COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Veremos nesta lição um conflito que surgiu entre diferentes classes sociais,
e como o problema foi solucionado. – “O pior pecado que podemos cometer contra outros seres
humanos não é odiá-los, mas sim ser indiferentes a eles: essa é a essência da
desumanidade." George Bernard Shaw escreveu essas palavras para o
personagem reverendo Anthony Anderson, no segundo ato de sua peça The
Devi!'s Disciple [O Discípulo do Diabo]. – No capítulo 5 de Neemias os
inimigos e os muros da cidade desaparecem de cena para revelarem um problema
mais sutil. Aqui, a ameaça é a fome e a exploração, e a estrutura que corre
risco é a própria comunidade. O grande problema
que encontramos entre os irmãos judeus era o desnível social e acima de tudo a
indiferença dos que possuíam mais condições financeiras. Mas havia um líder
autêntico que foi capaz de fazer justiça e resolver aquele problema. O inimigo
usa todos os meios para fazer os irmãos entrar em conflito trazendo, assim a
contenda e a desunião no meio do arraial dos santos. Por isso faz-se necessário
estarmos sempre praticando o Salmo 133: “Oh quão bom e quão suave é que os
irmãos vivam em união [...]”.
I. A UNIÃO CARACTERIZAVA OS JUDEUS LIBERTOS
DO CATIVEIRO
1. Qual era a base
desta união?
a. Todos eram do
mesmo povo, e confessavam a sua fé no único Deus verdadeiro. O altar havia sido
renovado, o Templo levantado, e o culto a Deus restaurado, conforme os ritos da
lei.
b. Todos haviam
experimentado o despertamento que se havia iniciado pelo rei Ciro. Todos haviam
cooperado ativamente para a restauração da cidade de Jerusalém.
Faz-se necessário
observar que nem todos os que foram povoar a terra de Judá puderam comprovar
que eram da mesma etnia, como observamos na lição anterior que até mesmo no
meio dos levitas tinham pessoas que não puderam comprovar a sua genealogia,
portanto foram considerados como imundos. Pode se perceber também que Deus
despertou o rei Ciro e este atendeu às ordenanças do Senhor, mas o
despertamento espiritual somente os servos do Senhor experimentam, pois este
vem diretamente do Espírito Santo. Havia uma união genuína entre aqueles que
realmente temiam ao Senhor e que foram despertados por Ele para repovoarem a
terra de Judá. Mas por causa de alguns que se misturaram ao povo escolhido do
Senhor a erva daninha da desunião estava batendo às portas dos recém-chegados
aquela terra que fora escolhida pelo Senhor para dar descanso para o seu povo.
2. Esta união
entre os judeus simboliza a união que deve haver na Igreja de Deus (Gl 6.16). Também na Igreja há muitas coisas unificantes. Todos experimentaram
o novo nascimento. Todos que nasceram de novo amam aos que são nascidos por Ele
- Jesus. Todos na Igreja são aproximados uns dos outros, porque Cristo derrubou
o muro da separação que havia entre gentios e judeus, tornando-os uma
verdadeira "Família de Deus" (Ef 2.12-19). Esta união não se baseia
em nacionalidade, nível social ou cultural, mas todos são UM EM CRISTO (Gl
3.28). No meio da Igreja opera o Espírito Santo, o qual faz com que todos se
tornem um coração e uma alma (At 4.32). Quando a Igreja vive cheia do Espírito
Santo, a união funciona em sua plenitude, e, então, ela se torna uma antessala
do céu. Consideremos algumas bênçãos decorrentes da união: – A Igreja é caracterizada pela
comunhão que mantém com o Senhor Jesus Cristo e pela unidade espiritual de seus
membros. Todo aquele que confia somente em Cristo para a salvação, seja judeu
ou gentio, é levado à união espiritual e intimidade com Deus. Essa é a
reconciliação de 2Co 5.18-21. A obra expiatória realizada por meio da morte de
Cristo na cruz retirou o castigo do pecado, e por fim, até mesmo a sua
presença. A unidade observada na Igreja de Cristo não é um mero fenômeno
social. É o resultado da ação direta do Espírito Santo na vida daqueles que
recebem a Jesus como o seu único e suficiente Salvador (Ef 2.19). É uma
comunhão, aliás, que ultrapassa ao ajuntamento da congregação dos filhos de
Israel que, nos momentos de crise, reuniam-se como se fossem um só homem (Jz
20.1). Hoje, a Igreja permanece unida, universal e invisível, no Espírito Santo
e assim estará para todo o sempre!
a. Os crentes
sentem apoio espiritual para a sua vida. Muitos crentes vivem cercados de
pessoas que são contrárias à sua fé. São alvos de críticas e de isolamento,
seja no trabalho, na escola ou na família. Que riqueza então é chegar à igreja e
encontrar o ambiente fraternal e a união que predomina entre os irmãos! Ouçamos
o que diz o salmista: "Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em
união..." (SI 133.1). – Não é conhecido em que momento Davi escreveu o Salmo 133, talvez tenha
sido motivada pela chegada das nações, em união, à sua coroação, como
registrado nos textos de 2Sm 5.1-3 e 1Cr 11.1-3. Essa lição sobre a união
fraternal seria útil aos filhos de Davi, que eram adversários entre si; por
exemplo, Absalão assassinou Amnom (2Sm 13.28-33) e Adonias tentou usurpar o
direito de Salomão ao trono (1Rs 1.5-33). Todos aqueles cuja linhagem pode ser
traçada a Abraão, Isaque e Jacó, são os irmãos a quem Davi se refere, e a união
descrita no salmo é a nacional, sendo a união espiritual o alicerce. Essa
deveria ser a ênfase, aqui, pois esses cânticos eram entoados pelos peregrinos
judeus que viajavam para as três grandes festas. A comunhão é o "vínculo
de unidade fraternal mantida pelo Espírito Santo e que leva os cristãos a se
sentirem um só corpo em Jesus Cristo" (Dicionário Teológico,
CPAD). A palavra grega koinonia traz a ideia de
cooperação e relacionamento espiritual entre os santos. A comunhão da Igreja
Primitiva era completa (At 2.42). Reuniam-se em oração e súplica, mas também
reuniram-se para socorrer os mais necessitados. A comunhão de sua igreja tem
como modelo os cristãos de Jerusalém? Ou não passa de um mero ajuntamento
social? Como dito antes, o alicerce da verdadeira comunhão é a unidade
espiritual.
b. Na igreja
levamos as cargas uns dos outros (Gl 6.2). Existem cargas que cada um tem de
levar sozinho (Gl 6.5). Mas existem também cargas em que podemos ajudar uns aos
outros. Que bênção na hora de aperto, saber que a igreja pode ajudar em oração!
– Levar as cargas uns dos outros
diz respeito aos fardos muito pesados que, aqui, representam as dificuldades ou
os problemas com que as pessoas acham difícil lidar. "Levar" indica
carregar algo com perseverança, a lei de Cristo. A lei do amor que cumpre toda
a lei (Gl 5.14; Jo 13.34; Rm 13.8,10).
c. A união nos faz
fortes. Uma ovelha sozinha é facilmente arrebatada, mas quando está com o
rebanho é protegida. Uma pedra sozinha, pode ser levada ou jogada, porém,
quando estiver edificada dentro do muro, é mais difícil tirá-la (1 Pe 2.4,5). – Um dos muitos benefícios da união fraternal dos
irmãos é a segurança e proteção “Um homem sozinho pode ser vencido, mas dois
conseguem defender-se. Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade”
(Ec 4.12).
d. Uma igreja que
vive em união, tem um testemunho maravilhoso. Jesus disse que através dessa
união o mundo conheceria que Ele foi enviado por Deus (Jo 17.21,23; 13.35).
Pela união o mundo conhecerá também os verdadeiros discípulos de Jesus (Jo
13.35). – Uma igreja
que cultiva a comunhão e não se acha dividida só tem a crescer: "[...]
E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar"
(At 2.47b). A Igreja como a agência por excelência do Reino de Deus não pode
ficar estagnada. Haverá de crescer local e universalmente.
3. Esta união é
uma verdadeira força. Foi por causa da
união que os judeus, numericamente inferiores aos seus inimigos, conseguiram
construir o Templo, e também os muros da cidade. Esta união é também o segredo
da vitória da Igreja. O santo óleo desce da cabeça do Sumo Sacerdote Jesus
Cristo, e os crentes vivem em união (SI 133.1,2). Jesus disse: "Eu
dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam UM" (Jo 17.22).
Sejamos, pois, UM; assim como o Pai, o Filho e o Espírito Santo são UM (1 Jo
5.7). O autor de Eclesiastes já dizia: "O cordão de três dobras não se
quebra tão depressa" (Ec 4.12). – Davi declarou no Salmo 133 que
a união é agradável e preciosa. Infelizmente a união que deveria ser encontrada
na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões por causa de
assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e
desacreditando outros. Mas a união é importante porque: (1) faz da Igreja um
exemplo para o mundo e ajuda a aproximar as pessoas do Senhor; (2) ajuda-nos a
cooperar conforme a vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos
no céu; (3) renova e revigora o ministério, porque existe menos tensão para
extrair a nossa energia. Viver em união não significa que concordaremos em tudo;
haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde
musical. Mas devemos concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos
para Deus. A união reflete a nossa concordância de propósitos.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Para introduzir esta lição é importante que você conceitue
bem biblicamente a palavra "comunhão" e amplie o seu conceito. Para
lhe auxiliar nessa tarefa, juntamente com o conceito presente na lição, leve em
conta o seguinte fragmento textual:
"Koinõnia, tendo em comum (koinos),
sociedade, companheirismo', denota: a) aparte que alguém tem em algo,
participação, companheirismo reconhecido e desfrutado. É, assim, usado acerca:
das experiências e interesses comuns dos cristãos (At 2.42; Gl 2.9); da
participação no conhecimento do Filho de Deus (1 Co 1.9); do compartilhamento
na realização dos efeitos do sangue (ou seja, da morte) de Jesus e do corpo de
Jesus, conforme é exposto pelos emblemas da Ceia do Senhor (1 Co 10.16); da
participação no que é derivado do Espírito Santo (2 Co 13.13; Fp 2.1); da
participação nos sofrimentos de Cristo (Fp 3.10); do compartilhamento na vida
da ressurreição possuída em Cristo e, por conseguinte, do companheirismo com o
Pai e o Filho (1 Jo 1.3,6,7); negativamente, da impossibilidade de ‘comunhão'
entre a luz e as trevas (2 Co 6.14); b) companheirismo manifesto em atos, os
efeitos práticos do companheirismo com Deus, realizado pelo Espírito Santo na
vida dos crentes em resultado da fé (Fm 6), e encontrando expressão no
ministério em comum com os necessitados (Rm 15.26; 2 Co 8.4; 9.13; Hb 13.16) e
na proclamação do Evangelho pelos dons (Fp 1.5)" (Dicionário Vine. Rio de Janeiro: CPAD, 2002,
p. 485).
II. A UNIÃO ENTRE OS JUDEUS ESTAVAM AMEAÇADA
1. Qual era a ameaça? Tratava-se de uma grande injustiça social.
Financeiramente, a vida dos que voltaram da Babilônia era bem difícil. Muitos
eram obrigados a tomar dinheiro emprestado, não só para seu sustento, como
também para pagar o imposto do governo. Tomavam emprestado dos seus irmãos mais
ricos, os quais cobravam juros altos, até mesmo com usura. Quando os mais
pobres não conseguiam pagar os empréstimos tomados, os irmãos mais ricos
executavam as dívidas, tomando as casas, as terras, e até mesmo os filhos e as
filhas dos devedores (Ne 5.1-5). Isto foi causa de grande clamor entre os
Judeus. Este assunto chegou ao conhecimento de Neemias, o qual ficou muito
enfadado (Ne 5.6). – A oposição dos
inimigos e os tempos difíceis em geral tinham precipitado condições econômicas
de efeito devastador para a frágil vida daqueles de Judá. O efeito dessa
extorsão sobre a moral dos que haviam retornado era pior do que a oposição do
inimigo. Os nobres, além de não trabalhar na reconstrução e manter alianças com
os inimigos (Ne 3.5), afligia seus irmãos mais pobres com a usura. O povo
estava fatigado com o trabalho árduo, esgotado pelo contínuo assédio dos
inimigos, pobre e sem as condições mínimas de sobrevivência, sem dinheiro para
os impostos e fazendo empréstimos, trabalhando no muro em vez de no campo pelo
alimento. Além de tudo isso, havia reclamações contra a terrível exploração e
extorsão feita pelos judeus ricos que não estavam ajudando, mas forçavam as
pessoas a vender suas casas e seus filhos, sem que tivessem qualquer
perspectiva de resgatá-los no futuro. Em condições normais, a lei oferecia a
esperança do livramento desses moços mediante a remissão das dívidas, o que
acontecia a cada sete anos, ou no 50º ano do Jubileu (Lv 25). O costume da
redenção tornava possível "comprar de volta" o indivíduo escravo em
qualquer momento, mas a situação financeira desesperadora desses tempos fazia
com que isso parecesse impossível. Então, a Lei Mosaica que previa alguns
dispositivos para evitar injustiças sociais, como a lei do levirato, e os
exemplos citado, foram pervertidos para usufruto inescrupuloso dos mais
abastados. Em todas as épocas isso aconteceu no meio do povo de Deus, e foi
contra essa interpretação maldosa da Lei que Jesus pregou e importunou os
doutores da lei. No caso em estudo, Neemias repreendeu os nobres e magistrados
não somente pela usura e falta de compaixão para com os irmãos, mas também pelo
descompromisso para com o projeto de reedificação (Ne 3.5), enquanto a lealdade
deles a Tobias e a outros adversários aumentava ainda mais as atitudes
oportunistas, colocando-os muito próximos da posição dos inimigos. Eles haviam
se tornado os adversários internos. De acordo com a lei mosaica, se a pessoa
era miserável, eles deviam considerar o empréstimo como uma doação. Se a pessoa
tivesse condições de pagar mais tarde, teria que ser livre de juros (Lv
25.36-37; Dt 23.19-20). Essa generosidade era a marca dos piedosos (SI 15.5; Jr
15.10; Pv 28.8).
2. Como se explica
esta grande injustiça?
a. Em primeiro
lugar era uma expressão de FALTA DE AMOR dos mais ricos para com os mais
pobres. Desta forma os mais ricos pecavam contra seus irmãos mais pobres, não
lhes dando o devido valor. A Bíblia diz que cada um deve considerar "os
outros superiores a si mesmo" (Fp 2.3), e que devemos suportar "uns
aos outros em amor" (Ef 4.2). Por falta de amor, os ricos chegaram a
cobrar juros com usura, coisa proibida na lei (Lv 22.36; Êx 22.25). O assunto é
muito sério, porque a Bíblia diz que quem peca contra o irmão, peca contra
Cristo (1 Co 8.12). – A cobrança de juros
altos sobre um empréstimo era proibida pela lei mosaica (Êx 22.25), que também
obrigava o povo a ser generoso com os pobres, emprestando-lhes livremente, e
cancelando a dívida no ano da remissão, que acontecia de sete em sete anos (Dt
15.1-11). Também os que se tivessem vendido deveriam ser despedidos forros no
sétimo ano, e enriquecidos pelo seu senhor (Dt 15.12-15). Assim, vemos que a Lei
previa algo muito além daquilo que outras culturas contemporâneas aos judeus
daqueles dias jamais preveriam. A luta contra a injustiça social permeou os
ministérios de diversos profetas, apontando para um comportamento que é
intrínseco do ser humano – o desamor. Mesmo com a Lei que foi entregue pelas
mãos de Deus à Moisés, o povo vivia como se não tivesse Lei e, pior,
interpretando conforme seu bel-prazer. O apóstolo Paulo escreve em 1º Timóteo
6.10: "o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa
cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores",
e Tiago, irmão do Senhor: "onde há inveja e espírito faccioso, aí há
perturbação e toda obra perversa" (Tg 3.16). O amor ao dinheiro
continua perturbando a igreja de Deus no mundo, a começar por Ananias e Safira,
que mentiram ao Espírito Santo sobre o produto da venda de um imóvel e por isso
foram executados (At 5.1-10). Quantos irmãos nossos, hoje, padecem necessidade
e deixamos de socorrer com a desculpa que o que temos é corbã? (Mc 7.11).
É importante frisar que desprezar os deveres de piedade filial em nome da
religião é invalidar a palavra de Deus! O problema aqui não era apenas FALTA DE
AMOR, mas era tornar inválida a Lei, não socorrendo os necessitados e aflitos,
mas subjugando-os, exploravam o povo, tirando vantagem da carência de
alimentos. “O cristianismo atualmente é objeto da zombaria do mundo. Em
grande parte isso é devido à conduta dos que se dizem cristãos, mas agem de
forma igual ou mesmo pior do que os descrentes, negando assim a santificação
que se espera daquele que leva o nome de Cristo. Cuidemos para que nós próprios
não estejamos contribuindo para essa situação deprimente.” (bible-facts.info).
b. A atitude dos
ricos era uma expressão de DUREZA CONTRA SEUS IRMÃOS. Eles queriam ficar ainda
mais ricos às custas da miséria de seus irmãos mais pobres. Não lhes importava
o choro de seus irmãos (Ne 5.1). “A opressão faz endoidecer até o sábio” (Ec
7.7). – Ao saber do que
estava acontecendo, Neemias se indignou muito e procurou resolver o problema
rapidamente; convocou os nobres e magistrados que exploravam o povo, tirando
vantagem da carência de alimentos e acusou-os do crime de cobrar juros dos seus
compatriotas e convocou uma grande reunião contra eles. Confrontados por
Neemias, eles ficado em silêncio, Neemias declarou que não era certo o que
faziam, e que deviam andar no temor de Deus para evitar a zombaria dos outros
povos, seus inimigos.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
"Pobrezas (5.1-4). Tanto as condições de seca como altas taxas
produziu um grande aperto na agricultura. A avareza dos ricos, que emprestavam dinheiro
às famílias desesperadas a juros altos e então hipotecavam as suas propriedades,
foi a principal causa da tremenda dificuldade em que muitos se acharam. Hoje,
há muitas razões para a pobreza. Porém, a avareza permanece como causa mais
comum.
Tributos (5.4). O rei persa cobrava cerca de 20 milhões, em ouro, de
dáricos (uma moeda persa), anualmente, em taxas. O pagamento era exigido em
moedas de ouro ou prata que eram derretidas e armazenadas em lingotes. Quando
Alexandre, o Grande tomou Susã, onde Neemias havia servido Artaxerxes, encontrou
cerca de 270 toneladas de ouro e 1.200 toneladas de prata! A política privou o
reino do seu dinheiro, criou a inflação, e foi, em parte, responsável pela aflição
econômica da Judeia.
Usura (5 .7). A palavra hebraica massa, aparece somente em
Neemias. Significa impor uma sobrecarga. O Antigo Testamento proíbe cobrar
juros em empréstimos aos vizinhos pobres (Éx 22.25-27; Lv 25.35-37; Dt
23.19,20; 24.10-13). Essas condições estavam sendo violadas" (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia.
Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 317).
III. NEEMIAS SOLUCIONOU O
PROBLEMA
1. Neemias
convocou um grande ajuntamento (Ne 5.8). Reuniu o povo e lembrou a todos que os irmãos mais pobres estavam sendo
literalmente escravizados. Confrontou-os com sua injustiça, perguntando-lhes:
"Vender-se-iam a nós? Então se calaram e não acharam o que responder"
(Ne 5.8). – Uma coisa é enfrentar inimigos
estrangeiros e outra bem diferente é tratar do próprio povo em conflito. O
jovem Moisés aprendeu que era mais fácil se livrar de um capataz egípcio do que
reconciliar dois irmãos hebreus (Ex 2:11-15). A atitude de Neemias diante desse
problema foi uma demonstração de verdadeira liderança. – Por que Neemias não
ficou sabendo antes desse problema econômico vergonhoso? É bem provável que
isso se deva ao fato de ele estar tão envolvido naquilo que havia se proposto a
fazer em Jerusalém (reconstruir os muros da cidade) que não tinha tempo de
ficar a par dos assuntos internos da comunidade. Sua comissão no cargo de
governador era reparar os muros e restaurar as portas, não reformar a
comunidade. Além disso, Neemias não havia passado tempo suficiente na cidade
para ficar sabendo de tudo o que acontecia. É importante observar que a
construção dos muros não criou esses problemas, mas apenas os revelou.
Muitas vezes, quando uma igreja começa um programa de construção, vem à
tona problemas de todo tipo que as pessoas nem imaginavam que existiam. Um
programa de construção é uma tarefa árdua que coloca a prova nossa fé, nossa
paciência e nossas prioridades, ao mesmo tempo que faz aflorar o que há de
melhor em algumas pessoas e o que há de pior em outras. A oração "Depois
de ter considerado comigo mesmo" significa, literalmente, "Meu
coração considerou dentro de mim". Um amigo meu chama isso de
"deliberação de mim para comigo mesmo". – O que Neemias fez foi uma
deliberação entre sua mente e seu coração ao ponderar sobre o problema e buscar
a orientação de Deus. Controlou seus sentimentos e pensamentos de modo a ser
capaz de oferecer a seu povo uma liderança construtiva. "Melhor é o
longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espirito, do que o que
toma uma cidade" (Pv 16:32). Se um líder não consegue se controlar, jamais
será capaz de controlar a outros. – Neemias decidiu convocar uma grande assembleia
(Ne 5 :7) e confrontar publicamente as pessoas cujo egoísmo havia criado essa situação
difícil e dolorosa. Tratava-se de um pecado muito grave e de caráter público,
envolvendo a nação como um todo. Exigia, portanto, repreensão e arrependimento públicos.
2. Neemias fez uma
proposta conciliadora. "Deixemos
este ganho!" Restituí-lhes hoje!" (Ne 5.10,11). Neemias Inclui-se na
proposta. Ele e seus auxiliares haviam emprestado a juro (notem bem, a juro mas
não com usura!), e Neemias estava disposto a não receber os juros (Ne 5.10). – Em Neemias 5:10, 11, Neemias apelou a suas práticas
pessoais. Emprestava dinheiro aos necessitados, mas não cobrava juros acima
do previsto, nem os privava daquilo que haviam deixado como garantia (Ex
22:25). Ao contrário de alguns líderes, Neemias não dizia: "Façam o que
digo e não o que eu faço!" Não era hipócrita, pois colocava suas palavras
em prática. Na verdade, este capítulo terminará com Neemias ressaltando que
Deus o havia capacitado para que fizesse isso por seu povo (Ne 5:14-19). Dava
um bom exemplo como líder e como homem temente a Deus. – "O centésimo",
no versículo 11, era referente aos juros cobrados pelo dinheiro e, provavelmente,
aplicados mensalmente, num total de 12% de juros ao ano. Essa prática já existia
antes de Neemias entrar em cena e, agora, o povo estava desesperado, tentando equilibrar
o orçamento familiar. – Uma vez que era um homem de ação, Neemias disse aos
credores que deveriam restituir os juros e as garantias que haviam tomado de
seus compatriotas bem como as propriedades que haviam confiscado na execução de
hipotecas. Esse passo radical de fé e de amor não resolveria de imediato todos os
problemas econômicos do povo, mas pelo menos evitaria que a crise piorasse.
Também daria ao povo aflito a oportunidade de começar outra vez. – O sexto
apelo de Neemias foi para lembrar os credores do julgamento do Senhor (vv.
12, 13). Eles prometeram obedecer, de modo que Neemias fez com que prestassem um
juramento diante dos sacerdotes e de outros oficiais da cidade. Isso
significava que sua promessa não se limitava apenas a seu próximo, mas que também
era um assunto entre eles e Deus; algo extremamente sério. "Quando a Deus
fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos.
Cumpre o voto que fazes. Melhor é que não votes do que votes e não cumpras"
(Ec 5:4, 5).
3. A proposta de
Neemias foi acatada. "Restituir-lho-emos,
e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes" (Ne 5.12). Neemias
fez com que jurassem diante dos sacerdotes que assim fariam (Ne 5.12). Um ato
simbólico de Neemias confirmou aquele juramento solene (Ne 5.13). – A grande assembleia encerrou com três atos
enfatizando a solenidade daquela ocasião: (1) Neemias sacudiu as dobras de seu
manto, simbolizando o que Deus faria com os credores se não cumprissem seu voto.
Sacudir o manto ou a poeira dos pés era um gesto judaico típico de condenação (At
13:51; Mt 10:14). (2) a congregação respondeu com um "Amém" coletivo,
muito mais do que um ritual judaico. Era um consentimento solene ao que havia
sido dito e feito na assembleia (ver Ne 8:6 e Dt 2 7 :1 4ss). O termo amém significa
"assim seja"; em outras palavras: "Que o Senhor faça tudo que tu
disseste!" Era um ato de adoração que tornava a assembleia toda parte das decisões
tomadas. (3) Em seguida, a congregação toda louvou ao Senhor. por quê? Porque
Deus havia capacitado Neemias a ajudá-los a começar o processo de resolução de
seus problemas. Neemias havia orientado os credores a reconhecer seus pecados e
a fazer as restituições necessárias. Essa grande assembleia não foi apenas uma
"conferência sobre questões econômicas", mas também um culto de adoração
no qual Neemias havia elevado ao máximo um problema financeiro. O povo
de Deus deve seguir seu exemplo e tratar de todos os problemas a luz da vontade
de Deus, conforme esta se encontra revelada em sua Palavra.
Como
disse D. L. Moody: "Uma vida santa causará a mais profunda impressão. Os faróis
não soam sirenes; apenas brilham". Em nosso tempo de escândalos em quase
todas as áreas da vida, especialmente na política, é um grande estímulo
encontrar um homem como Neemias, que colocou o serviço ao povo antes dos
interesses próprios. Neemias nunca leu Filipenses 2:1-13, mas, sem dúvida,
colocou em prática as palavras dessa passagem. Ao longo dos doze anos de seu
primeiro mandato como governador e, posteriormente, no segundo mandato nesse
cargo (Ne 13:6, 7), usou seus privilégios para ajudar o povo e não para construir
um reino para si mesmo. Naquela época, a maioria dos oficiais exercia sua
autoridade de modo a se promover e a proteger interesses pessoais. Sua preocupação
com as necessidades do povo era mínima. Como filhos de Deus, nosso exemplo é
Jesus Cristo e não os líderes deste mundo (Lc 22:23-30). "Ergue-se uma
cruz no caminho da liderança espiritual", escreve j. Oswald Sanders,
"cruz em que o líder consentira ser pregado”.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“'Porque, assim como o
corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só
corpo, assim é Cristo também (1 Co 12.12)'.
A frase 'assim
é... também (houtos kai) nos alerta para o que é talvez a primeira metáfora
do Novo Testamento com a intenção de nos ajudar a entender a natureza da
igreja. Em Romanos, Paulo ensinou que pela fé o crente une-se a Jesus em uma união
indissolúvel. Agora, ele ensina que aqueles que estão unidos a Cristo também estão
unidos entre si, num relacionamento orgânico, como aquele que existe entre os
membros e órgãos do corpo.
Essa imagem transmite
inúmeras realidades. Não podemos ser cristãos isolados dos outros, devemos
funcionar junto com eles. Não podemos cumprir nossa missão na vida separados da
igreja, e devemos estar suficientemente próximos para exercer nossos dons
através do amor e do serviço. Não podemos permitir discussões e divisões em nossas
congregações, e devemos estar unidos por um compromisso comum, não só com
Jesus, mas também entre nós" (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento.
Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 348).
IV. A PAZ VOLTOU A REINAR ENTRE
OS JUDEUS
1. Surgindo um
problema entre os irmãos, deve logo ser tratado com muita diligência. Quando um líder do povo for ignorante, desinteressado ou negligente,
o resultado poderá vir a ser uma contaminação grave.
Faz parte das
atribuições do ministro manter a boa ordem na igreja. Ele deve enfrentar os
problemas com humildade, imparcialidade, e com sabedoria de Deus.
Neemias foi neste
sentido um exemplo para os que estão à frente da obra do Senhor. Assim como
Deus fez com Neemias, Ele quer fazer com seus servos, hoje, isto é. Deus quer
abençoar seus servos e confirmar as obras das suas mãos (SI 90.17). – Alguém disse que os líderes são as pessoas que
aceitam mais culpa e menos crédito, mas também são aqueles que se sacrificam em
silêncio para que outros possam ser beneficiados. Neemias e seus assistentes não
apenas pagavam as próprias contas, como também tinham o cuidado de não explorar
o povo de qualquer maneira (Ne 5:15). Os servos de governadores anteriores
haviam usado os cargos para o próprio lucro, possivelmente aceitando subornos
das pessoas e prometendo representá-las perante o governador. Multiplicar as
riquezas e o poder é uma tentação permanente para os que ocupam cargos de
autoridade, mas Neemias e seus amigos caminhavam no temor do Senhor e serviam
com honestidade. – Também foram exemplo em um terceiro sentido: Todos
participaram da reconstrução dos muros (v. 16). Não eram conselheiros que, de
vez em quando, saiam de seus palácios, mas sim trabalhadores que Iabutavam lado
a lado com o povo na construção e na defesa da cidade. Jesus disse: "No
meio de vós, eu sou como quem serve" (Lc 22:27), e Neemias e seus
assistentes demonstraram essa mesma atitude. – Neemias foi um exemplo
ainda de outro modo. Não apenas pagava pela própria comida, mas também dividia
o que tinha com outros (Ne 5:17, 18). Costumava alimentar mais de 150
convidados, tanto residentes quanto visitantes, e lhes oferecia uma excelente refeição!
(ver 1 Rs 4:22,23 para o que era servido diariamente a mesa de Salomão). Calcula-se
que essa quantidade de alimentos era suficiente para mais de quinhentos convidados,
de modo que Neemias deveria ter sempre as portas de sua casa abertas a todos.
Ou, talvez, dividisse o que sobrava com os que trabalhavam nos muros. De
qualquer modo, era generoso e não pedia recompensa alguma por isso.
2. Problemas
relacionais devem ser tratados carinhosamente. "Bem aventurados os pacificadores" (Mt 5.9). – O amor de Deus se estende até mesmo aos seus
inimigos. Esse amor universal de Deus é manifesto em bênçãos que Deus concede a
todos de maneira indiscriminada. Os teólogos chamam isso de graça comum. Deve
ser diferenciada do amor eterno de Deus pelos seus eleitos (Jr 31.3), mas
trata-se, de qualquer maneira, de boa vontade sincera (cf. SI 145.9).
a. A desunião
representa uma obra da carne (Gl 5.19,20). Estas coisas entristecem o Espírito
Santo (Ef 4.30). – Como
obra da carne, esse pecado caracteriza toda a humanidade não redimida que vive
debaixo das impotentes exigências da lei que produz somente iniquidade, embora
nem todas as pessoas manifestem todos esses pecados ou os exibam no mesmo grau.
Em Gálatas 5 Paulo lista três áreas da vida humana: o sexo, a religião e os
relacionamentos humanos. As "inimizades" resultam em
"porfias" (conflito). Os "ciúmes" (ressentimento maligno)
resulta em "iras" (súbitas e desenfreadas expressões de hostilidade).
Deus se entristece quando seus filhos se recusam a mudar dos velhos caminhos do
pecado para os caminhos justos da nova vida. Deve-se observar que essas reações
do Espírito Santo indicam que ele é uma pessoa, fato indicado pelos seus
sentimentos (Rm 8.27).
b. A desunião
destrói a comunhão e o amor entre os irmãos, coisa tão preciosa na Igreja.
"Andai em amor como também Cristo vos amou" (Ef 5.2). "Quem ama
a Deus, ame também a seu irmão" (1 Jo 4.21). Jesus orou: "Para que
todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti" (Jo 17.21). – Em seu amor altruísta pelos pecadores
perdidos (Ef 4.32; Rm 5.8-10), o Senhor é o supremo exemplo. Ele tomou sobre si
o pecado do ser humano e deu a sua própria vida para que as pessoas pudessem
ser redimidas de seus pecados, recebessem uma natureza nova e santa e herdassem
a vida eterna. Daí em diante, eles devem ser imitadores de seu grande amor em
novidade e poder do Espírito Santo, o qual possibilita a eles demonstrar o amor
divino, em aroma suave. A oferta de Cristo de si mesmo pelo ser humano caído
agradou e glorificou o seu Pai celestial, porque demonstrou do modo mais
completo e perfeito o soberano, perfeito, incondicional e eterno amor de Deus.
c. Finalmente
devemos cultivar nosso testemunho diante do mundo. A união entre os crentes é o
selo da estabilidade espiritual e da paz na Igreja (Jo 17.4). – O que une os crentes não são laços de sangue
ou interesses em comum, mas o amor incondicional de Cristo. Paulo faz uma
descrição da Igreja de Cristo em 1 Coríntios 12:12-30 como um corpo, que tem de
estar completamente unido para funcionar bem. Os membros são muito diferentes,
mas cada um tem um papel muito importante para a comunidade toda. Quando a
Igreja está unida, mostra a glória de Jesus (Jo 17.22).
SUBSÍDIO DE VIDA CRISTÃ
“A importância do trabalho em equipe
Neemias não era adepto do 'ministério de um homem só’. Ele sabia
da importância de conseguir que todos se envolvessem no trabalho e se sentissem
parte da equipe. Ele conseguiria isso tendo o cuidado de designar as pessoas para
trabalhar juntas em áreas do muro que fossem perto da casa delas. Observe a
recorrência da expressão: 'ao seu lado' no capítulo 3 (Ne 3.7,17-25, 27,29-31).
O trabalho em 'equipe' garante que 'todos juntos conseguem mais' (veja também 1
Co 12)" (Guia Cristão de Leitura da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 198).
REFERÊNCIAS
BÍBLIA, Bíblia de Estudo Aplicação
Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
BARBOSA,
Francisco. Especial Lição 8: As causas de desunião devem ser eliminadas.
Disponível em: https://auxilioebd.blogspot.com. Acesso em 21.08.2020
LIÇÕES BÍBLICAS. Edição
Especial Jovens e Adultos, 3º Trimestre 2020 - Lição 8. Rio de Janeiro:
CPAD, 23 Agosto, 2020.
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