quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

LIÇÃO 5: UM INIMIGO QUE PRECISA SER RESISTIDO


 
SUBSÍDIO I

RESISTINDO O INIMIGO

O capítulo 4 deste livro apresenta um estudo sobre a origem, a natureza e as ações de Satanás e seus correligionários, os demônios, de modo que não há necessidade de descrevê-los aqui. O objetivo deste capítulo é mostrar e explicar como resistir o diabo para que ele se afaste cada vez mais de nós. O Senhor Jesus provou na tentação do deserto que o diabo não é invencível, desde que se resista a ele com a Palavra de Deus. Veja que Jesus resistiu às três últimas investidas do diabo no deserto com um “está escrito” que não deu chance alguma ao Maligno, de modo que “o diabo o deixou” (Mt 4.11). O relato de Lucas afirma que o diabo se ausentou de Jesus temporariamente: “E, acabando o diabo toda a tentação, ausentou-se dele por algum tempo” (Lc 4.13). Quando os crentes se revestem do Senhor Jesus e da força do seu poder contra as astutas ciladas do diabo (Ef 6.10, 11), devem depois de tudo isso “ficar firmes” (v. 13). Isso porque o diabo volta a atacar. Mesmo depois de derrotado no deserto, o diabo continuou insistindo; o Novo Testamento conta que Jesus foi tentado não somente nos quarenta dias imediatamente após o batismo no rio Jordão, mas durante todos os dias do seu ministério (Lc 22.28; Hb 4.15). Isso mostra que Satanás é persistente no ataque, e na vida cristã não é diferente. O fato de ele fugir de nós pela nossa resistência não significa que a vitória seja definitiva, por essa razão devemos estar atentos em todo o tempo. 
A primeira parte do capítulo 4 de Tiago apresenta uma lista de comportamentos que devem estar longe da vida cristã. São as paixões resumidas em quatro categorias: 1) contenda entre irmãos, 2) mundanismo, 3) insubmissão a Deus e 4) maledicência.
[...] A batalha espiritual é uma realidade. A luta de todo aquele que serve ao Senhor Deus é contra o pecado, que pode ser uma tentação do diabo ou da própria carne. Muitas vezes, o desafio surge no modo como tratamos os irmãos e as irmãs, daí a necessidade de prestar atenção para apresentar diante de Deus todas as coisas, inclusive nosso comportamento. A contenda entre irmãos, o mundanismo, a insubmissão a Deus e a maledicência são alguns aspectos que devem estar sob vigilância na batalha. Devemos, portanto, nos colocar na presença de Deus a fim de resistir a esses inimigos.

Texto extraído da obra “Batalha Espiritual”, editada pela CPAD 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

A Epístola de Tiago foi escrita por volta do ano 45 d. C., sendo um dos primeiros textos apostólicos. Essa carta foi destinada aos primeiros cristãos dispersos, de origem judaica no contexto do império romano (Tg. 1.1). Esses crentes faziam parte do “movimento de Jesus”, e ainda se reuniam nas sinagogas, seu principal objetivo era integrar fé e obras, enquanto sabedoria prática, que provém do alto (Tg. 3.14,15).

I. ANÁLISE TEXTUAL
                                                                 
No texto em foco, a ênfase é posta na causa das guerras – pólemos -  e pelejas – machai, que também pode ser traduzido por disputas. Tiago diz que elas provém dos vossos deleites – hedonon, ou prazeres ou paixões, que guerreiam – strateomai – que entram em confronto – em vossos membros? (v. 1). Ao invés de pedir a Deus, e buscar o que edifica, muitos preferem cobiçar – epithumeite – desejar ardentemente, e isso leva a um tipo de frustação, por não ser capaz de alcançar – epithuchein. Ao invés de orar com sabedoria, e pedir as coisas que são do alto, as pessoas pedem mal, para gastar – depanesete – esse verbo expressa o desejo de consumir (v. 3). O grande problema é que as pessoas se deixam controlar pela filosofia deste mundo – kosmu – aqui se referindo aos padrões anti-Deus, que regem a esfera humana. O que tem neste kosmos é adultério – moichalides – não apenas no sentido sexual, mas também de se deixar contaminar com os valores desta era. Aqueles que se tornam amigos do mundo, acabam por se tornarem inimigos de Deus (v. 4). A Escritura é bastante clara, ao afirmar que o Espírito que habita no crente tem ciúmes - phthonos – tanto pode ter um sentido negativo, como ciúme e inveja, quanto positivo, que é o caso nessa passagem, com o sentido de zelo (v. 5). Há um paradoxo no texto, pois Deus dá graça – charin – aos humildes – tapeinos – no contexto de Tiago, aquelas pessoas que são marginalizadas, mas aos soberbos – huperefanois – arrogantes e orgulhosos, com base no que possuem (v. 6). A opção apresentada pelo apóstolo é sujeitar-se – hupotagete – colocar-se sob o controle – de Deus, e resistir – antistete – também se opor – ao Diabo, então esse fugirá de vós (v. 7). É preciso se chegar mais a Deus, e ele se chegar a vós, diz Tiago. E mais, limpai as mãos, e purificai o coração – kardia, sobretudo aqueles de ânino dobre – dipsuchoi – que ficam entre dois pensamentos, não se definem a quem agradar, se a Deus ou ao mundo (v. 8). Para tanto, devem sentir as vossas misérias – telaporeisate – lamentar e chorar – converter o riso em pranto; e o gozo, em tristeza. E mais: humilhar-se – tapenoithete perante o Senhor, somente ele pode exaltar – hupsosei – no futuro, de maneira oportuna.

II. INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

O pecado da dissensão, naquela comunidade eclesiástica, era resultante da falta de sabedoria do alto (Tg. 3.13-18), que tinha relação com a mundanidade, ou seja, aos valores daquela época que estavam adentrando à igreja. Muitas disputas que acontecem no seio da igreja são provenientes dos desejos (gr. hedone – paixões), que fazem com que as pessoas entrem em conflito umas com as outras (v.1). É muita cobiça envolvida, sobretudo nos tempos atuais, marcado pelo consumismo, as pessoas estão deixando de valorizar o que é espiritual, e se tornando extremamente mundanas, se apegando ao que é da terra, em detrimento do que é do céu. Essa condição se reflete na própria oração, pois as pessoas expressam em suas palavras aquilo que desejam. Uma demonstração prática disso é a famigerada teologia da ganância, que incita os crentes a buscarem enriquecimento terreno, trazendo sobre elas mesmas sofrimento e frustração (v. 2). Por causa disso, as orações são equivocadas, pessoas que pedem apenas para satisfazerem seus deleites, não que o prazer seja pecado em si, mas esse não pode controlar as pessoas (v. 3). Quando isso acontece, nos tornamos adúlteros e adúlteras, no sentido espiritual, pois desejamos o mundo, como se esse fosse a razão da existência (v. 4). Ninguém que ama este mundo pode dizer que é amigo de Deus, pois são incompatíveis (I Jo. 2.15,16; 5.19). O mundo, nesse contexto, não se refere ao mundo físico, muito menos às pessoas, mas ao sistema anti-Deus, que se opõe aos valores do Reino de Deus (Mt. 6.24). O Espírito que habita em nós é um real, e tem sentimentos e vontades, por isso sente zelo por aqueles que se entregam aos prazeres do mundo (v. 5). A graça de Deus é para aqueles que se humilham, ou seja, que se submetem à vontade de Deus (I Pe. 5.5), se opõem à arrogância e ao orgulho, e se fiam na providência divina, dependem daquilo que Deus dá, o pão nosso de cada dia (v. 6). É preciso resistir ao diabo, e uma das melhores maneiras de fazê-lo é se aproximando de Deus (I Co. 10.13), pois somente assim Satanás fugirá de nós, como aconteceu com Cristo, ao ser tentado (Lc. 4.13). Se quisermos nos aproximar de Deus, devemos purificar nossas vidas, chorar nossa condição de pecado, reconhecer a misericórdia divina (v. 8,9), como orientaram os profetas do Antigo Testamento (Is. 15.2; Jr. 6.26). E para concluir, de maneira resumida, Tiago reforça que devemos ser humildes – viver um estio de vida simples – se quisermos ser exaltados por Deus (Mt. 23.12), ter cuidado para não se deixar levar por um modelo de religiosidade que apenas valoriza o que se tem, diferente daquele ensinado por Jesus, sobretudo no sermão do monte (Mt. 5-7).

III. APLICAÇÃO TEXTUAL

O mundo é movido pela ganância, essa é a causa das guerras e conflitos, não apenas entre os não-cristãos, mas também entre os cristãos. O mundo jaz no maligno (I Jo. 5.19), e esse é inimigo de Deus, por se opor à sua vontade (Rm. 8.6-8; 12.1,2). Uma das formas de Satanás, que é o deus deste século, manipular as pessoas (II Co. 4.4), é através do desejo desenfreado, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba dos olhos (I Jo. 2.16-17). O pecado dos nossos primeiros pais no Jardim do Éden se deu através do olhar, e o desejo de ser igual a Deus, se apropriando daquilo que Ele havia proibido (Gn. 3.6). O desejo de enriquecer, inspirado na inveja do outro, está levando muitas pessoas à ruina, afinal o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (I Tm. 6.10-12). Mamom é o deus que governa o mundo dos negócios, e sacrifica muitas vidas, a fim de ser adorado, por isso Jesus advertiu quando a essa divindade, e foi categórico ao afirmar que ninguém pode servir a dois senhores (Mt. 6.24). A alternativa cristã contra a idolatria do dinheiro é um estilo de vida simples, pautado no contentamento, pois é assim que Deus deseja que vivamos (Lc. 3.14; Fp. 4.12; Hb. 13.5). Contentamento não significa comodismo, ninguém está proibido de buscar viver melhor, e até mesmo de prudentemente reservar um pouco para os dias difíceis, mas não se pode confiar nas riquezas. Jesus nos ensinou a viver sem o frenesi das preocupações, sobretudo em relação ao que teremos para viver no futuro (Mt. 6.24-33).  O problema é que as pessoas estão sendo seduzidas pelo consumismo, comprando coisas que não precisam, apenas para agradar as outras pessoas. Essas pessoas, ainda que não percebam, estão no ritmo de vida do mundo, e por essa razão, estão adulterando espiritualmente, pois amam mais o presente século do que a Deus. A cobiça e o hedonismo não é um estilo de vida compatível com o cristão, ainda que tenhamos sido criados para o prazer, não podemos deixar que os deleites da vida nos controlem (I Co. 6.12).

CONCLUSÃO

As advertências de Tiago são necessárias, caso queiramos resistir ao diabo. A melhor maneira de fazê-lo, conforme instrução do próprio apóstolo, é sujeitar-se e se achegar cada vez mais a Deus. A vitória sobre os poderes do mundo depende de Deus, mas nós também somos participantes, na medida em que buscamos viver no Espírito (Gl. 5.22), não satisfazendo os desejos desenfreados da carne (Gl. 5.16). É preciso se arrepender dos pecados, sentir as misérias, lamentar e chorar, a fim de receber a graça de Deus, pois o Senhor abate os orgulhosos, mas eleva os humildes (Tg. 4.6,10).
José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog subsidioebd.blogspot.com

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Essa seção da epístola de Tiago é, em outras palavras, um chamado à santidade. A carta é dirigida aos cristãos do primeiro momento da história sagrada. Tiago mostra que resistir ao Diabo já era um bom começo. A presente lição esclarece por que devemos resistir às paixões e mostra ainda que a amizade com o mundo é inimizade contra Deus. Um bom início de preparação para a aula desta semana é estudar a Carta de Tiago. Assim, é possível compreender bem contexto em que se encontra a seção que nos interessa. Logo, será possível perceber em seus estudos que o contexto da seção versa a respeito do "chamado à santidade". Esse procedimento é importante porque a ausência dele permite ao movimento moderno de "batalha espiritual" distorcer e forçar tanto o texto bíblico.
Tiago, o Justo, um dos irmãos de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3), é o autor dessa epístola. Convertido após a ressurreição de Jesus (Jo 7.3-5; At 1.14; 1 Co 15.7; Gl 1.19), tornou-se líder da igreja em Jerusalém, e é apontado por Paulo como um dos pilares da igreja (Gl 2.9). No capítulo 4.4-7, Tiago afirma que amar ao mundo é inimizar-se com Deus e que aquele que é amigo do mundo por isso mesmo se constitui em inimigo de Deus. É importante o que Tiago quer dizer. Note o que disse Jesus: "Ninguém pode servir a dois senhores" (Mt 6.24). Todo o capítulo nos fala de Purificação para cristãos (1 Co 3.1-4):
(1) a luta com o pecado (v. 1-4);
(2) o desejo de Deus de liberar maior graça (v. 5,6);
(3) o caminho da bênção (v. 7-1 O).
Tiago explica que o conflito dentro de nós está entre nossos deleites pecaminosos e o desejo de cumprir a vontade de Deus, uma atitude que o Espírito Santo colocou dentro de nós (v. 5). A fonte do conflito entre os cristãos muitas vezes são coisas materiais, ele então, atribui dissensões, assassinatos e guerras ao materialismo – o que João também adverte os cristãos sobre cobiçar o que no mundo há (1Jo 2.15,16). No versículo 7 encontramos duas ordens: primeiro, devemos sujeitar-nos a Deus, abandonando nosso orgulho egoísta (v. 1-6). Sujeitar-se ao Senhor também implica revestir-se de toda a armadura de Deus, uma imagem que inclui tudo, desde depositarmos nossa fé nele a mergulharmos na verdade da Palavra de Deus (Ef 6.11-18). Segundo, devemos resistir a qualquer tentação que o diabo lançar em nosso caminho. Então o maligno não terá outra escolha: ele fugirá, pois pertenceremos ao exército do Deus vivo. – Dito isto, convido-o a pensar maduramente a fé cristã!

I. A EPÍSTOLA DE TIAGO
                                                                 
A Epístola de Tiago é o escrito mais antigo do Novo Testamento e tem por objetivo evitar desentendimentos entre os discípulos de Cristo. Segundo a maioria dos expositores bíblicos, a sua composição não vai além do ano 45 d.C.
 A epístola de Tiago é datada por volta de 45 d. C., bem antes do primeiro concílio em Jerusalém, que se deu por volta de 5 O d. C., o que torna a mais antiga epístola do Novo Testamento. Segundo o historiador Flávio Josefo, Tiago foi morto por volta do ano 62 d. C.

1. Destinatários. A carta foi dirigida especificamente aos primeiros cristãos dispersos, de origem judaica, pelo vasto império romano (Tg 1.1); e, de maneira geral, a todos os crentes em Jesus em todos os lugares e em todas as épocas. Trata-se de um livro prático, muito próximo do Sermão do Monte proferido por Jesus em Mateus 5 a 7 e importantíssimo para a conduta do cristão.
 Os destinatários da epístola são os judeus dispersos convertidos ao cristianismo, daí o tom austero e a linguagem peculiar aos judeus. Nesta epístola, Tiago faz uma contraposição entre o ensinamento judaico de ter fé no único Deus, com o ensinamento do evangelho, que é ter fé em Jesus Cristo, pois de nada adianta alguém dizer que crê em Deus, mas que não obedece o mandamento de Deus, que é crer em Cristo.
Os destinatários da carta são identificados como as “doze tribos que se encontram na Dispersão” (Tiago 1:1). Esta linguagem admite duas interpretações. No Antigo Testamento, a nação de Israel foi conhecida como as doze tribos, descendentes dos filhos de Jacó. Se Tiago usa o termo neste mesmo sentido, o conteúdo do livro mostra que esses judeus seriam pessoas já convertidas a Cristo. No Novo Testamento, porém, o foco está em Israel espiritual, aqueles que imitam a fé de Abraão, independente da sua descendência carnal. O próprio Jesus introduziu esta ideia (João 8:39-40), e seus seguidores empregaram termos como judeus e as doze tribos neste mesmo sentido (Romanos 2:28-29; Apocalipse 7:4 comparado com 14:3-5).” (ESTUDOS DA BÍBLIA)

2. Conteúdo. O conteúdo da epístola parece confirmar essa antiguidade, isso pelos aspectos cristológicos praticamente ausentes. O nome de Jesus só aparece duas vezes nos seus cinco capítulos (Tg 1.1; 2.1). Há pouco ensino doutrinário, pois a assembleia dos discípulos era ainda tida como sinagoga: "Porque, se entrar na sinagoga de vocês um homem" (Tg 2.2, Nova Almeida Atualizada). O termo "igreja" aparece aqui (Tg 5.14), mas o emprego da palavra "sinagoga" como alternativa mostra que Tiago vem de uma época em que os discípulos eram chamados de "o movimento de Jesus”.
- O Reformador Martinho Lutero via esta epístola com muita ressalva, ele não conseguiu enxergar nela os mesmos ensinos paulinos. A má compreensão da abordagem de Tiago fez com que Martinho Lutero detestasse a essa epístola, denominando-a “epístola de palha”. Diferente das epístolas de Paulo, Pedro e João, a carta de Tiago não inclui saudações pessoais. As exortações começam no segundo versículo e continuam até o último. É uma carta didática e moral, não aparece um plano doutrinal previamente elaborado, vemos um desenrolar de temas ao sabor da pena do autor, mas sem fugir ao tema “santidade”, numa convocação a que os crentes vivam o espírito cristão em todas as circunstâncias de um modo coerente com a fé, em perfeita unidade de vida - o comportamento dos crentes tem de ser um reflexo da sua fé. É interessante notar que encontramos apenas em Tiago a ordem de ungir os enfermos (5.13-15). O fato de que o termo ‘sinagoga’ seja utilizado com frequência pode ser explicado pelo público-alvo da carta: os judeus-cristãos dispersos.

3. Tema. Ao separar a fé das obras, a epístola enfatiza o cristianismo prático e nos dá munição para resistir ao Inimigo e ao pecado. Tiago retoma o tema tratado no capítulo anterior sobre a "amarga inveja em sentimento faccioso em vosso coração" (Tg 3.14), próprio de uma sabedoria "terrena, animal e diabólica" (Tg 3.15) e presente na vida daqueles primeiros cristãos. Esses problemas vêm atravessando os séculos e hoje não é diferente, pois o problema da natureza humana permanece o mesmo. O ensino aqui está tratando do caráter cristão que precisa ser afinado com o sentimento de Cristo.
A pequena epístola de Tiago, provavelmente um dos primeiros livros do Novo Testamento, oferece orientações práticas para conduzir cristãos no seu serviço ao Senhor. É interessante notar a praticidade do conteúdo apresentado, sem rodeios e sem enfeites, Tiago trata de temas do cotidiano, por exemplo, ele afirma sobre a sabedoria humana (v. 15,16), que nada mais é que interesse próprio, então não se deve vangloriar-se dela; Não ser apenas tardio para falar, mas deve-se abandonar também a mentira! Se a sabedoria se manifesta sem boa conduta e mansidão, ela não vem do alto. Na verdade, ela é caracterizada como terrena; prudente, segundo os padrões do mundo; sensual (do grego psuchikos), no sentido de natural em oposição a espiritual, e diabólica.
Os temas abordados nos cinco capítulos de Tiago são diversos, todos focando a importância de viver conforme a fé:
● Capítulo 1 enfatiza as atitudes certas diante de provações e tentações e chama os leitores a serem praticantes, e não apenas ouvintes, da palavra do Senhor.
● Capítulo 2 aborda dois assuntos: (1) a condenação de preconceitos socioeconômicos na igreja e (2) a necessidade de obras que demonstram a autenticidade da fé.
● Capítulo 3 apresenta uma das advertências mais fortes do Novo Testamento sobre o uso errado da língua e nos chama a buscar a sabedoria divina.
● Capítulo 4 condena várias atitudes carnais que atrapalham o serviço a Deus.
● Capítulo 5 encerra a epístola com várias instruções que exigem uma perspectiva eterna e espiritual, e não materialista e carnal.” (ESTUDOS DA BÍBLIA)

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Para introduzir a lição dessa semana, sugerimos reproduzir o esquema proposto conforme a sua possibilidade e fazer uma exposição geral a respeito da epístola.
 
II. OS DELEITES DA VIDA

Tiago emprega aqui uma metáfora que ainda hoje usamos em nossos debates, discussões e conversas sobre dificuldades nas mais diversas áreas da vida.

1. Guerras e pelejas (v.1). Há quem afirme que essas guerras e pelejas sejam uma referência às disputas internas que havia entre os judeus de Jerusalém nos levantes contra Roma. A população da Judeia estava dividida nessa época sobre a luta pela libertação do poder romano. Mas não é disso que Tiago está falando aqui. Essas palavras metafóricas são pesadas e mostram o nível das disputas entre os crentes por causas dos deleites, ou seja, os maus desejos interiores (v.2). Não se trata aqui de debates teológicos entre os mestres. A expressão "guerras e pelejas" refere-se às discussões acirradas sobre "o meu e o teu", e isso é muito grave.
Por que existem conflitos, discórdias e males entre as pessoas cristãs? Tiago, o meio-irmão do Senhor, retoricamente, pergunta: "Porventura, não vêm disto, a saber, dos vossos deleites que nos vossos membros guerreiam?" (v.1). Esta é a origem dos conflitos e das discórdias que o autor da epístola descreve na seção bíblica 3.1-3. Quão enganoso e destrutivo é o coração humano! No terceiro capítulo, Tiago demonstra que a maioria das nossas desavenças e tramas perversas é fruto da ambição, ignomínia e sede de vermos o nosso desejo realizado. E qual o objetivo desta realização? O deleite! O líder da igreja de Jerusalém expõe a nudez da alma humana. Daí é que surgem muitas frustrações espirituais e da própria alma. O indivíduo tem uma relação com Deus não segundo a vontade divina, mas a sua própria, pois colocaram em sua cabeça que as bênçãos de Deus são para os seus deleites e prazeres. Neste ponto, Tiago é taxativo: "Cobiçais e nada tendes; sois invejosos e cobiçosos e não podeis alcançar; combateis e guerreais e nada tendes, porque não pedis. Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites" (4.2,3). "Porque não pedis", Tiago destaca esta expressão para compará-la, logo em seguida, com a outra posterior: "Pedis e não recebeis". Porque alguém pede a Deus e não recebe, já que o nosso Senhor prometeu dar-nos tudo o que pedíssemos em seu nome? Esta é uma pergunta que só pode ser respondida à luz de um autoexame sincero, pois a Palavra responde com clareza: "Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites". Temos de ter o cuidado, para não confundirmos a vontade de Deus com a nossa própria. Não podemos usar o nome de Deus para realizar as vontades e os prazeres particulares. Deus não se usa! Portanto, desafie a classe para um autoexame honesto, sincero e transparente à luz da Palavra de Deus. Nada é melhor que o homem desnudar-se na presença do Altíssimo. O nosso Pai sabe o que está em nosso coração e qual a nossa verdadeira motivação de vida diante dEle. Num tempo dominado pelas ambições e prazeres humanos, a palavra ensinada por Tiago chega a uma ótima hora e desafia-nos a olharmos para nós e perguntarmo-nos: o que há em meu coração?” (Revista Ensinador Cristão CPAD, n° 59, p.41.)

2. Os deleites. Ou maus desejos que eram a motivação dessas pelejas: "dos vossos deleites" (v.1).  O termo "deleites" (vv. 1,3) é hedoné que aparece cinco vezes no Novo Testamento para descrever deleites ou prazeres ilícitos (Lc 8.14; Tt 3.3; Tg 4.1,3; 2 Pe 2.13). Originalmente significava o prazer experimentado pelo sentido do paladar, posteriormente por meio dos outros sentidos e da mente; no período helenista, o conceito se restringiu ao significado de "gozo sensual, deleite sexual". É a procura indiscriminada do prazer. O hedonismo permeia o pensamento pós-moderno. Hoje, qualquer esforço disciplinado ou o mínimo de sacrifício para se atingir um objetivo são tratados com profundo desgosto.
 1. Desejos Errados e Desastre Espiritual (4.1,2b) - Tiago dá uma resposta afirmativa à sua própria pergunta, mas ele sabe que é a mesma resposta que seus leitores ouvirão de uma consciência acusadora. Vocês colocaram seu coração naquilo que o mundo pode lhes dar e, como resultado, vocês estão em dificuldade. Desejos mundanos conflitam uns com os outros. Esses deleites (“prazeres”, ARA), que nos vossos membros guerreiam (v. 1), perturbam vossa própria paz de espírito, por isso vocês brigam e matam e espalham o conflito aos outros. O principal problema é que vocês permitem que desejos profanos possuam seu espírito. Esses desejos, se impuros e incontrolados, levam ao desastre espiritual. Se analisarmos esse texto de acordo com 3.14, ele é melhor interpretado por: sois invejosos (“matam”, cf. KJV e NVI e ARA), combateis e guerreais de maneira figurativa. Não é provável que essas coisas tenham, na verdade, ocorrido na comunidade cristã. Tanto Tiago quanto seus leitores cristãos estariam familiarizados com a interpretação de Jesus de que abrigar o desejo perverso consistia, na ótica de Deus, na violação dos mandamentos (cf. Mt 5.21-22). A maioria dos tradutores modernos entende que o versículo 2 apresenta duas sentenças equilibradas, ou seja: “Vocês desejam, mas não possuem; por isso cometem assassinato. E vocês são invejosos e não conseguem obter; por isso, lutam e brigam” (NASB). (A. F. Harper. Comentário Bíblico Beacon. Tiago. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 181-182).

3. Cobiçosos e invejosos (v.2). A versão bíblica ARC (Almeida Revista e Corrigida) omite aqui o verbo "matar" que consta do texto grego: "Vocês cobiçam e nada têm; matam e sentem inveja" (Nova Almeida Atualizada). Esse homicídio não é literal; diz respeito ao ódio, que é como homicídio aos olhos de Deus (Mt 5.21,22; 1 Jo 3.15). A cobiça é o desejo excessivo de possuir o que pertence ao outro, e a inveja é um sentimento de tristeza e pesar pela alegria, felicidade e sucesso de outra pessoa. O cristão deve se contentar com o que tem (Lc 3.14; Fp 4.12; Hb 13.5). Cabe aqui ressaltar que esse ensino não é uma apologia à pobreza e à miséria, pois não é pecado desejar e buscar, de maneira lícita, tudo o que é útil à vida, desde que os nossos desejos sejam afinados com os de Deus.
Cobiçais” No grego é ‘nepithumeo’desejaranelar por, em bom ou em mau sentido. É óbvio que aqui isso deve ser entendido de maneira prejudicial. Tal palavra era com frequência usada para indicar as paixões sexuais descontroladas; mas o presente contexto não limita seu sentido a isso. “Os desejos aqui descritos tornam-se tão fortes, que as pessoas estão prontas até para matar (versão NTLH), com a finalidade de conseguir aquilo que querem. A palavra “matar” pode ser interpretada como uma hipérbole para o ódio e a amargura. Em lugar de reavaliarem os seus desejos, as pessoas descritas por Tiago recorrem à inveja, a lutas, a disputas, e a coisas piores do que estas. Mas, apesar de todo o seu egoísmo e antagonismo para conseguirem o que desejam, elas ainda não podem alcançar estas coisas. Por que? Nós aprendemos (desde quando tivemos o nosso primeiro triciclo até quando dirigimos o nosso primeiro automóvel) que os desejos satisfeitos não trazem tanta satisfação quanto prometem. Algumas vezes, conseguimos realmente aquilo que queríamos, e então descobrimos que ainda não temos aquilo de que realmente necessitávamos - a profunda satisfação que somente nos vem quando somos justificados para com Deus. Se confiarmos somente nos nossos desejos, eles apenas nos levarão às coisas desta terra, e não às coisas de Deus. Em resumo, a mensagem de Tiago é: Nada tendes, porque não pedis a Deus. Em outras palavras: “Vocês não têm o que querem porque não querem a Deus””. (Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682).

4. Adúlteros e adúlteras (v.4). Tiago continua a linguagem metafórica usada desde o Antigo Testamento para descrever a apostasia de Israel e sua infidelidade a Javé, seu Deus. A infidelidade a Deus é em si mesma um adultério espiritual. Tiago especifica que se trata de um assunto que envolve homens e mulheres. Assim como a intimidade, o amor, a beleza, o gozo e a reciprocidade que o casamento proporciona fazem dele o símbolo da união e do relacionamento entre Cristo e a sua Igreja (2 Co 11.2; Ef 5.31-33; Ap 19.7). A antítese segue nessa mesma linha de pensamento, pois de igual modo a infidelidade de Israel, da Igreja ou de um cristão é chamada na Bíblia de adultério espiritual, ou prostituição e fornicação espiritual (Jr 3.8; Ez 16.32; Ap 2.20).
- “A chocante palavra “adúlteros” descreve claramente a infidelidade espiritual das pessoas e tenciona despertá-las para que encarem a sua verdadeira condição espiritual. Estes crentes estavam tentando amar a Deus e ter um romance com o mundo. O fato de Deus expressar, nos termos mais fortes possíveis, a importância da fidelidade deve nos inquietar. Os padrões bíblicos de comportamento pessoal, conjugal e espiritual estão sob constante ataque de erosão. Nós somos constantemente bombardeados pela mensagem da transigência. Do ponto de vista do mundo, nós devemos ser flexíveis, tolerantes ao pecado, e complacentes. Mas isto não funciona, porque a amizade do mundo é inimizade contra Deus. Para os crentes, o mundo e Deus são dois objetos distintos de afeto, mas são completamente opostos. O mundo é o sistema do maligno, que está sob o controle de Satanás; ele representa tudo o que é contrário a Deus. Ter amizade com o mundo, portanto, é adotar os seus valores e desejos (veja também Rm 8.7,8; 2 Tm 4.10; I Jo 2.15-17). Estes crentes podem amar verdadeiramente a Deus, mas também são atraídos pelos benefícios do sistema deste mundo. Eles adoram a Deus, mas podem desejar a influência, os padrões de vida, a segurança financeira, e talvez um pouco da liberdade que o mundo oferece. A busca destas coisas só irá minar a generosidade, os cuidados, e a divisão de recursos que deveriam caracterizar os cristãos. Qual é, então, o relacionamento adequado de um crente com o mundo? Alguns usaram declarações bíblicas como esta de Tiago como a base para uma retirada radical do “mundo”. Mas a retirada não é a solução. Embora seja verdade que nós somos chamados para estar no mundo mas não pertencer a este mundo (Tg 17.14), deveríamos amar as pessoas deste mundo o suficiente para lhes transmitirmos o Evangelho. Para fazermos isto, precisamos nos relacionar com elas sem nos relacionar com as coisas deste mundo que são contrárias a Deus (veja 1 Jo 3.15-17).”(Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 682-683).

SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO

Para contrapor a ideia de vida egoísta e de pecado, leve em conta este belíssimo texto doutrinário sobre o ensino de John Wesley: “[...] Wesley incita os cristãos no caminho da perfeição completa para empreender obras de misericórdia e de piedade. Ele observa: ‘É por meio da paciente continuação em fazer o bem, em usar toda a graça que já lhe foi concedida, que você deve buscar o dom completo de Deus, a completa renovação de sua alma, a completa libertação do pecado’. Em termos de obras de misericórdia em particular, os crentes devem servir os pobres com vigor e sacrifício diligente, ministrando acerca de suas necessidades materiais e espirituais. Na verdade, em 1748, Wesley escreve que as pessoas engajadas em ministrar aos oprimidos ‘fazem o bem o máximo que podem, até mesmo para o corpo dos homens”. Mas, a seguir, indicando sua preferência por um ministério global, ele acrescenta: ‘Muito mais ele se regozijará se puder fazer algum bem para a alma de algum homem’. E dois anos depois, Wesley continua esse tema em seu sermão [...] (Sobre o Sermão do Monte de nosso Senhor, Décimo Terceiro Discurso) em que escreve: ‘Além de tudo isso, você é zeloso com as boas obras? Você, quando tem tempo, faz o bem a todos os homens? Você alimenta o faminto, e veste o nu, e visita o órfão e viúva em sua aflição? Você visita os que estão doentes? Ajuda o que está preso? Você acolhe o estrangeiro? Amigo, suba mais alto. [...] Ele capacita-o a trazer os pecadores das trevas para a luz, do poder de Satanás para o de Deus’” (COLLINS, Kenneth. Teologia de John Wesley: O Amor Santo e a Forma da Graça. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, pp.372-73)

III. RESISTINDO AO INIMIGO

A ideia de Tiago, ao concluir essa seção da epístola, é a mesma exortação que fez o apóstolo Pedro, inspirado por Levítico 11.44; 19.2; 2 O.7: "mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo" (1 Pe 1.15,16).

1. Tiago apresenta a receita para resistir ao Inimigo. Ele mostra que o Espírito Santo está em nós (v.5), o que é confirmado em outras partes do Novo Testamento (1 Co 3.16; 6.19; Ef 2.22). Na verdade, o cristianismo é a única religião do planeta que tem o Espírito Santo (Jo 14.16,17). Assim, o Espírito Santo em nós não quer um coração dividido: "É com ciúme que por nós anseia o espírito, que ele fez habitar em nós?" (v.5, Nova Almeida Atualizada). Essa vantagem nos permite viver uma vida santa e resistir ao Inimigo. Nisso temos a ajuda de Deus, que "resiste aos soberbos, dá, porém, graça aos humildes" (v.6).
O Espírito tem “ciúmes” (Tg 4.5). Nessa passagem, um aspecto muito importante ressaltado por Tiago sobre o nosso relacionamento com Deus é que o “Espírito, que em nós habita, tem ciúmes” (v. 5). A construção do versículo 5 no original grego não é muito clara, podendo esse texto significar que o espírito humano tem a tendência natural “de opor-se a Deus e ao próximo”, o que estaria implícito na expressão traduzida como “ciúmes”; ou então que o Espírito Santo tem ciúmes de nós, isto é, zelo intenso por nós. A maioria esmagadora dos comentaristas bíblicos, à luz do que afirmam o final do versículo 4 e o início do versículo 6, prefere a segunda interpretação para o versículo 5, que é também a interpretação aceita por mim: Tiago quer dizer aqui que o Espírito Santo de Deus tem ciúmes de nós. O Consolador, aquEle que intercede por nós e em nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26,27) e se entristece frente aos nossos pecados (Ef 4.30), o nosso Ajudador, que nos guia na caminhada espiritual e no relacionamento com o Pai celestial através de Cristo (Rm 8.5-11), tem um forte, intenso e amoroso zelo por nós.” (Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 119-120).

2. A submissão a Deus. Essa submissão e humildade a Deus é descrita de várias maneiras, como "resistir ao diabo" (v.7) e se aproximar de Deus; limpar as mãos, "vós de duplo ânimo" (v.8). O duplo ânimo diz respeito aos crentes indecisos e divididos em suas decisões entre Deus e o mundo (Tg 1.8). Jesus disse que ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24). As mãos são instrumentos das ações e o símbolo de toda a conduta. Para que elas sejam limpas, é necessário primeiro um coração purificado (Sl 24.4; 1 Pe 1.22).
O apóstolo explica em detalhes como se dá essa submissão a Deus, no que ela consiste. Em primeiro lugar, diz ele que é preciso se aproximar de Deus, isto é, buscá-lo sinceramente: “Chegai-vos a Deus” (v.8a). A consequência disso é que Deus se chegará a nós (v. 8b) — ou seja, teremos comunhão com Ele e seremos abençoados pela sua presença em nossas vidas. “Buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração” (Jr 29.13). Em segundo lugar, é preciso se arrepender dos pecados e mudar de atitude: “Limpai as mãos, pecadores” (v.8c). Ter as mãos limpas fala de chegar-se a Deus com a consciência limpa devido ao arrependimento sincero. Paulo fala de levantar as mãos em oração diante do Senhor “sem ira nem contenda” (1 Tm 2.8), purificado. Em terceiro lugar, é preciso dar fim ao “duplo ânimo” (v.8d), isto é, ao hesitar entre Deus e o mundo, ao coxear entre a vontade de Deus e as paixões pecaminosas. Em quarto lugar, “purificai o coração” (v.8e), que significa aqui ter um coração sincero, sem falsidade, sem maldade. Só os puros de coração verão a Deus (Mt 5.8), isto é, só os sinceros de coração poderão ter um relacionamento real com Deus. Ao final, Tiago reforça a necessidade de arrependimento sincero, de quebrantamento verdadeiro perante Deus: “Senti as vossas misérias, e lamentai, e chorai; converta-se o vosso riso em pranto, e o vosso gozo, em tristeza” (v.9)”. (Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 122-123).

3. Os lamentos e os resultados. Tiago continua com as suas exortações: sentir as nossas misérias, lamentar, chorar, substituir o riso pelos lamentos, sentir angústia e nos humilhar diante de Deus (v.9). Essas exortações resultam em bênçãos, entre elas, a de que o Diabo fugirá de nós, e o Senhor nos "exaltará" (v.10. Trata-se de uma vitória completa em Cristo.
- “À medida que Deus se aproxima de nós, devemos sentir a nossa falta de merecimento. Afinal, estamos obtendo a permissão de nos aproximarmos do Deus santo e perfeito. Tiago descreveu um longo processo espiritual nos oito últimos versículos. Ele começou descrevendo as pessoas em conflito umas com as outras e consigo mesmas. A seguir, ele descreveu a origem de tais conflitos nos desejos inapropriados, que são motivados, em grande parte, pela tentativa de permanecer próximas tanto do mundo como de Deus. O desmascarar de uma vida como esta e a convocação dos crentes à humildade pode não ser uma mensagem bem recebida. A rendição pode não vir com facilidade. Desejos arraigados há muito tempo podem reagir com desobediência. O arrependimento poderá ter que incluir a recordação do quanto nós nos afastamos do caminho de Deus antes de termos retornado. Estes termos diferentes, misérias, lamentações, pranto e tristeza captam a luta de uma alma que se aproxima de Deus. Existe uma morte que está acontecendo. É um chamado ao arrependimento profundo e sincero. O riso das pessoas (o riso escarnecedor que se recusou a levar o pecado a sério) e a sua alegria com os prazeres do mundo precisam ser completamente transformados - em tristeza pelos seus pecados (veja também Lc 6.25). Até que isto ocorra, não há espaço para o riso da liberdade verdadeira e a alegria do Senhor. A vida cristã envolve alegria, mas, quando nós percebemos os nossos pecados, precisamos nos lamentar, para que possamos nos arrepender. Somente depois da lamentação é que podemos passar para a alegria na graça que Deus nos dá”. (Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 684). “Sujeitar-se a Deus, submeter-se a Ele, ou, como acrescenta Tiago ainda, humilhar-se diante do Senhor. O resultado dessa atitude é claro: “Humilhai-vos perante o Senhor, e Ele vos exaltará” (v. 10 — grifo meu). Em suma, Tiago nos ensina nessa bela passagem de sua epístola que não há vitória sobre as paixões pecaminosas e nem exaltação espiritual na vida do cristão sem humilhação diante de Deus, sem submissão total à sua vontade, que se dá através desses quatro passos acima elencados a partir de seu próprio texto. E mais: vivendo assim, não teremos, inclusive, conflitos entre nós, porque nossas motivações, desejos e formas de agir estarão completamente harmonizados com a perfeita vontade do Senhor.” (Alexandre Coelho e Silas Daniel. Fé e Obras, Ensinos de Tiago para uma Vida Cristã Autêntica. Editora CPAD. pag. 123). “Humilhar-nos perante o Senhor e admitir a nossa dependência dele significa reconhecer que o nosso valor vem somente de Deus. É reconhecermos a necessidade desesperada que temos de sua ajuda e sujeitarmo-nos à sua vontade para a nossa vida. Embora nós não mereçamos a graça de Deus, Ele nos alcança no seu amor e nos dá valor e dignidade, apesar dos nossos defeitos humanos. Quando fazemos isto, a promessa é certa: Ele nos exaltará e nos dará honra. Um dos exemplos bíblicos mais comoventes desta verdade é encontrado na parábola de Jesus sobre o pai que perdoa (veja Lc 15.11-32). O filho tinha tomado a sua herança e saído de casa para ser amigo do mundo. Somente depois que se encontrou falido em todos os aspectos é que ele se arrependeu e, entristecido, voltou para casa. O filho confessou ao seu pai que era indigno de ser chamado de filho. Mas o pai o exaltou e o recebeu de volta à família. O ato de retornar exigiu submissão. As palavras de arrependimento do filho rebelde exigiram humildade. O resultado final foi uma grande alegria. A humildade perante Deus será seguida da nossa exaltação.” (Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal. Editora CPAD. Vol. 2. pag. 685).

SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ

Para concluir a lição desta semana, sugerimos uma reflexão com os alunos acerca do “ser cristão”. Ora, ser cristão é submeter-se inteiramente a Cristo. Mas o que isso significa na prática? Faça essa reflexão a partir deste texto da espiritualidade clássica pentecostal: “O segredo do Cristianismo está em ser. Está em ser possuidor da natureza de Jesus Cristo. Em outras palavras está em ser: Cristo em caráter; Cristo em demonstração; Cristo em poder de transmissão. Quando o indivíduo se entrega ao Senhor e se torna filho de Deus, ele passa a ser como um cristo-homem – um cristão. Tudo o que a pessoa faz e diz dali em diante deve ser a vontade, as palavras e as obras de Jesus, da mesma maneira como Jesus falou e fez absoluta e completamente a vontade do Pai” (LAKE, John G. Devocional. Série: Clássicos do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.43-44)

CONCLUSÃO

Tiago relaciona uma série de exortações que, se praticadas em conjunto, resultarão na completa resistência ao Inimigo de nossa alma.  O que Deus espera de nós é que sejamos santos como Ele é santo. Resistir ao Inimigo, no contexto de Tiago, resume-se em que cada um de nós sujeitemos-nos à vontade de Deus e cheguemos-nos a Ele; e devemos ainda purificar as mãos e limpar o coração. É essa dependência de Deus que nos leva à vitória em Cristo.
- Tiago abre o capítulo 4 perguntando: “Donde vêm as guerras e pelejas entre vós?”. Em seguida, responde retoricamente: “Porventura, não vêm disto, a saber, dos vossos deleites, que nos vossos membros guerreiam?” (v.1). Aqui, o líder da igreja de Jerusalém denuncia o tipo de sabedoria que estava predominando na igreja: a terrena, animal e diabólica. Por quê? Ora, entre aqueles crentes havia “guerras e pelejas” e “interesses dos próprios deleites”, enquanto os menos favorecidos estavam à margem dessas ambições. Estava nítido que eles não semeavam a paz. Nós possuímos desejos legítimos à luz da Bíblia, a realização profissional, pessoal e o desejo de uma melhor qualidade de vida são anseios de todo homem, e as Escrituras não proíbem isso. Entretanto, o problema existe quando esse anseio torna-se uma obsessão, um desejo cego, colocando o Senhor nosso Deus à margem da vida para eleger um ídolo: o sonho pessoal. A partir dos ensinamentos do Senhor Jesus, desfrutaremos da verdadeira felicidade em Deus. Que venhamos atentar para o ensinamento desta lição, humilhando-nos na presença de Deus através de Cristo Jesus. Ao concluirmos o estudo dessa semana veremos que não se pode abrir mão de Deus para realizarmos os nossos sonhos, pois os dEle devem estar em primeiro lugar!

Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16).
  
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

LIÇÃO 4: POSSESSÃO DEMONÍACA E A AUTORIDADE DO NOME DE JESUS



SUBSÍDIO I

 Possessão Demoníaca e a Autoridade do Nome de Jesus 

A possessão demoníaca só pode ser vencida com a autoridade do nome de Jesus. Ela é uma realidade espiritual que escraviza pessoas e faz com que elas não tenham domínio sobre suas faculdades psíquicas, transformando-as em pessoas destituídas de qualquer lucidez para a vida. Só a autoridade do nome de Jesus pode libertar tais pessoas dessa escravidão espiritual.

Sobre o texto temático

O texto sobre o qual recai a nossa atenção para a lição desta semana é o de Marcos 5.2-13. A narrativa fala a respeito do endemoninhado gadareno. Este primeiro tópico refere-se sobre a questão da harmoniada narrativa, a opressão dos demônios sobre a pessoa e o quadro estarrecedor que os demônios fazem a pessoa viver. Aqui, é preciso dar importância ao estudo da harmonia das narrativas. O texto dos Evangelhos mostra duas versões que variam o número de endemoninhados. Aqui, sugiro a leitura do Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, nas seções que abordam as narrativas de Marcos 5.1-20, Mateus 8.28-34 e Lucas 8.26-39. Mais importante que as os pormenores de questões de harmonização das narrativas, são que as seções dos Evangelhos mostra no quadro aterrador de uma possessão maligna.

Sobre a Legião

A possessão sobre o gadareno era um fenômeno constituído de uma variedade singular de demônios. Era uma legião. Eram muitos demônios incorporados numa pessoa. O quadro mostra que para expulsar esses demônios era necessário o uso da autoridade do nome de Jesus (neste caso, acrescido de jejum e oração). Isto é o que o presente relato quer mostrar: os demônios só deixam a pessoa em nome de Jesus.

Sobre o poder de Jesus

O terceiro tópico mostra que os demônios sabem quem é Jesus e a soberania dEle sobre eles mesmos. A autoridade de Jesus trouxe o gadareno de volta ao seu perfeito juízo. Esta é a obra que o Senhor ordenou para que o seu povo fizesse: libertar os cativos. Só o nosso Senhor pode fazer isso pelo pecador. Não há como enfrentar o Maligno por meio de uma força própria. Ele só pode ser vencido pela autoridade do nome de Jesus. Ou seja, não há força ou sabedoria humana que possa livrar uma pessoa das "mãos" dos demônios. Mas só o nome soberano de Jesus pode livrar a humanidade desse mal! Revistamo-nos, pois,de toda a armadura de Deus! 

Texto extraído da Revista Ensinador Cristão (Ano 20 - nº 77 - jan/fev/mar de 2019)

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Os demônios atuam na esfera humana, ainda que alguns tentem negar essa verdade. A ciência moderna, com o objetivo de reduzir tudo ao material, atribui a possessão demoníaca aos transtornos mentais. Essa, no entanto, é uma realidade no contexto bíblico, reforçada pela experiência. Na aula de hoje, estudaremos a respeito da realidade da possessão demoníaca, e o mais importante, a autoridade de Jesus sobre as potestades espirituais.

I. ANÁLISE TEXTUAL
                                                                 
Logo após Jesus sair do barco, pois estava ensinado às pessoas, saiu-lhe ao encontro um homem com um espírito imundo – pneumati akatharti – isto é, um espírito impuro. E esse, fazia com que aquele homem morasse nos sepulcros, e tinha uma força extraordinária, de modo que ninguém podia prender – o verbo grego é deô, indicando que nada podia atá-lo, ou mais precisamente, amarrá-lo (v.2). E isso é reforçado no versículo seguinte, pois muitas vezes foi preso com grilhões – pedais – correntes e cadeias – halusesin – prisões, mesmo assim, sua força era tão grande que fazia as correntes e cadeias não passarem de migalhas – synthretipetai – destruindo em pedaços (v. 3). E mais, esse espírito imundo o impulsionava a andar de dia e de noite clamando pelos montes, fazendo com que o homem ferisse a ele mesmo com pedras. Paradoxalmente, quando esse homem vê Jesus, corre para o adorar – prosekynesen – se prostrando aos seus pés. E reconhece que Jesus é o Filho do Deus Altíssimo – huie tou Theos ho hupsistos. O demônio pede a Jesus que não o atormente – basanizo, que dá ideia de perturbar. Jesus, com autoridade divina, pergunta qual o nome daquele demônio, e esse responde: Legião – legion, e o próprio explica – porque somos muitos (v. 9). O demônio roga a Jesus para que não o enviasse para fora daquela província – chora – região, país ou área de atuação. Naquela ocasião, pastava no monte uma grande manada de porcos, e os demônios rogaram a Jesus para que os mandasse para entrar nos porcos. Jesus permitiu, os espíritos imundos entraram nos porcos, e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar, e ali se afogou (v. 13).

II. INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Esse episódio ocorreu próximo a Gerasa, uma cidade pequena próxima ao mar, na narrativa de Mateus, é especificado que era na região de Gadara (Mt. 8.28). Havia ali . um demônio – espírito imundo – que se apoderava de um homem e que o tentava destruir. Essa realidade é coerente o que Jesus ensinou, o diabo veio para roubar, matar e destruir (Jo. 10.10). Aquele homem cortava a si mesmo, utilizando-se de pedras, tendo tendências autodestrutivas. Há quem defenda que toda tendência suicida é demoníaca, mas isso nem sempre é verdade. Existem pessoas que têm problemas mentais e que demandam tratamento especializado. Mesmo assim, não se pode negar que as potestades do mal se aproveitam da vulnerabilidade humana para inculcar tendências autodestrutivas (Mc. 5.5). Esse demônio se apropria da voz daquele homem, isso mostra que os espíritos imundos podem se utilizar das funções biológicas, inclusive dando-lhe maior capacidade, considerando que ninguém podia prender aquela pessoa. A partir desse texto, aprendemos também que os demônios agem de maneira orquestrada, em alguns casos, como um exército, já que se chamava Legião, que em Roma era composta por 6.000 soldados, não sabemos ao certo se esse era o total de demônio existentes naquele homem, mas certamente eram muitos (Mc. 5.9). Os porcos, no contexto da cultura judaica, eram considerados animais impuros, por isso, os demônios pediram para serem lançados neles (Mc. 5.13). Jesus permitiu que tais espíritos fossem para os porcos, e esses morreram ao caírem no despenhadeiro. É digno de destaque que as pessoas daquela região, ao invés de ficarem satisfeitas com a libertação do homem, preferiram lamentar o prejuízo, deixando de ver a importância da restauração da sua condição normal.

III. APLICAÇÃO TEXTUAL

Os demônios existem, e continuam atuando nos dias atuais, mas o poder deles está limitado, Jesus tem autoridade para expulsá-los, como fez nos tempos antigos. A presença do Senhor, em ambientes dominados pelas forças do maligno, pode fazer com que esses sejam modificados. O fato de Jesus ter perguntado o nome dos demônios não é fundamento para entrevistá-los, como fazem algumas igrejas neopentecostais em programas televisivos. Além disso, não podemos deixar de considerar que o diabo é o pai da mentira, portanto, não é digno de crédito. É preciso também ter cuidado, para não supervalorizar a atuação demoníaca, e não fazer propaganda demasiada da sua atuação. Existem pregadores que falam tanto a respeito do demônio em suas preleções que esquecem de enfatizar a cruz do nosso Senhor Jesus Cristo, que deve ser nossa mensagem central. Existem, nesses tempos difíceis, muitas pessoas que estão debaixo do controle das hostes infernais, precisamos continuar pregando a boa nova do Reino de Deus, e expulsando os demônios na autoridade de Jesus. Mas devemos saber, conforme nos é revelado nas Escrituras, que expulsar demônios não tem por objetivo espetacularizar o evangelho. Muito pelo contrário, o mais importante é o Reino de Deus, e o ato de expulsar os demônios é apenas um sinal, que antecipa o “já”, do “ainda não”, quando os poderes das trevas serão definitivamente destronados. Assim, com a autoridade do nome de Jesus, devermos expulsar os demônios, mas não podemos deixar de anunciar que o reino de Deus está no meio de nós.

CONCLUSÃO

Os demônios continuam atuando no planeta terra, e instrumentalizando pessoas para causar a destruição delas mesmas, bem como de outros. Na autoridade do nome de Jesus, podemos expulsá-los, a fim de que essas pessoas sejam libertas, e possam viver para a glória de Deus. É importante que estejamos cientes do poderio de Jesus sobre os poderes das trevas, e que ao expulsamos os demônios, estamos antecipando a realização do reino de Deus, que terá sua plenitude no futuro.

José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog subsidioebd.blogspot.com

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

O relato do endemoninhado gadareno encontra-se também em Mateus e Lucas, com algumas variações. O fato revela informações sobre a possessão demoníaca e o poder absoluto de Jesus sobre todo o reino das trevas. É o prenúncio da vitória final de Cristo sobre Satanás e seus anjos. E não somente isso, mas também uma prova viva de que podemos confiar em Jesus.
Já temos visto nas lições anteriores que os demônios são anjos caídos, espíritos maus (também chamados de imundos) a serviço de Satanás; Hoje veremos que estes espíritos podem apossar-se de pessoas e dominá-las completamente, causando tormentos, doenças, deformidades físicas, convulsões e principalmente transtornos mentais. É interessante notar que, mesmo sendo contrários ao Senhor e aos Seus santos, estes espíritos continuam ‘estremecendo’ diante do Nome do Senhor; Referem-se a Deus como o “Deus Altíssimo” (Mc 5.7; At 16.17) e a Jesus como o “santo de Deus” (Mc 1.24) ou o “Filho do Deus Altíssimo” (Mc 5.7). Eles chegam a falar dos dois temas contrários: a salvação (At 16.17) e o dia do juízo (Mt 8.29). Lucas registra o encontro de Jesus com o endemoninhado de Gadara e sua libertação (Lc 8.35). Esse encontro provocou diferentes reações nos homens e naqueles espíritos imundos:
● Os demônios pediram “com insistência” a Jesus que os transferisse do corpo daquele homem para os porcos que pastavam nas imediações.
● Os gadarenos pediram “com insistência” que Jesus saísse da terra deles.
● E o ex-endemoninhado pediu “com insistência” que Jesus o deixasse permanecer na companhia dele. O que foi liberto escolheu confiar no Senhor – Dito isto, convido-o a pensar maduramente a fé cristã!

I. A POSSESSÃO MALIGNA
                                                                 
1. Harmonização nas narrativas. Mateus afirma que foram dois endemoninhados (Mt 8.28). Mas Marcos e Lucas registram apenas um (Mc 5.2; Lc 8.27). Os pormenores descritos em Marcos são de um só, razão pela qual a narrativa está concentrada nele. Marcos e Lucas registraram apenas o mais violento e o mais feroz deles. O outro detalhe é que Mateus apresentou apenas um resumo do episódio, pois a sua ênfase é a autoridade de Jesus sobre os espíritos malignos. Mateus omite o fato de o porta-voz dos demônios se identificar como "legião" e também o desejo de o gadareno, após sua libertação, seguir a Jesus.
 Em Mateus 8.28-34, encontramos a história da cura de dois endemoninhados gadarenos, já nos relatos paralelos de Marcos 5.1-14 e Lucas 8.26-34, falam de um homem curado por Jesus. Talvez alguns algozes das Escrituras afirmem tratar-se de uma contradição, no entanto, a diferença pode ser explicada. “A explicação, neste caso, é que Mateus foi mais detalhista em seu escrito, como aconteceu também no relato que ele fez a respeito da cura de dois cegos (Ver Mt 20.30). Quanto a Marcos e Lucas, eles se ocuparam apenas em focalizar o endemoninhado proeminente. O que devemos levar em consideração no relato desses evangelistas é o propósito de suas narrativas. Ou seja, seu ponto principal: houve ou não o milagre da libertação? Os autores têm a mesma posição quanto ao poder de Cristo? São unânimes ao demonstrar evidências de que Jesus era de fato o Messias ou vacilam nas credenciais messiânicas? Podemos perceber, no Novo Testamento, que todos os evangelistas procuram apresentar evidências conclusivas sobre a vida, ministério, sacrifício, morte e ressurreição de Jesus. E não apenas os evangelistas, mas os inimigos de Cristo (as classes religiosas de sua época e os historiadores céticos) também registram essas evidências. Quanto aos pormenores, cada um escreveu segundo sua própria perspectiva. E faziam isso de acordo como os detalhes lhes saltavam aos olhos: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida (Porque a vida foi manifestada, e nós a vimos, e testificamos dela, e vos anunciamos a vida eterna, que estava com o Pai, e nos foi manifestada); o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para que também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo. Estas coisas vos escrevemos, para que o vosso gozo se cumpra” (1 Jo 1.1-4).” (Extraído de: http://www.cacp.org.br/jesus-curou-um-ou-dois-endemoninhados-em-gadara/. Acesso em: 19 Jan, 2O19).

2. A opressão. Os demônios aparecem como agentes de Satanás causadores de males, dando às suas vítimas características típicas, como força sobre-humana (Mt 8.28; 17.15; At 19.16), poder de adivinhar (At 16.16) e conhecimento sobrenatural (v.7). Eles atacam suas vítimas e, ao possuí-las, dominam suas faculdades mentais, levando-as à demência (Mt 4.24; 17.15) e às vezes incapacitando-as de falar e de ver (Mt 9.32; 12.22).
Atenção aqui neste subtópico, é preciso diferenciar possessão de opressão. Muitos professores bíblicos descrevem a influência demoníaca sobre um cristão como "opressão demoníaca" para diferenciá-la da possessão. “Possessão demoníaca significa que a pessoa pertence ao diabo, que está dominando sua vida através de demônios. Opressão demoníaca é uma influência espiritual maligna, que pode até ser muito forte, mas não significa necessariamente que a pessoa pertence ao diabo. Um cristão pode sofrer opressão demoníaca, mas não pode ser possesso, porque pertence a Jesus.” Já vimos nas lições anteriores que o crente que experimentou o novo nascimento não está mais sujeito à possessão demoníaca, apesar de encontrarmos textos bíblicos que afirmam que o diabo procura devorar os crentes (1Pd 5.8), e que Satanás e seus demônios preparam ciladas contra os cristãos (Ef 6.11), mas isto não implica possessão; foi assim que Satanás se arvorou contra Jesus (Lc 4.2). Podemos aprofundar um pouco mais esse assunto e afirmar que o crente poderá sofrer opressão quando este crente ‘permite’ o sucesso desses ataques. Confissão e arrependimento de pecados são necessários para restaurar a comunhão com Deus, o qual pode, então, quebrar o poder de influência demoníaca. O apóstolo João nos dá um grande incentivo nesta área: "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive pecando; antes o guarda aquele que nasceu de Deus, e o Maligno não lhe toca" (1Jo 5.18).

Tentado, não cedas, ceder é pecar
Melhor e mais nobre, será triunfar
Coragem, ó crente, domina o teu mal
Deus pode livrar-te de queda fatal
(Harpa Cristã – Hino 75, Em Jesus Tens a Palma da Vitória).

 Mas cuidado! Facilmente ‘acusamos’ o adversário por coisas ruins que nos acontecem. Esquecemos que nossos problemas também podem ter causas naturais, ou ser fruto de nossas próprias ações. Interessante é que o Reformador alemão Martinho Lutero afirmava que “O diabo é o diabo de Deus” - Lutero, convicto da soberania de Deus, deixa claro que, conquanto satanás seja maligno e ardiloso, ele também está sob o domínio de Deus! A sabedoria de Deus é tão elevada que muitas vezes os atos do diabo acabam, em última análise, contribuindo para os propósitos de Deus, veja o exemplo de Jó.

3. Um quadro estarrecedor. O endemoninhado gadareno vivia nos sepulcros, desnudo, e era tão violento que nem mesmo os grilhões e as cadeias podiam detê-lo. Corria pelos montes e desertos e se feria com pedras. O fato de procurar viver nos sepulcros já era uma demonstração de sua total anomalia. O comportamento violento e sobrenatural do gadareno, para sua própria destruição, e para a perturbação de seus vizinhos, revela a natureza destruidora de Satanás.
Este é o relato mais terrível, e mais horripilante, do estado dos endemoninhados descritos pela Palavra de Deus. O Pr David Wilkerson escreve: “Havia uma grande quantidade de sepulcros próximos dos arredores de Gadara. E entre esses sepulcros havia um homem possesso por 2000 espíritos imundos. Não se consegue nem mesmo tentar imaginar o tormento que esse homem possuído por demônios suportava. As escrituras dizem que ele gritava e clamava a noite toda, rasgando suas roupas e se cortando com pedras. Simplificando, ele vivia como animal selvagem, e ninguém podia ajudá-lo. Satanás tornara esse homem atormentado uma propriedade sua.
Segundo Mateus, tais endemoninhados eram tão ferozes, que ninguém podia passar por aquele lugar, Mt 8.28, "Tendo ele chegado à outra margem, à terra dos gadarenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados, saindo dentre os sepulcros, e a tal ponto furiosos, que ninguém podia passar por aquele caminho". Tal era a ferocidade deste homem, que mesmo que alguém o prendesse com correntes, estas eram por ele despedaçadas, Vs. 4. Pessoas endemoninhadas normalmente, têm uma força descomunal.
"Andava dia e noite gritando e ferindo-se com pedras", Vs. 5. Três coisas temos aqui:
a) Não dormia – "...andava de dia e de noite",
b) Gritava desesperadamente – "...clamando por entre os sepulcros".
c. Cortava-se com pedras pontiagudas – "...ferindo-se com pedras".
Seu espírito e mente estavam desarranjados. Lucas menciona um fato adicional: "Vivia despido", Lc 8.27, "Logo ao desembarcar, veio da cidade ao seu encontro um homem possesso de demônios que, havia muito, não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros".
Triste, era o quadro deste homem. Esta é a situação a qual uma pessoa sem Deus pode chegar. Quando Jesus não é o centro de sua vida, você pode ser vítima destes demônios, que não tanto podem possuir-lhe, como podem influenciar sua mente, transformando-o num joguete de Satanás.” (Extraído de:http://www.ibvir.com.br/sermoes/endemoninhado_gadareno_a.htm. Acesso em: 19 Jan, 2O19)

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

O comentarista da lição menciona que “os pormenores descritos em Marcos são de um só, razão pela qual a narrativa está concentrada nele”. O destaque aqui são os textos de Mateus 8.28, Marcos 5.2 e Lucas 8.27. À luz do primeiro tópico, faça um exercício comparativo desses três textos e aponte, juntamente com a turma, “os pormenores” de ambos. Esse exercício é muito importante, pois abre o entendimento dos alunos para a abrangência dos Evangelhos em suas diversas facetas. É possível, assim, compreender que os pontos distintos entre os Evangelhos não se excluem, mas complementam-se, ratificando a fidedignidade do texto bíblico.
                                
II. A LEGIÃO DEMONÍACA

1. Uma legião. Jesus perguntou como o espírito imundo se chamava, ao que ele respondeu: "Legião é o meu nome, porque somos muitos" (v.9). Uma legião romana era constituída por 6.000 soldados. Ainda que o número de demônios não seja exato, ou que Legião seja uma identidade, eles eram muitos. Eles são numerosos e poderosos, organizados e batalham sob uma mesma bandeira, a de Satanás.
Note o versículo 6: “E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou-o”. O demônio, ainda fingindo, tentou adorar a Jesus. Eles conheciam Jesus, e sabiam de seu ministério, e ainda que era Filho de Deus. Isto os levavam a fingir que o adoravam: "Também os espíritos imundos, quando o viam, prostravam-se diante dele e exclamavam: Tu és o Filho de Deus!" (Mc 3.11). Ao aproximar-se de Jesus, o Senhor pergunta seu nome e ele declara que não estava sozinho, mas com uma legião. A Legião Romana era a maior unidade militar do exército romano, consistido de centúrias como a unidade básica. Segundo o site romanmilitary, uma legião era formada pelo somatório de dez coortes (com 5OO homens em cada, totalizando 5 OOO em armas) - Ou seja, um grande número de soldados que mostrava o poderio militar de Roma.. Os demônios, são organizados em companhias, e quase sempre, não estão sozinhos no corpo de alguém. “mas o principal da compreensão não esta alí, saber o número exato da Legião de demônios, o evangelista quer nos dizer que em relação ao demônio Jesus derrotou de tal maneira, que eles são incapazes e inoperantes para alcançar o domínio definitivo. A presença de Cristo privou todas as forças malignas e diabólicas de qualquer poder, com a sua ressurreição.” (WEISER, ALFONS, O que é milagre na Bíblia, para você entender os relatos dos Evangelhos, edições Paulinas, São Paulo, 1978, pág.94-1O8.)

2. Expulsar e não dialogar. Alguns procuram estabelecer diálogo com os demônios porque Jesus perguntou ao espírito imundo qual era o seu nome. Isso é visto com frequência nos movimentos neopentecostais pela mídia televisiva. "Expulsai os demônios" (Mt 1O.8). Esta é a ordem que recebemos do Senhor, e não de manter diálogo com eles. O Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Ninguém deve acreditar nem ficar impressionado com as declarações dos demônios, porque eles são mentirosos. Isso ocorreu porque o demônio era obrigado a confessar publicamente quem era o responsável pela miséria do gadareno.
 Note que em Marcos 1.21-26, Jesus entra numa sinagoga para ensinar às Escrituras e se depara com um homem “possesso” que se dirige a Ele e diz: “Que temos nós contigo, Jesus Nazareno? Vieste para destruir-nos? Sei quem és tu, o Santo de Deus”. Jesus não dialoga, não pergunta o nome ou por que oprime aquele homem, somente repreende dizendo: “Cala-te e sai dele”. Podemos observar também que, ainda, no capítulo 1.34, é dito que Jesus, ao realizar exorcismos, não “permitia que os demônios falassem, porque eles sabiam quem ele era”. O diálogo de Jesus com a legião de demônios, além de ser o único evento em que Jesus conversa com um ou vários demônios, não é um ensinamento e nem sequer uma base para se conversar e entrevistá-los no momento do exorcismo como vemos nos “cultos” de libertação nas igrejas/seitas neopentecostais, onde se fazem os mais variados tipos de perguntas e, sobretudo, perguntas irrelevantes e patetas aos “supostos demônios”. O diálogo de Jesus com aquela legião de demônios perguntando seu nome não era porque ele não sabia quem eram aqueles demônios. Jesus, como Deus que é, Onisciente e Soberano sabia quem eram aqueles demônios, entretanto, o diálogo e a pergunta revela-nos o seu poder superior sobre o poder dos demônios. Adolph Pohl corrobora que Jesus não perguntou o nome daqueles demônios por não saber, mas para demonstrar que tudo tem de ser entregue a ele. (Comentário Esperança. Marcus, pág 122.)

3. A presença de Jesus. O poder e a presença de Jesus incomodam o reino das trevas. O espírito imundo perguntou: "Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?" (Mt 8.29). Isto mostra que a presença de Jesus é um tormento para o reino das trevas e também que esse encontro serviu como prenúncio da condenação final do Diabo e seus anjos (Mt 25.41).
Jesus não ordenou que os demônios manifestassem no homem ou nos homens sob o domínio deles. Os demônios simplesmente quando viram Jesus logo manifestaram. “...a prática de ordenar que o demônio manifeste e conversar com ele conforme é visto nos cultos de libertação nas igrejas/seitas neopentecostais não é coerente com o tipo de exorcismo que as Escrituras ensinam. Tal prática é uma crença pagã antiga onde se acreditava que o conhecimento do nome de uma entidade espiritual que estava possuindo uma pessoa conferia poderes mágicos ao exorcista que era capaz de expulsá-la do corpo da pessoa possessa e até destruí-la. Champlin ressalta que os nomes de vários deuses pagãos nunca eram proferidos, e eram mantidos em segredo por temor que, conhecidos esses nomes, ficaria prejudicado o poder dessas divindades entre o povo, pois algo de sua distinção era prejudicado.[2] Jesus nem sequer os apóstolos utilizavam tal prática pagã no exorcismo, mas, simplesmente, repreendiam o demônio da pessoa que estava sob o seu poder e domínio ordenando-o que fosse embora. O que passar disso no exorcismo não é do agrado de Deus e, sobretudo, fora dos padrões estabelecidos por ele nas Escrituras.” (CACP). O Texto de Marcos e de Lucas traz algo interessante: “Dizendo: Ah! que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus”. (Mc 1.24)” - É notável que este seja o único exemplo em que esse nome é dirigido ao nosso Senhor, embora seja usado por Ele antes de Seu nascimento em Luas 1.32. Em Atos 16.17, uma moça possuída com um espírito de adivinhação, fala de Paulo e seus companheiros como servos do ‘Deus Altíssimo’. O título, "Filho de Deus" é frequentemente dado a Cristo. As pessoas às vezes são chamadas de filhos, ou filhos de Deus, para denotar sua adoção em sua família (1Jo 3.1). Mas o título dado a Cristo denota sua superioridade aos profetas (Hb 1.1); a Moisés, o codificador do judaísmo (Hb 3.6); denota sua relação única e próxima com o Pai, como evidenciado por sua ressurreição (Sl 2.7; At 13.33); denota sua relação especial com Deus de sua concepção miraculosa (Lc 1.35); e é equivalente a uma declaração de que ele é divino ou igual ao Pai.

SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO

Ao final desse tópico, seria importante levar o aluno um relato consistente de um caso de possessão demoníaca em que algumas características reais podem ser demonstradas. Sugerimos um dos casos mencionados em uma das obras do teólogo pentecostal Myer Pearlman, Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, onde o estudioso cita o Dr. Nevius, missionário na China, em que ali se descreve que os casos de pessoas possuídas na China são os mesmos apresentados nas Escrituras. Neles, as pessoas manifestam uma espécie de dupla consciência. O Dr. Nevius exemplifica isso com o caso de uma senhora chinesa que, apesar de estar sob a influência de um demônio, cujo impulso era fugir da presença de Cristo sentiu-se movida por uma influência oposta, a deixar seu lar e buscar ajuda de Jesus. Ainda sobre esse aspecto, o Dr. Nevius chega a seguinte conclusão: “A característica mais surpreendente desses casos é que o processo dá evidências de outra personalidade, e a personalidade normal nessa hora está parcial ou totalmente dormente. A nova personalidade apresenta feições de caráter diferentes por inteiro, daqueles que realmente pertencem à vítima em seu estado normal, e esta troca de caráter tende, com raras exceções, para a perversidade moral e impureza... Muitas pessoas, quando possuídas de demônios, dão evidências de um conhecimento do qual não podem dar conta em seu estado normal. Muitas vezes parece que conhecem ao Senhor Jesus Cristo como uma pessoa divina, e mostram aversão e temor a Ele”.

III. O PODER DE JESUS

1. Os demônios sabem quem é Jesus. O relato da possessão do gadareno e de sua libertação é uma amostra do poder absoluto de Jesus até sobre todo o reino das trevas. Os próprios demônios sabem quem é Jesus (At 19-15) e conhecem a sua procedência: "Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus" (Mc 1.24). Eles têm medo de Jesus e estremecem diante dEle (Tg 2.19). Jesus veio para desfazer as obras do Diabo (1 Jo 3.8). Os demônios sabem que há um tempo determinado para o juízo divino sobre as hostes infernais e temem por isso.
- A Bíblia revela a doutrina de que os espíritos malignos não estão agora aprisionados na sua totalidade como serão depois do juízo (2Pd 2.4; Jd 1.6). Eles sabiam que estavam condenados. Eles sabiam que o Filho de Deus seria o vencedor. Porém, eles não sabiam, até que isso ocorresse, que Cristo viria antes do tempo da derrota final. Ele tratou Jesus como homem desprezado (“Jesus de Nazaré” – ‘pode vir alguma coisa boa de Nazaré?’ (Jo 1.46)) e como Deus glorioso (“o Santo de Deus”). Talvez até conhecesse os textos do Salmo 22 (“Eu sou verme e não homem, motivo de zombaria e objeto de desprezo do povo”) e de Isaías 53 (“Foi desprezado e rejeitado pelos homens, homem de dores e experimentado no sofrimento”). Para ele, Jesus não era filho de José, marido de Maria, mas do Deus Altíssimo. O espírito impuro foi obrigado a reconhecer a autoridade e o poder de Jesus, contra o qual não ofereceu resistência. Ele estava bem por dentro do fim dos tempos, quando o Diabo será lançado no lago de fogo que arde com enxofre para ser atormentado “dia e noite, para todo o sempre” (Ap 20.10).

2. A soberania de Jesus. Nessa passagem, vemos que aqueles demônios, ou pelo menos o porta-voz deles, suplicando, pediram três coisas: que Jesus não os mandasse para outra região (v.1O), que não os mandasse para o abismo antes do tempo (Mt 8.29), e que lhes permitisse entrar na manada de porcos que passava pelo local na ocasião (vv.11,12). Os demônios não são nada diante do Senhor Jesus. Marcos parece mostrar Satanás e seus demônios como inconvenientes, e não como seres todo-poderosos diante de Jesus (Mc 1.23-26,34; 3.11). O inimigo de nossa alma não pode fazer o que quer (Jó 1.12; 2.4-5). Os demônios fizeram esses pedidos porque não podiam resistir ao poder de Jesus.
 Os demônios, como em outras ocasiões, reconheceram Cristo como sendo o Filho de Deus e temeram o tormento que inevitavelmente sofreriam. Atendendo um pedido, Jesus permitiu que os demônios entrassem em uma manada de porcos que estava nas proximidades - Marcos afirma que eram quase dois mil. O resultado foi que toda a manada morreu nas águas do lago (30-32). Aqueles que guardavam os porcos fugiram até à cidade para contar tudo o que havia ocorrido (33). Toda aquela cidade saiu ao encontro de Jesus. O povo, tomado pelo medo (Lc 8.38) rogou que Ele se retirasse do seu território (das suas “fronteiras” ou do seu “distrito”). Eles tiveram medo do poder de Jesus. Algumas vezes, duas questões têm sido formuladas a respeito desse acontecimento. A primeira é: Por que Jesus permitiu que esses porcos fossem destruídos? Houve quem sugerisse que Ele queria confirmar a fé dos dois endemoninhados curados, por esta evidência visível de que os demônios haviam realmente deixado os seus corpos. Alguns pensam que Jesus fez isso para mostrar à multidão o poder tremendo e as tendências destrutivas que os demônios possuem. Trench escreve sobre o relato onde somente é mencionado um endemoninhado: “Se esta concessão ao pedido dos espíritos maus ajudou de alguma maneira a cura deste sofredor, fazendo com que eles relaxassem a sua posse do corpo dele com maior facilidade, aliviando o ataque através de sua saída, este teria sido um motivo suficiente para permitir que aqueles animais morressem. Para a cura definitiva do homem poderia ter sido necessário que ele tivesse esta evidência exterior e o testemunho de que os poderes infernais que o mantinham aprisionado agora o haviam deixado”. Uma segunda pergunta que se faz é a seguinte: Que direito tinha Jesus de destruir a propriedade de outras pessoas? A resposta para esta pergunta é mais difícil. Se tivéssemos certeza de que os donos eram judeus, isto ofereceria uma solução simples. Os judeus deveriam evitar as carnes impuras, o que incluía os porcos. Mas Decápolis era uma região de população predominantemente gentílica. De qualquer forma, o caráter de Cristo garante que Ele não faria nada injusto. Os atos de Deus não podem ser sempre julgados segundo os padrões dos homens. Porém devemos sempre nos lembrar de que Deus não fica devendo nada a ninguém. Se tivéssemos mais informações, poderíamos entender melhor esta situação. (Comentário Bíblico Beacon – CPAD, pág 75,76.)

3. A libertação do oprimido. A extraordinária libertação do gadareno logo chamou a atenção do povo. Muita gente se reuniu para ver o que havia acontecido, pois a cura repentina do endemoninhado era algo espantoso. Encontraram o homem em perfeito juízo, vestido e junto com Jesus (Lc 8.34-36). Glorificamos a Deus quando vemos pessoas oprimidas pelo maligno sendo libertadas pelo poder de Jesus. Ele nos delegou essa tarefa (Mt 10.8; Lc 10.19,20).
 Não convinha soltar desta prisão, no dia de sábado, esta filha de Abraão (16). Para qualquer um que não esteja cego pelo preconceito, a resposta não só é óbvia como também é mais poderosa quando está implícita e não abertamente verbalizada. A referência de Jesus à mulher como sendo filha de Abraão sugere que ela tem um duplo apelo à misericórdia e ajuda de todos os judeus - como um ser humano e como uma compatriota israelita. E, dizendo ele isso, todos os seus adversários ficaram envergonhados (17). A palavra todos indica que o chefe da sinagoga tinha alguns ajudantes ativos no seu ataque ao Mestre. Mas a réplica de Jesus era tão relevante e tão adequada, que até mesmo estes homens egoístas ficaram envergonhados. Eles não expressaram qualquer refutação - não havia nenhuma a fazer. E todo o povo se alegrava por todas as coisas gloriosas que eram feitas por ele. O povo reconheceu e apreciou aquilo que os líderes religiosos negligenciavam por sua cegueira: que Deus havia trabalhado entre eles, e que havia demonstrado a sua ilimitada compaixão, assim como o seu soberano poder. Aquilo que viram fez com que associassem este Jesus ao Deus do Céu. Sem dúvida, a resposta de Jesus censurando o príncipe da sinagoga aumentou o entendimento e a admiração que sentiram pelo milagre ali presenciado por eles. Charles Simeon faz três reflexões sobre este episódio: 1) Quanta cegueira e hipocrisia existem no coração humano! 2) Como é desejável abraçar cada oportunidade de esperar em Deus! - esta mulher recebeu a cura porque participava fielmente das reuniões na sinagoga; 3) Com que conforto e esperança podemos confiar os nossos problemas a Jesus! Comentário Bíblico Beacon – CPAD, pág 440

IV. OS PORQUEIROS

1. O local do acontecimento. Segundo Mateus, o fato aconteceu na "província dos gadarenos" (Mt 8.28); no entanto. Marcos e Lucas falam da província ou terra "dos gerasenos" (Mc 5.1; Lc 8.26, Nova Almeida Atualizada). Gadara situava-se a oito quilômetros do lago de Genesaré, nome alternativo do mar da Galileia; e Gerasa, a atual Jeras, na Jordânia, ficava a cerca de 50 quilômetros. Ambos os territórios faziam parte da região de Decápolis, a leste da Galileia (Mc 5.2O). Segundo o historiador Josefo, o território de Gadara se estendia até o lago da Galileia. Moedas daquele tempo trazem o nome de Gadara com o desenho de um barco impresso.
A terra dos gadarenos era uma região a sudeste do mar da Galileia, fazia parte da Decápolis. Estas eram cidades gregas que não pertenciam a um país, eram autônomas. Embora os judeus não criassem porcos, porque a religião judaica os considerava imundos, os gentios não tinham tal conceito" (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, CPAD, p. 1365.) Gerasa estava a cerca de 48 quilômetros a sudeste do lago. “Gadareno” é o termo que os mais antigos manuscritos gregos apresentam no texto de Mateus. Gadara era a cidade mais próxima, a quase dez quilômetros de distância.

2. Sobre a manada de porcos. A população de Decápolis era mista, composta por judeus e gentios. A criação de porcos não era permitida aos judeus; por isso, é provável que o porqueiro fosse gentio. O prejuízo foi grande, já que eram dois mil porcos (v.13). Os porcos não resistiram à opressão e se precipitaram por um despenhadeiro, afogando-se no lago (Lc 8.33). A tradição judaica dizia que demônios e porcos são uma boa combinação. Os judeus consideravam os demônios e os porcos como pertencentes à mesma ordem, e os porcos eram considerados o lar dos espíritos imundos. Essa tradição parece ser expressa quando os demônios pediram para entrar na manada de porcos.
Até os espíritos maus entende que Toda a autoridade pertence a Deus, para eles agirem junto a alguém que pertence a Deus, eles precisam da autorização de Jesus, pois aquele que de fato é de Deus o diabo não toca, se Ele não deixar. E andava ali pastando no monte uma vara de muitos porcos; e rogaram-lhe que lhes concedesse entrar neles; e concedeu-lho. Lucas 8:32, Assim saberão todas as árvores do campo que eu, o Senhor, abati a árvore alta, elevei a árvore baixa, sequei a árvore verde, e fiz reverdecer a árvore seca; eu, o Senhor, o disse, e o fiz. Ezequiel 17:24, E isto faremos, se Deus o permitir (Hb 6.3).
3. O estranho pedido do povo. Jesus foi convidado a se retirar da terra dos gadarenos por causa do prejuízo dos porqueiros (Mc 5.16,17). Os porcos valiam mais que a vida humana, na concepção daquela gente. Essa estranha recepção causa-nos tristeza e espanto: como o herói é convidado a se retirar? Hoje não é diferente. Há os que substituem Jesus por qualquer coisa. É muito comum "coisificar" as pessoas e personificar as coisas. Para alguns hoje em dia, os animais valem muito mais do que o ser humano. Os noticiários mostram diariamente como muitos governantes tratam os imigrantes de modo inferior aos animais. Esse espírito já existia nos tempos do Novo Testamento (Lc 13.15,16). Na passagem que estudamos, aquela população rejeitou Jesus.
Jesus não foi bem recebido nessa região. Sua presença levou alguns a sofrerem perda financeira, embora o endemoninhado tenha sido liberto. “O pedido dos demônios foi atendido de pronto. A manada de porcos, “que era de cerca de dois mil, precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, onde se afogaram” (Mc 5.13). O pedido dos gadarenos também foi atendido: “Jesus subiu no barco e foi embora” (Lc 8.37). Todavia, o pedido coletivo e unânime do povo daquela cidade é um dos mais estranhos de que se tem notícia! Em vez de pedir que Jesus fosse embora, eles deveriam ter realizado um culto de ação de graças a Deus pela cura daquele homem infeliz e perigoso. Eles deveriam ter levado outros doentes da região para serem também curados. Por trás do estranho pedido estava o dinheiro. Com a morte dos porcos, o prejuízo dos porqueiros e seus associados foi enorme (quase meio milhão de reais, caso os porcos estivessem no ponto de abate).” (ULTIMATO ONLINE). Cristo poderia ter curado e salvado naquele lugar, mas seus habitantes ficaram temerosos e pediram-lhe que fosse embora. Mesmo assim, Ele deixou uma grande testemunha ali. Todos se maravilhavam quando ouviam quão grandes coisas Jesus lhe fizera.


SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

É muito interessante reconstruir, o máximo possível, o contexto que ocorre a possessão demoníaca de Gadara. Veja o que este comentário diz a respeito: “Há várias linhas de tensão nesta história – tensão entre Jesus e a legião de demônios, tensão entre Jesus e o povo da cidade, tensão entre Jesus o endemoninhado e o povo da cidade. Cada linha esforça-se contra as outras, de forma que do momento em diante em que Jesus aparece na cena a atmosfera fica progressivamente carregada. Não é de admirar que o povo da cidade entre em pânico!” (STRONSTAD, Roger; ARRINGTON, French L. (Eds.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.215).

CONCLUSÃO

A possessão demoníaca é um fenômeno estarrecedor que só pode ser contido pelo poder de Jesus.  O Senhor Jesus manifestou seu poder sobre toda a natureza, sobre o vento, sobre o mar, sobre a morte, sobre as enfermidades, sobre o poder das trevas. Os demônios estremecem diante dELe. O poder de Satanás é muito limitado diante do poder de Jesus. Todos nós precisamos de Jesus, da comunhão com Ele, para dEle receber poder e assim expulsar aos demônios, pois Ele nos deu essa autoridade (Lc 1O.19,2O).
Satanás e os demônios são opositores de todos os crentes verdadeiros e continuamente trabalham em oposição a eles. Os Crentes, entretanto, são protegidos pelo soberania de Deus e pela armadura que Ele deu a cada crente (2Co 11:3; Ef 6:10-18; 2Ts 3:3; Tg 4:7; 1Pe 5:7-10). Quer as forças descontroladas sejam pessoais ou impessoais, Jesus possui poder sobre todas elas. Em um mundo que nos parece inóspito, onde forças sobrenaturais se mostram maiores do que nós, temos a confiança que Deus está no controle de tudo. Satanás e seus demônios são limitados no que eles podem fazer (Jó 1:12; Jó 2:6; Lc 8:32). Ao final, eles serão punidos e destruídos (serão tornados em ruína inúteis) de acordo com o julgamento assegurado a eles pela morte e ressurreição de Cristo. Eles serão confinados eternamente no Lago do Fogo (Is 24:21; Mt 25:41; Jo 12:31; Cl 2:15; Ap 20:10)]. 

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br