sexta-feira, 27 de agosto de 2021

LIÇÃO 9: O REINADO DE JOÁS


COMENTÁRIO E SUBSÍDIO

 INTRODUÇÃO 

Com apenas sete anos de idade, Joás começou a reinar. Como era muito jovem, recebia orientações e conselhos do sacerdote Joiada. Durante os anos em que foi orientado, teve um brilhante reinado e fez o que era reto aos olhos do Senhor. Porém, como as suas convicções sobre Deus não eram suficientemente fortes, após a morte de Joiada, Joás deixou-se influenciar por maus conselhos que fizeram Judá retornar à idolatria.

O rei Joás governou o reino de Judá logo após a sua avó Atalia ter usurpado o trono de Judá com a morte de Acazias, pai de Joás, cujo reinado foi bastante curto, de apenas um ano. Acazias era filho de Jorão e sucedeu-lhe no trono. Este se casara com Atalia, filha de Acabe. Portanto, Jorão e Atalia eram pais de Acazias, que era pai de Joás. Tanto Jorão quanto Acazias foram péssimos reis no sentido de promover a idolatria em Judá, incentivados por Atalia, que aprendera muito bem adorar a Baal e a Aserá com os seus pais Acabe e Jezabel. Acazias foi morto por Jeú enquanto visitava o seu tio Jorão (rei de Israel), que estava convalescendo de um ferimento de guerra (2 Rs 9.16-18; 24-26; 2 Cr 22.6-9). A morte de Acazias foi cumprimento de profecia (2 Cr 22.8) proferida por um dos filhos dos profetas da escola de Eliseu. Conforme o relato bíblico, ele profetizou assim: “E ferirás a casa de Acabe, teu senhor, para que eu vingue o sangue de meus servos, os profetas, e o sangue de todos os servos do Senhor da mão de Jezabel. E toda a casa de Acabe perecerá; e destruirei de Acabe todo varão, tanto o encerrado como o livre em Israel (2 Rs 9.7,8).”

 I. O LIVRAMENTO DE JOÁS

1. As tramas reais. Tanto em Israel quanto em Judá, existiam acirradas disputas pelo poder, envolvendo interesses políticos e econômicos. A casa real de Judá havia se aparência com a casa real de Israel através de Atalia, neta de Acabe e Jezabel Atalia se casou com Jorão, filho de Josafá, rei de Judá. Quando Jorão foi assassinado por Jeú (2 Rs 9.24), Atalia usurpou o trono e começou a reinar em seu lugar (2 Cr 22.12b).

2. A coragem do sacerdote Joiada. Atalia herdara a perversidade de Acabe e Jezabel. Para se assentar no trono ela matou todos os membros da família real, incluindo seus próprios netos (2 Cr 22.10). Apenas Joás, filho de Acazias, escapou. Ele tinha um ano de idade e foi escondido em uma sala por sua tia Jeoseba, esposa do sacerdote Joiada, e lá ficou durante seis anos (2 Rs 11.2,3). Nesse período, Joiada preparou lhe ensinou as leis mosaicas.

3. A estratégia bem-sucedida. Quando Joás completou sete anos, Joiada armou uma estratégia para empossar o legítimo rei. Combinou com os capitães da guarda e, no dia planejado por eles, destituíram Atalia do trono e proclamaram Joás como rei (2 Cr 23.11). Joiada naturalmente passou a ser corregente com Joás, pois este não tinha condições de reinar por ainda ser criança (2 Rs 12.2). O sacerdote, como um homem temente a Deus, destruiu os sacerdotes de Baal e conclamou o povo para remover seu templo, despedaçar imagens e altares, e refazer a aliança com Deus (2 Cr 23.16,17).

As tramas reais envolvendo interesses políticos, tanto no reino de Israel quanto no de Judá, estavam acirradas na época anterior a Joás. A casa real de Judá havia-se aparentado com a casa real de Israel, que era muito perversa e idólatra, por meio da filha de Acabe e Jezabel, que haviam sido reis de Israel. Atalia, a filha de Acabe, casou-se com Jorão, rei de Judá, que era filho de Josafá. Atalia, mãe de Acazias, usurpou o trono e começou a reinar no seu lugar quando este foi assassinado por Jeú (2 Rs 9.24), como cumprimento da profecia de que todos os descendentes de Acabe seriam mortos (2 Rs 10.10). – A filha da casa real de Israel, Atalia, viu a morte de seu filho não como uma tragédia, mas como uma maneira de submeter Judá ao controle de Israel. Atalia supunha que isto seria vital para que a linhagem de Omri [pai de Acabe], fosse restabelecida em Samaria. – O povo de Judá estava, de certa forma, acostumado com a adoração a Baal e Aserá, mas a inventiva de Atalia de aprofundar e incrementar a adoração a esses falsos deuses foi demais para o povo, especialmente para o sacerdote Joiada, cujo zelo por Jeová estava aceso e fez de tudo para que a idolatria cessasse e a adoração a Deus fosse novamente implantada. Portanto, a sedição para derrubar a rainha-mãe foi bem-sucedida porque os intentos malignos e a astúcia de Atalia logo se tornaram um pesado fardo para o povo; por isso, foi fácil para Joiada conseguir derrubar a usurpadora do trono e colocar o legítimo descendente de Davi. Um dos artífices usados por Atalia para incrementar a adoração a Baal foi a apropriação dos utensílios sagrados do Templo do Senhor, que foram levados para o templo de Baal. Também havia um sumo sacerdote dessa falsa divindade que se chamava Matã, que foi morto na época da restituição do trono para a dinastia de Davi através de Joás. – Certamente que a ascensão prematura ao trono de um menino em Judá reflete a situação periclitante em que o povo vivia sob o reinado de Atalia, a tal ponto de ela nem ser considerada rainha, apesar de assim ter sido, na linhagem dos reis de Judá. Atalia foi uma rainha perversa e má, tanto ao cometer assassinatos em série quanto em promover a adoração a falsas divindades. Seguramente, ela era uma rainha difícil de conviver, tendo em vista a sua índole de matar os próprios familiares para ter acesso ao trono. Sendo assim, qualquer outra atrocidade cometida contra o povo seria possível da parte dela.

Como Atalia havia herdado a perversidade de Acabe e Jezabel, ela matou todos os membros da família real para assentar-se no trono, inclusive os seus próprios netos, ao extremo de somente Joás, filho de Acazias, com apenas um ano de idade, ter escapado porque foi escondido numa sala do Templo pela sua tia Jeoseba, irmã de Acazias (pai de Joás), que era esposa do sumo sacerdote Joiada. A loucura de Atalia quase dizimou a casa real davídica, restando apenas Joás. Portanto, Joiada e Jeoseba passaram a ser os tutores de Joás, que ficou escondido durante seis anos nessa sala do Templo e foi ensinado nas leis mosaicas por esse sumo sacerdote, que o preparou para assumir o trono. A linhagem messiânica por pouco não foi extirpada, e a lâmpada de Davi, apagada (1 Rs 11.36; Sl 132.17). Somente foi poupada por causa do zelo do sacerdote Joiada, usado por Deus, que prometeu a Davi um herdeiro perpétuo: “A sua descendência durará para sempre, e o seu trono será como o sol perante mim” (Sl 89.36).

Quando Joás, cujo nome significa “Yahweh é forte”, completou sete anos, Joiada armou a estratégia para empossar o legítimo rei no trono, e foi combinado que seria num dia de sábado, quando o povo vinha ao Templo para oferecer os seus sacrifícios e para não despertar suspeitas. A estratégia envolveu os capitães da guarda e os levitas que trabalhavam no Templo. Na hora combinada, Joás foi proclamado rei. Assim, destituíram Atalia do trono e, em seguida, quando ela veio depressa ao Templo para ver o que estava acontecendo, foi levada para fora e morta. – Logicamente que Joiada passou a ser corregente com Joás (2 Rs 12.2), pois este não tinha condições de reinar sendo criança. O sacerdote Joiada, por ser temente a Deus, destituiu os sacerdotes de Baal e conclamou o povo para derribar o seu templo, despedaçar as imagens e os altares, além de refazer a aliança do povo com Deus. Iniciou-se, portanto, um grande reavivamento do culto a Jeová em Judá. Essas atitudes de Joiada tiveram uma influência muito positiva sobre o reinado de Joás. No reinado de Joás e sob a influência de Joiada, foram feitas várias reformas religiosas importantes, dentre elas: extirpou-se parcialmente o culto a Baal e foi derrubado o seu templo; renovou-se o pacto com o Deus de Israel; os levitas foram reorganizados em grupos conforme havia sido na época de Davi e descritas por Moisés; e foram feitas reparações importantes no Templo, como veremos adiante

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Um elemento importante para se conseguir e conservar a atenção é o envolvimento pessoal dos alunos. Qualquer tempo gasto sem que o aluno esteja profundamente envolvido na lição é tempo perdido. O que fazer para se obter esse interesse? Primeiro precisamos conhecer bem as necessidades básicas de cada aluno, e os problemas que aparecem em cada área da vida deles. O que os motiva? De que gostam? Nós professores não temos obrigação de criar a atenção, mas de captá-la, de tornar cativante até mesmo a situação mais desinteressante. Temos que fazer o aluno envolver-se na lição.

II.  O REINADO DE JOÁS E A REPARAÇÃO DO TEMPLO

1. A arrecadação para reparar o templo. O reinado de Joás foi muito próspero enquanto Joiada o aconselhava (2 Rs 12.2). Como a adoração a Baal havia sido muito incentivada pelos reis anteriores, nenhuma manutenção fora feita no Templo do Senhor e, por isso, ele estava em condições precárias. Logo, Joás incentivou o povo e os sacerdotes a arrecadarem ofertas para a manutenção do Templo (2 Rs 12.4.5).

2. A fidelidade dos tesoureiros. Um detalhe muito importante nessa arrecadação foi a fidelidade com que os sacerdotes e tesoureiros reais administravam o dinheiro (2 Rs 12.15). Numa época, como hoje, esse exemplo dos funcionários de Joás é um importante modelo a ser seguido para desfrutarmos das bênçãos do Senhor.

3. Fidelidade, um atributo que enobrece. Não importa a quantia que está sendo administrada. Deus jamais se agradará de qualquer subtração de valores financeiros ou vantagens pessoais. A Palavra de Deus incentiva a prática da fidelidade: “Não te desamparem a benignidade e a fidelidade; ata-as ao teu pescoço; escreve-as na tábua do teu coração e acharás graça e bom entendimento aos olhos de Deus e dos homens” (Pv 3.3,4). A fidelidade enobrece a alma e traz respeito a quem a pratica. 

Enquanto Joás era aconselhado por Joiada o seu reinado foi muito próspero (2 Rs 12.2). Nesse tempo, aconteceu a restauração do Templo de Jerusalém, que havia sido construído por Salomão. Como a adoração a Baal fora muito incentivada pelos reis anteriores, nenhuma manutenção havia sido feita no Templo do Senhor; por isso, ele estava em condições precárias. Portanto, Joás incentivou o povo e os sacerdotes a arrecadarem ofertas para a manutenção do Templo. O povo contribuiu com muita liberalidade (2 Rs 12.10), e a reforma foi efetivada, e ainda sobraram recursos para ornamentar o Templo. A reforma demorou muitos anos a ser feita entre a ordem dada por Joás até a sua consumação, pois o sacerdote Joiada não deu andamento às obras, até que Joás interveio e mudou a forma de arrecadação, e o plano de reformas para, então, as obras terem início. – No Novo Testamento, o salvo, que é o templo do Espírito Santo, conforme Paulo escreveu: “Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Co 3.16). Dessa forma, é preciso que o crente cuide desse templo, não apenas do corpo, mas também do coração, cuidando deles para que não sejam destruídos pela lassidão e relaxamento espiritual, bem como pela falta de manutenção, de modo que outras coisas ocupem o lugar de Deus no coração. A advertência de Joás ao sacerdote Joiada, “Por que não reparais as fendas da casa?” (2 Rs 12.7b), ainda serve para os dias atuais. A diligência em reparar as fendas que se instalam no coração no decorrer do tempo (Jo 13.10a) são responsabilidade do crente que quer manter a habitação do Espírito Santo em bom estado.

Quando lemos sobre a fidelidade dos Sacerdotes lembramos que numa época como hoje, muitas pessoas importantes acabam achando normal desviar dinheiro e misturar as contas pessoais com as contas das instituições, de forma que não se sabe o que é uma coisa ou outra. Ou, ainda, onde algumas vezes os honestos são tratados como bobos e muitas vezes são coagidos a agirem de forma desonesta; esse exemplo dos funcionários de Joás é um importante modelo para ser seguido.

A Bíblia incentiva a honestidade da seguinte maneira: “Não te desamparem a benignidade e a fidelidade; ata-as ao teu pescoço; escreve-as na tábua do teu coração e acharás graça e bom entendimento aos olhos de Deus e dos homens” (Pv 3.3,4). Portanto, a fidelidade enobrece a alma da pessoa e ainda faz com que a pessoa seja benquista e respeitada em todos os lugares, pois o Senhor faz com que o caminho do justo seja todo plano (ver Is 26.7).

Fidelidade (pistis) é a característica da pessoa que é fiel, que não trai alguém, que não desvia recursos ou, ainda, que não se esquiva de um princípio importante. Ela materializa-se em lealdade constante e inabalável a alguém com quem se está unido por promessa, compromisso ou convicções. É uma das partes do Fruto o Espírito (Gl 5.22), que significa uma convicção inabalável de que certos valores são inegociáveis na vida, ainda que se corram sérios riscos e que se possa ter perdas financeiras, de reputação ou mesmo da vida para mantê-los. A fidelidade não se dá apenas na presença da parte interessada ou quando ninguém está vendo. Ela é uma característica que acompanha o sujeito em qualquer lugar ou situação.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“A religião de Baal, introduzida por Atalia, havia ocasionado uma séria negligência em relação aos serviços e a adoração no Templo. A rainha, de fato, era a responsável por uma considerável destruição do ambiente sagrado e de seus objetos, e pelo confisco de ofertas destinadas a Deus, que ela reverteu para a causa de Baal (2 Cr 24:7).

Joás confia aos sacerdotes a tarefa de reparar o Templo (12.4-8). Os recursos destinados aos sacerdotes e a manutenção do Templo normalmente provinham de três origens: (a) o dinheiro daquele que passa (4), isto é, o dinheiro da análise do censo (Êx 30.13); (b) o dinheiro de cada uma das pessoas, o dinheiro da alma ou da redenção (cf. Nm 18.15.16), e, (c) o dinheiro que trouxer cada um voluntariamente, as ofertas espontâneas. Os sacerdotes deveriam utilizar esses recursos para reparar o Templo. O fato de terem deixado de fazer esses reparos quando Joas já tinha chegado aos vinte e três anos não indica necessariamente que houve uma apropriação indébita. Parece, antes, que os proventos esperados, através das fontes naturais, não eram tão elevados quanto o necessário, e que os sacerdotes talvez não tivessem sido muito cuidadosos a respeito da apropriação do dinheiro para seu uso pessoal, como deveriam ser. “Conhecidos” (5,7) significa ‘eleitores ou ‘apoiadores” (Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, pp.358,359)

III. A CONSPIRAÇÃO CONTRA JOÁS

1. O declínio do reinado. A história de Joás nos revela que ele não tinha firmeza em suas convicções e se deixava levar facilmente por qualquer sugestão (2 Cr 24.17). Quando o sacerdote Joiada morreu, o rei não conseguiu manter-se inteiramente fiel ao Senhor, passou a adorar ídolos (2 Cr 24.18) e a confiar em suas próprias forças (2 Rs 12.17,18). As más decisões de Joás e sua desobediência resultaram na falta de prosperidade do reino, na perda de sua confiança em Deus, e, mais tarde, na conspiração de assassinato contra ele (2 Cr 24.25). 

Essa é uma trágica consequência da desobediência: perder a confiança em Deus por causa de uma consciência contaminada. Assim aconteceu com o rei Joás. Quando conhecemos bem os caminhos do Senhor, e entramos pelo caminho tortuoso, o da apostasia, a consequência trágica é inevitável.

2. Conspiração e morte no reino. A idolatria de Joás teve início após a morte do sacerdote Joiada. O rei, em vez de seguir tudo o que o sacerdote lhe ensinara, passou a tomar conselhos com os príncipes de Judá (2 Cr 24.17), abandonou o Senhor e se voltou aos ídolos. Sua capacidade de discernir estava tão prejudicada que, ao ser repreendido por Zacarias, filho de Joiada, o matou (2 Cr 24.20,21). O juízo de Deus veio até Joás através do exército sírio, que pelejou contra ele. Após a batalha, ferido, os próprios servos de Joás conspiram contra ele e o matam em sua cama (2 Cr 24.25). 

Quão perigoso é abandonar os bons conselhos do céu para buscar os maus conselhos terrenos (cf. Fp 4.8,9). Não podemos deixar de discernir as coisas do Espirito, pois a Palavra de Deus diz que nós temos a mente de Cristo (1 Co 2.16). 

O Declínio do Reinado A herança espiritual pervertida dos antepassados de Joás não foi de todo eliminada da sua vida, pois, quando morreu o seu tutor e principal conselheiro, o sacerdote Joiada, Joás não conseguiu manter-se inteiramente fiel ao Senhor. O texto bíblico dá a entender que Joás não tinha muita determinação nem convicções firmes e deixava-se levar facilmente por qualquer sugestão (2 Rs 12.6,7). Os seus súditos sugeriram-lhe que voltassem a adorar imagens, e ele consentiu. – Assim, eles afastaram-se do caminho do Senhor, o que atraiu sérias consequências sobre Judá (2 Cr 24.17-18). Essa situação de Joás ilustra o seu “caráter fraco, que depende da boa ou má influência de outros. Ser fraco conduz ao mal, tarde ou cedo, e o mal leva ao desastre.” Uma das consequências dessa desobediência foi que a ira de Deus veio sobre Judá, mas, antes, a desobediência foi denunciada pelo sacerdote Zacarias, filho de Joiada, como também por outros profetas (ver 2 Cr 24.19). – A desobediência de Joás fez com que Hazael, o rei da Síria, invadisse Judá. Com medo do rei sírio e para livrar-se do ataque dele, Joás deu todos os utensílios de ouro do Templo do Senhor (2 Rs 12.18) em vez de confiar no livramento divino. Essa é uma trágica consequência da desobediência. Joás perdeu a confiança em Deus com a sua consciência culpada, pois conhecia muito bem os caminhos do Senhor, e entrou por caminhos tortuosos e empobrecedores. Por fim, houve uma conspiração contra o rei, e este foi assassinado, findando-se, assim, o seu reinado de forma triste (2 Cr 24.21). – Os bons inícios do reinado de Joás e o fracasso final atestam para o fato de que o excesso de poder e a proximidade de pessoas de má influência facilmente corrompem a pessoa que já tem inclinações para o mal. É o mesmo caso de Salomão, que, inicialmente, fez um bom reinado, mas depois se deixou influenciar por pessoas com interesses próprios e escusos. Ainda hoje em dia, vemos muitos líderes que entram por esse mesmo caminho. No início, parecem muito sinceros e assertivos, mas, ao longo da sua caminhada, corrompem-se e, muitas vezes, o final é trágico. 

Um Assassinato Conveniente A principal tragédia do reinado de Joás foi o assassinato do sacerdote Zacarias, que, por denunciar os desmandos do reino e as transgressões dos mandamentos divinos, foi trágica e ingratamente morto pelo rei, mesmo sendo filho do homem que preparou a sua condução ao trono quando Joás estava destinado a ser morto. – A referência que Jesus faz a Zacarias em Lucas (11.51) talvez seja desse sacerdote morto por Joás. Jesus estava censurando a hipocrisia das autoridades do Templo e dos detentores do poder eclesiástico por rejeitarem a palavra dos profetas. Com essa rejeição, estavam concordando com aqueles que mataram os profetas do passado. A censura de Jesus faz a denúncia de que as autoridades do Templo estavam sobrecarregando o povo com ordenanças e leis, mas eles mesmos não as cumpriam. Eles levavam ao pé da letra ordenanças simples, mas recusavam-se a praticar a justiça e o amor e procuravam ser honrados nas reuniões e, também, os assentos mais destacados (Lc 11.37-44). Mais tarde, essas mesmas autoridades mataram Jesus, comprovando o que Ele estava dizendo. – Mas também podem acontecer assassinatos de pessoas sem que haja morte física. Basta que, para tal, as vozes proféticas sejam silenciadas pelos detentores do poder com as mais variadas formas e artimanhas. Os poderosos, como Joás, erroneamente acham que podem fazer qualquer coisa, mas os olhos do Senhor estão voltados para os seus filhos que são justos, assim como Jesus denunciou este pecado de Joás muito tempo depois. – As consequências para Joás por causa da morte do sacerdote Zacarias é a prova de que Deus está assentado no trono e governa tudo de forma absoluta, muito embora Ele dê plena liberdade para os seus filhos.

SUBSÍDIO HISTÓRICO

“As razões da conspiração contra Joás não foram explicadas nos livros dos Reis. Podemos supor, com base em 2 Crônicas 24 15-22, que ele havia contrariado os interesses da religião quando se voltou para o culto a Baal depois da morte do sumo sacerdote. Ac ser condenado devido a esse ato por Zacarias, filho de Joiada, ordenou que este fosse apedrejado. A expressão casa de Milo (20) possivelmente seja uma referência a uma estrutura construída sobre uma plataforma de terra batida, provavelmente localizada na região noroeste da cidade de Davi. O local chamado Sila não pode ser identificado; talvez esta seja uma referência a um bairro da cidade” (Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.359).

CONCLUSÃO 

Joás foi levado ao trono por uma ação divina organizada pelo sacerdote Joiada. No início de seu reinado, ele reparou o Templo e mandou construir vários artefatos para o ofício sagrado. Porém, após a morte do sacerdote Joiada, começou a fazer o que era mau aos olhos do Senhor. Passou a adorar ídolos e perdeu completamente a noção de justiça ao mandar assassinar o profeta Zacarias. Seu reino entrou em decadência e ele acabou assassinado por dois de seus servos.

Vemos pela Palavra de Deus como Joás deliberadamente matou Zacarias, desta forma ele colheu as consequências do seu ato injusto quando os siros, com um pequeno exército menor que o de Judá, invadiram o reino, mataram vários príncipes e feriram gravemente a Joás. Este, para aplacar a avidez de Hazael, rei da Síria, enviou-lhe todo o ouro do Templo como presente para Hazael desistir de atacar Jerusalém (2 Rs 12.17-28; 2 Cr 24.23,24). – O medo do rei sírio, aliado à morte de Zacarias, fez com que dois dos oficiais de Joás tramassem e executassem a sua morte. No seu leito de enfermidade, eles assassinaram-no, entronizando o seu filho no seu lugar. A lição desse rei nos mostra que devemos em tudo obedecermos ao Senhor, pelo contrário sofreremos as duras consequências.

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre 2021 - Lição 9. Rio de Janeiro: CPAD, 29, ago. 2021. 

POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica, 2010. 

sábado, 21 de agosto de 2021

LIÇÃO 8: NAAMÃ É CURADO DA LEPRA

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO

 INTRODUÇÃO 

A cura da lepra de Naamã nos revela que os métodos de Deus nem sempre são fáceis de compreender. Naamã, o comandante do exército da Síria, precisou exercitar sua obediência e fé ao mergulhar no rio Jordão, pois tal ato era demasiadamente humilhante para um homem de sua posição. Porém, ao deixar de lado o orgulho e cumprir a rigor o que Eliseu lhe dissera, Naamã alcançou a cura. – O milagre da cura de Naamã é uma demonstração de como as realidades de Deus são muitas vezes contrárias à realidade humana: uma criada orientou o seu mestre, invertendo os papéis; o rei de Israel, supostamente conhecedor de Deus, ficou desesperado diante de alguém que queria conhecer ao Senhor; um leproso foi purificado; um são foi punido com a lepra do outro; e um pagão passou a adorar a Deus.

 I. NAAMÃ, O CHEFE DO EXÉRCITO SÍRIO  

1. Naamã, um comandante honrado. Naamã era um ministro do alto escalão do governo da Síria, cuja capital era Damasco. A Síria havia atacado Israel várias vezes (1 Rs 11.2520.1,2222.31). Naamã era um comandante admirado e respeitado por todos devido às suas muitas vitórias em batalhas. Mas era leproso; e essa doença afetava sua integridade e o deixava vulnerável.

2. A escrava, uma testemunha de Deus. Em uma de suas incursões de guerra contra Israel, Naamã fez uma menina de escrava (2 Rs 5.2). Esta passou a morar na sua casa e, vendo o sofrimento do seu senhor, sugeriu à esposa de Naamã que fosse falar com o profeta Eliseu (2 Rs 5.3). A escrava se tornou uma agente de Deus na casa de Naamã, ainda que na condição de serva. Não importa onde estejamos e nem as nossas condições, sempre haverá uma oportunidade para falarmos de Deus às pessoas.

3. A caravana de Naamã. Naamã acreditou na palavra da escrava e foi até o seu rei a fim de lhe contar o que ela lhe dissera. O rei sírio preparou uma carta ao rei de Israel, recomendando a cura de seu comandante, bem como enviou presentes (2 Rs 5.5). O rei de Israel, ao saber do que se tratava a visita de Naamã, ficou atemorizado e rasgou as suas vestes, pois acreditava ser essa visita, um pretexto do rei sírio para atacá-lo (2 Rs 5.7).

Naamã, cujo nome significa “benevolente”, era um ministro do alto escalão do governo sírio, cuja capital era Damasco. Ele atacara várias vezes a Israel (ver 1 Rs 11.25; 20.1,22; 22.31), era valoroso, importante e respeitado pelas tantas vitórias que havia conquistado para os sírios; entretanto, havia uma grande dificuldade na sua vida bem-sucedida: ele era leproso. Foi essa dificuldade na sua vida que o Senhor Deus usou para mostrar-lhe a sua glória. Numa das suas incursões de guerra contra Israel, ele fez escrava uma menina que passou a morar na sua casa. Esta, vendo o sofrimento do seu amo, sugeriu à sua esposa que Naamã fosse falar com o profeta Eliseu. Isso demonstra como o ministério de Eliseu era amplamente conhecido entre os israelitas — tão conhecido a ponto de uma menina escrava ter ouvido falar dele. O reconhecimento do homem de Deus não depende de redes sociais ou mídias, mas, sim, da profundidade e seriedade do seu ministério, desde que feito em total dependência de Deus.

Essa menina tornou-se uma agente do Senhor na casa de Naamã. Ela não se deixou influenciar pela cultura pagã da Síria, mas continuou sendo temente ao Senhor a tal ponto de lembrar-se de que havia um homem de Deus em Israel. Pode-se afirmar que ela foi um arauto, ou uma evangelista, de Deus entre um povo pagão a ponto de convencer o comandante sírio a dar as costas para os seus deuses e pedir a cura ao Deus de Israel por meio do profeta Eliseu. Todos podem ser arautos do Senhor em qualquer lugar em que forem e estiverem, ainda que sejam lugares indesejados e opressivos, como o caso dessa menina.

A menina falou claramente aos seus amos quem era o profeta e a quem eles deveriam procurar, mas, equivocadamente, foram procurar o rei com uma carta e presentes. O rei de Israel entendeu aquilo como uma provocação e pretexto para uma nova guerra — por isso, a reação dele de rasgar as vestes (2 Rs 5.7). Na antiguidade oriental, esse gesto do rei era muito usado quando se recebiam notícias ruins ou quando se estava diante de uma situação fora de controle para demonstrar profunda angústia e pesar — nesse caso, em reconhecimento da sua impossibilidade em atender o general Naamã e o medo de uma provocação de guerra em tempos de paz. Para compensar a humilhação do general de ter de buscar ajuda no país com o qual travaram tantas guerras — pois tanto o rei da Síria quanto Naamã eram orgulhosos e haviam tido muitas vitórias bélicas sobre Israel —, levaram muitos presentes para entregar, porém, não procuraram o profeta Eliseu, mas o rei de Israel, que ficou apavorado. Eliseu ficou sabendo da história e teve que interferir diante do desespero do rei de Israel. O profeta solicitou que encaminhassem o caso a ele com uma afirmação de confiança em Deus e, sobretudo, ciente do seu ministério e da graciosidade do Senhor sobre a sua vida: “Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel” (2 Rs 5.8b).

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

A verdadeira aula é um diálogo entre o professor e os alunos; o ideal seria que toda aula fosse como a resposta de uma pergunta dos alunos. Não é bom que somente o professor crie e fale, mas que ouça o aluno falar por sua vez.

Não é aconselhável transformar a aula num simples monólogo do professor para uma plateia de ouvintes receptivos e inertes, com o falso pressuposto, mais ou menos generalizado, de que a obrigação do aluno é ouvir, calar e reter. O verdadeiro ensino não consiste apenas na transferência de conhecimentos de uma cabeça para outra. Ensinar é fazer pensar, é estimular para a identificação e resolução de problemas; é ajudar a criar novos hábitos de pensamento e de ação. O professor deve ser um comunicador dialogal e não um transmissor unilateral de informações.

II.  O MERGULHO NO RIO JORDÃO

1. Eliseu não se impressionou com a pompa. Ao saber sobre o que estava acontecendo e o porquê de o rei de Israel ter rasgado as suas vestes, Eliseu disse: “Por que rasgaste as tuas vestes? Deixa-o vir a mim, e saberá que há profeta em Israel.” (2 Rs 5.8b). Então o comandante Naamã foi até a casa de Eliseu. Porém, ele não o recebeu, mas mandou um mensageiro com as instruções do que ele haveria de fazer para ser curado (2 Rs 5.10).

2. A decepção e a cura de Naamã.  O comandante sírio esperava que o profeta o recebesse com honras e que lhe tocasse com as mãos, mas a ordem foi de mergulhar sete vezes no rio Jordão. A decepção de Naamã foi evidente (2 Rs 5.11,12). Foi preciso a intervenção de seus empregados para que a ordem fosse cumprida. Contrariado, o comandante mergulhou sete vezes no rio Jordão e sua pele ficou como a de uma criança; ele estava purificado de sua lepra (2 Rs 5.14).

3. Deus ainda opera milagres, e não misticismos. O número sete, que Eliseu usou, representa a perfeição de Deus na simbologia hebraica. Entretanto, o episódio em 2 Reis 5 é o único que relata o uso desse número pelo profeta. Tal fato não nos dá o direito de usar uma forma de numerologia em nossos cultos ou campanhas intermináveis. Podemos e devemos invocar as bênçãos de Deus, pois esperamos o seu agir milagroso. Onde Ele age não é preciso numerologia ou superstição, pois o poder de Deus está acima de tudo isso. E mesmo que não haja um milagre visível, Ele está agindo, pois a fé é confiar nEle mesmo quando as coisas não acontecem do nosso jeito (Hb 11.13). Não por acaso, Jesus disse que “muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4.27).

Eliseu não se impressionava com aquilo que a maioria das pessoas acharia uma grande honra, pois o profeta tinha compromisso com Deus, a quem ele realmente temia. Eliseu não foi até onde o poderoso general encontrava-se, mas fez o general vir até ele. Isso aponta para o fato de que o verdadeiro profeta de Deus não precisa correr atrás de poderosos ou cobiçar os seus presentes, pois é o Senhor quem cuida da sua vida. – O cortejo de soldados com o seu comandante estacionou em frente à casa de Eliseu, mas ele, que não se impressionava com títulos, cargos e posições, pois era um fiel servo do Deus altíssimo, nem foi recebê-lo, o que feriu ainda mais o orgulho do poderoso comandante Naamã. Ele simplesmente mandou o seu empregado dar-lhe o recado: “Vai, e lava-te sete vezes no Jordão, e a tua carne te tornará, e ficarás purificado” (2 Rs 5.10). – Tanto a forma como Eliseu recebeu Naamã quanto a ordem que lhe deu para ser curado foram humilhantes para o comandante sírio tão acostumado com honras reais. Ele imaginava ser recebido com pompas de um grande homem, mas não existem títulos nem cargos diante de Deus que deem margem para tratamentos diferenciados.    

A decepção de Naamã foi evidente. Ele saiu dali reclamando do profeta e resmungando contra a ordem recebida, porque o profeta não lhe recomendou os rios da Síria, que eram bem melhores, mas o insignificante rio Jordão. O general considerava os rios de Damasco melhores do que os de Israel. Foi preciso a intervenção dos seus empregados para que a ordem fosse cumprida. Contrariado, o comandante mergulhou sete vezes no rio Jordão, e a sua pele ficou como a de uma criança, e ele ficou purificado da sua lepra. Para Naamã, a cura foi possível porque ele, embora contrariado, agiu com obediência em fé ao que o profeta havia-lhe falado. Eliseu discerniu a necessidade do comandante para além da cura física. Ele precisava ir ao rio Jordão e dar um mergulho de humildade em obediência e fé. Tanto que, após a cura, ele prometeu que nunca mais ofereceria culto a nenhum outro deus, senão ao Senhor Todo-poderoso (2 Rs 5.17).

A humildade é uma grande virtude a ser aprendida, porém uma das mais difíceis, pois o orgulhoso dificilmente admitirá que não é humilde, e o humilde dificilmente sabe que é humilde. A humildade abre portas que o orgulho jamais será capaz de abrir, pois o orgulhoso sempre fere, oprime e machuca aqueles que são mais fracos do que ele, enquanto a humildade sempre considera o próximo como um ser igual, o que facilita o diálogo e a proximidade, possibilitando, também, a prática do cuidado sempre que necessário. Naamã, no alto das suas posições hierárquicas, quis comprar aquilo que Eliseu poderia dar a ele, pois ele não quis submeter-se a determinações simples como mergulhar no Jordão. Esse é o orgulho de quem exige fazer escolhas ao invés de submeter-se àquilo que o outro tem a oferecer-lhe. Ser humilde é reconhecer que as coisas nem sempre acontecem da maneira como imaginamos ou queremos. Muitas vezes, é preciso submeter-se à vontade do outro para que as possibilidades da vida sejam alargadas e, no caso de Naamã, para que a bênção de Deus viesse sobre a vida dele.   

A cura da lepra de Naamã mostra-nos que os métodos de Deus nem sempre são nossos métodos. Eliseu mandou o comandante exercitar a sua obediência em fé mergulhando no rio Jordão, o que certamente foi humilhante para Naamã, porém necessário, pois, além da cura física, ele também precisava da cura do seu orgulho e da idolatria, e todas essas bênçãos foram alcançadas na sua vida.

SUBSÍDIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO

“Deus cura Naamã (5.8-14). Os detalhes descrevem o cenário externo que, entretanto, era apenas incidental em relação ao milagre da cura que Deus realizou através de Eliseu. Ele representava um outro episódio significativo no ministério de Eliseu, e tinha o propósito de demonstrar que só o Senhor é Deus, e que os deuses de outras nações nada representavam. O rio Abana (12), atual Barada, começa nas montanhas do Líbano e corre através de Damasco, e torna possível a existência dessa cidade por causa do oásis formado em seu percurso. O rio Farpar (ou Farfar) não foi identificado tão facilmente como o Abana. É possível que a Bíblia se refira a um rio que começa nas montanhas do Líbano e corre cerca de 16 quilômetros em direção à região sudoeste de Damasco e que, nesse caso, seria chamado de rio de Damasco. Outra sugestão é que o rio Farpar seja uma referência a um afluente do Barada, o Nahr Taura.

[…] O registro da cura de Naamã representa um cativante relato da ‘cura do leproso’. Existe aqui um retrato notável sobre: (1) A grandeza que não leva a coisa alguma – um grande homem… porém leproso, 1; (2) O testemunho da fé de uma escrava, 2-4; (3) Um pedido inesperado e humilde, 9-11; (4) Alternativas mais atraentes, 12; (5) A obediência e a cura completa, 13,14” (Comentário Bíblico Beacon: Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.349).

III. GEAZI É ACOMETIDO DA LEPRA

1. A rejeição dos presentes. Após a sua cura física e sentimental, Naamã estava disposto a voltar a Eliseu, a fim de lhe presentear (2 Rs 5.15). A Bíblia não deixa claro se esse presente foi o mesmo enviado pelo rei sírio anteriormente; pode ser que o primeiro presente tenha ficado com o rei de Israel. Porém se for o mesmo, a quantia era composta de trezentos e cinquenta quilos de prata, e uns setenta quilos de ouro, e dez mudas de roupas finas; um valor muito grande para ser rejeitado. Mas, mesmo assim, Eliseu rejeitou o presente (2 Rs 5.16).

2. Homens de Deus não se deixam vender. A atitude de Eliseu ao recusar o presente de Naamã revela um comportamento de quem não vende a si mesmo ou as bênçãos de Deus (2 Rs 5.16). Tanto Elias quanto Eliseu eram honestos consigo mesmos e com Deus.

3. Por ganância Geazi é acometido da lepra. Depois de visitar Eliseu, Naamã partiu para a Síria. Quando Naamã iniciava sua viagem, Geazi, cheio de ganância em seu coração, foi até ele e, mentindo, se apoderou dos presentes oferecidos a Eliseu (2 Rs 5.21-24). Tal atitude nos revela o caráter distorcido de Geazi. Visando o bem material ele mentiu ao comandante sírio, traiu Eliseu e desonrou a Deus. Por isso, o jovem foi acometido de lepra e saiu diante do profeta, “branco como a neve” (2 Rs 5.27).

Com a cura física concretizada na vida de Naamã, concretizou-se também a cura do seu orgulho. Ele agora estava disposto a voltar e presentear Eliseu. Não se diz o que era, pois parece que a primeira leva de presentes pode ter ficado com o rei de Israel, mas, se eram os mesmos presentes, era composto de 350 quilos de prata, e uns 70 quilos de ouro, além de dez mudas de roupas finas — um valor muito grande para ser rejeitado. Mesmo assim, Eliseu rejeitou o presente, pois não queria deixar Naamã com a ideia pagã de que o Deus de Israel é comprado com ofertas e que os seus profetas são interesseiros dos bens terrestres em troca dos bens divinos ofertados. Além do caráter nobre de Eliseu ao rejeitar os presentes, havia uma lição para Naamã e toda a corte síria embutida na negativa de Eliseu: Jeová cura gratuitamente; assim, não era necessário oferecer presentes caríssimos e ofertas valiosas para que a bênção do Senhor acontecesse — contrariamente aos ídolos pagãos da Síria, cuja ganância nunca era alcançada, e cuja resposta nunca chegava. A presença do Senhor na vida de Eliseu valia muito mais do que aquela prata e ouro. Se ele aceitasse o presente, estaria trocando a glória de Deus na sua vida pela riqueza dos presentes de Naamã, mas o profeta sabia o que realmente era valioso na sua vida e, por isso, não trocou por nada. O profeta perderia os presentes, mas não perderia a presença de Deus na sua vida, pois essa presença era a garantia de que o seu ministério era abençoado e frutífero.

Mais uma vez, fica em evidência o caráter do homem de Deus, Eliseu, que não aceitou os presentes de Naamã em troca da bênção que lhe dera. Essa é a atitude de quem não vende as bênçãos do Senhor e também de quem não se vende a si mesmo, pois aceitar presentes de pessoas importantes tirar-lhe-ia a autoridade profética sobre eles. Tanto Elias quanto Eliseu eram honestos consigo mesmos e com Deus para não se deixarem vender. – O exemplo de Eliseu é uma denúncia à ganância de muitas pessoas hoje em dia que mercadejam os seus ministérios e aquilo que o Senhor gratuitamente oferece ao povo. Eliseu adverte que Deus não é uma mercadoria que se pode manipular em benefício próprio para ganhar dinheiro, ficar famoso ou ter prestígio. – Geralmente, quando se procura o dinheiro, a fama ou o prestígio, ficam de lado a ética e o respeito, pois, para atingi-los, torna-se aceitável ferir, lograr e manipular. “Atrás da fama vem o poder e o orgulho, e estes destroem relacionamentos, a confiança, o diálogo e a integridade.” Infelizmente, essa é a realidade de muitos líderes religiosos no Brasil, que manipulam a religiosidade e a simplicidade do povo para obterem favores pessoais. Os seus discursos operam no sentido de trabalharem com o medo e a ganância, presentes no coração humano, para obterem o seu desejado sucesso. Claro que essas características são subjetivas, e nem sempre o líder consegue discerni-las, pois estão enraizadas e tornaram-se um hábito no seu coração. 

A cura e a bênção de uma pessoa podem resultar em maldição para outra, assim como foi com Geazi, que não entendeu o grande propósito de Deus na vida de Naamã e, por isso, deixou-se levar pela ganância. - Os pensamentos de Geazi, ajudante de Eliseu, prenderam-se nos presentes de tal forma que ele não resistiu e, inventando uma mentira, foi atrás de Naamã e usurpou dele 60 quilos de prata. Isso mostrou o caráter distorcido de Geazi, que, além de ganancioso, também inventou uma mentira, demonstrando com isso que esses tipos de pecados não acontecem sozinhos, mas são acompanhados de vários outros pecados. Ele mentiu para Naamã e também tentou mentir para Eliseu, só que o Espírito Santo, que não se deixa zombar, já tinha discernido para Eliseu o que estava acontecendo, ao que a lepra de Naamã passou para Geazi. – A prata e o ouro de Naamã estavam contaminados com a lepra do pecado e da idolatria, que foi outro dos motivos de Eliseu rejeitá-los; mas, para Geazi, tornaram-se uma tentação desastrosa. Ao querer o tesouro, Geazi recebeu embutido nele a lepra. Essa triste realidade aponta para o fato de que as bênçãos e os dons de Deus são inegociáveis, podendo até mesmo tornar-se maldição quando manipulados de forma errada e com interesses espúrios, como fez Geazi.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“O pecado de Geazi. Foi um pecado complicado. 1. O amor ao dinheiro, aquela raiz de todos os males, estava na base do pecado. Seu senhor desprezou os tesouros de Naamã, mas ele os cobiçou (v.20). Seu coração estava guardado nas bagagens de Naamã e Geazi devia correr atrás dele para pegá-lo. Multidões, por cobiçarem as riquezas do mundo, se transpassaram a si mesmos com muitas dores.

2. Ele censurou a seu senhor por recusar presente de Naamã, condenou-o como tolo por não receber ouro quando podia tê-lo feito, cobiçou e invejou a sua bondade e generosidade a esse estrangeiro, embora fosse para o bem da alma dele. Resumindo, ele se achou mais sábio do que o seu senhor.

3. Quando Naamã, como uma pessoa de maneiras polidas, desceu de sua carruagem para encontrá-lo (v.21), Geazi lhe disse uma mentira deliberada, que o seu senhor o enviara até ele, e assim recebeu, para si mesmo, aquele presente que Naamã pretendia dar ao seu senhor.

4. Ele abusou de seu senhor, e de maneira vil o representou diante de Naamã como alguém que tinha se arrependido de sua generosidade, que era inconstante como quem não sabe o que quer, que dizia e voltava atrás, que não fazia uma coisa honrável, mas que logo devia desfazer novamente. A sua história dos dois filhos dos profetas era tão tola quanto falsa. Se ele tivesse implorado uma oferta para os dois jovens estudantes, com certeza menos do que um talento de prata seria o bastante.

5. Havia o perigo de ele desviar Naamã daquela santa religião à qual acabara de aderir, e diminuir a boa opinião que tinha a respeito dela. Ele poderia então dizer, como os inimigos de Paulo insinuaram a respeito dele (2 Co 12.16,17), que, embora o próprio Eliseu não tivesse sido um peso, ainda sendo astuto, ele o apanhou com fraude, enviando aquele que o cobrava” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Josué a Ester Edição Completa. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.566).

CONCLUSÃO 

A cura de Naamã nos mostra que Deus está disposto a perdoar e salvar a todos, independentemente de posição social ou nacionalidade. E, apesar de muitas vezes não compreendermos, o Senhor opera maravilhas de formas diferenciadas (2 Rs 5.11,12). Naamã, a princípio, não havia entendido o caminho para a cura, mas assim que a recebeu, reconheceu o Senhor como único e verdadeiro Deus. – Esse milagre que Deus realizou através de Eliseu foi ratificado por Jesus num dos seus discursos, quando explicou por que não faria milagres na sua terra. Diante dos olhos estupefatos das autoridades religiosas que duvidavam da sua messianidade, Jesus disse: “E muitos leprosos havia em Israel no tempo do profeta Eliseu, e nenhum deles foi purificado, senão Naamã, o siro” (Lc 4.27).

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre 2021 - Lição 8. Rio de Janeiro: CPAD, 21, ago. 2021. 

POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica, 2010. 

sábado, 14 de agosto de 2021

LIÇÃO 7: O MINISTÉRIO DE ELISEU

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO

 INTRODUÇÃO 

O ministério de Eliseu foi marcado por acontecimentos extraordinários. Nesta lição estudaremos sobre três deles: o milagre das águas que alagaram um vale, sem que houvesse chuva; a multiplicação do azeite da viúva; e a aniquilação da morte presente na panela de ensopado servido por um dos servos do profeta. Nos três eventos estão evidentes a fé, a obediência e a poderosa unção de Deus sobre o profeta Eliseu. Eliseu foi um dos profetas que mais realizou prodígios, mais até do que Elias, o seu mestre. Listaremos alguns deles: (1) dividiu o rio Jordão em duas partes para passar a seco (2 Rs 2.14); (2) sarou as águas de Jericó (2.22,23); (3) quarenta e dois adolescentes foram despedaçados por duas ursas (2.23,24); (4) providenciou água a três reis e aos seus exércitos (3.15,16,20); (5) previu a vitória desses reis (3.19); (6) aumentou o azeite da viúva de um dos filhos dos profetas (4.6,7); (7) profetizou que a sunamita teria um filho (4.16); (8) mais tarde, ressuscitou o filho da sunamita quando este havia ficado doente e morreu (4.19,35); (9) tirou a morte da panela (4.41); (10) multiplicou pães (4.42-44); (11) curou Naamã de lepra (5.14); (12) colocou a lepra de Naamã em Geazi, o seu auxiliar (5.27); (13) fez flutuar um machado (6.6,7); (14) cegou os homens do exército siro (6.18); (15) devolveu-lhes a visão (6.20); (16) profetizou o fim da fome e do cerco da Síria (7.1); (17) predisse a morte do capitão do rei (7.2); (18) profetizou a morte de Ben-Hadade e o reinado de Hazael (8.10,13); (9) e, depois de morto, ressuscitou um defunto (13.21). – Eliseu, assim como Elias, era de um temperamento forte. Assim que Elias foi tomado dele, talvez pela dor da ausência do seu mentor, ele bateu nas águas do rio Jordão com a capa de Elias e questionou: “Onde está o Senhor, Deus de Elias?” (2 Rs 2.14). Ele irritou-se com os meninos que caçoaram da sua calvície (2.23,24), foi irônico com o rei idólatra Jorão (3.13) e castigou a Geazi com a lepra de Naamã por causa da sua ganância e mentira (5.27). Esses episódios demonstram que Eliseu não escondia os seus sentimentos de ninguém, bem como apontam para a sua honestidade e verdade nas palavras e ações. – A personalidade de Eliseu é muito bela quando da sua rejeição à espetacularização ministerial. No caso de Naamã, numa conversa com esse alto oficial do rei, Eliseu trata-o como qualquer outra pessoa, apenas lhe enviando um recado. Já na ressurreição do filho da mulher que havia sido estéril, ele tranca-se num quarto sozinho com o menino e ressuscita-o sem que ninguém o veja. Ele poderia ter usado esses episódios para promover-se diante da opinião pública ou de pessoas importantes, pois o primeiro personagem era um político influente, e a mulher era rica; ele, porém, preferiu deixar que a glória fosse de Deus nos milagres que realizou. – Outras qualidades de Eliseu ficam em evidência diante de alguns episódios da sua vida. Por exemplo, ele não aceitou presentes em troca do milagre de Naamã. Esse desprendimento já havia sido mostrado quando do seu chamado, em que abandonou tudo o que possuía para seguir Elias. Depois, ele teve a oportunidade de matar um exército inteiro da Síria, que era inimigo de Israel, mas, ao invés disso, pediu que lhes servissem comida e que os liberassem vivos. Eliseu também chorou de compaixão ao entregar uma profecia a Hazael, pois percebeu o sofrimento que este infligiria sobre Israel.

 I. ELISEU SALVA TRÊS REIS E SEUS EXÉRCITOS  

1. Reis bons e maus. No período do reino dividido houve a alternância de reis bons e maus. Esta distinção entre bons e maus não leva em conta apenas o modo como esses reis administravam o reino ou lideravam o povo, mas a forma como eles se relacionavam com Deus. Portanto, ao se referir a um determinado rei como mau, o autor do livro de Reis está dizendo que esse monarca além de desobedecer e desprezar a Deus em seu culto, promovia a adoração de ídolos.

2. Três reis vão à guerra contra os moabitas. Jorão, rei de Israel, que como seu pai Acabe, fora reprovado pelo Senhor; Josafá, rei de Judá, considerado um excelente monarca, em razão de promover a adoração ao verdadeiro Deus; e o rei de Edom, que era vassalo de Judá (2 Rs 3.9). O que motivou a guerra foi a rebelião dos moabitas que, à época, pagavam pesados impostos ao rei de Israel (2 Rs 3.5).

3. A predição de Eliseu se cumpriu. Em respeito a Josafá, Eliseu, cheio do poder de Deus, previu que águas em abundância alagariam, milagrosamente, toda aquela região, sem a ação dos ventos e sem chuva (2 Rs 3.17). O Senhor não apenas realizaria este milagre, mas também lhes entregaria a vitória sobre os moabitas (2 Rs 3.18).

Na linha sucessória dos reis de Israel e Judá, durante o reino dividido, sucederam-se bons e maus reis. O Reino do Norte, Israel, geralmente com reis maus, e, no Reino do Sul, Judá, geralmente com bons reis. A classificação em bons e maus não leva muito em conta a administração e liderança de tal rei, mas, sim, como teologicamente esse rei relacionava-se com Deus; portanto, quando se fala de um mau rei, o autor do livro de Reis refere-se ao fato de que esse rei desprezava ao Senhor na sua adoração e promovia a adoração a ídolos. – Com a morte de Acabe, quem assumiu o reino de Israel foi o seu filho Acazias, mas este logo morreu, e Jorão, o seu irmão, assumiu o seu lugar. O seu reinado foi marcado pela continuidade, embora mais branda, da adoração aos deuses falsos que foram promovidos por Acabe e Jezabel. Quando o rei de Moabe, que era vassalo do reino de Israel, soube da morte de Acabe e do curto reinado do seu filho Acazias, aproveitou a oportunidade da fragilidade de Israel para rebelar-se e não enviou mais os impostos que foram exigidos como reino vassalo de Israel. Esse foi o motivo pelo qual o rei Jorão convidou o rei de Judá, Josafá, e o rei de Edom para guerrearem contra Moabe e reaverem o domínio sobre esse reino. – O episódio em que Eliseu salva os três reis acontece quando eles vão à guerra contra Mesa, rei dos moabitas, que, nessa época, era vassalo de Israel e pagava-lhe impostos. O rei de Israel era Jorão e, como visto anteriormente, foi um mau rei. O rei de Judá era Josafá, e este foi classificado como um bom rei, pois promovia a adoração a Deus. O outro rei era de Edom, e o texto não cita o seu nome. Josafá foi um bom rei em Judá, porque instituiu reformas administrativas, religiosas e jurídicas importantes para a organização e melhor funcionamento do povo de Deus, além de ter dado instruções para que os juízes agissem de forma justa e equânime em todos os julgamentos e questões. Para que isso acontecesse, ele percorreu pessoalmente várias regiões de Judá para organizar essas questões. Ele também cuidou para que terminasse a longa inimizade dos seus predecessores com o reinado de Israel. Para tal, casou o seu filho Jorão com Atalia, filha de Acabe. Josafá também se aliançou com Acabe, rei idólatra e rebelde contra Deus, para guerrear. Essas alianças foram uma falha contra a fidelidade de Deus, ao que foi repreendido pelo profeta Jeú: “Devias tu ajudar ao ímpio e amar aqueles que ao Senhor aborrecem? Por isso, virá sobre ti grande ira de diante do Senhor” (2 Cr 19.2,3). A sua aliança com Acabe quase lhe custou a vida. Mais adiante, ele também fez aliança com Jorão, o filho de Acabe, para lutar contra Moabe, como visto neste texto.

A viagem que os três exércitos empreenderam para subjugar Moabe durou sete dias, e faltou água para o exército, o que comprometeu a campanha de guerra. Assim, o rei Josafá, temente a Deus, solicitou um profeta do Senhor para resolver o problema. Um súdito lembrou-se de que Eliseu estava nas proximidades, e mandaram chamá-lo. Eliseu pediu que lhe trouxessem um músico para profetizar aquilo que seria a vontade de Deus para aquele momento. Isso demonstra que algumas profecias de Eliseu foram proferidas estando o profeta em um estado de êxtase espiritual. A profecia de Eliseu foi estranha. Ele ordenou que cavassem muitos poços, pois se encheriam de água, mas sem que houvesse chuva. Em respeito a Josafá, Eliseu predisse a abundância de água que, milagrosamente, haveria no dia seguinte e ainda predisse a vitória dos três reis sobre os moabitas.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Mais uma vez, estimule em seus alunos o estudo das lições bíblicas. Copie no quadro o seguinte esquema:

• Ore ao Senhor dando-lhe graças e suplicando sua direção e iluminação.

• Tenha à mão todo o material de estudo: Bíblia, revista, dicionário bíblico, atlas geográfico, concordância, caderno para apontamentos etc.

• Leia toda a unidade ou seção indicada pelo professor. Procure obter uma visão global da mesma e o propósito do escritor.

• Leia outra vez a mesma unidade. À medida que for estudando, sublinhe palavras, frases e trechos-chave. Faça anotações nas margens do caderno ou revista.

• Feche a revista e tente recompor de memória as divisões principais da unidade de estudo. Não conseguindo, abra a revista e veja.

• Repita o passo acima.

• Sem consultar a revista, responda todas as perguntas do questionário. Em seguida consulte a matéria para ver se as respostas estão completas e corretas

II. ELISEU AUMENTA O AZEITE DA VIÚVA

1. A situação das viúvas em Israel. A vida das viúvas nos tempos bíblicos era bem difícil, pois as mulheres daquela época dependiam dos seus maridos para prover-lhes o sustento. É o caso da viúva de um dos discípulos dos profetas de Israel. Após a morte do marido, a mulher ficou numa situação complicada: falta de suprimentos, dívidas e a ameaça de seus filhos serem vendidos como escravos (2 Rs 4.1,2). Deus ouviu o clamor daquela viúva e supriu suas necessidades (2 Rs 4.3-7).

2. Uma única botija de azeite foi suficiente para Deus operar o milagre. Após ouvir da mulher que não tinha nada além de uma vasilha de azeite, o profeta disse a ela que tomasse vasilhas emprestadas com os vizinhos, e que ao entrar em casa com os filhos, fechasse a porta. A ordem era derramar, em cada vasilha disponível, o pouco de azeite que possuía, e pô-las à parte à medida que ficassem cheias (2 Rs 4.2-4). E foi justamente o que ela fez. Quando acabaram as vasilhas, o azeite cessou. Ela vendeu o azeite, pagou a dívida e ainda pôde manter o sustento da família com o que sobrou (2 Rs 4.6,7).

3. Fé, obediência e família unida. Neste episódio da multiplicação do azeite, percebe-se que a fé e a obediência são os ingredientes necessários para que as bênçãos divinas sejam abundantes na vida de quem crê (Hb 11.6a). Às vezes, o milagre que buscamos não acontece a partir de coisas extraordinárias. Basta trabalharmos com o que Deus já nos deu, e exercer a fé em sua Palavra. Ao pedir à mulher para fechar a porta, o profeta indicou que o milagre deveria acontecer na intimidade da família (2 Rs 4.4,5). Isso significa que Deus se agrada de uma família unida em torno de um ideal sagrado.

Embora o hábito de escravizar pessoas em troca de dívidas fosse uma prática comum no Antigo Oriente, a Lei Mosaica era mais branda a respeito, estipulando um prazo para o pagamento da dívida para que ninguém se tornasse escravo para sempre de alguém. Bentho salienta que se caso o marido deixasse alguma dívida, a viúva era obrigada a assumir os compromissos financeiros do faltoso, o que implicava, às vezes, a venda dos bens, na entrega dos filhos à servidão, e a todo tipo de exploração da parte dos credores. Em Deuteronômio 10.18 o estado de inópia (penúria) da viúva é declarado: falta pão e vestido — elementos básicos à vida e à dignidade humana, enquanto em Jó é denunciado o pecado de se levar da viúva o único boi como penhor (Jó 24.3). – Essa viúva foi afligida pelo seu credor, que exigia o pagamento da dívida ou, então, a escravização dos seus filhos, muito embora a Lei Mosaica previsse a assistência à viúva: “A nenhuma viúva nem órfão afligireis. Se de alguma maneira os afligirdes, e eles clamarem a mim, eu certamente ouvirei o seu clamor” (Êx 22.22,23). Deus, que está sempre atento ao clamor do oprimido, ouviu a angústia da viúva e o seu risco de ficar sem os filhos e, consequentemente, o fato de ela estar sem nenhum amparo e sustento.

Eliseu, como um profeta do Senhor e exercendo um ministério ainda mais extraordinário que o de Elias, pôde mostrar grande coragem e ousadia para confrontar reis poderosos. Todavia, ele também foi sensível à necessidade de uma pobre e insignificante viúva. Eliseu pediu à viúva que disponibilizasse o que tinha em casa: apenas uma botija de azeite. Isso, porém, foi o suficiente para o milagre acontecer. Uma pequena quantidade de azeite foi o suficiente para ela e os seus filhos pagarem a dívida e ainda sobreviverem do resto, mesmo em tempos de escassez. – Aquela mulher, num gesto de fé em Deus e confiança na palavra do homem de Deus, tomou emprestado todas as vasilhas que encontrou entre os vizinhos e, em obediência à palavra do profeta, começou a derramar o azeite da botija nas vasilhas, ao que, milagrosamente, se encheram várias vasilhas de azeite, que ela vendeu. O milagre foi do tamanho exato para que a necessidade da viúva fosse suprida. Quando as vasilhas acabaram, também acabou de correr o azeite da botija. – Essa experiência demonstra o cuidado de Deus nos momentos de crise mais profunda, provendo meios de onde não poderiam vir naturalmente, mas que, ao mesmo tempo, demonstram que o milagre provém daquilo que se tem nas mãos, ainda que seja pouco.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Situação das viúvas no Antigo Testamento. (a) Pobreza e vulnerabilidade (1 Rs 17.8-15 [A viúva de Sarepta]. Na sociedade patriarcal israelita, a condição de viúva era um risco social à mulher, deixando-a vulnerável econômica e socialmente. Em Êxodo 22.21-24, a viúva é classificada juntamente com o órfão e os estrangeiros. Elas são frágeis e vulneráveis, razão pela qual necessitam de proteção legal e profética (Is 1.16-23; Jr 22.3). Além da angústia que acompanhava a viuvez, a perda da proteção legal do esposo colocava a viúva em situação de pobreza e penúria.

Caso o marido deixasse alguma dívida, a viúva era obrigada a assumir os compromissos financeiros do faltoso, o que implicava, às vezes, na venda dos bens, da entrega dos filhos à servidão, e a todo tipo de exploração da parte dos credores” (BENTHO, Esdras Costa & PLÁCIDO, Reginaldo Leandro. Introdução ao Estudo do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.255).

III. A MORTE QUE HAVIA NA PANELA

1. A escola de profetas. Os filhos, ou discípulos, dos profetas estavam radicados em BetelJericó e Gilgal (2 Rs 2.3,5,7,154.38). Nessas escolas, os alunos eram encorajados a buscar uma melhor compreensão da Palavra de Deus, desenvolviam um relacionamento com o Senhor e contribuíam na manutenção da resistência contra a apostasia e a idolatria que imperavam em Israel. Por isso eles eram perseguidos por alguns reis (1 Rs 18.4).

2. A morte na panela. Foi na escola de profetas de Gilgal que Eliseu ordenou ao seu servo que fizesse um ensopado para alimentar os discípulos (2 Rs 4.38). Provavelmente pela falta de conhecimento sobre plantas e diante da escassez de alimentos, o rapaz pegou junto com os legumes uma espécie de pepinos silvestres que continham veneno (2 Rs 4.39). A comida foi servida aos homens, mas logo que a provaram, gritaram: “Há morte na panela!” (2 Rs 4.40). Eliseu pediu um pouco de farinha, colocou no caldeirão e declarou que não havia mais perigo algum. Deus havia realizado o milagre!

Havia uma escola de profetas em Gilgal, provavelmente estabelecida por Samuel e agora dirigida por Eliseu. Este realizou três dos seus milagres em favor da escola de profetas: (1) tirou o veneno que havia na panela; (2) multiplicou os pães e (3) fez o machado que havia afundado na água flutuar. Os alunos eram chamados de filhos de profetas porque eram como que adotados pelos seus mestres para aprenderem com eles. – Nessa escola, os alunos aprendiam as leis de Deus, desenvolviam um relacionamento com o Senhor da mesma forma como os profetas e, especialmente, contribuíam como uma forma de manter a resistência contra a apostasia e a idolatria que imperavam em Israel. – Eles também eram como uma espécie de reserva moral e espiritual, pois os sacerdotes, que deveriam ser responsáveis pelo ofício de ensinar o povo, haviam-se corrompido na tentativa de manter o poder das instituições e com as benesses das ofertas dos reis. Por isso, os profetas foram perseguidos por alguns reis (1 Rs 18.4) e tiveram que ser protegidos. – Em todo tempo e lugar, os profetas verdadeiros são perseguidos, pois estes “se intrometem” nas causas que os poderosos acham corretas e justas. Profetas intrometem-se na injustiça, no pecado e no sofrimento desnecessário que vêm sobre todas as criaturas por causa da negligência dos homens poderosos. Profetas são comprometidos com a justiça e a compaixão. Esse chamado profético de intrometermo-nos na injustiça vale para todos nós. Como Jesus mesmo disse: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5.10).

Eliseu, através do Senhor retirou a morte que havia na panela. Aprendemos que a alimentação espiritual deve ser feita com muito cuidado, pois facilmente se dão alimentos contaminados por falsas doutrinas, muitas vezes até mesmo levados pela ignorância, mas com bons motivos, só que esses bons motivos podem conter palavras envenenadas pela inexperiência dos que se propõem a ensinar e pela escassez de alimento saudável, que é a genuína Palavra de Deus. – Alimentação estragada na escola de profetas aponta para o fato de que muito facilmente se podem inserir doutrinas estranhas na mente de pessoas que ainda estão em fase de crescimento espiritual, o que pode levá-las à morte espiritual. Portanto, é preciso ter discernimento e rapidez na ação, como o fez Eliseu, para conter qualquer indício de morte em nossas escolas, seminários e estudos bíblicos. Isso não significa que se deve tolher e proibir a liberdade de pensamento e de criatividade que o Espírito Santo concede àqueles que se debruçam sobre novos aprendizados. Muito pelo contrário! Tirar a morte da panela igualmente significa conter aquilo que vai trazer morte, estagnação ou mesmice, que também leva à morte.

SUBSÍDIO HISTÓRICO

“Eliseu tornou-se discípulo e aprendeu com seu mestre para, mais tarde, substituí-lo no ministério. Em algum ponto, outros jovens profetas também se associaram a Elias e Eliseu e, quando Elias foi levado para o céu, eles já existiam como uma comunidade de número considerável, cuja base de ação eram as cidades de Betel e Jericó. Não há dúvida de que esses homens viviam em um regime de internato, bem próximo ao sistema monástico. Isto é evidente pelo fato de se multiplicarem em Jericó a ponto de o lugar tornar-se pequeno. Então Eliseu os encorajou a construir alojamentos apropriados (2 Rs 6.1,2).

Antes de Elias ser transladado para o céu, foi considerado em sua comunidade como o grande mestre. A transferência de seu manto para o discípulo Eliseu significava indubitavelmente que este agora substituía o mestre; e prontamente foi reconhecido pelos jovens profetas.

O termo que utilizavam para referir-se aos seus mentores era ‘pai’, o que esclarece não apenas a forma como se sentiam a respeito de seus líderes, mas também a significação da frase ‘filhos de profetas’.

[…] Geralmente se faz uma distinção entre os profetas canônicos que escreveram suas profecias e aqueles que, como Elias e Eliseu, não deixaram nenhum registro (com exceção da breve carta de Elias em 2 Cr 21.12-15). Algumas vezes conclui-se, baseado nos escritos preservados, que os profetas canônicos foram de alguma forma superiores ou mais teológicos que os demais. Mas isso é uma proposição sem base, pois dois dos maiores profetas – Moisés e Samuel – não são contados entre os canônicos […]” (MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento: O reino de sacerdotes que Deus colocou entre as nações. 6.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.403,04).

CONCLUSÃO 

Nos três milagres apresentados na lição, percebe-se que aconteceram mediante alguma iniciativa ou trabalho humano. Isto significa que os milagres operados por Deus, na vida dos seus servos, acontecem em cooperação com algum tipo de trabalho ou atitude humana. Deus tem compromisso com pessoas de fé, mas que também sejam operantes e diligentes. Nesses três milagres de Eliseu — a salvação do exército com o provimento de água, a multiplicação do azeite da viúva e a extinção da morte que havia na panela —, percebe-se que eles acontecem após trabalhos que precisavam ser feitos para que ocorressem: na água para o exército, foi preciso cavar muitas covas; no milagre da multiplicação do azeite da viúva, foi preciso buscar vasilhas e derramar o azeite da botija dentro delas; no episódio da morte na panela, mandou-se colocar farinha. Isso demonstra que os milagres que Deus opera na vida dos seus servos acontecem muitas vezes em cooperação com a operosidade humana, pois o Senhor tem compromisso com pessoas que têm fé, mas também com aqueles que são diligentes e trabalhadores. Não se pode ficar sentado esperando um milagre. Eles acontecem no dia a dia, na operosidade, no estar andando e na ação cotidiana. Pode até haver interrupções momentâneas no fluxo normal do andamento da vida diante das grandes dificuldades, mas o passo seguinte é a ação que prepara o ambiente para o acontecimento do milagre, que é antecedido pela ação humana em fé na promessa do cuidado divino.

REFERÊNCIAS

BENTHO, Esdras Costa; PLÁCIDO, Reginaldo Leandro. Introdução ao estudo do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2019.

LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre 2021 - Lição 7. Rio de Janeiro: CPAD, 15, ago. 2021. 

POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica, 2010.