COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos o
verdadeiro propósito dos dons espirituais concedidos por Deus à sua Igreja. Os
dons do Espírito Santo são recursos imprescindíveis do Pai para os seus filhos.
O seu propósito é edificar-nos e unir-nos, fortalecendo assim a Igreja de
Cristo (1 Tm 3.15). – A experiência da
vida cristã indica que grande parte das pessoas, nas igrejas pentecostais, não
sabe lidar muito bem com os recursos espirituais que Deus coloca à disposição
dos crentes. A começar pelo batismo com o Espírito Santo, há uma confusão de ideias
sobre sua natureza, a forma de receber, e, mais ainda, quanto à sua finalidade
ou propósito. Há quem pense que o cristão é batizado para falar línguas.
Quando, na verdade, o falar em línguas, em princípio, é um sinal da experiência
do recebimento do batismo com o Espírito Santo, e este, uma bênção distinta da
salvação, concedida para que o cristão tenha poder para testemunhar com
eficácia a mensagem do evangelho (At 1.8). Os dons espirituais não são
distribuídos pela igreja, mas pelo Espírito Santo, conforme sua vontade e seus
propósitos soberanos (1Co 12.11). Lembre-se: Você não recebe dons pelos seus próprios
méritos, não é recompensa! O apóstolo Paulo usou quatro verbos-chave que
ilustram a soberania de Deus na distribuição dos dons espirituais: O Espírito
Santo distribui (1Co 12.11), Deus dispõe (1Co 12.18), Deus coordena (1Co 12.24)
e Deus estabelece (1Co 12.28). Do começo ao fim Deus é soberano nesse negócio!
Portanto, o propósito dos dons não é para a exaltação de quem o exerce, mas
para o serviço aos demais membros do corpo e tudo para a glória de Deus.
I. OS DONS NÃO SÃO PARA ELITIZAR O CRENTE
1. A igreja coríntia. A Igreja em Corinto localizava-se numa cidade comercial e próxima do
mar, sendo uma das mais importantes do Império Romano. Corinto era uma cidade
economicamente rica, porém marcada pelo culto idolátrico. Durante a segunda
viagem missionária de Paulo, a igreja recebeu a visita do apóstolo (At
18.1-18). Por conhecer muito bem a comunidade cristã em Corinto foi que o
apóstolo dos gentios tratou, em sua Primeira Epístola dirigida àquela igreja,
sobre a abundância da manifestação dos dons do Espírito, chegando a afirmar
daquela igreja que "nenhum dom" lhe faltava (1 Co 1.7.)
2. Uma igreja de muitos dons,
mas carnal. Os dons do Espírito concedidos
por Deus à igreja de Corinto tinham por finalidade prepará-la e santificá-la
para o serviço do evangelho: a proclamação da Palavra de Deus naquela cidade.
Todavia, além de aquela igreja não usar corretamente os dons que recebera do
Pai, tinha em seu meio divisões, inveja, imoralidade sexual, etc. Como pode uma
igreja evidentemente cristã ser ao mesmo tempo carnal e imoral? Por isso Paulo
a chama de carnal e imatura (1 Co 3.1,3). Com este relato, aprendemos que as
manifestações espirituais na igreja local não são propriamente indicadoras de
seriedade, espiritualidade e santidade. Uma igreja onde predominam a inveja,
contenda e dissensões, nem de longe pode ser chamada de espiritual, e sim de
carnal.
3. Dom não é sinal de superioridade
espiritual. Muitos creem erroneamente que os
irmãos agraciados com dons da parte de Deus são, por isso, mais espirituais que
os outros. Todavia, os dons do Espírito são concedidos pela graça de Deus. Por
ser resultado da graça divina, não recebemos tais dons por méritos próprios,
mas pela bondade e misericórdia de Deus. Que a mensagem de Jesus possa ressoar
em nossa consciência e convencer-nos de uma vez por todas de que os dons não
são garantia de espiritualidade genuína: "Muitos me dirão naquele Dia: Senhor,
Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos
demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi
abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a
iniquidade" (Mt 7.22,23).
A igreja de Corinto, na
Grécia, possuía praticamente todos os dons espirituais (cf. 1 Co 1.7), mas o
apóstolo Paulo, em sua primeira carta àquela igreja, fez uma referência nada
desejável àqueles irmãos. “E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais,
mas como a carnais, como a meninos em Cristo” (1 Co 3.1). Um verdadeiro paradoxo
à primeira vista. Uma igreja que possuía todos os dons, com crentes batizados
com o Espírito Santo; uns falavam línguas, outros profetizavam; outros
interpretavam; outros tinham dons de curas e milagres; outros possuíam muito
conhecimento espiritual, mas Paulo lhes escreve, demonstrando que, em sua
avaliação, eles não eram tão espirituais quanto pareciam ser, pelo fato de
terem tantos dons! Foi mais contundente, dizendo que eles eram “carnais” ou
“meninos em Cristo”! Seria motivo para perguntarem a Paulo: “Como pode, pastor
Paulo, uma coisa dessas? O senhor diz, no início de sua carta (1.7), que nenhum
dom falta à igreja, e, poucos parágrafos depois, diz que esta igreja é formada
de carnais e meninos em Cristo?”
Talvez, nem tal
pergunta foi feita, pois a resposta sobre sua avaliação da igreja de Corinto
foi dada logo a seguir, naquele trecho da missiva do apóstolo, para não deixar
dúvida quanto à sua afirmação desagradável: “porque ainda sois carnais, pois,
havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois, porventura, carnais
e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro:
Eu, de Apoio; porventura, não sois carnais?” (1 Co 3.3,4). Não poderia haver uma
igreja mais espiritual do que aquela, mas, infelizmente, não poderia haver
crentes mais carnais do que aqueles. Se fosse nos dias atuais, algum “apóstolo”
ou “bispo” se sentiria muito vaidoso em ser pastor de tal congregação.
Entre eles havia
crentes invejosos, outros que promoviam contendas e dissensões, lançando irmãos
contra irmãos. Certamente, eles não entendiam bem a natureza e o propósito dos
dons espirituais para a igreja. Imaginavam, como acontece hoje, que possuir um
dom espiritual é motivo para considerar-se superior aos outros; era razão para
ser consagrado ao ministério, para ser presbítero ou ministro; quem sabe, havia
irmãs de oração, que viviam profetizando, com a finalidade de dirigir a vida do
pastor ou de outras pessoas; quem sabe, ainda, havia quem sapateasse na igreja,
ou saísse marchando ou correndo, para lá e para cá, a fim de chamar a atenção
para sua espiritualidade.
Havia algo pior.
Divisão dentro da própria igreja. Havia grupos, partidos, “igrejinhas”,
“panelinhas” e grupinhos de partidários de Apoio, de Pedro, de Paulo e até “de
Cristo”. Aliás, este último grupo ou partido era o mais carnal de todos. Eram
do tipo de crente que, hoje, diz: “Eu não dou satisfação a ninguém. Eu não
obedeço a homem’, mas só a Cristo”. São os que não obedecem aos pastores, ao
dirigente da igreja, principalmente quando esses querem corrigir excessos de
manifestações ditas espirituais no uso de dons.
Como Paulo não era o
pastor titular da igreja, mas seu fundador, e vivia distante por força de seu
ministério missionário, deve ter tomado conhecimento através de informações
consistentes quanto ao comportamento da igreja. E por carta precisou exortá-los
a que não continuassem na prática de comportamentos contrários à sã doutrina e
ética no uso dos dons espirituais. Assim, é importantíssimo que os líderes de
igrejas promovam o ensino bíblico quanto à origem, a natureza e o propósito dos
dons espirituais. Este comentário tem essa finalidade, fornecendo análise e
subsídios para o ensino sobre o propósito dos dons espirituais
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para
introduzir o primeiro tópico da lição, divida a classe em dois grupos. Depois,
escreva no quadro as seguintes indagações: "0 que precisamos fazer para
receber os dons espirituais?" "A santidade é condição para o
recebimento dos dons?" Cada grupo deverá ficar com uma questão. Dê alguns
minutos para que os alunos discutam as questões. Em seguida reúna a todos
formando um único grupo. Peça a um representante de cada grupo fazer suas
considerações sobre a sua questão. Ouça os alunos com atenção. Depois, explique
que os dons espirituais são habilidades concedidas pelo Espírito Santo para
edificação da igreja. Para receber estas habilidades basta crer e pedir com fé.
Os dons são presentes divinos e fruto da misericórdia do Pai. É graça de Deus!
II. EDIFICANDO A SI MESMO E AOS OUTROS
1. Edificando a si mesmo. Paulo diz que quem "fala
língua estranha edifica-se a si mesmo" (1 Co 14.4). O apóstolo estimulava
os crentes da igreja de Corinto a cultivarem sua devoção particular a Deus
através do falar em línguas concedidas pelo Espírito, com o objetivo de
edificarem a si mesmos. Isto não significa que o apóstolo dos gentios proibia o
falar em línguas publicamente, mas ao fazê-lo de maneira devocional o crente
batizado com o Espírito Santo edifica-se no seu relacionamento com Deus. Falar
ou orar em línguas provenientes do Espírito é uma bênção espiritual maravilhosa.
2. Edificando os outros. Os crentes de Corinto falavam em línguas e exerciam vários dons espirituais,
mas parece que eles não se preocupavam muito em ajudar as pessoas. Por isso, o
apóstolo lembra que os dons só têm razão de existir quando o portador
preocupa-se com a edificação da vida do outro irmão em Cristo (1 Co 14.12). Em
lugar de buscarmos prosperidade material, como se pudéssemos barganhar com Deus
usando dinheiro em troca de bênçãos, busquemos os dons espirituais. Agindo
assim edificaremos a nós mesmos e também aos outros.
3. Edificando até o não
crente. Embora o apóstolo dos gentios estimulasse todos os
crentes a falarem em línguas, isto é, a edificarem a si mesmos, seu desejo era
que também esses mesmos crentes profetizassem a fim de que a igreja toda fosse
edificada. O comentário da Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal diz sobre esse
texto: "Embora o próprio Paulo falasse em línguas, enfatizava a profecia,
porque esta edificava a Igreja inteira, enquanto falar em línguas beneficiava
principalmente o falante". Todos quantos vierem a frequentar nossas reuniões
devem ser edificados, sejam crentes ou não. Por isso, não podemos escandalizar
aqueles que não comungam a mesma fé que nós (1 Co 14.23). Como eles
compreenderão a mensagem do evangelho se em uma reunião não entenderem o que
está sendo falado? (1 Co 14.9)
O membro da igreja, em
particular, precisa ser edificado, para que a coletividade, a igreja, também o
seja. Não pode haver igreja edificada, se os membros não tiverem edificação
espiritual. Quando o crente fala línguas, sem que haja intérprete, não edifica
a igreja, porque o que fala fica sem entendimento para os demais. Mas não se
deve proibir que o crente fale língua para si próprio (1 Co 14.39). Tão
somente, deve ser ensinado que ele se controle e não eleve a voz, numa mensagem
ininteligível. Há irmãos que, ao falar línguas, querem chamar a atenção para
si, para mostrar que são espirituais. Isso é falta de maturidade.
O apóstolo ensina: “E,
agora, irmãos, se eu for ter convosco falando línguas estranhas, que vos
aproveitaria, se vos não falasse ou por meio da revelação, ou da ciência, ou da
profecia, ou da doutrina?” (1 Co 14.6). Ele quer dizer que, se falar língua sem
interpretação, é ótimo para si próprio, pois “edifica a si mesmo”. Mas, se não
houver interpretação, não haverá revelação, ciência, profecia ou doutrina. E a
igreja fica sem edificação, sem aproveitamento. Daí, porque, no mesmo capítulo,
ele exorta: “Pelo que, o que fala língua estranha, ore para que a possa
interpretar. Porque, se eu orar em língua estranha, o meu espírito ora bem, mas
o meu entendimento fica sem fruto” (1 Co 14.13,14). – Quem fala línguas, sem
interpretação, “edifica-se a si mesmo”, mas "... não fala aos homens,
senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de mistérios” (1 Co
14.2). Naturalmente, quando o crente ora em línguas, mesmo que ele não saiba o
sentido das palavras, Deus o entende. O crente, batizado com o Espírito Santo,
deve procurar desenvolver uma adoração individual, plena da unção do Espírito
Santo. Há ocasiões em que as palavras do seu idioma nativo não conseguem
expressar o que sua alma deseja dizer a Deus, seja glorificando, intercedendo
ou suplicando ao Senhor. – É nessas horas, quando o crente não sabe orar, que o
Espírito Santo intercede por ele de maneira especial. “E da mesma maneira
também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos
de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos
inexprimíveis” (Rm 8.26). Esses “gemidos” do Espírito, pronunciados em línguas
estranhas, são incompreensíveis ao que ora, mas perfeitamente entendidos por
Deus, pois há línguas estranhas que são linguagem do céu, ou “línguas dos
anjos” (1 Co 13.1). – Paulo, continuando suas
admoestações, reporta-se mais uma vez ao seu grande salmo em louvor ao amor:
Buscai o amor! Esta deve ser a maior preocupação deles, pois, como expressa
certo comentarista: O amor é a patroa; os demais dons espirituais são servos,
criados. Por isso, enquanto continuam no empenho proposital de ir após o amor,
os coríntios deviam lutar com dedicação pelos dons espirituais, sendo o uso de
todos eles, em sua dedicação à congregação, regulado pelo padrão estabelecido
pelo amor. A causa das divisões daquela igreja era justamente a falta do amor.
Todos os dons espirituais são proveitosos, incluindo o dom de línguas; mas nem
todos se revestem de igual importância. Ao buscarem os dons espirituais (ver
1Co 12.31 e 14.1), os coríntios deveriam deixar de buscar o dom de línguas e
abusar do mesmo, porquanto isso causara efeitos prejudiciais à sua comunidade
cristã, como meio que era de autoglorificação, além de interromper a
comunicabilidade entre os membros da igreja que assim faziam. Portanto, se os
crentes de Corinto estivessem genuinamente interessados em buscar os dons
espirituais, a profecia deveria ser o seu grande alvo, e não as línguas. O
grande teste da contribuição que os nossos dons espirituais podem fazer à
igreja é o teste da edificação. Que temos feito para edificar a igreja onde somos
membros? Quantas pessoas têm sido levadas a uma maior aproximação a Cristo, por
causa do que temos falado e ensinado? O zelo é bom, mas pode mal orientar
inocentemente ou propositadamente, com o propósito de exaltação própria. – Se
diversos instrumentos destituídos de vida podem levar os homens a compreender
certas atitudes e sentimentos, reagindo conforme os mesmos, ou compreendendo
uma ordem emitida por aqueles, em ocasião de batalha, então, quão mais
expressivo instrumento precisa ser a voz humana, que conta com o apoio da
inteligência, e até mesmo de dons espirituais concedidos por DEUS! Assim
equipados, os crentes devem ser capazes de transmitir benefícios espirituais a
seus ouvintes. Porém, se algum idioma não for compreendido pelos seus ouvintes,
perde-se o desígnio inteiro da comunicação de ideias, e a voz humana se torna
muito menos significativa do que o instrumento musical visto não haver
transmitido pensamento ou sentimento nenhum (1Co 12.9). Embora o dom de línguas
seja uma manifestação genuína da parte de Deus, a sua utilidade se perde se
nada consegue comunicar. Pode reter, entretanto, certa utilidade particular,
para o próprio crente que as fala; mas não tem uma utilidade coletiva,
altruísta. Portanto, as línguas, caso não acompanhadas do dom paralelo da
interpretação de línguas, devem ser praticadas em particular, e não
publicamente. Não digo que o falar línguas em nossos cultos deva ser
desencorajado. Mas precisamos colocar ordem para evitar os escândalos. Ainda
lembro da primeira vez que visitei uma igreja “de fogo” e, assustado com aquela
“histeria”, me indagava se aquilo “era de Deus”, como no caso hipotético
apresentado por Paulo aos coríntios: “O que acontecerá se toda a igreja se
congregar num lugar, e todos falarem línguas estranhas?”. Na verdade, este
é o pensamento de todo indouto que entra em nossos templos, daí o cuidado que
devemos ter com o exercício deste dom e priorizarmos, como enfatiza Paulo, o
dom de profetizar, pois este constrangerá o visitante a reconhecer sua
pecaminosidade. Meu pensamento não é uma tentativa de ajustar e conformar o
culto ao molde da opinião pública. Mas entendo que o papel da igreja é atrair e
conquistar os de fora para o Reino. É alarmante o fato de que, em alguns
arraiais pentecostais, ao invés de ajudar a converter os pecadores, os cultos
desordenados despertam somente o escárnio e o desprezo dos descrentes, todo o
seguimento pentecostal sofre e é achincalhado por isso.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Dado conforme o Espírito Deseja. A primeira relação dos dons com a repetição do fato que cada um é dado pelo Espírito (1 Co 12.8-10) leva ao clímax no versículo 11, que diz: 'Mas um só e o mesmo Espírito opera todas as coisas, repartindo particularmente [individualmente] como quer'. Aqui temos um paralelo com Hebreus 2.4, que fala dos apóstolos que primeiramente ouviram o Senhor e depois transmitiram a mensagem: 'Testificando também Deus com eles, por sinais [sobrenaturais], e milagres, e várias maravilhas [tipos de obras de grande poder] e dons [distribuições separadas] do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade'. É evidente, à luz destes trechos, que o Espírito Santo é soberano ao outorgar os dons. São distribuídos segundo a sua vontade. Buscamos os melhores dons, mas Ele é o único que sabe o que é realmente melhor em qualquer situação. Fica evidente, também, que os dons permanecem debaixo de sua autoridade. Nunca são nossos no sentido de não precisarmos do Espírito Santo, pela fé, para cada expressão desses dons. Nunca se tornam parte da nossa própria natureza, ao ponto de não perdê-los, de serem tirados de nós. A Bíblia diz que os dons e a vocação de Deus são permanentes (Deus não muda de opinião a respeito deles), mas aqui há referência a Israel (Rm 11.28,29)" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 230).
III. EDIFICAR TODO O CORPO DE CRISTO
1. Os dons na igreja. Na Primeira Carta aos Coríntios, Paulo dedica dois capítulos (12 e 14)
para falar a respeito do uso dos dons na igreja. O apóstolo mostra que quando
os dons são utilizados com amor, todo o Corpo de Cristo é edificado. Conforme
diz Thomas Hoover, parafraseando Paulo em Efésios 4.16, "os membros do
corpo, cada qual com sua própria função concedida pelo Espírito, cooperam para
o bem de todas. O amor é essencial para os dons espirituais alcançarem seu
propósito". Se não houver amor, certamente não haverá edificação (1 Co
13). Sem o amor de Deus nos tornamos egoístas e acabamos por colocar nossos
interesses em primeiro lugar. O propósito dos dons, que é edificar o Corpo de
Cristo, só pode ser cumprido se tivermos o amor de Deus em nossa vida.
2. Os sábios arquitetos do Corpo
de Cristo. Deus levanta homens para edificarem
espiritual, moral e doutrinariamente a igreja local. A Igreja é o
"edifício de Deus" (1 Co 3.9). Os ministros, sábios arquitetos (1 Co
3.10). O fundamento já está posto pelos apóstolos: Jesus Cristo (1 Co 3.11).
Mas os ministros têm de tomar o cuidado com as pedras assentadas sobre este
alicerce, pois eles também tomam parte na edificação espiritual da Igreja de
Cristo segundo a mesma graça concedida aos apóstolos. Por isso, Paulo faz uma
solene advertência para a liderança hoje: "mas veja cada um como edifica
sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto,
o qual é Jesus Cristo" (1 Co 3.10,11).
3. Despenseiros dos dons. O apóstolo Pedro exortou a igreja acerca da administração dos dons de
Deus (1 Pe 4.10,11). Ele usou a figura do despenseiro que, antigamente, era o
homem que administrava a despensa e tinha total confiança do patrão. O
despenseiro adquiria os mantimentos, zelava para que não estragassem e os
distribuíam para a alimentação da família. Desta forma, os despenseiros da obra
do Senhor devem alimentar a "família de Deus" (1 Co 4.1; Ef 2.19).
Eles precisam ter o cuidado no uso dos dons concedidos pelo Senhor para prover
a alimentação espiritual, objetivando a edificação do Corpo de Cristo:
"Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons
despenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém falar, fale segundo as
palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus
dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a
glória e o poder para todo o sempre" (1 Pe 4.10,11).
Um corpo se caracteriza pela
maravilhosa cooperação de muitos elementos, que são perfeitamente unidos um ao
outro. É a essa admirável unidade de muitas porções que Paulo se refere,
fazendo disso uma ilustração de como tal condição deveria prevalecer na igreja.
São usados verbos no particípio presente a fim de salientar como essa unidade,
tão intricada e perfeita em sua natureza e atuação, deve existir na forma de
uma operação contínua. As ideias de «harmonia», de «adaptação», de
«solidariedade» e de «unidade na diversidade», são assim expressas (compare com
Cl 2.2,19). Russell Norman Champlin afirma que ao mencionar a harmonia e a
participação na vida mútua que o amor cristão propicia, Paulo chega ao final da
presente secção, reiterando a ideia de unidade, que inspirou esta passagem, a
começar por Ef 4.1, como é necessário nos suportarmos uns aos outros em amor,
tendo em vista a preservação da unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3).
Paulo teve coragem de dizer que era
um “sábio arquiteto”, na edificação da igreja. Nem todo obreiro pode dizer
isso, nos dias presentes. Os terrenos em que a igreja está sendo edificada são
tão instáveis, que desafiam a capacidade de todos os engenheiros ou arquitetos.
Os ventos fortes de falsas doutrinas e movimentos heréticos, disfarçados de
genuínos movimentos cristãos conspiram contra a estabilidade e a unidade da
Igreja de Cristo. Os edificadores de hoje têm tantos ou maiores desafios do que
os do tempo de Paulo, mesmo que tenham mais recursos humanos e técnicos que o
apóstolo dos gentios.
Mas a missão dos
obreiros do Senhor é cuidar da evangelização, buscando as almas que se integram
à igreja, e o cuidado delas, através do discipulado autêntico, que se
fundamenta na sã doutrina, esposada por Jesus Cristo, e interpretada e aplicada
pelos seus apóstolos e discípulos, ao longo da História. Os cristãos devem ser
edificados para serem templos do Espírito Santo (1 Co 6.19,20). E os dons são
indispensáveis nessa edificação espiritual. – Lembre-se: Jesus foi o Servo de Deus, Aquele que “não veio para ser servido,
mas para servir” (Mc 10.45). Na Sua vida, tal como nos mostram os Evangelhos,
Ele demonstrou esse princípio, servindo ao Seu povo e aos Seus (como ilustrado
em Jo 13.1-17). Servir uns aos outros é, assim, um chamado a sair de si mesmo e
dos seus problemas, e se dedicar aos outros. É essa exteriorização que
está o fundamento da ética cristã, como vida de serviço aos outros “enquanto
outros” (ou seja, não uma extensão de mim próprio, ou “outros” a quem eu
comando ou manipulo, e coloco dentro do meu esquema). A palavra grega é
diakonuntes, de onde vem diaconia, serviço. Aqui, ela tem um significado
abrangente, incluindo todo tipo de serviço que se pode prestar a outros (em
palavra e ação). Essa diaconia é possível porque todos receberam dons com os quais
podem servir aos outros. Charisma é o termo usualmente empregado no N.T. para
se referir aos chamados “dons espirituais”. São várias as definições e
especificações deles (cf. 1 Co 12; Rm 12; Ef 4); trata-se de capacidades que
Deus concede a todos os cristãos (associadas à habitação do Espírito Santo
neles, 1 Co 12.7) para o serviço dentro do contexto da comunidade cristã. Podem
se tratar de talentos naturais que recebem um novo impulso e uma nova
orientação pela ação do Espírito, ou de capacitações originais, concedidas ao
crente para que com elas sirva aos outros. Nunca devemos perder de vista que
são dados soberanamente pelo Espírito Santo, e que sua função é servir (nada
mais que isso; usá-los para autopromoção é absolutamente contrário à sua natureza,
sendo uma atitude exemplarmente repreendida em At 8.18-24). Importante é também
que cada um dos crentes recebeu um dom, o que, de saída, nivela a todos, e toma
todos igualmente importantes uns para os outros. Cada um deve colocar o dom que
tem a serviço de todos, porque, ao receberem dons, os cristãos se tomam
despenseiros da graça de Deus. A charis (graça) é a fonte dos charisma (dons,
carismas). Quem os recebe, recebe graça de Deus, e os recebe por causa da graça
de Deus que lhes concedeu o Espírito Santo. Ter um dom espiritual, então, é ter
um “depósito de graça”, que deve extravasar (porque graça é para ser doada).
Despenseiros é oikonomoi, um termo técnico referente ao mordomo, o
administrador da casa (lembrando que “casa” é a oikos do mundo da época, uma
instituição social fundamental, a “comunidade doméstica” que incluía família e
trabalhadores, bem como os hóspedes). O oikonomos era o encarregado de atender
as necessidades de todos, administrando os bens nessa direção.
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“O amor é essencial
Os dons têm um lugar especial na igreja e são muito úteis.
Mas o amor representa a essência da vida cristã, e é absolutamente necessário.
Ele encontra um lugar mesmo entre os dons carismáticos, porém os dons sem a
presença do amor são como um corpo sem alma.
Sem amor, o dom de falar se torna vazio e imprudente — ele é como o metal que soa ou como o sino que tine. O metal que soa ('gongo barulhento') significa que um pedaço de metal não lavrado ou gongo usado para chamar a atenção. Tinir (alalazon) significa 'colidir', ou um som alto e áspero. 0 sino (ou símbolo) consistia de duas meias circunferências que eram golpeadas causando um estrondo. A ideia aqui é de um inexpressivo som de metal em lugar de música.
O objetivo do apóstolo é mostrar que o homem que professa o dom da glossolalia, da forma como era praticada em Corinto, mas que não tem amor, na realidade não é mais que um instrumento metálico impessoal" (Comentário Bíblico Beacon. 1. ed. Vol. 8. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, pp.343,44).
CONCLUSÃO
A Igreja de Jesus Cristo tem uma
missão a cumprir: proclamar o evangelho em um mundo hostil às verdades de
Cristo e descrente de Deus. Diante desta tão sublime tarefa, a igreja necessita
do poder divino. Os dons espirituais são um "arsenal" à disposição do
corpo de Cristo para o cumprimento eficaz de sua missão na terra. Como já foi
dito, o propósito dos dons é edificar toda a igreja, todo Corpo de Cristo para
ser abençoado, exortado e consolado. Por isso, nunca devemos usar os santos
dons de Deus em benefício particular, como se fosse algo exclusivo de certas
pessoas. Somos chamados a servir a Igreja do Senhor, e não a utilizar os dons
de Deus para nós mesmos. – A Igreja de Jesus
Cristo é a representante dos céus na terra. Ela tem uma missão que transcende a
esfera humana, pois recebeu a incumbência de fazer com que a "...
multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos
céus” (Ef 3.10). Sua missão, na terra, é a proclamação do evangelho, num mundo
hostil às verdades de Cristo; um mundo que rejeita a Palavra de Deus. Diante
dessa realidade, a igreja precisa de poder sobrenatural. Os dons espirituais
são um arsenal à disposição da igreja para o cumprimento eficaz de sua missão
na terra.
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo
Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Candeias. V. 4, p.
605.
LIÇÕES BÍBLICAS. 2º
Trimestre 2021 - Lição 2. Rio de Janeiro: CPAD, 11, abr. 2021.
LIMA, Elinaldo
Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
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