sábado, 29 de agosto de 2020

LIÇÃO 9: COMO VENCER AS OPOSIÇÕES À OBRA DE DEUS

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

Na lição 7 observamos como a construção dos muros em Jerusalém provocou uma dura resistência por parte dos samaritanos. Nesta lição iremos observar, mais detalhadamente, as diferentes formas dos seus ataques, e o modo como os judeus conseguiram vencê-los e concluir a obra. – O viver cristão, em meio as trevas, resulta em guerra. O ingresso na vida cristã na verdade, é um alistamento para uma guerra e o viver em Cristo, ao mesmo tempo que é um treinamento, é também uma batalha constante e precisamos ter e saber manejar as armas e equipamentos dados por Deus. Precisamos conhecer a respeito desta batalha e as instruções sobre como vencê-la. A armadura necessária para combater o adversário e opor-se a ele é concedida aos santos pelo Senhor. Vamos tentar estabelecer nesta lição, brevemente, as verdades básicas referentes à preparação espiritual necessária ao cristão, bem como as verdades referentes ao seu inimigo, sua batalha, e sua vitória. Em última análise, o poder de Satanás sobre os cristãos já está quebrado e a grande batalha é ganha por meio da crucificação e ressurreição de Cristo, o qual conquistou, para sempre, o poder do pecado e da morte (Rm 5.18-21; ICo 15.56-57; Hb 2.14). Todavia, durante a vida na terra, as batalhas da tentação continuarão regularmente. Para que haja vitória, são exigidos o poder do Senhor, do Espírito Santo e da verdade bíblica gravada em nossas mentes e corações.

   I. QUAL A PROCEDÊNCIA DESTES ATAQUES?

1. A Bíblia revela a verdadeira força por trás destes ataques. Ela diz: "Não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12). Portanto, nossa luta é antes de tudo espiritual. Os inimigos visíveis são meramente instrumentos dos demônios, os quais nos atacam. Desde que Lúcifer caiu em pecado no céu e foi expulso de lá, ele tem sido o ADVERSÁRIO de Deus e de sua obra (l Pe 5. 8). – Aqueles que não são “carne e sangue” são os demônios sobre os quais Satanás tem controle. Estes não são meramente fantasia – são bastante reais. Enfrentamos um poderoso exército cujo objetivo é derrotar a Igreja de Cristo. Quando cremos em Cristo, estes seres se tornam nossos inimigos e tentam tudo o que for possível para nos afastar do Senhor e levar-nos de volta ao pecado. Embora tenhamos a vitória garantida, devemos nos engajar nesta luta até a volta de Cristo, porque Satanás está planejando constantemente contra aqueles que estão ao lado do Senhor. Precisamos do poder sobrenatural do Senhor Jesus Cristo para vencermos Satanás, e Deus nos deu ao conceder o precioso Espírito Santo, que está dentro de cada um de nós, bem como a sua armadura, que está sobre cada um de nós. Quando você se sentir desencorajado, lembre-se das palavras de Jesus a Pedro: “Sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18)

2. Qual a orientação que a Bíblia dá diante desta luta? Ela diz: "Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais:

a) RESISTIR NO DIA MAU;

b) TENDO FEITO TUDO;

c) FICAR FIRMES (Ef 6.13). Vemos, assim, que a Bíblia não aconselha fugir da luta, mas sim ficar firmes, resistir, e vencer! (Tg 4.7) – A armadura de Deus tanto pode significar a armadura que Ele mesmo usa, quanto a que Ele fornece. Talvez ambas as ideias estivessem na mente de Paulo. A esta altura de sua prisão, o apóstolo estava, provavelmente o dia todo, e todos os dias, preso algemado a um soldado romano. Sua mente deve frequentemente ter-se voltado do soldado romano para o soldado de Jesus Cristo, e do soldado ao qual estava preso, para o Guerreiro celestial, e a Quem sua vida estava ligada por laços mais sólidos, embora invisíveis. Estava em sua mente, a descrição da armadura do Guerreiro celeste, tal como é feita em Isaías 59:17; e Paulo teria pensado na relação entre as armas de Sua armadura e aquelas dadas por Ele aos soldados que lutam na guerra a Seu comando. Devia também, ter em seu pensamento, outros detalhes da armadura do soldado que estava ali junto dele, e seus equivalentes sob o ponto de vista da estratégia para habilitar o crente a enfrentar o conflito espiritual. Essas armas, que irá descrever, são dadas para que os homens possam ficar firmes contra as ciladas do diabo. E na realidade ficar firmes é a expressão chave da passagem, pois, tal como Moule diz, “esta não é a descrição de uma marcha, ou a de um assalto, mas a de manter-se firme a fortaleza da alma e da Igreja para o Rei celeste” (CB). A palavra traduzida aqui como ciladas é a mesma empregada em 4:14, onde vimos que envolvia a ideia de “meios astutos”. Esta é a primeira indicação da dificuldade da luta. Não é uma luta apenas contra 

3. Nesta luta contra o mundo invisível a arma mais eficaz é a fé. A Bíblia diz: "Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (1 Jo 5.5). Por isso a Bíblia aconselha: "Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna" (1 Tm 6.12). Pela fé experimentamos a operação do Espírito Santo em nossa vida (Gl 3.2,5). Jamais devemos permitir que alguma coisa venha abalar a nossa fé, porque "sem fé é impossível agradar-lhe" (Hb 11.6). Devemos não temer, mas crer somente (Mc 5.38). "Não deis lugar ao Diabo!" (Ef 4.2). – Quando Paulo se refere a “fé e amor” como couraça quer dizer a confiança em Deus. “A verdadeira proteção no dia mau”, diz Moule, “nunca está na introspecção, mas naquilo que se volta para fora, para Deus, e que é a essência da fé (Sl 25.15)”. Ele reitera a necessidade de se ter uma visão do inimigo. Nos dias do Novo Testamento os dardos frequentemente eram feitos com estopa em substância combustível e então acesos, de modo que os escudos de madeira necessitavam de uma cobertura de couro a fim de extinguir o fogo rapidamente. Paulo sabia que “as ciladas do diabo” incluíam esses dardos inflamados, a saber, as línguas dos homens que agem como flechas, as setas de impureza, egoísmo, dúvida, medo, desapontamento, que são planejadas pelo inimigo com o intuito de queimar e destruir. O apóstolo sabia que somente a dependência de fé em Deus podia debelar e anular o efeito de tais armas, sempre que fossem atiradas no cristão.

4. Nesta luta as armas devem ser espirituais (2 Co 10.4). Só as armas espirituais atingem e alcançam os reais inimigos, os demônios. As armas carnais só nos prejudicam, pois muitas vezes levam-nos a dar lugar ao inimigo. – A ideia da vida cristã como uma milícia é comum no Novo Testamento. Embora um homem, Paulo não lutava a batalha espiritual pelas almas dos homens usando a engenhosidade humana, a sabedoria mundana ou metodologias inteligentes (1C o 1.17-25; 2.1-4). Essas armas são impotentes nessa batalha e não têm poder para libertar as almas das forças das trevas e levá-las à maturidade em Cristo. Elas não conseguem se opor, com êxito, aos ataques satânicos ao evangelho, tais como aqueles feitos pelos falsos apóstolos de Corinto. As forças do inferno só podem ser demolidas com as armas espirituais empunhadas pelos cristãos piedosos — de forma singular, a "espada do Espírito" (Ef 6.17), uma vez que apenas a Palavra de Deus pode derrotar as mentiras satânicas. Essa é verdadeira batalha espiritual. E aqui é importante que se diga que conhecer as Escrituras sem a devida obediência e frequentar os cultos sem a genuína conversão não são suficientes. Não obstante, o poder de Deus está disponível aos fiéis para pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo” (Lc 10.19).

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

A aula desta semana é uma excelente oportunidade para que seus alunos conheçam o conceito de “batalha espiritual". Neste caso, à medida que você destacar a importância do preparo espiritual, explique quais armas a igreja dispõe para vencer as adversidades que surgem para impedir o crescimento e bom funcionamento da obra de Deus. Para tanto, pesquise na internet ou revistas e leve para a sala de aula imagens ou figuras que representem a armadura de Deus citada por Paulo em Efésios 6.10-18. Sugiro para o seu estudo o Novo Manual de Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos, que traz alguns detalhes sobre a armadura de Deus:

"Paulo se refere à roupa usada pelo soldado. Ele combina a profecia de Isaias sobre a armadura de Deus (Is 59.16,17) com o que se sabe sobre o soldado romano. Por baixo da armadura do soldado estava uma vestimenta básica para 'ficarem firmes’, de modo que a armadura (casaco e saia de couro cobertos com placas de metal) pudesse ajustar-se por cima. Os soldados romanos tinham sandálias pregadas com tachas grandes que firmavam seus pés no chão. Paulo usa a descrição para dizer que o Diabo não poderá derrubar os cristãos se eles forem estritamente honestos, absolutamente justos em seus tratos e não se deixarem perturbar facilmente. Acrescente a isso uma salvação que os capacita a viver segundo o padrão de Deus, com acesso ao que Deus disse e confiança nEle, e o cristão estará bem protegido" (GOWER, Ralph. Novo Manual dos Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 16).

  II. O INIMIGO PROCURA ATINGIR A NOSSA FÉ

1. O Inimigo ataca com a arma do DESPREZO. Diziam: "que fazem estes fracos judeus?" (Ne 4.2). De fato, em nós mesmos somos fracos. Paulo disse: "Quando estou fraco então sou forte" (2 Co 12.9,10). Quando o crente é tentado a se comparar com o inimigo, está em perigo! Foi esta tentação que derrubou Israel. Quando os dez espias disseram “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que nós" (Nm 13.31), os israelitas recusaram-se a subir, recusaram-se a dar ouvidos à mensagem de fé transmitida por Calebe, que dizia: "Certamente prevaleceremos contra ela" (Nm 13.30). "O Senhor é conosco, não os temais" (Nm 14.9).  – Ameaças e zombaria tornaram-se a principal estratégia para impedir a reedificação dos muros de Jerusalém. Essa foi a estratégia usada por Sambalate para desestabilizar o povo e impedir o avanço dos trabalhos. De fato, o povo era pouco, desgastado pelas dificuldades, mas, quanto mais fraco o instrumento humano, mais claramente brilha a graça de Deus. A exemplo do apóstolo dos gentios, que disse sentir prazer em suas fraquezas, não que ele se agradava do sofrimento em si, mas se alegrava no poder de Cristo revelado por meio dele. – O caso dos espias é um pouco diferente, por que o desencorajamento partiu de dentro do povo de Deus e não dos inimigos. O relatório dos dez espias foi pecaminoso exagerou os riscos que o povo da terra representavam, procurou suscitar e infundir medo no povo de Israel e, mais do que isso, expressou atitude de falta de fé em Deus e nas suas promessas. Os espias relataram que a terra era boa, no entanto, o povo era forte demais para ser conquistado. Calebe fez calar o povo, isto é, pediu "Silêncio!"  Isso implica que o relatório dos espias provocou reação oral do povo. Calebe concordou com o relatório dos espias, mas chamou o povo a subir e tomar a terra, sabendo que, com a ajuda de Deus, seriam capazes de vencer o povo forte. Josué e Calebe reafirmaram sua avaliação de que a terra era boa e expressaram sua confiança que o Senhor iria livrá-los das mãos dos inimigos.

2. O Inimigo ataca com a arma do ESCÁRNIO (Ne 4.3,4; Jr 20.7; SI 79.4). Trata-se de uma arma que os inimigos da obra de Deus têm usado em todos os tempos. Quando os servos de Deus sofrem escarnio, são tentados a ficarem desanimados. Todavia devemos lembrar de que isso e o que os fieis sempre tiveram que suportar (Hb 11.36; Sl 35.15,16; 44.13,14). Nem mesmo Jesus escapou do escarnio (Mt 20.19; 27.29,39). Ele disse: "Se chamaram Belzebu ao pai de família, quanto mais aos seus domésticos?" (Mt 10.25). Isto faz parte da cruz que devemos aceitar quando seguimos a Jesus (Mt 10,38,39; 16.24,25). Os que são carnais procuram escapar do escândalo da cruz (Gl 5.11). – ESCÁRNIO: 1. o que é feito ou dito com intenção de provocar riso ou hilariedade acerca de alguém ou algo; caçoada, troça, zombaria. 2. atitude ou manifestação ostensiva de desdém, de menosprezo, por vezes indignada. – Os inimigos de Israel usaram o escárnio como arma para intimidação e oposição ao projeto de reerguer os muros. A cristo chamaram ‘Belzebu’, a divindade filisteia associada à idolatria satânica, por isso, o nome passou a ser usado para Satanás, o príncipe dos demônios (2Rs 1.2; Lc 11.15). Se o próprio Cristo sofreu escárnio, o mesmo acontecerá com seus seguidores. Se atacaram Jesus com blasfêmias, do mesmo modo amaldiçoarão os servos. Foi essa a advertência de Jesus de que seus discípulos seriam perseguidos (Jo 15.20). De fato, sabemos que temos a chamada para tomarmos a nossa cruz, e isso evoca sofrimento, dor e morte violenta e degradante. Jesus exige total compromisso — até o ponto da morte física. Esse mesmo chamado de devoção a Cristo que envolve vida ou morte é repetido em Mt 16.24; Mc 8.34; Lc 9.23; 14.27. Para aqueles que vão a Cristo com uma fé em que há a renúncia de si mesmo haverá vida eterna e verdadeira.

3. O Inimigo chama a nossa atenção para a imensidade da tarefa. “Vivificarão dos montões de pó as pedras que foram queimadas?" (Ne 4.2). Moises, ao olhar para a dimensão da tarefa para qual Deus o chamava, recusou-se a ir. Quando, porém, Moisés meditou na Palavra de Deus, que Deus iria com ele (Ex 3.12), e que Deus seria com a sua boca (Ex 4.12), Moisés se animou e viu as montanhas tornando-se em campinas (Zc 4.7). Quem faz a obra e Deus (Is 26.12), mas Ele usa instrumentos, ainda que estes sejam pequenos e a tarefa seja grande! – “O livro de Neemias nos mostra que estas palavras acima foram proferidas de forma jocosa por Sambalate. Sambalate era um dos grandes inimigos de Neemias e do povo de Judá que se empenhava em reedificar os muros de Jerusalém. Relembremos rapidamente: No ano de 587 a.C., o exército Babilônico invadiu Judá, matou milhares de pessoas, destruiu diversas casas, arrasou o templo de Jerusalém e colocou fogo as muralhas da cidade de Jerusalém. – Agora era aproximadamente 465 a.C, mais de 120 anos se passaram e as muralhas ainda eram ruinas, montões de pó. Em tese, parecia grande utopia reconstruir uma grande muralha com pouco material, fazendo, na verdade, uma reforma, ou seja, a reutilização padrão do mesmo material, para reerguer uma muralha. – “Acaso terão vidas as pedras queimadas? Vão nascer de novo? Vai ter algum milagre?” Essa era a pergunta escarnecedora de Sambalate. Se pensarmos seriamente, aquelas pedras não prestavam para reerguerem um muro caído há mais de 120 anos. Memórias de algo que já foi glorioso, mas que não havia humanamente mais esperança de que fosse vivificar. Assim como muitos brasileiros que passaram por diversas crises este ano, talvez você também chegue hoje como uma pedra queimada necessitando restauração. E o nosso Deus restaura todas as coisas! – Temos que acreditar que, embora os nossos recursos sejam escassos, como eram os recursos do povo de Judá, ainda podemos ser restaurados e viver tempos de renovo. Precisamos depositar em Deus toda a nossa confiança! As pedras queimadas dos muros de Jerusalém pareciam inúteis, mas Neemias e o povo resolveram confiar no Senhor e não olhar as circunstâncias, nem dar ouvidos para as maledicências desmoralizantes dos inimigos, antes, olharam fixamente para a boa mão do Senhor que tudo supre e tudo fortalece, e de onde provêm os milagres! – Em Cristo nós podemos ter os nossos sonhos restaurados, nossa saúde restituída, nosso casamento renovado, nossa igreja renovada. Em Cristo vivemos uma vida de ressurreição!

4. O Inimigo usa contra nós os BOATOS e as MENTIRAS. Os samaritanos espalhavam calúnias contra Neemias, dizendo que ele planejava constituir-se rei (Ne 2.19;6.5,6). Tudo isto para amedrontar os judeus e assim atingi-los em sua fé em Deus. Neemias respondeu: "De tudo que dizes, coisa nenhuma sucedeu, mas tu, do teu coração o inventas" (Ne 6.8). Paulo escreveu: "Tornando-nos recomendáveis em tudo... por honra e por desonra, por infâmia e por boa fama" (2 Co 4.4-8). Jesus aconselhou aqueles que sofrerem acusações mentirosas a alegrarem-se a exultarem, e a não atentarem para o que se fala deles (Mt 5.11,12). – A visão das credenciais de Neemias e a sua mensagem motivacional reavivaram o ânimo abatido do povo a começar a construção apesar do escárnio amargo de homens influentes, Sambalate, Tobias e Gesém, o arábio. Sambalate escreve uma carta aberta que sugeria que a intenção de Neemias de promover uma revolta era de conhecimento geral, que chegaria ao rei da Pérsia, se ele não comparecesse ao lugar de encontro requisitado, tu e os judeus intentais revoltar-vos. Se fosse verdadeira, essa informação teria trazido as tropas persas contra os judeus. Apesar de Judá ter uma tradição de quebrar alianças com os reis soberanos, nessa ocasião esse não era o caso. Artaxerxes havia comandado a reedificação do muro baseado no seu relacionamento de confiança com Neemias. Uma vez concluído o projeto, o rei esperava que Neemias retomasse a Susã. Alegações de que Neemias estava fortificando a cidade para se tornar rei violariam gravemente a confiança do rei persa, se não provocassem urna guerra. A trama era uma tentativa de intimidar Neemias, onde seria criada uma barreira entre Neemias e Artaxerxes caso ele não fosse ao encontro de seus inimigos — um encontro que acabaria na sua morte.

5. O Inimigo usa como arma a ASTUCIA. Os samaritanos convidaram os judeus para juntos se congregarem nas aldeias; porém intentavam fazer mal a Neemias. Insistiram na proposta, mas o convite foi repetidamente recusado por Neemias: "Estou fazendo uma grande obra, [...] não poderei descer" (Ne 6.3). – Sabendo que não podiam impedir o projeto de Neemias tendo êxito numa campanha militar aberta, decidiram derrotá-lo por meio do engano, enviam-lhe mensagem chamando-o para uma reunião no vale de Ono, localizado ao sul de Jope, na extremidade ocidental de Judá, ao longo do litoral marítimo. Como Neemias sabia que eles o estavam atraindo para uma cilada, ele enviou representantes, que podiam ter sido mortos ou presos para um pedido de resgate.

6. O Inimigo usa como arma as AMEAÇAS. Os inimigos dos judeus ameaçaram guerrear contra eles, a fim de espalharem medo e pânico entre o povo de Deus. Porém, diz Neemias: "Oramos ao nosso Deus e pusemos guarda contra eles!" (Ne 4.9). Os judeus não atacaram os samaritanos, mas defenderam a sua área de trabalho (Ne 4.13-20). – Os judeus demonstraram equilíbrio entre a fé em Deus e a prontidão, encarregando alguns dos construtores de ficarem de guarda. Neemias e os outros homens tinham recebido uma mensagem dizendo que Sambalate havia reunido o exército de Samaria. Na verdade. Deus fez com que a estratégia fosse conhecida, deixando que os judeus mais próximos ficassem cientes; assim, eles contariam aos líderes de Judá. Embora vigilantes, armados e de prontidão, Neemias e os outros a quem liderava ofereceram consistentemente a glória de suas vitórias e êxitos na construção a Deus.

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

O caráter de Neemias revela-se ilibado no material escrito disponível. Ele foi tão dotado e talentoso como qualquer homem dos tempos pós-exílicos. Seu contagioso patriotismo era profundo e intenso e levava os homens a deixar suas colheitas a fim de viajar para Jerusalém e trabalhar na reconstrução do muro. Sua rígida integridade, associada a uma bondosa humildade, fazem com que ele se projete como um notável exemplo de liderança leiga. Sua abnegada prática de recusar qualquer recompensa pelos serviços (Ne 5.14-18) deve ter deixado uma impressão indelével nos pobres de Jerusalém. Sua intensa fé em Deus e genuína piedade eram evidenciadas pelo zelo que dispensava a ética e a parte cerimonial da religião. Acima de tudo, sua devoção ao dever, sua infatigável energia e determinada persistência impulsionaram um grupo de homens que nunca desistiam. Neemias era um homem de ação, não um homem que se sentava para esperar que Deus fizesse com que acontecesse algum evento sobrenatural. A desesperada condição de seu povo exigia, sem demora, que fossem tomadas medidas extremas. Analisando sua obra como um todo, Neemias realmente foi um homem preparado por Deus para agir naquela hora" (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 1350).

  III. QUAL O SEGREDO DA VITÓRIA DE NEEMIAS E DOS JUDEUS?

1. Os judeus venceram porque tinham certeza de que estavam na vontade de Deus. Neemias disse aos seus inimigos: “O Deus dos céus é o que nos fará prosperar" (Ne 2.20). Neemias sabia que o Senhor o havia enviado para Jerusalém, e que pelejava por eles. Esta certeza nos guarda de precipitações (Pv 29.20), e de falarmos palavras impensadas (SI 106.33; Ec 7.9; Pv 25.11). Podemos assim governar o nosso espírito (Pv 16.32). – Neemias não tinha apenas a permissão do rei e não estava se revoltando, mas ele gozava da proteção de Deus. Os inimigos que tentaram intimidá-los contra o trabalho nada conseguiram pois eles não tinham sido comissionados nem por Deus e nem pelo rei.

2. Os judeus venceram pela oração. Neemias era homem de oração. Com frequência lê-se sobre como Neemias orava: "Ouve, ó nosso Deus; Lembra-te de mim para o bem; Lembra-te, meu Deus, de Tobias e Sambalate" (Ne 4.4; 6.14; 13.29). Aquele que ora, coloca a sua dificuldade diante do Senhor que QUER e PODE RESOLVÊ-LA! O mesmo Deus que nos exortou a orar, também prometeu nos responder às orações (Jó 22.27; SI 50.15; 46.1; Mt 7.7,8,11). – A dependência de Neemias no seu Deus soberano nunca foi tão evidente como nessa oração registrada no capítulo 4. Outras orações de Neemias são tão profundas e dependentes de Deus como a do capítulo 1.5-11; nessa oração temos uma das confissões e intercessões mais tocantes diante de Deus da Escritura (veja também Ed 9.6-15; Dn 9.4-19). Depois de 70 anos de cativeiro na Babilônia, Deus cumpriu a sua promessa de fazer o seu povo voltar para a Terra Prometida. A promessa parecia estar falhando, e Neemias apelou ao caráter de Deus e à sua aliança como os fundamentos pelos quais ele deveria intervir e cumprir suas promessas para o seu povo.

3. Devemos também orar (1 Ts 5.17). “Orai sem cessar..."Jesus deixou-nos o mesmo ensino. Falou-nos da necessidade de perseverarmos na oração, usando para isso uma parábola (Lc 18.1). Paulo exortou aos efésios a perseverarem em "oração e súplica no Espírito" (Ef 6.18) e aos colossenses ele escreveu: "Perseverai em oração" (Cl 4.2). O que é então, perseverança em oração?

a. É impedir que alguma coisa nos estorve a orar, encontrando-nos apenas na oração. Precisamos de uma espécie de autodisciplina, ou de controle sobre nós próprios. Marta não dispunha tempo para ficar aos pés de Jesus, porque estava ocupada (Lc 10.38-42). Quando começamos a orar aparecem muitos obstáculos, mas devemos ser vitoriosos. Temos que ter vitória também em nossos pensamentos, porque o Inimigo quer nos impedir de orar, fazendo-nos pensar em outras coisas.

b. É persistir em orar, ainda que o Diabo procure tornar pesada e difícil a oração. Daniel orou 21 dias, e veio a resposta! E, então, ele soube que a resposta demorara, porque os espíritos malignos tinham impedido a resposta (Dn 10.11-14). Jesus mostrou a mesma verdade na parábola sobre a viúva (Lc 18.1-6).

c. É orar até que venha a resposta! Devemos orar "até que..." (Is 62.8; Lc 24.49). Jesus orou três vezes sobre mesma a coisa (Mt 26.44), e Paulo também orou três vezes, até que Deus lhe respondeu (2 Co 12.8,9). Elias orou 7 vezes, para que chovesse, e choveu (1 Rs 18.43-45) E os discípulos perseveraram em oração até que o fogo caiu (At 1.14; 2.1-4).

d. É uma prova de que o Espirito de oração opera em nós (Zc 12.10; Rm 8.26; Ef 6.18; Jd 20). O Espírito Santo ora, em nós, enquanto trabalhamos; enquanto nos ocupamos de nossas tarefas diárias. O Espírito Santo não se preocupa acerca da posição de nosso corpo, isto é, se estamos ajoelhados, deitados ou em pé. Isto é o segredo de estarmos sempre orando! Dá liberdade ao Espírito – e Ele levar-te-á para esta gloriosa vida de oração. Aleluia. A VITÓRIA É NOSSA, PELO SANGUE DE JESUS. Amém. – A ordem de orar sem cessar não significa orar repetida e continuamente, sem parar (Mt 6.7-8), mas orar com persistência (Lc 11.1-13; 18.1-8) e com regularidade (Ef 6.18; Fp 4.6; Cl 4.2,12). Orar sempre é um tema comum nas epístolas de Paulo (Rm 1.9; 12.12; Ef 6.18; 1Ts 5.17; 2Ts 1.11). À luz das aflições e dificuldades da vida, e da evidência da aproximação do castigo, jamais devemos esmorecer, mas buscar à Deus em oração. Paulo assim escreve aos Efésios: “com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos” (Ef 6.18). Esse versículo introduz o caráter geral da vida de oração de um cristão: 1) "toda oração e súplica" concentra-se na variedade; 2) "em todo o tempo" concentra-se na frequência (Rm 12.12; Fp 4.6; 1Ts 5.17); 3) "no Espírito" concentra-se na submissão, à medida que nos ajustamos à vontade de Deus (Rm 8.26-27); 4) "vigiando" concentra-se no modo (Mt 26.41; Mc 13.35); 5) "toda perseverança" concentra-se na persistência (Lc 11.9; 18.7-8); e 6) "todos os santos" concentra-se nos alvos (1Sm 12.23). – Perseverança na oração é uma prova de que o Espírito de oração opera em nós. Já foi esclarecido nesse subtópico que orar no Espírito, com a inicial maiúscula em referência à 3ª pessoa da Trindade, é orar em submissão ao Espírito Santo, o ente divino que aperfeiçoa nossas orações e as faz chegar diante de Deus. Assim, não está claro a que o comentarista se refere com Espírito de oração. Também cabe aqui ressaltar que, a exemplo do que recomenda Judas, “Vós, porém, amados, edificando-vos na vossa fé santíssima, ''orando no Espírito Santo,” (Jd 20), onde orando no Espírito Santo não é um chamado a algum tipo de êxtase na oração, mas um simples chamado a orar consistentemente na vontade e no poder do Espírito, como alguém que ora no nome de Jesus Cristo (Rm 8.26-27). – “Dentre as práticas devocionais, sem dúvida alguma, a oração é uma das mais importantes. Pela oração falamos com Deus, suplicamos o seu favor e intercedemos pelos homens. A oração é mais do que um deleite, ela é um dever. Para Cristo, a oração deve ser marcada pela perseverança, mas, também pela tarefa diligente. Para Jesus orar é vital, é oxigenar a vida espiritual, é manter acesa a chama da esperança. Para instruir os seus discípulos, Jesus usou métodos relevantes, simples, objetivos e revolucionários. O seu ensino causava grande impacto, pois criava situações, cujas imagens atingiam o coração dos seus ouvintes. Para ensinar que a oração é o instrumento medidor da fé, o Senhor Jesus conta a “parábola do juiz iníquo” (Lc 18. 1-8).

SUBSÍDIO DE VIDA CRISTÃ

O fato e que Deus se comprometeu a ouvir e responder as orações de seu povo. Somos informados uma vez após a outra — e Jesus nos lembra — que o que Deus quer fazer em nós e por nós, de alguma maneira, depende de pedirmos a Ele que faça isso (Mt 7.7,8; Tg 4.2). A oração é o meio concedido por Deus de admiti-lo em nossa vida e necessidades. Em sua palavra, Ele nos fez inúmeras promessas e comprometeu-se a cumpri-las quando as levamos a sério (por exemplo, 2 Cr 7.14; Sl 50.15; Jr 33.3). A verdadeira oração começa quando começamos a aceitar a Deus em sua Palavra.

Jesus não só nos chama a desfrutar suas bençãos, mas também nos envolve em uma batalha espiritual para a qual precisamos de uma armadura e de armas. A oração é uma das armas (Ef 6.14-20). Observamos como ela funciona quando os cristãos primitivos, no livro de Atos, reagiram aos ataques do Diabo com oração (4.23,24; 12.54). E por meio da oração que colaboramos com o Senhor na execução de seus planos para o mundo. Assim, a oração não é apenas um passatempo prazeroso; ela também funciona e combate" (Guia Cristão de Leitura da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 591).

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Francisco. Especial Lição 9: Como vencer as oposições à obra de Deus. Disponível em: https://auxilioebd.blogspot.com. Acesso em 29.08.2020.

BÍBLIA, Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

FOULKES, Francis. Efésios: introdução e comentário. Série Cultura Bíblica: São Paulo: Vida Nova, 2011. p. 146.

LIÇÕES BÍBLICAS. Edição Especial Jovens e Adultos, 3º Trimestre 2020 - Lição 9. Rio de Janeiro: CPAD, 30 Agosto, 2020.

sábado, 22 de agosto de 2020

LIÇÃO 8: AS CAUSAS DA DESUNIÃO DEVEM SER ELIMINADAS

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

       Veremos nesta lição um conflito que surgiu entre diferentes classes sociais, e como o problema foi solucionado. “O pior pecado que podemos cometer contra outros seres humanos não é odiá-los, mas sim ser indiferentes a eles: essa é a essência da desumanidade." George Bernard Shaw escreveu essas palavras para o personagem reverendo Anthony Anderson, no segundo ato de sua peça The Devi!'s Disciple [O Discípulo do Diabo]. – No capítulo 5 de Neemias os inimigos e os muros da cidade desaparecem de cena para revelarem um problema mais sutil. Aqui, a ameaça é a fome e a exploração, e a estrutura que corre risco é a própria comunidade. O grande problema que encontramos entre os irmãos judeus era o desnível social e acima de tudo a indiferença dos que possuíam mais condições financeiras. Mas havia um líder autêntico que foi capaz de fazer justiça e resolver aquele problema. O inimigo usa todos os meios para fazer os irmãos entrar em conflito trazendo, assim a contenda e a desunião no meio do arraial dos santos. Por isso faz-se necessário estarmos sempre praticando o Salmo 133: “Oh quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união [...]”.   

   I. A UNIÃO CARACTERIZAVA OS JUDEUS LIBERTOS DO CATIVEIRO

1. Qual era a base desta união?

a. Todos eram do mesmo povo, e confessavam a sua fé no único Deus verdadeiro. O altar havia sido renovado, o Templo levantado, e o culto a Deus restaurado, conforme os ritos da lei.

b. Todos haviam experimentado o despertamento que se havia iniciado pelo rei Ciro. Todos haviam cooperado ativamente para a restauração da cidade de Jerusalém.

Faz-se necessário observar que nem todos os que foram povoar a terra de Judá puderam comprovar que eram da mesma etnia, como observamos na lição anterior que até mesmo no meio dos levitas tinham pessoas que não puderam comprovar a sua genealogia, portanto foram considerados como imundos. Pode se perceber também que Deus despertou o rei Ciro e este atendeu às ordenanças do Senhor, mas o despertamento espiritual somente os servos do Senhor experimentam, pois este vem diretamente do Espírito Santo. Havia uma união genuína entre aqueles que realmente temiam ao Senhor e que foram despertados por Ele para repovoarem a terra de Judá. Mas por causa de alguns que se misturaram ao povo escolhido do Senhor a erva daninha da desunião estava batendo às portas dos recém-chegados aquela terra que fora escolhida pelo Senhor para dar descanso para o seu povo.

2. Esta união entre os judeus simboliza a união que deve haver na Igreja de Deus (Gl 6.16). Também na Igreja há muitas coisas unificantes. Todos experimentaram o novo nascimento. Todos que nasceram de novo amam aos que são nascidos por Ele - Jesus. Todos na Igreja são aproximados uns dos outros, porque Cristo derrubou o muro da separação que havia entre gentios e judeus, tornando-os uma verdadeira "Família de Deus" (Ef 2.12-19). Esta união não se baseia em nacionalidade, nível social ou cultural, mas todos são UM EM CRISTO (Gl 3.28). No meio da Igreja opera o Espírito Santo, o qual faz com que todos se tornem um coração e uma alma (At 4.32). Quando a Igreja vive cheia do Espírito Santo, a união funciona em sua plenitude, e, então, ela se torna uma antessala do céu. Consideremos algumas bênçãos decorrentes da união: A Igreja é caracterizada pela comunhão que mantém com o Senhor Jesus Cristo e pela unidade espiritual de seus membros. Todo aquele que confia somente em Cristo para a salvação, seja judeu ou gentio, é levado à união espiritual e intimidade com Deus. Essa é a reconciliação de 2Co 5.18-21. A obra expiatória realizada por meio da morte de Cristo na cruz retirou o castigo do pecado, e por fim, até mesmo a sua presença. A unidade observada na Igreja de Cristo não é um mero fenômeno social. É o resultado da ação direta do Espírito Santo na vida daqueles que recebem a Jesus como o seu único e suficiente Salvador (Ef 2.19). É uma comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da congregação dos filhos de Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se fossem um só homem (Jz 20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível, no Espírito Santo e assim estará para todo o sempre!

a. Os crentes sentem apoio espiritual para a sua vida. Muitos crentes vivem cercados de pessoas que são contrárias à sua fé. São alvos de críticas e de isolamento, seja no trabalho, na escola ou na família. Que riqueza então é chegar à igreja e encontrar o ambiente fraternal e a união que predomina entre os irmãos! Ouçamos o que diz o salmista: "Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união..." (SI 133.1). Não é conhecido em que momento Davi escreveu o Salmo 133, talvez tenha sido motivada pela chegada das nações, em união, à sua coroação, como registrado nos textos de 2Sm 5.1-3 e 1Cr 11.1-3. Essa lição sobre a união fraternal seria útil aos filhos de Davi, que eram adversários entre si; por exemplo, Absalão assassinou Amnom (2Sm 13.28-33) e Adonias tentou usurpar o direito de Salomão ao trono (1Rs 1.5-33). Todos aqueles cuja linhagem pode ser traçada a Abraão, Isaque e Jacó, são os irmãos a quem Davi se refere, e a união descrita no salmo é a nacional, sendo a união espiritual o alicerce. Essa deveria ser a ênfase, aqui, pois esses cânticos eram entoados pelos peregrinos judeus que viajavam para as três grandes festas. A comunhão é o "vínculo de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os cristãos a se sentirem um só corpo em Jesus Cristo(Dicionário Teológico, CPAD). A palavra grega koinonia traz a ideia de cooperação e relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão da Igreja Primitiva era completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas também reuni­ram-se para socorrer os mais necessitados. A comunhão de sua igreja tem como modelo os cristãos de Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento social? Como dito antes, o alicerce da verdadeira comunhão é a unidade espiritual.

b. Na igreja levamos as cargas uns dos outros (Gl 6.2). Existem cargas que cada um tem de levar sozinho (Gl 6.5). Mas existem também cargas em que podemos ajudar uns aos outros. Que bênção na hora de aperto, saber que a igreja pode ajudar em oração! Levar as cargas uns dos outros diz respeito aos fardos muito pesados que, aqui, representam as dificuldades ou os problemas com que as pessoas acham difícil lidar. "Levar" indica carregar algo com perseverança, a lei de Cristo. A lei do amor que cumpre toda a lei (Gl 5.14; Jo 13.34; Rm 13.8,10).

c. A união nos faz fortes. Uma ovelha sozinha é facilmente arrebatada, mas quando está com o rebanho é protegida. Uma pedra sozinha, pode ser levada ou jogada, porém, quando estiver edificada dentro do muro, é mais difícil tirá-la (1 Pe 2.4,5). Um dos muitos benefícios da união fraternal dos irmãos é a segurança e proteção “Um homem sozinho pode ser vencido, mas dois conseguem defender-se. Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade” (Ec 4.12).

d. Uma igreja que vive em união, tem um testemunho maravilhoso. Jesus disse que através dessa união o mundo conheceria que Ele foi enviado por Deus (Jo 17.21,23; 13.35). Pela união o mundo conhecerá também os verdadeiros discípulos de Jesus (Jo 13.35).  Uma igreja que cultiva a comunhão e não se acha dividida só tem a crescer: "[...] E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar" (At 2.47b). A Igreja como a agência por excelência do Reino de Deus não pode ficar estagnada. Haverá de crescer local e universalmente.

3. Esta união é uma verdadeira força. Foi por causa da união que os judeus, numericamente inferiores aos seus inimigos, conseguiram construir o Templo, e também os muros da cidade. Esta união é também o segredo da vitória da Igreja. O santo óleo desce da cabeça do Sumo Sacerdote Jesus Cristo, e os crentes vivem em união (SI 133.1,2). Jesus disse: "Eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam UM" (Jo 17.22). Sejamos, pois, UM; assim como o Pai, o Filho e o Espírito Santo são UM (1 Jo 5.7). O autor de Eclesiastes já dizia: "O cordão de três dobras não se quebra tão depressa" (Ec 4.12). – Davi declarou no Salmo 133 que a união é agradável e preciosa. Infelizmente a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões por causa de assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando outros. Mas a união é importante porque: (1) faz da Igreja um exemplo para o mundo e ajuda a aproximar as pessoas do Senhor; (2) ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no céu; (3) renova e revigora o ministério, porque existe menos tensão para extrair a nossa energia. Viver em união não significa que concordaremos em tudo; haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Mas devemos concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união reflete a nossa concordância de propósitos.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Para introduzir esta lição é importante que você conceitue bem biblicamente a palavra "comunhão" e amplie o seu conceito. Para lhe auxiliar nessa tarefa, juntamente com o conceito presente na lição, leve em conta o seguinte fragmento textual:

"Koinõnia, tendo em comum (koinos), sociedade, companheirismo', denota: a) aparte que alguém tem em algo, participação, companheirismo reconhecido e desfrutado. É, assim, usado acerca: das experiências e interesses comuns dos cristãos (At 2.42; Gl 2.9); da participação no conhecimento do Filho de Deus (1 Co 1.9); do compartilhamento na realização dos efeitos do sangue (ou seja, da morte) de Jesus e do corpo de Jesus, conforme é exposto pelos emblemas da Ceia do Senhor (1 Co 10.16); da participação no que é derivado do Espírito Santo (2 Co 13.13; Fp 2.1); da participação nos sofrimentos de Cristo (Fp 3.10); do compartilhamento na vida da ressurreição possuída em Cristo e, por conseguinte, do companheirismo com o Pai e o Filho (1 Jo 1.3,6,7); negativamente, da impossibilidade de ‘comunhão' entre a luz e as trevas (2 Co 6.14); b) companheirismo manifesto em atos, os efeitos práticos do companheirismo com Deus, realizado pelo Espírito Santo na vida dos crentes em resultado da fé (Fm 6), e encontrando expressão no ministério em comum com os necessitados (Rm 15.26; 2 Co 8.4; 9.13; Hb 13.16) e na proclamação do Evangelho pelos dons (Fp 1.5)" (Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 485).

  II. A UNIÃO ENTRE OS JUDEUS ESTAVAM AMEAÇADA

1. Qual era a ameaça? Tratava-se de uma grande injustiça social. Financeiramente, a vida dos que voltaram da Babilônia era bem difícil. Muitos eram obrigados a tomar dinheiro emprestado, não só para seu sustento, como também para pagar o imposto do governo. Tomavam emprestado dos seus irmãos mais ricos, os quais cobravam juros altos, até mesmo com usura. Quando os mais pobres não conseguiam pagar os empréstimos tomados, os irmãos mais ricos executavam as dívidas, tomando as casas, as terras, e até mesmo os filhos e as filhas dos devedores (Ne 5.1-5). Isto foi causa de grande clamor entre os Judeus. Este assunto chegou ao conhecimento de Neemias, o qual ficou muito enfadado (Ne 5.6). – A oposição dos inimigos e os tempos difíceis em geral tinham precipitado condições econômicas de efeito devastador para a frágil vida daqueles de Judá. O efeito dessa extorsão sobre a moral dos que haviam retornado era pior do que a oposição do inimigo. Os nobres, além de não trabalhar na reconstrução e manter alianças com os inimigos (Ne 3.5), afligia seus irmãos mais pobres com a usura. O povo estava fatigado com o trabalho árduo, esgotado pelo contínuo assédio dos inimigos, pobre e sem as condições mínimas de sobrevivência, sem dinheiro para os impostos e fazendo empréstimos, trabalhando no muro em vez de no campo pelo alimento. Além de tudo isso, havia reclamações contra a terrível exploração e extorsão feita pelos judeus ricos que não estavam ajudando, mas forçavam as pessoas a vender suas casas e seus filhos, sem que tivessem qualquer perspectiva de resgatá-los no futuro. Em condições normais, a lei oferecia a esperança do livramento desses moços mediante a remissão das dívidas, o que acontecia a cada sete anos, ou no 50º ano do Jubileu (Lv 25). O costume da redenção tornava possível "comprar de volta" o indivíduo escravo em qualquer momento, mas a situação financeira desesperadora desses tempos fazia com que isso parecesse impossível. Então, a Lei Mosaica que previa alguns dispositivos para evitar injustiças sociais, como a lei do levirato, e os exemplos citado, foram pervertidos para usufruto inescrupuloso dos mais abastados. Em todas as épocas isso aconteceu no meio do povo de Deus, e foi contra essa interpretação maldosa da Lei que Jesus pregou e importunou os doutores da lei. No caso em estudo, Neemias repreendeu os nobres e magistrados não somente pela usura e falta de compaixão para com os irmãos, mas também pelo descompromisso para com o projeto de reedificação (Ne 3.5), enquanto a lealdade deles a Tobias e a outros adversários aumentava ainda mais as atitudes oportunistas, colocando-os muito próximos da posição dos inimigos. Eles haviam se tornado os adversários internos. De acordo com a lei mosaica, se a pessoa era miserável, eles deviam considerar o empréstimo como uma doação. Se a pessoa tivesse condições de pagar mais tarde, teria que ser livre de juros (Lv 25.36-37; Dt 23.19-20). Essa generosidade era a marca dos piedosos (SI 15.5; Jr 15.10; Pv 28.8).

2. Como se explica esta grande injustiça?

a. Em primeiro lugar era uma expressão de FALTA DE AMOR dos mais ricos para com os mais pobres. Desta forma os mais ricos pecavam contra seus irmãos mais pobres, não lhes dando o devido valor. A Bíblia diz que cada um deve considerar "os outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3), e que devemos suportar "uns aos outros em amor" (Ef 4.2). Por falta de amor, os ricos chegaram a cobrar juros com usura, coisa proibida na lei (Lv 22.36; Êx 22.25). O assunto é muito sério, porque a Bíblia diz que quem peca contra o irmão, peca contra Cristo (1 Co 8.12). – A cobrança de juros altos sobre um empréstimo era proibida pela lei mosaica (Êx 22.25), que também obrigava o povo a ser generoso com os pobres, emprestando-lhes livremente, e cancelando a dívida no ano da remissão, que acontecia de sete em sete anos (Dt 15.1-11). Também os que se tivessem vendido deveriam ser despedidos forros no sétimo ano, e enriquecidos pelo seu senhor (Dt 15.12-15). Assim, vemos que a Lei previa algo muito além daquilo que outras culturas contemporâneas aos judeus daqueles dias jamais preveriam. A luta contra a injustiça social permeou os ministérios de diversos profetas, apontando para um comportamento que é intrínseco do ser humano – o desamor. Mesmo com a Lei que foi entregue pelas mãos de Deus à Moisés, o povo vivia como se não tivesse Lei e, pior, interpretando conforme seu bel-prazer. O apóstolo Paulo escreve em 1º Timóteo 6.10: "o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores", e Tiago, irmão do Senhor: "onde há inveja e espírito faccioso, aí há perturbação e toda obra perversa" (Tg 3.16). O amor ao dinheiro continua perturbando a igreja de Deus no mundo, a começar por Ananias e Safira, que mentiram ao Espírito Santo sobre o produto da venda de um imóvel e por isso foram executados (At 5.1-10). Quantos irmãos nossos, hoje, padecem necessidade e deixamos de socorrer com a desculpa que o que temos é corbã? (Mc 7.11). É importante frisar que desprezar os deveres de piedade filial em nome da religião é invalidar a palavra de Deus! O problema aqui não era apenas FALTA DE AMOR, mas era tornar inválida a Lei, não socorrendo os necessitados e aflitos, mas subjugando-os, exploravam o povo, tirando vantagem da carência de alimentos. “O cristianismo atualmente é objeto da zombaria do mundo. Em grande parte isso é devido à conduta dos que se dizem cristãos, mas agem de forma igual ou mesmo pior do que os descrentes, negando assim a santificação que se espera daquele que leva o nome de Cristo. Cuidemos para que nós próprios não estejamos contribuindo para essa situação deprimente.” (bible-facts.info).

b. A atitude dos ricos era uma expressão de DUREZA CONTRA SEUS IRMÃOS. Eles queriam ficar ainda mais ricos às custas da miséria de seus irmãos mais pobres. Não lhes importava o choro de seus irmãos (Ne 5.1). “A opressão faz endoidecer até o sábio” (Ec 7.7).  Ao saber do que estava acontecendo, Neemias se indignou muito e procurou resolver o problema rapidamente; convocou os nobres e magistrados que exploravam o povo, tirando vantagem da carência de alimentos e acusou-os do crime de cobrar juros dos seus compatriotas e convocou uma grande reunião contra eles. Confrontados por Neemias, eles ficado em silêncio, Neemias declarou que não era certo o que faziam, e que deviam andar no temor de Deus para evitar a zombaria dos outros povos, seus inimigos.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

"Pobrezas (5.1-4). Tanto as condições de seca como altas taxas produziu um grande aperto na agricultura. A avareza dos ricos, que emprestavam dinheiro às famílias desesperadas a juros altos e então hipotecavam as suas propriedades, foi a principal causa da tremenda dificuldade em que muitos se acharam. Hoje, há muitas razões para a pobreza. Porém, a avareza permanece como causa mais comum.

Tributos (5.4). O rei persa cobrava cerca de 20 milhões, em ouro, de dáricos (uma moeda persa), anualmente, em taxas. O pagamento era exigido em moedas de ouro ou prata que eram derretidas e armazenadas em lingotes. Quando Alexandre, o Grande tomou Susã, onde Neemias havia servido Artaxerxes, encontrou cerca de 270 toneladas de ouro e 1.200 toneladas de prata! A política privou o reino do seu dinheiro, criou a inflação, e foi, em parte, responsável pela aflição econômica da Judeia.

Usura (5 .7). A palavra hebraica massa, aparece somente em Neemias. Significa impor uma sobrecarga. O Antigo Testamento proíbe cobrar juros em empréstimos aos vizinhos pobres (Éx 22.25-27; Lv 25.35-37; Dt 23.19,20; 24.10-13). Essas condições estavam sendo violadas" (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 317).

  III. NEEMIAS SOLUCIONOU O PROBLEMA

1. Neemias convocou um grande ajuntamento (Ne 5.8). Reuniu o povo e lembrou a todos que os irmãos mais pobres estavam sendo literalmente escravizados. Confrontou-os com sua injustiça, perguntando-lhes: "Vender-se-iam a nós? Então se calaram e não acharam o que responder" (Ne 5.8). – Uma coisa é enfrentar inimigos estrangeiros e outra bem diferente é tratar do próprio povo em conflito. O jovem Moisés aprendeu que era mais fácil se livrar de um capataz egípcio do que reconciliar dois irmãos hebreus (Ex 2:11-15). A atitude de Neemias diante desse problema foi uma demonstração de verdadeira liderança. – Por que Neemias não ficou sabendo antes desse problema econômico vergonhoso? É bem provável que isso se deva ao fato de ele estar tão envolvido naquilo que havia se proposto a fazer em Jerusalém (reconstruir os muros da cidade) que não tinha tempo de ficar a par dos assuntos internos da comunidade. Sua comissão no cargo de governador era reparar os muros e restaurar as portas, não reformar a comunidade. Além disso, Neemias não havia passado tempo suficiente na cidade para ficar sabendo de tudo o que acontecia. É importante observar que a construção dos muros não criou esses problemas, mas apenas os revelou. Muitas vezes, quando uma igreja começa um programa de construção, vem à tona problemas de todo tipo que as pessoas nem imaginavam que existiam. Um programa de construção é uma tarefa árdua que coloca a prova nossa fé, nossa paciência e nossas prioridades, ao mesmo tempo que faz aflorar o que há de melhor em algumas pessoas e o que há de pior em outras. A oração "Depois de ter considerado comigo mesmo" significa, literalmente, "Meu coração considerou dentro de mim". Um amigo meu chama isso de "deliberação de mim para comigo mesmo". – O que Neemias fez foi uma deliberação entre sua mente e seu coração ao ponderar sobre o problema e buscar a orientação de Deus. Controlou seus sentimentos e pensamentos de modo a ser capaz de oferecer a seu povo uma liderança construtiva. "Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espirito, do que o que toma uma cidade" (Pv 16:32). Se um líder não consegue se controlar, jamais será capaz de controlar a outros. – Neemias decidiu convocar uma grande assembleia (Ne 5 :7) e confrontar publicamente as pessoas cujo egoísmo havia criado essa situação difícil e dolorosa. Tratava-se de um pecado muito grave e de caráter público, envolvendo a nação como um todo. Exigia, portanto, repreensão e arrependimento públicos.

2. Neemias fez uma proposta conciliadora. "Deixemos este ganho!" Restituí-lhes hoje!" (Ne 5.10,11). Neemias Inclui-se na proposta. Ele e seus auxiliares haviam emprestado a juro (notem bem, a juro mas não com usura!), e Neemias estava disposto a não receber os juros (Ne 5.10). – Em Neemias 5:10, 11, Neemias apelou a suas práticas pessoais. Emprestava dinheiro aos necessitados, mas não cobrava juros acima do previsto, nem os privava daquilo que haviam deixado como garantia (Ex 22:25). Ao contrário de alguns líderes, Neemias não dizia: "Façam o que digo e não o que eu faço!" Não era hipócrita, pois colocava suas palavras em prática. Na verdade, este capítulo terminará com Neemias ressaltando que Deus o havia capacitado para que fizesse isso por seu povo (Ne 5:14-19). Dava um bom exemplo como líder e como homem temente a Deus. – "O centésimo", no versículo 11, era referente aos juros cobrados pelo dinheiro e, provavelmente, aplicados mensalmente, num total de 12% de juros ao ano. Essa prática já existia antes de Neemias entrar em cena e, agora, o povo estava desesperado, tentando equilibrar o orçamento familiar. – Uma vez que era um homem de ação, Neemias disse aos credores que deveriam restituir os juros e as garantias que haviam tomado de seus compatriotas bem como as propriedades que haviam confiscado na execução de hipotecas. Esse passo radical de fé e de amor não resolveria de imediato todos os problemas econômicos do povo, mas pelo menos evitaria que a crise piorasse. Também daria ao povo aflito a oportunidade de começar outra vez. – O sexto apelo de Neemias foi para lembrar os credores do julgamento do Senhor (vv. 12, 13). Eles prometeram obedecer, de modo que Neemias fez com que prestassem um juramento diante dos sacerdotes e de outros oficiais da cidade. Isso significava que sua promessa não se limitava apenas a seu próximo, mas que também era um assunto entre eles e Deus; algo extremamente sério. "Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos. Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras" (Ec 5:4, 5).

3. A proposta de Neemias foi acatada. "Restituir-lho-emos, e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes" (Ne 5.12). Neemias fez com que jurassem diante dos sacerdotes que assim fariam (Ne 5.12). Um ato simbólico de Neemias confirmou aquele juramento solene (Ne 5.13). – A grande assembleia encerrou com três atos enfatizando a solenidade daquela ocasião: (1) Neemias sacudiu as dobras de seu manto, simbolizando o que Deus faria com os credores se não cumprissem seu voto. Sacudir o manto ou a poeira dos pés era um gesto judaico típico de condenação (At 13:51; Mt 10:14). (2) a congregação respondeu com um "Amém" coletivo, muito mais do que um ritual judaico. Era um consentimento solene ao que havia sido dito e feito na assembleia (ver Ne 8:6 e Dt 2 7 :1 4ss). O termo amém significa "assim seja"; em outras palavras: "Que o Senhor faça tudo que tu disseste!" Era um ato de adoração que tornava a assembleia toda parte das decisões tomadas. (3) Em seguida, a congregação toda louvou ao Senhor. por quê? Porque Deus havia capacitado Neemias a ajudá-los a começar o processo de resolução de seus problemas. Neemias havia orientado os credores a reconhecer seus pecados e a fazer as restituições necessárias. Essa grande assembleia não foi apenas uma "conferência sobre questões econômicas", mas também um culto de adoração no qual Neemias havia elevado ao máximo um problema financeiro. O povo de Deus deve seguir seu exemplo e tratar de todos os problemas a luz da vontade de Deus, conforme esta se encontra revelada em sua Palavra.

Como disse D. L. Moody: "Uma vida santa causará a mais profunda impressão. Os faróis não soam sirenes; apenas brilham". Em nosso tempo de escândalos em quase todas as áreas da vida, especialmente na política, é um grande estímulo encontrar um homem como Neemias, que colocou o serviço ao povo antes dos interesses próprios. Neemias nunca leu Filipenses 2:1-13, mas, sem dúvida, colocou em prática as palavras dessa passagem. Ao longo dos doze anos de seu primeiro mandato como governador e, posteriormente, no segundo mandato nesse cargo (Ne 13:6, 7), usou seus privilégios para ajudar o povo e não para construir um reino para si mesmo. Naquela época, a maioria dos oficiais exercia sua autoridade de modo a se promover e a proteger interesses pessoais. Sua preocupação com as necessidades do povo era mínima. Como filhos de Deus, nosso exemplo é Jesus Cristo e não os líderes deste mundo (Lc 22:23-30). "Ergue-se uma cruz no caminho da liderança espiritual", escreve j. Oswald Sanders, "cruz em que o líder consentira ser pregado”.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“'Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também (1 Co 12.12)'.

A frase 'assim é... também (houtos kai) nos alerta para o que é talvez a primeira metáfora do Novo Testamento com a intenção de nos ajudar a entender a natureza da igreja. Em Romanos, Paulo ensinou que pela fé o crente une-se a Jesus em uma união indissolúvel. Agora, ele ensina que aqueles que estão unidos a Cristo também estão unidos entre si, num relacionamento orgânico, como aquele que existe entre os membros e órgãos do corpo.

Essa imagem transmite inúmeras realidades. Não podemos ser cristãos isolados dos outros, devemos funcionar junto com eles. Não podemos cumprir nossa missão na vida separados da igreja, e devemos estar suficientemente próximos para exercer nossos dons através do amor e do serviço. Não podemos permitir discussões e divisões em nossas congregações, e devemos estar unidos por um compromisso comum, não só com Jesus, mas também entre nós" (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 348).

  IV. A PAZ VOLTOU A REINAR ENTRE OS JUDEUS

1. Surgindo um problema entre os irmãos, deve logo ser tratado com muita diligência. Quando um líder do povo for ignorante, desinteressado ou negligente, o resultado poderá vir a ser uma contaminação grave.

Faz parte das atribuições do ministro manter a boa ordem na igreja. Ele deve enfrentar os problemas com humildade, imparcialidade, e com sabedoria de Deus.

Neemias foi neste sentido um exemplo para os que estão à frente da obra do Senhor. Assim como Deus fez com Neemias, Ele quer fazer com seus servos, hoje, isto é. Deus quer abençoar seus servos e confirmar as obras das suas mãos (SI 90.17). – Alguém disse que os líderes são as pessoas que aceitam mais culpa e menos crédito, mas também são aqueles que se sacrificam em silêncio para que outros possam ser beneficiados. Neemias e seus assistentes não apenas pagavam as próprias contas, como também tinham o cuidado de não explorar o povo de qualquer maneira (Ne 5:15). Os servos de governadores anteriores haviam usado os cargos para o próprio lucro, possivelmente aceitando subornos das pessoas e prometendo representá-las perante o governador. Multiplicar as riquezas e o poder é uma tentação permanente para os que ocupam cargos de autoridade, mas Neemias e seus amigos caminhavam no temor do Senhor e serviam com honestidade. – Também foram exemplo em um terceiro sentido: Todos participaram da reconstrução dos muros (v. 16). Não eram conselheiros que, de vez em quando, saiam de seus palácios, mas sim trabalhadores que Iabutavam lado a lado com o povo na construção e na defesa da cidade. Jesus disse: "No meio de vós, eu sou como quem serve" (Lc 22:27), e Neemias e seus assistentes demonstraram essa mesma atitude. – Neemias foi um exemplo ainda de outro modo. Não apenas pagava pela própria comida, mas também dividia o que tinha com outros (Ne 5:17, 18). Costumava alimentar mais de 150 convidados, tanto residentes quanto visitantes, e lhes oferecia uma excelente refeição! (ver 1 Rs 4:22,23 para o que era servido diariamente a mesa de Salomão). Calcula-se que essa quantidade de alimentos era suficiente para mais de quinhentos convidados, de modo que Neemias deveria ter sempre as portas de sua casa abertas a todos. Ou, talvez, dividisse o que sobrava com os que trabalhavam nos muros. De qualquer modo, era generoso e não pedia recompensa alguma por isso.

2. Problemas relacionais devem ser tratados carinhosamente. "Bem aventurados os pacificadores" (Mt 5.9). – O amor de Deus se estende até mesmo aos seus inimigos. Esse amor universal de Deus é manifesto em bênçãos que Deus concede a todos de maneira indiscriminada. Os teólogos chamam isso de graça comum. Deve ser diferenciada do amor eterno de Deus pelos seus eleitos (Jr 31.3), mas trata-se, de qualquer maneira, de boa vontade sincera (cf. SI 145.9).

a. A desunião representa uma obra da carne (Gl 5.19,20). Estas coisas entristecem o Espírito Santo (Ef 4.30).  Como obra da carne, esse pecado caracteriza toda a humanidade não redimida que vive debaixo das impotentes exigências da lei que produz somente iniquidade, embora nem todas as pessoas manifestem todos esses pecados ou os exibam no mesmo grau. Em Gálatas 5 Paulo lista três áreas da vida humana: o sexo, a religião e os relacionamentos humanos. As "inimizades" resultam em "porfias" (conflito). Os "ciúmes" (ressentimento maligno) resulta em "iras" (súbitas e desenfreadas expressões de hostilidade). Deus se entristece quando seus filhos se recusam a mudar dos velhos caminhos do pecado para os caminhos justos da nova vida. Deve-se observar que essas reações do Espírito Santo indicam que ele é uma pessoa, fato indicado pelos seus sentimentos (Rm 8.27).

b. A desunião destrói a comunhão e o amor entre os irmãos, coisa tão preciosa na Igreja. "Andai em amor como também Cristo vos amou" (Ef 5.2). "Quem ama a Deus, ame também a seu irmão" (1 Jo 4.21). Jesus orou: "Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti" (Jo 17.21). – Em seu amor altruísta pelos pecadores perdidos (Ef 4.32; Rm 5.8-10), o Senhor é o supremo exemplo. Ele tomou sobre si o pecado do ser humano e deu a sua própria vida para que as pessoas pudessem ser redimidas de seus pecados, recebessem uma natureza nova e santa e herdassem a vida eterna. Daí em diante, eles devem ser imitadores de seu grande amor em novidade e poder do Espírito Santo, o qual possibilita a eles demonstrar o amor divino, em aroma suave. A oferta de Cristo de si mesmo pelo ser humano caído agradou e glorificou o seu Pai celestial, porque demonstrou do modo mais completo e perfeito o soberano, perfeito, incondicional e eterno amor de Deus.

c. Finalmente devemos cultivar nosso testemunho diante do mundo. A união entre os crentes é o selo da estabilidade espiritual e da paz na Igreja (Jo 17.4). – O que une os crentes não são laços de sangue ou interesses em comum, mas o amor incondicional de Cristo. Paulo faz uma descrição da Igreja de Cristo em 1 Coríntios 12:12-30 como um corpo, que tem de estar completamente unido para funcionar bem. Os membros são muito diferentes, mas cada um tem um papel muito importante para a comunidade toda. Quando a Igreja está unida, mostra a glória de Jesus (Jo 17.22).

SUBSÍDIO DE VIDA CRISTÃ

A importância do trabalho em equipe

Neemias não era adepto do 'ministério de um homem só’. Ele sabia da importância de conseguir que todos se envolvessem no trabalho e se sentissem parte da equipe. Ele conseguiria isso tendo o cuidado de designar as pessoas para trabalhar juntas em áreas do muro que fossem perto da casa delas. Observe a recorrência da expressão: 'ao seu lado' no capítulo 3 (Ne 3.7,17-25, 27,29-31). O trabalho em 'equipe' garante que 'todos juntos conseguem mais' (veja também 1 Co 12)" (Guia Cristão de Leitura da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 198).

REFERÊNCIAS

BÍBLIA, Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

BARBOSA, Francisco. Especial Lição 8: As causas de desunião devem ser eliminadas. Disponível em: https://auxilioebd.blogspot.com. Acesso em 21.08.2020

LIÇÕES BÍBLICAS. Edição Especial Jovens e Adultos, 3º Trimestre 2020 - Lição 8. Rio de Janeiro: CPAD, 23 Agosto, 2020.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II, Históricos, p. 639-642. Santo André: Geográfica, 2010.