sexta-feira, 26 de março de 2021

LIÇÃO 13: VOLTADOS OS OLHOS PARA A BENDITA ESPERANÇA

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

A expressão “bendita esperança” se refere à segunda vinda de Cristo, que é a esperança da igreja desde que Jesus retornou ao céu. Essa expectativa vem aumentando à medida que o tempo vai passando. A presente lição pretende esclarecer quão breve será esse evento para que cada um mantenha a vigilância e a fidelidade. O slogan dos nossos pioneiros fala da promessa de salvação na sua plenitude que inclui a esperança da vinda de Cristo: “Jesus salva, cura, batiza no Espírito Santo e breve voltará”. A expressão “bendita esperança” se refere à essa volta de Cristo, que é a esperança da igreja desde o dia em que Jesus retornou ao céu. A visão dos primeiros pentecostais da Rua Azusa ia além dos dons espirituais com sua fundamentação bíblica, o propósito deles era a evangelização mundial, e nessa mensagem de que Cristo salva estava a esperança da sua vinda. A vinda de Cristo não era uma doutrina nova, assim como a manifestação do Espírito e seus dons no pentecostalismo moderno não eram uma inovação, mas uma volta aos tempos apostólicos. Essa era a mesma esperança dos primeiros cristãos (2 Ts 2.1). Assim, a nossa esperança é algo vívido e real, não se baseia em utopia e nem em imaginação humana, mas em fatos revelados na Palavra de Deus e confirmados pela História.

 I. BREVE O SENHOR VIRÁ

A vinda de Jesus é tão certa quanto a sucessão dos dias e das noites, e disso não temos a menor dúvida. Esse dia está próximo, e os sinais que precederão a vinda de Cristo já estão presentes.

1. A vinda de Cristo. A segunda vinda de Cristo é uma verdade ensinada na Bíblia inteira com abundância de detalhes nos evangelhos e nas epístolas. Todos os ramos do Cristianismo concordam que Jesus um dia voltará, mas essa unanimidade não ocorre no tocante à maneira como isso vai acontecer. Há diversas interpretações sobre o tema que fogem ao escopo da presente lição. Inclui-se na expressão “segunda vinda” o arrebatamento da igreja (1 Ts 4.15) e a vinda de Jesus em glória (2 Ts 2.8). Quando o Senhor Jesus ascendeu ao céu, os varões de branco disseram que Ele virá da mesma maneira que subiu (v.11); esse cenário é de sua vinda em glória e não do arrebatamento da Igreja.

2. Uma promessa de Jesus. Ele prometeu voltar para nos buscar e nos levar para o céu (Jo 14.1-3). Mas, parece que antes do Pentecostes os discípulos ainda não tinham uma compreensão exata dessa vinda, pelo que se pode observar na pergunta dos discípulos: “Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel?” (v.6). Talvez estivessem ainda pensando num reino físico, político, que era o pensamento dominante em Israel. Mas Jesus os corrige por duas razões principais: o dia e a hora dessa bendita esperança é exclusividade do Pai, e está fora do radar humano (Mt 24.36; Mc 13.32), e a restauração do Reino de Deus não é só para Israel, mas para todos os povos: “…Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (v.8).

3. O dia se aproxima. Sabemos que a vinda de Jesus está próxima pelos sinais claros que o Senhor Jesus nos deixou. Pregamos por toda parte que Jesus breve vem, e essa mensagem está em nossos hinos congregacionais e nos diversos cânticos inspirados nas Escrituras. Ninguém sabe o dia e nem a hora, mas o Senhor Jesus deixou sinais claros e evidentes que mostram que esse dia está próximo. Os principais são a efusão do Espírito Santo, uma promessa para os últimos dias (Jl 2.28-32; At 2.16-21), que a partir do avivamento da Rua Azusa tem se espalhado pelo mundo inteiro. Os Pentecostais são o maior movimento protestante do mundo. O outro sinal evidente é a fundação do Estado de Israel (Lc 21.29-31), que desde 1948 ostenta a sua bandeira tremulando na sede das Nações Unidas, como Estado Soberano.

As profecias messiânicas do Antigo Testamento apontam para dois eventos: a aparição de Jesus como homem para realizar a grande obra da redenção e a sua segunda vinda, no fim dos tempos, escatológica, que envolve o arrebatamento da igreja e a sua vinda em glória. Os profetas Isaías, Ezequiel, Zacarias, dentre os demais anunciaram essas promessas. O slogan de Daniel Berg terminava com o “breve voltará”, que diz respeito ao arrebatamento da igreja. Tanto os primeiros missionários como os líderes nacionais que Deus levantou em nossa terra deram continuidade à escatologia pentecostal com equilíbrio e prudência. Não se vê qualquer extravagância escatológica em nenhum deles, pois desde então muitos grupos já surgiram com crenças exóticas, alguns chegaram até a marcar a data da vinda de Cristo. Nossos pais se pautaram pela Bíblia e isso mostra a seriedade do fundamento da nossa denominação. – Nós aprendemos deles as advertências do Senhor Jesus: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36) e na passagem paralela (Mc 13.32); “Não cabe a vocês conhecer tempos ou épocas que o Pai fixou pela sua própria autoridade” (At 1.7). Parece que muitos líderes e grupos religiosos não prestaram atenção às palavras de Jesus, pois arriscaram marcar a data da segunda vinda de Cristo. – Somente Deus sabe o dia e a hora do arrebatamento da igreja. Mas, há muitos sinais que mostram que a vinda de Jesus se aproxima e muitos deles se encontram em Mateus 24.1-14 como o aparecimento de muitos falsos cristos (vv. 4,5), não é incomum alguém se apresentar como o Cristo. Guerras e calamidades (vv. 6,7) são uma referência aos distúrbios mundiais e uma crise na política internacional. A crescente onda de violência nas principais capitais do mundo, a expansão do terrorismo e do narcotráfico acontecem nos dias atuais porque a iniquidade está se multiplicando (v. 12). Estamos vivendo na época do “princípio de dores” (v. 8). Todos os acontecimentos da atualidade apontam para esta realidade. A fome generalizada em muitos países e a pandemia da Covid-19 têm ceifado muitas vidas e muitos estão em desespero. A crise religiosa (v. 12) e o crescimento da apostasia nos últimos tempos têm alcançado proporções estarrecedoras. – Os principais sinais são a efusão do Espírito Santo, uma promessa para os últimos dias (Jl 2.28-32; At 2.16-21), que, a partir do avivamento da Rua Azusa, tem se espalhado pelo mundo inteiro. Os Pentecostais são o maior movimento protestante do mundo. O outro sinal evidente é a fundação do Estado de Israel. Jesus disse: “Olhem para a figueira e todas as árvores. Quando veem que começam a brotar, vocês mesmos sabem que o verão está próximo” (Lc 21.29-31). A figueira, na Bíblia, representa a nação de Israel (Os 9.10; Jl 1.6,7). A figueira perde suas folhas no inverno e só na primavera, que antecede o verão, os ramos começam a se encher de botões. Quando isso acontece todos ficam sabendo que o verão já está se aproximando. Essa metáfora é usa da como um dos sinais da vinda de Jesus. Quando as Nações Unidas aprovaram a fundação de um estado judeu em Eretz Israel, em 27 de novembro de 1947, era cumprimento de inúmeras profecias bíblicas (Is 66.8; Ez 36.24; 37.21; Am 9.14-15). É sobre isso que Jesus está falando nessa profecia da Figueira. A data de 14 de maio de 1948 foi o dia a publicação do primeiro Diário Oficial de Israel e o dia em que as tropas britânicas deixaram o país. – A restauração da nação de Israel, conforme as profecias bíblicas, deve acontecer em duas etapas, primeiro, a restauração nacional e depois a espiritual. Isto está claro na visão do profeta Ezequiel sobre o vale de ossos secos no capítulo 37. A figueira já começou a brotar (Mt 24.32-33). Isso mostra que estamos na primavera, estação em que a figueira começa a ficar com os ramos novos e as folhas começam a brotar, anunciando que o verão se aproxima. Essa é uma das razões pelas quais sabemos que a vinda de Jesus está próxima. Pregamos por toda a parte que Jesus breve vem, essa mensagem está em nossos hinos congregacionais e nos diversos cânticos inspirados nas Escrituras. Ninguém sabe o dia e nem a hora, mas o Senhor Jesus deixou sinais claros e evidentes que mostram que esse dia está próximo. Os apóstolos que viveram no período da primeira hora já anunciavam que a vinda do Senhor se aproximava (1 Pe 4.7; Ap 1.3; 22.10), que não diremos nós que somos a igreja da última hora?

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Inicie a aula desta semana expondo para a classe a realidade concreta do dia de 24 horas e das estações: Inverno, Primavera, Verão e Outono. Aconteça o que acontecer esses dias acontecerão. O dia iniciará, terminará e iniciará de novo. As quatro estações virão e passarão. O Verão passará, o Outono chegará, o Inverno virá e a Primavera desabrochará. Tão certo como tudo isso acontecerá, assim será a volta de Cristo Jesus. Leia com a classe Atos 1.9-11. Nessa passagem está dito com clareza que o nosso Senhor virá. Estimule a classe com essa verdade. Diga que no tempo da igreja do primeiro século, ela esperava Jesus para os seus dias. Será que nosso Senhor encontrará fé por ocasião de sua vinda? Ele nos encontrará anelando por sua volta? 

  II. A NECESSIDADE DE VIGILÂNCIA

A vigilância se faz necessária porque ninguém sabe o dia da vinda de Jesus. Entendemos como vigilância o ato ou efeito de vigiar, o estado de quem permanece alerta, de quem procede com precaução para não correr risco. Devemos permanecer acordados, atentos no cuidado de não nos afastarmos de Jesus e aguardar a bendita esperança.

1. Exortação à vigilância. O Senhor Jesus nos exorta com muita ênfase sobre a necessidade da vigilância: “Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor” (Mt 24.44). A razão disso é porque ninguém sabe quando vai acontecer a sua vinda (Mt 24.42; 25.13; Mc 13.33; Lc 21.36). Essa era também a preocupação nos ensinos dos apóstolos (1 Ts 5.2-6; 2 Pe 3.8-10). O ensino de Jesus nas diversas parábolas e nos discursos escatológicos, como em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21, dá muita ênfase à necessidade de os crentes estarem atentos. 

2. Os alarmes falsos. Muitos líderes e grupos religiosos arriscaram-se em marcar a data da segunda vinda de Cristo. Alguns deles cravaram várias datas; outros, depois de constatarem que elas não batiam, reinterpretaram as supostas profecias e as protelaram para outras datas. Todos esses líderes e grupos falharam. É um erro tentar adivinhar os tempos e as estações (At 1.7), pois só Deus sabe o dia e hora (Mt 24.36; Mc 13.32).  

A Palavra de Deus rejeita todas as falsas expectativas acerca da vinda de Cristo. Essa maravilhosa doutrina tem como objetivo trazer esperança aos crentes; não a incredulidade, a falsa expectativa e os alarmes falsos. A advertência principal de Jesus no seu sermão escatológico é no tocante à vigilância. Isso não é difícil de entender. Somente Deus sabe o dia da vinda de Jesus. Entendemos como vigilância o ato ou efeito de vigiar, o estado de quem permanece alerta, de quem procede com precaução para não correr risco. Por essa razão, devemos permanecer acordados, atentos no cuidado de não nos afastarmos de Jesus, e aguardar a bendita esperança. – Desde muito cedo na história da igreja, nunca faltou quem anunciasse datas precisas da vinda de Jesus. Russell Norman Champlin apresenta um resumo de datas fracassadas dos que marcaram data para a vinda de Jesus ao longo desses 20 séculos desde a ascensão de Cristo ao céu. O seu breve relato se baseia numa matéria reimpressa num artigo da revista Fate, edição de novembro de 1962, da autoria do reverendo Alson J. Smith (1908-1965), que serviu como ministro metodista em Montana, cidade de Nova Iorque. No seu relato, ele conta que, quando se aproximava o ano 1000, tanto os clérigos como os leigos estavam confiantes em que o Senhor Jesus estabeleceria o Juízo Final antes do ano 1000, e, portanto, a data escolhida para a segunda vinda de Cristo foi a meia-noite de 31 de dezembro do ano 999. Era o assunto do cotidiano na Europa daqueles dias. Uma expressão própria era usada nos términos de diálogos ou de cartas – appropinquante mundi termino, que significa: “com o fim do mundo que se aproxima”. Muitos doavam e vendiam os seus bens, passando a viver nas colinas. Milhares iniciaram a sua peregrinação para Jerusalém. O ano 1000, todavia, chegou, foi-se e nada dessas coisas aconteceu. Todos voltaram às suas atividades, reiniciando tudo. Foi um prejuízo incalculável para a sociedade. – No início do século XII, um astrólogo persa, chamado Anwari, escolheu a data de 16 de setembro de 1186 como o dia do fim do mundo. Conseguiu o apoio de muitos outros astrólogos, pois dizia que cinco dos maiores planetas se conjugariam sob o signo de Libra. Os promotores dessa profecia começaram a pregar para a nobreza e o clero, e novamente a Europa se alvoroçou. Muitos venderam suas propriedades e formaram caravanas rumo a Jerusalém, mas a data chegou, e nada aconteceu. – Johanes Stoeffler, membro do corpo docente da Universidade de Tübingen, na Alemanha, figura de grande envergadura e respeitadíssimo, chegou a ser até conselheiro de príncipes. Publicou em 1499 um livro intitulado Efemérides, em que anunciou o fim do mundo, a se dar por um dilúvio previsto para 20 de fevereiro de 1524. Segundo ele, o evento ocorreria em virtude de uma conjunção de vinte planetas, no signo de Peixes, pois Stoeffler era astrólogo, e nos seus dias a astrologia tinha grande prestígio e credibilidade. À medida que a data se aproximava, a Europa entrava em histeria coletiva. Muito se escreveu sobre isso na época e muitos exploraram o assunto até nos seus mínimos detalhes. Como seria essa catástrofe? – O rio Reno, por exemplo, ficou repleto de arcas, pois milhares de homens as construíram na esperança de sobreviver ao dilúvio. Leis que regulamentavam o uso das arcas foram promulgadas: quem tinha direito de entrar nelas e como seria o comportamento no seu interior. Os que, todavia, não se prepararam para o “grande dia” assustaram-se com o súbito temporal, com trovoadas e relâmpagos, que por coincidência ocorreram no dia 20 de fevereiro, e com isso invadiram as arcas construídas. – O conde Von Igglehein, que havia construído uma gigantesca arca para sua própria salvação e a de sua família, matou à espada um invasor, sua arca foi despedaçada, e ele também acabou morto. As trovoadas e os relâmpagos acompanhados das chuvas seguiram-se por alguns dias, para desespero da população, mas depois tudo voltou ao normal. A tempestade não foi o início do dilúvio, nem mesmo o fim do mundo ocorreu. – William Whiston, amigo de Isaac Newton e seu sucessor na cadeira de Geografia Astronômica, na Universidade de Cambridge, Inglaterra, era tido como um dos cientistas mais respeitados da Inglaterra, pelos menos “até à data de 13 de outubro de 1736”. Ele apresentou alguns modelos do santuário do templo de Jerusalém para um grupo de eruditos de Londres. Segundo o estudioso, dentro de três dias ocorreria o fim de tudo. Ele afirmou: “Portanto, amigo, agora já podemos esquecer-nos das especulações da ciência. O período final de todas as coisas está próximo. Dentro de três dias este mundo deixará de existir. Na quinta-feira, pela manhã, aproximadamente às cinco horas da madrugada, aparecerá o cometa sobre o qual eu vos tenho advertido. O Messias será devolvido à terra, a fim de subir a Jerusalém, e, na sexta-feira, o mundo terminará por meio do fogo, do terremoto e da matança”. – Londres entrou em pânico, pois o considerava um cientista de nomeada, dono da cadeira de Geografia Astronômica da mais famosa universidade, e não só da Inglaterra, mas também uma das mais respeitadas do mundo. Além disso, ele apresentara recursos da própria Bíblia, pois a base dessa predição eram as dimensões do templo de Jerusalém e do tabernáculo bíblico e sobretudo a aproximação do cometa de Halley. A maioria creu nele. O povo em desespero forçou o arcebispo da Cantuária a abrir a catedral de Westminster para o grandioso e solene culto de oração, o que o arcebispo se recusou a fazer. Como nenhuma de suas predições se cumpriu, William Whiston foi expulso de sua cátedra na Universidade de Cambridge. Perdeu então seu prestígio na Inglaterra e caiu em descrédito na sociedade, por mais que justificasse o seu fracasso e dissesse que havia errado nos cálculos. – Em 1818, William Miller começou a pregar que dentro de 20 anos Cristo voltaria à Terra, e em 1831 Miller anunciou que esse evento ocorreria em 23 de março de 1843. Tentou justificar a sua “profecia” com Daniel 8.13,14, quando dizia que as 2.300 tardes e manhãs correspondiam a 2.300 anos, e marcou como ponto de partida o retorno de Esdras a Jerusalém em 457 a. C. – Muitos venderam propriedades e foram para as colinas esperar o retorno de Cristo. Em Boston, muitos se vestiram de branco e permaneceram em constante oração. Enquanto isso muitos, em outras partes dos EUA, entregaram-se publicamente à imoralidade e à prostituição. Nenhuma dessas “profecias”, porém, se cumpriu. Então, Miller se justificou dizendo que se enganou, errou nos cálculos, e marcou nova data — 22 de outubro de 1844, que também fracassou. – Diante disso, ele se arrependeu, procurou a igreja, pediu perdão e foi servir a Deus. Outros grupos adventistas marcaram diversas datas: 1847, 1852, 1854, 1855, 1866 e 1877, mas o Senhor Jesus Cristo não voltou: “depois de 1844 o movimento milerita do ‘Segundo Advento’ fragmentou-se gradualmente em vários grupos adventistas. Uma multiplicidade de novas datas começaram (sic) a aparecer: 1845, 1846, 1847, 1850, 1851, 1852, 1853, 1854, 1866, 1867, 1868, 1870, 1873, 1875, e assim por diante, e estas datas, cada uma tendo seus promotores e seguidores, contribuíram para uma fragmentação ainda maior”. O dissidente do movimento millerista, Nelson H. Barbour, profetizou o fim para 1873. Nada aconteceu, e ele se desculpou com a teoria da “presença invisível” de Cristo, ocasião em que se aliou, em 1877, a Charles Tazel Russell, fundador do movimento das testemunhas de Jeová. Barbour e os outros dissidentes milleristas como Jonas Wendell, George Storr e George Stetson foram os pais na fé de Russell; são eles os ancestrais espirituais das testemunhas de Jeová. – Depois dos adventistas com seus diversos grupos, vieram as testemunhas de Jeová, que marcaram diversas datas, uma após outra; e, à medida que a data chegava sem nada acontecer sobre o profetizado, seus líderes reinterpretavam as profecias e as protelavam para outras datas, como 1878, 1914, 1915, 1918, 1920, 1925, 1942, 1975.151 Todos eles falharam, pois somente Deus sabe o dia e a hora (Mt 24.36; Mc 13.32).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Paulo confirma as advertências de Jesus ao reconhecer que ‘o Dia do Senhor virá como o ladrão de noite’ (1 Ts 5.2). Os crentes, porém, não serão apanhados de surpresa, não porque saibam de antemão a data, mas porque são do dia, e vivem na luz da Palavra de Deus (não são da noite, nem pertencem às trevas da iniquidade). Como consequência, estão alerta, com domínio próprio, protegidos pela fé e amor como couraça, e tendo por capacete a esperança da salvação (1 Ts 5.4-9). Assim como o apóstolo Paulo, continuam ansiando pela sua vinda (2 Tm 4.8) porque o amam e confiam nEle. A esperança de Paulo não estava ‘ligada a uma data fixa, mas o evangelho que declarava o cumprimento das promessas do Antigo Testamento, e conclamava as pessoas a viverem com confiança’” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p. 614).

 III. VIVENDO COM FIDELIDADE

Viver com fidelidade é adotar um estilo de vida cristão na esperança da vinda de Jesus. Assim como Deus é santo e exige santidade do seu povo, da mesma maneira um Deus fiel exige fidelidade do seu povo.

1. Definição. Fidelidade é a qualidade de ser cheio de fé, característica do que é fiel, lealdade. Os termos “fidelidade, verdade, lealdade” pertencem ao mesmo campo semântico na Bíblia: “Seja o SENHOR entre nós testemunha da verdade e fidelidade” (Jr 42.5); “mostrando toda a boa lealdade” (Tt 2.10). Fidelidade é uma demonstração de fé, lealdade, respeito, constância nos compromissos assumidos.

2. A fidelidade de Deus. A verdade é um dos atributos morais de Deus do qual reflete outras perfeições divinas, dentre as quais, a fidelidade. Deus é fiel (1 Co 1.9; 2 Ts 3.3; 2 Tm 2.13). A fidelidade de Deus é grande (Lm 3.23) e expressa uma absoluta confiança, cuja ideia é de firmeza (Sl 36.5; 89.2). Assim como ele cumpriu a promessa da vinda do Salvador do mundo, de igual modo, a segunda vinda de Cristo podemos considerar como um fato incontestável.

3. A fidelidade como virtude cristã. Os atributos morais de Deus são aqueles cujas ressonâncias e reflexos são vistas nas criaturas humanas. A fidelidade é uma das virtudes cristãs proveniente do Espírito na vida do crente (Gl 5.22). Essa verdade é ensinada em toda a Bíblia, de maneira direta nos relatos históricos e proféticos, nas parábolas e ilustrações como importante virtude na vida cristã (Mt 25.21; 1 Co 4.2; 2 Tm 2.19).

4. Tempos e estações. Jesus responde à pergunta dos discípulos ampliando o horizonte desse reino. “Não vos pertence saber os tempos e as estações” (v.7). Essa resposta foi dupla: “Tempos”, no grego nessa passagem, é chronos e significa um longo período. Haveria um espaço de tempo para a pregação do Evangelho entre a descida do Espírito Santo e a vinda de Cristo. “Estações”, nesse verso, é kairós, que significa “ocasião” e se refere aos eventos críticos que devem acompanhar o estabelecimento do reino. “Tempos e estações” são prerrogativas de Deus.

Sabemos que Deus é fiel. A fidelidade de Deus é um dos atributos comunicáveis, conhecidos também nos diversos tratados de teologia sistemática como atributos morais, atributos relativos, atributos transitivos. Esses são tipos de atributos divinos (Sl 36.5; 89.2; Lm 3.23; 1 Co 1.9; 2 Ts 3.3; 2 Tm 2.13) “que encontram alguma ressonância nos seres humanos” como a verdade e a fidelidade dentre outros atributos: amor, bondade, justiça, sabedoria. Fidelidade é a qualidade de ser cheio de fé, característica do que é fiel, lealdade, trata-se de uma demonstração de fé, lealdade, respeito, constância nos compromissos assumidos. A fidelidade é uma das virtudes cristãs proveniente do Espírito na vida do crente (Gl 5.22). Essa verdade é ensinada em toda a Bíblia, de maneira direta nos relatos históricos e proféticos, nas parábolas e ilustrações como importante virtude na vida cristã (Mt 25.21; 1 Co 4.2; 2 Tm 2.19). Viver com fidelidade é adotar um estilo de vida cristão na esperança da vinda de Jesus. Assim como Deus é santo e exige santidade do seu povo, da mesma maneira um Deus fiel exige fidelidade do seu povo. – Na resposta à pergunta dos discípulos: “Será este o tempo em que o Senhor irá restaurar o reino a Israel?” (At 1.6) está o grande tema do livro de Atos, não só para os apóstolos, mas também para a igreja em todas as eras: “Mas vocês receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo, e serão minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra” (At 1.8). Com isso Jesus mostrou aos seus discípulos que a prioridade era a evangelização do mundo e que não era hora de analisar o momento crítico da história em que estavam vivendo. A ênfase é a evangelização. Os discípulos foram fiéis ao chamado do Senhor, se entregaram à obra com fidelidade e dedicação. Da mesma forma os nossos pais procederam nesse trabalho com muito empenho, e dessa forma devemos proceder até o dia do cumprimento da bendita esperança. – Jesus responde à pergunta dos discípulos ampliando o horizonte desse reino. “Não vos pertence saber os tempos e as estações” (At 1.7). Essa resposta foi dupla: “Tempos”, no grego nessa passagem, é chronos e significa um longo período. Haveria um espaço de tempo entre a descida do Espírito Santo e a vinda de Cristo para a pregação do evangelho. “Estações”, nesse versículo, é kairós, que significa “ocasião” e se refere aos eventos críticos que devem acompanhar o estabelecimento do reino. “Tempos e estações” são prerrogativas de Deus.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

 “Entrementes, o Espírito nos prepara, de muitas maneiras, para o cumprimento de nossa esperança gloriosa. Ele nos ajudar a orar (Rm 8.26,27) enquanto ‘nós, pelo espírito da fé, aguardamos a esperança da justiça’ (Gl 5.5). O dom do Espírito Santo é um selo e uma ‘primeira prestação’ daquilo que receberemos em maior plenitude na nossa herança futura como filhos de Deus (Ef 1.13,14). É também ‘penhor’ de que realmente o receberemos se conservamos a nossa fé em Jesus, e continuamos a semear para agradar ao Espírito, e não para agradar à nossa natureza pecaminosa (Gl 6.7-10; ver também Rm 2.10).

[…] Juntamente com essas primeiras prestações das bênçãos do porvir, podemos desfrutar de tempos de refrigério da parte do Senhor sempre que houver arrependimento ou uma mudança de atitude para com o Senhor (At 3.19). Mas, conforme já foi enfatizado, as advertências de Jesus devem ser levadas a sério. Repetidas vezes, Ele enfatizou a importância de estar pronto e de viver à luz da sua volta (Mt 24.42, 44, 50; 25.13; Lc 12.35,40; 21.34-36)” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 10. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, pp. 616-17).

   CONCLUSÃO

Viver com fidelidade é ser fiel e leal a Deus durante toda a vida (2 Tm 4.7,8). A fidelidade ao Senhor Jesus é uma das condições para herdar o Reino dos Céus. O Senhor Jesus falou reiteradas vezes sobre a sua vinda. Ao ascender ao céu, dois anjos reafirmaram essa promessa: “Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (v.11). A volta de Jesus para nos levar ao céu é a esperança da Igreja. – Enquanto os cristãos observam Jesus ser levado para a glória, dois anjos apareceram e os repreenderam com brandura. Tanto no ministério descrito em Atos como hoje, os anjos exercem uma função importante, mesmo que não possamos vê-los (ver At 5:19, 20; 8:26; 10:3-7; 12:7-10, 23; 27:23). São servos dos santos (Hb 1:14). Os dois mensageiros garantiram aos cristãos que Jesus Cristo voltaria da mesma forma como havia partido. Ao que parece, trata-se de uma referência a sua vinda em público, "com as nuvens" (Mt 24:30; 26:64; Ap 1:7), não a sua vinda para buscar a Igreja, "num abrir e fechar de olhos" (1 Co 15:51, 52; 1 Ts 4:13-18). Quaisquer que sejam as ideias das pessoas acerca do cronograma profético de Deus, os cristãos concordam que Jesus voltará e que virá a qualquer momento. Esse fato, por si só, deve ser um grande estímulo para o serviço cristão fiel (Lc 12:34-48).

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 1º Trimestre 2020 - Lição 13. Rio de Janeiro: CPAD, 28, mar. 2021.

SOARES, Esequias. O verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento, v. I, p. 522. Santo André: Geográfica, 2007.

sábado, 20 de março de 2021

A IGREJA LIDANDO COM PANDEMIAS DESDE OS SÉCULOS PASSADOS

          O site Guiame fez um relato histórico emocionante de como os cristãos do passado enfrentaram as pragas com compaixão, resiliência e fé.

Culto ao ar livre em São Francisco durante a pandemia da Gripe Espanhola, em 1918. (Foto: Reprodução/Twitter/Marina Amaral)

O ano de 2020 trouxe a maior crise pandêmica das últimas décadas: a pandemia da Covid-19. O impacto foi tanto que alterou todas as áreas da vida, estabelecendo um “novo normal”. Se adaptar a esse novo contexto sombrio foi um desafio para todo mundo, inclusive para a Igreja. 

Congregações em todo o mundo tiveram que se habituar aos decretos de prevenção dos governos, investir na programação e cultos online, e dar respostas bíblicas às questões mais difíceis que angustiam o ser humano, como “por que Deus permite o sofrimento?” e “por que o justo sofre?”.

Quando crises batem à porta, temos o costume de olhar para trás em busca de respostas na história das gerações passadas, que também vivenciaram angústias como as nossas. Os cristãos sempre fizeram isto; procuramos nas vidas dos personagens bíblicos o consolo, força e conselho espiritual para nossos próprios desafios.

Em tempo de pandemia, seria sábio o Corpo de Cristo relembrar como a Igreja lidou com outras pandemias nos séculos passados, a fim de tirar lições que nos possam servir hoje.


A igreja protestante na linha de frente das pandemias


Quando olhamos para a história da Igreja durante surtos epidêmicos a vemos atuando na linha de frente, combatendo as pragas através da ajuda social e amparo espiritual.

“As igrejas, de modo geral, têm um histórico de solidariedade e de enfrentamento muito forte das pandemias. As igrejas evangélicas, sejam elas protestantes ou pentecostais, sempre tiveram uma postura muito séria em relação às crises epidêmicas”, analisa o professor de Teologia da Universidade Mackenzie, Gerson Moraes, em entrevista ao Guiame.

O professor afirma que os relatos históricos revelam como muitos pastores e ministros atuaram de forma heroica nas pandemias – muitos até mesmo se sacrificando para cumprir sua missão.

“Durante a Reforma Protestante, vamos encontrar o próprio Martinho Lutero enfrentando uma epidemia de peste negra na Europa. Ele deixa registrado em diversos momentos de sua obra como ele lida com a situação de maneira pastoral; enterra pessoas, cuida de crianças que perderam os pais”, diz Gerson e conclui: “Esse é o perfil histórico de um sacerdote protestante que lidou com esta questão”.

Encontramos relatos de cristãos lidando com crises epidêmicas desde a Igreja Primitiva até a Reforma Protestante; igrejas abrindo suas portas para servir de hospitais, irmãos cuidando de enfermos na própria casa e pastores doando suas vidas como verdadeiros mártires. Acompanhe a linha do tempo e entenda como foi a atuação da Igreja durante as principais pandemias da história.

Imagem ilustrativa de igreja servindo como hospital. (Imagem: Calvin Institute of Christian Worship)

Peste Antonina (166-189 d.C.) – Roma

A primeira grande epidemia enfrentada pela Igreja Primitiva foi a Peste Antonina, de 166 a 189 d.C., levada a Roma pelas tropas que retornavam da campanha contra os persas. A doença, provavelmente varíola, dizimou cerca de 10% da população. Em 189 d.C., a taxa de mortalidade por dia chegou a 2 mil pessoas em Roma, de acordo com o historiador romano Dio Cassio.

Segundo Glenn Sunshine, professor de História na Universidade Estadual do Centro de Connecticut, as pessoas da época já entendiam que a praga era contagiosa e, por isso, expulsavam seus doentes de casa para morrerem na rua e os ricos fugiam para suas propriedades rurais no interior.

O professor disse em artigo para a Mission Frontiers, que os cristãos permaneceram em Roma para cuidar dos vizinhos doentes, mesmo sabendo que não tinham meios de se proteger contra a doença. Os cuidados básicos de enfermagem oferecidos pela Igreja salvaram muitas vidas e contribuíram para o rápido crescimento do cristianismo.

  

Peste de Cipriano (249-262 d.C.) – Roma 

No século seguinte, o mesmo fenômeno ocorreu. A Peste de Cipriano – chamada assim em homenagem a Cipriano, o bispo de Cartago que registrou a epidemia – atingiu o Império Romano drasticamente. No pico da epidemia, a praga matou 5 mil pessoas por dia em Roma. E dois terços da população de Alexandria, a segunda maior cidade do Império Romano, morreu vítima da doença.

A praga – que pode ter sido um novo surto de varíola ou uma febre hemorrágica como o ebola, segundo os especialistas – foi descrita como terrível pelo Bispo Cipriano: “Os intestinos são sacudidos por um vômito contínuo; os olhos estão em chamas com o sangue infectado; em alguns casos, os pés ou algumas partes dos membros são arrancados pelo contágio da putrefação doentia”.

Novamente os cristãos, de maneira corajosa, cuidavam dos doentes e moribundos enquanto cidades inteiras eram abandonadas na Itália. “No início da doença, [os italianos] empurraram os sofredores e fugiram de seus entes queridos, jogando-os nas estradas antes que morressem e tratando os cadáveres não enterrados como sujeira”, relatou Cipriano. 

Assim como no século passado durante a Peste Antonina, o cristianismo teve um crescimento exponencial. O sociólogo religioso Rodney Stark calcula que a população cristã em 251 d.C. era formada por cerca de 1,2 milhão no Império Romano e em 300 d.C. já eram cerca de 6 milhões de crentes, segundo informa Glen Scrivener em artigo para o The Gospel Coalition.

Rodney Stark avalia que ao cuidar dos não crentes infectados, a Igreja criou novas redes sociais, fazendo com que o Evangelho se propagasse rapidamente e convertendo muitos pagãos ao Evangelho. O sociólogo conclui que as pragas foram um importante fator para o crescimento do cristianismo no Império Romano, provando mais uma vez que o Senhor tem o seu caminho na tormenta e na tempestade. 

 

Peste Negra (século 14) – Europa e Ásia 

Do século 14 em diante, a Peste Negra assombrou a Europa matando milhões de pessoas. Em apenas cinco anos, metade da população do continente morreu vítima da doença. Nesta pandemia, a Igreja atuava na linha de frente, muitas vezes disponibilizando seus templos para servirem de hospitais improvisados, onde ministros auxiliavam como enfermeiros leigos.

Na era da Reforma Protestante, em agosto de 1527, a Peste Negra atingiu a cidade de Wittenberg na Alemanha, morada de Martinho Lutero. Muitos moradores fugiram da cidade para salvar suas vidas, Lutero foi aconselhado a fazer o mesmo, mas ele e a esposa Katharina, que estava grávida na época, decidiram permanecer para cuidar dos infectados.

Em carta de 19 de agosto de 1527, Martinho Lutero escreveu: “Estamos aqui sozinhos com os diáconos, mas Cristo está presente também, para que não estejamos sós, e Ele triunfará em nós sobre aquela velha serpente, assassina e autora do pecado, por mais que ele machuque o calcanhar de Cristo. Ore por nós e adeus”.

Segundo Michael Whiting, diretor de conteúdo da Universidade Dallas Baptist, em artigo para o site da mesma universidade, embora o reformador tivesse se recusado a fugir da praga para cuidar de doentes em sua própria casa, Lutero recomendava aos fiéis que seguissem as medidas de proteção contra a Peste Negra.

Martinho dizia que as orações de fé deveriam ser oferecidas pela misericórdia de Deus junto com as práticas responsáveis de saneamento, medicação e isolamento social para “não ser responsável pela própria morte ou de qualquer outra pessoa”. E, embora ele seguisse os conselhos médicos tanto quanto possível, dizia que “não negligenciaria seus deveres como cristão e pastor”, caso seu  vizinho precisasse dele ou alguém necessitasse de conforto quando estava doente ou morrendo, era seu dever estar presente.

E afirmava contundente: "Se fosse sua hora de morrer, Deus saberia onde encontrá-lo”.  Martinho Lutero e Katharina sobreviveram à epidemia.

 

Lutero e sua esposa Katharina cuidaram de enfermos durante a Peste Negra em 1527. (Foto: Wikimedia Communs)

  

Cólera (1817 – até hoje)

Existente desde a Antiguidade, a primeira epidemia global de cólera aconteceu em 1817 e desde lá o vírus sofreu mutações, ocasionando novos ciclos epidêmicos de tempos em tempos.

Em 1854, um surto de cólera assombrou Londres, na época a capital mais rica do mundo com mais de 2 milhões de habitantes. Neste tempo, Charles Spurgeon, com apenas 20 anos, pastoreava a capela da New Park Street.

O príncipe dos pregadores notou que a recepção dos londrinos ao Evangelho estava maior durante a epidemia. Aqueles que antes zombavam de sua pregação, agora estavam buscando esperança em Deus.

“Se existe um momento em que a mente é sensível, é quando a morte está em alta. Lembro-me, quando vim a Londres pela primeira vez, de como as pessoas ouviam o Evangelho com ansiedade, pois a cólera estava se alastrando terrivelmente. Houve pouca zombaria então”, relatou Spurgeon.

O pregador contou a história de um homem moribundo de Londres que antes o criticava: “Aquele homem, em sua vida, costumava zombar de mim. Em linguagem forte, ele sempre me denunciou como hipócrita. No entanto, ele mal foi atingido pelos dardos da morte e buscou minha presença e conselho, sem dúvida sentindo em seu coração que eu era um servo de Deus, embora ele não se importasse em admitir isso com seus lábios”.

Glen Scrivener, evangelista da Igreja da Inglaterra, em artigo para o The Gospel Coalition, avalia que “Spurgeon viu as pragas de seus dias como uma tempestade que levou muitos a buscar refúgio em Cristo, a Rocha”.

 

Gripe Espanhola – (1918 a 1919)

Cristãos orando do lado de fora de uma igreja durante a Gripe Espanhola em São Francisco (EUA), em 1918.
(Foto: Hulton Archive/Getty images

No início do século 20, a Gripe Espanhola se espalhou pelo mundo todo, dizimando cerca de 50 milhões de pessoas. No Brasil, a doença matou o presidente Rodrigues Alves. A pandemia desafiou países, governos, igrejas e profissionais da saúde a lidar com uma crise generalizada em um mundo que ainda se recuperava da destruição da Primeira Guerra Mundial.

Segundo o Dr. Michael Whiting, diretor de Comunicação da Universidade Batista Dallas, nos EUA, os templos das igrejas foram fechados e os cristãos continuaram adorando a Deus em suas casas. Há relatos também de cultos ao ar livre, como registrado na cidade de São Francisco.

Muitas igrejas abriram suas portas para servir como clínicas de saúde improvisadas já que os hospitais estavam lotados. Médicos e enfermeiros cristãos se doavam para cuidar dos infectados, junto com irmãos leigos, muitos deles sacrificando a própria vida, de acordo com Whiting em artigo para o site da mesma universidade.

Conforme registros da Biblioteca Mary Baker Eddy, durante a pandemia da Gripe Espanhola, líderes protestantes, católicos e judeus discutiam sobre os decretos do governo de fechar as igrejas. Alguns acreditavam que o serviço da igreja era mais do que necessário naquele momento, defendendo que os templos ficassem abertos. Cientistas cristãos também participavam da discussão, alguns deles eram favoráveis a obedecer à ordem de contenção.

Também há relatos de igrejas brasileiras na luta contra a Gripe Espanhola, como a Igreja Presbiteriana de Curitiba. Segundo reportagem da Gazeta do Povo, durante a epidemia que atingiu a capital do Paraná entre 1918 e 1919, a igreja recebeu doentes, quando os postos de saúde se encontravam superlotados.

Juarez Marcondes Filho, pastor titular desta igreja e secretário-geral da Igreja Presbiteriana do Brasil, afirmou à Gazeta do Povo que a casa pastoral serviu de ambulatório emergencial. “Provavelmente fiéis médicos ajudaram no acolhimento. Foi algo emergencial, não oficial. Estávamos próximos ao Centro e houve um apelo”, explicou.

 

Pastores na linha de frente em pandemias: verdadeiros mártires 

Pastor Eduardo Lane e sua esposa Mary. O pastor presbiteriano cuidou de enfermos durante um surto
de Varíola em Campinas (SP). (Foto: Reprodução/IBEL/TV Mackenzie)

Na história da Igreja, encontramos relatos de pastores batalhando na linha de frente nas pandemias. Homens corajosos que não tiveram sua vida como preciosa e cumpriram seu pastorado até o fim, muitos sacrificando a própria vida para salvar outras.

Durante a pandemia da Covid-19, a história se repete. Ministros servindo sua igreja, consolando famílias enlutadas, enterrando vítimas do coronavírus, pregando a esperança vindoura para um mundo em desespero. Infelizmente, muitos desses pastores foram promovidos aos Céus por serem infectados da Covid, morrendo como verdadeiros mártires pelo Evangelho.

Gerson Moraes, professor de Teologia da Universidade Mackenzie, lembra ao Guiame que a situação do pastor é muito delicada: “O pastorado significa se alegrar com os que se alegram e chorar com os que choram. Você tem que estar preparado espiritualmente para fazer um enterro de manhã e um casamento ao final da tarde”.

O professor cita como exemplo o testemunho do pastor presbiteriano Eduardo Lane que atuou na epidemia de Febre Amarela em Campinas, no final dos anos 1880. Na época, a cidade tinha entre 15 mil a 18 mil habitantes e a doença reduziu drasticamente a população para 5 mil moradores.

O pastor Lane, que também era médico, cuidava dos enfermos. E recusando-se a abandonar os pacientes, acabou morrendo vítima de Febre Amarela.

 

O papel da Igreja em tempos de pandemia

Jornal anunciando o cancelamento de cultos em São Francisco durante a Gripe Espanhola.
(Foto: Reprodução/Newspapers.com)

Glenn Shunsine, professor de História na Universidade Estadual do Centro de Connecticut, em artigo para a Mission Frontiers, lembra que a maneira de amar o próximo pode ser diferente para cada período da história, visto que nas pandemias anteriores a ciência não era tão avançada e não haviam hospitais modernos e tantos profissionais qualificados.

“Amar o nosso próximo pode significar coisas diferentes em momentos diferentes”, ponderou Shunsine. “Pode significar distanciamento social para que não corramos o risco de infectá-los como Lutero sugeriu, mas também pode significar ir a áreas onde corremos o risco de contrair a doença. Se formos para essas áreas, devemos tomar todas as precauções possíveis contra a infecção, mas reconhecer com Paulo que ‘para mim, viver é Cristo e morrer é ganho’", afirmou Glenn.

O professor também destacou a importância da oração em tempos de pandemia, junto com o tratamento médico formal. Ele disse que muitos milagres foram registrados nas crises epidêmicas ao longo da história: “Não é incomum encontrar relatos de curas milagrosas em resposta à oração em epidemias em várias partes do mundo nos últimos 200 anos”.

Para o historiador, Deus continua ouvindo nossas orações em favor dos enfermos: “Deus continua a curar em resposta à oração, e seríamos tolos se não nos voltássemos para Ele em todos os nossos esforços para lidar com doenças e seu impacto em vidas e comunidades. Não devemos negligenciar a oração”.


“Se existe um momento em que a mente é sensível, é quando a morte está em alta". [Charles Spurgeon]


Shunsine também enfatizou que a Igreja, desde o seu início, considerou a ciência como uma graça de Deus dado aos homens, incentivando que Igreja atual faça o mesmo. “Desde os primeiros séculos, os cristãos reconheceram a medicina como um bom presente de Deus e utilizaram os melhores conhecimentos médicos e tecnologias disponíveis; eles também defenderam seguir os conselhos médicos. Ao lidarmos com a Covid-19 e outras doenças, devemos seguir seu exemplo”, observou Gleen.

Segundo o teólogo Gutierres Fernandes, a Igreja tem um papel social importante em pandemias porque exerce influência sobre a vida de muitas pessoas: “Quando a Igreja segue os protocolos de segurança recomendado pelos agentes de saúde e quando promove campanhas de conscientização, a Igreja está agindo de maneira sábia”, disse ao Guiame. 

Já Gerson Moraes, professor de Teologia da Universidade Mackenzie, recorda que a Igreja deve estar na linha de frente durante as calamidades, ajudando o próximo e anunciando as boas novas de salvação. 

E Gerson vai além: “A Igreja deve ser a linha de frente não apenas no serviço, mas em relação ao discurso. Ela deve andar de mãos dadas com a ciência, lutando contra o engano. Não ser negacionista, não ser obscurantista, não se vender para políticos de ocasião. E manter sua mensagem eterna e eficaz, que não deve.


Extraído do Site Guiame

Disponível em: https://guiame.com.br/gospel/mundo-cristao/como-igreja-lidou-com-epidemias-nos-seculos-passados-veja-exemplos-e-licoes.html


LIÇÃO 12: A URGÊNCIA DO DISCIPULADO

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

O discipulado acompanha a pregação do Evangelho desde o princípio e é de fundamental importância como base inicial na formação cristã no novo convertido. A forma que a igreja local o desenvolverá somará na formação do caráter cristão para o bem ou para o mal. – A necessidade do discipulado é urgente e desde o princípio é uma atividade imprescindível da igreja. O pastor Esequias Soares, autor dos comentários desta lição, lembra que no início da sua fé recebeu um livreto de discipulado, publicação do Ministério Bernhard Johnson, com a seguinte pergunta na capa: E agora? Realmente, a salvação do pecador é concedida gratuitamente por Deus mediante a fé em Jesus (Rm 10.9, 10; Ef 2.8, 9). Mas, a vida continua e o relacionamento com a família, os colegas de trabalho, na sociedade e na igreja precisa ser revisto. Por falar em igreja, agora é preciso aprender mais de Cristo, se preparar para o batismo e conhecer a doutrina da igreja. O discipulado já é o ponto de partida. O Senhor mandou que a igreja fizesse as duas coisas: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19)

 I. O QUE É O DISCIPULADO

O termo “discipulado” vem de “discípulo”, que significa “aprendiz, aluno, seguidor”. Isso vale no âmbito secular e religioso. Qualquer sentido desse termo se aplica ao cristão.

1. O discípulo. O termo se aplica com frequência nos evangelhos aos seguidores de Jesus (Mt 5.1; Jo 2.12). Disso segue o discipulado, ensino para ser seguidor de Cristo, ou seja, é o ensino bíblico básico para o novo convertido desenvolver-se espiritualmente. Trata-se de instruções que abrangem vários aspectos da vida, na área espiritual, emocional e social. O ministério do ensino ocupa espaço relevante no cristianismo, aparece na lista dos dons da graça de Deus: “se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (Rm 12.7).

2. A Grande Comissão (Mt 28.18-20). É o nome que se dá à comissão que o Senhor Jesus designou para a evangelização das nações. O verbo “ensinar” em “ensinai todas as nações” (Mt 28.19a), ou: “façam discípulos de todas as nações” (Nova Almeida Atualizada), é mathēteuō, “fazer discípulo, discipular”. O discipulado não é opção, é mandamento divino para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão. Além do discipulado, Ele também ordenou que esses novos discípulos guardem o que aprenderam: “ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.20). Ou seja, as doutrinas e os pontos doutrinários que Jesus ensinou. O livro de Atos mostra os apóstolos no cumprimento dessa palavra (At 2.42; 4.1,2; 5.21,28). 

3. A educação cristã. A “doutrina dos apóstolos” (At 2.42) está dentro do corpo doutrinário que Jesus ensinou aos seus discípulos durante o seu ministério terreno e que depois o Espírito Santo se encarregou de orientá-los (Jo 14.26). O currículo de qualquer um dos nossos cursos teológicos constam diversas disciplinas sobre Deus e Jesus, o Espírito Santo e a Trindade; sobre os anjos, o homem e o pecado; sobre a expiação e a salvação, sobre a morte e a ressurreição dos mortos; sobre a sua vinda e a igreja. Jesus falou e ensinou sobre tudo isso e muito mais, como a teologia prática, a ética, aquilo que o cristão deve praticar no seu dia a dia. O ensino, nesse contexto, pode se referir também aos cursos de teologia.

A figura do discípulo aparece duas vezes no Antigo Testamento: “Lançaram sortes para designar os deveres, tanto dos jovens como dos velhos, tanto do mestre como do discípulo” (1 Cr 25.8). A organização dos músicos e cantores ocorria em 24 grupos de 12 pessoas estabelecidos pelo rei Davi, estavam também entre eles um certo número de aprendizes no cântico e na música. Na segunda passagem lemos: “Guarde bem o testemunho e sele a lei entre os meus discípulos” (Is 8.16). Os discípulos de Isaías foram designados para preservar “o testemunho” e a “lei”, ou seja, as profecias escritas para evitar a sua destruição. Nenhuma delas revela algum relacionamento no sentido mestre/aprendiz. No judaísmo rabínico, o aluno aprendiz se submete ao rabino e o acompanha por toda parte aprendendo e servindo o seu mestre. O objetivo é o aprendizado da lei de Moisés para entender e colocar em prática. – Os principais mestres nas escolas filosóficas gregas são Sócrates, Platão e Aristóteles. Todos eles tiveram sua maneira de instruir os seus discípulos. Sócrates se tornou famoso porque fazia perguntas que levavam as pessoas à reflexão. Ele partia do princípio: “só sei que nada sei”. Iniciava as discussões afirmando nada saber diante do oponente que julgava saber tudo. Com perguntas hábeis, desmontava a certeza do oponente, levando-o a reconhecer sua ignorância: “Não faz preleções, mas introduz o diálogo como forma da busca da verdade”. Sócrates foi o mestre de Platão, que fundou também sua escola. Os seus discípulos eram cuidadosamente selecionados e eram instruídos em todas as questões vinculadas à filosofia, ensinava o aluno a pensar em lugar de transmitir doutrina. Aristóteles, aprendiz de Platão, diferentemente de seu mestre, ensinava os seus discípulos enquanto caminhava em volta, por isso tornaram-se conhecidos como peripatéticos. Esses filósofos desenvolveram temas das mais diversas áreas do saber humano cada um segundo o seu método. – O Novo Testamento emprega o substantivo grego mathe¯te¯s, “discípulo, aprendiz”. Essa palavra é derivada do verbo manthano¯, “aprender”, e só aparece nos evangelhos e em Atos. O termo “discípulo”, em nossa língua vem do latim, discipulus, do verbo disco, “aprender, estudar”. Não confundir discípulo com aluno, pois o discípulo é um que não somente aceita o ponto de vista de seu Mestre, mas que é seu partidário em crença e prática. O Grande Dicionário Sacconi da língua portuguesa define “discípulo” como aquele “que recebe lições de um mestre ou líder e adota a sua doutrina, procurando seguir os seus passos”. Um discípulo é um seguidor, aprende, e segue as suas instruções. Os evangelhos fazem menção dos discípulos de Moisés (Jo 9.28). João Batista teve discípulos e alguns deles se tornaram seguidores de Jesus (Mc 6.29; Jo 1.35, 36). Os fariseus tinham também os seus discípulos (Mt 22.16; Mc 2.18; Lc 5.33). – O verbo “ensinar” em “façam discípulos de todas as nações” (Mt 28.19a) é mathe¯ teuo¯, “fazer discípulo, discipular”, de onde vem o substantivo mathe¯ te¯ s. Mas, há outro verbo usado com frequência para indicar os seguidores de Jesus, akolouthéo¯, “seguir, ir após, acompanhar”, que dependendo do contexto diz respeito ao discipulado (Mt 9.9; 19.21; Lc 5.11; Jo 1.43). O Senhor Jesus Cristo se distingue de todos os mestres gregos e judeus, dos filósofos e dos rabinos no método e conteúdo. O número no discipulado de Jesus era muito maior e envolvia mulheres. Jesus não esperava por seguidores voluntários, mas com autoridade divina, Ele os chamava (Mt 8.22; Mc 1.16-18). Os discípulos de Jesus são chamados para o serviço do reino de Deus (Mt 4.18-20) e para realizar atos poderosos (Mt 10.8; Mc 3.13-15; Lc 10.19). Eles renunciam a si mesmos e sem precondição opressiva (Mt 9.9; Mc 8.34). – Os doze apóstolos foram escolhidos por Jesus dentre os demais discípulos (Lc 6.13) como representação simbólica das doze tribos de Israel (Mt 19.28). A lista dos doze aparece nos evangelhos sinóticos e em Atos (Mt 10.1-4; Mc 3.16-19; Lc 6.12-16; At 1.13, 26). Mas, o número dos discípulos de Jesus era grande, de uma só vez Ele enviou setenta discípulos para a obra da evangelização em cada cidade e nas aldeias (Lc 10.1). O apóstolo Paulo fala de “mais de quinhentos irmãos”, que de uma só vez, viram o Senhor Jesus ressuscitado (1 Co 15.6). O efetivo desse discipulado era composto por homens e mulheres de todas as camadas da sociedade, ricos e pobres, autoridades e cidadãos comuns, intelectuais e leigos (Lc 8.1-3; 9.1; Jo 3.1-3; 12.42; 19.38,39). Um dos doze era zelote [os zelotes eram patriotas radicais da Judeia que atribuíam as mazelas do seu país à presença romana em Israel. Eram sempre violentos e dispostos à guerra] “Simão, chamado Zelote” (Lc 6.15; At 1.13). Hoje, os discípulos de Jesus são todos os seus seguidores em todos os lugares. – O discipulado acompanha a pregação do evangelho desde o princípio e é de fundamental importância como base inicial na formação cristã no novo convertido. A liderança da igreja, principalmente na área de evangelismo e discipulado, jamais deve se descuidar dessa nobre tarefa. O ministério de Jesus se baseava na trilogia: pregar, ensinar e curar: “Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando todo tipo de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23). Já falamos sobre a cura divina, no capítulo 10, e sobre a evangelização no capítulo anterior. Neste capítulo, estamos falando do discipulado na igreja que é o ensino para ser seguidor de Cristo, ou seja, é o ensino bíblico básico para o novo convertido para o seu desenvolvimento espiritual.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

O saudoso e grande educador cristão, Howard Hendricks, escreveu uma obra clássica em Educação Cristã, Discipulado: o Caminho para firmar o caráter cristão. Como o título da obra diz, o discipulado tem a ver com o desenvolvimento do caráter exemplar do cristão para servir ao próximo e influenciá-lo na convivência. É um mergulho na vida interior que força o discípulo a confrontar consigo mesmo os ideais elevados do Evangelho de Jesus Cristo. E o melhor lugar para se refletir sobre isso na igreja local é a Escola Dominical.

Ao introduzir a aula de hoje, lance algumas perguntas para a classe: 1) Em que medida o meu caráter se parece com o de Cristo? 2) Os valores que o Senhor Jesus nos estimula viver é impossível de realizar? (Mt 5.18); 3) Estamos muito ou pouco parecidos com Jesus?

De acordo com as respostas, aproveite esse momento para motivar os alunos a refletirem com seriedade sobre a importância de um verdadeiro discipulado na igreja local.

  II. O TRIPÉ DO DISCIPULADO: PALAVRA, COMUNHÃO E SERVIÇO

Essa trilogia, palavra, comunhão e serviço, era a marca da igreja de Jerusalém logo após o Pentecostes. Isso influenciou a maioria das igrejas de todos os lugares e em todas as épocas e continua valendo atualmente.

1.  A Palavra. A autoridade das Escrituras é singular e única, pois a sua fonte é o próprio Deus; elas foram faladas primeiramente pelos profetas do Antigo Testamento e depois pelos apóstolos do Novo Testamento (2 Pe 3.2). Os primeiros discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42a). Isso quer dizer que eles continuavam no aprendizado sob comando dos apóstolos. Esse ensino se baseava tanto nas Escrituras quanto na própria experiência dos apóstolos, os quais receberam a revelação diretamente de Jesus durante o seu ministério terreno e, depois de Pentecostes, do Espírito Santo (At 1.2-4; 1 Co 2.12,13). Na atualidade, não temos os apóstolos em pessoa conosco, no entanto, eles ainda nos ensinam pela Palavra de Deus, a Bíblia.

2. A Comunhão (At 2.42). Ter tudo em comum e partilhar da mesma crença é comunhão. A palavra grega koinonia, “comunhão”, significa compartilhar ou participar mutuamente de algum evento comum ou acordo. No Antigo Testamento, a ideia de comunhão diz respeito ao relacionamento da pessoa com o seu próximo (Sl 133.1) e nunca do ser humano com Deus. Embora Abraão tenha sido chamado “amigo de Deus” (Is 41.8; Tg 2.23) e Moisés tenha falado com Deus face a face (Dt 34.10), eles não provaram a mesma comunhão com Deus como os crentes da nova aliança (Jo 15.14). A comunhão no Cristianismo envolve tanto o relacionamento entre os irmãos como também com o Pai, com o Filho (1 Jo 1.3) e com o Espírito Santo (2 Co 13.13).

3. A comunhão na igreja de Jerusalém (2.44). A igreja de Jerusalém, logo nos seus primeiros dias, deu ao mundo uma lição de koinonia. O que o texto sagrado diz é que não se trata apenas de compartilhar algo, mas também de unidade (At 4.32). “Coração” diz respeito ao centro da vida, a mesma inclinação. “Alma” é a sede das emoções, fala dos mesmos afetos e sentimentos (Fp 2.3; 1 Jo 3.16-18). Todos os crentes tinham o mesmo propósito, a mesma esperança, servindo ao mesmo Senhor.

4. O Serviço. Trata-se de um termo de significado amplo nas Escrituras Sagradas. O termo, visto isoladamente, quer dizer um trabalho realizado para alguém ou algo seguindo as suas instruções. O termo no Antigo Testamento se relaciona, na maioria das vezes, aos sacerdotes no santuário e também a qualquer pessoa temente a Deus (Js 24.15). Na primitiva igreja de Jerusalém, o serviço cristão está representado sumariamente na perseverança no ensino dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42-47). É isso que Deus espera de cada um de nós no cumprimento da Grande Comissão.

A Grande Comissão na qual estamos incumbidos conforme ordem do Senhor Jesus é a tarefa de pregar e fazer discípulo. A Palavra, a comunhão e o serviço são a base para o discipulado, a oração é tanto coletiva como também individual faz parte do desenvolvimento e crescimento espiritual. – A “Palavra” é uma referência às Escrituras. Sabemos que a Bíblia chama a si mesma por diversos nomes como: Escritura de Deus: “também a escritura era a mesma escritura de Deus” (Êx 32.16 ARC); Livro da Verdade: “eu direi a você o que está expresso no Livro da Verdade” (Dn 10.21), ou Escritura da Verdade, “eu te declararei o que está escrito na escritura da verdade” (ARC); Palavras de Vida: “o qual recebeu as palavras de vida” (At 7.38 ARC); Sagradas Letras: “desde a infância, você conhece as sagradas letras” (2 Tm 3.15); Palavra de Deus: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz” (Hb 4.12). A expressão “Palavra de Deus”, para se referir a Bíblia, é mais frequente (Mc 7.13; Ef 6.17). Às vezes, nos referimos às Escrituras simplesmente como “a Palavra”. – O próprio Deus é a fonte de autoridade das Escrituras. A autoridade divina da Bíblia deriva de sua origem em Deus. A chancela de autoridade espiritual é vista de maneira cristalina nas Escrituras como: “assim diz o SENHOR Deus de Israel” (Êx 5.1); “Assim diz o SENHOR Deus” (Is 7.7); “a palavra do SENHOR veio a ele” (Jr 1.2); “Como está escrito na profecia” (Mc 1.2). O Senhor Jesus Cristo chama as Escrituras Sagradas de “a Palavra de Deus” (Mc 7.13). Todas essas expressões revelam a fonte dessa autoridade (1 Pe 1.23-25). – Nenhum livro na história da humanidade influenciou tanto as nações como a Bíblia. Isso nos vários aspectos da vida humana, nos relacionamentos, no lar, no trabalho, na sociedade e na igreja, na forma de governo de praticamente todos os países do planeta. É o livro mais traduzido no mundo, está disponível em 3.988 línguas, segundo relatório de janeiro de 2019 das Sociedades Bíblicas Unidas, com sede em Londres, que congrega 148 sociedades bíblicas do mundo. A Bíblia completa está disponível em 692 idiomas, falados por 5,6 bilhões de pessoas. O Novo Testamento está traduzido em 1.547 línguas, faladas por 805 milhões de pessoas, além das porções ou seleções bíblicas traduzidas em 1.123 línguas, faladas por 411 milhões de pessoas (Sl 19.4-6). Não é de estranhar o nosso grande amor, respeito e dedicação pela Bíblia. – Com os recursos da mídia virtual, o alcance da Palavra ultrapassa a faixa de 6,5 bilhões de pessoas: “Ele envia as suas ordens à terra, e a sua palavra corre velozmente” (Sl 147.15). E, dessa forma, o evangelho pode alcançar o mundo inteiro (Mt 24.14; Lc 24.47). A primeira coisa que uma igreja deve fazer quando alguém vem a Jesus é dar-lhe uma Bíblia de presente. É importante o novo convertido ser inteirado do valor da Bíblia e da necessidade de sua leitura diária. Isso faz parte do discipulado. – Concernente à comunhão, isso é de vital importância. Quando alguém recebe a Jesus Cristo em um de nossos cultos, essa pessoa não é mais chamada de senhor José ou dona Maria, agora é “irmão” ou “irmã”, é assim que nós os costumamos tratar. Isso acontece porque essa pessoa agora pertence a família de Deus (Ef 2.19), somos irmãos. É aí que começa o nosso laço de amizade com essas pessoas, isso é comunhão. Lucas descreve numa linguagem pitoresca esse padrão de vida entre os primeiros cristãos que devemos imitar (At 2.42-47). – A palavra grega para “comunhão” é koinonia, “compartilhamento, comunhão, participação, solidariedade”. Era um termo favorito do apóstolo Paulo que entre nós é o “vínculo com um propósito e devoção comum que une os cristãos entre si e os une a Cristo”. A comunhão no cristianismo envolve tanto o relacionamento entre os irmãos como também com o Pai, com o Filho (1 Jo 1.3) e com o Espírito Santo (2 Co 13.13). – Temos nessa passagem lucana de Atos uma demonstração de comunhão e serviço. Comunhão, portanto, significa compartilhar ou participar mutuamente de algum evento comum ou acordo: “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma” (At 4.32). “Coração” diz respeito ao centro da vida, à mesma inclinação. “Alma” é a sede das emoções, fala dos mesmos afetos e sentimentos (Fp 2.3; Jo 3.16-18). Todos os crentes tinham o mesmo propósito, a mesma esperança, servindo o mesmo Senhor. É isso que Deus espera de cada um de nós no cumprimento da Grande Comissão.

SUBSÍDIO DE TEOLOGIA PRÁTICA

“O Discipulado Contribui para Compreender a dimensão Sociocomunitária e a Formação de uma Nova Identidade. Além de muitas figuras e metáforas encontradas nas Escrituras sobre a Igreja, ela também é apresentada como uma família. A entrada ou a chegada de um novo discípulo na congregação resulta, dentre tantos outros benefícios espirituais, no desenvolvimento da autoestima e da autoaceitação. Outro enorme benefício é o processo terapêutico desenvolvido pela ação efetiva de tornar-se parte de algo que possui reconhecido valor moral, psicossocial e espiritual. Por causa desse extraordinário benefício provocado pelo ato de aceitação da igreja, ao receber pessoas das mais variadas classes sociais, a igreja é interpretada por muitos como a última fronteira de espaço para uma identidade genuína e pessoal. Um novo discípulo, ao estar integrado em uma congregação, poderá dizer: ‘Estou feliz com a minha nova família’. A Bíblia diz: ‘Deus faz com que o solitário viva em família’ (Sl 68.6)” (SILVA, Rayfran Batista da. O Discipulado Eficaz e o Crescimento da Igreja. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.35).

 III. O DISCIPULADO E O CRESCIMENTO SADIO DA IGREJA

A igreja precisa do processo do discipulado para cumprir o propósito da Grande Comissão. Não se trata de opção, é ordem de Jesus para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão.

1. O crescimento espiritual. O processo do discipulado tem por objetivo instruir o novo convertido sobre os vários aspectos da vida cristã. Todas as pessoas que vêm a Cristo precisam ser discipuladas, isso porque elas se tornaram novas criaturas (2 Co 5.17) e passam a viver uma nova experiência (Rm 6.4). Elas precisam ser ensinadas para o seu crescimento espiritual e amadurecimento na fé: “crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). Esse é o crescimento espiritual e sadio.

2. O crescimento numérico.  O processo do discipulado proporciona à igreja, além do crescimento espiritual, o crescimento numérico (At 9.31). Note que o propósito da terceira a viagem do apóstolo Paulo não foi para plantar igrejas locais, mas para discipular e ensinar a igreja de Éfeso, formar e treinar obreiros para a seara do Senhor. Ele ficou ali durante três anos (At 18.22,23; 19.1; 20.31).

3. O exemplo da igreja de Antioquia da Síria. O público da igreja de Antioquia era gentio, identificado como “gregos” (At 11.20,21). Os apóstolos de Jerusalém enviaram Barnabé para discipulá-los (At 11.22). Ao se deparar com um grupo de gregos convertidos, ele concluiu que ninguém seria melhor do que Saulo para ensinar esses novos crentes de costumes estranhos. Barnabé não hesitou em buscá-lo em Tarso para essa nobre tarefa (At 11.25). Eles discipularam a igreja durante um ano inteiro. Assim, desde muito cedo na história do Cristianismo, a igreja se preocupa com o discipulado, pois fazer discípulo não é a mesma coisa que fazer membro de igrejas.  

A vontade de Deus é que todos os seus filhos e as suas filhas “cresçam na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). A igreja precisa do processo do discipulado para cumprir o propósito da Grande Comissão. Esse processo tem por objetivo instruir o novo convertido sobre os vários aspectos da vida cristã. Não se trata de opção, é ordem de Jesus para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão. Esse crescimento deve ser quantitativo e qualitativo, ou seja, em número e qualidade espiritual. O discipulado prepara o novo convertido para o aprendizado teológico mais aprofundado, isso acontece na escola bíblica dominical, pois os cursos teológicos são excelentes, mas tem duração e limitações curriculares. A vantagem da EBD é que ela não termina nunca, não tem prazos para matrículas, recebe alunos de qualquer idade e de qualquer credo religioso. Ela permite um crescimento salutar, progressivo e atualizado. – Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em março de 2020 pelos Institutos Ligonier Ministries and LifeWay Research, em que apresentavam algumas afirmações teológicas tanto para o público geral como também para o público evangélico para que concordassem ou discordassem delas. Selecionamos duas dessas declarações. A primeira, “Jesus era um grande Mestre, mas não era Deus”, dos americanos evangélicos, 30% concordaram, 66% discordaram e 4% não tinham certeza. A segunda, “Jesus é o primeiro e o maior ser criado por Deus”. Os que discordaram foram 29% e 6% não tinham certeza. – Em dezembro de 2016, a Folha de São Paulo publicou uma pesquisa abrangendo vários aspectos político e social na sociedade brasileira. Com a declaração “Todas as religiões têm o mesmo valor porque todas levam ao mesmo Deus”, por incrível que pareça, 50% dos pentecostais responderam que concordam com ela. A pesquisa separou pentecostais e não pentecostais, mas não separou pentecostais dos neopentecostais. Mesmo assim, é um número assustador. As seitas se aproveitam dessa ignorância para causar divisão nas igrejas e destruir lares. O problema está na falta do discipulado e de incentivo pelo estudo da Palavra de Deus. Estamos vivendo numa geração de analfabetismo bíblico sem precedentes. São muitos os que procuram igrejas como encontro social, para passar tempo, mas que ainda não têm a mínima noção do significado de ser cristão. Trata-se de um número considerável que sequer conhece a verdadeira identidade de Jesus e nem a sua singularidade. É lamentável! Jesus disse: “quando o Filho do Homem vier, será que ainda encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18.8). – Que é um discípulo? O discípulo é um aprendiz, seguidor, adepto dos ensinos de uma escola ou de uma pessoa em particular. Chamamos de discipulado na fé o aprendizado de um discípulo por meio de seu mestre, na igreja, para ajudar a desenvolver o seu crescimento espiritual. O termo “discipulado” vem de “discípulo”, que significa “aprendiz, aluno, seguidor”. Quem não sabe quem é Jesus, pode ser seu discípulo?

SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ

“O discipulado eficaz estabelece a relação adequada entre a obra da treliça e a obra da videira: As igrejas tendem em direção à institucionalização, pela qual o foco muda da videira [orgânico] para a treliça [estrutura]. Em vez de fomentar o crescimento moral-espiritual dos discípulos, focaliza-se na manutenção de programas e estruturas eclesiásticas. A história é uma fiel testemunha do que ocorreu na igreja cristã a partir do quarto século d.C. Por mais de 1200 anos, a maioria absoluta da igreja viveu distanciada do verdadeiro Evangelho, até que veio a Pré-Reforma, seguida da Reforma Protestante, como proposta de voltar a posicionar a igreja nos trilhos do Evangelho de Jesus Cristo. Em parte, essa realidade também ocorre com muita frequência na história de cada igreja local. Por falta de investimento na vida espiritual das pessoas (obra da videira), enfatiza-se a manutenção de estruturas físicas e programas eclesiásticos (obra da treliça), causando, assim, enormes prejuízos ao corpo de Cristo e, além disso, impedindo-o de cumprir na terra a verdadeira missão. Novas treliças (estruturas) devem ser criadas assim como antigas treliças devem ser ampliadas e restauradas, mas tão somente para servir a sustentação à videira, que deve continuar merecendo a principal atenção e continuar crescendo” (SILVA, Rayfran Batista da. O Discipulado Eficaz e o Crescimento da Igreja. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.39).

   CONCLUSÃO

Deus tem interesse no bem-estar social e espiritual do ser humano. Isso vale para igreja e para a sociedade. A educação com base nos princípios cristãos é importante porque, além dos valores espirituais, contribui na construção de uma sociedade civilizada. A base dos valores morais e espirituais é a Bíblia. “O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida qie tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros" (PHILLIPS, 2010, p. 20). O saudoso pastor Valdir Nunes Bícego, grande estrategista em evangelismo chegou a afirmar que "A porta de saída da igreja é mais larga que a porta de entrada”. Os números e gráficos que ele mesmo elaborou são provas dessa lastimável realidade. Um deles revela que de cada cem pessoas que aceitam Jesus como Salvador nas nossas igrejas, somente cinco permanecem. Isso mesmo! Somente cinco. Não é de causar espanto? Mas aonde foram os outros noventa e cinco? É claro que há exceções. Queira o Senhor que a igreja onde você congrega seja uma dessas. Um dos nossos objetivos aqui é buscar reverter esse quadro.

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 1º Trimestre 2020 - Lição 12. Rio de Janeiro: CPAD, 21, mar. 2021.

RIBANOGUEIRA. O desafio do discipulado. Disponível em: http://ribanogueira.blogspot.com/2016/08/o-desafio-do-discipulado.html. Acesso em: 20 mar. 2021.

SOARES, Esequias. O verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.