sábado, 20 de março de 2021

LIÇÃO 12: A URGÊNCIA DO DISCIPULADO

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

O discipulado acompanha a pregação do Evangelho desde o princípio e é de fundamental importância como base inicial na formação cristã no novo convertido. A forma que a igreja local o desenvolverá somará na formação do caráter cristão para o bem ou para o mal. – A necessidade do discipulado é urgente e desde o princípio é uma atividade imprescindível da igreja. O pastor Esequias Soares, autor dos comentários desta lição, lembra que no início da sua fé recebeu um livreto de discipulado, publicação do Ministério Bernhard Johnson, com a seguinte pergunta na capa: E agora? Realmente, a salvação do pecador é concedida gratuitamente por Deus mediante a fé em Jesus (Rm 10.9, 10; Ef 2.8, 9). Mas, a vida continua e o relacionamento com a família, os colegas de trabalho, na sociedade e na igreja precisa ser revisto. Por falar em igreja, agora é preciso aprender mais de Cristo, se preparar para o batismo e conhecer a doutrina da igreja. O discipulado já é o ponto de partida. O Senhor mandou que a igreja fizesse as duas coisas: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28.19)

 I. O QUE É O DISCIPULADO

O termo “discipulado” vem de “discípulo”, que significa “aprendiz, aluno, seguidor”. Isso vale no âmbito secular e religioso. Qualquer sentido desse termo se aplica ao cristão.

1. O discípulo. O termo se aplica com frequência nos evangelhos aos seguidores de Jesus (Mt 5.1; Jo 2.12). Disso segue o discipulado, ensino para ser seguidor de Cristo, ou seja, é o ensino bíblico básico para o novo convertido desenvolver-se espiritualmente. Trata-se de instruções que abrangem vários aspectos da vida, na área espiritual, emocional e social. O ministério do ensino ocupa espaço relevante no cristianismo, aparece na lista dos dons da graça de Deus: “se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (Rm 12.7).

2. A Grande Comissão (Mt 28.18-20). É o nome que se dá à comissão que o Senhor Jesus designou para a evangelização das nações. O verbo “ensinar” em “ensinai todas as nações” (Mt 28.19a), ou: “façam discípulos de todas as nações” (Nova Almeida Atualizada), é mathēteuō, “fazer discípulo, discipular”. O discipulado não é opção, é mandamento divino para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão. Além do discipulado, Ele também ordenou que esses novos discípulos guardem o que aprenderam: “ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.20). Ou seja, as doutrinas e os pontos doutrinários que Jesus ensinou. O livro de Atos mostra os apóstolos no cumprimento dessa palavra (At 2.42; 4.1,2; 5.21,28). 

3. A educação cristã. A “doutrina dos apóstolos” (At 2.42) está dentro do corpo doutrinário que Jesus ensinou aos seus discípulos durante o seu ministério terreno e que depois o Espírito Santo se encarregou de orientá-los (Jo 14.26). O currículo de qualquer um dos nossos cursos teológicos constam diversas disciplinas sobre Deus e Jesus, o Espírito Santo e a Trindade; sobre os anjos, o homem e o pecado; sobre a expiação e a salvação, sobre a morte e a ressurreição dos mortos; sobre a sua vinda e a igreja. Jesus falou e ensinou sobre tudo isso e muito mais, como a teologia prática, a ética, aquilo que o cristão deve praticar no seu dia a dia. O ensino, nesse contexto, pode se referir também aos cursos de teologia.

A figura do discípulo aparece duas vezes no Antigo Testamento: “Lançaram sortes para designar os deveres, tanto dos jovens como dos velhos, tanto do mestre como do discípulo” (1 Cr 25.8). A organização dos músicos e cantores ocorria em 24 grupos de 12 pessoas estabelecidos pelo rei Davi, estavam também entre eles um certo número de aprendizes no cântico e na música. Na segunda passagem lemos: “Guarde bem o testemunho e sele a lei entre os meus discípulos” (Is 8.16). Os discípulos de Isaías foram designados para preservar “o testemunho” e a “lei”, ou seja, as profecias escritas para evitar a sua destruição. Nenhuma delas revela algum relacionamento no sentido mestre/aprendiz. No judaísmo rabínico, o aluno aprendiz se submete ao rabino e o acompanha por toda parte aprendendo e servindo o seu mestre. O objetivo é o aprendizado da lei de Moisés para entender e colocar em prática. – Os principais mestres nas escolas filosóficas gregas são Sócrates, Platão e Aristóteles. Todos eles tiveram sua maneira de instruir os seus discípulos. Sócrates se tornou famoso porque fazia perguntas que levavam as pessoas à reflexão. Ele partia do princípio: “só sei que nada sei”. Iniciava as discussões afirmando nada saber diante do oponente que julgava saber tudo. Com perguntas hábeis, desmontava a certeza do oponente, levando-o a reconhecer sua ignorância: “Não faz preleções, mas introduz o diálogo como forma da busca da verdade”. Sócrates foi o mestre de Platão, que fundou também sua escola. Os seus discípulos eram cuidadosamente selecionados e eram instruídos em todas as questões vinculadas à filosofia, ensinava o aluno a pensar em lugar de transmitir doutrina. Aristóteles, aprendiz de Platão, diferentemente de seu mestre, ensinava os seus discípulos enquanto caminhava em volta, por isso tornaram-se conhecidos como peripatéticos. Esses filósofos desenvolveram temas das mais diversas áreas do saber humano cada um segundo o seu método. – O Novo Testamento emprega o substantivo grego mathe¯te¯s, “discípulo, aprendiz”. Essa palavra é derivada do verbo manthano¯, “aprender”, e só aparece nos evangelhos e em Atos. O termo “discípulo”, em nossa língua vem do latim, discipulus, do verbo disco, “aprender, estudar”. Não confundir discípulo com aluno, pois o discípulo é um que não somente aceita o ponto de vista de seu Mestre, mas que é seu partidário em crença e prática. O Grande Dicionário Sacconi da língua portuguesa define “discípulo” como aquele “que recebe lições de um mestre ou líder e adota a sua doutrina, procurando seguir os seus passos”. Um discípulo é um seguidor, aprende, e segue as suas instruções. Os evangelhos fazem menção dos discípulos de Moisés (Jo 9.28). João Batista teve discípulos e alguns deles se tornaram seguidores de Jesus (Mc 6.29; Jo 1.35, 36). Os fariseus tinham também os seus discípulos (Mt 22.16; Mc 2.18; Lc 5.33). – O verbo “ensinar” em “façam discípulos de todas as nações” (Mt 28.19a) é mathe¯ teuo¯, “fazer discípulo, discipular”, de onde vem o substantivo mathe¯ te¯ s. Mas, há outro verbo usado com frequência para indicar os seguidores de Jesus, akolouthéo¯, “seguir, ir após, acompanhar”, que dependendo do contexto diz respeito ao discipulado (Mt 9.9; 19.21; Lc 5.11; Jo 1.43). O Senhor Jesus Cristo se distingue de todos os mestres gregos e judeus, dos filósofos e dos rabinos no método e conteúdo. O número no discipulado de Jesus era muito maior e envolvia mulheres. Jesus não esperava por seguidores voluntários, mas com autoridade divina, Ele os chamava (Mt 8.22; Mc 1.16-18). Os discípulos de Jesus são chamados para o serviço do reino de Deus (Mt 4.18-20) e para realizar atos poderosos (Mt 10.8; Mc 3.13-15; Lc 10.19). Eles renunciam a si mesmos e sem precondição opressiva (Mt 9.9; Mc 8.34). – Os doze apóstolos foram escolhidos por Jesus dentre os demais discípulos (Lc 6.13) como representação simbólica das doze tribos de Israel (Mt 19.28). A lista dos doze aparece nos evangelhos sinóticos e em Atos (Mt 10.1-4; Mc 3.16-19; Lc 6.12-16; At 1.13, 26). Mas, o número dos discípulos de Jesus era grande, de uma só vez Ele enviou setenta discípulos para a obra da evangelização em cada cidade e nas aldeias (Lc 10.1). O apóstolo Paulo fala de “mais de quinhentos irmãos”, que de uma só vez, viram o Senhor Jesus ressuscitado (1 Co 15.6). O efetivo desse discipulado era composto por homens e mulheres de todas as camadas da sociedade, ricos e pobres, autoridades e cidadãos comuns, intelectuais e leigos (Lc 8.1-3; 9.1; Jo 3.1-3; 12.42; 19.38,39). Um dos doze era zelote [os zelotes eram patriotas radicais da Judeia que atribuíam as mazelas do seu país à presença romana em Israel. Eram sempre violentos e dispostos à guerra] “Simão, chamado Zelote” (Lc 6.15; At 1.13). Hoje, os discípulos de Jesus são todos os seus seguidores em todos os lugares. – O discipulado acompanha a pregação do evangelho desde o princípio e é de fundamental importância como base inicial na formação cristã no novo convertido. A liderança da igreja, principalmente na área de evangelismo e discipulado, jamais deve se descuidar dessa nobre tarefa. O ministério de Jesus se baseava na trilogia: pregar, ensinar e curar: “Jesus percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do Reino e curando todo tipo de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23). Já falamos sobre a cura divina, no capítulo 10, e sobre a evangelização no capítulo anterior. Neste capítulo, estamos falando do discipulado na igreja que é o ensino para ser seguidor de Cristo, ou seja, é o ensino bíblico básico para o novo convertido para o seu desenvolvimento espiritual.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

O saudoso e grande educador cristão, Howard Hendricks, escreveu uma obra clássica em Educação Cristã, Discipulado: o Caminho para firmar o caráter cristão. Como o título da obra diz, o discipulado tem a ver com o desenvolvimento do caráter exemplar do cristão para servir ao próximo e influenciá-lo na convivência. É um mergulho na vida interior que força o discípulo a confrontar consigo mesmo os ideais elevados do Evangelho de Jesus Cristo. E o melhor lugar para se refletir sobre isso na igreja local é a Escola Dominical.

Ao introduzir a aula de hoje, lance algumas perguntas para a classe: 1) Em que medida o meu caráter se parece com o de Cristo? 2) Os valores que o Senhor Jesus nos estimula viver é impossível de realizar? (Mt 5.18); 3) Estamos muito ou pouco parecidos com Jesus?

De acordo com as respostas, aproveite esse momento para motivar os alunos a refletirem com seriedade sobre a importância de um verdadeiro discipulado na igreja local.

  II. O TRIPÉ DO DISCIPULADO: PALAVRA, COMUNHÃO E SERVIÇO

Essa trilogia, palavra, comunhão e serviço, era a marca da igreja de Jerusalém logo após o Pentecostes. Isso influenciou a maioria das igrejas de todos os lugares e em todas as épocas e continua valendo atualmente.

1.  A Palavra. A autoridade das Escrituras é singular e única, pois a sua fonte é o próprio Deus; elas foram faladas primeiramente pelos profetas do Antigo Testamento e depois pelos apóstolos do Novo Testamento (2 Pe 3.2). Os primeiros discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42a). Isso quer dizer que eles continuavam no aprendizado sob comando dos apóstolos. Esse ensino se baseava tanto nas Escrituras quanto na própria experiência dos apóstolos, os quais receberam a revelação diretamente de Jesus durante o seu ministério terreno e, depois de Pentecostes, do Espírito Santo (At 1.2-4; 1 Co 2.12,13). Na atualidade, não temos os apóstolos em pessoa conosco, no entanto, eles ainda nos ensinam pela Palavra de Deus, a Bíblia.

2. A Comunhão (At 2.42). Ter tudo em comum e partilhar da mesma crença é comunhão. A palavra grega koinonia, “comunhão”, significa compartilhar ou participar mutuamente de algum evento comum ou acordo. No Antigo Testamento, a ideia de comunhão diz respeito ao relacionamento da pessoa com o seu próximo (Sl 133.1) e nunca do ser humano com Deus. Embora Abraão tenha sido chamado “amigo de Deus” (Is 41.8; Tg 2.23) e Moisés tenha falado com Deus face a face (Dt 34.10), eles não provaram a mesma comunhão com Deus como os crentes da nova aliança (Jo 15.14). A comunhão no Cristianismo envolve tanto o relacionamento entre os irmãos como também com o Pai, com o Filho (1 Jo 1.3) e com o Espírito Santo (2 Co 13.13).

3. A comunhão na igreja de Jerusalém (2.44). A igreja de Jerusalém, logo nos seus primeiros dias, deu ao mundo uma lição de koinonia. O que o texto sagrado diz é que não se trata apenas de compartilhar algo, mas também de unidade (At 4.32). “Coração” diz respeito ao centro da vida, a mesma inclinação. “Alma” é a sede das emoções, fala dos mesmos afetos e sentimentos (Fp 2.3; 1 Jo 3.16-18). Todos os crentes tinham o mesmo propósito, a mesma esperança, servindo ao mesmo Senhor.

4. O Serviço. Trata-se de um termo de significado amplo nas Escrituras Sagradas. O termo, visto isoladamente, quer dizer um trabalho realizado para alguém ou algo seguindo as suas instruções. O termo no Antigo Testamento se relaciona, na maioria das vezes, aos sacerdotes no santuário e também a qualquer pessoa temente a Deus (Js 24.15). Na primitiva igreja de Jerusalém, o serviço cristão está representado sumariamente na perseverança no ensino dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42-47). É isso que Deus espera de cada um de nós no cumprimento da Grande Comissão.

A Grande Comissão na qual estamos incumbidos conforme ordem do Senhor Jesus é a tarefa de pregar e fazer discípulo. A Palavra, a comunhão e o serviço são a base para o discipulado, a oração é tanto coletiva como também individual faz parte do desenvolvimento e crescimento espiritual. – A “Palavra” é uma referência às Escrituras. Sabemos que a Bíblia chama a si mesma por diversos nomes como: Escritura de Deus: “também a escritura era a mesma escritura de Deus” (Êx 32.16 ARC); Livro da Verdade: “eu direi a você o que está expresso no Livro da Verdade” (Dn 10.21), ou Escritura da Verdade, “eu te declararei o que está escrito na escritura da verdade” (ARC); Palavras de Vida: “o qual recebeu as palavras de vida” (At 7.38 ARC); Sagradas Letras: “desde a infância, você conhece as sagradas letras” (2 Tm 3.15); Palavra de Deus: “Porque a palavra de Deus é viva e eficaz” (Hb 4.12). A expressão “Palavra de Deus”, para se referir a Bíblia, é mais frequente (Mc 7.13; Ef 6.17). Às vezes, nos referimos às Escrituras simplesmente como “a Palavra”. – O próprio Deus é a fonte de autoridade das Escrituras. A autoridade divina da Bíblia deriva de sua origem em Deus. A chancela de autoridade espiritual é vista de maneira cristalina nas Escrituras como: “assim diz o SENHOR Deus de Israel” (Êx 5.1); “Assim diz o SENHOR Deus” (Is 7.7); “a palavra do SENHOR veio a ele” (Jr 1.2); “Como está escrito na profecia” (Mc 1.2). O Senhor Jesus Cristo chama as Escrituras Sagradas de “a Palavra de Deus” (Mc 7.13). Todas essas expressões revelam a fonte dessa autoridade (1 Pe 1.23-25). – Nenhum livro na história da humanidade influenciou tanto as nações como a Bíblia. Isso nos vários aspectos da vida humana, nos relacionamentos, no lar, no trabalho, na sociedade e na igreja, na forma de governo de praticamente todos os países do planeta. É o livro mais traduzido no mundo, está disponível em 3.988 línguas, segundo relatório de janeiro de 2019 das Sociedades Bíblicas Unidas, com sede em Londres, que congrega 148 sociedades bíblicas do mundo. A Bíblia completa está disponível em 692 idiomas, falados por 5,6 bilhões de pessoas. O Novo Testamento está traduzido em 1.547 línguas, faladas por 805 milhões de pessoas, além das porções ou seleções bíblicas traduzidas em 1.123 línguas, faladas por 411 milhões de pessoas (Sl 19.4-6). Não é de estranhar o nosso grande amor, respeito e dedicação pela Bíblia. – Com os recursos da mídia virtual, o alcance da Palavra ultrapassa a faixa de 6,5 bilhões de pessoas: “Ele envia as suas ordens à terra, e a sua palavra corre velozmente” (Sl 147.15). E, dessa forma, o evangelho pode alcançar o mundo inteiro (Mt 24.14; Lc 24.47). A primeira coisa que uma igreja deve fazer quando alguém vem a Jesus é dar-lhe uma Bíblia de presente. É importante o novo convertido ser inteirado do valor da Bíblia e da necessidade de sua leitura diária. Isso faz parte do discipulado. – Concernente à comunhão, isso é de vital importância. Quando alguém recebe a Jesus Cristo em um de nossos cultos, essa pessoa não é mais chamada de senhor José ou dona Maria, agora é “irmão” ou “irmã”, é assim que nós os costumamos tratar. Isso acontece porque essa pessoa agora pertence a família de Deus (Ef 2.19), somos irmãos. É aí que começa o nosso laço de amizade com essas pessoas, isso é comunhão. Lucas descreve numa linguagem pitoresca esse padrão de vida entre os primeiros cristãos que devemos imitar (At 2.42-47). – A palavra grega para “comunhão” é koinonia, “compartilhamento, comunhão, participação, solidariedade”. Era um termo favorito do apóstolo Paulo que entre nós é o “vínculo com um propósito e devoção comum que une os cristãos entre si e os une a Cristo”. A comunhão no cristianismo envolve tanto o relacionamento entre os irmãos como também com o Pai, com o Filho (1 Jo 1.3) e com o Espírito Santo (2 Co 13.13). – Temos nessa passagem lucana de Atos uma demonstração de comunhão e serviço. Comunhão, portanto, significa compartilhar ou participar mutuamente de algum evento comum ou acordo: “Da multidão dos que creram era um o coração e a alma” (At 4.32). “Coração” diz respeito ao centro da vida, à mesma inclinação. “Alma” é a sede das emoções, fala dos mesmos afetos e sentimentos (Fp 2.3; Jo 3.16-18). Todos os crentes tinham o mesmo propósito, a mesma esperança, servindo o mesmo Senhor. É isso que Deus espera de cada um de nós no cumprimento da Grande Comissão.

SUBSÍDIO DE TEOLOGIA PRÁTICA

“O Discipulado Contribui para Compreender a dimensão Sociocomunitária e a Formação de uma Nova Identidade. Além de muitas figuras e metáforas encontradas nas Escrituras sobre a Igreja, ela também é apresentada como uma família. A entrada ou a chegada de um novo discípulo na congregação resulta, dentre tantos outros benefícios espirituais, no desenvolvimento da autoestima e da autoaceitação. Outro enorme benefício é o processo terapêutico desenvolvido pela ação efetiva de tornar-se parte de algo que possui reconhecido valor moral, psicossocial e espiritual. Por causa desse extraordinário benefício provocado pelo ato de aceitação da igreja, ao receber pessoas das mais variadas classes sociais, a igreja é interpretada por muitos como a última fronteira de espaço para uma identidade genuína e pessoal. Um novo discípulo, ao estar integrado em uma congregação, poderá dizer: ‘Estou feliz com a minha nova família’. A Bíblia diz: ‘Deus faz com que o solitário viva em família’ (Sl 68.6)” (SILVA, Rayfran Batista da. O Discipulado Eficaz e o Crescimento da Igreja. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.35).

 III. O DISCIPULADO E O CRESCIMENTO SADIO DA IGREJA

A igreja precisa do processo do discipulado para cumprir o propósito da Grande Comissão. Não se trata de opção, é ordem de Jesus para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão.

1. O crescimento espiritual. O processo do discipulado tem por objetivo instruir o novo convertido sobre os vários aspectos da vida cristã. Todas as pessoas que vêm a Cristo precisam ser discipuladas, isso porque elas se tornaram novas criaturas (2 Co 5.17) e passam a viver uma nova experiência (Rm 6.4). Elas precisam ser ensinadas para o seu crescimento espiritual e amadurecimento na fé: “crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). Esse é o crescimento espiritual e sadio.

2. O crescimento numérico.  O processo do discipulado proporciona à igreja, além do crescimento espiritual, o crescimento numérico (At 9.31). Note que o propósito da terceira a viagem do apóstolo Paulo não foi para plantar igrejas locais, mas para discipular e ensinar a igreja de Éfeso, formar e treinar obreiros para a seara do Senhor. Ele ficou ali durante três anos (At 18.22,23; 19.1; 20.31).

3. O exemplo da igreja de Antioquia da Síria. O público da igreja de Antioquia era gentio, identificado como “gregos” (At 11.20,21). Os apóstolos de Jerusalém enviaram Barnabé para discipulá-los (At 11.22). Ao se deparar com um grupo de gregos convertidos, ele concluiu que ninguém seria melhor do que Saulo para ensinar esses novos crentes de costumes estranhos. Barnabé não hesitou em buscá-lo em Tarso para essa nobre tarefa (At 11.25). Eles discipularam a igreja durante um ano inteiro. Assim, desde muito cedo na história do Cristianismo, a igreja se preocupa com o discipulado, pois fazer discípulo não é a mesma coisa que fazer membro de igrejas.  

A vontade de Deus é que todos os seus filhos e as suas filhas “cresçam na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). A igreja precisa do processo do discipulado para cumprir o propósito da Grande Comissão. Esse processo tem por objetivo instruir o novo convertido sobre os vários aspectos da vida cristã. Não se trata de opção, é ordem de Jesus para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão. Esse crescimento deve ser quantitativo e qualitativo, ou seja, em número e qualidade espiritual. O discipulado prepara o novo convertido para o aprendizado teológico mais aprofundado, isso acontece na escola bíblica dominical, pois os cursos teológicos são excelentes, mas tem duração e limitações curriculares. A vantagem da EBD é que ela não termina nunca, não tem prazos para matrículas, recebe alunos de qualquer idade e de qualquer credo religioso. Ela permite um crescimento salutar, progressivo e atualizado. – Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos em março de 2020 pelos Institutos Ligonier Ministries and LifeWay Research, em que apresentavam algumas afirmações teológicas tanto para o público geral como também para o público evangélico para que concordassem ou discordassem delas. Selecionamos duas dessas declarações. A primeira, “Jesus era um grande Mestre, mas não era Deus”, dos americanos evangélicos, 30% concordaram, 66% discordaram e 4% não tinham certeza. A segunda, “Jesus é o primeiro e o maior ser criado por Deus”. Os que discordaram foram 29% e 6% não tinham certeza. – Em dezembro de 2016, a Folha de São Paulo publicou uma pesquisa abrangendo vários aspectos político e social na sociedade brasileira. Com a declaração “Todas as religiões têm o mesmo valor porque todas levam ao mesmo Deus”, por incrível que pareça, 50% dos pentecostais responderam que concordam com ela. A pesquisa separou pentecostais e não pentecostais, mas não separou pentecostais dos neopentecostais. Mesmo assim, é um número assustador. As seitas se aproveitam dessa ignorância para causar divisão nas igrejas e destruir lares. O problema está na falta do discipulado e de incentivo pelo estudo da Palavra de Deus. Estamos vivendo numa geração de analfabetismo bíblico sem precedentes. São muitos os que procuram igrejas como encontro social, para passar tempo, mas que ainda não têm a mínima noção do significado de ser cristão. Trata-se de um número considerável que sequer conhece a verdadeira identidade de Jesus e nem a sua singularidade. É lamentável! Jesus disse: “quando o Filho do Homem vier, será que ainda encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18.8). – Que é um discípulo? O discípulo é um aprendiz, seguidor, adepto dos ensinos de uma escola ou de uma pessoa em particular. Chamamos de discipulado na fé o aprendizado de um discípulo por meio de seu mestre, na igreja, para ajudar a desenvolver o seu crescimento espiritual. O termo “discipulado” vem de “discípulo”, que significa “aprendiz, aluno, seguidor”. Quem não sabe quem é Jesus, pode ser seu discípulo?

SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ

“O discipulado eficaz estabelece a relação adequada entre a obra da treliça e a obra da videira: As igrejas tendem em direção à institucionalização, pela qual o foco muda da videira [orgânico] para a treliça [estrutura]. Em vez de fomentar o crescimento moral-espiritual dos discípulos, focaliza-se na manutenção de programas e estruturas eclesiásticas. A história é uma fiel testemunha do que ocorreu na igreja cristã a partir do quarto século d.C. Por mais de 1200 anos, a maioria absoluta da igreja viveu distanciada do verdadeiro Evangelho, até que veio a Pré-Reforma, seguida da Reforma Protestante, como proposta de voltar a posicionar a igreja nos trilhos do Evangelho de Jesus Cristo. Em parte, essa realidade também ocorre com muita frequência na história de cada igreja local. Por falta de investimento na vida espiritual das pessoas (obra da videira), enfatiza-se a manutenção de estruturas físicas e programas eclesiásticos (obra da treliça), causando, assim, enormes prejuízos ao corpo de Cristo e, além disso, impedindo-o de cumprir na terra a verdadeira missão. Novas treliças (estruturas) devem ser criadas assim como antigas treliças devem ser ampliadas e restauradas, mas tão somente para servir a sustentação à videira, que deve continuar merecendo a principal atenção e continuar crescendo” (SILVA, Rayfran Batista da. O Discipulado Eficaz e o Crescimento da Igreja. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.39).

   CONCLUSÃO

Deus tem interesse no bem-estar social e espiritual do ser humano. Isso vale para igreja e para a sociedade. A educação com base nos princípios cristãos é importante porque, além dos valores espirituais, contribui na construção de uma sociedade civilizada. A base dos valores morais e espirituais é a Bíblia. “O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida qie tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros" (PHILLIPS, 2010, p. 20). O saudoso pastor Valdir Nunes Bícego, grande estrategista em evangelismo chegou a afirmar que "A porta de saída da igreja é mais larga que a porta de entrada”. Os números e gráficos que ele mesmo elaborou são provas dessa lastimável realidade. Um deles revela que de cada cem pessoas que aceitam Jesus como Salvador nas nossas igrejas, somente cinco permanecem. Isso mesmo! Somente cinco. Não é de causar espanto? Mas aonde foram os outros noventa e cinco? É claro que há exceções. Queira o Senhor que a igreja onde você congrega seja uma dessas. Um dos nossos objetivos aqui é buscar reverter esse quadro.

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 1º Trimestre 2020 - Lição 12. Rio de Janeiro: CPAD, 21, mar. 2021.

RIBANOGUEIRA. O desafio do discipulado. Disponível em: http://ribanogueira.blogspot.com/2016/08/o-desafio-do-discipulado.html. Acesso em: 20 mar. 2021.

SOARES, Esequias. O verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.

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