quinta-feira, 23 de junho de 2016

LIÇÃO 13: O CULTIVO DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS





SUBSÍDIO I

O cultivo das relações interpessoais
O último capítulo de Romanos, o 16, é uma descrição de uma lista de pessoas que o apóstolo Paulo conhecia, embora ele ainda não tivesse chegado à igreja de Roma: Febe, a portadora da carta do apóstolo (v.1); Priscila e Áquila, casal que cuidou de Paulo em Corinto (v.3); Epêneto, Amplíato e Pérside eram pessoas queridas do apóstolo, onde demonstra um vínculo de comunhão do apóstolo devido à expressão “querido” (v.5, 8, 9,12); Maria, uma trabalhadora que por certo fora uma das fundadoras da igreja, pois a expressão “muito trabalhou” evoca essa ideia (v.6); Andrônico e Júnias, segundo os estudiosos do Novo Testamento, eram parentes do apóstolo, bem como judeus (v.7); Amplíato, o “dileto amigo no Senhor” (v.8); Urbano, o cooperador, e Estáquis como “meu amado” (v.9); Apeles, um homem “aprovado em Cristo”, a família de Aristóbulo (v.10); Herodião, de acordo com o nome e o contexto mencionado sugerem que ele pertencia a casa ou à família de Herodes (v.11); Trifena e Trifosa, supõem-se que eram irmãs, e Pérside também era uma mulher (v.12); Rufo, o “eleito do Senhor” e a mãe de Rufo que Paulo a respeitava devido o seu acolhimento (v.13); Asíncrito, Flegonte, Hermes, Pátrobas, Hermas e a todos os irmãos que estão com eles (v.14); Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã, ao irmão Olimpase todo o povo que está com ele (v.15); por final: “Saudai-vos uns aos outros com santo ósculo” (v.16).
Note a lista de pessoas que o apóstolo Paulo conhecia sem ainda ter ido à igreja de Roma. Expressões como “queridos no Senhor”, “a igreja que está em sua casa”, “dileto amigo”, “meu amado” mostram o carinho e o relacionamento de ternura que o apóstolo cultivava com as pessoas, mesmo de longe. Imagine a necessidade que temos de cultivar o relacionamento de carinho e ternura com as pessoas que estão pertos: a nossa família, a igreja onde congregamos e pessoas próximas de nós.

A importância da relação interpessoal

A vida na igreja local é uma grande oportunidade para termos um relacionamento de respeito e de muita alegria com aqueles que chamamos de irmãos. Na igreja local, nos relacionamentos com pessoas de diversas características: criança, adolescente, jovem, adulto, terceira idade, pessoas portadoras de alguma deficiência. Ou seja, é o nosso universo de relacionamento interpessoal. Neste aspecto, o último capítulo de Romanos é um estímulo a doar-nos ao próximo em nome de Jesus.


Fonte: Revista Ensinador Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016. 

SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea está marcada pelo individualismo, parafraseando um provérbio popular, tem sido “cada um por si e o diabo contra todos”. Na aula de hoje, a conclusão da Epístola aos Romanos, nos voltaremos para a importância do cultivo das relações interpessoais na igreja. Inicialmente, destacaremos os perigos às relações iniciais no âmbito eclesiástico. E ao final, apontaremos orientações bíblicas com vistas ao investimento nas relações interpessoais da igreja.

1. AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

As conclusões das Epístolas de Paulo, dentre elas a de Romanos, identificamos a preocupação do Apóstolo com as relações interpessoais na igreja cristã. No capítulo 16 nos deparamos com uma longa lista de pessoas engajadas no ministério de Paulo. As palavras graciosas do Apóstolo revelam o cuidado que esse tinha com as pessoas da comunidade de fé. Essa atitude deve inspirar os crentes contemporâneos, sobretudo os líderes eclesiásticos, para não se esquecerem que estão lidando com pessoas, não apenas com coisas. Há pastores que se preocupam demasiadamente com os templos, mas não atentam para as pessoas que estão dentro dele. É importante ressaltar que as pessoas são mais importantes que as coisas, até mesmo que os rituais religiosos. Esse foi o pecado daqueles religiosos que desmereceram o homem jogado à beira do caminho, na parábola do Samaritano, contada por Jesus (Lc. 10.25-37). Uma das características principais do cristianismo deve ser a inclusão. A igreja em Roma era formada por crentes judeus e gentios, homens e mulheres, e todos foram instados por Paulo a viverem em união, mesmo com suas diferenças (Rm. 16.1,2). As mulheres tiveram papel importante no ministério de Paulo, ele destaca a atuação da irmã Febe, uma das servas do Senhor no Corpo de Cristo. Como demonstra Lucas em sua narrativa, as mulheres também foram importantes no ministério de Jesus, principalmente para o sustento financeiro (Lc. 8.3). Priscila, que não por acaso seu nome é citado antes do nome do esposo, foi uma mulher dedicada ao ministério (At. 18.2,18,26; I Co. 16.19; II Tm. 4.19).

2. PERIGOS ÀS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

A igreja deve ser um ambiente para o envolvimento pessoal, por isso somos chamados de irmãos e irmãs. Fazemos parte da família de Deus, por isso devemos nos tratar como membros de uma irmandade. Por causa do individualismo predominante na sociedade contemporânea, muitas igrejas locais estão sendo solapadas. Os crentes não se envolvem uns com os outros, eles têm receio de mostrar suas limitações, sobretudo a normalidade. Há congregações em que as pessoas não se envolvem, elas se reúnem durante a celebração do culto, mas depois não sabem mais quem são. Esse individualismo reflete também no descaso em relação às necessidades dos outros, quando alguém não consegue ter o suficiente, pode até ser julgado por não ter se esforçado o suficiente. Esse cristianismo, influenciado pela filosofia neocapitalista, está adoecendo não apenas a sociedade, mas também as igrejas. A koinonia está em perigo, como no tempo dos judaizantes, cada um olha para seu umbigo, ou como diz o ditado, “puxa a brasa para sua sardinha”. O partidarismo está sendo normalizado na igreja, tendo também a política como fonte de intrigas e interesses. Como nos tempos de Paulo, há os “que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes” (Rm. 16.17). Naqueles tempos havia duas filosofias que estavam se infiltrando dentro das igrejas. O legalismo, que proibia tudo, e buscava orientar os crentes para as práticas judaicas; e o gnosticismo, que era permissivo, incitando os crentes ao antinomismo. O objetivo da igreja é glorificar a Deus (Rm. 11.36), para tanto os crentes devem aprender a conviver, a se aceitarem em suas diferenças, mas sem fazer concessões com a verdade do evangelho. 

3. O CULTIVO DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

O cultivo das relações interpessoais é fundamental para o crescimento, principalmente o espiritual da igreja. Para tanto, cada crente precisa passar por um processo de autoconhecimento, a fim de identificar suas falhas, fraquezas e imperfeições (Rm. 12.3). Isso é possível por meio de uma experiência cotidiana com o Senhor (Hb. 4.14-16), demonstrando sinceridade diante dEle (II Co. 3.17-18), na busca constante pela maturidade espiritual (Rm. 8.29; I Pe. 1.23-25). Esse é o princípio para perdoar os outros, e ser ministro da reconciliação (Ef. 4.1-6), mantendo a unidade do Espírito, pelo vínculo da paz. Deus perdoou a todos nós, e nos tratou com Sua graça maravilhosa. De igual modo, devemos perdoar uns aos outros (Cl. 3.13), e fundamentar nossos relacionamentos em humildade, seguindo o modelo de Cristo (Fp. 2.6). Os crentes da igreja de Jerusalém aprenderam essa lição desde cedo, pois todos os que criam estavam unidos, e tinham tudo em comum (At. 2.44). Isso somente acontecia porque os crentes sabiam o que era o amor-agape, a base do relacionamento fraternal (Rm. 12.10). Eles também se respeitavam, sobretudo os mais jovens em relação aos mais velhos, em especial os que exerciam liderança (Rm. 13.7; I Ts. 5.12,13). Viver em paz, exercitando graça e misericórdia, deve ser o alvo de todo cristão (Rm. 12.18; 14.19; II Co. 13.11). É interessante observar que Jesus sempre tinha compaixão das pessoas, ou para usar uma expressão mais contemporânea, ele “se colocava no lugar do outro” (Mc. 8.2). O mundo não sabe, mais precisa ansiosamente da igreja, pois essa, se souber a que veio, poderá fazer toda a diferença. Por outro lado, devemos permanecer alerta, para não nos deixar contagiar pela doença do individualismo, que está se naturalizando na sociedade, inclusive na igreja.

CONCLUSÃO

Fomos chamados por Deus para viver em comunhão – koinonia – e essa deve ser continuamente experimentada pela igreja. Para isso precisamos aprender a conviver com as diferenças, e a nos aceitar como um em Cristo. Precisamos, sempre que possível, criar oportunidades na igreja, a fim de cultivar os relacionamentos interpessoais. Não podemos ser apenas assistentes de cultos, mas pessoas engajadas, envolvidas umas com as outras, assumindo a posição de membros do mesmo corpo, o de Cristo (Rm. 12.4,5; I Co. 12.27).


Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Os vinte e sete versículos do capítulo dezesseis da Epístola aos Romanos encerram a monumental obra literária de Paulo. Por toda a obra, o apóstolo discorreu a respeito dos principais temas da fé cristã e deixou-nos princípios fundamentais que são úteis para a construção de relacionamentos interpessoais. De uma maneira informal, mas com o seu estilo literário característico, Paulo traz à lembrança nomes de pessoas que, de uma forma ou de outra, o ajudaram a construir a identidade cristã do primeiro século. Ele não deixou que esses nomes caíssem no esquecimento, e, no final de sua carta envia-lhes saudações, numa demonstração de gratidão a Deus por tudo o que essas significaram para ele. [Comentário: As epístolas de Paulo tipicamente terminam com notícias e saudações pessoais. Este capítulo se destaca pelo grande número de crentes que foram mencionados. Estes versículos nos dão um certo discernimento quanto ao calor das relações pessoais do apóstolo, bem como quanto à comunhão entre os crentes. No versículo 1 “Recomendo-vos”, indica que esta é uma carta de recomendação da diaconisa Febe (nome comum na mitologia grega, significava “brilhante” ou “radiante”). Foi ela quem provavelmente levou a carta de Paulo para Roma. Há diversos outros exemplos dessas cartas de apresentação ou recomendação no Novo Testamento (At 18.27; 1Co 16.3; 2Co 3.1; 8.18-24; Fp 2.19-30). Finalizando a Epístola, Paulo se refere à diversas pessoas, demonstrando que conservava um relacionamento interpessoal. Não era individualista e isto fica evidente pelo fato de fundar comunidades e reunir em torno a si muitos colaboradores, de trabalhar em equipe e de estabelecer relações de amizades, e na realidade todo o capítulo 16 da epístola aos romanos é um testemunho eloquente da capacidade de Paulo de estabelecer vínculos de amizade. Para Paulo a igreja não é um emaranhado de propósitos e eventos culturais. Igreja é gente e trabalha na dinâmica dos relacionamentos com Deus e com o próximo. A igreja não entendeu o seu conceito: 1Co 12.14-27]

I. A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

1. Valorizando pessoas, não coisas. Paulo finaliza sua carta primeiramente recomendando a irmã Febe, membro da igreja de Cencreia. Foi através dela que o apóstolo enviou sua epístola à igreja que estava em Roma. A recomendação vem acompanhada de uma observação na qual Paulo reconhece o serviço prestado por ela à igreja de Cencreia: "[...] A qual serve na igreja que está em Cencreia, para que a recebais no Senhor, como convém aos santos, e a ajudeis em qualquer coisa que de vós necessitar; porque tem hospedado a muitos, como também a mim mesmo" (Rm 16.1,2). Ela servia à igreja. O vocábulo servir, usado aqui, traduz o termo grego diakonos, o que tem levado muitos comentaristas a acreditar que ela era uma diaconisa da igreja. O fato é que o apóstolo pôs em evidência a função em vez do ofício. Infelizmente, hoje as coisas estão invertidas. 0 que vale mais hoje são os títulos e os cargos ao invés do desempenho do serviço cristão. [Comentário: Diakonos é o termo grego para ministro/servo. É usado a respeito de Cristo em 15.8 e de Paulo em Ef 3.7 e Cl 1.23,25. Há evidências tanto no Novo Testamento quanto nos escritos pós-bíblicos das igrejas sobre o ofício das diaconisas. Todos os crentes são chamados e dotados para ser ministros de tempo integral (Ef 4.12). Alguns são chamados para papéis de liderança ministerial. Nossas tradições têm que abrir caminho para as Escrituras! Esses antigos diáconos e diaconisas eram servos, não uma equipe de executivos. Cencréia era um dos dois portos de Corinto, ficando este no lado leste (At 18.18). Paulo pede àquela igreja que “receba gentilmente, como um convidado” (Fp 2.29) a esta senhora, em quem ele tanto confiava e queria que a Igreja a recebesse e ajudasse, em favor dele. “aos santos” – Este termo significa “os que são santos”. Descreve não apenas a posição dos crentes em Jesus, mas também a esperança e expectativa de que tenham vidas piedosas, que caracterizem progressivamente sua nova posição de santidade em Cristo. O termo “santos” está sempre no plural, exceto uma vez (Fp 4.21), e mesmo então o sentido é coletivo. Ser cristão é ser parte de uma comunidade de fé, uma família, um corpo. A igreja ocidental moderna está depreciando cada vez mais este aspecto coletivo da fé bíblica! “e a ajudeis em qualquer coisa que de vós precisar” – Aqui há dois subjuntivos gregos: paristēmi, “estar perto, disponível, para ajudar”, e chrēzō, “ajudar com tudo que seja necessário” (2Co 3.1). Isto se refere a provisões materiais para os ministros itinerantes. Este era o propósito das cartas de recomendação.]
2. O valor das mulheres. Paulo fala de Priscila e Áquila, como tendo exposto suas vidas na causa do Evangelho (Rm 16.3). Esse casal era judeu e havia sido expulso de Roma pelo imperador Cláudio. Agora haviam voltado à capital do império. Outras referências ao mesmo casal são encontradas em Atos 18.2,18,26,1 Coríntios 16.19 e 2 Timóteo 4.19. Duas observações são importantes na vida desse casal. Primeiramente, Paulo sempre cita Priscila em primeiro lugar. Muitos comentaristas concordam que isso tinha uma razão de ser. Priscila se destacava na obra do Senhor, sendo auxiliada por Áquila, seu esposo. Quem não conhece uma irmã em Cristo que se destaca mais do que o esposo na causa do Mestre? Paulo não cita apenas Priscila, mas cita outras mulheres de igual destaque. No versículo 6, ele menciona uma mulher de nome Maria: "Saudai a Maria, que trabalhou muito por nós". Pouco se diz dessa Maria, e o que se sabe é que ela "trabalhou muito" na obra de Deus. Trabalhar aqui traduz o termo grego kopiao, que significa trabalho voluntário. Maria se deu voluntariamente para a obra de Deus. Precisamos de mais “Marias”. Que o Senhor envie mais “Marias” para a sua obra.  [Comentário: “Prisca e Áquila” – Este casal tinha por profissão a fabricação de tendas, como Paulo (At 18.3). Ele estava com eles em Corinto. Lucas a chama de “Priscila”. Ela é frequentemente mencionada antes do marido, o que era muito incomum (At 18.18, 26; 1Co 16.19; 2Tm 4.19). Possivelmente ela era da nobreza romana ou a personalidade dominante no casal. Paulo os chama de “meus cooperadores em Cristo Jesus”. É possível que Paulo tenha sabido das fraquezas e pontos fortes da igreja romana através deste casal. “expuseram a sua cabeça” – Aqui foi usada uma expressão idiomática referente ao risco de ser degolado ou decapitado pela guilhotina de um carrasco. A Bíblia não esclarece o que Paulo tinha em mente com esta frase. não só eu lhes agradeço, mas também todas as igrejas dos gentios” – Paulo era muito grato pela amizade e ajuda ativa deste casal. Ele mesmo relaciona o serviço deles a “todas as Igrejas dos gentios”. Que afirmação e agradecimento arrebatador! Deve ser por causa do apoio e do relato sobre Apolo (At 18.24-28). “a Igreja” – É digno de nota que este termo refere-se às pessoas, não ao prédio. O termo significava “os chamados para fora”. No grego da Septuaginta, usado para traduzir o termo hebraico qahal, “congregação”. A igreja primitiva via a si mesma como o cumprimento da verdadeira “congregação de Israel” do Antigo Testamento, como sucessores naturais, e não como um grupo divisionista e sectário. que está em sua casa” – Os cristãos primitivos encontravam-se nos lares (16.23; At 12.12; 1Co 16.19; Cl 4.15 e Fm 2). Os templos como locais de reunião para culto não surgiram até o terceiro século d.C.]
3. Irmandade e companheirismo. Na saudação seguinte, sentimos o peso que tinha a comunidade cristã para Paulo e o valor do seu companheirismo (Rm 16.7,8). A igreja é o Corpo de Cristo. Ela é uma grande família. Conscientizemo-nos da importância que tem a fraternidade cristã para a saúde da igreja. Infelizmente a nossa espiritualidade segue mais um modelo de condomínio, onde ninguém conhece ninguém, do que de uma casa de família, onde todos se conhecem e se relacionam. [Comentário: No versículo 7 Paulo se refere a “meus companheiros na prisão” –não há consenso sobre qual prisão ele se refere, porque sofreu muito por causa da sua fé (2Co 4.8-11; 6.4-10; 11.25-28). Ele esteve preso em Filipos, Cesaréia, Roma e provavelmente em Éfeso e outros lugares (1Co 15.32; 2Co 1.8). Também não há consenso sobre “Junias” – este nome pode ser masculino ou feminino, o que só pode ser determinado poracentos gráficos e há variações em manuscritos gregos com “Iounian”, mas sem qualquer acentuação. As traduções da Vulgata e Cóptica, bem como nos textos gregos usados por Jerônimo, aparece “Ioulian”, que é nome feminino. Alguns estudiosos pensam que isso foi erro dos copistas. É também interessante que a grafia “Junias” não foi encontrada em nenhum outro lugar, na literatura romana ou em inscrições, mas o nome “Junia” era muito comum. Trata-se de um sobrenome romano. O versículo sete termina com “se distinguiram entre os apóstolos” - Isto pode referir-se aos Doze e, se for o caso, estes dois eram bem conhecidos deles ou de um grupo maior de ministros também conhecido como “apóstolos” (At 14.4, 14; 18.5; 1Co 4.9; Gl 1.19; Fp 2.25; 1Ts 2.6). O contexto implica no uso mais amplo, como em Ef 4.11, mas o artigo definido implica nos Doze; que foram antes de mim em Cristo” – Isto obviamente significa que eles eram salvos e ativos no serviço de Cristo, antes da experiência de Paulo no caminho de Damasco. “meu amado no Senhor” – O termo “amado” é usado por Deus, o Pai, para referir-se a Jesus, o Filho (Mt 3.17 e 17.5), Paulo o usa para dirigir-se a crentes, evidenciando o companheirismo que envolvia aqueles crentes primitivos.]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

Paulo recomenda Febe (16.1)
A palavra que a descreve como serva é diakonia, diácono. Exceção feita pelo seu final feminino, é a mesma palavra em todas as versões em inglês para 'diácono' nas epístolas pastorais. É usada também para indicar cargo de liderança na igreja. Aparentemente, Paulo não era tão negativo em relação à liderança feminina quanto muita gente é hoje.
Priscila e Áquila (16.3). O casal apresentado em Atos 18 era bem próximo do apóstolo Paulo e estava profundamente envolvido em seu ministério. É significativo notar que, exceção feita ao versículo em que os dois são apresentados, o nome da esposa precede o do marido. Tudo indica que os dons de Priscila eram maiores do que os dons do cônjuge e a Escritura é testemunha do respeito que ela gozava na igreja primitiva” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capitulo. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 752).


II. AS AMEAÇAS ÀS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

1. Individualismo. No meio das saudações, o apóstolo Paulo, de forma abrupta, põe uma advertência: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles” (Rm 16.17). Alguns comentaristas acham que esse versículo se encontra deslocado do restante dos demais. Mas, a verdade é que ele está no lugar onde deveria estar. Paulo via como uma ameaça a quebra da koinonia cristã. Portanto, era um perigo às relações interpessoais, o individualismo daqueles que promoviam dissensões. Esse individualismo está caracterizado no fato de que eles serviam ao seu próprio estômago ou ventre. Viviam para si mesmos. O faccioso geralmente é um indivíduo solitário até o momento em que arregimenta outros para compartilhar do seu pensamento doentio. A igreja deve observá-lo e afastar-se dele.  [Comentário: Esta advertência parece irromper inesperadamente no contexto. Nos versículos 17 e 18 há uma lista do que esses falsos mestres estavam fazendo:
1. Fomentavam divisões;
2. Criavam obstáculos para os crentes;
3. Ensinavam o contrário do que era ensinado na Igreja;
4. Tratavam de saciar os seus próprios apetites;
5. Enganavam os corações incautos com amenidades e lisonjas.
“desviai-vos (apartai-vos) deles” – Este é um tema repetitivo (Gl 1.8-9; 2Ts 3.6,14; 2 Jo 10). Mestres falsos com frequência são atraentes de físico e têm personalidades dinâmicas (Cl 2.4). O que dizem frequentemente tem muita lógica. Portanto, cuidado! Alguns testes bíblicos possíveis para identificar falsos mestres são encontrados em Dt 13.1-5; 18.22; Mt 7; Fp 3.2-3, 18-19; 1Jo 4.1-6. Os crentes de Roma deveriam evitar aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a ‘doutrina que aprendestes’. Os crentes devem aprender a não se deixar enganar por ‘suaves palavras de lisonjas’ (v. 18).]
2. Sensualismo e antinomismo. Esses irmãos facciosos não apenas provocavam dissensões, mas também promoviam escândalos (Rm 16.17). A maioria dos comentaristas são de acordo que Paulo tinha em mente o movimento herético do primeiro século conhecido como gnosticismo. Era um movimento sectário, que tinha como prática o sensualismo e o antinomismo. Em outras palavras, como viam a matéria como algo ruim, não tinham apreço pelo corpo, já que este era material. Isso os conduzia a uma vida sensual. Por outro lado, outra consequência desse entendimento errado, estava na troca da doutrina bíblica por “palavras suaves e lisonjas” (Rm 16.18). Não havia regras para obedecer. Esse ensino de sabor adocicado, porém falso, tinha a capacidade de atrair os incautos. [Comentário: Gnosticismo foi um movimento religioso, de caráter sincrético e esotérico, desenvolvido nos primeiros séculos de nossa era à margem do cristianismo institucionalizado, combinando misticismo e especulação filosófica. O Gnosticismo talvez fosse a heresia mais perigosa que ameaçava a igreja primitiva durante os primeiros três séculos. Influenciado por filósofos como Platão, o Gnosticismo é baseado em duas premissas falsas. Primeiro, essa teoria sustenta um dualismo em relação ao espírito e à matéria. Os gnósticos acreditam que a matéria seja essencialmente perversa e que o espírito seja bom. Como resultado dessa pressuposição, os gnósticos acreditam que qualquer coisa feita no corpo, até mesmo o pior dos pecados, não tem valor algum porque a vida verdadeira existe no reino espiritual apenas. Os apóstolos Paulo e João combateram duramente o Gnosticismo, por conta de sua exaltação ao conhecimento oculto, sua negativa da Encarnação de Cristo, de Sua Morte e Ressurreição, seu dualismo entre alma e corpo, espírito e matéria, ignorância e conhecimento, mundo material e corrupto versus mundo espiritual e perfeito. Esta heresia nefasta ronda a igreja hoje, e pode ser encontrada em muitos púlpitos. Os gnósticos pregavam que o mal é a ignorância, porque esta afastaria o Homem de conhecer as dádivas colocadas à sua disposição pelas leis metafísicas do Universo. O falecido Mike Murdock, “com sua obra A Lei do Reconhecimento, vem dizer, entre outras heresias, que a ignorância é a causa da pobreza, doença e fracasso. Infelizmente, esse homem, com seu livro repleto de ensinos materialistas e influenciado pela Confissão Positiva, vem sendo considerado "o mais sábio dos Estados Unidos". Devo me sentir, então, um tolo, por achar que o livro dele é ruim, e que não passa de um imitador do Gnosticismo, que usa versículos bíblicos e linguagem evangélica para vender seu produto, seu evangelho da riqueza? Esse evangelho da saúde e da riqueza, pregado por tantos norte-americanos (Kenneth Hagin, Morris Cerullo, T.L. Osborn, Kenneth Copeland, Frederick Price e muitos outros) é um grave câncer na Igreja, que se alastra por muitas nações. Quem dá testemunho balizado disso é Hank Hannegraaf, em seu excelente livro Cristianismo em Crise (CPAD), em pesquisa séria e sólida. O Movimento da Fé, aqui representado exponencialmente por R.R.Soares e Edir Macedo, mas também por tantos outros líderes de maior ou menor monta, é um perigoso entrave ao assentimento da mensagem da Cruz no coração do pecador. Toda essa pregação de "Você vai obter vitória", "Você é um vencedor", "Basta tomar posse da bênção", "Use a palavra para trazer à existência as coisas que não existem", "Use a fé que Deus usou para criar o mundo", toda essa parafernália é oriunda das leis de visualização e reprogramação mental que vêm das filosofias e religiões orientais, carregadas também de aspectos inerentes ao Gnosticismo heresia grega que exalta o conhecimento para a libertação do Homem, para seu bem-estar físico, emocional, material e social. Texto de autoria de Alex Esteves Da Rocha Sousa, disponível em: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/o-gnosticismo-presente-em-nossas-igrejas.]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

Professor, mostre aos alunos os princípios cristãos estabelecidos por Paulo que nos ajudam desenvolver relacionamentos saudáveis:
“Não devemos julgar ou desprezar outras pessoas cujas convicções diferem das nossas.
Devemos reconhecer o senhorio de Jesus Cristo como realidade prática. Isso significa que devemos proteger a liberdade que os cristãos têm, individualmente, de tomarem suas próprias decisões quanto às 'contendas sobre dúvidas'. Jesus, não a minha consciência, é o Senhor do meu irmão.”
As 'contendas sobre dúvidas', nas quais divergimos, não são erradas nem certas em si mesmas. Mas, qualquer ato que viole a consciência é errado para as pessoas.
No exercício de nossa liberdade, devemos permanecer sensíveis às convicções dos outros. Escolher agir de maneira a beneficiar nossos irmãos é mais importante do que afirmar nossa liberdade de fazer algo que viole a consciência dos outros.
Estaremos em situação bem melhor se, todos nós, concordarmos em manter para nós mesmos nossas convicções sobre questões duvidosas, e tratarmos de assuntos relacionados a amar e servir uns aos outros.
Lembremo-nos sempre do exemplo de Cristo. Como Jesus aceitou a você e a mim? Ele nos recebeu em nossa imperfeição. Ele nos recebeu em nossa ignorância. Ele nos recebeu enquanto velhas práticas ainda estavam ligadas a nós, como as faixas de linho na sepultura ligavam o Lázaro que o Senhor ressuscitou (Jo 11.44). Jesus nos recebeu para uma experiência transformadora de amor, confiante de que o poder do perdão de Deus nos limparia e nos purificaria” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 7.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2000, p.323).

III. A FONTE DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

1. Existe em razão da sabedoria e soberania de Deus. Paulo queria que os Romanos se certificassem de que ele lhes ensinara o Evangelho de Deus. O evangelho da graça faz parte do "mistério" que Deus deu a conhecer no final dos tempos (Rm 16.25). Esse mistério, que esteve oculto, foi dado a conhecer à igreja através de revelação do Espírito Santo. Era sobre o desvendar desse mistério que Paulo acabara de escrever. Deus, em sua soberania, permitiu que a sua sabedoria fosse revelada no evangelho da graça. O resultado foi a salvação a todo aquele que crer. A igreja de Roma era fruto disso. [Comentário: O “mistério” que esteve oculto é a pregação sobre Jesus Cristo; a revelação do plano eterno da salvação de Deus, que foi mantido em segredo (mistério). Os crentes são capacitados pelo conhecimento do evangelho e o evangelho agora está disponível para todos! Deus tem um propósito único para a redenção da humanidade que precede até mesmo a queda (Gn 3). Pistas deste plano são reveladas no Antigo Testamento (Gn 3.15; 12.3; Ex 19.5-6; além das passagens universais nos Profetas). Contudo esta agenda cheia não estava clara (1Co 2.6-8). Com a vinda de Jesus e do Espírito, ela começa a ficar mais óbvia. Paulo usava o termo “mistério” para descrever este plano redentivo total (1Co 4.1; Ef 2.11-3.13; 6.19; Cl 4.3; 1Tm 1.9). O evangelho foi tornado conhecido das nações, e todas elas estão incluídas em Cristo e através de Cristo (Rm 16.25-27; Cl 2.2).]
2. Existe em razão da graça de Deus. Paulo encerra a sua Epístola com uma expressão de louvor e adoração. Isso tinha uma razão de ser, a revelação da graça de Deus, mediante o Evangelho: “Mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé, ao único Deus, sábio, seja dada glória por Jesus Cristo para todo o sempre. Amém!” (Rm 16.26,27). Essas palavras de adoração nos fazem lembrar outra expressão de louvor do apóstolo: “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” (Rm 11.36). [Comentário: Este mistério ou plano de Deus - o evangelho de Jesus Cristo (Ef 2.11-3.13), agora foi claramente revelado a toda a humanidade “pelas Escrituras” – Deus manifestou este mistério na pessoa e na obra de Jesus. Isto foi predito pelos profetas e o sua realidade se vê no estabelecimento da igreja do Novo Testamento, formada de crentes judeus e gentios – e Deus apresentou a oferta do evangelho ao mundo inteiro, o que foi sempre o Seu propósito! (Gn 3.15; 12.3; Ex 19.5-6; Jr 31.31-34). O conceito bíblico de “glória” é difícil de definir. A glória dos crentes é que eles entendam o evangelho e se gloriem em Deus, não neles mesmos (1.29-31; Jr 9.23-24). Frequentemente o conceito de brilho era acrescentado à palavra para expressar a majestade de Deus (Ex 19.16-18; 24.17; Is 60.1-2). Somente Ele é digno e merece ser honrado. É tão brilhante que a humanidade caída não pode contemplá-lo (Ex 33.17-23; Is 6.5). Deus só pode ser verdadeiramente conhecido através de Cristo (Jr 1.14; Mt 17.2; Hb 1.3; Tg 2.1). Paulo encerra sua epístola com uma doxologia (Do grego δόξα [doxa] "glória" + -λογία [-logia], "palavra") é uma fórmula de louvor e glorificação encontrada ao longo das Escrituras.]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Ele é poderoso (16.25-27)
Como é possível levar pecadores, motivados pelo egoísmo e paixões pecaminosos, separados por preconceitos raciais e enormes diferenças sociais, a crerem numa comunidade unida pelo amor desprendido? Somente Deus pode fazer isso no mundo do século primeiro. Somente Deus pode assim proceder em nossos dias. A mensagem de Romanos é de que ele o fará, através da justiça imputada a nós pela fé, construída verdadeiramente pela confiança contínua em nosso Deus vivo” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 10ª. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 752).

CONCLUSÃO

Nada mais apropriado do que encerrar uma carta incentivando as relações interpessoais saudáveis. É isso o que Paulo faz no final da carta aos Romanos. Primeiramente vemos o quanto ele valorizou o relacionamento interpessoal saudável, doutrinando a igreja a respeito dos perigos das contendas e divisões. O individualismo, o sensualismo e as heresias deveriam ser resistidos energicamente. Muitos dos nomes que Paulo citou haviam labutado ombro a ombro com ele na edificação do Corpo de Cristo. Não eram lembranças nostálgicas, mas recordações que ajudavam a refrigerar a alma. Por último, não deveriam esquecer de que a fonte e a origem de toda harmonia é Deus. Ele é a fonte de toda a graça dispensada. [Comentário: Em 12.5, Paulo diz que “[...] somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros”. Ele emprega o verbo grego esmen (“somos”) no tempo presente e sugere o estado de que os membros pertencem tanto a Cristo, quanto uns aos outros, ao mesmo tempo. É por essa razão que a igreja não deve se conformar com a cosmovisão secular prevalecente sobre relacionamentos (individualismo, hedonismo, egocentrismo, etc.), mas deve renovar-se através do conceito de que os membros pertencem tanto a Cristo, como uns aos outros. Assim, do mesmo modo que cada crente deve se relacionar com o Senhor, deve igualmente se relacionar e cuidar dos outros crentes. Não há divindade além do nosso Deus. Todos os outros deuses são falsos. Somente o Senhor Deus Todo Poderoso, o Deus da Aliança, merece nosso louvor. Nós O louvamos pelo seu presente de Jesus para expiar nossos pecados, seu presente de misericórdia para aperfeiçoar nossas falhas, seu presente de paciência para nos ajudar a consertar nossas inconsistências e, por último, seu presente de amor para prover nossa salvação. Ao Único Verdadeiro e Vivo Deus, que sua glória brilhe para sempre nas vidas e fidelidade do seu povo. Que seus louvores sempre estejam em nossos lábios e em nossos corações. Que pessoas possam ver seu amor por eles em Cristo Jesus, agora e para sempre.] NaquEle que me garante: “Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.


Francisco Barbosa

Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

LIÇÃO 12: COSMOVISÃO MISSIONÁRIA




SUBSÍDIO I

Cosmovisão missionária

Se há uma característica que podemos confirmar na carta do apóstolo Paulo aos Romanos é o sentimento missionário do apóstolo. Paulo era um homem de coração voltado para as missões. O Espírito Santo usou a instrumentalidade de Paulo para o Evangelho atingir a civilização ocidental. Por isso, podemos notar características muito profundas na visão missionária de Paulo.

A visão missionária de Paulo

O capítulo 15 de Romanos mostra a primeira predisposição de o apóstolo anunciar o Evangelho a quem nunca ouviu falar sobre ele. Neste sentido, veja a fala do apóstolo: “E desta maneira me esforcei por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar sobre fundamento alheio” (v.20). A partir deste texto, uma característica essencial que brota naturalmente de Paulo é a sua forma honesta de fazer Missões em que ele jamais anunciaria Cristo onde Ele já fora anunciado. Imagine o impacto que essa visão paulina traria em nossa prática missionária nos tempos modernos!
A visão missionária que esteja voltada para as pessoas é a mais fiel em relação ao Evangelho, pois ela não está voltada para um projeto de extensão de instituições religiosas, mas simplesmente em alcançar corações e mentes que ainda não conhecem a Deus e a justiça do seu Reino.
Outra característica que encontramos na visão missionária de Paulo é a esperança. Note o versículo 24: “Quando partir para a Espanha, irei ter convosco; pois espero que, de passagem, vos verei e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia”. De acordo com alguns estudiosos, é problemática a questão se o apóstolo Paulo chegou ou não à Espanha. Entretanto, a Epístola de Clemente à Igreja de Corinto e o fragmento muratoriano (uma cópia da lista mais antiga que se tem dos livros do Novo Testamento) são considerados argumentos fortes em relação à ida do apóstolo à Espanha. Apesar do tempo, dos obstáculos do ministério e de tantas outras questões que afligiam o apóstolo, ele não deixou de ter esperança e novos planos. Mas antes, ele planejara ir à Jerusalém para ministrar aos santos (v.25).
Predisposição para anunciar Cristo onde Ele não fora anunciado e esperança renovada na missão de Deus são características que brotam naturalmente da leitura da epístola paulina: “Assim que, concluído isto, e havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha” (v.28).

Fonte: Revista Ensinador Cristão, Ano 17 - nº 66 – abr/mai/jun de 2016. 

SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

A igreja que é Cristã tem responsabilidade missionária, sua atuação precípua é levar o evangelho de Jesus até os confins da terra. Na aula de hoje estudaremos a respeito da visão missionária de Paulo, bem como seu planejamento para execução da obra, e a atuação missionária. Inicialmente destacaremos que a obra missionária parte de Deus. Em seguida, essa precisa ser feita de acordo com a orientação dEle, e por fim, a igreja deve se envolver em missão, caso contrário, comprometerá sua condição de igreja.

1. A COSMOVISÃO MISSIONÁRIA

A sociedade contemporânea, sob a égide do politicamente correto, e da tolerância religiosa, tem se oposto à evangelização. Mas essa cosmovisão está equivocada, primeiramente porque todas as pessoas buscam defender seus princípios, mesmo que esses não sejam religiosos. Mesmo nas academias os pesquisadores buscam convencer e recrutar adeptos para seus paradigmas científicos. No tocante à fé cristã, a evangelização e a obra missionária, é um mandamento do próprio Cristo, que comissionou sua igreja para fazer discípulos (Mt. 28.19,20), em todas as etnias (Mc. 15.15,16), pregando a mensagem da morte e ressurreição de Cristo (Lc. 24.5,6), sob a autoridade de Jesus (Jo. 20.21), no poder do Espírito (At. 1.8). Paulo foi um dos primeiros, e um dos mais atuantes, missionário da igreja cristã. Ele foi chamado por Cristo para essa missão e a cumpriu cabalmente (At. 9), levando o evangelho até os confins da terra, através de três viagens missionárias. Conforme ele mesmo informa aos Romanos, Deus lhe deu a oportunidade de levar o evangelho desde Jerusalém até ao Ilírico. Como um missionário desbravador, não tinha a pretensão de levar o evangelho a lugares em que outros já tinham pregado (Rm. 15.20,21). O missionário verdadeiramente chamado por Deus não entra nesse sistema de competitividade eclesiástica, antes se preocupa com a salvação das almas. Uma igreja que busca investir no reino de Deus não enfoca os lucros que irá obter através da pregação. Onde estiver uma alma necessitada de salvação, ali deverá está um missionário amoroso que se sacrifica por Cristo.

2. O PLANEJAMENTO MISSIONÁRIO

Para faz fazer, e ser missões a contento, a Igreja precisa planejar suas atividades. Paulo, como exemplo de dedicação a essa obra, estabeleceu bases em pontos de apoio. Para esse fim, Roma, por se tratar de uma metrópole, deveria se tornar uma base de apoio. A intenção do Apóstolo era ir a Roma: “quando partir para a Espanha, irei ter convosco; pois espero que, de passagem, vos verei e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia”. Isso demonstra também que o missionário precisa de apoio financeiro, pois não se pode fazer missões são contribuições. As igrejas que enviam missionário devem avaliar as condições, sobretudo porque são responsáveis pelas famílias que enviam. Por outro lado, os missionários enviando devem compreender que essa é uma obra desafiadora. Paulo foi um missionário experiente, e principalmente, não buscava glória própria, antes o crescimento do reino de Deus. Ele pretendia prosseguir com a obra missionária, mas antes deveria concluir a que havia iniciado (Rm. 15.26). Outra necessidade missionária é a de fazer intercâmbios, as igrejas devem se ajudar, principalmente diante dos trabalhos mais desafiadores. Paulo também dependeu de cobertura espiritual, ele pediu para que a igreja intercedesse por ele: “E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus” (Rm. 15.30). Não podemos deixar de orar pela obra missionária, principalmente por aqueles obreiros que se encontram em zona de conflito, e que estão pondo suas vidas em risco pelo evangelho. Sempre que possível devemos nos identificar com suas adversidades, e servir de refrigério para eles. A visita ao campo missionário, o envio de uma mensagem, pode ter muito significado para aqueles que estão distantes.


3. A ATUAÇÃO MISSIONÁRIA

Ao longo da sua vida, Paulo fez três viagens missionárias, e uma quarta, já preso, quando foi conduzido a Roma. A primeira viagem missionária de Paulo está registrada em Atos 13.1 a 14.28. Essa foi uma missão para os gentios e o Apóstolo partiu de Antioquia. Do Porto da Selêucia, Ele seguiu juntamente com seus companheiros. Ao retornar para Antioquia, Paulo passa, então, a ser como o Apóstolo do evangelho da incircuncisão (At. 15.22-26; Gl. 2.7). Durante essa viagem missionária Paulo escreveu a Epístola aos Gálatas. A segunda viagem missionária de Paulo se encontra registra em At. 15.36 s 18.22. Essa pretendia ser uma viagem para visitar as cidades nas quais o evangelho de Cristo havia sido pregado (At. 15.36). Após uma rápida visita a Éfeso, Paulo seguiu viagem, prometendo retornar se essa fosse à vontade do Senhor, e logo retornou para Antioquia (At. 18.19-21). Durante essa segunda viagem missionária Paulo escreveu duas cartas: I e II Epístolas aos Tessalonicenses. A terceira viagem missionária de Paulo se encontra registrada em At. 18.23 a 21.14. O Apóstolo segue mais uma vez em direção a região da Galácia e da Frigia. Em seguida, segue rumo a Ásia, para sua principal cidade, Éfeso. Enquanto era recebido por Tiago e os anciãos da igreja, alguns judeus da Ásia, que estavam presentes em Jerusalém, para celebrar a Festa de Pentecoste, acusaram Paulo de profanar a área do templo (At. 21.27-36), o que resultou em sua prisão pelo capitão romano da cidade. Nessa viagem missionária, além da Epístola aos Romanos, Paulo escreveu I e II Coríntios.

CONCLUSÃO

A igreja deve assumir a responsabilidade de fazer, e, sobretudo, de ser missão. Uma igreja que não se envolve em levar o evangelho está fugindo do seu chamado. O desafio da evangelização é o de propagar a mensagem, simultaneamente, em Judeia, Samaria e até aos confins da terra (At. 1.8). Em se tratando especificamente de Roma, Paulo sabia que aquela cidade serviria de base missionária, a fim de que esse objetivo fosse alcançado.

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Paulo já estava chegando ao final da epístola à igreja de Roma. Um dos últimos assuntos tratados por ele havia sido acerca da tolerância que os crentes maduros devem demonstrar para com os imaturos. A solução do problema estava em saber equilibrar a liberdade com o amor cristão. Agora, o apóstolo deseja expor o que estava em seu coração - o desejo de levar o evangelho da graça de Deus a terras ainda não alcançadas. Os crentes de Roma, membros de uma igreja que fez o mundo inteiro ouvir os ecos de sua fé (Rm 1.8), deveriam apoiá-lo nesse empreendimento missionário. Todavia, para que seu intento fosse alcançado, ele sente a necessidade de explicar com maiores detalhes o seu projeto missionário. É o que vamos estudar nesta lição. [Comentário: Inicialmente, esclarece-se que aquilo que cada pessoa é, o que defende, o que vive, é resultado da cosmovisão que permeia sua vida. Em nosso caso específico, vivemos de acordo com a Cosmovisão Cristã. Missões, proveniente do latim (missio) Transmissão consciente e planejada das Boas Novas do evangelho de Cristo além das fronteiras nacionais e culturais. Suzana Wesley mãe do grande pregador e fundador do metodismo John Wesley, disse “se eu tivesse vinte filhos, regozijar-me-ia em consagrar todos eles a obra missionária, ainda que fosse com a certeza de nunca voltar a vê-los”. Vimos na lição anterior que a discussão a respeito da liberdade e da responsabilidade cristã vem do capítulo 14 e vai até o 15.13. Agora, já finalizando a carta, em vários aspectos, o final é similar à sua abertura (1.8-15), contendo elogia a fé deles (1.8); defesa de seu apostolado com o evangelho para os gentios (1.13,14); afirmação do desejo de visitar os crentes em Roma (1.10,13); salienta seu desejo de que eles o ajudem a prosseguir para regiões ainda não evangelizadas (Espanha, em 1.13). Podemos ver ainda, uma pista da tensão entre crentes judeus e crentes gentios na igreja romana, mencionada ou implícita através de toda a carta, mas especialmente nos capítulos 9 a 11 e do 14.1 ao 15.13. Os planos de viagem de Paulo para esse propósito devem levá-lo a passar em Roma (vv.22-33), e o texto áureo nos informa da estratégia missionária consistente de Paulo (1Co 3.10; 2Co 10.15-16). Ele queria alcançar os pagãos que nunca tinham tido a chance de ouvir e receber o evangelho. Normalmente ele escolhia cidades grandes do Império Romano, aquelas estrategicamente localizadas. Uma igreja que fosse estabelecida ali poderia evangelizar e discipular as áreas ao redor. Ele convida assim, os romanos, a investirem na obra missionária.] 

I. A NECESSIDADE DE UMA COSMOVISÃO MISSIONÁRIA (Rm 15.14-21)

1. O propósito da missão. O que o apóstolo tinha em mente quando reservou esse espaço em sua Epístola para tratar a respeito do seu projeto missionário? Paulo desejava que os crentes romanos compartilhassem do propósito da sua chamada - a conversão do mundo gentílico ao Evangelho (Rm 15.16). Algumas observações são importantes para ajudar no entendimento das palavras do apóstolo. Primeiramente, Paulo quer que a igreja o veja como alguém que estava prestando um serviço de grande relevância diante de Deus. Este é o sentido do termo grego leitougeo (ministro), usado por ele aqui. Em segundo lugar, Paulo desejava também que os crentes tivessem consciência de que esse serviço é um sacrifício do qual Deus se agrada. Esse é o sentido do termo grego ierourgounta (servir como sacerdote), usado para se referir às cerimônias do sacrifício levítico. Paulo era um sacerdote de Deus a serviço da obra missionária e desejava que os crentes se unissem a ele. [Comentário: Os versículos 16 e 17 contêm diversos termos e frases sacerdotais. “Ministrar” é referente ao serviço sacerdotal, no v. 27. Refere-se ao serviço de Cristo, em Hb 8.2. Paulo via a Si mesmo como um sacerdote (Fp 2.17), oferecendo os gentios a Deus, o que era tarefa para Israel (Ex 19.5-6; Is 66.20). A Igreja recebeu essa designação evangelística (Mt 28.18-20; Lc 24.47). Ela é chamada por expressões que no VT se aplicavam ao sacerdócio (1 Pe 2.5,9; Ap 1.6). Paulo vê a pregação do Evangelho como o meio mediante o qual os gentios seriam conduzidos a Deus como uma oferenda agradável de ação de graça (v. 12.1). O Dr Russell Shedd diz que “o mundo inteiro está debaixo da esfera do interesse de Deus”.]
2. O agente da missão. O apóstolo diz que o seu ministério de evangelismo era instrumentalizado pelo Espírito Santo. O ministério de Paulo foi marcado pela atuação do Espírito Santo (1 Co 2.1-4). Não há movimento missionário que se sustente sem a participação efetiva do Espírito do Senhor. É Ele que traz o poder de convencimento ao mundo perdido e prova que Jesus Cristo continua vivo. Em palavras mais simples, as credenciais de um ministério autêntico são dadas pelo Espírito Santo. O Movimento Pentecostal é uma prova viva de que o Espírito Santo é a mais poderosa força geradora de missões. [Comentário: No versículo 19 “pelo poder dos sinais e prodígios” temos dois termos que aparecem juntos muitas vezes, no livro de Atos (14.8-10; 16.16-18, 25-26; 20.9-12; 28.89), descrevendo o poder de Deus trabalhando através do evangelho (2Co 12.12). Eles parecem ser sinônimos. Exatamente a que se referem – milagres ou conversão – é incerto. Paulo cogita assim, que conforme Deus confirmava o trabalho dos doze em Jerusalém, ele também confirmava o trabalho de Paulo entre os gentios, através de sinais visíveis. Paulo listou as diferentes formas como o seu ministério para os gentios era eficaz:
a) pela palavra;
b) pelos atos;
c) através de sinais;
d) com maravilhas; e
e) através do poder do Espírito.
A tarefa missionária é feita por fé. Deus ordenou que o cristianismo fosse uma religião de fé. A obra missionária verdadeira e bem-sucedida, portanto, pode ser feita apenas por homens de fé, que conhecem Deus e tem aprendido a se apropriar das promessas de Deus. Disse Henrietta C. Mears: "O maior empreendimento do mundo são as missões estrangeiras, e aqui temos o início dessa grande obra. A idéia originou-se exatamente como devia: numa reunião de oração" – pelo poder do Espírito Santo.]
3. A esfera da missão. Paulo informa aos romanos que pregou o Evangelho desde Jerusalém até ao llírico. Um mapa da época nos permite ver que esses eram os pontos extremos do mundo alcançado por Paulo. Agora, ele precisava ampliar a esfera do seu projeto missionário, pois não queria pregar onde outros já tivessem pregado (Rm 15.20,21). Não queria trabalhar sobre fundamento alheio. 0 campo era o mundo e este se encontrava branco para a ceifa. O modelo de Paulo deve ainda ser o nosso modelo. Infelizmente, o que se observa hoje é que muitos estão edificando sobre fundamento alheio, invadindo a esfera de atuação de outros obreiros, coisa que Paulo jamais fez. Estão pregando onde já existem igrejas estabelecidas, às vezes, da mesma confissão de fé e não onde há realmente necessidade missionária. Agem movidos pelo espírito de competitividade e não de solidariedade.  [Comentário: Pela leitura do versículo 23 entendemos que Paulo acreditava ter terminado sua tarefa de pregação no Mediterrâneo oriental. O Ilírico, província romana, também conhecida como Dalmácia, estava localizada no lado oriental do Mar Adriático, a nordeste da península grega (Macedônia). O livro de Atos não tem registro de Paulo pregando lá, mas o coloca na região (20.1-2). “Até” pode significar “até a fronteira” ou “até a região”. Crendo ter acabado seu ministério ali, Paulo projeta agora partir para a região ocidental do Império Romano (2Co 10.16). Existem relatos de que Paulo foi libertado do aprisionamento em Roma depois do encerramento de Atos e realizou uma quarta viagem missionária, chamadas por Clemente de Roma de “fronteiras do Oeste”, e, de fato, as cartas pastorais (1ª e 2ª a Timóteo e a de Tito) foram escritas no decorrer dessa quarta jornada (2Tm 4.10 - as traduções Vulgata e Cóptica têm “Gália”).]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Os planos missionários de Paulo (15.22-33)
15-22,23 - Nestes versículos Paulo fala do seu grande desejo de ir a Roma, e diz que tem sido impedido por circunstâncias várias. Entretanto, ele sente que suas atividades missionárias nas regiões da Grécia, Macedônia e Ásia Menor, já foram completadas. Ele dera início à tarefa evangelística e já podia confiar a obra a outros obreiros, a fim de cumprir o desígnio de seu ministério apostólico.
15.24 - 'Quando parti para a Espanha'. Está expressa aqui a visão expansionista missionária do grande apóstolo. A Espanha agora era a sua meta, e, para tal, passaria antes por Roma.
15.25,26 - Nestes versículos Paulo diz à igreja em Roma que antes terá de ir a Jerusalém, acompanhado por vários irmãos na fé, das igrejas gentílicas. A viagem tinha um cunho filantrópico, pois levariam as ofertas das igrejas da Macedônia e Acaia para os crentes que passavam privações em Jerusalém” (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.146).

II. A NECESSIDADE DO PLANEJAMENTO MISSIONÁRIO (Rm 15.22-29)

1. Estabelecer bases. Um dos princípios básicos da implantação de um projeto evangelístico é feito primeiramente com o estabelecimento de uma base missionária, um ponto de apoio. Paulo sabia que o seu projeto só teria sucesso se a igreja de Roma se tornasse um ponto de apoio: “Quando partir para a Espanha, irei ter convosco; pois espero que, de passagem, vos verei e que para lá seja encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia” (Rm 15.24). A expressão “seja encaminhado por vós” traduz o termo grego propempto, que ocorre nove vezes no Novo Testamento. Essa palavra segundo o léxico de Bauer significa “ajudar na jornada de alguém com alimento, dinheiro, companheiros e meios de viagens.” Não se faz missões sem esse tipo de apoio. [Comentário:Duas coisas tornavam agora possível uma visita a Roma: a atual fase da comissão de Paulo fora cumprida, e a nova fase que envolvia uma visita à Espanha estava iminente, e Paulo busca a comunhão com os crentes que habitavam na cidade de Roma. “que para lá seja encaminhado por vós” – Esta frase tornou-se uma expressão técnica da Igreja para referir-se à ajuda a missionários itinerantes em viagem a seu próximo destino (At 15.3; 1Co 16.6, 11; 2Co 1.16; Tt 3.13; 3 Jo 6). Roma não estava em condições de contribuir para a ajuda à Igreja em Jerusalém, mas podia dar apoio financeiro às viagens missionárias de Paulo em direção ao Oeste. Carlos Del Pino (In Missões e a igreja brasileira, 1993, p. 58) comenta: “Para tratarmos sobre esta nova base de missões, precisamos entrar no v. 24. Aqui Paulo revela claramente seus propósitos e seus meios. Veja bem, o propósito final de Paulo, seu objetivo real, não era apenas conhecer a igreja de Roma. Isso ele poderia ter feito em outras circunstâncias. Seu objetivo final era chegar à Espanha. Este objetivo reflete o esforço de Paulo (15.20) e sua vocação (15.21), conforme já temos enfatizado. Ele pretendia chegar à Espanha para ali continuar desenvolvendo o seu ministério; "de passagem" por Roma (15.24), ele esperava ir à Espanha, enviado pela igreja de Roma. Quando Paulo diz no v. 24 "para lá seja por vós encaminhado", ele não apenas tinha em mente, mas estava claramente dizendo as coisas necessárias para a sua viagem e subsistência lá” (1993, p. 59).]
2. Estabelecer intercâmbio. Paulo não era um calouro na obra missionária nem tampouco um aventureiro em busca de glória humana. Sua vida foi marcada pela entrega aos outros. Em breve ele estaria abrindo outra frente missionária, mas antes deveria terminar outro empreendimento missionário já iniciado (Rm 15.26). Paulo já havia estabelecido parcerias entre as igrejas. Aqui o intercâmbio é feito entre as igrejas da Macedônia e Acaia e a igreja de Jerusalém. A "igreja mãe" estava sendo ajudada pelas filhas. [Comentário: Na sua segunda carta aos coríntios no capítulo 10 versículo 16, Paulo diz: “a fim de anunciar o evangelho para além das vossas fronteiras, sem com isto nos gloriarmos de coisas já realizadas em campo alheio.” Ele procurava pregar o evangelho nos lugares onde ainda não havia um trabalho em andamento, pois considerava o missionário como um lançador de fundamentos, de maneira que, pregar onde já havia um trabalho, significa edificar sobre trabalho de outrem. “O que o movia não eram arroubos de piedade, espírito proselitista, amor ao lucro, popularidade ou qualquer outra motivação similar. Essas motivações não teriam suportado as angústias do campo missionário por muito tempo. Paulo estava movido por suas convicções teológicas.” http://clickteologia.blogspot.com.br/2010/02/iv-perspectiva-missionaria-de-paulo-ii.html. Paulo desvenda agora seus planos imediatos de visitar Jerusalém, levando as dádivas que as igrejas haviam levantado para os crentes de Jerusalém, a Igreja-Mãe, que nesta época era uma cidade empobrecida de maneira geral; Paulo vê nesta ação social das “Igrejas-Filhas”, o exercício de um dever, de uma obrigação da parte dos gentios, em face do privilégio de terem sido enxertados na oliveira de Deus (11.17). Isto se conforma ao princípio geral de que aqueles que recebem bênçãos espirituais devem repartir suas bênçãos materiais (1Co 9.3-14; Gl 6.6).]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Paulo enfatiza que as igrejas gentílicas são devedoras para com a igreja em Jerusalém, visto que a bênção do Evangelho de Cristo partiu de Jerusalém. Era justo que, nesses momentos de perseguições e privações aqueles crentes judeus fossem ajudados. Conforme declara o apóstolo: 'Se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais, devem também ministrar-lhes os temporais' (v. 27).
Terminada a sua missão em Jerusalém, não lhe resta outro plano, senão ir a Roma e depois à Espanha.
Paulo sabia que havia grande perseguição contra a igreja de Jerusalém, e que seu trabalho missionário entre os gentios ainda sofria resistência de alguns judeus. Mas ele esperava que na sua ida a Jerusalém, juntamente com irmãos representantes das igrejas gentílicas, levando ofertas para os santos de Jerusalém, fossem bem recebidos. Paulo sabia que havia perigo de vida, pois os judeus mais fanáticos queriam a sua morte (v. 31). Por isso, solicita à igreja que ore por esta missão em Jerusalém. Entende Paulo que acima de tudo está a soberana vontade de Deus (v. 32)” (CABRAL, Elienai. Romanos: O Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.l46).

III. A NECESSIDADE ESPIRITUAL NA OBRA MISSIONÁRIA (Rm 15.30-33)

1. A necessidade da cobertura espiritual. O apóstolo Paulo, ao contrário de muitos que se aventuram na obra missionária, sabia da necessidade de uma "cobertura espiritual": "E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus" (Rm 15.30). Há duas coisas que quero destacar aqui. A primeira é que Paulo conta com o apoio da Trindade no seu projeto missionário. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo são invocados como suporte para sua missão. A segunda é que Paulo via com muita seriedade a obra missionária e por isso rogou que os crentes lutassem em oração com ele. A palavra combatais traduz o grego synagonisasthai, que significa lutar ou contender junto com alguém. O sentido é de uma luta espiritual na oração. [Comentário: “rogo-vos, irmãos... que combatais comigo” (15.30). Estes são termos gregos muito fortes. O primeiro é usado também em 12.1. O segundo é usado quando é narrada a luta de Jesus no Getsêmani. É um composto de sun (juntamente com) e agōnizomai (contender, brigar, lutar severamente), de acordo com 1Co 9.25; Cl 1.29; 4.12; 1Tm 4.10; 6.12). Esta convocação tão forte chama a Igreja romana para agressivamente agonizar com Paulo em oração, a respeito da recepção da oferta dos gentios na igreja-mãe, em Jerusalém. Paulo sentia uma profunda necessidade de oração por si mesmo e por seu ministério evangelístico (2Co 1.11; Ef 6.18-20; Cl 4.3; 1Ts 5.25; 2Ts 3.1). Oração é pôr em ação prática a nossa crença em um Deus pessoal e interessado, que está presente, disposto e em condições de atuar em nosso favor e de outros; Oração de intercessão é um mistério. Deus ama aqueles por quem oramos (muito mais do que nós os amamos!), mas ainda assim nossas orações frequentemente provocam alguma mudança, resposta ou necessidade, não apenas em nós mesmos, mas neles. A oração de Paulo expressa três desejos:
a) que ele seja livrado de seus inimigos em Judá (At 20.22-23);
b) que as doações das igrejas dos gentios sejam bem recebidas pela Igreja em Jerusalém (At 15.1; 21.17); e
c) que ele então possa visitar Roma, na viagem para a Espanha.
Em todas as viagens que empreendeu, Paulo defrontou-se com muitas perseguições. Uma vez, foi apedrejado até considerarem-no morto. Em Filipos, apesar de ser um cidadão romano, foi despido e apanhou publicamente. No entanto, em vez de reclamar, na prisão daquela localidade, glorificou a Deus e ganhou o carcereiro para Jesus.]
2. A necessidade do refrigério espiritual. Missões envolvem conflito espiritual e muitas vezes lágrimas. Todavia, missões são marcadas também por satisfação espiritual e alegria (Sl 126.5,6). Sem dúvida o apóstolo tinha isso em mente quando escreveu aos romanos (Rm 15.31,32). 0 termo grego synanapaufomai, observa o biblista William Sanday, é usado por Paulo com o sentido de "que eu possa descansar e refrigerar o meu espírito junto com vocês". Missões, portanto, é refrigério no poder do Espírito Santo. [Comentário: A oração de Paulo finaliza com mais dois pedidos: que ele possa voltar a eles com alegria; e que ele possa desfrutar de um tempo de descanso com eles. Paulo necessita de um tempo de descanso e recuperação entre crentes maduros (2Co 4.7-12; 6.3-10; 11.23-33), no entanto, não consegue! Sentenças e audiências, mais anos de permanência na prisão, aguardavam por ele na Palestina.]

SUBSÍDIO SOCIOLÓGICO

Professor, procure enfatizar o quanto Paulo amava a obra missionária e se dedicou a ela. Ele procurou levar o Evangelho às áreas mais carentes, onde as pessoas não tinham ouvido nada ou quase nada a respeito de Cristo. Aproveite a oportunidade e fale com seus alunos a respeito da janela 10x40. Diga que nesta "janela" estão os países menos alcançados com o Evangelho. Países onde a perseguição aos cristãos é bem grande. Ore, juntamente com seus alunos, por estes países. Peça que Deus envie pessoas para irem como missionários. Rogue também ao Senhor para que pessoas possam ofertar e sustentar os que já estão no campo missionário.

CONCLUSÃO

Nessa lição, vimos uma das razões que levou o apóstolo a visitar a igreja de Roma. Não era apenas uma visita fortuita, mas algo planejado. O seu alvo era o estabelecimento de um ponto de apoio para seu empreendimento missionário. Para isso, Paulo usa esse espaço de sua Epístola para informar aos crentes em Roma das diretrizes tomadas para essa viagem. A igreja de Roma, que não tinha Paulo como seu fundador, teria a oportunidade de ver como trabalhava e apoiar aquele que foi, sem dúvida, o maior missionário da história. [Comentário: Paulo não conhecia a igreja em Roma, entretanto, intentando ir à Espanha, evangelizar, (Rm 15.24) espera visitá-la no caminho, assim como tê-la como uma base de apoio em sua empreitada. Ele apresentou-se à igreja e discorreu sobre seu ministério e entendimento do evangelho, assim como solicitou apoio financeiro e logístico para sua viagem missionária até a Espanha. O que motivava Paulo a sair plantando igrejas, apesar da rejeição dos seus patrícios e das implacáveis perseguições que sofria? Sua preocupação é com a promoção do Reino de Cristo e neste objetivo, ele gastou sua vida. Paulo, escolhido por Deus para levar a mensagem aos gentios (At 9.15, 16), cumpre com êxito a sua tarefa. Em pouco mais de dez anos, e em três viagens missionárias, ele estabelece a igreja em quatro províncias do Império Romano: Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia (At 13.2, 14.28, 15.40, 18.23 e 21.17). Tudo aquilo que é planejado se torna mais eficaz além de muito mais produtivo! Como servos de Deus temos que entender que servimos a um Deus de Excelência que requer de nós o nosso melhor, além de sabermos que ele conta conosco para a propagação do Seu Reino e expansão da Sua Obra na Terra. Devemos, por fim, compreender que a obra missionária não é fragmentada, os que foram enviados a terras estranhas e os que ficaram, estão profundamente comprometidos com a evangelização de todos os seres humanos e não devem considerar como superior o seu trabalho nem o dos demais - há uma só missão! Não são apenas os vocacionados que vão para campos que são os verdadeiros missionários, mas todo crente, exercendo o ministério que recebeu de Deus, é um missionário. Paulo, por tudo o que sofreu, durante o exercício do seu ministério como apóstolo dos gentios, tornou-se o modelo para todos nós. Basta, agora, descruzarmos os braços, orarmos, buscarmos a direção divina e realizarmos a obra que o Senhor Jesus nos confiou, desde o momento em que o aceitamos como nosso Salvador.] “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.

Francisco Barbosa

Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.