COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O discipulado
acompanha a pregação do Evangelho desde o princípio e é de fundamental
importância como base inicial na formação cristã no novo convertido. A forma
que a igreja local o desenvolverá somará na formação do caráter cristão para o
bem ou para o mal. – A necessidade do
discipulado é urgente e desde o princípio é uma atividade imprescindível da
igreja. O pastor Esequias Soares, autor dos comentários desta lição, lembra que
no início da sua fé recebeu um livreto de discipulado, publicação do Ministério
Bernhard Johnson, com a seguinte pergunta na capa: E agora? Realmente, a salvação
do pecador é concedida gratuitamente por Deus mediante a fé em Jesus (Rm 10.9,
10; Ef 2.8, 9). Mas, a vida continua e o relacionamento com a família, os colegas
de trabalho, na sociedade e na igreja precisa ser revisto. Por falar em igreja,
agora é preciso aprender mais de Cristo, se preparar para o batismo e conhecer
a doutrina da igreja. O discipulado já é o ponto de partida. O Senhor mandou
que a igreja fizesse as duas coisas: “Portanto, vão e façam discípulos de todas
as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt
28.19)
I. O QUE É O DISCIPULADO
O termo “discipulado” vem de
“discípulo”, que significa “aprendiz, aluno, seguidor”. Isso vale no âmbito
secular e religioso. Qualquer sentido desse termo se aplica ao cristão.
1. O discípulo. O termo se aplica com frequência nos evangelhos aos seguidores de Jesus
(Mt 5.1; Jo 2.12). Disso segue o discipulado, ensino para ser seguidor de
Cristo, ou seja, é o ensino bíblico básico para o novo convertido
desenvolver-se espiritualmente. Trata-se de instruções que abrangem vários
aspectos da vida, na área espiritual, emocional e social. O ministério do
ensino ocupa espaço relevante no cristianismo, aparece na lista dos dons da
graça de Deus: “se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (Rm 12.7).
2. A Grande Comissão (Mt
28.18-20). É o nome que se dá à comissão
que o Senhor Jesus designou para a evangelização das nações. O verbo “ensinar”
em “ensinai todas as nações” (Mt 28.19a), ou: “façam discípulos de todas as
nações” (Nova Almeida Atualizada), é mathēteuō, “fazer discípulo, discipular”. O
discipulado não é opção, é mandamento divino para a edificação e crescimento
espiritual de cada cristão. Além do discipulado, Ele também ordenou que esses
novos discípulos guardem o que aprenderam: “ensinando-as a guardar todas as
coisas que eu vos tenho mandado” (Mt 28.20). Ou seja, as doutrinas e os pontos
doutrinários que Jesus ensinou. O livro de Atos mostra os apóstolos no
cumprimento dessa palavra (At 2.42; 4.1,2; 5.21,28).
3. A educação cristã. A “doutrina dos apóstolos” (At 2.42) está dentro do corpo doutrinário
que Jesus ensinou aos seus discípulos durante o seu ministério terreno e que
depois o Espírito Santo se encarregou de orientá-los (Jo 14.26). O currículo de
qualquer um dos nossos cursos teológicos constam diversas disciplinas sobre
Deus e Jesus, o Espírito Santo e a Trindade; sobre os anjos, o homem e o
pecado; sobre a expiação e a salvação, sobre a morte e a ressurreição dos
mortos; sobre a sua vinda e a igreja. Jesus falou e ensinou sobre tudo isso e
muito mais, como a teologia prática, a ética, aquilo que o cristão deve
praticar no seu dia a dia. O ensino, nesse contexto, pode se referir também aos
cursos de teologia.
A figura do discípulo aparece duas vezes no Antigo
Testamento: “Lançaram sortes para designar os deveres, tanto dos jovens como dos
velhos, tanto do mestre como do discípulo” (1 Cr 25.8). A organização dos músicos
e cantores ocorria em 24 grupos de 12 pessoas estabelecidos pelo rei Davi,
estavam também entre eles um certo número de aprendizes no cântico e na música.
Na segunda passagem lemos: “Guarde bem o testemunho e sele a lei entre os meus
discípulos” (Is 8.16). Os discípulos de Isaías foram designados para preservar “o
testemunho” e a “lei”, ou seja, as profecias escritas para evitar a sua destruição.
Nenhuma delas revela algum relacionamento no sentido mestre/aprendiz. No judaísmo
rabínico, o aluno aprendiz se submete ao rabino e o acompanha por toda parte
aprendendo e servindo o seu mestre. O objetivo é o aprendizado da lei de Moisés
para entender e colocar em prática. – Os principais mestres nas escolas filosóficas
gregas são Sócrates, Platão e Aristóteles. Todos eles tiveram sua maneira de instruir
os seus discípulos. Sócrates se tornou famoso porque fazia perguntas que
levavam as pessoas à reflexão. Ele partia do princípio: “só sei que nada sei”.
Iniciava as discussões afirmando nada saber diante do oponente que julgava
saber tudo. Com perguntas hábeis, desmontava a certeza do oponente, levando-o a
reconhecer sua ignorância: “Não faz preleções, mas introduz o diálogo como
forma da busca da verdade”. Sócrates foi o mestre de Platão, que fundou também
sua escola. Os seus discípulos eram cuidadosamente selecionados e eram instruídos
em todas as questões vinculadas à filosofia, ensinava o aluno a pensar em lugar
de transmitir doutrina. Aristóteles, aprendiz de Platão, diferentemente de seu
mestre, ensinava os seus discípulos enquanto caminhava em volta, por isso
tornaram-se conhecidos como peripatéticos. Esses filósofos desenvolveram temas
das mais diversas áreas do saber humano cada um segundo o seu método. – O Novo
Testamento emprega o substantivo grego mathe¯te¯s, “discípulo,
aprendiz”. Essa palavra é derivada do verbo manthano¯, “aprender”, e
só aparece nos evangelhos e em Atos. O termo “discípulo”, em nossa língua vem
do latim, discipulus, do verbo disco, “aprender, estudar”.
Não confundir discípulo com aluno, pois o discípulo é um que não somente aceita
o ponto de vista de seu Mestre, mas que é seu partidário em crença e prática. O
Grande Dicionário Sacconi da língua portuguesa define “discípulo”
como aquele “que recebe lições de um mestre ou líder e adota a sua doutrina,
procurando seguir os seus passos”. Um discípulo é um seguidor, aprende, e segue
as suas instruções. Os evangelhos fazem menção dos discípulos de Moisés (Jo
9.28). João Batista teve discípulos e alguns deles se tornaram seguidores de
Jesus (Mc 6.29; Jo 1.35, 36). Os fariseus tinham também os seus discípulos (Mt
22.16; Mc 2.18; Lc 5.33). – O verbo “ensinar” em “façam discípulos de todas as
nações” (Mt 28.19a) é mathe¯ teuo¯, “fazer discípulo, discipular”, de
onde vem o substantivo mathe¯ te¯ s. Mas, há outro
verbo usado com frequência para indicar os seguidores de Jesus, akolouthéo¯, “seguir, ir
após, acompanhar”, que dependendo do contexto diz respeito ao discipulado (Mt
9.9; 19.21; Lc 5.11; Jo 1.43). O Senhor Jesus Cristo se distingue de todos os
mestres gregos e judeus, dos filósofos e dos rabinos no método e conteúdo. O número
no discipulado de Jesus era muito maior e envolvia mulheres. Jesus não esperava
por seguidores voluntários, mas com autoridade divina, Ele os chamava (Mt 8.22;
Mc 1.16-18). Os discípulos de Jesus são chamados para o serviço do reino de
Deus (Mt 4.18-20) e para realizar atos poderosos (Mt 10.8; Mc 3.13-15; Lc 10.19).
Eles renunciam a si mesmos e sem precondição opressiva (Mt 9.9; Mc 8.34). – Os
doze apóstolos foram escolhidos por Jesus dentre os demais discípulos (Lc 6.13)
como representação simbólica das doze tribos de Israel (Mt 19.28). A lista dos
doze aparece nos evangelhos sinóticos e em Atos (Mt 10.1-4; Mc 3.16-19; Lc
6.12-16; At 1.13, 26). Mas, o número dos discípulos de Jesus era grande, de uma
só vez Ele enviou setenta discípulos para a obra da evangelização em cada cidade
e nas aldeias (Lc 10.1). O apóstolo Paulo fala de “mais de quinhentos irmãos”,
que de uma só vez, viram o Senhor Jesus ressuscitado (1 Co 15.6). O efetivo
desse discipulado era composto por homens e mulheres de todas as camadas da
sociedade, ricos e pobres, autoridades e cidadãos comuns, intelectuais e leigos
(Lc 8.1-3; 9.1; Jo 3.1-3; 12.42; 19.38,39). Um dos doze era zelote [os zelotes
eram patriotas radicais da Judeia que atribuíam as mazelas do seu país à
presença romana em Israel. Eram sempre violentos e dispostos à guerra] “Simão, chamado
Zelote” (Lc 6.15; At 1.13). Hoje, os discípulos de Jesus são todos os seus
seguidores em todos os lugares. – O discipulado acompanha a pregação do
evangelho desde o princípio e é de fundamental importância como base inicial na
formação cristã no novo convertido. A liderança da igreja, principalmente na área
de evangelismo e discipulado, jamais deve se descuidar dessa nobre tarefa. O
ministério de Jesus se baseava na trilogia: pregar, ensinar e curar: “Jesus
percorria toda a Galileia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do
Reino e curando todo tipo de doenças e enfermidades entre o povo” (Mt 4.23). Já
falamos sobre a cura divina, no capítulo 10, e sobre a evangelização no capítulo
anterior. Neste capítulo, estamos falando do discipulado na igreja que é o
ensino para ser seguidor de Cristo, ou seja, é o ensino bíblico básico para o
novo convertido para o seu desenvolvimento espiritual.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
O saudoso e grande educador
cristão, Howard Hendricks, escreveu uma obra clássica em Educação Cristã,
Discipulado: o Caminho para firmar o caráter cristão. Como o título da obra
diz, o discipulado tem a ver com o desenvolvimento do caráter exemplar do
cristão para servir ao próximo e influenciá-lo na convivência. É um mergulho na
vida interior que força o discípulo a confrontar consigo mesmo os ideais elevados
do Evangelho de Jesus Cristo. E o melhor lugar para se refletir sobre isso na
igreja local é a Escola Dominical.
Ao introduzir a aula de hoje,
lance algumas perguntas para a classe: 1) Em que medida o meu caráter se parece
com o de Cristo? 2) Os valores que o Senhor Jesus nos estimula viver é
impossível de realizar? (Mt 5.18); 3) Estamos muito ou pouco parecidos com
Jesus?
De acordo com as respostas,
aproveite esse momento para motivar os alunos a refletirem com seriedade sobre
a importância de um verdadeiro discipulado na igreja local.
II. O TRIPÉ DO DISCIPULADO: PALAVRA, COMUNHÃO
E SERVIÇO
Essa trilogia, palavra, comunhão
e serviço, era a marca da igreja de Jerusalém logo após o Pentecostes. Isso
influenciou a maioria das igrejas de todos os lugares e em todas as épocas e
continua valendo atualmente.
1. A Palavra. A autoridade das Escrituras é singular e única, pois a sua fonte é o
próprio Deus; elas foram faladas primeiramente pelos profetas do Antigo
Testamento e depois pelos apóstolos do Novo Testamento (2 Pe 3.2). Os primeiros
discípulos “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42a). Isso quer dizer
que eles continuavam no aprendizado sob comando dos apóstolos. Esse ensino se
baseava tanto nas Escrituras quanto na própria experiência dos apóstolos, os
quais receberam a revelação diretamente de Jesus durante o seu ministério
terreno e, depois de Pentecostes, do Espírito Santo (At 1.2-4; 1 Co 2.12,13).
Na atualidade, não temos os apóstolos em pessoa conosco, no entanto, eles ainda
nos ensinam pela Palavra de Deus, a Bíblia.
2. A Comunhão (At 2.42). Ter tudo em comum e partilhar da mesma crença é comunhão. A palavra
grega koinonia, “comunhão”, significa compartilhar ou participar mutuamente de
algum evento comum ou acordo. No Antigo Testamento, a ideia de comunhão diz
respeito ao relacionamento da pessoa com o seu próximo (Sl 133.1) e nunca do
ser humano com Deus. Embora Abraão tenha sido chamado “amigo de Deus” (Is 41.8;
Tg 2.23) e Moisés tenha falado com Deus face a face (Dt 34.10), eles não provaram
a mesma comunhão com Deus como os crentes da nova aliança (Jo 15.14). A
comunhão no Cristianismo envolve tanto o relacionamento entre os irmãos como
também com o Pai, com o Filho (1 Jo 1.3) e com o Espírito Santo (2 Co 13.13).
3. A comunhão na igreja de
Jerusalém (2.44). A igreja de Jerusalém, logo nos
seus primeiros dias, deu ao mundo uma lição de koinonia. O que o texto sagrado
diz é que não se trata apenas de compartilhar algo, mas também de unidade (At
4.32). “Coração” diz respeito ao centro da vida, a mesma inclinação. “Alma” é a
sede das emoções, fala dos mesmos afetos e sentimentos (Fp 2.3; 1 Jo 3.16-18).
Todos os crentes tinham o mesmo propósito, a mesma esperança, servindo ao mesmo
Senhor.
4. O Serviço. Trata-se de um termo de significado amplo nas Escrituras Sagradas. O
termo, visto isoladamente, quer dizer um trabalho realizado para alguém ou algo
seguindo as suas instruções. O termo no Antigo Testamento se relaciona, na
maioria das vezes, aos sacerdotes no santuário e também a qualquer pessoa
temente a Deus (Js 24.15). Na primitiva igreja de Jerusalém, o serviço cristão
está representado sumariamente na perseverança no ensino dos apóstolos, na
comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42-47). É isso que Deus espera
de cada um de nós no cumprimento da Grande Comissão.
A Grande Comissão na qual estamos incumbidos conforme ordem
do Senhor Jesus é a tarefa de pregar e fazer discípulo. A Palavra, a comunhão e
o serviço são a base para o discipulado, a oração é tanto coletiva como também
individual faz parte do desenvolvimento e crescimento espiritual. – A “Palavra”
é uma referência às Escrituras. Sabemos que a Bíblia chama a si mesma por
diversos nomes como: Escritura de Deus: “também a escritura era a mesma
escritura de Deus” (Êx 32.16 ARC); Livro da Verdade: “eu direi a você o que está
expresso no Livro da Verdade” (Dn 10.21), ou Escritura da Verdade, “eu te declararei
o que está escrito na escritura da verdade” (ARC); Palavras de Vida: “o qual
recebeu as palavras de vida” (At 7.38 ARC); Sagradas Letras: “desde a infância,
você conhece as sagradas letras” (2 Tm 3.15); Palavra de Deus: “Porque a
palavra de Deus é viva e eficaz” (Hb 4.12). A expressão “Palavra de Deus”, para
se referir a Bíblia, é mais frequente (Mc 7.13; Ef 6.17). Às vezes, nos
referimos às Escrituras simplesmente como “a Palavra”. – O próprio Deus é a
fonte de autoridade das Escrituras. A autoridade divina da Bíblia deriva de sua
origem em Deus. A chancela de autoridade espiritual é vista de maneira
cristalina nas Escrituras como: “assim diz o SENHOR Deus de Israel” (Êx 5.1); “Assim
diz o SENHOR Deus” (Is 7.7); “a palavra do SENHOR veio a ele” (Jr 1.2); “Como
está escrito na profecia” (Mc 1.2). O Senhor Jesus Cristo chama as Escrituras
Sagradas de “a Palavra de Deus” (Mc 7.13). Todas essas expressões revelam a
fonte dessa autoridade (1 Pe 1.23-25). – Nenhum livro na história da humanidade
influenciou tanto as nações como a Bíblia. Isso nos vários aspectos da vida
humana, nos relacionamentos, no lar, no trabalho, na sociedade e na igreja, na
forma de governo de praticamente todos os países do planeta. É o livro mais
traduzido no mundo, está disponível em 3.988 línguas, segundo relatório de
janeiro de 2019 das Sociedades Bíblicas Unidas, com sede em Londres, que
congrega 148 sociedades bíblicas do mundo. A Bíblia completa está disponível em
692 idiomas, falados por 5,6 bilhões de pessoas. O Novo Testamento está
traduzido em 1.547 línguas, faladas por 805 milhões de pessoas, além das porções
ou seleções bíblicas traduzidas em 1.123 línguas, faladas por 411 milhões de
pessoas (Sl 19.4-6). Não é de estranhar o nosso grande amor, respeito e dedicação
pela Bíblia. – Com os recursos da mídia virtual, o alcance da Palavra ultrapassa
a faixa de 6,5 bilhões de pessoas: “Ele envia as suas ordens à terra, e a sua
palavra corre velozmente” (Sl 147.15). E, dessa forma, o evangelho pode alcançar
o mundo inteiro (Mt 24.14; Lc 24.47). A primeira coisa que uma igreja deve
fazer quando alguém vem a Jesus é dar-lhe uma Bíblia de presente. É importante o
novo convertido ser inteirado do valor da Bíblia e da necessidade de sua
leitura diária. Isso faz parte do discipulado. – Concernente à comunhão, isso é
de vital importância. Quando alguém recebe a Jesus Cristo em um de nossos
cultos, essa pessoa não é mais chamada de senhor José ou dona Maria, agora é “irmão”
ou “irmã”, é assim que nós os costumamos tratar. Isso acontece porque essa
pessoa agora pertence a família de Deus (Ef 2.19), somos irmãos. É aí que começa
o nosso laço de amizade com essas pessoas, isso é comunhão. Lucas descreve numa
linguagem pitoresca esse padrão de vida entre os primeiros cristãos que devemos
imitar (At 2.42-47). – A palavra grega para “comunhão” é koinonia, “compartilhamento,
comunhão, participação, solidariedade”. Era um termo favorito do apóstolo Paulo
que entre nós é o “vínculo com um propósito e devoção comum que une os cristãos
entre si e os une a Cristo”. A comunhão no cristianismo envolve tanto o relacionamento
entre os irmãos como também com o Pai, com o Filho (1 Jo 1.3) e com o Espírito
Santo (2 Co 13.13). – Temos nessa passagem lucana de Atos uma demonstração de comunhão
e serviço. Comunhão, portanto, significa compartilhar ou participar mutuamente
de algum evento comum ou acordo: “Da multidão dos que creram era um o coração e
a alma” (At 4.32). “Coração” diz respeito ao centro da vida, à mesma inclinação.
“Alma” é a sede das emoções, fala dos mesmos afetos e sentimentos (Fp 2.3; Jo
3.16-18). Todos os crentes tinham o mesmo propósito, a mesma esperança,
servindo o mesmo Senhor. É isso que Deus espera de cada um de nós no
cumprimento da Grande Comissão.
SUBSÍDIO DE TEOLOGIA PRÁTICA
“O Discipulado Contribui para
Compreender a dimensão Sociocomunitária e a Formação de uma Nova Identidade.
Além de muitas figuras e metáforas encontradas nas Escrituras sobre a Igreja,
ela também é apresentada como uma família. A entrada ou a chegada de um novo
discípulo na congregação resulta, dentre tantos outros benefícios espirituais,
no desenvolvimento da autoestima e da autoaceitação. Outro enorme benefício é o
processo terapêutico desenvolvido pela ação efetiva de tornar-se parte de algo
que possui reconhecido valor moral, psicossocial e espiritual. Por causa desse
extraordinário benefício provocado pelo ato de aceitação da igreja, ao receber
pessoas das mais variadas classes sociais, a igreja é interpretada por muitos
como a última fronteira de espaço para uma identidade genuína e pessoal. Um
novo discípulo, ao estar integrado em uma congregação, poderá dizer: ‘Estou
feliz com a minha nova família’. A Bíblia diz: ‘Deus faz com que o solitário
viva em família’ (Sl 68.6)” (SILVA,
Rayfran Batista da. O Discipulado Eficaz e o Crescimento da Igreja.
1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.35).
III. O DISCIPULADO E O CRESCIMENTO SADIO DA
IGREJA
A igreja precisa do processo do
discipulado para cumprir o propósito da Grande Comissão. Não se trata de opção,
é ordem de Jesus para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão.
1. O crescimento
espiritual. O processo do discipulado tem
por objetivo instruir o novo convertido sobre os vários aspectos da vida
cristã. Todas as pessoas que vêm a Cristo precisam ser discipuladas, isso
porque elas se tornaram novas criaturas (2 Co 5.17) e passam a viver uma nova
experiência (Rm 6.4). Elas precisam ser ensinadas para o seu crescimento
espiritual e amadurecimento na fé: “crescei na graça e conhecimento de nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). Esse é o crescimento espiritual e
sadio.
2. O crescimento
numérico. O processo do discipulado
proporciona à igreja, além do crescimento espiritual, o crescimento numérico
(At 9.31). Note que o propósito da terceira a viagem do apóstolo Paulo não foi
para plantar igrejas locais, mas para discipular e ensinar a igreja de Éfeso,
formar e treinar obreiros para a seara do Senhor. Ele ficou ali durante três
anos (At 18.22,23; 19.1; 20.31).
3. O exemplo da igreja de
Antioquia da Síria. O público da igreja de Antioquia
era gentio, identificado como “gregos” (At 11.20,21). Os apóstolos de Jerusalém
enviaram Barnabé para discipulá-los (At 11.22). Ao se deparar com um grupo de
gregos convertidos, ele concluiu que ninguém seria melhor do que Saulo para
ensinar esses novos crentes de costumes estranhos. Barnabé não hesitou em
buscá-lo em Tarso para essa nobre tarefa (At 11.25). Eles discipularam a igreja
durante um ano inteiro. Assim, desde muito cedo na história do Cristianismo, a
igreja se preocupa com o discipulado, pois fazer discípulo não é a mesma coisa
que fazer membro de igrejas.
A vontade de Deus é que todos os seus filhos e as suas
filhas “cresçam na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo” (2 Pe 3.18). A igreja precisa do processo do discipulado para cumprir o
propósito da Grande Comissão. Esse processo tem por objetivo instruir o novo
convertido sobre os vários aspectos da vida cristã. Não se trata de opção, é
ordem de Jesus para a edificação e crescimento espiritual de cada cristão. Esse
crescimento deve ser quantitativo e qualitativo, ou seja, em número e qualidade
espiritual. O discipulado prepara o novo convertido para o aprendizado teológico
mais aprofundado, isso acontece na escola bíblica dominical, pois os cursos
teológicos são excelentes, mas tem duração e limitações curriculares. A
vantagem da EBD é que ela não termina nunca, não tem prazos para matrículas,
recebe alunos de qualquer idade e de qualquer credo religioso. Ela permite um crescimento
salutar, progressivo e atualizado. – Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos
em março de 2020 pelos Institutos Ligonier Ministries and LifeWay Research, em
que apresentavam algumas afirmações teológicas tanto para o público geral como
também para o público evangélico para que concordassem ou discordassem delas.
Selecionamos duas dessas declarações. A primeira, “Jesus era um grande Mestre, mas
não era Deus”, dos americanos evangélicos, 30% concordaram, 66% discordaram e
4% não tinham certeza. A segunda, “Jesus é o primeiro e o maior ser criado por
Deus”. Os que discordaram foram 29% e 6% não tinham certeza. – Em dezembro de
2016, a Folha de São Paulo publicou uma pesquisa abrangendo vários
aspectos político e social na sociedade brasileira. Com a declaração “Todas as
religiões têm o mesmo valor porque todas levam ao mesmo Deus”, por incrível que
pareça, 50% dos pentecostais responderam que concordam com ela. A pesquisa separou
pentecostais e não pentecostais, mas não separou pentecostais dos
neopentecostais. Mesmo assim, é um número assustador. As seitas se aproveitam
dessa ignorância para causar divisão nas igrejas e destruir lares. O problema
está na falta do discipulado e de incentivo pelo estudo da Palavra de Deus.
Estamos vivendo numa geração de analfabetismo bíblico sem precedentes. São
muitos os que procuram igrejas como encontro social, para passar tempo, mas que
ainda não têm a mínima noção do significado de ser cristão. Trata-se de um número
considerável que sequer conhece a verdadeira identidade de Jesus e nem a sua singularidade.
É lamentável! Jesus disse: “quando o Filho do Homem vier, será que ainda
encontrará fé sobre a terra?” (Lc 18.8). – Que é um discípulo? O discípulo é um
aprendiz, seguidor, adepto dos ensinos de uma escola ou de uma pessoa em
particular. Chamamos de discipulado na fé o aprendizado de um discípulo por meio
de seu mestre, na igreja, para ajudar a desenvolver o seu crescimento
espiritual. O termo “discipulado” vem de “discípulo”, que significa “aprendiz,
aluno, seguidor”. Quem não sabe quem é Jesus, pode ser seu discípulo?
SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ
“O discipulado eficaz estabelece
a relação adequada entre a obra da treliça e a obra da videira: As igrejas
tendem em direção à institucionalização, pela qual o foco muda da videira
[orgânico] para a treliça [estrutura]. Em vez de fomentar o crescimento
moral-espiritual dos discípulos, focaliza-se na manutenção de programas e
estruturas eclesiásticas. A história é uma fiel testemunha do que ocorreu na
igreja cristã a partir do quarto século d.C. Por mais de 1200 anos, a maioria
absoluta da igreja viveu distanciada do verdadeiro Evangelho, até que veio a
Pré-Reforma, seguida da Reforma Protestante, como proposta de voltar a
posicionar a igreja nos trilhos do Evangelho de Jesus Cristo. Em parte, essa
realidade também ocorre com muita frequência na história de cada igreja local. Por
falta de investimento na vida espiritual das pessoas (obra da videira), enfatiza-se
a manutenção de estruturas físicas e programas eclesiásticos (obra da treliça),
causando, assim, enormes prejuízos ao corpo de Cristo e, além disso,
impedindo-o de cumprir na terra a verdadeira missão. Novas treliças (estruturas)
devem ser criadas assim como antigas treliças devem ser ampliadas e
restauradas, mas tão somente para servir a sustentação à videira, que deve
continuar merecendo a principal atenção e continuar crescendo” (SILVA, Rayfran Batista da. O Discipulado Eficaz
e o Crescimento da Igreja. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2019, p.39).
CONCLUSÃO
Deus tem interesse no bem-estar social e espiritual do ser humano. Isso vale para igreja e para a sociedade. A educação com base nos princípios cristãos é importante porque, além dos valores espirituais, contribui na construção de uma sociedade civilizada. A base dos valores morais e espirituais é a Bíblia. – “O discipulado cristão é um relacionamento de mestre e aluno baseado no modelo de Cristo e seus discípulos, no qual o mestre reproduz tão bem no aluno a plenitude da vida qie tem em Cristo que o aluno é capaz de treinar outros para que ensinem outros" (PHILLIPS, 2010, p. 20). O saudoso pastor Valdir Nunes Bícego, grande estrategista em evangelismo chegou a afirmar que "A porta de saída da igreja é mais larga que a porta de entrada”. Os números e gráficos que ele mesmo elaborou são provas dessa lastimável realidade. Um deles revela que de cada cem pessoas que aceitam Jesus como Salvador nas nossas igrejas, somente cinco permanecem. Isso mesmo! Somente cinco. Não é de causar espanto? Mas aonde foram os outros noventa e cinco? É claro que há exceções. Queira o Senhor que a igreja onde você congrega seja uma dessas. Um dos nossos objetivos aqui é buscar reverter esse quadro.
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 1º
Trimestre 2020 - Lição 12. Rio de Janeiro: CPAD, 21, mar. 2021.
RIBANOGUEIRA. O
desafio do discipulado. Disponível em: http://ribanogueira.blogspot.com/2016/08/o-desafio-do-discipulado.html.
Acesso em: 20 mar. 2021.
SOARES, Esequias. O
verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a
atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
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