o Espirito Santo; e estudar o Espirito é estudar sobre Deus e
o seu relacionamento conosco em Cristo. – A teologia pentecostal é atual e está em voga no
cenário evangélico. É a teologia do Espírito em que todos nós devemos nos
aprofundar por duas razões simples: somos pentecostais e a nossa dispensação é
a dispensação do Espírito. Nessa dispensação, o Espírito Santo é a pessoa
específica da Trindade que mais atua em nós. Outro ponto importante que se deve
levar em conta é que a obra do Pai chamou mais atenção no período do Antigo
Testamento; a obra do Filho, nos evangelhos, mas desde o dia de Pentecostes o
Espírito Santo vem conduzindo a igreja, é por meio dele que temos contato com
Deus.
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 1º Trimestre 2020 - Lição 1. Rio de Janeiro: CPAD, 03, jan. 2021.
SOARES, Esequias. O verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
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