sábado, 24 de abril de 2021

LIÇÃO 4: DONS DE PODER

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

O ministério terreno de Jesus foi marcado por inúmeros milagres, principalmente curas. A história eclesiástica comprova que a Igreja do primeiro século também operou maravilhas no poder do Espírito Santo. Entre os primeiros cristãos sobejavam os dons de poder. Se Jesus não mudou e os dons espirituais são para a Igreja de hoje, por que atualmente não vemos as manifestações dos dons de poder em nosso ambiente com mais frequência? Será falta de conhecimento a respeito do assunto? Ou será por causa do mau uso que alguns fazem das dádivas divinas?

Nesta lição estudaremos a respeito dos dons de poder. Veremos como eles são necessários à vida da igreja. Se você deseja recebê-los e usá-los para a glória do nome do Senhor; proporcionando a edificação da igreja, busque-os com fé em oração.  Na época em que Paulo se tornou discípulo de Jesus, após sua dramática conversão, no caminho de Damasco, já havia muitos “evangelhos” estranhos, apócrifos, que pregavam “outro Jesus” (2 Co 11.4). Mas o evangelho genuíno tinha que ser um evangelho que demonstrasse ao mundo que era a mensagem de Deus aos homens, através de sinais, prodígios e maravilhas, que o diferençava dos “outros evangelhos”. Jesus, em seu ministério terreno, demonstrou que não viera trazer mais uma corrente filosófica para o mundo. As nações já conheciam as filosofias gregas, de Platão, Aristóteles, Heródoto e outros. O Budismo, o Hinduísmo, o Xintoísmo e outras religiões dominavam o Oriente. O Judaísmo era a religião consagrada na Palestina. Mas não se viam sinais de poder impactante e transformador na vida dos seus adeptos nem daqueles a quem pregavam seus ensinos. Mas Jesus começou transformando “água em vinho” (Jo 2.10). Curou cegos paralíticos, ressicados, lunáticos, e fez o que nenhum líder de religião fizera ou haveria de fazer: ressuscitou mortos, inclusive Lázaro, cujo corpo já entrara em estado de decomposição avançada (Jo 11.4'). O cristianismo apresentou-se como um movimento do Espírito Janto para a salvação de almas e libertação dos males resultantes do pecado. – Além de demonstrar o poder sobre as forças das enfermidades, Jesus demonstrou que tinha poder sobre as forças da natureza. Acalmou a tempestade, repreendendo o vento e o mar (Mt 8.23-27); andou por cima das águas e fez passar a tormenta (Mt 14.22-34). E, para provar que tinha suprema autoridade sobre todos os poderes, expulsou demônios, libertando os oprimidos do Diabo (Mt 8.28-34.

I. O DOM DA FÉ

1. O que significa fé? Na epístola aos Hebreus lemos que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (11.1). Essa é a definição bíblica sobre a fé, pois mostra a total confiança e dependência em Deus. Aprendemos com o texto do capítulo 11 de Hebreus, conhecido como a "galeria dos heróis da fé”, que Deus é poderoso para fazer todas as coisas, sendo a nossa fé em Deus, fundamental para as operações divinas entre os homens. 

2. A fé como dom. É distinta daquela que recebemos por ocasião da nossa conversão: a fé salvífica (Rm 10.17; Ef 2.8). Igualmente, se distingue da fé evidenciada como fruto do Espírito (Cl 5.22). O dom da fé é a capacidade que o Espírito Santo concede ao crente para este realizar coisas que transcendem à esfera natural da vida, objetivando sempre a edificação da igreja. De acordo com o teólogo Stanley Horton, esse dom “é uma fé milagrosa para uma situação ou oportunidade especial”. 

3. Exemplo Bíblico do dom da fé. Quando guiou o povo de Israel na saída do Egito e se aproximou do Mar Vermelho, já na iminência de ser destruído por Faraó, Moisés disse: “Não temais; estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êx 14.13,14). Moisés “viu” pela fé o livramento do Senhor antes de o fato acontecer. Esta é uma boa amostra bíblica do exercício do dom da fé. 

A palavra fé (gr. pisteuó; lat. Fides) “É a confiança que depositamos em todas as providências de Deus. É a crença de que Ele está no comando de tudo, e que é capaz de manter as leis que estabeleceu. É a convicção de que a sua palavra é a verdade”. A melhor definição de fé é enunciada pelo autor do livro aos Hebreus, que recebeu uma profunda inspiração para a descrição dessa virtude cristã; “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1). Vemos, nessa definição, três elementos essenciais à fé:

1) Ela é fundamento ou base para a confiança em Deus;

2) Ela envolve a esperança ou expectativa segura do que se espera da parte de Deus;

3) Ela é “a prova das coisas que não se veem”, mas são esperadas, ou significa convicção antecipada.

Já o dicionário VINE assim define o termo fé: “pistis, primariamente, ‘persuasão firme’, convicção fundamentada no ouvir, sempre é usado no NT acerca da ‘fé em Deus ou em Jesus, ou às coisas espirituais”. Em Mt 17.20 Jesus fala de uma fé que pode remover montanhas, operar milagres e curas, e realizar grandes coisas para Deus. É uma fé genuína que produz resultados: ‘nada vos será impossível’. É distinta da fé que produz salvação e da fé como fruto do Espírito. Não se trata da fé para salvação, mas de uma fé sobrenatural especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas. É a fé que remove montanhas (1Co 13.12) e que frequentemente opera conjuntamente com outras manifestações do Espírito Santo, como os dons de cura e de operação de milagres e maravilhas.

A FÉ COMO DOM – É a capacidade concedida pelo Espírito Santo para o crente realizar coisas que transcendem à esfera natural, visando o benefício e a edificação da igreja. Podemos entender melhor o significado do dom da fé, através de declarações negativas em relação a outros tipos de fé. Não é a fé salvífica, que é despertada pela proclamação da Palavra de Deus (Rm 10.17; Ef 2.8); não é a fé como doutrina, que denota a permanência do crente, vivendo de acordo com a Palavra de Deus, ou a sã doutrina (2 Co 13.5); não é a fé como fruto do Espírito, que consiste nas virtudes, que devem ser cultivadas pelo crente, na comunhão com o Espírito Santo. Não é dada, é buscada e desenvolvida (G1 5.22); o dom da fé também não é a fé natural, que resulta da observação da natureza. Se tudo existe, de maneira organizada e com propósito, há pessoas que creem no Criador (Rm 1.19,20).

O dom da fé “Pode ser considerado como um dom especial da fé para uma necessidade particular. Alguns o definem como a fé que remove montanhas’, trazendo manifestações incomuns ou extraordinárias do poder de Deus”.2 Esse dom é concedido, num momento especial, quando só um milagre resolve algo que não tem solução, no meio da igreja, ou na vida de um servo de Deus, que atende a seus propósitos. Podemos entender que esse dom foi usado por Moisés, quando o povo de Israel percebeu que Faraó estava no seu encalço após a saída do Egito. De um lado e do outro, as montanhas; pela frente, o Mar Vermelho; por trás o exército egípcio com carros e cavalos. – A resposta do líder do Êxodo foi uma demonstração de uma fé fora do comum: “Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êx 14.13,14). Ele “viu” o livramento de Deus antes que acontecesse. Se tivesse falhado em sua fé, teria havido uma tragédia contra a sua liderança. Vemos esse dom operando na vida de Daniel. Quando soube do decreto do rei, proibindo que alguém fizesse qualquer pedido ou súplica a qualquer pessoa ou a qualquer Deus, e não unicamente ao rei, seria lançado na cova dos leões famintos, Daniel continuou orando ao Senhor, como o fazia três vezes ao dia. Foi acusado pelos seus adversários, e foi lançado na cova dos leões. O próprio rei viu que Daniel tinha fé em seu Deus (Dn 6.16). Daniel foi salvo da morte (Dn 6.23). – Certamente, o exemplo do profeta Elias, diante dos profetas de Baal e de Asera, no Monte Carmelo, também envolveu o dom da fé. Ele fez um desafio aos profetas dos deuses falsos. Propôs que o Deus que respondesse com fogo seria o verdadeiro Deus. E Deus honrou sua fé, fazendo cair fogo do céu sobre o altar encharcado de água (1 Rs 18.22-39). – O dom da fé não se desenvolve. E concedido, em ocasiões especiais, para a resolução de algum problema insolúvel aos meios normais, racionais ou naturais. E só é dado a quem já tem fé em Deus e em suas promessas. “Esse dom em ação gera uma atmosfera de fé, que dá convicção de que agora tudo é possível (cf. Jo 11.40-44; Mc 9.23). [...] Esse dom é um impulso poderoso à oração da fé (cf. Tg 5.17), pois impõe a certeza de que para Deus tudo é possível (cf. Lc 1.37; Mc 10.27).”3 Quando se diz que tudo é possível deve-se ter em mente que se tem em mente tudo o que é de acordo com a vontade de Deus.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Professor, para introduzir a lição, indague: “O que é fé?" "Que diferença há entre fé salvífica e o dom da fé?" Faça as perguntas diretamente aos alunos, individualmente. O objetivo é avaliar o conhecimento dos alunos a respeito do tema. Depois de ouvi-los escreva no quadro o esquema abaixo e discuta-o com a turma.

·  = "Firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem" (Hb 11.1).

·  Fé salvífica = "Proveniente da proclamação do Evangelho, esta fé leva-nos a receber a Cristo como Salvador".

·  Dom da fé = "Capacidade que o Espírito Santo concede ao crente para este realizar coisas que transcendem à vida natural".

É muito importante distinguir essas expressões uma das outras, a fim de que haja um perfeito entendimento.

  II. DONS DE CURAR (1 Co 12.9)  

1. O que são os dons de curar? São recursos de caráter sobrenatural para atuarem na cura de qualquer tipo de enfermidade. Por isso a expressão está no plural. Deus é quem cura! Ele concede os “dons” segundo o conselho da sua vontade, sabedoria e no momento certo. No Antigo Testamento, o Todo-Poderoso se manifestou ao povo de Israel como “Jeová Rafá” — O Senhor que sara (Êx 1 5.26; SI 103.3). A concessão desses dons à Igreja deve-se à necessidade de o Evangelho ser anunciado como uma mensagem poderosa ao não crente, que outrora não tinha fé, mas que agora passou a crer no Evangelho, arrependendo-se dos seus pecados (Mc 16.1 7,1 8; At 3.1 1-26; 4.23-31).

2. A redenção e as curas. Apesar de o crente ser redimido pelo Senhor através da obra expiatória efetuada por Jesus na cruz do Calvário, ele (o crente) ainda aguarda a redenção do seu próprio corpo. Quando o apóstolo Paulo tratou dos males que afligem à criação como resultado do pecado da humanidade, escreveu que “não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.2 3). Enquanto não recebermos o novo corpo imortal e incorruptível estaremos sujeitos a toda sorte de doenças. 

3. A necessidade desses dons. Os dons de curar são necessários à igreja da atualidade. Num mundo incrédulo em que a medicina se desenvolve rapidamente, o ser humano pensa que pode superar a Deus. A humanidade precisa compreender a sua limitação e convencer-se da sublime realidade de um Deus Todo-Poderoso que, em sua misericórdia e amor, concede sabedoria a homens e mulheres para multiplicar o conhecimento da medicina visando o bem-estar de todos. Quanto aos dons de curas, são manifestações de poder sobrenatural que o Espírito Santo colocou à disposição da Igreja de Cristo para que a humanidade reconheça que Deus tem o poder de sanar todas as doenças. 

Os dons de curar são de grande valor na pregação do evangelho. As pessoas em geral são descrentes do poder de Deus. Mas, quando veem uma cura de impacto, como a cura de câncer, de diabetes, de paralisia, ou de doenças degenerativas, com Alzheimer, doença de Parkinson, e outras, são compelidas a ter sua fé despertada para o poder de Deus em suas vidas. Milagres de cura, sem transformação de vidas, pelo poder do evangelho de Cristo, tornam-se apenas elementos de “shows” para glorificação do pregador. Mas quando as curas contribuem para a glorificação a Deus, têm grande valor para a divulgação do evangelho. – É promessa de Jesus à sua igreja a delegação de poder para curar enfermidades, como parte da missão de pregar o evangelho (Mc 16.15-18). – Como os sinais devem seguir “aos que crerem”, pode-se entender que pode haver curas, ministradas por uma pessoa, que não tem o dom ou dons de curar. Num momento, um evangelizador, num hospital, ou em outro lugar, pode dizer para um doente: “Em nome de Jesus seja curado”, e o enfermo levantar-se sadio para glória do Senhor. No entanto, no meio da congregação local, em qualquer lugar, é necessário que se busquem os dons de curar, que poderão ser usados, em momentos ou situações em que Deus queira manifestar o seu poder curador, para glória de Jesus Cristo. – É interessante notar que todos os outros dons estão no singular. Mas os dons de curar estão no plural. Não há, portanto, um “dom de curar”, mas uma variedade deles. Os estudiosos não são unânimes na interpretação desse assunto. Há quem acredite que um crente, que possui tais dons, tenha capacidade para curar qualquer enfermidade. A pluralidade dos dons de curar parece indicar que há pessoas que têm o dom de orar por determinadas enfermidades; e outras, para orar por outros tipos de doenças. – Stanley Horton diz “que ninguém pode dizer: ‘Eu tenho o dom de curar’, como se este dom pudesse ser possuído e ministrado ao bel-prazer da pessoa. Cada cura necessita de um dom especial, não à pessoa o dom, mas por meio daquela pessoa para o indivíduo doente, de forma que Deus receba toda a glória. Ele é quem cura (At 4.30)”. Infelizmente, o que se vê, em muitos programas de TV, de determinadas igrejas, é o endeusamento do pastor, do bispo ou apóstolo, que ministra curas de maneira cotidiana. Não ousamos dizer que pessoas não são curadas, em tais igrejas. Mas a exaltação do ministrante de curas ofusca a glória que só pertence a Deus. Diz Boyd acerca desses dons: “Não concordamos com a opinião de que este dom garante a libertação do enfermo, independente da soberania divina ou das condições espirituais e morais do enfermo”. De fato, há ensinos heréticos, desde o século passado, no seio de igrejas evangélicas, notadamente das neopentecostais, que entendem que o possuidor do dom ou dos dons de curar têm poderes ilimitados. Não é bem assim. Se uma pessoa está doente, pode buscar a cura, através da oração da fé. No entanto, Deus não está obrigado a atender todos os pedidos ou súplicas pela cura de nenhuma pessoa. Pr. Eurico Bergstén corrobora esse entendimento, quando afirma: “Esse dom não significa uma capacidade de curar quando e como a pessoa quer, porém é sempre uma transmissão de poder do Espírito Santo. Por isso, é indispensável que o portador do dom esteja ligado a Cristo e siga a sua direção [...]”. – É desejável que os crentes em Jesus procurem “com zelo os melhores dons” (1 Co 12.31). Certamente, os dons de curar são muito necessários, num mundo em que as enfermidades têm-se multiplicado assustadoramente, a despeito dos notáveis avanços da medicina. Esses dons são recursos especiais à disposição da igreja do Senhor Jesus Cristo, para, sob a soberania de Deus, e segundo a fé, os crentes sejam beneficiados com a cura das enfermidades físicas ou emocionais.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Dons de Curas

No grego, as palavras dons e curas estão no plural. Alguns entendem que isso significa que há uma variedade de formas desse dom. Entre os que pensam assim, há quem entenda que certas pessoas têm um dom de curar um tipo de doença ou enfermidade, ao passo que outros curam outro tipo. Filipe, por exemplo, foi especialmente usado para curar os paralíticos e os coxos (At 8.7). Outros, ainda, entendem que Deus dá a uma pessoa um dom na forma de um suprimento de curas numa ocasião específica, ao passo que outro suprimento é dado em outra ocasião, talvez a outra pessoa, mas provavelmente no ministério do evangelista.

Ainda outros entendem que toda cura é um dom especial, isto é, o dom é para o enfermo que tem a necessidade. Logo, segundo esse ponto de vista, o Espírito Santo não torna os homens curadores. Pelo contrário, Ele providencia um novo ministério de cura para cada necessidade, à medida que ela surge na Igreja. Por exemplo, a virtude (poder) que flui para dentro do corpo da mulher com o fluxo de sangue trouxe para ela um gracioso dom de cura (Mt 9.20-22). Atos 3.6 diz, literalmente: ’0 que tenho, isso te dou'. Isso está no singular e indica um dom específico dado a Pedro para este dar ao coxo. Não parece significar que tinha um reservatório de dons de curas dentro de si, mas um novo dom para cada enfermo a quem ministrava" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.297).

III. DOM DE OPERAÇÃO DE MARAVILHAS (1 Co 12.10)

1. O dom de operação de maravilhas. Este dom realiza obras extraordinárias além do poder humano. O dom de operação de maravilhas altera a ordem natural das coisas consideradas impossíveis e impensáveis. 

2. Exemplos bíblicos. O ministério terreno de Jesus foi marcado por operações de maravilhas. O Bom Mestre repreendeu o vento e o mar, e estes logo se aquietaram (Mt 8.23-27). O nosso Senhor atestou por muitas vezes o seu poder sobre a natureza criada para sua glória (Jo 1.3). Podemos destacar outros exemplos de operação de maravilhas no ministério de Jesus: a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7.11 -1 7); a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.21-43); a ressurreição de Lázaro, morto havia quatro dias (Jo 11.1-45). Nosso Senhor tem todo o poder sobre a morte, pois para Ele “nada é impossível” (Lc 1.37). Nosso Deus não mudou. O Pai Celestial deu dons a sua igreja a fim de que ela atue no mundo moderno com poder e graça.

3. Distorções no uso dos dons de curar e de operação de maravilhas. O cristão não tem autorização divina para “de terminar”, “decretar” ou “exigir” a cura dos enfermos. A nossa relação com Deus não se dá em forma de barganha. Quem somos nós para exigir de Deus alguma coisa? Somos seres humanos limitados! Se (não fosse a graça e a misericórdia de Deus, o que seria de nós? Como discípulos de Cristo, devemos rogar ao Pai, buscando-o de todo o nosso coração para curar os doentes, pois a Palavra de Deus recomenda que oremos pelos enfermos (Tg 5.14). A oração do justo pode muito em seus efeitos (Tg 5.16), e independe de se ter o dom ou não. Jesus nos ensinou que em seu nome deveríamos impor as mãos sobre os enfermos para que eles sejam curados (Mc 16.18). Nossa responsabilidade é orar pedindo a cura. Quem sara o enfermo, de acordo com a sua soberana vontade, é Deus.

O crente que impõe as mãos sobre o enfermo não pode ser tratado como um ídolo na igreja, principalmente se o enfermo for curado. Nem podemos imaginar que porque aconteceu o milagre aquela vez, sempre haverá outros milagres. Que o Altíssimo tenha misericórdia e proteja-nos dessa pretensão! Quem opera os sinais e as maravilhas é o Senhor, não o homem. Toda ação decorrente dos dons vem do Espírito Santo e, por isso, não podemos agendar dias nem marcar horários para sua operação. Façamos a obra de Deus com honestidade e decência! 

O dom de operações de Maravilhas é algo sobrenatural (2Rs 4.1-7); algo que vai contra todas as leis da natureza (2Rs 4.32-37); algo que vai contra as leis da química e da física (2Rs 6.1-7); algo que está acima da compreensão e raciocínio humano, capaz até mesmo de mudar toda a ordem universal (Js 10.12-13). Existem três termos gregos identificados com o dom de maravilhas: dunamis, que significa poder, sem o qual não haveria milagres. – Um milagre é uma manifestação de poder sobrenatural no reino natural. Esse dom chamado de Operação de Milagres e também é chamado de dom de operação de maravilhas (gr. energemata dunameón). Desses termos gregos derivam as palavras “energia” e “dinamite”. São palavras plurais, no idioma original. Isso dá a entender que pode haver uma variedade enorme de milagres, operados pelo poder do Espírito Santo. – Assim como a dinamite explode rochas consideradas impenetráveis, o dom de milagres anula a ordem natural das coisas. Muitas vezes, é uma verdadeira explosão do poder de Deus, no mundo natural ou na esfera espiritual. Na travessia do Mar Vermelho, temos um exemplo extraordinário de um milagre, operado por Deus. O povo de Israel, com cerca de 3 milhões de pessoas, jamais teria condições de adentrar as águas à sua frente, acossado pelo exército de Faraó. Mas Deus fez o impossível, alterando o curso dos elementos da natureza. “Então, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram como muro à sua direita e à sua esquerda” (Êx 14.21,22).

Em meio a uma grave crise climática, em Israel, uma viúva clamou ao profeta Eliseu para que seus dois filhos não fossem levados cativos para pagar dívidas deixadas pelo seu esposo. Eliseu indagou o que ela tinha em casa, e, em resposta, a mulher disse que só tinham “uma botija de azeite” (2 Rs 4.2). Algo como meio litro ou um pouco mais. Mas isso não significava nada diante do grande problema da dívida que a mulher tinha que pagar, para não perder a guarda de seus dois filhos. A ordem normal das coisas, à luz dos costumes e leis de seu tempo, exigia que ela entregasse os filhos ao credor. – Mas a fé do profeta ultrapassou os limites do plano natural e, confiando em Deus, disse à mulher que conseguisse muitos vasos com seus vizinhos, e os enchesse com aquela pequena quantidade de azeite. A mulher obedeceu ao profeta, e presenciou, com seus filhos um milagre extraordinário. À proporção que derramava o azeite nas vasilhas, o azeite aumentava. Aquilo que parecia ser o fim, foi o começo de um novo tempo na vida daquela pobre viúva. O profeta de Deus disse: “Então, veio ela e o fez saber ao homem de Deus; e disse ele: Vai, vende o azeite e paga a tua dívida; e tu e teus filhos vivei do resto” (2 Rs 4.7). O gravíssimo problema só teve solução mediante a intervenção do poder de Deus na ordem social e econômica daquela família. – O fenômeno em que o sol se deteve por quase um dia inteiro, para que Josué pudesse vencer os amorreus, é um exemplo típico de um milagre ou de maravilha operada por Deus envolvendo seus servos. Pelas leis da mecânica celeste, o sol se põe, no final da tarde, ou “se põe”, como se diz na linguagem figurada. Mas, se a noite caísse, Israel não teria condições de vencer os poderosos exércitos inimigos. Tal situação exigia uma ação de emergência. E Josué, o líder da tomada da terra prometida, pôs sua fé em ação, e confiou em Deus, ao determinar que o Sol se detivesse em Gibeão, e a lua se detivesse, no vale de Aijalom. Diz a Bíblia que, contrariando todas as leis da mecânica celeste, houve um fenômeno jamais visto: “E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isso não está escrito no Livro do Reto? O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o Senhor, assim, a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por Israel” (Js 10.13,14). Esse fato tem causado críticas na mente dos incrédulos, pois imaginam que tal relato não passa de uma lenda judaica. Tal visão é compreensível, pois os críticos usam o pensamento racional, lógico, natural. Enquanto o milagre é sobrenatural, fora da lógica e da humana. Deus não está sujeito às leis da natureza. Quando Ele quer, suspende seus efeitos e cumpre os seus propósitos para o seu povo, ou para um servo seu.

Quem mais operou milagres foi Jesus. Após ministrar sua palavra, Jesus entrou no barco com seus discípulos, acompanhado de outros barquinhos. Inesperadamente, levantou-se, no mar, um grande temporal de vento, provocando ondas que cobriam o barco. Talvez pelo cansaço da jornada, Jesus estava repousando na popa da embarcação, enquanto seus discípulos enfrentavam a tormenta. “E ele estava na popa dormindo sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança” (Mc 8.38,39). Nenhum homem, a:é hoje, teve o poder de falar ao vento e ao mar, na tempestade, e os elementos da natureza ouvirem a sua voz. Mas Jesus mostrou, mais de uma vez, que tem poder sobre a natureza, que Ele mesmo criou (Jo 1.3).

O mais terrível inimigo do homem, em sua condição humana, é a morte (1 Co 15.26). E decreto divino, por causa do pecado (Gn 2.17). O homem nasce, desenvolve-se e morre. É o curso natural da existência biológica. Uns morrem mais cedo; outros, mais tarde. Mas Jesus, o criador, doador e Senhor da vida, pode, quando Ele quer, interromper esse curso da natureza humana. Em seu ministério, Jesus demonstrou seu poder sobre a morte física. Ele ressuscitou o filho único de uma viúva, de Naim, quando o féretro já estava a caminho do cemitério (Lc 7.11-16). – Jesus ressuscitou a filha de Jairo, que falecera fazia pouco tempo (Mc 5.22-24). Alguém poderia alegar, em sua mente racionalista, que a menina experimentara apenas um estado cataléptico, ou sono profundo e passageiro. Mas para que não pairassem dúvidas sobre o poder sobrenatural de Cristo sobre a morte, Ele se deixou demorar onde se encontrava, ao receber a notícia de que Lázaro, seu amigo, de Betânia, estava muito enfermo. Em seguida, ele cientifica aos discípulos de que Lázaro houvera morrido. Ao chegar em Betânia, já fazia quatro dias do seu falecimento. Não havia a mínima condição para reverter aquela situação, pois o corpo do defunto já estava sofrendo os efeitos da decomposição. Mas para Jesus, nada é impossível (Lc 1.37). Após consolar a família, Jesus se dirigiu ao túmulo, mandou que fizessem o que as pessoas poderiam fazer naturalmente, tirando a pedra que fechava a entrada da sepultura (Jo 11.43-45). Completando a demonstração real de que a morte não vence o autor da vida, Jesus ressuscitou, após três dias na sepultura, cumprindo o que Ele predissera para seus discípulos (Lc 24.1-8). – Se é a vontade de Deus, e motivo para glorificação ao seu nome, ele pode conceder autoridade a qualquer de seus servos para operar milagres extraordinários. No entanto, quando o pregador, por permissão de Deus, opera milagres para sua promoção pessoal, de seu ministério ou da igreja a que pertence, resta a dúvida se aquele milagre foi de Deus ou de outra origem. Pior ainda, quando o operador de milagres o faz, visando obter ganhos financeiros e enriquecimento pessoal. Isso não glorifica a Deus. E procedimento lastimável, suscetível do juízo de Deus no momento próprio.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Diferença entre dom de fé e a operação de milagres

A operação do dom de fé tem algo de semelhante ao dom de operação de milagres, mas esses dons se distinguem pelo fato de o dom de fé operar sem que, às vezes, seja visto seu efeito instantâneo, enquanto a operação de milagres tem efeito imediato.

Quando Jesus se aproximou da figueira sem fruto, disse: 'Nunca mais coma alguém fruto de ti. E seus discípulos ouviram isto' (Mc 11.14). Os discípulos simplesmente ouviram as palavras de Jesus. Parecia que nada havia acontecido. Entretanto, 'passando eles pela manhã, viram que a figueira secara desde a raiz' (Mc 11.20). Enquanto o dom de operação de milagres tem ação instantânea, o dom de fé opera com os mesmos resultados, embora não seja de modo tão espetacular. De certa maneira a fé sobrenatural é acessível a quase todos os crentes na igreja, e pela fé tudo podemos conseguir, pois 'tudo é possível ao que crê'" (SOUZA, Estêvam Ângelo de. Nos Domínios do Espírito. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1987, p.185).

  CONCLUSÃO

Deus pode conceder a seus servos o dom da fé, dons de curar e o de operação de milagres, mas sempre de acordo com a sua vontade e graça. Lembre-se de que os dons de poder contribuem para legitimar a pregação do Evangelho. Infelizmente, há pessoas que querem utilizar essas dádivas para obterem lucros financeiros e enriquecimento pessoal. Isto envergonha o nome de Jesus e mancha a idoneidade da Igreja na sociedade. Quem procede desta forma está suscetível ao juízo de Deus, que virá no tempo próprio. Que nós, a Igreja, o povo do Senhor, façamos uso dos dons de poder para propagar o Evangelho de nosso Senhor e glorificar o nome do Pai no poder do Espírito Santo! – Pela soberania divina é que os dons são distribuídos, não como recompensa ou pelo mérito. Concluo afirmando que é falacioso, antibíblico e insensato o ensino de que aquele que possui um dom de operação exteriorizada (mais visível) é mais espiritual do que quem tem dons de operação mais interiorizada, menos visível. Também, quando uma pessoa possui um dom espiritual, isso não significa que Deus aprova tudo quanto ela faz ou ensina. Os dons de poder, como os demais dons, são soberanamente distribuídos pelo Espírito, continuam atuais e disponíveis à Igreja para a glória do nome do Senhor. O Espírito Santo manifesta Seus dons e poder em homens e mulheres de Deus, para que eles possam fazer o que Ele decide soberanamente o que deve ser realizado. Nós precisamos destas Manifestações Poderosas em nossa vida para que possamos cumprir o nosso papel para o qual fomos alistados: servir e edificar a Igreja, estender a mão aos incrédulos e edificar a nossa fé. No pensamento do apóstolo Paulo, vida na igreja e dons do Espírito Santo eram coisas intrínsecas. Jesus, o nosso Mestre Poe excelência viveu, trabalhou e orou no poder do Espírito Santo e é dele a afirmativa que diz: “Aquele que crê em mim, também fará as obras que eu faço.” Com a mesma unção que estava sobre Ele nós também podemos fazer estas obras e levar a cabo seu imperativo de ir e ensinar todas as nações. Certa feita, os opositores da seita do Caminho inquiriram os discípulos: “Por meio de que poder vocês fizeram isso?” Foi no poder do qual Jesus havia falado: “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”.

REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO VINE - W. E. Vine, Merril F. Unger & William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002, p. 648.

LIÇÕES BÍBLICAS. 2º Trimestre 2021 - Lição 4. Rio de Janeiro: CPAD, 25, abr. 2021.

LIMA, Elinaldo Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.

 

quarta-feira, 21 de abril de 2021

EDUCADORES SÃO CONTEMPLADOS COM A VICINA CONTRA A COVID-19

 

Em resolução assinada na última sexta-feira (16/04/2021), a Comissão Intergestores Bipartite (CIB-MA) aprovou a execução da campanha de vacinação contra Covid-19, sob responsabilidade da Secretaria de Estado da Saúde (SES), em parceria com os municípios, para os trabalhadores da educação do ensino básico e superior, visando à respectiva celeridade da cobertura vacinal desse público-alvo.


A Resolução Nº 09/2021 considera o cenário epidemológico atual da Covid-19 no Estado do Maranhão e leva em conta que as escolas são ambientes fechados, com grande número de pessoas, e a execução regular de atividades coletivas constitui risco elevado de ocorrência de casos da doença entre os trabalhadores da educação, tanto do ensino básico como do ensino superior. Considera ainda que as escolas constituem serviço essencial, e a retomada das aulas presenciais é de grande relevância, onde os trabalhadores da educação devem ser incluídos no grupo prioritário para receber a vacinação.



E neste feriado 21/04/2021 iniciou a vacinação em Vitória do Mearim. Os professores com a idade a partir dos 55 anos já começaram a receber a 1ª dose. A primeira educadora a ser imunizada foi a professora Roseli Nunes Gusmão, Gestora Pedagógica do Centro Educa Mais Estado do Espírito Santo, e ela não perdeu tempo, deixou logo a sua mensagem para os demais educadores. Estamos felizes por essa iniciativa!


 

segunda-feira, 19 de abril de 2021

VITÓRIA DO MEARIM COMPLETA 188 ANOS

Foto (montagem) em comemoração ao aniversário do município de Vitória do Mearim que será neste dia 19 de Abril 2021.

Vitória do Mearim está aniversariando, completando assim, seus 188 anos e emancipação política. Vamos relatar aqui, um pouco do histórico dessa cidade, baseado no livro do historiador e Promotor de Justiça Dr. Washington Cantanhede e um pouco da atuação desse escritor quando político (Vereador - Presidente da Câmara Municipal - ano 1991).

O atual município de Vitória de Mearim já teve diversos nomes, a saber: Baixo Mearim, Vitória do Baixo Mearim, Sítio velho e Curral da Igreja, sendo este ao que se sabe, o mais antigo, originado no fato de, por volta de 1723, terem sido doados meia légua de terras e um curral de gado bovino, por parte do fidalgo da Casa Real Portuguesa, padre José Gama d`Eça, que tentou construir, sob a invocação de Nossa Senhora de Nazaré, uma igreja à margem direita do rio Mearim. Ainda em fase de construção, quando apenas estavam feitas as suas bases, não foi possível prosseguir, pois, chegado o inverno, verificou-se a impropriedade do terreno, campo baixo e alagadiço. Este lugar, que até hoje conserva o nome Curral da Igreja, pertence, agora, ao município de Arari.

Em 1728, o mesmo padre resolveu mudar o povoado para local mais sólido e consistente, e, partindo de Curral da Igreja, rio acima, veio ter a um terreno, hoje denominado Sítio, o qual com o anterior, pertencem atualmente ao município de Arari.

Mais uma vez, diante da impropriedade do terreno, marginal ao rio Mearim, muito sedimentoso, e porque na ocasião das grandes enchentes, as águas do rio inundavam ruas inteiras, arrastando casas, causando devastações e enormes prejuízos, resolveu o governo transferir a povoação para outro terreno mais elevado e firme.

Foi em 1750 que se deu a última mudança. Desta vez, à procura de terreno alto e isento de quaisquer das inconveniências encontradas a cabeceira das matas, onde tudo indicava ser terreno firme e fora do alcance de inundações. Ali se instalaram, edificando suas casas e a atual igreja de Nossa Senhora de Nazaré, passando a denominar-se o lugar Mearim, talvez em homenagem ao rio que lhe regava as terras e através do qual faziam seus transportes.

Formação Administrativa

Elevado à categoria de vila e distrito com a denominação de Mearim, pela resolução de 19-04-1833, confirmado pela lei provincial nº 7, de 29-04-1835. Sede na atual vila de Mearim. Não temos a data instalação.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, a vila é constituído de 3 distritos: Vitória do Mearim, Lapela e São Benedito.

Nos quadros de apuração do Recenseamento Geral de 1-IX-1920, o município aparece constituído do distrito sede. Não figurando os distritos de Lapela e São Benedito.

Elevado à condição de cidade com a denominação de Mearim, pela lei municipal nº 1129, de 15-03-1924.

Em divisão administrativa referente ao ano de 1933 o município se denomina Mearim, e é constituído do distrito sede.

Pela lei estadual nº 159, de 06-12-1938, o município de Vitória do Mearim passou a denominar-se Baixo Mearim.

No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o município já denominado Baixo do Mearim é constituído do distrito sede.

Pela lei estadual nº 271, de 31-12-1948, o município de Baixo Mearim passou a denominar-se Vitória do Mearim.

Pela lei estadual nº 269, de 31-12-1948, são criados os distritos de Mata Boi, Jejuí e Lapela anexados ao município de Vitória do Mearim ex-Baixo Mearim.

Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o município já denominado Vitória do Mearim é constituído de 4 distritos: Vitória do Mearim, Jejuí, Lapela e Mata Boi.

Pela lei estadual nº 770, de 02-10-1952, desmembra do município de Vitória do Mearim o distrito de Jejuí. Elevado à categoria de município com a denominação de Lago de Pedra. Em divisão territorial datada de 1-VII-1955, o município é constituído de 3 distritos: Vitória do Mearim, Lapela e Mata Boi. Pela lei estadual nº 1730, de 26-01-1959, é extinto o distrito de Mata Boi, sendo seu território passado a construir o novo município de Pio XII. Em divisão territorial datada de1-VII-1960, o município é constituído de 2 distritos: Vitória do Mearim e Lapela. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VI-1995. Em divisão territorial datada de 15-VII-1997, o município é constituído do distrito sede. Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2005.

Alterações toponímicas municipais - Mearim para Vitória do Mearim alterado em, 1933.Vitória do Mearim para Baixo Mearim alterado, pela lei estadual nº 159, de 06-12-1938. Baixo Mearim para Vitória do Mearim alterado, pela lei estadual nº 271, de 31-12-1948.

Filhos Ilustres

Bernardo Pereira de Berredo e Castro, governador do Maranhão e fazendeiro na ribeira do Mearim (1º quartel do Século XVIII).

Barão do Mearim (José Teodoro Correa de Azevedo Coutinho), fazendeiro e militar na região, filho de Alcântara (1ª metade do Séc. XIX).

Barão de Itapari (José Joaquim Seguins de Oliveira), fazendeiro na Baixada Maranhense e no Mearim (final do Sec. XIX).

Coronel Manoel Lourenço Bogea, oficial da Guarda Nacional, chefe político na Vila do Mearim, e Manoel Bogea Duarte do Vale, ambos deputados provinciais no Século XIX (décadas de 40 e 70, respectivamente).

Arthur Macário Lopes Gonçalves (vitoriense) e Leocádio Zeferino Bogea, deputados estaduais, representando o Baixo Mearim, em fins do Século XIX.

Major Cutrim (Pedro Nunes Cutrim), oficial da Guarda Nacional, chefe político na Vila do Mearim e deputado estadual no início do Século XX.

Antenor Américo Mourão Bogea, promotor público, deputado federal e jurista de escol (anos 1940 e 1950), e seu primo Raimundo Rodrigues Bogea (Manduca Bogea), deputado estadual (anos 1950 e 1960), ambos filhos de Grajaú, mas com raízes familiares em Vitória do Mearim, onde residiu o primeiro quando criança e onde os dois sempre tiveram grande prestígio político.

Pedro Braga Filho, médico, alto funcionário público e deputado federal nas décadas de 1950 e 1960, que, embora filho de Barra do Corda, associou seu nome à história de Vitória do Mearim após casar-se com uma das filhas de Antonio Nilo da Costa, chefe político local com quem realizou exitosa parceira política.

Leocádio de Andrade Pessoa, Arthur Bezerra de Menezes Lira e Manoel Lopes da Cunha, juízes de direito da Comarca do Baixo Mearim (entre 1875 e 1893) que chegaram a ser desembargadores do tribunal maranhense, tendo os dois últimos sido presidentes da Corte e tendo o último exercido o cargo de governador do Estado.

Luiz Cortez Vieira da Silva (vitoriense), juiz de direito do Baixo Mearim (1946) que chegou a ser desembargador.

Theodoro Gonçalves Neto (vitoriense), promotor público, juiz de direito, procurador geral do estado e membro, como juiz convocado, do Superior Tribunal de Justiça, no Amazonas, na 1ª metade do Séc. XX.

Urbano Santos da Costa Araújo, promotor público da Comarca do Baixo Mearim (1882) que foi governador do Estado do Maranhão, senador da República e vice-presidente da República por duas vezes, chegando a assumir a Presidência por um mês.

Benedito Ricardo Salazar, Ives Miguel Azar e José Joaquim Ramos Filgueiras, promotores públicos do Baixo Mearim (1ª metade do Séc. XX) que chegaram a ser desembargadores do tribunal maranhense, tendo o último sido presidente da Corte.

Arcelina Rodrigues Mochel, promotora pública (1940), que depois se destacou, no Rio de Janeiro, como líder feminista, membro do comitê central do Partido Comunista Brasileiro e vereadora do Distrito Federal.

César Augusto Marques, médico de profissão, historiador por vocação, que, a serviço, esteve na Vila do Mearim por duas vezes, nos anos 1860, ocasiões em que colheu preciosas informações sobre a história local, publicando-as pioneiramente a partir de 1870.

Manoel Correa do Lago e Dehork de Paula Gonçalves, generais do Exército Brasileiro (1ª metade do Sec. XX), vitorienses que se radicaram, respectivamente, no Rio de Janeiro e Manaus.

Trajano Galvão, o primeiro poeta negreiro do país, anterior a Castro Alves; Artur Lopes Gonçalves, sacerdote; Ana Bogéa Gonçalves, primeira professora normalista do município; Bartolomeu do Santos, o notável “Coxinho”, cantador de toadas de bumba-meu-boi, dentre outros.

Hodiernamente, Vitória continua revelando grandes personalidades e intelectuais. Podemos citar Washington Cantanhêde, promotor de justiça, historiador e escritor, o maior intelectual daquela gleba; Airton Marinho, artista plástico de renome no Maranhão; Agnor Lincoln da Costa, poeta e advogado; Paulo de Tarso Barros, escritor e poeta; Arimatéia Coelho, professor e poeta, dentre outros notáveis.


NO ANIVERSÁRIO DE VITÓRIA DO MEARIM, UMA MEMÓRIA SOBRE OS SÍMBOLOS MUNICIPAIS, 30 ANOS DEPOIS 

 

Há trinta anos, em solenidade realizada pela Câmara Municipal de Vitória do Mearim, então presidida por mim, eram apresentados os símbolos oficiais do Município.

A solenidade foi o cumprimento de uma obrigação imposta pela Lei Municipal Nº 7-A, de 1º de dezembro de 1990, que instituiu tais símbolos, cujo projeto tinha sido de minha iniciativa antes de ser eleito presidente da Câmara, em parceria com João Batista Jardim Borges (João Macário), que na Casa representava a região do Lago

Dr. Washington Luiz Cantanhede

Açu, ainda pertencente ao Município.

Decidiu-se pela data de 19 de abril de 1991 para a referida apresentação porque então se completariam os 160 anos de um movimento dos moradores mais destacados de Vitória do Mearim, em abril de 1831, traduzido por uma representação pela sua emancipação política, encaminhada à Câmara de São Luís, considerando que a região em que habitavam preenchia os requisitos legais para obter autonomia, pois, “dando sete eleitores, tinha maior número de fogos dos que os exigidos para a criação de qualquer vila”. A emancipação viria somente dois anos depois, por decisão do Conselho Geral da Província do Maranhão, adotada em sessão realizada no dia 19 de abril de 1833, mas a iniciativa dos vitorienses, dois anos antes, foi deveras importante para isso, pois verbalizara com sólidos argumentos o desejo de autonomia.

Se não tinha sido fácil, em 1990, obter a aprovação do projeto de lei instituindo os símbolos e sua efetiva conversão em lei (eu e meu colega João Macário éramos da bancada de oposição, minoritária; e a lei não recebeu sanção expressa do prefeito municipal, precisando ser promulgada pelo presidente da Câmara, vereador José Aguiar, depois de muita insistência minha), melhor sorte também não teve a sessão solene do Poder Legislativo para sua apresentação: foi boicotada pelos membros do Executivo, que não compareceram ao ato e ainda realizaram festividades paralelas, descumprindo a lei municipal que previu uma realização conjunta dos dois poderes locais para marcar o transcurso do aniversário do Município e dos 160 anos do movimento pela sua emancipação (artigo 19).

Embora parcialmente prejudicada, também, pela forte chuva que caiu sobre a cidade na tarde de 19 de abril de 1991, o comparecimento popular à solenidade não decepcionou. Em meio aos discursos proferidos pelos vereadores do grupo de oposição, pois os que apoiavam o prefeito e seu governo também não compareceram, ao som dos dobrados executados pela Banda Paroquial e com a presença do autor da letra e da música do hino municipal, Sr. José de Ribamar Duarte, vitoriense nascido no povoado Lapela, conhecido em São Luís como Tio Zeca, os símbolos foram apresentados.

O povo recuperou, então, a emoção e o fascínio que lhe causava aquela bandeira multicor utilizada com entusiasmo nos atos oficiais a partir de 1971, mas que, de meados dos anos 1980 até aquele momento (abril de 1991), não passava de uma pálida lembrança. Pálida, decrépita e distante, por sinal. É que remanescia um dos dois exemplares que foram confeccionados em 1971, mas estava desbotado, puído e com paradeiro ignorado.

O povo passou, desde então, a conviver diariamente com a evocação de sua própria história, representada pelo brasão emoldurado posto em local de destaque na Câmara Municipal; e também passou a ter um hino para cantar, do qual podia orgulhar-se, intitulado Soberano, composição de um conterrâneo em homenagem ao Rio Mearim e sua ribeira de histórias mil.

A bandeira começara a ser utilizada em 1971, quando era prefeito municipal o Sr. Cristóvão Dutra Martins, que mandou confeccioná-la em São Paulo, a cargo do heraldista Arcinoé Antônio Peixoto de Faria, e que obteve sua aprovação pela Câmara Municipal, em agosto daquele ano, embora sem apresentar, para isto, um projeto de lei, como era exigido. Esse símbolo, portanto, não fora instituído oficialmente. E, com o tempo e o descaso, acabou relegado ao esquecimento.

A restauração do brasão e da bandeira, esta contendo aquele, foi trabalho individual meu em um primeiro momento, socorrendo-me de algumas fotografias onde a bandeira aparecia parcialmente, de um texto com sua descrição heráldica (cedido por Dr. José de Ribamar de Matos, ex-prefeito) e de pesquisa em várias fontes, inclusive obras raras de referência, como a Grande Enciclopédia Luso-Brasileira. Ao final, e já com o auxílio artístico e o empenho característico do conterrâneo Airton Marinho, que elaborou o brasão em xilogravura e contratou experientes profissionais do bairro Madre Deus, em São Luís, foram confeccionados três exemplares bordados da bandeira. Um deles, com esmerado acabamento, que durante muito tempo ficou na Sala das Sessões da Câmara Municipal, dali foi depois retirado a pedido de um prefeito, a pretexto de mandar fazer outro igual, para nunca mais ser devolvido nem visto, tampouco saber-se aonde foi parar.

O hino, composto por Tio Zeca em dezembro de 1981 sob encomenda da administração municipal, não recebeu a importância devida. Instado por meu colega João Macário, que me propôs a apresentação de um projeto de lei criando o hino municipal, eu, que também já alimentava a ideia, sabedor da composição de autoria de Tio Zeca, procurei contactá-lo para obter uma cópia do trabalho, o que consegui mediante a ajuda de meu pai, Antônio Duarte Cantanhede, também músico e conhecido dele. A partitura obtida foi adaptada para cada instrumento musical pelo maestro Vicente Antônio Gonçalves (Vicente Braga), que, à frente da Banda Paroquial, já o executava naquele tempo. Sua letra é simples, de forte apelo popular – o que é muito bom.

A instituição dos símbolos era não só o cumprimento de uma determinação da Lei Orgânica do Município (artigo 5º), mas a restauração de um bem cultural menosprezado (bandeira e brasão nela contido) e um caso de justiça para com o conterrâneo Tio Zeca.

Apresentados esses símbolos, publicamente, na tarde do dia 19 de abril de 1991, o que se seguiu foi a generalização do seu uso até hoje, apesar da tentativa de eclipsá-los naquela ocasião, ou de eclipsar os responsáveis pela sua instituição. Já no dia 7 de setembro de 1991, presenciava-se em frente à Prefeitura Municipal, ao fim do tradicional desfile estudantil alusivo ao Dia da Pátria, o hasteamento da bandeira do Município simultaneamente à execução do seu hino, da forma como foram instituídos. Nas camisas do fardamento escolar, no timbre dos documentos oficiais locais, nos desfiles, nos jogos de futebol, nos feriados cívicos, nos cortejos fúnebres de autoridades ou ex-mandatários etc., é uma constante a presença do brasão ou da bandeira municipais e, dependendo do caráter festivo que o ato tenha, a execução do hino, do qual sobressai o refrão: Óh, gleba querida!/Teu nome é Vitória./És minha vida, és meu amor/E minha glória.” Há 30 anos, sem interrupção...

Estou muito feliz hoje, apesar do momento difícil que atravessamos. Em meio à pandemia de covid-19, que manifesta a sua face mais cruel no Brasil destes dois últimos meses, acabei de assistir, no facebook, a uma interessante releitura do hino, em ritmo de samba, cantado pelo nosso artista popular Edivaldo Brito, com acompanhamento de outros músicos da terra.

Vitória completa: trinta anos depois, os símbolos vitorienses são, definitivamente, do povo de Vitória do Mearim!

Washington Luiz Maciel Cantanhêde


HINO OFICIAL - O SOBERANO


"Vamos minha gente,
Alegres a cantar,
Todos de uma só vez,
passo a passo a caminhar
Vitoria do Mearim, teus filhos tem poder de te exaltar (Bis)
Ó gleba querida teu nome é VITÓRIA,
És minha vida, és meu amor e minha gloria (Bis)
Cidade Santa, Teu céu é cor d anil
És ribeirinha e tão admirada
Nos encanta este elo do Brasil
Rio Mearim soberano da baixada
Vitoria, Ó que terra abençoada.
Ó gleba querida teu nome é VITORIA,
És minha vida, és meu amor e minha gloria (Bis)
Tua a floresta é sempre verdejante
Tua paisagem é linda e faz sucesso
Tua bandeira desfraldada fulgurante
Teu lema é desenvolver o progresso
Vitoria do Mearim, teu hino cantaremos assim
Ó gleba querida teu nome é VITORIA,
És minha vida, és meu amor e minha gloria(Bis)

(Letra: José de Ribamar Duarte – *1924- +2005). Hino oficializado em 1991 através de Projeto de Lei do vereador Washington Cantanhêde. O autor, de apelido Tio Zeca, foi membro da Academia Arariense-vitoriense de Letras-AVL


BANDEIRA E BRASÃO 





sexta-feira, 16 de abril de 2021

LIÇÃO 3: DONS DE REVELAÇÃO



COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

O teólogo pentecostal Stanley Horton afirma que “a maioria dos estudiosos classifica os dons de 1 Coríntios 12.8-10 em três categorias: revelação, poder e expressão, [tendo] três dons em cada categoria”. Na lição desta semana estudaremos a respeito dos dons da “primeira categoria”: os de revelação. Estes são concedidos aos servos de Deus para o aconselhamento e orientação da Igreja do Senhor. – Os dons e revelação constituem parte da revelação de Deus, concedida ao homem salvo, para que, por eles, a “multiforme sabedoria” divina seja manifestada no meio da Igreja, e os crentes em Jesus sejam protegidos das sutilezas do Adversário e das maquinações humanas contra a fé cristã.

Sem a presença física de Cristo, após sua Ascensão aos céus, os salvos, reunidos em igrejas locais, precisam, de maneira indispensável, dos dons espirituais, tanto para cumprirem a Missão confiada por Cristo, quanto para lutar e vencer “as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais” (Ef 6.12). Sem eles, a igreja local não passa de uma comunidade humana, uma associação religiosa, como um “vale de ossos”, transformados em corpos com tecidos humanos, mas sem vida. Tem estruturas humanas, ministeriais, denominacionais, intelectuais, políticas e administrativas, mas não tem o poder de Deus em sua vida institucional. Os dons espirituais propiciam a provisão divina para a igreja cumprir a sua missão, concedida por Cristo, de proclamar o evangelho por todo o mundo e a toda a criatura.

 I. A PALAVRA DA SABEDORIA

1. Conceito. O termo palavra exprime uma manifestação verbal ou escrita. Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, sabedoria significa “discernimento inspirado nas coisas sobrenaturais e humanas”. A sabedoria abordada pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12.8a refere-se a uma capacitação divina sobrenatural para tomada de decisões sábias e em circunstâncias extremas e difíceis. De acordo com Estêvam Ângelo de Souza, “a palavra da sabedoria é a sabedoria de Deus, ou, mais especificamente, um fragmento da sabedoria divina, que nos é dada por meios sobrenaturais”. 

2. A Bíblia e a palavra de sabedoria. Embora na Antiga Aliança os dons espirituais não fossem plena e claramente evidenciados como na Nova, alguns episódios do Antigo Testamento vislumbram o quanto Deus conferia aos homens sabedoria do alto para executar tarefas ou tomar decisões. Um exemplo disso é a revelação e a interpretação dos sonhos de Faraó através de José, o filho de Jacó (Gn 41.14-41). Ele não apenas interpretou os sonhos de Faraó, mas trouxe orientações sábias para que o Egito se preparasse para o período de fome que estava para vir. A habilidade do rei Salomão em resolver causas complexas, igualmente, é um admirável exemplo de dom da sabedoria no Antigo Testamento (1Rs 3.16-28; 4.29-34).

No Novo Testamento podemos tomar como exemplo de palavra da sabedoria a exposição da Escritura realizada pelo diácono e primeiro mártir cristão, Estevão. O livro de Atos conta-nos que os sábios da sinagoga, chamada dos Libertos, “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At 6.9,10). 

3. Uma liderança sábia. A palavra de sabedoria é de grande valor na tarefa do aconselhamento pessoal e em situações que demandam uma orientação no exercício do ministério pastoral. Entretanto, tenhamos cuidado para não confundir a manifestação desse dom com o nosso desejo pessoal. Lembremo-nos de que Deus manifesta os dons em nossas vidas segundo o conselho da sua sabedoria, não da nossa. Tenhamos maturidade e cuidado no uso dos dons! 

Os “dons de revelação” aparecem como categoria de grande valor e necessidade, no meio das igrejas locais. No tempo de Paulo, havia confusões, mistificações doutrinárias, ensinos heréticos e tantos outros tipos de informações, que chegavam aos ouvidos dos crentes, que muitos se desviaram, iludidos pelos “ventos de doutrina” (Ef 4.14). O gnosticismo ameaçava a integridade da fé cristã. Os judaizantes queriam impor seus ensinos legalistas e ultrapassados. A igreja precisava de recursos espirituais sobrenaturais para não ser esmagada pelas heresias, muitas delas travestidas de verdades absolutas. Só a revelação de Deus, manifestada de forma incisiva, poderia evitar a derrocada do cristianismo.

E, nos dias presentes, será que não há necessidade da revelação especial de Deus, através de sua palavra e de dons ou carismas que façam a diferença, para que os cristãos saibam discernir o “joio do trigo”? Certamente hoje, mais do que nunca, a igreja de Jesus, em toda a parte, necessita desses recursos. Os dons de revelação podem identificar a origem, os meios e os propósitos de muitas falsas doutrinas que surgem a cada dia, no meio evangélico. Pela revelação sobrenatural, pode-se desmascarar os falsos pastores, os “obreiros fraudulentos”, “de torpe ganância”.

É parte da sabedoria de Deus, com a finalidade de propiciar entendimento, na ministração da palavra ou pregação; é de grande valor na tarefa de aconselhamento, em situações que demandam uma orientação sábia, notadamente no ministério pastoral. É de fundamental importância no exercício da liderança, da administração eclesiástica, na separação de obreiros, ultrapassando os limites do saber intelectual ou humano. Jesus agradeceu ao Pai por essa revelação: “Naquela mesma hora, se alegrou Jesus no Espírito Santo e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve” (Lc 10.21).

“Esse dom proporciona, pela operação do Espírito Santo, uma compreensão (cf. Ef 3.4) da profundidade da sabedoria de Deus, ensinando a aplicá-la, seja no trabalho seja nas decisões no serviço do Senhor, e a expô-la a outros, de modo a ser bem entendida”.1 Quando os que dirigem a igreja local contam com esse dom, dispõem de uma diversidade de serviços ou ministérios que dinamizam o trabalho da igreja (1 Co 12.28) e a edificação da igreja é feita com sabedoria (1 Co 3.10). Quando surgem problemas, no meio da congregação, as soluções são encontradas com a ajuda do Espírito Santo (At 6.1-7; 15.11-21).

Paulo recebeu essa visão, de que há uma sabedoria sublime, quando escreveu aos coríntios, dizendo: “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Co 2.9-11).

Essa sabedoria é de altíssimo nível, e transcende os limites da sabedoria natural ou humana. Não se adquire nas escolas seculares, nem também nas escolas teológicas ou filosóficas. Ela é concedida por Deus, a quem Ele quer, visando atender à necessidade da igreja, ou individual, de algum servo ou serva sua, principalmente em ocasiões em que o saber natural é insuficiente para a tomada de decisões, ou resoluções difíceis.

No Antigo Testamento, temos alguns exemplos marcantes dessa revelação da sabedoria de Deus. Vemos tal sabedoria na construção do Tabernáculo (Êx 36.1,2). José, filho de Jacó, teve momentos especiais em sua vida, em que demonstrou ter a sabedoria concedida por Deus, em situações extremamente significativas. Na prisão, interpretou sonhos de servos de Faraó, os quais se cumpriram plenamente. Chamado ao palácio real, diante de todos os sábios, adivinhos e conselheiros do rei, interpretou os sonhos proféticos que Deus concedera ao monarca egípcio, e, ainda por cima, deu instruções e consultoria gratuita sobre planejamento, economia, contabilidade e finanças a Faraó. Se não fosse a sabedoria do Espírito de Deus, jamais o jovem hebreu teria tamanha capacidade para interpretar os misteriosos sonhos das vacas gordas e das vacas magras, e foi elevado à posição de Governador do Egito (cf. Gn 41.14-41).

A proverbial sabedoria de Salomão era, sem dúvida alguma, manifestação da sabedoria de Deus, para a resolução de “causas impossíveis”. O caso das duas mulheres, que disputavam a mesma criança demonstra tal capacidade, proveniente do Espírito de Deus (1 Rs 3.16-28). Antes de desviar-se dos caminhos do Senhor, em sua velhice, Salomão foi um exemplo como beneficiário da sublime sabedoria de Deus. “E deu Deus a Salomão sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios” (1 Rs 4.29,30).

Em o Novo Testamento, há diversas referências quanto à aplicabilidade dessa sabedoria divina. Paulo exorta aos colossenses a que saibam transmitir a palavra aos ouvintes, dizendo: “Andai com sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder a cada um” (Cl 4.5,6). A falta dessa sabedoria de Deus pode causar graves prejuízos à pregação do evangelho. Há pregadores, que usam o púlpito, em eventos evangelísticos, de maneira arrogante e prepotente. Houve um que dizia, para uma grande multidão, que os pastores eram um bando de trambiqueiros; e que a igreja (denominação da qual fazia parte) estava ultrapassada. E dizia, diante de pessoas não crentes; “Não sei por que Deus não tira essa velharia de cena”. A sabedoria desse tipo de pregador não é do Espírito Santo. “Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica” (Tg 3.15).

Na vida de Jesus, como o “Filho do Homem”, por diversas vezes, ele demonstrou essa sabedoria vinda do Alto. Ao chegar à sua pátria, causou profunda admiração em seus conterrâneos, por causa da sabedoria como que ministrava a mensagem. “E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam e diziam: Donde veio a este a sabedoria e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas? E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio, pois, tudo isso?” (Mt 13.54-56 — grifo nosso).

Essa mesma sabedoria tem sido identificada, na vida de irmãos humildes, ao longo da História da Igreja. Há casos em que pessoas de pouca instrução formal, usadas por Deus, transmitem mensagens de profundo significado e conteúdo espiritual, que provocam admiração nos que o ouvem. Em Natal, décadas atrás, o folclorista Luís da Câmara Cascudo, um dos ícones da literatura nacional, estava num culto, na Assembleia de Deus. Foi dada oportunidade a um crente muito humilde, que, cheio do Espírito Santo, entregou a mensagem na unção de Deus. O ilustre visitante não se conteve, e exclamou: “Esse homem prega e mostra o céu por dentro!”.

Na vida da igreja local, há casos interessantes, do exercício da sabedoria divina, pois Deus é o mesmo. Um novo convertido, homem do campo, recebeu a visita de um neto, que era formado em Medicina, em faculdade famosa. Sabendo que o avô houvera aceitado a Cristo, passou a criticá-lo com arrogância, dizendo que, em seus estudos houvera aprendido muitas coisas, inclusive que Deus não existe, que o homem proveio de um macaco, e, depois de desfilar outras informações do que aprendera, perguntou ao velho crente: “E, nessa crença, o que o senhor aprendeu?”. O novo convertido, que nem sequer tivera tempo de conhecer bem a Bíblia, respondeu ao neto ateu: “Eu aprendi a dizer: para trás de mim, Satanás!”. O materialista despediu-se, dizendo que não adiantava lutar “contra esses crentes...”. É interessante que anotemos que o dom da palavra da sabedoria não faz do seu portador uma pessoa mais sábia do que as outras. Diz Horton: “O Espírito não torna a pessoa sábia por meio deste dom, nem significa que a pessoa mais tarde não possa cometer erros (cf. o exemplo do rei Salomão que, no fim da vida, não só errou, mas pecou).”

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Professor, reproduza no quadro o esquema da página seguinte. Utilize-o para introduzir a lição, pois a partir desta estudaremos detalhadamente os dons, então é importante que os alunos conheçam a classificação geral dos nove dons descritos no capítulo 12 de 1 Coríntios. Ao explicar o quadro, ressalte a semelhança que existe entre os respectivos dons. Conclua explicando que todos os dons, independentemente da sua classificação, são importantes e necessários para a edificação do Corpo de Cristo.

  II. A PALAVRA DA CIÊNCIA  

1. O que é? Este dom muito se relaciona ao ensino das verdades da Palavra de Deus, fruto do resultado da iluminação do Espírito acerca das revelações dos mistérios de Deus conforme aborda Stanley Horton, em sua Teologia Sistemática (CPAD). Este dom também se relaciona à capacidade sobrenatural concedida pelo Espírito Santo ao crente para este conhecer fatos e circunstâncias ocultas. 

2. Sua função. O dom da palavra da ciência não visa servir a propósitos triviais, como o de descobrir o significado dos tecidos do Tabernáculo ou a identidade da mulher de Caim, etc. Isto é mera curiosidade humana, e o dom de Deus não foi dado para satisfazê-la. A manifestação sobrenatural deste dom tem a finalidade de preservar a vida da igreja, livrando-a de qualquer engano ou artimanha do maligno. 

3. Exemplos bíblicos da palavra da ciência. Ao profeta Eliseu foram revelados os planos de guerra do rei da Síria. Quando o rei sírio pensou em atacar o exército de Israel, surpreendendo-o em determinado lugar, o profeta alertou o rei de Israel sobre os planos inimigos (2Rs 6.8-12). Outro exemplo foi a revelação de Daniel acerca do sonho de Nabucodonosor, quando Deus descortinou a história dos grandes impérios mundiais ao profeta (Dn 2.2,3; 17-19). Em o Novo Testamento, esse dom foi manifesto quando o apóstolo Pedro desmascarou a mentira de Ananias e Safira (At 5.1-11). O dom da palavra da ciência não é adivinhação, mas conhecimento, concedido sobrenaturalmente, da parte de Deus. 

A Palavra do Conhecimento pode ser dado por sonho, por visão, por revelação especial, por voz de Deus na mente, operando na esfera humana, no seio da igreja; sendo um conhecimento sobrenatural propiciado por Deus. Paulo fala de “todos os mistérios e toda a ciência” (1 Co 13.2), que só têm valor se for sob a graça do amor de Deus.   Esse dom revela coisas que não são percebidas pela visão natural (ver 1 Sm 16.7; Jo 2.24,25). É uma revelação sobrenatural do Espírito Santo ao ser humano de fatos e informações que seriam impossíveis de serem conhecidos se não fossem liberados da mente de Deus e pode envolver pessoas, lugares e objetos. É uma palavra de conhecimento do presente ou de alguma coisa do passado que Deus quer revelar, para que seu nome seja engrandecido e glorificado. Isso só pode acontecer pela ação do Espírito Santo. Este dom permite que a pessoa identifique fatos recentes, como cumprimento de profecias bíblicas antigas. Somente o conhecimento da Palavra de Deus, permitirá que a pessoa reconheça uma profecia e o seu cumprimento. Exemplos: • O jovem Samuel, foi chamado por Deus e recebeu uma palavra de conhecimento sobre o futuro da família do sacerdote Eli. I Samuel 3:1-14. • Mais tarde, Samuel recebeu a revelação de que Saul seria ungido rei de Israel, e que ele estava escondido entre as bagagens. I Samuel 9:15-16 e I Samuel 10:22. • O profeta Eliseu preveniu o rei de Israel para não seguir por determinado caminho, por onde o rei da Síria passaria. I Reis 6:8-12. • Eliseu prediz abundância de comida. II Reis 7:1. • Eliseu recebeu uma palavra sobre Geazi, seu ajudante, que desobedeceu recebendo presentes do general sírio. II Reis 5:25-26. O profeta Eliseu sabia os planos de guerra do rei da Síria, mesmo à distância. Quando o rei pensava em atacar o exército de Israel de surpresa, em determinado lugar o profeta de Deus alertava ao rei de Israel dos planos do inimigo, por diversas vezes. O rei sírio ficou intrigado e desconfiou de que haveria um traidor no meio de suas tropas. Mas um dos servos do rei o fez saber o mistério: “E disse um dos seus servos: Não, ó rei, meu senhor; mas o profeta Eliseu, que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas na tua câmara de dormir” (2 Rs 6.8-12). Era um conhecimento muito mais aperfeiçoado do que todos os atuais sistemas de informação, com uso de tecnologia de ponta, usados no mundo atual. Eliseu não tinha informantes, nem sonhava com equipamentos de comunicação ou de satélites. Era a mensagem divina, diretamente do Espírito Santo ao seu coração. Quando o profeta Samuel disse a Saul que as jumentas do pai já haviam sido encontradas, foi pela ciência ou conhecimento de Deus (1 Sm 9.15-20).

A revelação dada a Daniel acerca dos impérios mundiais demonstra quão grande é a sabedoria de Deus, como recurso divino para ocasiões especiais, em que de nada adianta a sabedoria humana, ou os conhecimentos adquiridos pela experiência de quem quer que seja. Quis Deus utilizar-se de um rei estrangeiro ao seu povo para revelar segredos sobre acontecimentos que teriam lugar na História, na ocasião, e para o futuro. A visão de Nabucodonosor é uma referência para a Escatologia, com base nas interpretações dadas pelo Altíssimo a Daniel, seu servo, que estava vivendo naquele País, com uma missão do mais alto significado.

Trata-se de um caso bem emblemático do que significa receber o conhecimento, ou a revelação de Deus. O rei tivera um sonho muito estranho, que o perturbara sobremaneira. Pela manhã, reuniu “os magos, e os astrólogos, e os encantadores, e os caldeus, para que declarassem ao rei qual tinha sido o seu sonho; e eles vieram e se apresentaram diante do rei. E o rei lhes disse: Tive um sonho; e, para saber o sonho, está perturbado o meu espírito” (Dn 2.2,3). Tudo em vão. Ninguém soube interpretar o sonho, por uma razão muito óbvia: o rei não se lembrava do sonho! Furibundo, o rei mandou matar todos os sábios da Babilônia, pelo fato de não saberem interpretar um sonho de que não tiveram sequer o relato de sua visão.

Mas Daniel, que estava no reino, em posição de destaque, pediu ao mensageiro do rei que desse um tempo para que buscassem a interpretação. Seu pedido foi atendido, e, contando o grave problema a seus três companheiros, foram orar ao Deus dos céus. Diz a Bíblia: “Então, Daniel foi para a sua casa e fez saber o caso a Hananias, Misael e Azarias, seus companheiros, e pediu que orassem a Deus, “para que pedissem misericórdia ao Deus dos céus sobre este segredo, a fim de que Daniel e seus companheiros não perecessem com o resto dos sábios da Babilônia. Então, foi revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; e Daniel louvou o Deus do céu” (Dn 2.17-19). De maneira didática, com precisão histórica, Daniel interpretou o sonho, mostrando ao rei o desenrolar dos acontecimentos de sua época e de eventos futuros. Foi o conhecimento de Deus e não humano, lógico ou natural.

Esse dom revela coisas que não são percebidas pela visão natural (ver 1 Sm 16.7; Jo 2.24,25). Na vida prática da igreja, algumas experiências demonstram que o dom da palavra da ciência pode ser dado nos tempos presentes. Num Círculo de Oração, em Natal-RN, as irmãs estavam tranquilas, orando e louvando a Deus, numa congregação, anos atrás. Apresentou-se um homem, muito bem vestido, de paletó de tecido fino, sapato lustroso, gravata e Bíblia debaixo do braço. Ao ser interpelado, para ser apresentado, disse que era um servo de Deus, que estava de passagem por ali, e que viera visitar o trabalho. Acrescentou que era “filho do Ministro da Educação, Sr. Jarbas Passarinho”. A apresentação do “ilustre” visitante foi feita, e as irmãs de imediato quiseram ouvir uma palavra por ele.

Uma humilde serva de Deus, num lampejo divino, disse à dirigente: “Não dê oportunidade a ele. E um mentiroso, falso e procurado pela polícia...!”. Foi um mal-estar, pois a dirigente já ia anunciar a oportunidade ao visitante. Mas, diante da advertência, não o fez. Foi criticada por um santo irmão, que achou uma falta de respeito a um “servo de Deus”, “filho de uma autoridade pública”. Esse também convidou o visitante para ir à sua casa, num gesto de desagravo e de hospitalidade. No caminho, dizia ao visitante: “Essas irmãs não têm sabedoria”. E pediu desculpas pelo constrangimento. Recebeu-o em casa, apresentou à família, e ofereceu dormida ao desconhecido.

Pela madrugada, alguém bateu à porta. O anfitrião foi abrir, e deparou-se com policiais federais, apontando metralhadoras para sua casa, e dizendo que ele estava preso, pois dera acolhida a um criminoso, estelionatário, que vinha sendo rastreado em sua viagem. Quem revelaria tal coisa a uma simples serva de Deus? Sem dúvida, foi a operação do dom da ciência, num momento crucial. Este exemplo é prova de que Deus não muda. Agiu nos tempos antigos. E age em todos os tempos.

É preciso entender a diferença entre o dom da sabedoria e o dom da palavra da ciência. A ciência é o conhecimento profundo, concedido por Deus, em relação às coisas divinas ou às coisas dos homens, que estão além do conhecimento natural. O dom da sabedoria refere-se à utilização do conhecimento em questões práticas da vida. Conhecimento sem sabedoria é puro exercício intelectual infrutífero e diletante. O cristão deve ter conhecimento de Deus para viver o cristianismo de forma concreta, no seu dia a dia.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Uma Palavra de Sabedoria

Trata-se de uma palavra (uma proclamação, uma declaração) de sabedoria dada para satisfazer a necessidade de alguma ocasião [...]. Não depende da capacidade humana nem da sabedoria natural, pois é uma revelação do conselho divino. Mediante esse dom, a percepção sobrenatural, tanto da necessidade como da Palavra de Deus, traz a aplicação prática daquela Palavra [...]ao problema do momento.

Porque é uma palavra de sabedoria, fica claro que é concedida apenas o suficiente para aquela necessidade. Este dom não nos enaltece para um novo nível de sabedoria, nem nos torna impossibilitados de cometer enganos. [...]. Às vezes, este dom transmite uma palavra de sabedoria para orientar a Igreja, assim como em Atos 6.2-4; 15.13- 21. É possível, também, que cumpra a promessa dada por Jesus, que daria 'boca de sabedoria a quem não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem' (Lc 21.15). A prova de que Jesus falava em um dom sobrenatural (a palavra de sabedoria) é comprovada, quando proibiu a premeditação do que diriam nas sinagogas ou diante dos tribunais (Lc 21.13,14). Isso certamente foi cumprido pelos apóstolos e por Estêvão (At 8.4-14,19-21, 6,9,10)" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 294).

 III. DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

1. O dom de discernir os espíritos. É uma capacidade sobrenatural dada por Deus ao crente para discernir a origem e a natureza das manifestações espirituais. De acordo com o termo grego diakrisis, a palavra discernir significa “julgar através de”; “distinguir”. Ela denota o sentido de “se penetrar da superfície, desmascarando e descobrindo a verdadeira fonte dos motivos”. Stanley Horton afirma que este dom “envolve uma percepção capaz de distinguir espíritos, cuja preocupação é proteger-nos dos ataques de Satanás e dos espíritos malignos” (cf. 1Jo 4.1). 

2. As fontes das manifestações espirituais. Ao longo das Escrituras podemos destacar três origens das manifestações espirituais no mundo: Deus, o homem e o Diabo. Uma profecia, por exemplo, pode ser fruto da ordem divina ou da mente humana ou ainda de origem maligna. Como saber? Aqui, o dom de discernir os espíritos tem o papel essencial de preservar a saúde espiritual da congregação. Segundo nos ensina o pastor Estêvam Ângelo, o “discernimento de espíritos não é habilidade para descobrir as faltas alheias”. O dom não é uma permissão para julgar a vida dos outros. 

3. Discernindo as manifestações espirituais. A Palavra de Deus nos ensina que os espíritos devem ser provados (1Jo 4.1). Toda palavra que ouvimos em nome de Deus deve passar pelo crivo das Sagradas Escrituras, pois o Senhor Jesus nos advertiu sobre os falsos profetas. Ele ensinou-nos que os falsos profetas são conhecidos pelos “frutos que produzem”, isto é, pelo caráter (Mt 7.15-20). Jesus conhece o segredo do coração humano, mas nós não, e por isso precisamos do Espírito Santo para revelar-nos a verdadeira motivação daqueles que falam em nome do Senhor. O apóstolo João nos advertiu acerca do “espírito do anticristo” que já opera neste mundo (1 Jo 4.3). 

Como as palavras da ciência e da sabedoria, o dom de discernir os espíritos é uma capacitação sobrenatural do Espírito Santo que permite conhecermos a natureza e o caráter dos espíritos. Ajuda o crente a separar o falso do verdadeiro, o puro do impuro, o santo do pecador, o joio do trigo e, especialmente, a intenção dos corações (Leia 1 João 4.1). a. Exemplo do Antigo Testamento: – O profeta Elizeu, homem de Deus, desmascarou o espírito de engano em seu servo que desejou tomar de Naamã um talento de prata e duas mudas de roupa, como pagamento da cura de sua lepra. O pobre Geazi herdou apenas a lepra. Os que compram e vendem os dons de Deus morrem leprosos, mesmo que esta doença não seja visível no corpo, inunda a alma com a imundície deste pecado, chamado de simonia (2 Reis 5.20-27). b. Exemplo do Novo Testamento:- É no Novo Testamento que este dom se manifesta em todo o seu vigor, revelando os espíritos maus e enganadores dos últimos tempos. Em Atos 16.16-18, Paulo enfrentou uma situação na qual precisou discernir os espíritos. Ele conheceu a origem daquela bajulação e expulsou o demônio em nome de Jesus Cristo. Os crentes precisam exercer este dom na atualidade, quando o espírito de mentira está em muitos lábios, tanto ou mais que nos dias dos apóstolos.

Esta habilidade conferida pelo Espírito Santo para reconhecer a identidade dos espíritos que estão envolvidos nas atividades terrenas, bons ou maus. É um dom que traz clareza a igreja do Senhor, traz a luz as confusões e orienta. Tem como propósito proteger, guardar, guiar e alimentar os Filhos de Deus. (Atos 16.16-18). Hoje estamos passando por manifestações sobrenaturais e muitas vezes o povo de Deus não sabe de onde vem, se de Deus ou do diabo. Nem todo milagre está vindo de Deus pois Satanás também é um espírito sobrenatural. Este dom não é liberado para julgamento do próximo (Mt 7.1), nem para achar falhas de caráter nas pessoas, mas unicamente para discernir os espíritos. Não se engane, quem possui esse dom não fica a tentar conhecer as pessoas interiormente. É uma farsa! Este dom é acompanhado pela habilidade divina para resistir aos espíritos e sair vencedor.

Somos advertidos contra os falsos profetas. Devemos prestar atenção para não sermos enganados ou nos deixar impressionar por eles. Profetas são aqueles que preveem as coisas que vão acontecer. Existem alguns, mencionados no Antigo Testamento, que tinham a pretensão de fazer previsões, sem dar nenhuma garantia, e os acontecimentos desmentiram as suas pretensões; dentre eles, estão Zedequias (1 Rs 22.11) e um outro Zedequias (Jr 29.21). Os profetas também ensinavam ao povo o seu dever, de modo que os falsos profetas mencionados aqui também eram falsos mestres. Cristo, que além de Messias era um Profeta e um Mestre enviado por Deus com a missão de enviar outros mestres que com Ele aprendessem, está nos advertindo a prestar atenção nos impostores. Ao invés de terem a pretensão de curar as almas com tuna doutrina saudável, eles não fazem mais do que envenená-las. Paulo cita como exemplo digno de ser seguido os crentes de Beréia, os quais conferiam toda palavra de Paulo nas Escrituras. Aqui está uma grande necessidade da igreja hoje – muitos crentes são “analfabetos” bíblicos. Esta é a causa de tantas heresias infiltradas em nosso meio. Sem dúvida, o dom discernir os espíritos é uma urgência hoje, pois esta é uma das maneiras pelas quais os discípulos de Cristo poderão ser desviados do caminho ao céu, o que torna o fato uma advertência necessária. Tomai cuidado, conservai-vos longe, não tende nada a ver com pseudo-profetas, com profetas falsos. Até mesmo é loucura parar e discutir com eles. Pois, eles são profetas falsos. Falsificam, deliberadamente, a Palavra de Deus. Eles colocam suas próprias mentiras e a sabedoria de pessoas falíveis no lugar da verdade eterna. Chegam, sem serem convidados, sem chamado. Têm, como prática, ir àquelas pessoas que são membros duma igreja, com a intenção deliberada de induzi-las a abandonarem a verdade. São sábios em sua própria presunção e nas formas do engano. Chegam numa forma muito humilde, na vestimenta da inocência e inofensividade. Confessam ter autorização do próprio Deus, e são adeptos de fingida amabilidade. Mas seu verdadeiro caráter se mostrará depois, visto que, por inclinação e treinamento, são lobos vorazes. Sua natureza é devorar. São gananciosos por dinheiro, ambiciosos por poder, mas, acima de tudo, são ansiosos para destruir almas. São assassinos de almas humanas.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Discernimento de espíritos

A expressão inteira, no grego, apresenta-se no plural. Este fato indica uma variedade de maneiras na manifestação desse dom. Por ser mencionado imediatamente após a profecia, muitos estudiosos o entendem como um dom paralelo responsável por 'julgar' as profecias (1 Co 14.29). Envolve uma percepção capaz de distinguir espíritos, cuja preocupação é proteger-nos dos ataques de Satanás e dos espíritos malignos (cf. 1 Jo 4.1). 0 discernimento nos permite pregar a Palavra de Deus e todos os demais dons para liberar o campo à proclamação plena do Evangelho" (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 475).

   CONCLUSÃO

A Igreja de Jesus necessita dos dons de revelação para discernir entre o certo e o errado, entre o legítimo e o falso. Os falaciosos ensinos e as manifestações malignas podem ser desmascarados pelo dom do discernimento dos espíritos. Que Deus conceda à sua igreja dons de revelação para não cairmos nas astutas ciladas do Maligno. 

A Igreja de Jesus necessita, nestes últimos dias, mais do que nunca, da revelação profunda das coisas divinas, para discernir entre o certo e o errado; entre o legítimo e o falso, no que respeita às manifestações espirituais. Em determinados programas de TV, de responsabilidade de igrejas ou de determinados pregadores, existem heresias absurdas, como a chamada teologia da prosperidade; o “cair no espírito”; “maldição hereditária” para o salvo em Cristo; “teísmo aberto” e outras manifestações heréticas, que, a princípio, têm aparência de serem genuínas, e levam muitas pessoas incautas, que não leem a Bíblia, a interessarem-se por tais ensinamentos espúrios. Que o Senhor conceda à sua igreja os dons de revelação a muitos crentes, incluindo líderes, para presidirem a igreja local com segurança espiritual e doutrinária.

REFERÊNCIAS

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Candeias. V. 4, p. 605.

LIÇÕES BÍBLICAS. 2º Trimestre 2021 - Lição 2. Rio de Janeiro: CPAD, 11, abr. 2021.

LIMA, Elinaldo Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.