SUBSÍDIO I
TRABALHANDO ATÉ O SENHOR VOLTAR
Jesus nunca estabeleceu uma data
para a sua volta, pois Ele pode vir a qualquer momento (Mt 24.36; Mc 13.32; At
1.7). Todavia, sempre há tempo suficiente antes que Cristo venha para que os
que forem servos diligentes dupliquem o capital que lhes foi confiado. Lockyer,
na análise do uso dos talentos por parte dos três servos, destaca que “quando o
primeiro servo recebeu os cinco talentos; e o segundo, os seus dois; lemos que
ambos saíram imediatamente e negociaram com eles, ou seja, agiram de forma
imediata, sem demora, porque não sabiam quanto tempo o seu senhor ficaria
ausente; por isso tão logo ele partiu, começaram a negociar”. Este autor
destaca também que “eles negociaram, fizeram permutas, até que dobraram o que
tinham. O que possuía cinco talentos conseguiu outros cinco —100%. O servo
com dois talentos
foi igualmente bem sucedido, pois o seu lucro também foi de 100%. Em ambos os
casos o capital original foi duplicado. Se o homem com apenas um talento o
tivesse negociado, o seu lucro teria sido o mesmo”.
Snodgrass destaca que “esta
parábola retrata a época da morte e da ressurreição de Jesus até o segundo
advento e seria dirigida aos discípulos para incentivá-los a levar uma vida nos
valores do Reino”. Um detalhe interessante verificado nessa parábola é a
conexão que ela possui com a parábola anterior, “parábola das dez virgens”.
Sobre isso Trench destaca que “enquanto as virgens são apresentadas como que
esperando pelo seu Senhor, temos aqui os servos trabalhando para ele; há a vida
espiritual interna do fiel sendo mencionada, e aqui a sua ação externa, [...]
portanto há uma boa razão para eles aparecerem na presente ordem, ou seja,
primeiro as virgens e em seguida os talentos, pois a única condição para haver
uma ação externa, produtiva para o reino de Deus, é que a vida de Deus seja
diligentemente conservada dentro do coração".
Em Tiago 2.14-26 a Bíblia diz:
“Meus irmãos, que aproveita se alguém disser que tem fé e não tiver as obras?
Porventura, a fé pode salvá-lo? E, se o irmão ou a irmã estiverem nus e tiverem
falta de mantimento cotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz,
aquentai-vos e fartai-vos; e lhes não derdes as coisas necessárias para o
corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver as obras, é morta
em si mesma. Mas dirá alguém: Tu tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a
tua fé sem as tuas obras, e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tu
crês que há um só Deus? Fazes bem; também os demônios o creem e estremecem.
Mas, ó homem vão, queres tu saber que a fé sem as obras é morta? Porventura
Abraão, o nosso pai, não foi justificado pelas obras, quando ofereceu sobre o altar
o seu filho Isaque? Bem vês que a fé cooperou com as suas obras e que, pelas
obras, a fé foi aperfeiçoada, e cumpriu-se a Escritura, que diz: E creu Abraão
em Deus, e foi-lhe isso imputado como justiça, e foi chamado o amigo de Deus.
Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé. E de
igual modo Raabe, a meretriz, não foi também justificada pelas obras, quando
recolheu os emissários e os despediu por outro caminho? Porque, assim como o
corpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta”.
O texto de Tiago é o clímax do
apelo que ele fez por uma religião pura que se justifica na ação. A sua
preocupação consiste numa atitude diante da fé que se manifesta tão somente
como uma confissão verbal e isso para ele é uma fé sem obras (Tg 2.20,26), a
qual ele considera morta (Tg 2.17,26), inoperante (Tg 2.20) e que não tem poder
para salvar (Tg 2.14) ou para justificar (Tg 2.18). O que Tiago quer dizer na
verdade, não é que as obras devem ser acrescentadas à fé, mas que a fé genuína
as inclui. Nesse sentido, as obras são a evidência da fé. O profeta Isaías
convocou o povo de seus dias para que desse um significado real a seus ritos
religiosos, conforme Isaías 58.7-9 que diz: “Porventura, não é também que
repartas o teu pão com o faminto e recolhas em casa os pobres desterrados? E,
vendo o nu, o cubras e não te escondas daquele que é da tua carne? Então,
romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua
justiça irá adiante da tua face, e a glória do Senhor será a tua retaguarda.
Então, clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui;
acontecerá isso se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo e o falar
vaidade”.
O Senhor Jesus prometeu o reino
àqueles que dessem de comer e vestir “a um destes meus pequeninos irmãos”,
conforme Mateus 25.31-46. O apóstolo João por sua vez, nega que qualquer pessoa
que deixe de auxiliar a um irmão em necessidade possa ter o verdadeiro amor,
conforme 1 João 3.17-18: “Quem, pois, tiver bens do mundo e, vendo o seu irmão
necessitado, lhe cerrar o seu coração, como estará nele o amor de Deus? Meus
filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade”.
Muitas vezes nos limitamos a pronunciar simples palavras, quando na verdade
Deus está mais interessados em nossa ação. As palavras proferidas através de
pregações, orações, confissões de fé, de bons conselhos, de encorajamento, etc,
são muito importantes e indispensáveis em nossa vida cristã. Todavia, Tiago
está nos lembrando de que as nossas palavras somente provarão que tem um
significado real e eficaz quando as pessoas que nos ouvem, virem as ações que
praticamos, relacionadas ao que dizemos.
Paulo, em Ef 2.8-10, relaciona
as boas obras com a fé: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso
não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie.
Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais
Deus preparou para que andássemos nelas”. Tiago fala da justificação diante dos
homens e que a fé é provada pelas obras, em Tiago 2.18: “Mas dirá alguém: Tu
tens a fé, e eu tenho as obras; mostra-me a tua fé sem as tuas obras, e eu te
mostrarei a minha fé pelas minhas obras”. Como agência do Reino de Deus na
Terra, a Igreja do Senhor (e isso significa cada cristão, inclusive eu e você)
possui uma responsabilidade social.
O ministério de Jesus evidencia
a primazia da fé em ação, da prática das boas obras, ou seja, da ação social.
Um clássico exemplo da importância da ação social está no fim do sermão
profético de Jesus, em Mateus 25.35-36: “... porque tive fome, e destes-me de
comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes
ver-me”. A missão integral da igreja consiste em levar o Evangelho em sua
plenitude aos homens. No conhecido Pacto de Lausanne um capítulo especial foi
produzido com o objetivo de promover uma reflexão profunda sobre a
responsabilidade social da igreja:
Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens.
Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em
toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão.
Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de
raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade
intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.
Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes
considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora
a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social
evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização
e o envolvimento sociopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois
ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem,
de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A
mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de
alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar
o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo,
nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar mas também
divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos
possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades
pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.
Em Atos 1.8 a Bíblia demonstra
de maneira bastante clara que o Evangelho é para todos, em todos os lugares,
sem discriminação: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir
sobre vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e
Samaria e até aos confins da terra”. O Pacto de Lausanne também dedicou um
capítulo específico para tratar da atividade evangelísitca: “Afirmamos que
Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o enviou, e que isso
requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial. Precisamos deixar
os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na missão de
serviço sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização
mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A
igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente
que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz
deve, ela própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço
para a evangelização quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em
Deus, um amor genuíno pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as
coisas, inclusive em promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo
de Deus do que uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer
cultura em particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com
ideologias humanas”.6
O amor de Deus derramado em
nossos corações (Rm 5.5b) deve nos constranger a ajudar as pessoas nas sua
necessidades de ordem física, emocional e espiritual, através de ações
concretas, conforme recomenda Gl 6.10: “Então, enquanto temos tempo, façamos o
bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé”.
Texto extraído da
obra: As Parábolas
de Jesus: As
verdades e princípios divinos para uma vida abundante. 1. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
A Parábola dos Talentos é uma
das mais conhecidas no contexto cristão, e precisa ser compreendida de acordo
com os ensinamentos de Jesus em relação ao Reino de Deus. Por isso, na aula de
hoje, nos voltaremos para o estudo desta parábola, ressaltando, a princípio, a
importância de esperar a volta do Senhor, para o estabelecimento do Seu Reino.
Ao mesmo tempo, devemos ter cuidado para que essa espera não se transforme em
escapismo, antes estejamos empenhados no trabalho do Reino.
I. ESPERANDO
A VOLTA DO SENHOR
A Parábola dos Talentos, que se encontra em Mt.
25.14-30, é uma advertência em relação à importância de desenvolvermos a obra
de Deus, de acordo com os dons que recebemos da parte do Senhor. Jesus conta
que um homem, partindo para fora da terra, chamou seus servos, entregando-lhe
bens. Ele entregou a esses servos alguns talentos, considerando a capacidade de
administrar cada um deles. A um entregou cinco, que granjeou mais cinco, a
outro entregou dois talentos, que ganhou outros dois, mas o que recebeu apenas
um talento, talvez por achar que era pouco, e por ter uma visão deturpada do
seu senhor, decidiu esconder na terra o talento, para devolvê-lo quando o
Senhor retornasse. Os servos que duplicaram seus talentos foram elogiados pelo
senhor, por ocasião da sua volta, mas esse que escondeu o talento na terra foi
repreendido pelo senhor. Esse servo é identificado pelo Senhor como “inútil”,
tendo sido lançado nas trevas exteriores. Essa parábola revela a importância de
se dedicar ao desenvolvimento do reino de Deus, e foi justamente isso que
Cristo fez durante os dias em que esteve na terra. Os religiosos do seu tempo,
principalmente os escribas e fariseus, ao invés de propagaram a boa mensagem,
resolveram escondê-la e enterrando-a, privando as pessoas de conheceram a
verdade do evangelho. A partir dessa Parábola somos advertidos a trabalho pelo
Reino de Deus, atentando para o valor dessa preciosa mensagem.
II. MAS SEM IGNORÂNCIA
A vinda de Cristo era motivo de interesse
especial por parte da igreja cristã primitiva (I Co. 15.51). No caso específico
de Tessalônica, havia um mal-entendido que gerava angústia e desespero. Os
cristãos acreditavam que somente aqueles que pudessem manter-se fisicamente
vivos até a volta de Cristo seriam beneficiados pelo estabelecimento do Reino
de Cristo. Em I e II aos Tessalonicenses, Paulo esclarece que todas as bênçãos
associadas ao retorno de Cristo à terra serão conferidas tanto aos crentes
vivos como aos crentes mortos. Paulo já havia pregado a respeito do reino de
Cristo quando esteve em Tessalônica (At. 17.7). Contudo, alguns não a
compreenderam bem, por isso, ela acabou sendo deturpada. Deus não deseja que
sejamos ignorantes a respeito das verdades escatológicas, mas, ao mesmo tempo,
é preciso ter cuidado para não as deturpar (Mt. 24.15). A palavra “dormir”,
para se referir à morte, era comum no mundo antigo, conforme podemos ver em
tanto nas passagens do Novo quanto do Antigo Testamento: Gn. 47.30; Dt. 31.16;
I Rs. 22.40; Jo. 11.11-13; At. 7.3; 13.36; I Co. 7.39; 11.3. Paulo ensina, que
nós, os cristãos, não podemos agir como os demais, os pagãos (Ef. 2.3), que não
têm esperança. Quando corretamente entendidas, as verdades escatológicas
são motivos de alegria, não de tristeza. Nossa esperança, de alguma
forma, já começou a se concretizar, a partir do momento em que
recebemos Jesus como nosso Salvador Pessoal, mas ainda nãoalcançou
a sua plenitude. Essa esperança tem como base a certeza de que estar com
Cristo, “é incomparavelmente melhor” (Fp. 1.23). A esperança do
crente se encontra, inicialmente, na certeza da ressurreição. No Antigo
Testamento já é possível ver algumas manifestações dessa esperança (Sl.
16.2,11; 17,15; 73.24; Pv. 14.32). Mas é em Cristo que essa revelação tem o seu
apogeu (II Tm.1.10). Isso porque, agora, podemos ter uma resposta à pergunta de
Jó (14.14) e a certeza de que, mesmo antes da ressurreição, aqueles que
morreram em Cristo estão desfrutando com júbilo a presença de Cristo (Lc.
23.43; Fp. 1.23), e que um dia teremos uma reunião maravilhosa na eternidade (I
Ts. 4.17).
III. TRABALHANDO
EM PROL DO REINO DE DEUS
Cristo virá, esse é um dos pilares da fé cristã,
mas sua volta precisa ser compreendida em dois contextos distintos. Ele virá
para arrebatar Sua igreja, como prometeu em Jo. 14.1. O ensino do arrebatamento
foi revelado mais precisamente a Paulo que instruiu a igreja a esse respeito (I
Co. 15.52; I Ts. 4.13-17). Ao longo dos evangelhos, Jesus fala de seu retorno,
mas, a maioria das passagens, se refere à Sua volta gloriosa, quando virá para
Israel, estabelecer Seu trono (Mt. 24). O texto de At. 1.11 tem essa
duplicidade, pois permite, ao mesmo tempo, que a igreja considere a volta de
Cristo, para arrebatá-la, e, também, o estabelecimento do Reino Milenial de
Cristo (Ap. 19.11-21). Em relação a igreja, esse retorno de Cristo é denominado
de “bendita ou boa esperança” (I Ts. 2.16; Tt. 2.13). A esperança do
arrebatamento sempre foi uma doutrina ensinada nos púlpitos das nossas igrejas,
mas passado o ano 2000, e agora, uma década depois, alguns cristãos não mais
falam a respeito. A secularização da igreja também tem contribuído
significativamente para que essa doutrina deixe de ser exposta. Alguns estão
demasiadamente conformados com este século, deixaram de orar “maranatah”, ora
vem Senhor Jesus, há quem prefira que ele demore, não querem perder as
oportunidades que a temporalidade oferece. Cristo não veio em 2000, certamente
por que muitos o aguardavam naquele ano, mas virá justamente quando menos se
espera. A igreja precisa continuar olhando para cima, em busca do prêmio da
soberana vocação em Cristo Jesus (Cl. 3.1,2).
CONCLUSÃO
A Parábola dos Talentos é uma advertência do Senhor
Jesus, em relação a importância de trabalhar em prol do Reino de Deus.
Precisamos ter cuidado, não apenas para nos omitirmos em relação a essa
importante mensagem, mas também de o fazermos de maneira equivocada, o que pode
significar também uma maneira de a enterrar. Não podemos desconsiderar que o
Senhor haverá de voltar, e quando isso acontecer haveremos de prestar contas de
tudo o que fizemos ou deixamos de fazer para o Seu reino, na dependência do
poder do Espírito Santo (At. 1.8).
José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog subsidioebd.blogspot.com
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
A parábola dos talentos retrata um senhor que
viaja para fora do país e deixa suas posses sob a responsabilidade de seus
servos. Enquanto ele estiver ausente, os servos deverão negociar os seus bens para
obter lucro. No dia que o senhor voltar, eles deverão prestar contas. A
referência sobre o longo tempo de duração da viagem (Mt 25.19) desperta a
questão de saber quem estará pronto para o retorno do senhor. Assim, uma das
grandes lições da parábola dos talentos está na importância de se “remir” o
tempo, de maneira sábia, antes que Cristo volte. Não se trata de uma espera
desinteressada, pois exige de cada um de nós, seus servos, que levemos adiante
a tarefa de cuidar dos “bens” e tiremos o máximo proveito da oportunidade que
nos foi confiada. Estar preparado para a volta de Jesus significa também
comprometer-se com a tarefa que nos foi designada pelo Senhor (Lc 19.13b).
Cristo não tem servos para que estes estejam
ociosos: eles têm recebido tudo que possuem dEle, e nada possuem que possam
chamar seu próprio, salvo o pecado. Aquilo que recebemos de Cristo, tem a
finalidade de que trabalhemos para Ele. A manifestação do Espírito é dada a
todo o homem para proveito dos santos. Chegará o dia de prestar contas, e todos
deveremos ser examinados quanto ao bem que tivermos feito para a nossa alma e
para nosso próximo, e pelas vantagens que desfrutamos. Não significa que o
realce dos dons naturais possa dar mérito a um homem para a graça divina. É
liberdade e privilégio do cristão verdadeiro ser empregado como servo de seu
Redentor, divulgando sua glória e promovendo o bem de seu povo: o amor de
Cristo o constrange a não viver mais para si, mas para aquEle que morreu e
ressuscitou por ele. (Mateus - Comentário Bíblico de Matthew, p.
87).
Estamos no Sermão do Monte, Jesus discursa acerca de
coisas futuras. No capítulo anterior, ele discorre acerca dos sinais que
sucederão à sua volta contando três parábolas, sendo a dos Talentos, a última.
Nestas três parábolas, o âmago é a necessidade de vigilância em relação ao
nosso comportamento, pois iremos prestar contas de nossos atos ao Senhor,
quando este voltar. A parábola da Figueira enfatiza nosso cuidado das pessoas a
nós confiadas; a parábola do Servo Fiel, nossa prontidão em relação à espera da
vinda do Senhor; e esta, a terceira, quanto ao uso dos bens a nós confiados (os
talentos). “Vejam que uma pessoa é
justificada por obras, e não apenas pela fé” (Tg 2.26). Nesta parábola aprendemos a não desperdiçar as
oportunidades que Deus nos dá. Os verdadeiros seguidores de Jesus aproveitam as
oportunidades e obtêm bons resultados. Os falsos seguidores desperdiçam tudo
que recebem.
I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DOS DEZ TALENTOS
1. O contexto da
parábola. A maioria dos estudiosos
enfrenta dificuldade para explicar o contexto da parábola dos talentos, pois se
trata de uma narrativa que expõe uma realidade econômica muito distinta da
nossa. Um ou outro arriscou uma explicação dizendo que o procedimento adotado
pelo senhor da parábola era uma das formas que as pessoas de posse adotavam
quando se ausentavam por um longo período de tempo. No entanto, tal explicação
não é o mais importante, e sim a sua mensagem.
A parábola dos talentos está no contexto do sermão
do sermão profético do monte das Oliveiras, proferido por Jesus. Este sermão
aponta para o cumprimento profético de Deus para Israel, mas com algumas
aplicações que também nos dizem respeito (a Igreja), especialmente no que
concerne à nossa postura enquanto aguardamos o retorno de Jesus Cristo.
O contexto histórico da parábola é naturalmente, o
contexto social da época de Jesus. O Mestre fala nessa parábola sobre um homem
dono de muitas propriedades. Prestes a viajar, esse homem confiou seus bens a
seus servos. Para um servo ele deu cinco talentos; para outro servo deu dois
talentos; e para o último servo deu um talento.
2. Conhecendo o
sistema financeiro da época. Os estudiosos destacam ainda que embora Jesus
usasse, via de regra, em suas parábolas, imagens da vida no campo, dos
trabalhadores braçais e até da família, nesta o Senhor tomou exemplos do
sistema financeiro, pelo fato de que, naquela época, tal sistema era um assunto
corriqueiro e criticado entre as pessoas. Assim, ainda que elas não tivessem
posses e fossem pobres, sabiam desse sistema e entendiam também que as pessoas
que tinham muito dinheiro eram as que possuíam maiores condições de multiplicar
seus bens. Uma vez que desde sempre os juros de empréstimos são elevados,
certamente talvez, por isso, os servos bons e fiéis tenham atuado, eles mesmos,
como banqueiros, emprestando o dinheiro a altos juros e realizando grandes
negócios (v.27).
Segundo estudiosos, um
talento correspondia a certa de 35 quilos de prata pura, o equivalente a 6.000
denários (o denário era uma moeda de prata e valia um dia de trabalho de um soldado
romano). Talento era uma moeda antiga na Grécia e Roma, antiga medida de peso
grego-romano. Esse “talento” confiado aos servos era uma unidade monetária em
uso na época. Estima-se que o talento equivalia a seis mil denários; sendo que
um denário era o salário pago pela diária de um trabalhador comum. Logo, um
talento equivalia a quase 20 anos de trabalho para a maioria dos trabalhadores
da época.
3. A motivação e o
significado da parábola. Pelo contexto
escatológico em que foi contada, muito provavelmente a parábola dos talentos
tem como finalidade retratar o período que abrange desde a ascensão de Jesus
até sua segunda vinda e foi dirigida aos seus discípulos com o objetivo de
alertá-los a ter uma vida pautada nos valores do Evangelho (Mt 25.13-15). O
homem rico a quem os servos se referiram como “senhor” que iria partir é uma
representação do Senhor Jesus Cristo. A viagem a um país distante se refere à
sua partida para o céu, após a sua ascensão. Os servos eram, inicialmente, os
doze discípulos a quem Jesus dirigiu a parábola, e num sentido mais amplo,
refere-se a todas as pessoas nascidas de novo. Os talentos são os dons que o
Senhor entregou aos seus servos. Inclusive, a nossa palavra “talento”, com o
sentido que conhecemos, vem desse uso que o Mestre fez da expressão. A volta do
senhor dos talentos seria o equivalente à segunda vinda de Cristo, enquanto a
recompensa, ou o castigo, seriam uma representação do destino dos salvos e dos
não-salvos (vv.20-27). A aprovação elogiosa que o senhor fez aos servos, no seu
retorno, refere-se aos galardões que se podem esperar do julgamento das obras
no Tribunal de Cristo (2 Co 5.10). Já a condenação do servo que negligenciou
sua responsabilidade em relação ao talento, é uma advertência contra o não uso,
ou o uso indevido dos dons (vv.28-30 cf. Mt 7.21-23)
Como no caso da parábola anterior, esta também tinha
um ensino imediato para aqueles que a ouviam pela primeira vez e uma série de
ensinos eternos para nós, na atualidade. Esta parábola sempre foi chamada como
a parábola dos talentos. Na Palestina o talento não era uma moeda e sim uma
medida de peso; de maneira que o valor do talento dependia de se era de moedas
de cobre, ouro ou prata. O metal mais comum era a prata e o valor de um talento
de prata era ao redor de 560 dólares. Não há dúvida de que, em sua intenção
original, toda a atenção da parábola se concentra no servo inútil que recebeu
um talento. A quem representa este servo? E a quem Jesus adverte e observa? É
evidente que o servo inútil representa os escribas e fariseus, e sua atitude
para com a Lei e para com a verdade de Deus. O servo inútil tomou seu talento e
o enterrou a fim de poder devolvê-lo a seu senhor tal como este lhe deu. Todo o
objetivo vital dos escribas e fariseus era obedecer a Lei tal como Deus a
entregou. Segundo suas próprias palavras, queriam "construir um cerco ao
redor da Lei". Qualquer mudança, desenvolvimento, alteração, algo novo era
um anátema. Seu método implicava a paralisação da verdade religiosa e o ódio
para com tudo o que era novo. Tal como o homem do talento, queriam manter tudo
como estava, e é por isso que são condenados. Nesta parábola Jesus nos diz que
não pode haver religião sem riscos, e que Deus não quer ter nada a ver com uma
mente fechada. Mas esta parábola contém muito mais que isso.
(1) Diz-nos que Deus dá diferentes dons aos homens.
Um homem recebeu cinco talentos, outro dois e o outro um. O que importa não é o
talento do homem e sim a forma em que faz uso dele. Deus jamais exige do homem
habilidades que este não possui, mas exige que empregue a fundo as habilidades
que tem. Os homens não são iguais quanto a seus talentos, mas podem ser iguais
em seu esforço. A parábola nos diz que qualquer que seja o talento que
possuamos, grande ou pequeno, devemos entregá-lo para servir a Deus.
(2) Diz-nos que a recompensa do trabalho bem feito é
mais trabalho. Aos dois servos que tinham atuado bem não se lhes diz que se
sentem a descansar sobre os louros. São dadas tarefas maiores e
responsabilidades mais sérias na obra do senhor. A recompensa do trabalho não é
o descanso e sim mais trabalho.
(3) Diz-nos que o homem que recebe um castigo é
aquele que se recusa a fazer algum esforço. O homem que recebeu um talento não
o perdeu, limitou-se a não fazer nada com ele. Inclusive se tivesse arriscado e
o tivesse perdido, teria sido melhor que não fazer nada com ele. O homem que
tem um só talento sempre se sente tentado a dizer: "Tenho um talento tão
pequeno, e posso fazer tão pouco com ele, que não vale a pena provar, porque
minha contribuição seria insignificante." Mas a condenação se dirige
àquele que, com um só talento, recusa-se a usá-lo e não quer arriscá-lo em
favor do bem comum.
(4) Diz-nos que esta é uma lei da vida que tem
validade universal. Diz-nos que quem tem lhe será dado, e quem não tem,
inclusive o que tem lhe será tirado. O sentido da frase é o seguinte: Se um
homem tiver um talento e o usa, é cada vez mais capaz de fazer mais coisas com
ele. Mas se tiver um talento, e não o usa, ele o perderá irremediavelmente. Se
tivermos alguma capacidade para algum jogo ou artesanato, se tivermos
habilidade para fazer algo, quanto mais empreguemos essa capacidade e esse dom,
maior será o trabalho que seremos capazes de fazer. Enquanto que se não o
usamos, o perderemos. Isto se aplica tanto ao jogo do golfe, como a tocar piano,
a cantar, a escrever sermões, a esculpir madeira ou a pensar. A vida nos ensina
que a única forma de manter um dom é empregá-lo a serviço de Deus e de nosso
próximo. (Mateus - William Barclay, p.746)
SUBSÍDIO EXEGÉTICO
“A palavra grega talanton, usada somente por Mateus,
é uma moeda de alto valor, dependendo do metal do qual é feito (em contraste
com a palavra mna que Lucas usa, a qual tinha consideravelmente menos valor, Lc
19.13). Em certo ponto um talento era igual a seis mil denários, sendo o valor
de um denário o salário de um dia para os trabalhadores (veja Mt 18.23-28). (Em
nosso idioma usamos a palavra talento para nos referirmos à habilidade que a
pessoa tenha, sentido este proveniente desta parábola.) Emprestar dinheiro para
ganhar juros e enterrar tesouros de moedas eram práticas comuns nessa época.
“Quando o nobre volta, cada servo o trata de ‘Senhor’ (kyrie). Para os leitores
de Mateus conotava a divindade de Jesus. Embora todos o chamem de Senhor, nem
todos são servos fiéis. Todo aquele que trabalha fielmente nos negócios do
Reino é aprovado e convidado a ‘entra[r] no gozo do teu senhor’ (Mt 25.21,23).
O servo infiel afirma que sua inação é resultado de medo do senhor, que teria
ficado bravo se o servo tivesse investido o dinheiro num empreendimento
improdutivo. Em vez de arriscar a perder, ele enterra o tesouro como garantia
(cf. Mt 13.44). Mas ele se condena com as próprias palavras. O senhor o chama
de ‘mau e negligente servo’ (Mt 25.26). Fazer o trabalho do Reino obtém
abundância na consumação do tempo do fim, ao mesmo tempo que a negligência (ou
a preguiça) é recompensada com a danação eterna ([...]). Jesus ensinou que a
prática da justiça e do perdão graciosos de Deus são indispensáveis para a
salvação última” (SHELTON, James B. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger
(Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal.
1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.136)
II. USANDO A
NOSSA CAPACIDADE PARA O REINO DE DEUS
1. O Senhor
reparte seus talentos segundo a nossa capacidade. A parábola dos talentos nos ensina uma grande verdade
sobre o nosso potencial, isto é, a aptidão e a possibilidade que cada um possui
de realizar uma tarefa. Por isso, o texto fala que a quantidade de talentos foi
repartida “a cada um segundo a sua capacidade” (v.15). Deus não concede um
talento a uma pessoa sem que esta tenha condições de desenvolver e nem requer
de alguém uma tarefa para a qual não a tenha chamado. Qual é o seu talento?
Qual é a sua capacidade? Contente-se com o seu talento, pois você o recebeu do
Senhor de acordo com a sua capacidade. A esse respeito, a parábola mostra a
diferença de responsabilidade, pois diferimos uns dos outros na quantidade de
dons recebidos. Note que, apesar de os servos terem recebido uma quantidade
diferente de talentos, que foram distribuídos de acordo com a capacidade
pessoal de cada um, a recompensa pela dedicação de cada um deles à tarefa foi
igual.
A cada um segundo a sua própria capacidade. Os
talentos representam diferentes responsabilidades a serem executadas de acordo
com a capacidade de cada homem. Os dois primeiros servos, embora possuíssem
diferentes quantias de dinheiro, foram diligentes da mesma maneira e dobraram o
seu capital. O servo que possuía apenas
um talento não demonstrou diligência e não sentiu o desafio de sua
oportunidade. Abriu uma cova. Um esconderijo comum (Mt. 13:44). (Comentário
Bíblico Moody, p. 126)
Seja qual for a interpretação, nenhuma delas pode
ignorar que o grande significado da Parábola dos Talentos enfatiza o princípio
de que cada um recebe dons e oportunidades. O servo fiel é aquele que,
independentemente da quantidade de talentos recebida, age com responsabilidade
e diligência. Essa distribuição, segundo o texto, foi realizada de acordo com a
capacidade de cada servo (v.15). Aquele que havia recebido um talento
escondeu-o, provando, pela sua negligência, que seu senhor estava certo em
dar-lhe este valor. Os outros duplicaram a importância recebida. Os servos
fiéis foram elogiados pelo lucro produzido, ao passo que o infiel, além de
perder seu talento, foi considerado mau e negligente. Por meio desta parábola,
aprendemos que o Senhor nos concede dons, habilidades e oportunidades para
trabalharmos em sua obra, mas em breve, teremos de prestar-lhe contas do que
fizemos com todas essas dádivas. O Senhor espera que administremos com
fidelidade e diligência todos os talentos que Ele nos concedeu. Nosso Deus nos
concede talentos (dons, habilidades, oportunidades) de acordo com nossa
capacidade. Ele seria injusto se confiasse a nós algo que não pudéssemos
administrar. Por exemplo: uma pessoa sem o preparo necessário jamais pode ser
coloca na presidência de uma grande empresa em crise com a finalidade de
salvá-la. Seria injusto colocar uma pessoa numa situação tão difícil sem que
ela tenha a capacitação necessária. Da mesma forma Deus nos colocaria em
situação muito complicada se confiasse a nós uma quantia que não pudéssemos
administrar com propriedade.
2. A capacitação
do homem por Deus. Desde o livro de
Êxodo, a Bíblia apresenta o agir de Deus na vida de homens com a finalidade de
capacitá-los para o exercício de uma atividade (35.30-35). O texto fala da
capacitação divina a Bezalel e a Aoliabe, dizendo que Deus lhes deu habilidade
para fazerem trabalhos manuais e engenhosos específicos, além de capacidade
para criar “invenções”. Diante da grande tarefa que tinha diante de si em
liderar o povo de Deus, apesar de ter sido escolhido para desempenhar tal
papel, Salomão pede ao Senhor que lhe dê sabedoria (1 Rs 3.6-9). Assim também o
apóstolo Paulo reconhece, de forma humilde, que não somos “capazes, por nós, de
pensar alguma coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus” (2
Co 3.5). Esta é a atitude que se espera de quem realmente tem um chamado da
parte de Deus: Reconhecer que a nossa capacidade vem de Deus.
A divisão dos talentos segue uma proporcionalidade
relativa à capacidade de cada indivíduo. Deu mais a quem mais tinha condições
de desempenhá-los com maior desembaraço, que por consequência negociou mais e
obteve um sucesso maior. Ao recebermos os talentos, em gratidão a Deus por ter
depositado em nós tamanha confiança, devemos aperfeiçoá-los a fim de que sejam
úteis para a expansão do reino. O resultado dos talentos que recebemos deve
glorificar unicamente ao nosso Senhor.
Aqueles que pensam ser impossível agradar a Deus, e
que é vão servi-lo, nada farão em benefício da fé. Queixam-se de que Ele exige
deles mais do que são capazes, e castiga-os pelo que não podem evitar.
Independente do que pretendem, a verdade é que não apreciam o caráter nem a
obra do Senhor. o servo preguiçoso está sentenciado a ser privado de seu
talento. Isto pode ser aplicado às bênçãos desta vida; porém, melhor ainda aos
meios da graça. Aqueles que não conhecem o dia da sua visitação, terão ocultas
aos seus olhos as coisas que convém à sua paz. A condenação destes é serem
lançados nas mais profundas trevas. Esta é uma maneira habitual de se expressar
as misérias dos condenados ao inferno. Aqui, em relação ao que foi dito aos
servos fiéis, nosso Salvador passa da parábola para o significado dela e isto
serve como uma chave para o todo. Não invejemos aos pecadores nem cobicemos
nada de suas posses perecíveis. (Comentário Bíblico de Matthew, p. 87)
3. O acerto de
contas. A responsabilidade de
desempenhar uma missão na obra de Deus é de tal envergadura que a parábola que
estamos estudando fala do acerto de contas dos servos de Deus, com o seu
Senhor, e mostra algumas verdades interessantes. Entre elas a de que os homens
podem até receber dons desiguais, mas devem desenvolvê-los e entregá-los com a
mesma diligência, pois os que fizerem a vontade do seu senhor receberão a mesma
remuneração (vv.21,23). De igual forma, o negligente, independentemente do
quanto recebeu, pela sua maneira de lidar com o talento, também será punido
(vv.28,30).
A Parábola dos Talentos ensina que nada do que temos
é de fato nosso. Somos apenas depositários, não somos donos dos talentos que
recebemos. Nossa função é administrar e zelar por aquilo que Deus nos dá. Ele é
o dono dos talentos e continuará sendo. Podemos encontrar alguns que se
vangloriam diante de suas realizações e capacidades. Mas elas não conseguem
enxergar que um dia terão que prestar conta de tudo ao verdadeiro dono. O
resultado dos talentos que recebemos deve glorificar unicamente ao nosso
Senhor. Todos os três homens que receberam talentos foram cobrados pelo que
fizeram com eles. Receber talentos é também receber responsabilidades. O
último, apesar de ter apenas conservado o seu talento, recebeu dura cobrança
por não tê-lo multiplicado. O senhor foi severo com ele, tirando dele aquele
talento: “Respondeu-lhe, porém, o
senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo onde não semeei e ajunto onde
não espalhei? (…) Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem dez.” (Mt 25.26, 28).
Depois de muito tempo. Uma indicação de que a volta de Cristo não seria imediata,
embora a expressão seja indefinida. Na parábola a volta foi ainda dentro do
período de vida dos servos.
Na volta do seu senhor os dois primeiros servos
tinham quantias diferentes a apresentar, mas ambos ofereceram lucro de cem por
cento e receberam o mesmo elogio e recompensa.
Muito bem, servo bom e
fiel. A fidelidade é a virtude que está
sendo examinada. Sobre muito te colocarei. Parte da recompensa consistia em
obter responsabilidade mais alta e privilégios diante do Mateus senhor. Entra
no gozo do teu senhor. Provavelmente uma referência da participação que o
crente tem do gozo de Cristo, o qual é dEle por direito por causa de Sua
perfeita execução da vontade do Pai (Jo. 15:10, 11).
O servo inútil, entretanto, revela pela explicação
que dá, uma opinião completamente falsa que tem do seu senhor. Homem severo.
Severo, cruel, sem misericórdia. Ceifas onde não semeaste, isto é, tiras
proveito do trabalho dos outros. Ajuntas onde não espalhaste. Não está muito
claro se esta cláusula é paralela ao pensamento da precedente, ou se descreve o
próximo estágio da Colheita, isto é, o joeiramento. Se este é o caso, então o
servo acusa o seu senhor de ajuntar em seu celeiro aquilo que o trabalho de
outro espalhou com a pá de joeirar que separa o grão da palha.
Receoso. Ele se justifica falando do seu medo de arriscar e da
necessidade de contabilizar possíveis perdas. Este servo estava cego ao fato de
que o seu senhor era um homem generoso e dedicado, que desejava fazê-lO
participar de alegrias maravilhosas. 26. Sabias. Talvez esta parte pudesse ser
considerada uma pergunta, "Tu não sabes. . .?" Sem tomar conhecimento
da veracidade dessa opinião, o senhor julga o escravo com base na sua
justificativa para lhe mostrar a baixeza de tal atitude.
Se o servo realmente temia o risco de se aventurar
nos negócios, então ele devia ter depositado o talento com os banqueiros para
que rendesse juros. Embora os israelitas estivessem proibidos de cobrar juros
uns dos outros, podiam fazê-lo dos gentios (Dt. 23:20).
Portanto o talento foi tirado desse servo preguiçoso
e rebelde e foi dado àquele que era mais capaz de usá-lo com proveito.
O servo inútil. Lançai-o para fora, nas trevas. O choro e tanger de dentes mostra
claramente que isto simboliza o castigo eterno (8:12; 13:42, 50; 22:13; 24:51).
Aí está o ponto alto da interpretação. Se esse ajustar de contas é o julgamento
das obras do crente, então temos ao que parece um verdadeiro crente sofrendo a
perda de sua alma por causa da esterilidade de suas obras. Mas essa
interpretação viria contradizer. Jo.
5:24. Ou, se o servo inútil representa um simples cristão professo, cuja
verdadeira natureza foi assim desmascarada, então parece que o julgamento das
obras dos crentes e a maldição dos pecadores ocorrerá junto, ainda que Ap. 20
separe estes julgamentos com um intervalo de 1.000 anos. A melhor solução é
aquela que aplica a parábola aos santos da Tribulação (quer judeus quer
gentios) por causa da clara associação com os versículos precedentes. Esta
explicação concorda com outras passagens que por ocasião da volta de Cristo, os
crentes remanescentes serão ajuntados para desfrutarem das bênçãos do Milênio,
mas aqueles que estando vivos não crerem verdadeiramente no seu Messias serão
removidos (Ez. 20:37-42). É claro que, para os homens de todas as dispensações,
vale o princípio de que Deus os tem por responsáveis pelo uso que fizerem dos
seus dons. (Comentário Bíblico Moody, p. 126)
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Os três servos receberam seus talentos (Mt 25.15).
Cada um deles trabalharia e administraria os bens conforme a sua capacidade
pessoal. Aquele senhor deixou aqueles talentos em suas mãos para serem cuidados
e negociados. Não há acepção, nem discriminação. Cada qual negociaria da melhor
forma possível com aquilo que recebeu para trabalhar. Cada qual deveria
preocupar-se apenas com o seu trabalho e procurar fazê-lo bem. Não pode haver
espaço para invejas, ciúmes e porfias entre os servos de Cristo, que são coisas
típicas de pessoas carnais (Gl 5.19-21). A entrega dos talentos representava
não só a confiança, mas significava o teste que provaria a fidelidade de cada
um deles. Os servos de Cristo na terra, da mesma forma, são selecionados para
trabalharem com os talentos recebidos, e o Senhor espera que os mesmos
trabalhem e façam multiplicar os bens do Senhor. Ele chama e seleciona pessoas
como quer” (CABRAL, Elienai. Mordomia
Cristã. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.144).
III. TRABALHANDO
ATÉ O SENHOR VOLTAR
1. Usando os
talentos segundo a nossa capacidade. Assim como a
distribuição dos bens foi proporcional à capacidade de cada um dos servos, de
igual maneira, espera-se que a sua utilização obedeça à mesma regra, ou seja,
os talentos devem ser usados de acordo com a capacidade de cada um. A respeito
do trabalho com a expansão do Reino de Deus, o Senhor reparte talentos segundo
a nossa capacidade e os requer na mesma medida, pois “a qualquer que muito for
dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe
pedirá” (Lc 12.48b). Cientes de sua obrigação, os dois primeiros servos, não
sabendo quanto tempo o seu senhor estaria ausente, tão logo ele se foi,
começaram a negociar imediatamente e empregaram seus talentos, ou seja, eles
negociaram e não descansaram enquanto não dobraram o que tinham recebido
(vv.20,22). Em ambos os casos os talentos foram devidamente empregados. Se o
servo que recebera um talento tivesse feito o mesmo, certamente o seu
desempenho seria semelhante (vv.26,27).
A presença capacitadora de Deus. Desde os tempos
antigos, os homens vêm se sentindo incapazes para as empreitadas na obra de
Deus. Moisés julgou-se incapaz (Ex 3.11), mas Deus lhe promete “eu serei
contigo (v. 12); Jeremias julgou-se jovem demais para o trabalho, (Jr 1.6), mas
Deus lhe aquieta dizendo: “Não temas, eu estou contigo”; para o vacilante Josué,
que sentiu o peso da responsabilidade de liderar o povo hebreu após a morte de
Moisés, Deus lhe garante: “Como fui com Moisés, assim serei contigo; não te
deixarei nem re desampararei” (Js 1.5). Deus está com você também, não tenha
medo de fazer a sua obra, pois o Senhor Jesus promete: “[...] e eis que eu
estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos (Mt 28.20).
“Na Parábola dos Talentos dois servos bons
receberam uma promessa de que devido ao sucesso diante das responsabilidades
que exerceram, ambos seriam colocados em responsabilidades ainda maiores.
Podemos notar a importância dessa promessa quando calculamos o valor do
patrimônio que foi confiado ao primeiro servo. Ele ficou responsável por uma
quantia que equivalia a cem anos de salários de um trabalhador de sua época.
Isso realmente era muito coisa! Porém o senhor dele comparou essa enorme
quantia como sendo pouco em relação ao que ele receberia no futuro. Muitas
pessoas gostam de fazer alegorias com esse detalhe da parábola, principalmente
focando resultados materiais. Mas penso que a melhor interpretação é considerar
que nada do que conhecemos ou recebemos nesta terra, por mais valioso que seja,
se compara a promessa de que eternamente participaremos da alegria do nosso
Senhor. Quando o proprietário convidou os servos fiéis para participarem de sua
alegria, ele ofereceu aos empregados a oportunidade de ocuparem uma posição a
qual não tinham direito. Eles se sentaram à mesa com seu senhor. Juntamente com
ele, os servos regozijaram se lembrando do trabalho que foi desempenhado. O
cristão verdadeiro será convidado a participar de uma mesa a qual não tinha
direito algum de participar. Porém, não por seus méritos, mas pelos méritos de
Cristo, pela infinita misericórdia e bondade do Senhor que confiou a ele os
seus talentos, esse servo fiel estará presente no grande banquete
celestial.” (ESTILOADORAÇÃO).
O Reverendo Hernandes Dias Lopes escreve: “Jesus conta nessa parábola que um
servo recebeu cinco talentos, outro dois e o último um. Os talentos são
distintos, em quantidades variadas, porque somos diferentes uns dos outros. No
corpo tem muitos membros e cada um exerce sua função de acordo com sua capacidade
para o bem de todo o corpo. Assim somos nós, não apenas temos aptidões
distintas, mas, também, temos capacidades variadas. Cada um recebeu o quanto
podia desenvolver. Cada um recebeu na medida da sua capacidade. Deus nunca vai
nos cobrar além do que nos deu. A quem muito é dado, muito é exigido. Cada um
deve trabalhar na medida das suas forças e conforme o dom que recebeu.” (A Mordomia do Talento, Rev
Hernandes Dias Lopes. Disponível em: http://hernandesdiaslopes.com.br/a-mordomia-do-talento/.
Acesso em: 18 DEZ, 2018)
2. A advertência
de que haverá uma prestação de contas. Por mais que
tenha demorado, “o senhor daqueles servos” voltou e chamou-os para ajustar
“contas com eles” (v.19). De modo semelhante, Cristo não nos chamou para que fiquemos
ociosos, pois Ele chamará cada um a prestar contas de seu trabalho na obra de
Deus (Lc 12.48b; 2 Co 5.10). A parábola nos adverte para o fato de que
recebemos algo de Cristo, ou seja, dons e talentos, com a finalidade de
trabalharmos para Ele, pois a “manifestação do Espírito é dada a cada um para o
que for útil” (1 Co 12.7). É necessário atentar para esta verdade, pois o dia
de prestar contas chegará e todos seremos examinados.
A despeito do que muitas pessoas pregam e imaginam,
a severidade de Deus se manifestará no dia do Julgamento. Aqueles que não
desenvolveram seus talentos sofrerão perda na eternidade e aqueles que não se
submeteram ao senhorio de Cristo sofrerão a condenação eterna. Os inimigos do
Rei Jesus sofrerão grande derrota e serão envergonhados diante do seu poder,
autoridade e soberania.
3. Recompensa no
Tribunal de Cristo. Além de ser uma
responsabilidade, trabalhar no Reino de Deus é um privilégio. Os elogios que o
senhor fez aos servos no seu retorno (vv.21,23) lembram dos galardões que, como
seus servos, podemos esperar no dia do julgamento de nossas obras no Tribunal
de Cristo (1 Co 3.12-15 cf. 2 Co 5.10). Alegremo-nos com essa verdade.
Certamente todos os crentes, já transformados e com
um corpo incorruptível, vão comparecer perante o Tribunal de Cristo (cf. 2Co
5.10; 1Co 1.8). Não se trata de julgamento de pecados, pois os que serão
julgados já são salvos. Os ímpios é que passarão pelo julgamento de suas obras
e pecados, no juízo do Trono Branco, após o Milênio (cf. Ap 20.11-15). Os
salvos em Cristo Jesus, desde que permaneçam fiéis, em santidade, não mais
passarão por qualquer tipo de condenação: “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus,
que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito” (Rm 8.1). Estar
“em Cristo Jesus” é a condição indispensável para ter sido salvo e permanecer
salvo. Neste tribunal serão julgadas as obras dos salvos que foram praticadas
na Terra, a fim de que recebam, ou não, o galardão (Ap 22.12). Galardões são
prêmios. Lauréis a que o crente fez jus, pois desempenhou bem a função para
qual foi vocacionado no Reino de Deus. Agora, note o que diz o versículo 30: “Lançai, pois, o servo inútil
nas trevas exteriores; ali, haverá pranto e ranger de dentes”, este fecho nos
leva a outra situação de julgamento que não é o Grande Trono Branco, onde
estarão somente os salvos. Existem muitas pessoas que dizem crer em Jesus mas
nem todos são verdadeiros seguidores. Aqueles que creem em Jesus aproveitam o
que ele lhes dá e usam tudo para expandir o reino de Deus. Cada um faz o que
consegue com os recursos que Deus lhe deu e Deus ajuda a multiplicar.
SUBSÍDIO DIDÁTICO
Aproveite a temática da lição como um todo, mas
desse terceiro tópico, em especial, para incentivar à classe a praticar o
evangelismo pessoal e a falar de Cristo em todo e qualquer lugar, seja nas
redes sociais ou mesmo no trabalho ou na vizinhança. Estimule aqueles que têm
vocação para o ensino, oferecendo a oportunidade de, nas próximas aulas, eles
introduzirem ou, talvez, concluírem a lição. Dessa forma você estará
contribuindo para a continuidade do ministério de ensino.
CONCLUSÃO
Uma vez que Jesus não estabeleceu uma data para
a sua volta, Ele pode vir a qualquer momento (Mt 24.36; Mc 13.32; At 1.7).
Todavia, sempre há tempo suficiente, antes que Cristo venha, para que os que
forem servos bons e fiéis dupliquem os talentos que o Senhor lhes confiou.
Jesus conta na parábola que os servos diligentes
foram não apenas elogiados, mas recompensados. Eles entraram no gozo do Senhor
e tomaram posse de uma riqueza incomparavelmente maior e eterna. Depois do
trabalho vem a recompensa. Depois das lágrimas da semeadura, vem a alegria da
colheita farturosa. Nossa recompensa não é material, mas espiritual. Nosso
tesouro não está aqui, mas no céu. Nossa premiação não é neste mundo, mas no
céu, quando ouvirmos daquele que está assentado no trono: “Bom está servo bom e
fiel; foste fiel no pouco, agora sobre o muito te colocarei; entra no gozo do
teu senhor”. O Senhor tem expectativas a nosso respeito. Fidelidade é o que ele
espera de nós.
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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