sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

LIÇÃO 13: A HUMILDADE E O AMOR DESINTERESSADO

SUBSÍDIO I

INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA

Esta parábola é registrada uma única vez, em Lucas 14.7-14, com a finalidade de ensinar o valor da humildade como marca de um verdadeiro seguidor de Cristo. Jesus havia observado que muitos buscavam ocupar os primeiros assentos nas celebrações festivas, e, que esta busca, demonstrava alguns problemas que deveriam ser confrontados. Nesta parábola há a informação que um fariseu, possivelmente muito rico e detentor de muitos bens (Lc 14.12), convidou Jesus para um banquete em sua casa. Embora este convite ter sido feito aparentemente de forma amistosa, a intenção deste fariseu era observar Cristo “mais de perto” para encontrar nEle algo que pudesse condená-lo (Lc 14.1).
Lockyer destaca que as pessoas que tinham a intenção de “pegar” Cristo em uma armadilha estavam “cegas pelo preconceito e esqueceram que o convidado a partilhar de sua hospitalidade, era o Senhor Onisciente e, como tal, estava em grande vantagem sobre eles. Eles não podiam ler os seus pensamentos, mas ele podia ler os deles e, nas parábolas desse capítulo, ele revelou os pensamentos que lhes iam na mente, e o significado sinistro dos seus atos. Naquela tarde memorável de sábado, ele dominou aquelas pessoas, e elas não o manipularam”.1
Era comum neste contexto haver uma distribuição especial de lugares para os convidados, que normalmente, se assentavam ao redor de uma mesa quadrangular, onde na posição central se posicionava o personagem mais importante da situação, e, bem próximo a ele, à esquerda e à direita, posicionavam-se os convidados mais importantes. Era comum também para um convidado sentir a necessidade de ser honrado pelo anfitrião, e este comportamento por si só não era errôneo, porém, a necessidade de buscar tal honra, somada ao desejo de torná-la essencial na ordem de prioridades pessoais, demonstrava ausência de humildade e desejo por reconhecimento humano.
A lição desta parábola é clara e objetiva ao exaltar o valor da humildade como marca indelével dos seguidores de Cristo, conforme Lucas 7.11: “Porquanto, qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Neste contexto, composto por fariseus, doutores da lei e religiosos de forma geral, a passagem de Provérbios 25.6-7 era bem conhecida: “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes; porque melhor é que te digam: Sobe para aqui, do que seres humilhado diante do príncipe a quem já os teus olhos viram”. Jesus por intermédio desta parábola tinha a intenção de ensinar o caminho correto do reconhecimento ao demonstrar que o convidado deveria ocupar os últimos lugares, e então, a partir dessa situação, recebesse o convite para ocupar outras posições de privilégio. Caso essa realidade não fosse aplicada, o convidado que tomou a atitude de ocupar o lugar de destaque sem ser convidado, poderia ser repreendido pelo anfitrião e deveria deixar o lugar que ocupava, gerando assim um grande constrangimento para si.
A lição repousa na ideia de que ocupar uma posição inferior possibilitava experimentar algo extraordinário, ou seja, ao portar-se de maneira humilde o convidado poderia trilhar um caminho de “ascensão” natural, uma vez que, se convidado fosse, avançaria em relação a posição que ocupava. Ao contrário, se ocupasse uma posição superior, sem ter sido convidado para isso, experimentaria o caminho do “declínio”, sendo convidado para se retirar de tal posição para ocupar um lugar inferior. Conegero destaca que “é melhor ser humilde em uma posição inferior do que um usurpador em uma posição superior”. 
Jesus estava demonstrando que seria prudente a qualquer convidado ocupar sempre o lugar de menor destaque à mesa, e que esse comportamento deveria ser sincero, transferindo para o anfitrião a prerrogativa do julgamento de importância e reconhecimento. Não se trata de um ensinamento dirigido ao cumprimento de regaras, mas sim, uma lição de humildade ensinada por Jesus.
Champlin destaca na reflexão de Lucas 14.10 que “era prudente ou sábio, por motivos de autorrespeito, escolher uma posição inferior, a fim de que, qualquer modificação na posição dos convidados, não deixasse de melhorar a posição do último colocado”.3  Este autor também destaca que na perspectiva espiritual, “não é apenas prudente, e, sim, necessário, desenvolver uma atitude humilde no tocante à própria posição social e no tocante à vida em geral”. Jesus ensina aqui que a atitude humilde “deveria ser a verdadeira expressão da personalidade e não tão somente uma ação sábia para impedir a possibilidade de ser envergonhado”.5  Jesus era um convidado digno de honra naquele banquete, porém, tomou o lugar mais humilde do ambiente para compartilhar uma extraordinária lição de humildade e honra.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal resume os ensinamentos de Jesus nesta parábola em duas partes: (a) Primeiro – dirigiu-se aos convidados dizendo-lhes que não buscassem lugares de honra, pois no Reino de Deus o serviço é mais importante do que a posição. (b) Segundo – disse ao anfitrião que não fosse excessivamente seletivo quanto aos convidados, numa referência direta à importância da prestação do serviço à todos, ou seja, o ensinou que Deus abre as portas do seu Reino a todos.

Texto extraído da obra: As Parábolas de Jesus: As verdades e princípios divinos para uma vida abundante. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Chegamos ao final deste trimestre, estudamos várias parábolas de Jesus, identificando o foco de cada uma delas. Nessa última lição, destacaremos a importância da humildade, e do amor desinteressado. Inicialmente, meditaremos a respeito da parábola dos convidados, em seguida, enfatizaremos duas das principais virtudes da fé cristã: a humildade e o amor desinteressado. Ao final da lição, reforçaremos que o agape – amor sacrificial – é a marca identitária do verdadeiro cristão.

I. VÁRIOS CONVIDADOS, POUCOS LUGARES
                                                                 
Jesus contou uma parábola a respeito dos primeiros assentos, e dos lugares de honra dos convidados, durante uma refeição na casa de um fariseu. Conforme destacamos ao longo desses estudos, a maioria das parábolas de Jesus tinha como objetivo principal criticar os religiosos do seu tempo, por desmereceram os gentios e se pautarem na justiça própria. Naquela ocasião, Jesus curou um enfermo (Lc. 14.1-4), e se identificou com sua necessidade, provocando a ira dos religiosos. Os fariseus disputavam espaço nos lugares, considerando que naquele tempo, bem como acontece nos tempos atuais, os espaços determinam valores simbólicos. Através dessa parábola, Jesus ensina que a função que exercemos, para a glória do Reino de Deus, é mais importante do que as pessoas estabelecem, com base em suas hierarquias religiosas (v. 12). Há um livro intitulado O Monge e o Executivo, que orienta na direção de um reposicionamento das funções institucionais. A base da pirâmide é invertida, de modo que aqueles que estão em cima deve estar conscientes que têm maior responsabilidade. Não podemos esquecer que a palavra ministro – diáconos em grego – tem justamente a ideia de servo. Jesus deu o maior exemplo de humildade ao lavar os pés dos seus discípulos, justamente em um momento em que eles disputavam a respeito de quem seria o maior no reino de Deus (Jo. 13.1-11). Os cristãos devem viver a partir desse mesmo princípio, buscando colocar sempre os outros em posição de proeminência, tendo o mesmo sentimento de servo que houve em Cristo (Fp. 2.5).

II. HUMILDADE, A LÓGICA DO REINO DE DEUS

O triunfalismo está destruindo o modelo bíblico para a igreja cristã, não poucos líderes estão obcecados pelo poder temporal. Ninguém quer mais servir, alguns pastores acham-se quase deuses, esqueceram que são, antes de tudo, diáconos (servos), tanto de Cristo quanto da igreja. Esse endeusamento acaba por provocar um desejo contido, uma neurose eclesiástica coletiva, implicando em doença no contexto da igreja. Os membros não querem ser diáconos, presbíteros nem pensar, evangelistas, talvez, mas a preferência nacional mesmo é a de ser pastor. Isso sem falar naqueles que são apóstolos, bispos, e se brincar, semideuses, em uma luta desenfreada para ser o maior. Paradoxalmente Jesus ensinou justamente o contrário, que quem quiser ser o maior deve ser o menor. A atuação dos membros na igreja deve estar alicerçada no princípio da funcionalidade, isso porque somos partes de um mesmo corpo, com múltiplas funções, dependendo das necessidades (I Co. 12.12). O sistema eclesiástico torna-se doentio quando a hierarquia resulta em um fim em si mesmo. Os espaços são limitados, e as pessoas disputam as posições de poder. O resultado é pura carnalidade, conflitos infindos que se arrastam, na medida em que um derruba o outro, mirando assumir sua posição. Esse sistema alimenta muita inveja, faz com que as pessoas não estejam dispostas a servir, mas a bajular. Elas se aproximam das pessoas não porque as amam, ou porque lhes desejam bem, mas por interesse, a fim de tirar algum proveito. Diante desse quadro, precisamos recuperar o modelo bíblico da liderança servidora. Os pastores das igrejas locais precisam dar o exemplo, cultivar uma cultura bíblica do serviço, motivar os crentes a se colocarem a disposição uns dos outros, com genuíno amor cristão. As posições de liderança são bíblicas, e os pastores devem ser respeitados como tais, aqueles que se dedicam à Palavra, dignos de redobrada recompensa (I Tm. 5.17), mas devem ter cuidado para não se transformarem em celebridades evangélicas, favorecendo o culto às celebridades. 

III. ÁGAPE, UM AMOR DESINTERESSADO

No grego do Novo Testamento, a palavra amor é “ágape”, cujo significado primário vem do amor puro e verdadeiro de Deus em relação ao Seu Filho (Jo.17.26), ao seu povo (Gl. 6.10) e à humanidade perdida que se rebelou contra Deus (Jo. 3.16; Rm. 5.8). O verbo “agapao” tem em Deus sua demonstração máxima, na verdade, o próprio Deus é amor (I Jo. 4.9-10). Por isso, esse Deus age com amor em relação ao homem perdido (Jo. 3.16; I Jo. 3.1,16). Em resposta ao amor de Deus, o homem deve também amá-lo, bem como ao próximo (Mc. 12.30-33; Mt. 19.19; 22.39; Mc. 12.31; Rm. 13.8; I Jo. 3.11,23), especialmente aos domésticos na fé (Gl. 5.6; I Jo. 2.10). Com base em I Co. 13, compreendemos que a prática dos dons espirituais na igreja não compensa a falta de amor. O amor cristão, que é uma das virtudes do Espírito (Gl. 5.22), tem algumas características que não podem ser desprezadas: 1) é paciente e benigno – tem uma capacidade infinita para suportar as adversidades; 2) não se aborrece com o sucesso dos outros, não se ufana como um balão cheio de vento, mas sem conteúdo; não é egoísta, não busca apenas seus interesses; 3) não se ressente do mal – está sempre disposta a pensar o melhor das outras pessoas e não lhes imputa o mal; 4) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta – significa que você abre mão de um direito que tem a favor do seu irmão, pois o amor perdoa e esquece a ofensa do outro.

CONCLUSÃO

O amor é a caminho para a maturidade, é o cumprimento da lei, é o maior de todos os mandamentos, é a apologética contundente. Uma igreja sem amor está adoecida e precisa urgentemente de ser curada por Aquele que é Amor e que levou esse amor ao extremo sacrificando-se pelos pecadores. Ele nos amou de uma maneira tal que enviou Seu Filho em sacrifício pelos pecados (Jo. 3.16), em resposta a esse amor, devemos também amar os irmãos e nos sacrificar-nos por eles (I Jo. 3.16).
José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog subsidioebd.blogspot.com
  
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Jesus contou a parábola dos primeiros assentos, ou lugares de honra, e dos convidados, ao participar de uma refeição na casa de um fariseu. Ele instruiu a todos acerca da humildade e do perfil das pessoas que devem ser convidadas para ocasiões especiais. O verdadeiro objetivo do fariseu, e de seus companheiros, era encontrar algo em Cristo que pudesse condená-lo. Na ocasião, Jesus observou o perfil dos convidados e notou que eles buscavam escolher os primeiros lugares. Foi a partir dessa observação, e também do perfil dos convidados, que o Mestre contou essa curta, mas instrutiva, parábola.
Lucas é o único dos quatro evangelistas que registrou essa parábola. O capítulo 14 começa com o convite de um fariseu para Jesus participar de uma refeição em sua casa. Na sequência, vemos três coisas que caracterizam alguém que se aproxima de Jesus na condição que Deus espera do pecador: cura, exaltação e recompensa. Estas três coisas estão representadas na cura de um homem hidrópico, na exaltação do que se coloca em último lugar e na recompensa dos que sabem que “há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20.35). Apesar de ser uma parábola curta e bastante simples, ela possui um significado muito importante para todos nós: a humildade precede a honra (Mt 23.12; Lc 14.7-11; Tg 4.6,10; 1Pd 5.5,6; Pv 3.34; o exemplo de Cristo - Fp 2.5-11). Jesus observou que muitos buscavam os primeiros assentos na festa. Provavelmente, tinham algumas preocupações que revelavam áreas da vida a serem trabalhadas. Os primeiros lugares eram especiais, destinados às pessoas a quem o anfitrião queria honrar. 

I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DOS PRIMEIROS LUGARES E DOS CONVIDADOS
                                                                 
1. O dia, a ocasião e o local. O dia, a ocasião e o local onde essa parábola foi contada são três pontos importantes para se entender sua importância. No início do capítulo somos informados que, num sábado, Jesus fora comer na casa de um dos chefes dos fariseus e deparou-se com um homem hidrópico (Lc 14.1,2). Após provocar os fariseus que ali estavam, Jesus curou o enfermo e ele se foi (Lc 14.3,4). O Mestre então revelou que os religiosos que se encontravam ali faziam determinados trabalhos que eles julgavam importantes em dia de sábado (Lc 14.5), e que curar o homem, sem importância para eles, certamente era lícito, por isso, “nada lhe podiam replicar sobre isso” (Lc 14.6). Uma vez que se tratava de uma refeição, era comum, em ocasiões como essa, haver uma distribuição especial de lugares para os convidados que, normalmente, se assentavam ao redor de uma mesa quadrangular, cuja posição central era ocupada pelo anfitrião, e, bem próximo a ele, isto é, à esquerda e à direita, posicionavam-se os convidados mais distintos. Era costume um convidado ser honrado pelo dono da festa. Desejar esta homenagem não era algo errôneo, porém, na ansiedade de buscar tal honraria, muitos se excediam, demonstrando ausência de humildade e desejo por reconhecimento humano.
O texto diz que o estavam observando. Os fariseus estavam profundamente incomodados com a pessoa de Jesus. A pergunta para a qual todos queriam descobrir a resposta era: Quem é este Jesus? Assim que Jesus entra na casa do fariseu duas coisas ficam evidentes: Ali está um homem hidrópico [a hidropisia é causada por distúrbios na circulação do sangue pode ter uma distribuição generalizada, ocorrendo em quase todas as partes do corpo, ou pode ser local, isto é, apresentar-se em uma parte apenas do corpo. À hidropisia geral dá-se o nome de anasarca. A hidropisia é mais comum no abdome, no peito, no encéfalo, nos rins, nas pernas e em torno dos olhos. Pode ser reconhecida pela formação de pequenas depressões que persistem quando se faz pressão sobre a parte afetada.(WIKIPÉDIA)], uma figura perfeita do pecador inchado de pecados e incapaz de curar-se a si mesmo. Conhecendo as intenções e pensamentos dos fariseus e doutores da lei que estão ali, Jesus lança uma pergunta desafiadora: “É permitido ou não curar no sábado?” (Lc 14.3). Todos ficam em silêncio, ainda que acreditassem que curar no sábado fosse uma transgressão da Lei [no capítulo anterior o dirigente da sinagoga havia declarado isto]. O silêncio deles é o sinal inequívoco de que aqueles homens que sabiam a Lei de cor e salteado não podiam apontar uma passagem sequer em que a guarda da lei anule a misericórdia e graça de Deus. – Jesus ordena a cura do hidrópico e de quebra, revela a hipocrisia daqueles homens (Mt 23.3-5).

2. A parábola. É com este contexto em mente que devemos estudar a parábola dos primeiros assentos e dos convidados. Havia dois objetivos por parte do Senhor. Primeiro, Ele procurava ensinar aos convidados e, ao mesmo tempo, os seus discípulos e a todos os que o aceitam, acerca de não se buscar lugares de honra, pois no Reino de Deus servir é mais importante do que ocupar uma posição. Segundo, ao curar o hidrópico, Jesus instruía ao anfitrião, e a todos nós, que não devemos ser seletivos quanto aos convidados para uma ocasião especial, pois assim como Deus aceita a todos, devemos ser prestativos e servir a todos, pois se atendermos pessoas abastadas, elas vão querer nos retribuir, e isso será a nossa recompensa (v.12).
Como já dito acima, aquele convite aparentemente amável, tinha o objetivo de apanhar Jesus; eles estavam observando Jesus atentamente, para que pudessem descobrir algum motivo para apresentar uma acusação contra ele (Lc 14.1). Há alguns estudiosos que defendem a hipótese de que aquele homem hidrópico foi posto diante de Jesus de propósito, ou seja, os próprios religiosos o colocaram ali como um tipo de armadilha na qual esperavam que Jesus caísse. Talvez tenha sido assim, mas não é algo que podemos afirmar com certeza, já que não era incomum que alguém entrasse em uma celebração sem ser convidado (Lc 7.37,38). Logo após a cura daquele homem, Jesus observa a forma com que os convidados daquela ceia estavam escolhendo os lugares em volta da mesa, e diante disso contou a Parábola dos Primeiros Lugares. Naquela época, o costume oriental não era sentar à mesa, tal qual fazemos hoje. Era usado na sala onde se celebrava a ceia, uma mesa baixa cercada de divãs – uma espécie de sofá - que tinham a capacidade de acomodar três pessoas. Esses divãs eram colocados em forma de um “U” ao redor da mesa que era retangular. Na posição central da mesa, isto é, na cabeceira, ficava a pessoa de maior importância. Ao seu lado esquerdo, ficava a segunda pessoa em importância, e no lado direito a terceira pessoa em importância. Assim, o divã à esquerda da cabeceira da mesa era o segundo em honra, e, depois, vinha o divã da direita, e assim sucessivamente durante toda a extensão da mesa. Essa era uma regra de hierarquia social que orientava os judeus naquela época. Entretanto, na ceia em que Jesus estava essa regra parecia estar sendo ignorada, e os convidados estavam demonstrando todo egoísmo, orgulho e preconceito na escolha dos lugares.

3. Os grandes ensinamentos da parábola. Os ensinamentos de Jesus para os convidados não são uma série de bons conselhos sobre etiqueta social, mas lições com significado prático-espiritual. Por isso, esta última lição visa conscientizar-nos de nossa postura enquanto discípulos de Cristo, destacando a importância de, na prática, demonstrarmos o quanto vivemos sob uma forma diferente da do mundo (Rm 12.2; Mt 20.17-28).
As lições desta parábola não se restringem a regras de etiqueta, mas seu significado é bastante claro no versículo 11: “Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado”. Esse ensino expressa uma verdade bíblica que pode ser conferida por toda a Escritura. Temos vários personagens bíblicos que provaram na prática esse ensino, como por exemplo, Jezabel, Nabucodonosor e Herodes Agripa I, exaltados que foram humilhados (1Rs 21.7,23; 2Rs 9.30-37; Dn 4.30-33; At 12.20-23); enquanto José, Ana, e o próprio publicano da parábola, são exemplos de humilhados que foram exaltados (Gn 41.41; 1Sm 1.12-20; Lc 18.9-14). A lição extrapola o mundo atual e vai à eternidade, a história do Rico e Lázaro prova que tanto a exaltação quanto a humilhação final e plena se dará na vida porvir (Lc 16.19-31), um ensino que também foi compreendido pelo levita Asafe (Sl 73).


SUBSÍDIO EXEGÉTICO
                               
“A parábola é, na verdade, uma repreensão de muitos à mesa de jantar. Na maioria das culturas, há lugares de muita e de poucas honras numa refeição (Bratcher, 1982, p.244). Pessoas de posição social mais alta têm lugares mais próximos do anfitrião. Para ensiná-los a ordem das coisas de Deus, Jesus começa exortando-os a que, se são convidados a um casamento, tomem os lugares mais baixos. Uma pessoa de mais destaque que eles pode ter sido convidada. Se um convidado chegar antes dessa pessoa e tomar o assento mais próximo do anfitrião, ele corre o risco de ser humilhado. O anfitrião pedirá àquele que está num lugar de honra a sair. O convidado presunçoso talvez descubra que a maioria dos lugares está ocupado, o que o forçará a ocupar um lugar menos desejável. Sua autopromoção o levou à vergonha e humilhação.
“Jesus não recomenda a prática da falsa humildade, mas o convidado que, de começo, toma o lugar mais humilde não se arrisca a passar vexame. De fato, quando o anfitrião o vir sentado em lugar humilde, ele o convidará a se sentar mais para cima. Isto lhe dá honra aos olhos de todos os convidados no casamento. “Jesus se dirigiu aos convidados. Agora Ele se volta para o anfitrião. O que Ele lhe diz também se aplica aos líderes religiosos. Os fariseus excluíam os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos da plena participação da vida religiosa. Para contornar esta prática, Jesus indica que a hospitalidade deve ser estendida a todos e adverte contra incluir somente os amigos, os parentes, os ricos e os famosos.
“A tentação é entreter só o nosso grupo. Quando um anfitrião convida outros para jantar em sua casa, ele deve incluir aqueles que não lhe podem devolver o favor. Se ele sente que os convidados vão retribuir-lhe o convite, o que ele deu? Nada! É apenas comércio, sem ter generosidade. Sua hospitalidade é motivada por desejo de recompensa. Mas a verdadeira hospitalidade e generosidade ocorrem quando não há possibilidade de retribuição. Aqueles que querem agradar a Deus devem alcançar os pobres e os que sofrem de incapacidade física ou mental. Jesus não proíbe que convidemos os que podem nos retribuir o convite, mas proíbe que esqueçamos os que não estão em posição de retribuir. A generosidade e a bondade não devem ser usadas para ganhar poder sobre os outros e a colocá-los em dívida para conosco. A verdadeira hospitalidade, instigada por amor genuíno, não tem restrições” (ARRINGTON, F. L. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.415,416).

II. AS GRANDES LIÇÕES DA PARÁBOLA E A INVERSÃO DA LÓGICA HUMANA

1. A primeira grande lição da parábola. Esta parábola ensina, acima de tudo, a humildade como marca de um verdadeiro seguidor de Cristo (Lc 9.23,24). Jesus instrui que é prudente a qualquer convidado ocupar sempre o lugar de menor destaque à mesa, e que esse comportamento deve ser sincero, pois cabe ao anfitrião a prerrogativa de julgar quem deve ser reconhecido (vv.8,9). A lição está na ideia de que ocupar de forma espontânea uma posição humanamente inferior ensejava a oportunidade de se experimentar algo realmente honroso, ou seja, ao portar-se de maneira humilde o convidado poderia ser honrado com naturalidade, uma vez que, se fosse chamado a ocupar um lugar à frente, se destacaria em relação à posição em que se encontrava (v.10). Ao contrário, se caso se colocasse num local de destaque, sem ter sido convidado para isso, experimentaria o caminho da vergonha, sendo removido para dar lugar a alguém que o anfitrião julgasse merecedor e digno daquela honra (vv.8,9).
Quando Jesus entrou naquela casa e começou a observar o comportamento dos convidados, não se surpreendeu com a maneira de se comportarem, porque ele sabia que os fariseus faziam muita questão dos primeiros lugares nas sinagogas e nos demais lugares aonde iam (Lc 14.8-9). Neste ponto da parábola Jesus não estava falando de cadeiras e convidados, estava falando do reino espiritual, onde quem tenta se exaltar será humilhado e quem a se próprio se humilha será exaltado pelo Dono da Igreja. Jesus não pretendia ensinar aos fariseus e teólogos apenas algumas regras de boas maneiras à mesa. Ensinou uma lição de humildade e amor dirigindo-se aos convidados que ali estavam, bem como àquele que o convidará

2. A segunda grande lição da parábola. Além da sensatez que faz a opção pela humildade, Cristo ensina nesta parábola que se formos dar um jantar devemos convidar e acolher os menos favorecidos (v.13). A ênfase da segunda grande lição ensinada por Cristo mostra que as ações devem ser praticadas sem esperar reciprocidade alguma (v.12). Tais práticas devem nortear os pensamentos dos verdadeiros seguidores do Mestre, pois Ele mesmo assim vivia e praticava boas ações com espírito humilde e amor desinteressado (Mt 20.28; Jo 10.17,18; 15.13). Este ensinamento de Cristo, naturalmente, não se refere apenas ao ato de convidar alguém para jantar, mas diz respeito a todas as atividades que são realizadas em favor de algum próximo que não tem como nos retribuir (Mt 25.34-40).
Jesus disse ao hospedeiro que este não devia convidar com interesse de ser recompensado. Se o anfitrião convida seus parentes, amigos e conhecidos para comerem com ele, com a intenção de que eles, depois, também o convidem, estará pensando no quanto receberá de volta. Mas, se convida pessoas que são financeira e socialmente impossibilitadas de retribuir o convite, sua recompensa será paga pelo próprio Deus, por ocasião da ressurreição. Quem promoveria um banquete e convidaria a mais baixa classe da sociedade: os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos? Financeiramente, os pobres dependem dos ricos, e aqueles que são aleijados, coxos e cegos, muitas vezes, precisam da ajuda dos que são fisicamente capazes. Essas pessoas não têm meios nem força para retribuir os favores. Quando o convite é extensivo às pessoas que não têm acesso aos prazeres da mesa, gozados pelos ricos, a bênção se torna merecida. Natural­mente, Jesus não estava dizendo que o anfitrião deveria convidar apenas os oprimidos. Ele ensina que os nossos atos devem ser praticados sem que esperemos reciprocidade. Devem ser executados com espírito de humildade e amor desinteressados. Tais atos recebem a aprovação divina, pois: "Sem­pre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mt 25.40). Este ensino universal não se limita ao oferecimento de banquetes, mas inclui também todas as dádivas que não podem ser retribuídas por aqueles que as recebem” (EBD AREIA BRANCA).
3. A lógica do Reino é diferente da humana. As duas grandes lições da parábola dos primeiros assentos e dos convidados desafiam a lógica humana, pois nesta prevalecem os adágios e as estratégias oportunistas, mas na lógica do Reino tudo é diferente (Mt 20.25- 28 cf. v.11). De igual forma, devemos ajudar os que não têm condições, pois estes geralmente são esquecidos, pois não tendo nada a oferecer, acabam abandonados. O Senhor, porém, ensina que quando formos realizar algo assim, devemos convidar “os pobres, aleijados, mancos e cegos” (v.13), pois estes não têm como nos “recompensar” (v.14). Isso, porém, não significa que ficaremos sem recompensa.
Jesus estava ensinando nessa parábola uma importante lição sobre a humildade e a auto-depreciação. A lição principal dessa parábola é o mesmo ensino transmitido em um dos provérbios do rei Salomão: “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes; porque melhor é que te digam: Sobe aqui; do que seres humilhado diante do príncipe que os teus olhos já viram” (Pv 25.6,7). Os lugares mais inferiores revelam uma possibilidade maravilhosa, isto é, ser convidado a ocupar uma posição mais importante, já que para quem ocupa a posição mais inferior seu único rumo possível é para cima. Já os lugares superiores podem revelar uma possibilidade aterrorizante, ou seja, a terrível humilhação de ser convidado a deixar o lugar de honra. É melhor ser humilde em uma posição inferior do que um usurpador em uma posição superior. Quando repartimos nossos recursos com aqueles que nada têm, desfrutamos do grande privilégio de contemplar a alegria que há no olhar de quem é abençoado. O ensino bíblico é muito claro de que devemos demonstrar hospitalidade para com os necessitados (Rm 12:13; 1Tm 3:2; Tt 1:8; 1Pe 4:9), e quem entende essa norma bíblica certamente compreende na pratica a verdade que há nas palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: “Há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20:35)”. (ESTILOADORAÇÃO)

SUBSÍDIO HISTÓRICO-CULTURAL

“Na época de Jesus, o costume judaico em um jantar era dispor os assentos em forma de U com uma mesa baixa diante deles. Os convidados se apoiariam no cotovelo esquerdo, e estariam sentados de acordo com a sua posição social, sendo o lugar de honra o assento no centro do U. Quanto mais distante do lugar de honra, menor o status. Se alguém se colocasse no primeiro lugar e então chegasse outro convidado mais digno, lhe pediriam que passasse para um lugar inferior. Mas a esta altura o único lugar vago seria o derradeiro, no final da mesa” (Comentário do Novo Testamento. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.417-18).

III. A RECOMPENSA DA HUMILDADE E DO ALTRUÍSMO

1. Humildade e altruísmo. Nesta parábola Cristo nos ensina o cultivo da humildade e do desprendimento – também conhecido como amor desinteressado ou altruísmo –, como características indispensáveis ao verdadeiro cristão. Mais do que uma lição de educação humana, Cristo fala sobre o privilégio que possuímos de servir e não de sermos servidos (Mc 10.45), exaltando o serviço ao próximo não por vanglória, mas por dedicação pessoal e altruísmo (Pv 18.12; Rm 12.9,10; Fp 2.3-11).
O Caminho apresentando por Jesus sempre leva em direção ao reconhecimento do Pai e não dos homens. Seja em relação à esmola, oração, jejum, ou mesmo a quem vamos procurar favorecer, em todos os casos devemos buscar a recompensa divina e não a dos homens. “…e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente” (Mt 6.4)” (Pr. Adiel de Santana).

2. Amor, a palavra-chave do altruísmo. Atualmente a palavra amor está desgastada, pois muitos “amam” apenas de lábios, mas não de verdade (1 Jo 3.18). O texto bíblico, porém, é bastante enfático: “O amor não seja fingido” (Rm 12.9a). O amor é a palavra-chave do altruísmo, pois este só pode ser praticado em amor e, por sua vez, o amor só pode ser revelado na prática (Tg 2.15-17; 1 Jo 3.17).
A Bíblia diz que Deus é amor (1 João 4:8) e que o amor é uma escolha que marca a vida e as atitudes daqueles que seguem a Deus. Além disso, a Bíblia descreve o amor como uma característica que distingue aqueles que são de Deus, é um dos frutos do Espírito, como é possível comprovar em Gálatas 5:22” (RESPOSTAS). Quando falamos do amor bíblico é preciso distinguirmos os três tipos de amor - Eros, Philos e Ágape. A espécie de amor exigido do cristão é o Ágape, genuíno, incondicional e perfeito amor. Ele não depende de empatia, de gostar ou de se identificar com o objeto do amor; ele exige decisão de, mesmo não se identificando com o objeto, amar. Não é apenas um mero sentimento ou emoção, mas uma entrega voluntária e pessoal que conduz a plena submissão. O amor genuíno tem um grande poder, é capaz de afastar o medo (1Jo 4.18). O amor ágape é aquele tipo de amor que não busca seus próprios interesses, é um amor desinteressado, puro e genuíno. Quando o amor de Deus habita no coração de uma pessoa, ela é mais forte, mais feliz e mais confiante.

3. A recompensa. Retribuir uns aos outros não é altruísmo, mas ajudar aos que estão necessitados certamente o é, pois isso trará grande recompensa vv.12b,14; Mt 10.40-42). Ninguém que ajude e estenda a mão aos necessitados ficará sem retribuição da parte do Senhor (Mt 25.34-40).
Jesus desejava que o anfitrião convidasse pessoas quem não podiam retribuir o favor. Se agisse desse modo sua recompensa lhe seria dada por meio das mãos do próprio Deus. O que Jesus quer nos ensinar é que devemos fazer todas as coisas sem esperar nenhuma reciprocidade. Nossas ações devem ser oferecidas como atos de amor e humildade desinteressada. São essas ações que recebem a aprovação divina “O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40).

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Partir o pão com os necessitados e os inválidos nunca passará sem ser percebido pelo Pai divino. Embora eles não possam nos oferecer recompensa, Deus pode e recompensa. O que os pobres e os que sofrem de incapacidade física ou mental não podem fazer por nós, Ele fará ‘na ressurreição dos justos’. Quer dizer, no dia em que os justos ressuscitarem, Deus dará uma recompensa esplêndida àqueles que foram generosos com os necessitados e os fracos. Tais indivíduos mostram por seu serviço amoroso que aprenderam a viver a vida do Reino na terra, e eles serão recompensados com justiça no tempo do fim” (ARRINGTON, F. L. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.416).

CONCLUSÃO

Jesus aconselhou as pessoas a não se apressarem a ocupar os melhores lugares em um banquete. Entretanto, hoje muitos estão ansiosos por elevar a sua posição social. A quem você procura impressionar? Em vez de buscar prestígio, procure um lugar onde você possa servir. Se Deus quiser que você o sirva em uma escala maior, Ele mesmo o convidará a ocupar uma posição elevada.
Como explanado nos tópicos acima, o propósito de Jesus ao contar esta parábola é focar o valor da humildade. Os fariseus eram orgulhosos de sua religiosidade. No Reino de Deus, o que vale não é nosso orgulho ou realizações, mas nossa submissão à vontade de Deus – nossa obediência. Não devemos procurar os lugares de maior destaque. No Reino de Deus não interessa quem é o mais inteligente, o mais eloquente, o mais importante. Nesse Reino ganhará importância aqueles que valorizaram o bem do outro sem se importar em ser o primeiro ou o mais importante.

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

sábado, 22 de dezembro de 2018

LIÇÃO 12: ESPERANDO, MAS TRABALHANDO NO REINO DE DEUS


SUBSÍDIO I

TRABALHANDO ATÉ O SENHOR VOLTAR

Jesus nunca estabeleceu uma data para a sua volta, pois Ele pode vir a qualquer momento (Mt 24.36; Mc 13.32; At 1.7). Todavia, sempre há tempo suficiente antes que Cristo venha para que os que forem servos diligentes dupliquem o capital que lhes foi confiado. Lockyer, na análise do uso dos talentos por parte dos três servos, destaca que “quando o primeiro servo recebeu os cinco talentos; e o segundo, os seus dois; lemos que ambos saíram imediatamente e negociaram com eles, ou seja, agiram de forma imediata, sem demora, porque não sabiam quanto tempo o seu senhor ficaria ausente; por isso tão logo ele partiu, começaram a negociar”.  Este autor destaca também que “eles negociaram, fizeram permutas, até que dobraram o que tinham. O que possuía cinco talentos conseguiu outros cinco —100%. O servo com dois talentos foi igualmente bem sucedido, pois o seu lucro também foi de 100%. Em ambos os casos o capital original foi duplicado. Se o homem com apenas um talento o tivesse negociado, o seu lucro teria sido o mesmo”.
Snodgrass destaca que “esta parábola retrata a época da morte e da ressurreição de Jesus até o segundo advento e seria dirigida aos discípulos para incentivá-los a levar uma vida nos valores do Reino”. Um detalhe interessante verificado nessa parábola é a conexão que ela possui com a parábola anterior, “parábola das dez virgens”. Sobre isso Trench destaca que “enquanto as virgens são apresentadas como que esperando pelo seu Senhor, temos aqui os servos trabalhando para ele; há a vida espiritual interna do fiel sendo mencionada, e aqui a sua ação externa, [...] portanto há uma boa razão para eles aparecerem na presente ordem, ou seja, primeiro as virgens e em seguida os talentos, pois a única condição para haver uma ação externa, produtiva para o reino de Deus, é que a vida de Deus seja diligentemente conservada dentro do coração".
Em Tiago 2.14-26 a Bíblia diz: “Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras? Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem. Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura Abraão, o nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras e que, pelas obras, a fé foi aperfeiçoada, e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus. Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé. E de igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando recolheu os emissários e os despediu por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”.
O texto de Tiago é o clímax do apelo que ele fez por uma religião pura que se justifica na ação. A sua preocupação consiste numa atitude diante da fé que se manifesta tão somente como uma confissão verbal e isso para ele é uma fé sem obras (Tg 2.20,26), a qual ele considera morta (Tg 2.17,26), inoperante (Tg 2.20) e que não tem poder para salvar (Tg 2.14) ou para justificar (Tg 2.18). O que Tiago quer dizer na verdade, não é que as obras devem ser acrescentadas à fé, mas que a fé genuína as inclui. Nesse sentido, as obras são a evidência da fé. O profeta Isaías convocou o povo de seus dias para que desse um significado real a seus ritos religiosos, conforme Isaías 58.7-9 que diz: “Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E, vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne? Então, romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui; acontecerá isso se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo e o falar vaidade”.
O Senhor Jesus prometeu o reino àqueles que dessem de comer e vestir “a um destes meus pequeninos irmãos”, conforme Mateus 25.31-46. O apóstolo João por sua vez, nega que qualquer pessoa que deixe de auxiliar a um irmão em necessidade possa ter o verdadeiro amor, conforme 1 João 3.17-18: “Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão necessitado, lhe cerrar o seu coração, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”. Muitas vezes nos limitamos a pronunciar simples palavras, quando na verdade Deus está mais interessados em nossa ação. As palavras proferidas através de pregações, orações, confissões de fé, de bons conselhos, de encorajamento, etc, são muito importantes e indispensáveis em nossa vida cristã. Todavia, Tiago está nos lembrando de que as nossas palavras somente provarão que tem um significado real e eficaz quando as pessoas que nos ouvem, virem as ações que praticamos, relacionadas ao que dizemos.
Paulo, em Ef 2.8-10, relaciona as boas obras com a fé: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”. Tiago fala da justificação diante dos homens e que a fé é provada pelas obras, em Tiago 2.18: “Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Como agência do Reino de Deus na Terra, a Igreja do Senhor (e isso significa cada cristão, inclusive eu e você) possui uma responsabilidade social.
O ministério de Jesus evidencia a primazia da fé em ação, da prática das boas obras, ou seja, da ação social. Um clássico exemplo da importância da ação social está no fim do sermão profético de Jesus, em Mateus 25.35-36: “... porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me”. A missão integral da igreja consiste em levar o Evangelho em sua plenitude aos homens. No conhecido Pacto de Lausanne um capítulo especial foi produzido com o objetivo de promover uma reflexão profunda sobre a responsabilidade social da igreja:

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.

Em Atos 1.8 a Bíblia demonstra de maneira bastante clara que o Evangelho é para todos, em todos os lugares, sem discriminação: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”. O Pacto de Lausanne também dedicou um capítulo específico para tratar da atividade evangelísitca: “Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas”.6 
O amor de Deus derramado em nossos corações (Rm 5.5b) deve nos constranger a ajudar as pessoas nas sua necessidades de ordem física, emocional e espiritual, através de ações concretas, conforme recomenda Gl 6.10: “Então, enquanto temos tempo, façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé”.

Texto extraído da obra: As Parábolas de Jesus: As verdades e princípios divinos para uma vida abundante. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

A Parábola dos Talentos é uma das mais conhecidas no contexto cristão, e precisa ser compreendida de acordo com os ensinamentos de Jesus em relação ao Reino de Deus. Por isso, na aula de hoje, nos voltaremos para o estudo desta parábola, ressaltando, a princípio, a importância de esperar a volta do Senhor, para o estabelecimento do Seu Reino. Ao mesmo tempo, devemos ter cuidado para que essa espera não se transforme em escapismo, antes estejamos empenhados no trabalho do Reino.


I. ESPERANDO A VOLTA DO SENHOR
                                                                 
A Parábola dos Talentos, que se encontra em Mt. 25.14-30, é uma advertência em relação à importância de desenvolvermos a obra de Deus, de acordo com os dons que recebemos da parte do Senhor. Jesus conta que um homem, partindo para fora da terra, chamou seus servos, entregando-lhe bens. Ele entregou a esses servos alguns talentos, considerando a capacidade de administrar cada um deles. A um entregou cinco, que granjeou mais cinco, a outro entregou dois talentos, que ganhou outros dois, mas o que recebeu apenas um talento, talvez por achar que era pouco, e por ter uma visão deturpada do seu senhor, decidiu esconder na terra o talento, para devolvê-lo quando o Senhor retornasse. Os servos que duplicaram seus talentos foram elogiados pelo senhor, por ocasião da sua volta, mas esse que escondeu o talento na terra foi repreendido pelo senhor. Esse servo é identificado pelo Senhor como “inútil”, tendo sido lançado nas trevas exteriores. Essa parábola revela a importância de se dedicar ao desenvolvimento do reino de Deus, e foi justamente isso que Cristo fez durante os dias em que esteve na terra. Os religiosos do seu tempo, principalmente os escribas e fariseus, ao invés de propagaram a boa mensagem, resolveram escondê-la e enterrando-a, privando as pessoas de conheceram a verdade do evangelho. A partir dessa Parábola somos advertidos a trabalho pelo Reino de Deus, atentando para o valor dessa preciosa mensagem.

II. MAS SEM IGNORÂNCIA

A vinda de Cristo era motivo de interesse especial por parte da igreja cristã primitiva (I Co. 15.51). No caso específico de Tessalônica, havia um mal-entendido que gerava angústia e desespero. Os cristãos acreditavam que somente aqueles que pudessem manter-se fisicamente vivos até a volta de Cristo seriam beneficiados pelo estabelecimento do Reino de Cristo. Em I e II aos Tessalonicenses, Paulo esclarece que todas as bênçãos associadas ao retorno de Cristo à terra serão conferidas tanto aos crentes vivos como aos crentes mortos. Paulo já havia pregado a respeito do reino de Cristo quando esteve em Tessalônica (At. 17.7). Contudo, alguns não a compreenderam bem, por isso, ela acabou sendo deturpada. Deus não deseja que sejamos ignorantes a respeito das verdades escatológicas, mas, ao mesmo tempo, é preciso ter cuidado para não as deturpar (Mt. 24.15). A palavra “dormir”, para se referir à morte, era comum no mundo antigo, conforme podemos ver em tanto nas passagens do Novo quanto do Antigo Testamento: Gn. 47.30; Dt. 31.16; I Rs. 22.40; Jo. 11.11-13; At. 7.3; 13.36; I Co. 7.39; 11.3. Paulo ensina, que nós, os cristãos, não podemos agir como os demais, os pagãos (Ef. 2.3), que não têm esperança. Quando corretamente entendidas, as verdades escatológicas são motivos de alegria, não de tristeza. Nossa esperança, de alguma forma,  começou a se concretizar, a partir do momento em que recebemos Jesus como nosso Salvador Pessoal, mas ainda nãoalcançou a sua plenitude. Essa esperança tem como base a certeza de que estar com Cristo, “é incomparavelmente melhor” (Fp. 1.23).  A esperança do crente se encontra, inicialmente, na certeza da ressurreição. No Antigo Testamento já é possível ver algumas manifestações dessa esperança (Sl. 16.2,11; 17,15; 73.24; Pv. 14.32). Mas é em Cristo que essa revelação tem o seu apogeu (II Tm.1.10). Isso porque, agora, podemos ter uma resposta à pergunta de Jó (14.14) e a certeza de que, mesmo antes da ressurreição, aqueles que morreram em Cristo estão desfrutando com júbilo a presença de Cristo (Lc. 23.43; Fp. 1.23), e que um dia teremos uma reunião maravilhosa na eternidade (I Ts. 4.17).

III. TRABALHANDO EM PROL DO REINO DE DEUS

Cristo virá, esse é um dos pilares da fé cristã, mas sua volta precisa ser compreendida em dois contextos distintos. Ele virá para arrebatar Sua igreja, como prometeu em Jo. 14.1. O ensino do arrebatamento foi revelado mais precisamente a Paulo que instruiu a igreja a esse respeito (I Co. 15.52; I Ts. 4.13-17). Ao longo dos evangelhos, Jesus fala de seu retorno, mas, a maioria das passagens, se refere à Sua volta gloriosa, quando virá para Israel, estabelecer Seu trono (Mt. 24). O texto de At. 1.11 tem essa duplicidade, pois permite, ao mesmo tempo, que a igreja considere a volta de Cristo, para arrebatá-la, e, também, o estabelecimento do Reino Milenial de Cristo (Ap. 19.11-21). Em relação a igreja, esse retorno de Cristo é denominado de “bendita ou boa esperança” (I Ts. 2.16; Tt. 2.13). A esperança do arrebatamento sempre foi uma doutrina ensinada nos púlpitos das nossas igrejas, mas passado o ano 2000, e agora, uma década depois, alguns cristãos não mais falam a respeito. A secularização da igreja também tem contribuído significativamente para que essa doutrina deixe de ser exposta. Alguns estão demasiadamente conformados com este século, deixaram de orar “maranatah”, ora vem Senhor Jesus, há quem prefira que ele demore, não querem perder as oportunidades que a temporalidade oferece. Cristo não veio em 2000, certamente por que muitos o aguardavam naquele ano, mas virá justamente quando menos se espera. A igreja precisa continuar olhando para cima, em busca do prêmio da soberana vocação em Cristo Jesus (Cl. 3.1,2).

CONCLUSÃO

A Parábola dos Talentos é uma advertência do Senhor Jesus, em relação a importância de trabalhar em prol do Reino de Deus. Precisamos ter cuidado, não apenas para nos omitirmos em relação a essa importante mensagem, mas também de o fazermos de maneira equivocada, o que pode significar também uma maneira de a enterrar. Não podemos desconsiderar que o Senhor haverá de voltar, e quando isso acontecer haveremos de prestar contas de tudo o que fizemos ou deixamos de fazer para o Seu reino, na dependência do poder do Espírito Santo (At. 1.8).
José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog subsidioebd.blogspot.com

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

A parábola dos talentos retrata um senhor que viaja para fora do país e deixa suas posses sob a responsabilidade de seus servos. Enquanto ele estiver ausente, os servos deverão negociar os seus bens para obter lucro. No dia que o senhor voltar, eles deverão prestar contas. A referência sobre o longo tempo de duração da viagem (Mt 25.19) desperta a questão de saber quem estará pronto para o retorno do senhor. Assim, uma das grandes lições da parábola dos talentos está na importância de se “remir” o tempo, de maneira sábia, antes que Cristo volte. Não se trata de uma espera desinteressada, pois exige de cada um de nós, seus servos, que levemos adiante a tarefa de cuidar dos “bens” e tiremos o máximo proveito da oportunidade que nos foi confiada. Estar preparado para a volta de Jesus significa também comprometer-se com a tarefa que nos foi designada pelo Senhor (Lc 19.13b).
Cristo não tem servos para que estes estejam ociosos: eles têm recebido tudo que possuem dEle, e nada possuem que possam chamar seu próprio, salvo o pecado. Aquilo que recebemos de Cristo, tem a finalidade de que trabalhemos para Ele. A manifestação do Espírito é dada a todo o homem para proveito dos santos. Chegará o dia de prestar contas, e todos deveremos ser examinados quanto ao bem que tivermos feito para a nossa alma e para nosso próximo, e pelas vantagens que desfrutamos. Não significa que o realce dos dons naturais possa dar mérito a um homem para a graça divina. É liberdade e privilégio do cristão verdadeiro ser empregado como servo de seu Redentor, divulgando sua glória e promovendo o bem de seu povo: o amor de Cristo o constrange a não viver mais para si, mas para aquEle que morreu e ressuscitou por ele. (Mateus - Comentário Bíblico de Matthew, p. 87).
Estamos no Sermão do Monte, Jesus discursa acerca de coisas futuras. No capítulo anterior, ele discorre acerca dos sinais que sucederão à sua volta contando três parábolas, sendo a dos Talentos, a última. Nestas três parábolas, o âmago é a necessidade de vigilância em relação ao nosso comportamento, pois iremos prestar contas de nossos atos ao Senhor, quando este voltar. A parábola da Figueira enfatiza nosso cuidado das pessoas a nós confiadas; a parábola do Servo Fiel, nossa prontidão em relação à espera da vinda do Senhor; e esta, a terceira, quanto ao uso dos bens a nós confiados (os talentos). “Vejam que uma pessoa é justificada por obras, e não apenas pela fé” (Tg 2.26). Nesta parábola aprendemos a não desperdiçar as oportunidades que Deus nos dá. Os verdadeiros seguidores de Jesus aproveitam as oportunidades e obtêm bons resultados. Os falsos seguidores desperdiçam tudo que recebem.

I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DOS DEZ TALENTOS
                                                                 
1. O contexto da parábola. A maioria dos estudiosos enfrenta dificuldade para explicar o contexto da parábola dos talentos, pois se trata de uma narrativa que expõe uma realidade econômica muito distinta da nossa. Um ou outro arriscou uma explicação dizendo que o procedimento adotado pelo senhor da parábola era uma das formas que as pessoas de posse adotavam quando se ausentavam por um longo período de tempo. No entanto, tal explicação não é o mais importante, e sim a sua mensagem.
A parábola dos talentos está no contexto do sermão do sermão profético do monte das Oliveiras, proferido por Jesus. Este sermão aponta para o cumprimento profético de Deus para Israel, mas com algumas aplicações que também nos dizem respeito (a Igreja), especialmente no que concerne à nossa postura enquanto aguardamos o retorno de Jesus Cristo.
O contexto histórico da parábola é naturalmente, o contexto social da época de Jesus. O Mestre fala nessa parábola sobre um homem dono de muitas propriedades. Prestes a viajar, esse homem confiou seus bens a seus servos. Para um servo ele deu cinco talentos; para outro servo deu dois talentos; e para o último servo deu um talento.
2. Conhecendo o sistema financeiro da época. Os estudiosos destacam ainda que embora Jesus usasse, via de regra, em suas parábolas, imagens da vida no campo, dos trabalhadores braçais e até da família, nesta o Senhor tomou exemplos do sistema financeiro, pelo fato de que, naquela época, tal sistema era um assunto corriqueiro e criticado entre as pessoas. Assim, ainda que elas não tivessem posses e fossem pobres, sabiam desse sistema e entendiam também que as pessoas que tinham muito dinheiro eram as que possuíam maiores condições de multiplicar seus bens. Uma vez que desde sempre os juros de empréstimos são elevados, certamente talvez, por isso, os servos bons e fiéis tenham atuado, eles mesmos, como banqueiros, emprestando o dinheiro a altos juros e realizando grandes negócios (v.27).
Segundo estudiosos, um talento correspondia a certa de 35 quilos de prata pura, o equivalente a 6.000 denários (o denário era uma moeda de prata e valia um dia de trabalho de um soldado romano). Talento era uma moeda antiga na Grécia e Roma, antiga medida de peso grego-romano. Esse “talento” confiado aos servos era uma unidade monetária em uso na época. Estima-se que o talento equivalia a seis mil denários; sendo que um denário era o salário pago pela diária de um trabalhador comum. Logo, um talento equivalia a quase 20 anos de trabalho para a maioria dos trabalhadores da época.
3. A motivação e o significado da parábola. Pelo contexto escatológico em que foi contada, muito provavelmente a parábola dos talentos tem como finalidade retratar o período que abrange desde a ascensão de Jesus até sua segunda vinda e foi dirigida aos seus discípulos com o objetivo de alertá-los a ter uma vida pautada nos valores do Evangelho (Mt 25.13-15). O homem rico a quem os servos se referiram como “senhor” que iria partir é uma representação do Senhor Jesus Cristo. A viagem a um país distante se refere à sua partida para o céu, após a sua ascensão. Os servos eram, inicialmente, os doze discípulos a quem Jesus dirigiu a parábola, e num sentido mais amplo, refere-se a todas as pessoas nascidas de novo. Os talentos são os dons que o Senhor entregou aos seus servos. Inclusive, a nossa palavra “talento”, com o sentido que conhecemos, vem desse uso que o Mestre fez da expressão. A volta do senhor dos talentos seria o equivalente à segunda vinda de Cristo, enquanto a recompensa, ou o castigo, seriam uma representação do destino dos salvos e dos não-salvos (vv.20-27). A aprovação elogiosa que o senhor fez aos servos, no seu retorno, refere-se aos galardões que se podem esperar do julgamento das obras no Tribunal de Cristo (2 Co 5.10). Já a condenação do servo que negligenciou sua responsabilidade em relação ao talento, é uma advertência contra o não uso, ou o uso indevido dos dons (vv.28-30 cf. Mt 7.21-23)
Como no caso da parábola anterior, esta também tinha um ensino imediato para aqueles que a ouviam pela primeira vez e uma série de ensinos eternos para nós, na atualidade. Esta parábola sempre foi chamada como a parábola dos talentos. Na Palestina o talento não era uma moeda e sim uma medida de peso; de maneira que o valor do talento dependia de se era de moedas de cobre, ouro ou prata. O metal mais comum era a prata e o valor de um talento de prata era ao redor de 560 dólares. Não há dúvida de que, em sua intenção original, toda a atenção da parábola se concentra no servo inútil que recebeu um talento. A quem representa este servo? E a quem Jesus adverte e observa? É evidente que o servo inútil representa os escribas e fariseus, e sua atitude para com a Lei e para com a verdade de Deus. O servo inútil tomou seu talento e o enterrou a fim de poder devolvê-lo a seu senhor tal como este lhe deu. Todo o objetivo vital dos escribas e fariseus era obedecer a Lei tal como Deus a entregou. Segundo suas próprias palavras, queriam "construir um cerco ao redor da Lei". Qualquer mudança, desenvolvimento, alteração, algo novo era um anátema. Seu método implicava a paralisação da verdade religiosa e o ódio para com tudo o que era novo. Tal como o homem do talento, queriam manter tudo como estava, e é por isso que são condenados. Nesta parábola Jesus nos diz que não pode haver religião sem riscos, e que Deus não quer ter nada a ver com uma mente fechada. Mas esta parábola contém muito mais que isso.
(1) Diz-nos que Deus dá diferentes dons aos homens. Um homem recebeu cinco talentos, outro dois e o outro um. O que importa não é o talento do homem e sim a forma em que faz uso dele. Deus jamais exige do homem habilidades que este não possui, mas exige que empregue a fundo as habilidades que tem. Os homens não são iguais quanto a seus talentos, mas podem ser iguais em seu esforço. A parábola nos diz que qualquer que seja o talento que possuamos, grande ou pequeno, devemos entregá-lo para servir a Deus.
(2) Diz-nos que a recompensa do trabalho bem feito é mais trabalho. Aos dois servos que tinham atuado bem não se lhes diz que se sentem a descansar sobre os louros. São dadas tarefas maiores e responsabilidades mais sérias na obra do senhor. A recompensa do trabalho não é o descanso e sim mais trabalho.
(3) Diz-nos que o homem que recebe um castigo é aquele que se recusa a fazer algum esforço. O homem que recebeu um talento não o perdeu, limitou-se a não fazer nada com ele. Inclusive se tivesse arriscado e o tivesse perdido, teria sido melhor que não fazer nada com ele. O homem que tem um só talento sempre se sente tentado a dizer: "Tenho um talento tão pequeno, e posso fazer tão pouco com ele, que não vale a pena provar, porque minha contribuição seria insignificante." Mas a condenação se dirige àquele que, com um só talento, recusa-se a usá-lo e não quer arriscá-lo em favor do bem comum.
(4) Diz-nos que esta é uma lei da vida que tem validade universal. Diz-nos que quem tem lhe será dado, e quem não tem, inclusive o que tem lhe será tirado. O sentido da frase é o seguinte: Se um homem tiver um talento e o usa, é cada vez mais capaz de fazer mais coisas com ele. Mas se tiver um talento, e não o usa, ele o perderá irremediavelmente. Se tivermos alguma capacidade para algum jogo ou artesanato, se tivermos habilidade para fazer algo, quanto mais empreguemos essa capacidade e esse dom, maior será o trabalho que seremos capazes de fazer. Enquanto que se não o usamos, o perderemos. Isto se aplica tanto ao jogo do golfe, como a tocar piano, a cantar, a escrever sermões, a esculpir madeira ou a pensar. A vida nos ensina que a única forma de manter um dom é empregá-lo a serviço de Deus e de nosso próximo. (Mateus - William Barclay, p.746)


SUBSÍDIO EXEGÉTICO
                               
“A palavra grega talanton, usada somente por Mateus, é uma moeda de alto valor, dependendo do metal do qual é feito (em contraste com a palavra mna que Lucas usa, a qual tinha consideravelmente menos valor, Lc 19.13). Em certo ponto um talento era igual a seis mil denários, sendo o valor de um denário o salário de um dia para os trabalhadores (veja Mt 18.23-28). (Em nosso idioma usamos a palavra talento para nos referirmos à habilidade que a pessoa tenha, sentido este proveniente desta parábola.) Emprestar dinheiro para ganhar juros e enterrar tesouros de moedas eram práticas comuns nessa época. “Quando o nobre volta, cada servo o trata de ‘Senhor’ (kyrie). Para os leitores de Mateus conotava a divindade de Jesus. Embora todos o chamem de Senhor, nem todos são servos fiéis. Todo aquele que trabalha fielmente nos negócios do Reino é aprovado e convidado a ‘entra[r] no gozo do teu senhor’ (Mt 25.21,23). O servo infiel afirma que sua inação é resultado de medo do senhor, que teria ficado bravo se o servo tivesse investido o dinheiro num empreendimento improdutivo. Em vez de arriscar a perder, ele enterra o tesouro como garantia (cf. Mt 13.44). Mas ele se condena com as próprias palavras. O senhor o chama de ‘mau e negligente servo’ (Mt 25.26). Fazer o trabalho do Reino obtém abundância na consumação do tempo do fim, ao mesmo tempo que a negligência (ou a preguiça) é recompensada com a danação eterna ([...]). Jesus ensinou que a prática da justiça e do perdão graciosos de Deus são indispensáveis para a salvação última” (SHELTON, James B. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.136)

II. USANDO A NOSSA CAPACIDADE PARA O REINO DE DEUS

1. O Senhor reparte seus talentos segundo a nossa capacidade. A parábola dos talentos nos ensina uma grande verdade sobre o nosso potencial, isto é, a aptidão e a possibilidade que cada um possui de realizar uma tarefa. Por isso, o texto fala que a quantidade de talentos foi repartida “a cada um segundo a sua capacidade” (v.15). Deus não concede um talento a uma pessoa sem que esta tenha condições de desenvolver e nem requer de alguém uma tarefa para a qual não a tenha chamado. Qual é o seu talento? Qual é a sua capacidade? Contente-se com o seu talento, pois você o recebeu do Senhor de acordo com a sua capacidade. A esse respeito, a parábola mostra a diferença de responsabilidade, pois diferimos uns dos outros na quantidade de dons recebidos. Note que, apesar de os servos terem recebido uma quantidade diferente de talentos, que foram distribuídos de acordo com a capacidade pessoal de cada um, a recompensa pela dedicação de cada um deles à tarefa foi igual.
A cada um segundo a sua própria capacidade. Os talentos representam diferentes responsabilidades a serem executadas de acordo com a capacidade de cada homem. Os dois primeiros servos, embora possuíssem diferentes quantias de dinheiro, foram diligentes da mesma maneira e dobraram o seu capital.  O servo que possuía apenas um talento não demonstrou diligência e não sentiu o desafio de sua oportunidade. Abriu uma cova. Um esconderijo comum (Mt. 13:44). (Comentário Bíblico Moody, p. 126)
Seja qual for a interpretação, nenhuma delas pode ignorar que o grande significado da Parábola dos Talentos enfatiza o princípio de que cada um recebe dons e oportunidades. O servo fiel é aquele que, independentemente da quantidade de talentos recebida, age com responsabilidade e diligência. Essa distribuição, segundo o texto, foi realizada de acordo com a capacidade de cada servo (v.15). Aquele que havia recebido um talento escondeu-o, provando, pela sua negligência, que seu senhor estava certo em dar-lhe este valor. Os outros duplicaram a importância recebida. Os servos fiéis foram elogiados pelo lucro produzido, ao passo que o infiel, além de perder seu talento, foi considerado mau e negligente. Por meio desta parábola, aprendemos que o Senhor nos concede dons, habilidades e oportunidades para trabalharmos em sua obra, mas em breve, teremos de prestar-lhe contas do que fizemos com todas essas dádivas. O Senhor espera que administremos com fidelidade e diligência todos os talentos que Ele nos concedeu. Nosso Deus nos concede talentos (dons, habilidades, oportunidades) de acordo com nossa capacidade. Ele seria injusto se confiasse a nós algo que não pudéssemos administrar. Por exemplo: uma pessoa sem o preparo necessário jamais pode ser coloca na presidência de uma grande empresa em crise com a finalidade de salvá-la. Seria injusto colocar uma pessoa numa situação tão difícil sem que ela tenha a capacitação necessária. Da mesma forma Deus nos colocaria em situação muito complicada se confiasse a nós uma quantia que não pudéssemos administrar com propriedade.
2. A capacitação do homem por Deus. Desde o livro de Êxodo, a Bíblia apresenta o agir de Deus na vida de homens com a finalidade de capacitá-los para o exercício de uma atividade (35.30-35). O texto fala da capacitação divina a Bezalel e a Aoliabe, dizendo que Deus lhes deu habilidade para fazerem trabalhos manuais e engenhosos específicos, além de capacidade para criar “invenções”. Diante da grande tarefa que tinha diante de si em liderar o povo de Deus, apesar de ter sido escolhido para desempenhar tal papel, Salomão pede ao Senhor que lhe dê sabedoria (1 Rs 3.6-9). Assim também o apóstolo Paulo reconhece, de forma humilde, que não somos “capazes, por nós, de pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus” (2 Co 3.5). Esta é a atitude que se espera de quem realmente tem um chamado da parte de Deus: Reconhecer que a nossa capacidade vem de Deus.
A divisão dos talentos segue uma proporcionalidade relativa à capacidade de cada indivíduo. Deu mais a quem mais tinha condições de desempenhá-los com maior desembaraço, que por consequência negociou mais e obteve um sucesso maior. Ao recebermos os talentos, em gratidão a Deus por ter depositado em nós tamanha confiança, devemos aperfeiçoá-los a fim de que sejam úteis para a expansão do reino. O resultado dos talentos que recebemos deve glorificar unicamente ao nosso Senhor.
Aqueles que pensam ser impossível agradar a Deus, e que é vão servi-lo, nada farão em benefício da fé. Queixam-se de que Ele exige deles mais do que são capazes, e castiga-os pelo que não podem evitar. Independente do que pretendem, a verdade é que não apreciam o caráter nem a obra do Senhor. o servo preguiçoso está sentenciado a ser privado de seu talento. Isto pode ser aplicado às bênçãos desta vida; porém, melhor ainda aos meios da graça. Aqueles que não conhecem o dia da sua visitação, terão ocultas aos seus olhos as coisas que convém à sua paz. A condenação destes é serem lançados nas mais profundas trevas. Esta é uma maneira habitual de se expressar as misérias dos condenados ao inferno. Aqui, em relação ao que foi dito aos servos fiéis, nosso Salvador passa da parábola para o significado dela e isto serve como uma chave para o todo. Não invejemos aos pecadores nem cobicemos nada de suas posses perecíveis. (Comentário Bíblico de Matthew, p. 87)

3. O acerto de contas. A responsabilidade de desempenhar uma missão na obra de Deus é de tal envergadura que a parábola que estamos estudando fala do acerto de contas dos servos de Deus, com o seu Senhor, e mostra algumas verdades interessantes. Entre elas a de que os homens podem até receber dons desiguais, mas devem desenvolvê-los e entregá-los com a mesma diligência, pois os que fizerem a vontade do seu senhor receberão a mesma remuneração (vv.21,23). De igual forma, o negligente, independentemente do quanto recebeu, pela sua maneira de lidar com o talento, também será punido (vv.28,30).
A Parábola dos Talentos ensina que nada do que temos é de fato nosso. Somos apenas depositários, não somos donos dos talentos que recebemos. Nossa função é administrar e zelar por aquilo que Deus nos dá. Ele é o dono dos talentos e continuará sendo. Podemos encontrar alguns que se vangloriam diante de suas realizações e capacidades. Mas elas não conseguem enxergar que um dia terão que prestar conta de tudo ao verdadeiro dono. O resultado dos talentos que recebemos deve glorificar unicamente ao nosso Senhor. Todos os três homens que receberam talentos foram cobrados pelo que fizeram com eles. Receber talentos é também receber responsabilidades. O último, apesar de ter apenas conservado o seu talento, recebeu dura cobrança por não tê-lo multiplicado. O senhor foi severo com ele, tirando dele aquele talento: “Respondeu-lhe, porém, o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde não espalhei? (…) Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez.” (Mt 25.26, 28).
Depois de muito tempo. Uma indicação de que a volta de Cristo não seria imediata, embora a expressão seja indefinida. Na parábola a volta foi ainda dentro do período de vida dos servos.
Na volta do seu senhor os dois primeiros servos tinham quantias diferentes a apresentar, mas ambos ofereceram lucro de cem por cento e receberam o mesmo elogio e recompensa.
Muito bem, servo bom e fiel. A fidelidade é a virtude que está sendo examinada. Sobre muito te colocarei. Parte da recompensa consistia em obter responsabilidade mais alta e privilégios diante do Mateus senhor. Entra no gozo do teu senhor. Provavelmente uma referência da participação que o crente tem do gozo de Cristo, o qual é dEle por direito por causa de Sua perfeita execução da vontade do Pai (Jo. 15:10, 11).
O servo inútil, entretanto, revela pela explicação que dá, uma opinião completamente falsa que tem do seu senhor. Homem severo. Severo, cruel, sem misericórdia. Ceifas onde não semeaste, isto é, tiras proveito do trabalho dos outros. Ajuntas onde não espalhaste. Não está muito claro se esta cláusula é paralela ao pensamento da precedente, ou se descreve o próximo estágio da Colheita, isto é, o joeiramento. Se este é o caso, então o servo acusa o seu senhor de ajuntar em seu celeiro aquilo que o trabalho de outro espalhou com a pá de joeirar que separa o grão da palha.
Receoso. Ele se justifica falando do seu medo de arriscar e da necessidade de contabilizar possíveis perdas. Este servo estava cego ao fato de que o seu senhor era um homem generoso e dedicado, que desejava fazê-lO participar de alegrias maravilhosas. 26. Sabias. Talvez esta parte pudesse ser considerada uma pergunta, "Tu não sabes. . .?" Sem tomar conhecimento da veracidade dessa opinião, o senhor julga o escravo com base na sua justificativa para lhe mostrar a baixeza de tal atitude.
Se o servo realmente temia o risco de se aventurar nos negócios, então ele devia ter depositado o talento com os banqueiros para que rendesse juros. Embora os israelitas estivessem proibidos de cobrar juros uns dos outros, podiam fazê-lo dos gentios (Dt. 23:20).
Portanto o talento foi tirado desse servo preguiçoso e rebelde e foi dado àquele que era mais capaz de usá-lo com proveito.
 O servo inútil. Lançai-o para fora, nas trevas. O choro e tanger de dentes mostra claramente que isto simboliza o castigo eterno (8:12; 13:42, 50; 22:13; 24:51). Aí está o ponto alto da interpretação. Se esse ajustar de contas é o julgamento das obras do crente, então temos ao que parece um verdadeiro crente sofrendo a perda de sua alma por causa da esterilidade de suas obras. Mas essa interpretação viria contradizer.  Jo. 5:24. Ou, se o servo inútil representa um simples cristão professo, cuja verdadeira natureza foi assim desmascarada, então parece que o julgamento das obras dos crentes e a maldição dos pecadores ocorrerá junto, ainda que Ap. 20 separe estes julgamentos com um intervalo de 1.000 anos. A melhor solução é aquela que aplica a parábola aos santos da Tribulação (quer judeus quer gentios) por causa da clara associação com os versículos precedentes. Esta explicação concorda com outras passagens que por ocasião da volta de Cristo, os crentes remanescentes serão ajuntados para desfrutarem das bênçãos do Milênio, mas aqueles que estando vivos não crerem verdadeiramente no seu Messias serão removidos (Ez. 20:37-42). É claro que, para os homens de todas as dispensações, vale o princípio de que Deus os tem por responsáveis pelo uso que fizerem dos seus dons. (Comentário Bíblico Moody, p. 126)

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Os três servos receberam seus talentos (Mt 25.15). Cada um deles trabalharia e administraria os bens conforme a sua capacidade pessoal. Aquele senhor deixou aqueles talentos em suas mãos para serem cuidados e negociados. Não há acepção, nem discriminação. Cada qual negociaria da melhor forma possível com aquilo que recebeu para trabalhar. Cada qual deveria preocupar-se apenas com o seu trabalho e procurar fazê-lo bem. Não pode haver espaço para invejas, ciúmes e porfias entre os servos de Cristo, que são coisas típicas de pessoas carnais (Gl 5.19-21). A entrega dos talentos representava não só a confiança, mas significava o teste que provaria a fidelidade de cada um deles. Os servos de Cristo na terra, da mesma forma, são selecionados para trabalharem com os talentos recebidos, e o Senhor espera que os mesmos trabalhem e façam multiplicar os bens do Senhor. Ele chama e seleciona pessoas como quer” (CABRAL, Elienai. Mordomia Cristã. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.144).

III. TRABALHANDO ATÉ O SENHOR VOLTAR

1. Usando os talentos segundo a nossa capacidade. Assim como a distribuição dos bens foi proporcional à capacidade de cada um dos servos, de igual maneira, espera-se que a sua utilização obedeça à mesma regra, ou seja, os talentos devem ser usados de acordo com a capacidade de cada um. A respeito do trabalho com a expansão do Reino de Deus, o Senhor reparte talentos segundo a nossa capacidade e os requer na mesma medida, pois “a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12.48b). Cientes de sua obrigação, os dois primeiros servos, não sabendo quanto tempo o seu senhor estaria ausente, tão logo ele se foi, começaram a negociar imediatamente e empregaram seus talentos, ou seja, eles negociaram e não descansaram enquanto não dobraram o que tinham recebido (vv.20,22). Em ambos os casos os talentos foram devidamente empregados. Se o servo que recebera um talento tivesse feito o mesmo, certamente o seu desempenho seria semelhante (vv.26,27).
A presença capacitadora de Deus. Desde os tempos antigos, os homens vêm se sentindo incapazes para as empreitadas na obra de Deus. Moisés julgou-se incapaz (Ex 3.11), mas Deus lhe promete “eu serei contigo (v. 12); Jeremias julgou-se jovem demais para o trabalho, (Jr 1.6), mas Deus lhe aquieta dizendo: “Não temas, eu estou contigo”; para o vacilante Josué, que sentiu o peso da responsabilidade de liderar o povo hebreu após a morte de Moisés, Deus lhe garante: “Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te deixarei nem re desampararei” (Js 1.5). Deus está com você também, não tenha medo de fazer a sua obra, pois o Senhor Jesus promete: “[...] e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28.20).
Na Parábola dos Talentos dois servos bons receberam uma promessa de que devido ao sucesso diante das responsabilidades que exerceram, ambos seriam colocados em responsabilidades ainda maiores. Podemos notar a importância dessa promessa quando calculamos o valor do patrimônio que foi confiado ao primeiro servo. Ele ficou responsável por uma quantia que equivalia a cem anos de salários de um trabalhador de sua época. Isso realmente era muito coisa! Porém o senhor dele comparou essa enorme quantia como sendo pouco em relação ao que ele receberia no futuro. Muitas pessoas gostam de fazer alegorias com esse detalhe da parábola, principalmente focando resultados materiais. Mas penso que a melhor interpretação é considerar que nada do que conhecemos ou recebemos nesta terra, por mais valioso que seja, se compara a promessa de que eternamente participaremos da alegria do nosso Senhor. Quando o proprietário convidou os servos fiéis para participarem de sua alegria, ele ofereceu aos empregados a oportunidade de ocuparem uma posição a qual não tinham direito. Eles se sentaram à mesa com seu senhor. Juntamente com ele, os servos regozijaram se lembrando do trabalho que foi desempenhado. O cristão verdadeiro será convidado a participar de uma mesa a qual não tinha direito algum de participar. Porém, não por seus méritos, mas pelos méritos de Cristo, pela infinita misericórdia e bondade do Senhor que confiou a ele os seus talentos, esse servo fiel estará presente no grande banquete celestial.” (ESTILOADORAÇÃO). O Reverendo Hernandes Dias Lopes escreve: “Jesus conta nessa parábola que um servo recebeu cinco talentos, outro dois e o último um. Os talentos são distintos, em quantidades variadas, porque somos diferentes uns dos outros. No corpo tem muitos membros e cada um exerce sua função de acordo com sua capacidade para o bem de todo o corpo. Assim somos nós, não apenas temos aptidões distintas, mas, também, temos capacidades variadas. Cada um recebeu o quanto podia desenvolver. Cada um recebeu na medida da sua capacidade. Deus nunca vai nos cobrar além do que nos deu. A quem muito é dado, muito é exigido. Cada um deve trabalhar na medida das suas forças e conforme o dom que recebeu.” (A Mordomia do Talento, Rev Hernandes Dias Lopes. Disponível em: http://hernandesdiaslopes.com.br/a-mordomia-do-talento/. Acesso em: 18 DEZ, 2018)
2. A advertência de que haverá uma prestação de contas. Por mais que tenha demorado, “o senhor daqueles servos” voltou e chamou-os para ajustar “contas com eles” (v.19). De modo semelhante, Cristo não nos chamou para que fiquemos ociosos, pois Ele chamará cada um a prestar contas de seu trabalho na obra de Deus (Lc 12.48b; 2 Co 5.10). A parábola nos adverte para o fato de que recebemos algo de Cristo, ou seja, dons e talentos, com a finalidade de trabalharmos para Ele, pois a “manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7). É necessário atentar para esta verdade, pois o dia de prestar contas chegará e todos seremos examinados.
A despeito do que muitas pessoas pregam e imaginam, a severidade de Deus se manifestará no dia do Julgamento. Aqueles que não desenvolveram seus talentos sofrerão perda na eternidade e aqueles que não se submeteram ao senhorio de Cristo sofrerão a condenação eterna. Os inimigos do Rei Jesus sofrerão grande derrota e serão envergonhados diante do seu poder, autoridade e soberania.
3. Recompensa no Tribunal de Cristo. Além de ser uma responsabilidade, trabalhar no Reino de Deus é um privilégio. Os elogios que o senhor fez aos servos no seu retorno (vv.21,23) lembram dos galardões que, como seus servos, podemos esperar no dia do julgamento de nossas obras no Tribunal de Cristo (1 Co 3.12-15 cf. 2 Co 5.10). Alegremo-nos com essa verdade.
Certamente todos os crentes, já transformados e com um corpo incorruptível, vão comparecer perante o Tribunal de Cristo (cf. 2Co 5.10; 1Co 1.8). Não se trata de julgamento de pecados, pois os que serão julgados já são salvos. Os ímpios é que passarão pelo julgamento de suas obras e pecados, no juízo do Trono Branco, após o Milênio (cf. Ap 20.11-15). Os salvos em Cristo Jesus, desde que permaneçam fiéis, em santidade, não mais passarão por qualquer tipo de condenação: Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.1). Estar “em Cristo Jesus” é a condição indispensável para ter sido salvo e permanecer salvo. Neste tribunal serão julgadas as obras dos salvos que foram praticadas na Terra, a fim de que recebam, ou não, o galardão (Ap 22.12). Galardões são prêmios. Lauréis a que o crente fez jus, pois desempenhou bem a função para qual foi vocacionado no Reino de Deus. Agora, note o que diz o versículo 30: “Lançai, pois, o servo inútil nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes”, este fecho nos leva a outra situação de julgamento que não é o Grande Trono Branco, onde estarão somente os salvos. Existem muitas pessoas que dizem crer em Jesus mas nem todos são verdadeiros seguidores. Aqueles que creem em Jesus aproveitam o que ele lhes dá e usam tudo para expandir o reino de Deus. Cada um faz o que consegue com os recursos que Deus lhe deu e Deus ajuda a multiplicar.

SUBSÍDIO DIDÁTICO

Aproveite a temática da lição como um todo, mas desse terceiro tópico, em especial, para incentivar à classe a praticar o evangelismo pessoal e a falar de Cristo em todo e qualquer lugar, seja nas redes sociais ou mesmo no trabalho ou na vizinhança. Estimule aqueles que têm vocação para o ensino, oferecendo a oportunidade de, nas próximas aulas, eles introduzirem ou, talvez, concluírem a lição. Dessa forma você estará contribuindo para a continuidade do ministério de ensino.

CONCLUSÃO

Uma vez que Jesus não estabeleceu uma data para a sua volta, Ele pode vir a qualquer momento (Mt 24.36; Mc 13.32; At 1.7). Todavia, sempre há tempo suficiente, antes que Cristo venha, para que os que forem servos bons e fiéis dupliquem os talentos que o Senhor lhes confiou.
Jesus conta na parábola que os servos diligentes foram não apenas elogiados, mas recompensados. Eles entraram no gozo do Senhor e tomaram posse de uma riqueza incomparavelmente maior e eterna. Depois do trabalho vem a recompensa. Depois das lágrimas da semeadura, vem a alegria da colheita farturosa. Nossa recompensa não é material, mas espiritual. Nosso tesouro não está aqui, mas no céu. Nossa premiação não é neste mundo, mas no céu, quando ouvirmos daquele que está assentado no trono: “Bom está servo bom e fiel; foste fiel no pouco, agora sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor”. O Senhor tem expectativas a nosso respeito. Fidelidade é o que ele espera de nós.


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br