quinta-feira, 28 de junho de 2018

LIÇÃO 1: LEVÍTICO, ADORAÇÃO E SERVIÇO AO SENHOR


 
SUBSÍDIO I

Levítico, Adoração e Serviço ao Senhor

Embora seja visto, às vezes, como um manual de cerimônias estressante e monótono, o livro de Levítico vai além das celebrações e ritos que prescreve. No cânon divino, surge como parte viva, orgânica e essencial da História Sagrada. Por essa razão, sua atualidade não pode ser ignorada por nenhum cristão. Isso não significa, porém, que devamos submeter-nos à sua liturgia que, como muito bem explica o apóstolo Paulo, cumpriu-se plenamente em Cristo. Enveredando-se pelo caminho dos judaizantes, os gálatas caíram da graça; quase pereceram. Os princípios teológicos e devocionais de Levítico, todavia, são eternos; eram necessários ontem e continuam imprescindíveis hoje.
Nessa porção sagrada, deparamo-nos com três palavras-chave: adoração, santidade e serviço. Tais proposições servem de alicerce tanto à congregação israelita quanto à Igreja de Cristo. Ambas precisaram aprender, cada uma a seu tempo, a adorar a Deus e a reconhecê-lo como o Criador, Senhor e Mantenedor de todas as coisas. Em seguida, aprendemos com Moisés e Arão que, para agradar ao Senhor, temos de apartar-nos do mundo e separar-nos exclusivamente ao serviço divino. Eis o cerne da santificação preconizada em cada seção do livro de Levítico.
Já em suas primeiras linhas, é possível concluir que a adoração nada é sem a santificação, e a santificação, por sua vez, nenhum valor terá se não resultar em serviços ao Reino de Deus. Aqui está o fulcro do terceiro livro do Pentateuco. Ao chegarmos à última etapa desta obra, concluiremos: o Levítico é tão vivo, hoje, como no dia em que Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, lavrou-o num papiro a caminho da Terra Prometida.Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, lavrou-o num papiro a caminho da Terra Prometida.

I- Levítico, um Livro por Excelência

À semelhança dos demais livros do Cânon Sagrado, o Levítico destaca-se por sua singularidade, origem e excelência. Vejamos, em primeiro lugar, a razão de seu nome e de sua estrutura.

1. O nome do livro. No original hebraico, o livro de Levítico é conhecido por suas palavras iniciais: Vaicrá que, literalmente, significam “e chamou” (Lv 1.1). Numa primeira instância, veremos, nesse enunciado, um chamado indireto de Deus a Moisés a escrever a terceira porção do Pentateuco. Em seguida, enxerguemo-la como a vocação direta de Deus a Israel a reerguer-se como nação santa, profética, real e sacerdotal.
Vaicrá tem, ainda, mais duas traduções possíveis: “e separou” e “e santificou”. Teologicamente, o chamado de Deus implica em nossa separação do mundo e em nossa imediata santificação ao serviço de seu Reino.
Na erudição judaica, o livro é conhecido também como Torath Kohanim – A Lei dos Sacerdotes.
Já na Septuaginta, a versão grega do Antigo Testamento, o livro recebe o nome de Leuitikon, denotando-lhe o tema e o propósito: as coisas pertencentes ao ministério dos levitas. No latim, a sua designação é Leviticus. E, tendo em vista a origem românica do idioma português, nossos tradutores houveram por bem denominá-lo de Levítico pelas razões já apontadas.

2. Estrutura do livro. Terceiro livro das Sagradas Escrituras, o Levítico é composto por 27 capítulos, 859 versículos e, aproximadamente, 24 mil palavras. Nele, são encontrados mandamentos, proposições, narrativas e profecias. Em suas páginas, há 26 promessas quanto ao proceder obediente de quem professa adorar a Deus.

3. Singularidade do livro. O Levítico é um livro singular por duas razões: 1) É o único manual que temos na Bíblia referente à forma correta de se adorar a Deus; e 2) Embora dirigido aos sacerdotes, foi redigido por um profeta (Lv 1.1).

4. As divisões de Levítico. Utilizaremos A Bíblia Explicada para esboçar o Levítico. Esse livro sagrado, de acordo com S. E. Macnair, pode ser dividido em nove seções principais: 1) As ofertas (caps. 1-6.7). 2) A lei das ofertas (caps. 6.8-7.38). 3) Consagração (caps. 8.1-9.24). 4) Uma transgressão e um exemplo (cap. 10.1-20). 5) Um Deus santo exige um povo santo (caps. 11-15). 6) Expiação (cap. 16). 7) A conduta do povo de Deus (caps. 17 e 22). 8) As festas de Jeová (cap. 23). 9) Instruções e avisos (caps. 24-27). 

5. Origem divina e humana do livro. À semelhança dos demais livros das Sagradas Escrituras, o Levítico é um texto verdadeiramente humano e verdadeiramente divino. Sua autoria fica bem patente logo no primeiro versículo: “E chamou o SENHOR a Moisés, e falou com ele da tenda da congregação” (Lv 1.1).
O livro tem como fonte o próprio Deus e, como medianeiro, Moisés. Inspirado pelo Espírito Santo, o profeta e legislador dos hebreus redigiu-o e encarregou-se de transmiti-lo aos levitas e aos demais filhos de Israel, seus leitores e ouvintes imediatos, e, depois, a nós, a Igreja de Cristo. É uma obra, pois, de dupla procedência e autoria: divino-humana.

6. Excelência literária do livro. Que o livro de Levítico é inspirado pelo Espírito Santo, não há dúvida. Nós ouvimos a voz de Deus em cada uma de suas páginas; é um texto comprovadamente divino. Todavia, o que podemos dizer acerca de suas qualidades literárias?
Apesar de ser uma obra técnica, o Levítico não se perde naqueles jargões e tecnicismos que caracterizam os manuais. O seu autor humano, sempre guiado pelo Espírito de Deus, redigiu-o de tal forma que, passados mais de três milênios, sentimo-lo como se tivesse acabado de ser escrito. É importante observarmos que a sua redação não secciona a narrativa pentateutica da peregrinação dos israelitas à Terra Prometida.
Moisés escreveu o Levítico com tanto “engenho e arte”, que se tem a impressão de que essa porção da Bíblia Sagrada é a continuidade do Êxodo e a transição natural para os livros de Números e Deuteronômio. Temos, pois, diante de nós, uma obra de comprovada excelência literária. É bela e sublime; em seu gênero, inigualável. 

II- A Certeza da Autoria Mosaica

Neste tópico, ressaltaremos as qualidades literárias de Moisés. Em seguida, veremos o idioma e a escrita usada pelo autor sagrado.

1. Deus, o autor divino. Do primeiro ao último versículo de Levítico, sente-se claramente que Deus é o seu autor (Lv 1.1). Tal convicção não advém apenas das reivindicações formais do livro; advém, principalmente, da experiência do leitor com a obra. Pelo menos essa é a minha experiência pessoal.
Do início ao final de Levítico, o Senhor dirige-se a Moisés em 38 ocasiões diferentes. Patenteia-se, dessa forma, a origem divina da terceira seção do Pentateuco. Não há dúvida: é a palavra inspirada, inerrante e completa de Deus.

2. Moisés, o autor humano. Não exagero ao afirmar que Moisés foi o homem mais sábio que o mundo já conheceu. É claro que faço essa afirmação depois de excetuar o Senhor Jesus Cristo que, além de sapientíssimo, era e é a própria sabedoria. Aliás, Ele é a Palavra de Deus encarnada. Nesse sentido, toda a palavra do Levítico era, essencial e tipologicamente, o oráculo do Filho de Deus.

Vejamos algumas qualidades literárias de Moisés.

Educado na corte faraônica, Moisés tornou-se um homem poderoso em palavras e obras. Sua cultura não se restringia ao Egito; era universal. Ele podia transitar por todo o Oriente Médio sem constrangimento algum. Já refugiado em Canaã, entrou em contato com a escrita sinaítica: um meio termo entre a pictografia egípcia e o alfabeto assurítico, que, no tempo de Esdras, seria adotado pelos escribas judeus.
Ali, nos prados midianitas, Moisés foi induzido, providencialmente, a trocar a primeira forma de escrita pela segunda. Em termos técnicos, pode-se considerar os signos sinaíticos como uma espécie de alfabeto. Será que os intelectuais egípcios conheciam os signos do Sinai? Talvez. Mas, à semelhança dos chineses, resolveram manter o seu complexo sistema de linguagem, a fim de não popularizar o conhecimento.
O estilo literário de Moisés foi divinamente forjado no deserto. Fugindo às ladainhas egípcias, foi conduzido didaticamente a sair da movediça e fantástica literatura faraônica até firmar-se num estilo firme, racional e próprio da literatura histórico-profética. Nesse período, deixa-se impregnar pela dicção poética, campesina e pastoral de seu povo. E, assim, depois de quarenta anos no exílio e, após muito pensar, o filho de Anrão e Joquebede estava preparado a lavrar as palavras que Deus, por intermédio do Espírito Santo, assoprar-lhe-ia na alma.

3. O idioma original. Ao ser intimado por Deus a ser o pai da nação eleita, Abraão ainda não falava o hebraico, embora fosse reconhecido como hebreu (Gn 14.13). Seu idioma materno era, mui provavelmente, um caldaico primitivo que ainda lutava por desvencilhar-se das influências dialetais da Acádia. Nesse sentido, a língua de suas peregrinações pode ser classificada como pré-hebraica. Isso porque, em suas caminhadas por Canaã foi mesclando sua língua materna aos diversos falares cananeus. Como estes se expressavam em línguas igualmente semíticas, o patriarca não teve dificuldades em transitar pelos diversos reinos cananeus e, com estes, negociar e estabelecer alianças. O capítulo 14 de Gênesis mostra, implicitamente, a desenvoltura linguística de Abraão entre os povos de Canaã. Seria como um lusófono a andejar numa área onde predominasse a hispanofonia.
Nos lábios dos patriarcas, a língua hebraica foi sendo paulatinamente formada ao longo de cinco séculos: do chamado de Abraão ao chamamento de Moisés. Um período que vai, de acordo com a cronologia bíblica geralmente aceita, do ano 2.000 a 1.500 a.C.
A estadia de Israel no Egito foi decisiva à consolidação do idioma hebraico. Ali, na distante Gósen, isolada no delta oriental do Nilo, os israelitas puderam desenvolver o seu idioma, livres das influências linguísticas dos cananeus e dos egípcios. Apesar de residirem no Egito, os filhos de Israel não mantinham contato com os habitantes da terra, uma vez que estes os consideravam abominação (Gn 46.34). Os súditos de Faraó não toleravam pastores de ovelhas, pois tinham o gado vacum e ovino como divindade.
Por conseguinte, quando o Senhor chamou Moisés a escrever os primeiros cinco livros da Bíblia Sagrada, a língua hebraica já estava devidamente formada. Faltava-lhe, porém, um sistema de escrita. Que signos adotar? Os hieróglifos egípcios? Ou a escrita cuneiforme das antigas Suméria e Acádia? Se Moisés tivesse optado quer pelos primeiros quer pela segunda, hoje não teríamos acesso às revelações do Gênesis e às narrativas da redenção de Israel.

4. A escrita pentatêutica. Foi nesse período que Moisés descobriu a escrita sinaítica. Se comparada aos hieróglifos egípcios e às cunhas mesopotâmicas, ela pode ser considerada, de fato, um sistema alfabético. No entanto, prefiro classificá-la de pré-alfabética por duas razões: ela ainda estruturava-se em sinais pictóricos, e estava bem longe de usar vogais em seus fonemas. Mesmo assim, era um avanço admirável em relação às grafias dos vales do Nilo e do Eufrates.
O que poderia ter acontecido se Moisés, ao invés de usar a escrita sinaítica, tivesse optado pela egípcia ou pela mesopotâmica? Certamente, hoje, a História Sagrada seria um amontoado de signos incompreensíveis e sujeitos às mais bizarras interpretações. Aliás, nem os próprios israelitas achariam nelas qualquer sentido. Mas, graças a Deus, o profeta foi não apenas inspirado a escrever inerrantemente o Pentateuco, como também foi dirigido, pelo mesmo Espírito, a escolher o sistema de escrituração mais eficaz da época, para narrar os princípios da História Sagrada até a libertação completa dos hebreus.
O alfabeto sinaítico (chamemo-lo assim) foi rapidamente assimilado pelos sábios de Israel que, sempre dirigidos e supervisionados pelo Espírito Santo, puderam dar continuidade à História Sagrada. Josué, Samuel, Davi e Gade, por exemplo, tornaram-se mestres na escrita do Sinai; grandes literatos (Js 24.26; 1 Sm 10.25; Sl 45.1). Aliás, pelo que inferimos de algumas passagens, era um sistema já bastante utilizado naquela região (Jz 8.14).
Na verdade, a escrita sinaítica nasceu entre os fenícios que, já naqueles dias, dominavam o comércio na região do Oriente Médio. E, para agilizar suas escriturações contábeis, entenderam por bem criar um sistema de registro mais dinâmico e eficaz. E, tendo como base os hieróglifos egípcios, elaboraram um pré-alfabeto que, séculos depois, seria adotado e aperfeiçoado pelos gregos e romanos.
Se bem atentarmos à história de Israel, perceberemos que, durante o exílio babilônico, os judeus vieram a trocar, de fato, o seu alfabeto pelo assurítico. Denominado escrita quadrática, devido à forma de suas letras, foi introduzido na cópia das Sagradas Escrituras mui provavelmente por Esdras. O eruditíssimo doutor e escriba, aliás, foi quem procedeu a última reforma editorial e gráfica do Antigo Testamento. Sem o seu trabalho, as Sagradas Escrituras corriam o risco de se tornarem um todo incompreensível. E, dessa maneira, viriam a cair no esquecimento.
O hebraico, como o lemos hoje no Antigo Testamento, é um legado tanto de Moisés quanto de Esdras, intermediados por filólogos como os homens de Ezequias (Pv 25.1).
A Moisés coube uma tripla e dificílima tarefa: adaptar a escrita sinaítica às necessidades linguísticas de Israel; gramaticar o hebraico e, finalmente, torná-lo uma língua literária. Nesse sentido, Moisés está para o hebraico como Martinho Lutero (1483-1546) está para o alemão. Sem o trabalho de ambos, separados por trinta séculos, hoje não teríamos nem a língua hebraica nem a alemã. Moisés, por esse motivo, não foi apenas o maior profeta da História Sagrada, foi também um dos maiores linguistas e filólogos que o mundo já conheceu. Infelizmente, os eruditos seculares, sempre preocupados em desconstruir a Bíblia, ainda não atentam a esse fato.
Quanto a Esdras, coube-lhe uma missão dupla e igualmente dificílima. Em primeiro lugar, adaptou o alfabeto assurítico, usado pelos falantes do aramaico, ao hebraico do exílio. Já resolvido o problema alfabético, o grande e bem-conceituado doutor pôs-se a revisar linguisticamente as Escrituras Sagradas até então lavradas. Sua revisão, frisamos, não avançou além do campo filológico; ele não fez nenhuma mudança de conteúdo, pois a própria Escritura, a fim de preservar-se, proibia-o terminantemente (Pv 30.5,6; Ap 22.18.19). E, sobre as adaptações linguísticas, os editores sagrados não esconderam a sua participação (Gn 22.14; Dt 3.14; 1 Sm 5.5).
A mudança da escrita sinaítica para o alfabeto assurítico, conhecido hoje como hebraico, começou a ser feita no exato momento em que Daniel e seus companheiros chegaram à corte babilônica. Eles foram não somente obrigados a aprender a língua e a cultura dos caldeus, mas também constrangidos a assimilar o seu alfabeto (Dn 1.4). Afinal, os documentos oficiais eram redigidos, inicialmente, em arameu e no alfabeto assurítico, e, depois, nas demais línguas e alfabetos.
Hoje, temos o livro de Levítico na Bíblia Hebraica, não mais na escrita sinaítica, mas no sistema alfabético assurítico. Concernente à língua hebraica, em si, o que podemos dizer? O hebraico falado no tempo de Esdras seria perfeitamente inteligível a um israelense de nossos dias. Deus, portanto, reservou os meios mais eficazes (alfabeto, língua e trabalho editorial), para que tivéssemos, hoje, a sua Palavra como Ele a inspirou a Moisés e aos demais profetas. 

III- Ocasião, o Nascimento de Israel

Ao datarmos a redação do livro de Levítico, temos de levar em consideração três coisas muito importantes: a ocasião da obra, a peregrinação e o aparente atraso e, finalmente, o estabelecimento da congregação israelita no deserto.

1. A data da redação do Levítico. De acordo com a cronologia bíblica geralmente aceita, o livro de Levítico foi escrito por Moisés em 1445 a.C. É claro que essa data não pode ser considerada exata, mas também não é absurda nem pode ser descartada. E, se levarmos em conta Êxodo 40.7, veremos que a redação da terceira parte do Pentateuco começou a ser feita um ano depois de os israelitas terem saído do Egito. Foi nessa ocasião, ainda, que o Senhor ordenou fosse erguido o Santo Tabernáculo no deserto.

2. O período do Levítico. Moisés escreveu o Levítico num momento particularmente difícil da história de Israel. Os israelitas tinham acabado de sair de uma segunda apostasia. A primeira, como se recorda, foi o episódio do bezerro de ouro (Êx 32). Mas a segunda, embora não tivesse como motivação a idolatria, foi pior do que a primeira; tinha como fundamento a incredulidade que, a partir daquele momento, tornar-se-ia crônica na vida dos judeus.
Embora conhecessem a promessa feita por Deus a Abraão, os hebreus, contaminados pelo desânimo, não se animaram a apossar-se de Canaã. Foram, por isso, condenados a peregrinar no deserto por quarenta anos (Nm 14.34). Em meio a essa rebelião e apostasia, foi que Moisés, inspirado pelo Espírito Santo, escreveu o Levítico, a fim de ensinar o povo a adorar o Deus Santo, Vivo, Único e Verdadeiro.

3. A peregrinação e o atraso. Não fossem as duas grandes apostasias, Israel teria chegado a Canaã em, no máximo, dois meses. Mas, em consequência de seus pecados, os hebreus tiveram de voltear o Sinai por um período de quarenta anos, até que toda aquela geração de incrédulos caísse no deserto e, no deserto, fosse sepultada. Sem esse longo contratempo, o livro de Levítico poderia ter sido escrito em Canaã, sob circunstâncias mais favoráveis. E, quem sabe, o lamentável episódio de Nadabe e Abiú teria sido igualmente evitado, pois ambos, frutos daquela incredulidade, eram tão culpáveis quanto os dez espias que esparramaram o desalento pelo arraial hebreu.
Todavia, como o cronograma redentivo de Deus não pode ser atrasado pelas circunstâncias, aprouve ao Senhor entregar as regras e mandamentos levíticos em pleno Sinai. E, dessa forma, a nova geração de Israel adentraria Canaã com uma disposição renovada, apossando-se de vez da terra que mana leite e mel. Sendo assim, podemos dizer que o atraso ocorrido na peregrinação dos israelitas em direção à Terra Prometida foi providencial e didático. Sem a longa estadia no deserto, Israel jamais alcançaria o seu status de nação profética, sacerdotal e real.

4. A congregação no deserto. Foi nesse período conturbado, que Deus ordenou a construção do Santo Tabernáculo. Neste ponto, vejo-me obrigado a levantar esta questão: se não fossem as duas apostasias de Israel, no Sinai, a tenda de adoração seria necessária?
Que os israelitas careciam de um centro de adoração ninguém o pode negar. Entretanto, se a peregrinação tivesse durado apenas sessenta dias, um tempo mais do que razoável, acredito que, ao invés de um santuário portátil, os israelitas seriam instruídos, pelo Senhor, a erguer uma casa definitiva. Isso, porém, só viria a acontecer quatro séculos depois da entrada de Israel em seu território. A desobediência traz retardos e atrasos em todos os sentidos. Eis porque devemos primar por uma vida de obediência ao Senhor.

IV- Os Objetivos de Levítico

À primeira vista, o livro de Levítico é um manual de cerimônia como outro qualquer. Todavia, uma leitura mais atenta leva-nos a ver, em suas páginas, pelo menos cinco objetivos: doxológico, hagiológico, didático, diaconológico e missiológico. 

1. Objetivo doxológico. No Êxodo, o Senhor demanda de seu povo uma adoração perfeita. Já no Levítico, ensina Ele, a esse mesmo povo, como alcançar esse alvo. Em suas páginas, observamos que, além da intenção do adorador, a adoração tem de processar-se de maneira correta e santa, pois o Senhor busca os que o honram em espírito e em verdade. Por isso, a partir do sacerdócio araônico, a adoração passa a ser considerada um serviço a ser prestado regular e corretamente ao Deus Santo e Verdadeiro.
A doxologia é o primeiro e mais elevado objetivo do livro de Levítico. Eis porque, no cerne de todo sacrifício e oferta, tem de estar o coração e a alma do adorador. Menos que isso é inaceitável.

2. Objetivo hagiológico. A hagiologia não se limita a estudar a vida dos homens santos; seu objetivo inclui a pesquisa de coisas tidas como santas e o processo de santificação que as acompanha. Por essa razão, temos de ver os estágios de santificação de Israel como o segundo objetivo de Levítico. Isso porque, o Deus Santo e Verdadeiro requer, de seus adoradores, a mesma santidade e a mesma verdade. Aliás, o texto áureo desse livro é bastante claro quanto aos seus objetivos hagiológicos: “Fala a toda a congregação dos filhos de Israel, e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2).
A hagiologia bíblica abrange um duplo processo. O primeiro é separar o homem do mundo, para que ele, pelos meios da graça, santifique-se ao Senhor. O segundo leva esse mesmo homem, já separado do mundo, a santificar-se para o serviço de Deus. Conclui-se que a doxologia só há de ser perfeita se a hagiologia for completa na vida de quem professa amar e servir ao Senhor.

3. Objetivo didático. Mas, como alcançar os objetivos doxológicos e hagiológicos demandados no livro de Levítico? A fim de que a adoração de Israel fosse perfeita, o Senhor providenciou um amplo e eficaz aparato didático. Somente assim o perfeito e santo Deus seria perfeita e santamente adorado.
Devemos, portanto, ver como didáticos os livros de Êxodo e de Levítico, pois o objetivo de ambos é conduzir Israel, para que este, perfeita e completamente instruído, viesse a servir a Deus em espírito e em verdade.
Se levarmos em conta os ensinos das epístolas endereçadas aos gálatas e aos cristãos hebreus, veremos o Santo Tabernáculo como um jardim de infância, no qual os israelitas, sempre conduzidos pelas mãos de Arão e de Moisés, deveriam aprender os primeiros rudimentos das verdades divinas (Gl 3.24,25).
Infelizmente, eles recusaram-se a crescer na graça e no conhecimento do Senhor; optaram por ficar na escola de pré-alfabetização; não avançaram jamais. Vendo esse retardo atingir inclusive os cristãos, o autor sagrado exorta-os a deixar os tipos e emblemas dos bens futuros e, nestes, fixarem-se (Hb 9.11; 10.1).
Hoje, não são poucas as igrejas evangélicas gentias que, embevecidas pelo esplendor do culto hebreu, buscam reviver festas e cerimônias judaicas, como se o templo cristão fosse mera sinagoga. Nosso compromisso com Israel é orar pela paz de Jerusalém, para que os filhos de Abraão retornem o mais depressa possível à sua herança, conforme preconizam os santos profetas. Quanto a nós, já saímos do jardim de infância espiritual. Eis porque devemos cumprir a terceira ordenança de Jesus: evangelizar até aos confins da terra.

4. Objetivo diaconológico. Que Israel fora chamado a servir a Deus era algo que não podia ser ignorado nem pela nação como um todo, nem pelo adorador em particular. A doxologia, a hagiologia e a didática tinham de resultar, naturalmente, na diaconia de quem professa conhecer o Deus Único e Verdadeiro. Israel deveria erguer-se, necessária e urgentemente, como a comunidade servidora por excelência. Mas não foi isso que aconteceu. Os judeus tardaram em reconhecer a natureza de sua missão como filhos de Deus e herdeiros de Abraão. Se nos detivermos no espírito de Levítico, constataremos que o seu principal objetivo era preparar um povo obreiro ao Senhor.

5. Objetivo missiológico. O verdadeiro santo não é aquele que se limita a não praticar o mal; é aquele que, apartando-se do mal, deleita-se em fazer o bem e servir a Deus. Refugiar-se num convento pode até ser eficiente para quem busca fugir à avareza, à prostituição e às intemperanças. Todavia, tal refúgio impedir-nos-á de praticar o bem. E quem sabe praticar o bem e não o pratica ofende a Deus; faz-se tão pecador como aquele que, intemperando-se, lança-se a todos os excessos. Por essa razão, entendamos de uma vez por todas: fomos salvos para divulgar o testemunho de Jesus Cristo.
Tal ensino pode ser encontrado na essência de Levítico. Portanto, à semelhança dos demais livros das Sagradas Escrituras, ele é, também, um livro missiológico. Se Israel, compenetrando-se de sua missão como povo de Deus, observasse os seus mandamentos, teria partido dali mesmo, em pleno deserto, a anunciar as grandezas de Deus. Mas, recolhido aos seus privilégios, limitou-se a reagir às agressões dos gentios. De que modo estamos agindo como Igreja de Deus? Agimos? Ou limitamo-nos a reagir às circunstâncias? Santifiquemo-nos! Testemunhemos de Cristo em toda e qualquer circunstância.  

ANDRADE, Claudionor de. Adoração, Santidade e Serviço: Os Princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018. 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Estudaremos, a partir de agora, o livro de Levítico, cujo tema pode ser resumido nesta simples, mas atual ordenança divina:”… portanto vós vos santificareis, e sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11.44). À primeira vista, esse livro da Bíblia Sagrada parece enfadonho e até desnecessário. Todavia, ele é imprescindível para compreendermos a essência do culto divino no Antigo Testamento. Nas Lições por virem, constataremos que ainda temos muito a aprender com a congregação israelita no deserto do Sinai.
Estudemos, pois, com diligência e cuidado. Oremos e empenhemo-nos por aplicar cada lição ao nosso viver. Finalmente, não nos esqueçamos de que o Senhor continua a exigir de seus filhos uma vida santa, pura e consagrada ao seu Reino.
Iniciamos este trimestre estudando o livro de Levítico. Todo leitor da Bíblia sente dificuldade, ao ler a Bíblia inteira, quando se depara com este livro. Sem dúvida, este é livro bíblico é o menos explorado por todos os cristãos; estamos deixando de conhecer uma das principais fontes de diretrizes dada por Deus. A palavra chave do livro é santidade e esta palavra em várias formas é falada muitas vezes; santificar, santíssimo, santo, santuário, limpo e santidade. O versículo chave é 19.2: “santos sereis, porque eu, o senhor vosso Deus, sou santo”. Outro versículo que diz a mesma verdade é 11.44. Podemos ver uma grande verdade neste tema; temos que pregar tanto a expiação pelo sangue de Cristo quanto a vida de santidade baseada na expiação feita pelo sangue de Cristo. O salvo tem que saber como andar com Deus na comunhão. Levítico se diferencia dos outros livros do Pentatêuco porque relata quase exclusivamente o sistema das leis para governar Israel na sua vida religiosa, civil, dietética e diária. Seu nome em hebraico é ‘Vaicrá’ (Chamado por Deus), na Septuaginta (Antigo Testamento traduzido para o grego) é Leuitikon e o Latim toma emprestado transformado-o em ‘Leviticus’, em referência aos levitas, a tribo de Aarão, os primeiros sacerdotes judaicos. 

I. SOBRE O LIVRO DE LEVÍTICO
                                                                                                                                   
Para compreendermos o Livro de Levítico, temos de considerar, inicialmente, quatro coisas muito importantes: sua canonicidade, gênero literário, autoria e data.
O interessante é observarmos o nome hebraico do livro de Levítico. Em todo Pentateuco, os israelitas colocavam como nome do livro as primeiras palavras do mesmo. No caso de Levítico é “ chamou o Senhor”. E é impressionante a riqueza de entendimento que podemos ter apenas observando o nome em hebraico. Levítico é a chamada do Senhor para a santidade, serviço e adoração, base de qualquer relacionamento com Deus. O senhor chama para a santidade que só provem Dele (Lv 11.44-45).

1. Canonicidade. O Levítico, bem como os demais livros do Pentateuco, foi reconhecido, desde o princípio, como a Palavra de Deus, e posto “perante o Senhor”, junto à Arca da Aliança, no Tabernáculo (Dt 31.26). Em várias passagens, ele é chamado, juntamente com outros livros do Pentateuco, de “Livro do Senhor”, ou “Livro da Lei” (Is 34.16; 2 Rs 22.8). Portanto, o Levítico tem de ser considerado, à semelhança dos demais Livros da Bíblia Sagrada, como a Palavra inspirada, inerrante e completa de Deus.
Canonicidade é a característica ou qualidade do que é canônico; legitimidade, veracidade. A crença cristã histórica é que o Espírito Santo, que presidiu à formação de cada um dos livros bíblicos, também lhes dirigiu a seleção e incorporação, continuando assim a cumprir à promessa do Senhor de que ele guiaria os discípulos a toda verdade.
“O cânon protestante do Antigo Testamento (composto pelos trinta e nove livros relacionados acima) é exatamente igual ao cânon hebraico massorético. O cânon massorético é a Bíblia hebraica em sua forma definitiva, vocalizada e acentuada pelos massoretas. A ordem dos livros, entretanto, segue a da Vulgata e da Septuaginta.” (Paulo R. B. Anglada. O Canon Bíblico. Disponível em:. Acesso em: 25 Jun, 2018)

2. Gênero literário. Em virtude de seu género literário, o livro de Levítico pode ser considerado o manual do culto divino do Antigo Testamento (Lv 23). Ele pode ser visto também como o estatuto da purificação nacional, social e pessoal do povo hebreu (Lv 17.1-7).
Gênero literário é uma categoria de composição literária. A classificação das obras literárias podem ser feitas de acordo com critérios semânticos, sintáticos, fonológicos, formais, contextuais e outros. As distinções entre os gêneros e categorias são flexíveis, muitas vezes com subgrupos. O gênero legal (Legislativo) é representado na Bíblia principalmente no Pentateuco. Este livro relata as leis levíticas que Deus deu a Moisés na tenda (tabernáculo) da congregação. Deus deu estas leis a Moisés logo depois que o tabernáculo foi feito e pronto e a glória de Deus o encheu (Êx 40.34).

3. Autoria. Moisés é o autor humano de Levítico e dos demais livros que compõem o Pentateuco – os cinco primeiros livros da Bíblia. Por toda a obra, observamos a interação entre os autores divino e humano: Deus e Moisés (Lv 1.1; 5.14; 8.1; 15.1; 21.1; 27.1).
Como todo o Pentateuco, é comumente aceito a autoria de Moisés. O maior indicativo desta tese é a própria Palavra de Deus. Em Neemias 8.1 há a menção ao “Livro da Lei de Moisés”. Em Ne 13.1 e 2Cr 25.4, por exemplo, temos a citação de “Livro de Moisés”. No Novo Testamento apresentam citações similares em Mt 12.5; Mc 12.26; Lc 16.16; Jo 7.19 e Gl 3.10.

4. Data. De acordo com a cronologia bíblica, a saída de Israel do Egito ocorreu no ano 1445 a.C. Um ano mais tarde, Moisés levantou o Tabernáculo no deserto (ÊX 40.17). Foi exatamente nesse ponto que o profeta e legislador, inspirado pelo Espírito Santo, passou a registrarás normas do culto hebreu (Lv 1.1).
A data exata da compilação de Levítico é um tanto incerta. O certo é que ela deva ter ocorrido durante a peregrinação do povo de Israel pelo deserto, nas últimas décadas dos anos 1.400 a.C. A confiança que temos é que foi dada a Moisés, pelo próprio Deus, no Monte Sinai, quando o povo provavelmente acampou na região por nove meses.

SUBSÍDIO DIDÁTICO
                               
Professor(a) para ajudar na introdução do primeiro tópico da lição, copie no quadro o esquema abaixo. Explique que antes de iniciar a leitura de qualquer livro das Escrituras Sagradas é importante saber quem foi o seu autor, em que data foi escrito, qual o seu propósito, os temas e os personagens centrais. Depois, apresente o segundo esquema com a divisão do livro de Levítico.


II. A RAZÃO DO LIVRO

O livro de Levítico foi escrito tendo em vista estes objetivos: purificar Israel das abominações do Egito, preservá-lo das iniquidades de Canaã e transformá-lo num povo santo, obreiro e adorador.
Porque os israelitas haviam sido mantidos em cativeiro no Egito durante 400 anos, o conceito de Deus tinha sido distorcido pelos egípcios pagãos e politeístas. O objetivo de Levítico é fornecer instruções e leis para orientar um povo pecador, mas redimido, em seu relacionamento com um Deus santo. Há uma ênfase em Levítico na necessidade de santidade pessoal em resposta a um Deus santo. O pecado deve ser expiado através da oferta de sacrifícios próprios (capítulos 8-10). Outros temas abordados no livro são dietas (alimentos puros e impuros), o parto e doenças que são cuidadosamente regulamentadas (capítulos 11-15). O capítulo 16 descreve o Dia da Expiação, neste dia um sacrifício anual é feito pelo pecado cumulativo de todas as pessoas. Além disso, o povo de Deus deve ser discreto na sua vida pessoal, moral e social, em contraste com as práticas atuais e pagãs ao seu redor (capítulos 17-22).

1. Purificar Israel das abominações do Egito. Além de arrancar Israel do Egito, a Moisés coube também uma missão ainda mais difícil: arrancar o Egito de Israel. Embora já livres da servidão de Faraó, os israelitas não se livraram de imediato das abominações egípcias, haja vista o Lamentável episódio do bezerro de ouro (Êx 32.1-10).
Para arrancar Israel do Egito bastou um dia; para arrancar o Egito de Israel, quarenta anos não foram suficientes (Nm 14.33,34). Por esse motivo, o livro de Levítico fez-se necessário e urgente. O Senhor, detalhada e didaticamente, ensinou aos israelitas a diferençar o puro do impuro (Lv 10.10; 15.31; 20.25). Sem esse recurso didático, os hebreus jamais seriam reconhecidos como nação sacerdotal, profética e real (Êx 19.6).
O tema principal de Levítico é a santidade. A exigência de Deus pela santidade do Seu povo baseia-se na Sua própria natureza santa. Um tema correspondente é o de expiação. A santidade deve ser mantida diante de Deus, e ela só pode ser alcançada através de uma adequada expiação.
Deus se propusera a ter uma nação santa, um povo santificado, colocado à parte para Seu serviço. Desde os dias de Abel, homens fiéis de Deus vinham oferecendo sacrifícios a Deus, mas foi primeiro à nação de Israel que Deus deu instruções específicas sobre ofertas pelo pecado e outros sacrifícios. Estes, segundo explicado em pormenores em Levítico, deixaram os israelitas cientes da excessiva pecaminosidade do pecado e incutiu-lhes na mente quão desagradáveis isto os tornava aos olhos de Deus. Tais regulamentos, como parte da Lei, serviram como tutor conduzindo os judeus a Cristo, mostrando-lhes a necessidade de um Salvador, e, ao mesmo tempo, serviam para mantê-los como povo separado do resto do mundo. Em especial as leis divinas sobre pureza cerimonial serviram para este último objetivo. Lev. 11:44; Gál. 3:19-25.(Livro de Levítico. Disponível em:http://www.nucleodeapoiocristao.com.br/estudos/teologicos/esbocos_livros/velho/levitico.html. Acesso em: 25 Jun, 2018)

2. Preservar Israel das iniquidades de Canaã. Ao deixarem o Egito, um país notoriamente idólatra, os filhos de Israel peregrinaram durante quarenta anos pelo deserto, para receber, por herança, uma terra habitada por nações ainda mais idólatras e abomináveis (Lv 18.3). Por esse motivo, as recomendações divinas eram tão enérgicas (Dt 18.9).
Sem os estatutos, leis e regras do livro de Levítico, os israelitas corriam o risco de perder as suas características como povo exclusivo de Deus.
Como nova nação caminhando para uma nova terra, Israel necessitava de direção correta. Ainda não passara um ano desde o Êxodo, e os padrões de vida do Egito, bem como as suas práticas religiosas, ainda estavam vivos na mente deles. O casamento entre irmão e irmã era comum no Egito. Praticava-se a adoração falsa em honra de muitos deuses, alguns deles sendo deuses animais. Agora esta grande congregação estava a caminho de Canaã, onde a vida e as práticas religiosas eram ainda mais degradantes. Mas, observe de novo o acampamento de Israel. Engrossando a congregação havia muitos egípcios puros ou mestiços, uma multidão mista que vivia bem no meio dos israelitas e que nascera de pais egípcios e fora criada e instruída segundo os costumes, a religião e o patriotismo dos egípcios. Muitos destes, sem dúvida, até bem pouco antes, na sua terra, entregavam-se a práticas detestáveis. Quão necessário é que recebam agora orientações pormenorizadas de Deus! Levítico traz em sua inteireza a marca da inspiração divina. Meros humanos não poderiam ter formulado as suas leis e seus regulamentos sábios e justos. Os seus estatutos relativos à alimentação, doenças, quarentena e tratamento de cadáveres revelam um conhecimento de fatos que os homens da medicina, do mundo, só vieram a conhecer milhares de anos mais tarde. A lei de Deus sobre animais impuros para alimentação protegeria os israelitas durante a sua viagem. Ela os protegeria contra a triquinose provinda de porcos, a febre tifóide e paratifóide de certos tipos de peixe e infecções provindas de animais encontrados mortos. Estas leis práticas visavam orientar a religião e a vida deles, para que permanecessem como nação santa e atingissem e habitassem a Terra Prometida. A história mostra que os regulamentos fornecidos por Deus resultaram em os judeus levarem definida vantagem sobre outros povos em questões de saúde.” (Livro de Levítico. Disponível em:http://www.nucleodeapoiocristao.com.br/estudos/teologicos/esbocos_livros/velho/levitico.html. Acesso em: 25 Jun, 2018)

3. Transformar Israel num povo santo, adorador e obreiro. A Moisés cabia também educar os filhos de Israel, a fim de transformá-los num povo santo, adorador e obreiro (Lv 11.45). Sem a educação minuciosa e eficiente proporcionada pelo Livro de Levítico, os israelitas jamais teriam cumprido a missão que o Senhor lhes designara por intermédio de Abraão: ser uma bênção a todas as famílias da Terra (Gn 12.1-3; Dt 14.2). Afinal, Israel teria de portar-se como nação messiânica, pois tinha como missão principal, embora inconsciente, revelar Jesus Cristo ao mundo (Jo 4.22).
No Livro de Levítico vemos que Deus quer conviver com seu povo e que por essa razão provê meios para tal intento. Um dos propósitos da lei é revelar as condições para a comunhão do homem com Deus, pois, por causa do pecado, ela foi interrompida(1). O tema de santidade permeia Levítico, que menciona este requisito mais do que qualquer outro livro da Bíblia. Os israelitas deviam ser santos porque Deus é santo. Certas pessoas, lugares, objetos e períodos foram reservados como santos. Por exemplo, o Dia da Expiação e o ano do Jubileu foram reservados como períodos de observância especial na adoração de Deus. Em harmonia com a sua ênfase à santidade, o livro de Levítico frisa o papel que o derramamento de sangue, isto é, o sacrifício de uma vida, desempenhava no perdão dos pecados. Os sacrifícios de animais limitavam-se aos animais domésticos e limpos. Para certos pecados, requeria-se a confissão, a restituição e o cumprimento de uma penalidade, além do sacrifício. Para outros pecados, a penalidade era a morte. O Nome do Senhor precisa ser mantido sagrado, e não nos atrevemos a trazer opróbrio sobre ele mediante palavras ou ações (Lv 22.32; 24.10-16; Mt 6.9).
(1) Levítico: Instruções para vivermos em santidade e comunhão com Deus, de Fernando Luis Viana Alves. Betel, 2017. Pág. 11


SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Levítico é o âmago do Pentateuco! Uma das principais funções dos cinco primeiros livros da Bíblia é dar uma identidade ao povo de Deus. Na essência dessa identidade está Levítico; no centro do livro está a santidade. Não é um mero livro de regras, frio e tedioso. Em vez disso, a fonte de santidade é o Deus vivo, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó; o Deus que derrotou os egípcios e dividiu as águas; o Deus cuja presença habita no Tabernáculo. Levítico ensina o povo de Deus como viver em segurança na presença de um Deus santo” (Panorama da Bíblia. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 26).

III. O MANUAL DO SACERDOTE

O livro de Levítico foi entregue mui particularmente aos filhos de Levi, objetivando orientá-los quanto às atividades cultuais, santificadoras e intercessoras.
“Chega então o tempo para uma grande ocasião em Israel, a investidura do sacerdócio. Moisés cuida disso em todos os pormenores, como Deus lhe ordenara. "E Arão e seus filhos passaram a fazer todas as coisas que Deus ordenara por meio de Moisés." (8:36) Depois dos sete dias ocupados com a investidura, há um espetáculo milagroso e fortalecedor da fé. A assembléia inteira está presente. Os sacerdotes acabam de oferecer sacrifício. Arão e Moisés já abençoaram o povo. Daí, veja! "A glória de Deus apareceu ... a todo o povo. E desceu fogo de diante de Deus e começou a consumir a oferta queimada e os pedaços gordos sobre o altar. Quando todo o povo chegou a ver isso, irromperam em gritos e prostraram-se sobre as suas faces." (9:23, 24) Deveras, Deus é digno da obediência e da adoração deles! Contudo, há transgressões da Lei. Por exemplo, os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, oferecem fogo ilegítimo perante Deus. "Saiu então fogo de diante de Deus e os consumiu, de modo que morreram perante Deus." (10:2) A fim de oferecerem sacrifícios aceitáveis e gozarem da aprovação de Deus, tanto o povo como os sacerdotes têm de seguir as instruções de Deus. Logo depois, Deus dá o mandamento de que os sacerdotes não devem tomar bebidas alcoólicas enquanto servem no tabernáculo, dando a entender que a embriaguez talvez tenha contribuído para a transgressão dos dois filhos de Arão.” (Livro de Levítico. Disponível em:http://www.nucleodeapoiocristao.com.br/estudos/teologicos/esbocos_livros/velho/levitico.html. Acesso em: 25 Jun, 2018)

1. Atividades cultuais. Os levitas tinham como atribuição exclusiva zelar pela santidade, perfeição e beleza do culto do Deus de Israel (Nm 3.12). E, para que todas as coisas saíssem de acordo com as recomendações divinas, obrigavam-se eles a observar rigorosamente as ordenações do Levítico. Seu ofício deveria refletir a glória de Deus (Lv 9.1-6). Por esse motivo, tudo neles tinha de estar de acordo com as prescrições do Senhor: ordenação, pureza moral, espiritual e física (Lv 8.1-36; 10.8-11).
O livro de Números no capítulo quatro nos esclarece perfeitamente as legítimas funções dos levitas. Deus se refere aos levitas como alguém “apto a servir”, “capazes de servir”, que tenham “condições de servir”, “aptos a realizar o trabalho” e “realizar funções”. Os descendentes da tribo de Levi realizavam todo o qualquer tipo de serviço dentro do templo. Os filhos de Coate zelavam por todas as coisas santíssimas, os de Arão eram encarregados da Arca e tudo o que dizia respeito aos objetos usados no serviço do santuário, os gersonitas eram responsáveis pelo transporte das cortinas do Tabernáculo e os meraritas carregavam as armações de madeira do Tabernáculo. Existiam também, guardas, porteiros, padeiros, administradores, escribas, juízes, supervisores de construções, incluindo os que louvavam o Senhor com instrumentos musicais, como está escrito no livro primeiro das Crônicas, no capítulo 23. A função primária do sacerdócio levítico, consequentemente, era manter, assegurar e restabelecer a santidade do povo escolhido de Deus (Êx 28.38; Lv 10.7; Nm 18.1). O sacerdócio mediava a aliança de Deus com Israel (Ml 2.4ss.; Nm 18.19; Jr 33.20-26).

2. Atividades santificadoras. A reivindicação mais urgente e importante do Livro de Levi é a santificação de Israel como herança particular do Senhor: “Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o Senhor, vosso Deus” (Lv 20.7). Os sacerdotes, por conseguinte, deveriam, em primeiro lugar, cuidar de sua própria santificação para terem condições de zelar pela santidade de todo o povo (Lv 16.1-11). Recomendação semelhante faz o apóstolo Paulo aos obreiros de Cristo.
Levítico consiste na maior parte em escrita legislativa, grande parte dela sendo também profética. Apresenta as instruções de Deus para o povo de Israel sobre como deveria se aproximar dEle, ter comunhão com ele, cultuá-Lo e viver na Terra Prometida. Sua mensagem central é santidade (Lv 19.2). Estabelece a forma de culto e o comportamento dos sacerdotes através das normas e preceitos, ritos e ofertas.
As cerimônias ligadas com a consagração dos sacerdotes estão descritas em Êxodo 29 e Levítico 8. Elas incluíam um banho de consagração, unção, vestimenta e sacrifícios. A lavagem simbolizava a limpeza do coração para as obrigações ligadas à pureza da nação perante Deus. A unção (Lv 8.10,11) envolvia o derramar óleo na cabeça do sumo sacerdote e respingá-lo nas vestimentas dos outros sacerdotes (vv. 22-24). As vestimentas dos sacerdotes e especialmente a do sumo sacerdote eram caras e bonitas (Êx 28.3-5; Lv 8.7-9). Os sacrifícios de consagração incluíam a oferta pelo pecado (8.14-17), oferta queimada (vv. 18-21) uma oferta de consagração especial (vv. 22-32). O sangue do carneiro era aplicado na orelha, no dedo polegar e no dedo do pé direitos de Arão e de seus filhos, para simbolizar consagração física completa ao Senhor”. (SACERDOTES E LEVITAS. Disponível em: http://antigotestamento-shemaisrael.blogspot.com/2017/11/sacerdotes-e-levitas-historia-funcoes-e.html. Acesso em: 25 Jun, 2018)

3. Atividades intercessoras. A principal atividade do sacerdote era, sem dúvida, fazer a intermediação entre o pecador arrependido e o Deus Santo, Único e Verdadeiro (Lv 9.7), haja vista o gesto de Arão quando da apostasia de Core e seu bando. Naquele momento, o povo de Israel esteve prestes a ser destruído, mas o gesto do sumo sacerdote tornou a nação propícia a Deus (Nm 16.46).
Hoje, em virtude do sacrifício de Cristo, não mais necessitamos de intermediários humanos para nos achegarmos a Deus (1 Jo 4.10). Jesus é o nosso sublime e perfeito Sumo Sacerdote (Hb 7.26,27). Todavia, a santidade continua a ser exigida daqueles que oram e intercedem; que o façam “levantando mãos santas” (1 Tm 2.1,8). (LB CPAD, 3º Trim 2018, Lição 1, 1º Jul 18)
De modo geral as principais funções do sumo sacerdote eram ensinar a lei de DEUS e interceder pelo povo.
a) Oferecer dons e sacrifícios pelos pecados (v.1b). Na Antiga Aliança os oferentes não podiam dirigir-se diretamente a DEUS. Traziam suas dádivas e ofertas e as apresentavam ao sacerdote. Segundo estudiosos do Antigo Testamento, os dons eram ofertas de cereais e os sacrifícios eram “ofertas de sangue”. No Novo Testamento, Jesus , nosso Sumo Sacerdote quanto a nossa salvação, é tanto o oferente como a própria oferta vicária: “ofereceu-se a si mesmo [por nós] a Deus”.
b) “Compadecer-se ternamente dos ignorantes e errados” (v.2). O sumo sacerdote deveria ter simpatia, ou seja, capacidade para compartilhar as alegrias ou as tristezas das pessoas que lhe procuravam e, ao mesmo tempo, ter empatia, capacidade para se colocar na situação do outro. Só quem tem essas qualidades pode de fato ser um intercessor. Da mesma forma devem proceder os obreiros do Senhor no trato com os que erram por ignorância ou por fraqueza.


SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Ordenação: O ato histórico separa para sempre o sacerdócio dos outros israelitas. Mesmo após o tempo de Jesus, somente quem podia provar sua descendência de Arão por completos registros genealógicos era permitido atuar no sacerdócio. E à mulher do sacerdote era exigido ser uma israelita de sangue puro, de uma família sem qualquer tipo de imperfeição. Hoje, cada crente é um sacerdote, um membro adotado da família de Deus (1 Pe 2.5). Orelha e polegar, dedo do pé: Alguns têm sugerido que tocar essas partes do corpo com sangue simboliza a necessidade dos sacerdotes de estarem sempre prontos para ouvir a voz de Deus, sempre prontos a segui-lo. Parte da cerimônia de ordenação envolvia restringir Arão e seus filhos à câmara do Tabernáculo por sete dias. O ato simbolizava separar os sacerdotes do restante do povo, e separá-los para Deus. Porém, isso sugere ainda mais: Somente aqueles que vivem diariamente na verdadeira presença de Deus podem servir ao Senhor efetivamente. Precisamos permanecer junto a Ele, se desejamos ter um ministério junto aos outros” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 9.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 80).

CONCLUSÃO

A principal lição que extraímos do livro de Levítico é que o Deus santo requer duas coisas básicas de cada um de seus filhos: que nos separemos do mundo e que nos dediquemos, em pureza e santidade, ao seu serviço. Este é o nosso culto racional (Rm 12.1-3). 
O livro de Levítico apresenta as leis do Senhor e como o culto a Deus deveria ser oferecido. Levítico é o livro da lei de Deus e apresenta os preceitos que Israel teria de que cumprir para viver segundo o padrão de santidade exigido por Deus. Como discutido acima, este padrão deveria ser obedecido à risca para que a adoração fosse aceita. É importante que o cristão entenda os sacrifícios levíticos e como eles se cumpriram no nascimento, ministério, morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Naqueles sacrifícios e em todos os demais ensinamentos, encontramos vários aspectos da obra de Jesus e de como o homem deve se conduzir neste mundo de modo que agrade a Deus. Levítico tem o propósito de ajudar aqueles que amam a bendita Palavra de Deus.

“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br