sexta-feira, 25 de setembro de 2015

LIÇÃO 13: A MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA DA SALVAÇÃO




SUBSÍDIO I

INTRODUÇÃO

Nesta última aula do trimestre, estudaremos a respeito da manifestação da graça e da salvação de Deus. Inicialmente, trataremos sobre a manifestação da graça, e seu caráter pedagógico para o cristão. Em seguida, abordaremos o relacionamento do cristão com as autoridades, ressaltando a submissão, sobretudo à Palavra de Deus. E ao final, concluiremos mostrando, a partir das orientações de Paulo, como deveria ser o relacionamento de Tito com as pessoas, incluindo as autoridades civis.

1. A MANIFESTAÇÃO DA PEDAGOGIA DA GRAÇA

A graça salvadora de Deus se manifestou a todos os homens (Tt. 2.11), através de Jesus Cristo. Essa é uma graça revelada (gr. epifania), nenhum de nós poderia conhecer o favor imerecido de Deus, a menos que Ele mesmo a tivesse manifestado. Por isso a celebração natalina é uma oportunidade para reconhecer e agradecer a Deus por sua graça. A graça (gr. charis) tem procedência divina, os seres humanos estão acostumados a religiosidade, que exige sempre algo em troca, mas em Cristo identificamos o amor generoso de Deus. Os pecadores não merecem a graça de Deus, são dignos de condenação. Mas Deus manifestou não apenas graça,  também misericórdia, pois não recebemos aquilo que merecemos. A graça de Deus em Cristo foi manifestada a todos os homens, isto é, a pessoas de toda tribo, língua, povo e nação (Ap. 5.9). Todos são carentes da graça de Deus, independentemente da condição socioeconômica, da faixa etária ou do sexo. A salvação de Deus é para todos, pois todos pecaram, e ficaram distanciados da glória de Deus (Rm. 3.23). Por isso Deus enviou Seu Filho Unigênito ao mundo, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo. 3.16). Ele é o dom gratuito de Deus (Rm. 6.23), a prova do amor de Deus para conosco (Rm. 5.8). Mas essa não é uma graça barata, que nada exige daqueles que receberam. É preciso lembrar que não somos salvos pelas obras (Ef. 2.8,9), mas para as boas obras (Ef. 2.10). Por isso a graça de Deus tem um caráter pedagógico, ela nos ensina a renegar a doutrina da impiedade, da prática do pecado. Ela também nos ensina a renegar a ética relativista, que acata todos os posicionamentos como verdade. Ela nos ensina a praticar o bem, a nos preocuparmos com o próximo. Ela nos ensina a viver no presente século de forma sensata, a partir de uma conduta moderada (gr. sophronos) para a glória de Deus (Tt. 2.12).

2. O RELACIONAMENTO DOS CRISTÃOS COM AS AUTORIDADES

O relacionamento entre as pessoas da igreja é um dos temas centrais da Epístola de Paulo a Tito. No início do Cap. 3 o Apóstolo orienta o jovem pastor quanto ao tratamento a ser dado às autoridades civis. Isso mostra que a vida cristã deve ser isolada das responsabilidades sociais, os cristãos não pertencem ao sistema mundano, que se distancia dos valores divinos, por outro lado, está inserido na realidade social. Por isso devem estar sujeitos às autoridades que governam, sendo obedientes, e prontos para toda boa obra (Tt. 3.1; Rm. 13.1). A submissão do cristão às autoridades não pode ser irrestrita, principalmente quando os princípios humanos contrariarem a Palavra de Deus (At. 5.29). Não podemos apoiar um Estado absolutista e opressor, que promove o mal e coíbe o bem, se for o caso, os cristãos têm o direito de desobedecer. O objetivo do Estado não é favorecer os mais ricos, em detrimento dos mais pobres, antes é promover o bem e coibir o mal (Rm. 13.4). Devemos orar pelas autoridades constituídas (I Tm. 2.1,2), mas isso não quer dizer que iremos apoia-las. Devemos votar com cautela, avaliando o passado, sobretudo o compromisso do candidato. A obediência do cristão ao Estado também tem a ver com a Constituição. Evidentemente essa não é superior a Palavra de Deus, mas até mesmo as autoridades devem se reger por aquela. É nesse contexto que o cristão deve cooperar com a sociedade, buscando o bem de todos, sem favorecer injustamente uma minoria.

3. A CAPACIDADE RELACIONAL DOS CRISTÃOS

O cristão deve saber se relacionar bem com todas as pessoas, não apenas com as autoridades constituídas (Tt. 3.2). Isso começa pelo cuidado com a língua, para não difamar as pessoas, não denegrindo as imagens dos outros, sem conhecimento de causa. Os cristãos precisam ser bons construtores de pontes, ao invés de edificador de muros. Há cristãos que se isolam das outras pessoas, são incapazes de desenvolver um relacionamento produtivo. Como Saul, existem pessoas que são tóxicas, não conseguimos permanecer muito tempo perto delas. Os crentes devem demonstrar mansidão (gr. prauteta). O comportamento apropriado do cristão está fundamenta em uma doutrina correta. Existe uma relação entre a ortodoxia e a ortopraxia, isso quer dizer que somente poderá haver um comportamento correto, fundamentado em uma doutrina correta (Tt. 3.3-8). Precisamos investir no ensinamento bíblico em nossas igrejas, caso contrário, os crentes serão conduzidos por doutrinas errôneas. Devemos recordar que antes de conhecermos a Jesus como Salvador, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, voltados às paixões mundanas, na malícia e inveja. Mas fomos alcançados pela graça maravilhosa de Deus, a salvação em Cristo chegou até nós. Por esse motivo, devemos viver em novidade de vida, não mais entregues aos desejos pecaminosos. Experimentamos a regeneração (gr. paliggenesia), o nascimento do alto (Jo. 3.3), por isso somos novas criaturas (I Co. 5.17). Isso nos coloca em uma nova dimensão espiritual, e nos dá a possibilidade de nos relacionar produtivamente com as pessoas: evitando discussões e repreendendo os facciosos,  (Tt. 3.9-15)

CONCLUSÃO

Ao final do estudo dessas Epístolas Pastorais, compreendemos o significado real do ministério cristão. A exposição aclarada dessas verdades serviu de despertamento para que a igreja continue valorizando os obreiros dedicados, sobretudo aqueles devotados a Palavra de Deus. Ao mesmo tempo, devem manter distância dos falsos mestres, daqueles que se infiltram nas igrejas, tão somente para tirar proveito do rebanho. E não esqueçamos que, fomos alcançados pela graça maravilhosa, que se manifestou em Jesus Cristo, sendo esse o mote da nossa pregação, e um estimulo para viver em santidade.

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa


COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Nesta última lição do trimestre estudaremos a respeito da graça divina. A graça de Deus é a mais extraordinária manifestação do seu amor para com a humanidade. Mas esta só pode usufruir os benefícios desse recurso divino, se reconhecer o seu estado miserável, em termos espirituais, e converter-se mediante a aceitação de Cristo como Salvador. [Comentário: Segundo a Bíblia, todos nós pecamos (Ec 7.20, Rm 3.23, 1Jo 1.8). Como resultado do pecado, todos nós merecemos a morte (Rm 6.23) e julgamento eterno do lago de fogo (Ap 20.12-15). Com isso em mente, todo dia que vivemos é um ato de misericórdia de Deus. Posto que a graça traz salvação, é crucial compreender o que a graça significa. A graça de Deus é seu favor ativo em outorgar o maior dom aos que merecem o maior castigo. Essa graça penetrou em nossas trevas morais e espirituais. Difere de misericórdia, embora algumas vezes as Escrituras usem a graça como um sinônimo de misericórdia. Graça é favor imerecido. O termo no original grego é charis, que deriva de charizomai. Esta palavra significa “mostrar favor para” e assume a bondade do doador e a indignidade do receptor. Quando charis é usada para indicar a atividade de Deus, significa “favor não merecido”; assim, dizemos que nós recebemos a graça de Deus. Estamos dizendo, ao mesmo tempo, que somos indignos dela e que não podemos trabalhar por ela. Desta maneira, definimos graça como ela é usada no Novo Testamento, ou seja, "O eterno e absolutamente livre favor de Deus concedido a pessoas indignas e culpadas na doação de bênçãos espirituais e eternas".] Vamos pensar maduramente sobre a fé cristã?

1. A MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA DE DEUS

1. A graça comum. Graça vem da palavra hebraica hessed, e do termo grego charis, cujo sentido mais comum é o de "favor imerecido que Deus concede ao homem, por seu amor, bondade e misericórdia". A partir dessa conceituação, podemos ver a "graça comum", pela qual Deus dá aos homens as estações do ano, o dia, a noite, a própria vida, ou seja, todas as coisas" (At 17.25 b). [Comentário: Graça comum é um conceito teológico do protestantismo, primariamente em círculos calvinistas ou reformados, que se refere à graça de Deus que é comum a toda a humanidade. Ela é comum porque seus benefícios se estendem a todos os seres humanos sem distinção. Ela é graça porque é concedida por Deus em Sua soberania. Neste sentido, a graça comum distingue-se da concepção calvinista de graça especial ou graça salvadora, que se estende somente aos escolhidos por Deus para a redenção. Wayne Grudem assim explica a Graça Comum: “Podemos definir graça comum da seguinte maneira: Graça comum é a graça de Deus pela qual Ele dá às pessoas bênçãos inumeráveis que não são parte da salvação. A palavra comum aqui significa algo que é dado a todos os homens e não é restrito aos crentes ou aos eleitos somente”. Nos círculos Arminianos, o termo correto seria Graça Preveniente, vista como sendo uma graça universal, ou graça comum. Porém, o termo graça comum tem conotações bem diferentes, especialmente quando estudado à luz da fé reformada (Calvinista), que expressa a idéia de que esta graça se estende a todos os homens, em contraste com a graça particularque limita a uma parte da humanidade, a saber, os eleitos. A graça preveniente é uma doutrina arminiana crucial, na qual os calvinistas também acreditam, mas os arminianos a interpretam diferentemente. A graça preveniente é simplesmente aquela graça de Deus que convence, chama, ilumina e capacita, e que precede a conversão e torna o arrependimento e a fé possíveis. Os calvinistas a interpretam como irresistível e eficaz; a pessoa em quem ela opera irá crer e arrepender-se para salvação. Os arminianos a interpretam como resistível; as pessoas são sempre capazes de resistir à graça de Deus, como a Escritura chama a atenção (At 7.51). Mas sem a graça preveniente, elas inevitavelmente e inexoravelmente resistirão à vontade de Deus por causa de sua escravidão ao pecado.].

2. A graça salvadora. "Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" (2.11). Está à disposição de "todos os homens", mas só é alcançada por aqueles que creem em Deus, e aceitam a Cristo Jesus como seu único e suficiente Salvador. Por intermédio dela, Deus salva, justifica e adota o pecador como filho (Jo 1.12). [Comentário: A graça salvadora é aquela que vem sobre o homem, “morto em seus delitos e pecados” (Ef 2.1), incapaz de ter qualquer reação em relação a tudo que diz respeito a Deus para “vivificá-lo juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)” (Ef 2.5). É a graça que confere salvação (At 15.11; Rm 3.24; 5.15; 11.6; Tt 2.11). A graça salvadora confere ao homem habilidades em todos os campos e esferas da vida, capacita-o a fazer boas obras e o leva a um compromisso mais sério com Deus e o sagrado. Muito embora, alguns, hoje em dia, têm tentado baratear a graça salvadora de Deus, oferecendo salvação como se fosse mercadoria estendida em um balcão, o que se percebe de bíblico e teológico nesse conceito é que a graça salvadora de Deus é oferecida para a justificação e vem atrelada a uma mudança de iniciativa e postura. O apóstolo Paulo escreveu que “é pela graça que sois salvos” (Ef 2.8). Isso quer dizer que o homem nada fez e nada faz nesse processo de salvação. Ele é paciente, o agente é Deus em sua graça. Pode-se concluir que salvação é graça de Deus derramada na vida dos eleitos em Cristo (Ef 1.4). Nitidamente, não se trata de uma graça dispensada a todos os homens, mas a um grupo especial, e especial em Cristo. Paulo, em vários textos, refere-se à igreja como eleita. Perceba que a igreja não elege, mas é eleita, ou seja, mais uma vez depara-se com o favor imerecido de Deus – com a graça. Mas, uma graça que não se iguala à comum, pois não é outorgada a todos os homens. A essa graça, os teólogos chamam graça salvadora.].

3. Graça justificadora e regeneradora. A Graça de Deus é a fonte da justificação do homem (Rm 3.21-26). Uma vez nascida de novo, a pessoa passa a ser "nova criatura" (2 Co 5.17), tomando parte na família de Deus: "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus" (Ef 2.19). [Comentário: Justificação é o ato de Deus pelo qual Ele declara justo aquele que crê em Jesus Cristo. O homem, que era culpado e condenado perante Deus, agora é absolvido e declarado justo pelo próprio Deus (justificado), por meio de Jesus Cristo (Rm 5.1). Nos que estão em Cristo, a justiça de Deus é manifestada (2Co 5.21) e por Ele obtemos o perdão dos pecados (Ef 1.7). Regeneração e Adoção – regenerar significa gerar de novo. O homem, morto em transgressões e ofensas, precisa de uma nova vida em Cristo, sendo esta concedida pelo ato divino do novo nascimento (Jo 1.12,13; 3.3-5). Sugere uma cena familiar. O crente é um com Cristo, em virtude de sua morte expiatória e do Seu Espírito vivificante. Nele somos feitos novas criaturas, com uma nova vida (2Co 5.17). O novo homem, em Cristo, torna-se herdeiro de Deus e membro de Sua família (Rm 8.14-17).].

4. Graça santificadora. A graça de Deus só pode ser eficaz, na vida do convertido, se ele se dispuser a negar-se a si mesmo para ter uma vida de santidade. A falta de santificação anula os efeitos da regeneração e da justificação. Diz a Bíblia: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12.14). [Comentário: A salvação é um processo que se inicia na conversão e termina na ressurreição de nossos corpos, no dia da vinda do Senhor Jesus Cristo. Assim, a “santificação”, como parte da salvação, está relacionada à separação da propriedade exclusiva de Deus (que somos nós) para uma vida que O glorifique (Rm 12.1-2). Tendo paz com Deus, e tendo recebido uma nova vida, o novo homem, dessa hora em diante, dedica-se ao serviço de Deus. Comprado por elevado preço (1Pe 1.14-19), já não é dono de si mesmo; não mais vive na prática do pecado, mas serve a Deus de dia e de noite (Lc 2.37). Tal pessoa é santificada por Deus e, por sua própria vontade, entrega-se a Ele para viver em santificação e em novidade de vida. Somos santificados (1Co 1.2), e Ele é feito para nós santificação (1Co 1.30). Ele é o autor da salvação eterna (Hb 12.2). O homem salvo, portanto, é aquele cuja vida foi harmonizada com Deus, foi adotada na família divina, e agora dedica-se a servi-Lo. Em outras palavras, sua experiência da salvação, ou seu estado de graça, consiste em “justificação, regeneração, adoção e santificação. Sendo justificado, ele pertence aos justos; sendo regenerado, ele é filho de Deus; sendo santificado, ele é santo, literalmente uma pessoa santa”. A santificação está consubstanciada na salvação formando um conjunto integralizado, conforme vemos em Hb 12.14, assim: "Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor".].

SUBSÍDIO DIDÁTICO

Professor, explique aos alunos o conceito de "graça comum", dizendo que se trata de uma abordagem eminentemente da teologia reformada. É uma tentativa de se responder uma questão angustiante observada na existência dos santos, bem como observou o salmista Asafe (Sl 73). Se o salário do pecado é a morte, por que as pessoas que pecam não morrem imediatamente e não vão definitivamente para o inferno, mas desfrutam de bênçãos incontáveis na terra? Ainda, como pode Deus dispensar bênçãos a pecadores que merecem apenas, e somente, a morte, mesmo as pessoas que serão condenadas para sempre ao inferno? Neste contexto é que a doutrina da "graça comum" traz uma resposta bíblica acerca da questão. É uma graça pela qual Deus dá aos seres humanos bênçãos ou dádivas inumeráveis que não fazem parte da salvação. Ou seja, não significa que quem as recebe já é salvo. A base bíblica para esse entendimento é a graça manifestada por Deus na esfera física da vida (Gn 3.18; Mt 5.44,45; At 14.16,17); na esfera intelectual (Jo 1.9; Rm 1.21; At 17.22,23); na esfera da criatividade (Gn 4.17,22); na esfera da sociedade (Gn 4.17,19,26; Rm 13.3,4); na esfera religiosa (1 Tm 2.2; Mt 7.22; Lc 6.35,36). Ou seja, não é porque o mal reinante no ser humano é fruto do pecado original que ele fará somente obras más. Não, a Graça de Deus opera em todos os homens e faz com que eles façam coisas boas também.

2. A CONDUTA DO SALVO EM JESUS

1. Sujeição às autoridades (v. 1). O cristão sincero deve obedecer aos governantes e autoridades constituídas, desde que estes não desrespeitem a Lei de Deus. Jesus mandou dar "a César o que é de César" e "a Deus o que é de Deus" (Mt 22.21). [Comentário: Nossa obediência às autoridades não é servil. Deve ser positiva e crítica. Calvino afirma que a igreja deve ser a consciência do Estado, alertando-o sempre de seu papel. O poder das autoridades possui balizas e limites. O Estado não pode ser absolutista, divinizado, encabrestando as consciências e violentando e determinando o foro íntimo das pessoas. A atitude a assumir em face das autoridades é sujeição. O termo “hypotalassesthai” não implica de modo algum um servilismo. Trata-se de uma sujeição como convém no Senhor. Essa sujeição visa evitar a desordem e promover a paz. Conforme o v. 5, a obediência à autoridade não tem o caráter de resignada submissão inspirada pelo temor ou medo, seja de multa, seja de prisão. Sua obediência não é só por medo de conseqüências. Você obedece por questão de consciência, pois aceita que a autoridade vem de Deus e quando obedece a autoridade, obedece a Deus - Deus é a fonte de toda autoridade e os que exercem autoridade na terra o fazem por delegação divina. A autoridade precisa reconhecer que sua autoridade é delegada. Quem exerce autoridade, a exerce debaixo da autoridade de Deus. Está subalterno à autoridade de Deus. Foi constituído por Deus para governar de conformidade com a justiça. Deus é o protótipo e o arquétipo da autoridade. É a autoridade de Deus que se exerce, quando exercem as autoridades civis sua autoridade a serviço do bem. Leia este interessante artigo do Ver Hernandes Dias Lopes: http://hernandesdiaslopes.com.br/2004/05/a-autoridade-civil/#.VgCc8n0T8Q0].

2. O relacionamento do cristão (v. 2). Aqui, vemos quatro comportamentos éticos, exigidos dos cristãos. Vejamos:

a) Não infamar a ninguém. É pecado muito grave caluniar alguém, seja na igreja, seja fora dela. É passível de sanção judicial ou condenação na justiça humana. Muito mais, na Lei de Deus. Normalmente, a infâmia é ditada com intenção de prejudicar o outro. O cristão deve cultivar o fruto do Espírito da "benignidade", que é a qualidade de quem só faz o bem (Gl 5.22). [Comentário: Segundo o dicionário Michaelis da Língua Portuguesa, "difamar" vem do latim "diffamare", e significa "falar mal de". Enredo, intriga, bisbilhotice, chocarrice, desordem, balbúrdia. Difamação quer dizer também mentira, embuste. Porque; ora fala-se de um erro na vida de uma pessoa, ora inventa-se ou aumenta-se. Mexerico é também uma maneira covarde de se falar da vida alheia porque ocorre na ausência daquele de quem se fala. O mexerico não leva assinatura, não implica em responsabilidades. O difamador teme as implicações das suas palavras porque no fundo não sabe se é verdade aquilo que diz. Ao espalhar contendas, fomentar divisões e discórdias no meio do povo de Deus o difamador age como instrumento do diabo, praticando abominação contra o Senhor. Deus condena esta prática: "Quem, Senhor, habitará no Teu tabernáculo? Quem há de morar no Teu santo monte? ...Aquele que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra o seu próximo" (Sl 15.1-3); "O que encobre o ódio tem lábios falsos, e o que difama é um insensato" (Pv 10.18); "O homem perverso levanta a contenda , e o difamador separa os maiores amigos" (Pv 16.28).].

b) Não ser contencioso. Contendas nas igrejas geralmente têm resultados muito prejudiciais. Infelizmente em algumas reuniões, até mesmo de ministros cristãos, vemos pessoas contendendo umas com as outros, por causa de interesses políticos ou pessoais. Isso não agrada a Deus (2 Tm 2.24). [Comentário: Mas, se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus” (1Co 11.16). É muito comum na vida cotidiana de uma Igreja Local a ocorrência de conflitos. Por vezes surgem divergências entre os irmãos, ou mesmo entre a própria liderança. Em Tiago 4.1-10 lemos acerca de “Guerras e contendas”, duas palavras que denotam que estava havendo divisões, rixas e competições dentro da Igreja de Cristo (Será que esse era um problema só do tempo de Tiago?). Donde vem então as guerras e contendas? - pergunta Tiago. Ele mesmo responde: “Dos vossos deleites”, ou seja, o espírito de contenda entre os irmãos é produto da carnalidade humana, da carne trabalhada pelo intenso desejo de prazer, de satisfação. Então Tiago enumera uma série de atitudes erradas daqueles irmãos: - Cobiça: Desejar melhores condições de vida não é errado. É uma legítima aspiração humana. Mas “cobiçar” aqui não é uma aspiração legítima.É um desejo não inspirado por Deus . - Inveja: Significa aqui “arder em ciúmes “pelas posses alheias. - Pedidos mal feitos: Lembremo-nos das palavras de Jesus em Mt 7.7,8. Muitas vezes pedimos e não recebemos porque pedimos mal. São os deleites, os prazeres que nos levam a pedir mal, de forma desfocada da vontade divina. - Amor ao mundo: Importa lembrar aqui que “mundo” não são as pessoas. “Deus amou o mundo...”Temos um sentido moral no termo: não é possível amar a Deus e ao conjunto de valores pervertidos que se opõe a Ele. “Infiéis” traz literalmente o sentido de “adultério”. O cristão deu seu coração a Jesus Cristo. Apaixonou-se por Ele. Amar o mundo é adulterar contra Cristo, é dividir o amor que lhe foi prometido.].

c) Ser modesto. A modéstia deve ser evidente na vida de homens e mulheres cristãos. Revela a simplicidade exortada por Jesus, em seu evangelho: "Eis que vos envio como ovelhas ao meio de lobos; portanto, sede prudentes como as serpentes e símplices como as pombas" (Mt 10.16). [Comentário: Como cristãos, nosso comportamento define o tom de como os outros nos vêem e dão valor a nossa fé. Modéstia é o mesmo que simplicidade e temperença em todas as coisas. Paulo convoca todo cristão a que seja “hospitaleiro, amigo do bem, sensato, justo, consagrado, tenha domínio próprio” (Tt 1.8). E é assim que devemos ser. Nossa vida deve ser marcada pela abstinência voluntária em meio ao luxo extravagante. Recusamo-nos a permitir que o luxo e a ostentação penetrem em nosso estilo de vida. Nosso uso dos recursos é sempre moderado pela necessidade humana.].

d) Mostrar "mansidão para com todos os homens". Deve ser característica marcante, do servo de Deus, ser "manso e humilde de coração", como Jesus ensinou (Mt 11.29). Além de não ser interessante a contenda, no meio cristão, o crente precisa ser "manso para com todos, apto para ensinar, sofredor" (2 Tm 2.24b). [Comentário:(Mt 5.5): Esta bem-aventurança está na contra-mão dos valores do mundo – O mundo rejeita os valores do Reino de Deus. A humanidade pensa em termos de força, de poderio militar, bélico, econômico, político. Quanto mais agressivo, mais forte. Esse é o pensamento do mundo. Jesus, porém, diz que não são os fortes e os arrogantes que são felizes; nem são eles que vão herdar a terra, mas os mansos. Ser cristão é ser totalmente diferente. Somos uma nova criatura. Temos um novo nome, uma nova vida, uma nova mente, um novo Reino. Ser manso não é um atributo natural. A mansidão não é apenas uma boa índole, uma pessoa educada socialmente. Não apenas algo externo, convencional, mas uma atitude interna, uma obra da graça no coração, fruto do Espírito. Spurgeon dizia que “ser manso não é virtude, é graça”. Ninguém é naturalmente manso. Só aqueles que reconhecem que nada merecem diante de Deus e choram pelos seus próprios pecados, podem ser mansos diante de Deus e dos homens.Extraído de http://hernandesdiaslopes.com.br/2012/11/por-que-os-mansos-sao-felizes/#.VgCnLH0T8Q0].

3. A lavagem da renovação do Espírito Santo (v. 3). Vivíamos entregues ao pecado e longe de Deus, mas Cristo nos salvou e nos purificou. Como novas criaturas não temos mais prazer no pecado.  Observe, a seguir, algumas características, segundo Paulo que caracterizam o homem que vive segundo a carne: [Comentário: Segundo a bíblia, carnal é a pessoa dirigida, governada pela carne, isto é, a natureza pecadora herdada de Adão, a disposição interior que é inclinada para o pecado, para o que é mal. É chamada de Velha Natureza, Velho Homem, Natureza Adâmica e Natureza Terrena ou Natureza carnal. Todo ser humano já nasce com ela, independente da sua escolha. No decorrer da vida, esta natureza carnal precisa ser regenerada e a única coisa que a regenera é o novo nascimento Porque “o que é nascido da carne (o que é humano) é carne...”. (Jo 3.6); “... aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus”. (Jo 3.3).].

a) Insensatez. Refere-se à velha vida, plena de loucura, imprudência, leviandade e incoerência, que leva muitos à perdição eterna. Na parábola das dez virgens, Jesus chama a atenção para as cinco "loucas" ou insensatas, que não se preveniram com o azeite para esperar o noivo (Mt 25.1-13). Jesus também falou sobre o homem "insensato", que edifica sua casa sobre a areia (Mt 7.26). O desastre espiritual torna-se inevitável. [Comentário: Há um grupo de homens e mulheres que está se perdendo e Jesus lhes disse: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus.” (Mt 7.21). Uma indagação desde já se coloca: O que é fazer a vontade do Pai? É ter a comunhão, a dependência e o relacionamento com a fonte do poder que é Cristo. E logo vem a segunda indagação: Por que você está na Igreja à qual pertence? Por que o pastor pregou um sermão bonito? Por que sua mãe pediu? Por que a doutrina lhe convenceu? Você está na Igreja porque os irmãos são muito amorosos? Por que gosta do templo? Por que não gostou de outra Igreja? Pois bem, a meu sentir, tudo isso é edificar na areia, sua casa vai ruir. Mas se você é cristão porque se apaixonou por Cristo, porque Jesus é tudo na sua vida e ela passou a ser uma permanente dependência de Jesus, então você construiu sua casa na Rocha.].

b) Desobediência. A desobediência foi o primeiro pecado cometido pelo homem (Rm 5.19). E desde então é a "mãe" de todos os pecados, cometidos, em todos os tempos (Rm 11.30), por aqueles que são "filhos da desobediência" (Ef 2.2; 5.6; Cl 3.6). [Comentário: Todo aquele que está sem Cristo é controlado pelo “príncipe das potestades do ar”, isto é, Satanás. Sua mente é obscurecida por Satanás, para que não veja a verdade de Deus (cf. 1 Co 4.3,4). Tais pessoas estão escravizadas pelo pecado e concupiscências da carne (v. 3; Lc 4.18). A pessoa irregenerada, por causa de sua condição espiritual não poderá compreender, nem aceitar a verdade à parte da graça de Deus (vv.5, 8; 1 Co 1.18; Tt 2.11-14).].

c) Extravio. Sem Deus, sem a salvação em Cristo, o homem é um perdido, como ovelha sem pastor (Mt 9.36). É uma situação difícil e por vezes desesperadora. Mas é feliz quem faz como o "filho pródigo", que tomou a decisão sábia de retornar humilhado à casa do pai, onde foi recebido com amor e misericórdia (Lc 15.18-24). [Comentário: A pessoa sem Cristo é responsável pelo seu pecado, pois Deus dá a cada ser humano uma medida de luz e graça, com a qual possa buscar a Deus e escapar da escravidão do pecado, mediante a fé em Cristo (Jo 1.9; Rm 1.18-32; 2.1-6).].

d) Servindo a "várias concupiscências e deleites".  Outra tradução fala de "paixões e prazeres", que dominam a vida do homem sem Deus. Os deleites da carne impedem que o homem se converta a Deus de verdade, sufocado pelos "espinhos" da vida (Lc 8.14). As concupiscências da vida, ou os desejos exacerbados da carne são impedimento para uma vida de santidade e fidelidade a Jesus (1 Pe 4.3; Jd 16). [Comentário: Concupiscência é grande desejo de bens ou gozos materiais, apetite sensual. A concupiscência é um vício próprio da carne e se opõe à obra do Espírito Santo na vida do cristão. O apóstolo Paulo nos exorta dizendo: “Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne, porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro para que não façais o que quereis” (Gl 5.16-17). É a fonte da corrupção deste mundo - 2Pd 1.4; é coisa vil, e não poderia ser colocada no homem por Deus - Cl 3.5; escarnece do próprio Deus 2Pd 3.3-4. Os apóstolos predisseram que no último tempo haveria escarnecedores que andariam segundo as suas ímpias concupiscências. “Estes são os que causam divisões, sensuais, que não têm o Espírito” (Jd 17-19).].

e) "Vivendo em malícia e inveja". Malícia é sinônimo de maldade, perversidade, malignidade, o que não deve fazer parte da vida cristã (Ef 4.31; Cl 3.8); a inveja é outro sentimento indigno para um cristão sincero. A inveja é "a podridão dos ossos"  (Pv 14.30). [Comentário: Malícia é a tendência para julgar, dizer, agir com maldade; dolo, má-fé. O malicioso é aquele que vê maldade em tudo o que acontece ou em tudo que ouve. Como ele é uma pessoa maldosa, ele tem a tendência de achar que todos em sua volta também o são, e por isso, faz prejulgamento das pessoas, baseado na sua própria experiência. O problema da malícia é que ela faz com que a pessoa que a pratica iguale a todos por baixo. A malícia é uma lente que faz a pessoa ver sujeira/impureza em todos e em tudo. E, 1 Co 14.20 diz "Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento". Por que meninos na malícia? - Porque as crianças confiam nas pessoas, não as vê como inimigas ou como perigosas. A criança é naturalmente ingênua, pura, sincera. é assim que todo aquele que é nascido de novo, pela Palavra deve ser e de se comportar. Inveja é o sentimento que faz a pessoa desejar o que a outra tem (pode ser tanto bens materiais ou mesmo qualidades inerentes ao ser). Mas, o problema é que o invejoso não deseja ter uma coisa semelhante à que a outra pessoa tem, mas ter exatamente a mesma coisa, ou, não sendo lhe sendo possível ter a mesma coisa, o invejoso deseja que o bem da outra pessoa lhe seja tirado. O invejoso não suporta saber que tem alguém no grupo que ele frequenta melhor ou maior que ele. Numa outra perspectiva, a inveja também pode ser definida como uma vontade frustrada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser, pois aquele que deseja tais virtudes é incapaz de alcançá-la, seja pela incompetência e limitação física, seja pela intelectual.].

f) Odiosos, odiando "uns aos outros".  A "lavagem da regeneração do Espírito Santo" nos faz "justificados pela sua graça" e herdeiros da vida eterna (3.4-7). João adverte-nos ao dizer que "qualquer que aborrece a seu irmão é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna" (1 Jo 3.15). No Antigo Testamento, só era homicida quem matasse alguém com algum tipo de objeto perigoso. No evangelho da graça de Deus, é homicida quem, no coração, odeia o seu irmão. [Comentário: Este texto responde ao que foi escrito no texto anterior em que o autor descreve sobre a necessidade de servos mansos no tratamento para com os outros. Se hoje nós somos pessoas que se esforçam para vivermos uma vida mais justa, não podemos nos esquecer de que antes de nos convertermos ao evangelho de Cristo, vivíamos como os incrédulos vivem no mundo. De forma que eu não posso condenar os outros, por aquilo que eu fazia quando ainda estava na mesma situação do meu próximo. Deve haver compreensão nisto. Essas são características próprias daqueles que ainda não se converteram pelo poder do evangelho de Cristo. O homem natural é dominado pela malícia, se deixa levar pela inveja para com o seu semelhante e o seu coração tem facilidade de ser infectado pelo ódio e pela raiva. Antes de sermos transformados em uma nova criatura pela influencia do evangelho das boas novas, o que prevalecia em nossos corações era o ódio por aqueles que de alguma maneira nos faziam oposição ou nos contrariasse. Quem não tem Deus em sua vida, só pensa em prejudicar o seu próximo.].

SUBSÍDIO DIDÁTICO

A Natureza da Política
"A essência da política é a luta por poder e influência. Todos os grupos e instituições sociais precisam de métodos para tomar decisões para seus membros. A política nos ajuda a fazer isso. A palavra grega da qual política é derivada é polis, que significa 'cidade'. Política no sentido clássico envolve a arte de fazer uma cidade funcionar bem. Também ajuda a administrar nossas organizações e governos. Quando nosso sistema político é saudável, mantemos a ordem, provemos a segurança e obtemos a capacidade de fazer coisas como comunidade que não poderíamos fazer bem individualmente. Votamos as leis, fazemos a polícia impô-las, arrecadamos impostos para estradas, sistemas de esgoto, escolas públicas e apoio nas pesquisas de câncer. Em nossas organizações particulares, um sistema político sadio nos ajuda a adotar orçamentos, avaliar pessoal, estabelecer e cumprir políticas e regras e escolher líderes. No melhor dos casos, a política melhora a vida de um grupo ou comunidade. A política toma uma variedade de formas, como eleições, debates, subornos, contribuições de campanha, revoltas ou telefonemas para legisladores. Como vê, alistei maneiras nobres e ignóbeis de influenciar as decisões de um sistema político. Algumas delas são formais, como as eleições, ao passo que outras são informais, como telefonar para vereadores, deputados e senadores e pressioná-los a votar do nosso modo" (PALMER, Michael D. Panorama do Pensamento Cristão. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p.447).

3. AS BOAS OBRAS E O TRATO COM OS HEREGES

1. A prática das boas obras (v. 8). Praticar boas obras faz parte do dia a dia do servo ou da serva de Deus. "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10). Quem está em Cristo tem prazer em praticar aquilo que é bom e agradável ao seu próximo e a Deus. [Comentário: praticar boas obras faz parte da nossa criação em Cristo, fomos criados para          viver com Deus e manifestar sua presença na face da terra. Não são elas que nos justificam ou dão acesso à salvação. Pelo contrário, são conseqüência da vida de Cristo em nós. São fruto de alguém que já recebeu uma nova natureza e produz um novo fruto. Nosso Senhor testificou que as boas obras do mundo são más. "O mundo não vos pode aborrecer, mas ele aborrece a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más", (Jo 7.7). Ele também testificou em relação aos fariseus, que em todas as obras que faziam eram só para serem louvados pelos homens. "E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largas filacterios, e alargam as franjas dos seus vestidos" (Mt 23.5). Lemos ainda sobre as obras mortas, as obras da carne e as obras de Satanás. Por isto precisamos fazer uma distinção ao tratarmos sobre o assunto de boas obras. As Escrituras tornam bem claro que ninguém, a não ser os salvos, podem fazer isto. "Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras" (Ef 2.10). "Portanto os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rm 8.8). As boas obras são o fruto do Espírito, e ninguém, a não ser os salvos, tem o Espírito. As boas obras são o resultado e não a causa da salvação. A ordem divina é salvação, depois o serviço. Somos salvos para servir a Deus e aos outros. Em cada campo, exceto na mecânica, é preciso que haja vida antes da atividade. Cada homem, por natureza, está morto em pecados e alienado de Deus. A crença que o pecador pode trabalhar para ganhar a salvação é uma das piores heresias. "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo" (Tt 3.5).].
2. Como tratar com os hereges (v. 10). Paulo ensina que devemos evitar os falsos mestres, não nos envolvendo em suas discussões tolas. Muitas vezes acabamos discutindo e dando uma atenção demasiada aos ensinos que são contrários a Palavra de Deus. [Comentário: Temos de lidar com escarnecedores com sabedoria (Pv 26:4-5). Não devemos imitar os modos de um tolo por nos envolver em discussões intermináveis; mas devemos responder brevemente [com profundidade mas brevemente, e uma única vez] aos argumentos do tolo, para que ele não saia por ai pensando que não há respostas e, assim, considerar-se um sábio, em sua própria presunção. É difícil lidar com as pessoas que estão no laço do diabo. Elas, muitas vezes, zombam da verdade e são arrogantes e orgulhosas em relação àqueles que a pregam, e somos tentados a responder na mesma moeda. Mas, se você os tratar de forma semelhante a como eles nos tratam, nós só vamos incitar mais ódio neles (Pv 15.1). Veja como Policarpo, discípulo dos apóstolos tratava um herege: “O próprio Policarpo, quando Marcião, um dia, se lhe avizinhou e lhe dizia: “Prazer em conhecê-lo”, respondeu: “Eu te conheço como o primogênito de Satã”; tanta era a prudência dos apóstolos e dos seus discípulos, que recusavam comunicar, ainda que só com a palavra, com alguém que deturpasse a verdade, em conformidade com o que Paulo diz: “Foge do homem herege depois da primeira e da segunda correção, sabendo que está pervertido e é condenado pelo seu próprio juízo” (Tt.3.10-11).].

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"A segunda proibição que Paulo faz é contra os facciosos, aqueles que causam divisões por meio de discordâncias. 'Depois de uma e outra admoestação, evita-o', ou seja, tente ajudá-lo corrigindo o seu erro através de advertências ou aconselhamento. Tais inimigos só devem ter duas chances e então devem ser evitados.
'A razão pela qual o 'herege' deve ser rejeitado é justamente esta; em sua divisão, 'tal' homem demonstra que 'está pervertido e peca, estando já em si mesmo condenado'. Ao persistir em seu comportamento divisor, o 'falso mestre' tornou-se pervertido ou 'continua em seu pecado', deste modo 'se autocondenando'. Isto é, por sua própria persistência no comportamento pecaminoso, condenou a si mesmo, colocando-se de fora, sendo consequentemente rejeitado por Tito e pela igreja" (Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 1.ed.Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.1515).
É feliz quem faz como o “filho pródigo”, que tomou a decisão sábia de retornar humilhado à casa do pai, onde foi recebido com amor e misericórdia.

CONCLUSÃO

A graça de Deus é a fonte da salvação do homem. É favor jamais merecido por qualquer pessoa, e manifesta o seu amor e sua benignidade para com o pecador. Essa graça é manifestada "a todos os homens", mas só é eficaz, na vida de quem aceita a Cristo como Salvador pessoal. [Comentário: A Graça de Deus é um  favor da parte Dele,  já que não somos merecedores de nada e é a fonte da provisão de Deus para as nossas vidas. Através dela Ele se revela em amor, tendo sempre um comportamento justo e pelo meio da nossa fé se comunica conosco. A graça é a única base de nossa aceitação. “Para louvor da glória de sua graça, que ele nos concedeu gratuitamente no Amado”. (Ef 1.6). Por conseguinte, qualquer ensino que ofereça fórmulas ou técnicas para obter a aceitação de Deus, que não seja pela graça somente, é falso. O perdão de pecados, a redenção por meio do sangue de Cristo, a sabedoria e o entendimento e todas as bênçãos espirituais são concedidos somente pela graça (Ef 1.1-5).]. “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

LIÇÃO 12: EXORTAÇÕES GERAIS



SUBSÍDIO I

INTRODUÇÃO

Na primeira parte do capítulo 2 dessa Epístola, objeto da aula de hoje, Paulo orienta Tito quanto à conduta correta, inicialmente em relação ao uso apropriado da língua. Em seguida, exorta os membros da igreja - especialmente idosos, mulheres, jovens e servos - quanto ao comportamento cristão. A partir dessas instruções do Apóstolo será possível extrair aplicações práticas para a conduta do cristão nos dias de hoje, ciente da sua responsabilidade não apenas dentro, mas também fora da comunidade de fé.

1. FALAR O QUE CONVÉM

Um dos principais problemas dos falsos mestres de Creta, bem como aqueles de Éfeso com os quais Timóteo teve que lidar, era o uso persuasivo da língua, a fim de conduzir os membros da igreja ao engano. Paulo instrui Tito para que agisse do modo diferente, fazendo uso da língua para ensinar a sã doutrina, a fim de promover a saúde espiritual da igreja. Essa é uma demonstração do Apostolo da necessidade do ensino na comunidade cristã, é através da exposição das Escrituras que a igreja assume uma doutrina ortodoxa (Tt. 2.1). Existem igrejas padecendo porque a Palavra de Deus não é ensinada, os cultos se transformaram em meros espetáculos. Ao invés de enfatizar o “ouvir”, existe muita coisa para “ver”, cujo objetivo é simplesmente entretimento, a fim de tornar o culto atrativo. O compromisso do obreiro de Deus não é com a atratividade do culto, mas com o ensinamento correto, fundamentado na Bíblia. Em relação ao cuidado com a língua, é preciso destacar as orientações dos Provérbios a esse respeito. Esse livro de sabedoria traz lições preciosas quanto ao uso da língua, assim como faz Tiago em sua Epístola (Tg. 1.19-27). Salomão orienta seus leitores a se distanciarem da perversidade dos lábios (Pv. 4.24), e a demonstrar prudência, calando-se quando necessário (Pv. 11.12). Isso porque quanto mais se semeia a contenda, mais a situação se complica, por isso devemos ouvir mais e falar menos (Pv.12.,18,25). Nunca é demais lembrar que Deus nos deu dois ouvidos e apenas uma boca. Muitas pessoas estão arruinadas porque falaram demais, quando deveriam ter calado (Pv. 13.2,3). Aprendamos, pois, a mansidão, tenhamos cuidado para não nos exceder, até mesmo quando provocados (Pv. 15.1-4). Ao invés de semear a contenda na igreja, devemos ser brandos e falar apenas o que resulta em edificação (Pv. 15.26,28; 16.21,24; 18.6,7).

2. CONSELHOS AOS IDOSOS E ÀS MULHERES

No que tange aos diversos membros da igreja, Paulo orientou Tito para que instruísse os idosos à prudência, isso quer dizer que eles precisavam ser moderados, demonstrando qualidades espirituais (Tt. 2.1), principalmente sobriedade (gr. nepháleos), honestidade (gr. semnos), moderação (gr. sophron), expressando fidelidade (gr. pistis), amor (gr. agape) e paciência (gr. hupomone). As mulheres idosas, de igual modo, deveriam se portar com dignidade, como é esperando de uma mulher cristã, que vivam em santidade (gr. hieroperpes). As mulheres cristãs, diferentemente daquelas que semeavam falsas doutrinas, deveriam ser mestras do bem, não caluniadoras (gr. diabolos) e dadas ao vinho. É importante lembrar que o posicionamento de Paulo em relação às mulheres cretenses, assim como às de Éfeso, está fundamentado na difusão de heresias nas igrejas, que eram propagadas por essas, pela incitação dos falsos mestres. Ao que indica pelo versículo 2, essas mulheres também eram afeitas à ociosidade, ao invés de praticarem coisas boas, preferiam as conversas vãs. Essa é uma orientação que serve tanto para as mulheres quanto aos homens, para que não se envolvam em assuntos que não redundem em edificação. É importante que as mulheres mais idosas sirvam de exemplo para as mais jovens na igreja, para que essas sejam prudentes (gr. sophronizo), isto é, moderadas em sua conduta, e que amem ao marido e aos filhos. No contexto de uma sociedade marcada pelo feminismo, talvez a posição de Paulo seja questionada. Especialmente por causa do versículo 5, no qual o Apóstolo recomendou que as mulheres sejam boas donas de casas (gr. oikuros), e obedientes (gr. hupotasso) aos maridos. Mas o próprio Paulo explica o motivo, “a fim de que a Palavra de Deus não seja blasfemada” (Tt. 1.5). Isso revela um cuidado com o escândalo em relação ao papel da mulher na sociedade daquela época. A mulher cristã na atualidade pode usufruir dos direitos que conquistou, contanto que se submeta à Palavra de Deus, e saiba conciliar sua vida profissional com as responsabilidades domésticas. 

3. CONSELHOS AOS JOVENS E AOS SERVOS

Os jovens também são exortados à moderação (gr. sophroneo) pelo Apóstolo, essa virtude é repetida e aplicada a todas as faixas etárias da igreja. Espera-se de um cristão que tenha uma vida equilibrada, que não penda para os extremos. Há cristãos nas igrejas que quando não são legalistas, são liberais demais, não encontram um ponto de equilíbrio. Os jovens devem ser exemplo nas boas obras (gr. kalon ergon), e na doutrina, demonstrando disposição para o aprendizado (gr. didaskalia). Os jovens são propensos a uma vida desregrada, mas Paulo orienta Tito para que esses tenham uma linguagem sadia (gr. logon hugie), e que sejam irrepreensíveis (gr. akatagnostos), para causar vergonha ao adversário. Os jovens, como escreveu João em sua I Epístola, são fortes quando guardam a Palavra de Deus, e através dela têm poder para vencer o Maligno (I Jo. 2.14). Os jovens devem fazer como o Salmista, guardar a Palavra no coração, para não pecar contra Deus (Sl. 119.11), é preciso ensiná-los que a vontade de Deus, diferentemente do que propaga o mundo, é sempre boa, perfeita e agradável (Rm. 12.1,2). Quanto aos servos (gr. doulos), que na verdade eram os escravos, esses deveriam ser obedientes aos seus senhores, “não contradizendo”, “nem defraudando”. Esse ensinamento pode ser aplicado aos trabalhadores, fazendo as devidas adaptações e contextualizações, já que não estamos mais em regime de escravidão. Com base em outras passagens das Escrituras, compreendemos que os empregados devem trabalhar para a glória de Deus (Ef. 6.5-8; Cl. 3.22). O trabalho deve ser uma oportunidade para expressar a criatividade divina, e a possibilidade de demonstrar disponibilidade para servir ao próximo. Quando visto dessa maneira, o trabalho se torna um ornamento (gr. kosmosin), um adorno na doutrina de Deus.

CONCLUSÃO

A igreja cristã é marcada pela unidade na diversidade, isso porque na comunidade de fé temos pessoas das mais distintas condições sociais e econômicas, bem como de faixas etárias diferenciadas. Por esse motivo, devemos aprender a viver em conformidade com os princípios da Palavra, respeitando e integrando as pessoas. O equilíbrio é um estilo de vida que deve ser observado por todos os cristãos, a fim de evitar excessos e escândalos ao evangelho de Cristo. Portemo-nos, pois, de modo a glorificar a Deus através das nossas vidas, e para que as pessoas descrentes vejam Cristo em nós.

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa


COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Nesta lição estudaremos o segundo capítulo da epístola de Tito. Veremos os vários conselhos práticos de Paulo a respeito dos idosos, das mulheres, jovens e servos. Veremos também que o pastor deve ser um exemplo de viver íntegro na igreja. [Comentário: Com esta lição, veremos alguns ensinamentos sobre o modo de comportamento de várias categorias de crentes (2,1-15); Paulo quer que Tito, ao se dirigir às diferentes classes que se encontravam na igreja de Creta – a saber, os homens mais velhos e as mulheres mais velhas, as mulheres mais jovens e os homens mais jovens, os escravos -, inste que eles conduzam suas vidas em harmonia com os ensinamentos do Evangelho, visto que foram todos ensinados pela graça salvadora de Deus a renunciar à impiedade e viver de maneira piedosa. Com relação ao mundo exterior, Tito deveria ensinar os crentes a se sujeitarem às autoridades, e a serem gentis para com todos, lembrando que Deus os livrou dos antigos vícios pagãos, para que apresentem aos outros um exemplo de vida nobre e útil. Ele mesmo deve evitar controvérsias tolas e rejeitar aos hereges, que recusassem ouvir a sua admoestação.] Vamos pensar maduramente sobre a fé cristã?

1. O MODO CORRETO DE FALAR DO LÍDER

1. "Fala o que convém à sã doutrina" (v. 1).  O líder deve ter a sua fala sempre fundamentada na Palavra de Deus, e para isso precisa conhecê-la e nela meditar diariamente. Precisa reconhecer e valorizar a Bíblia, sabendo que ela é especial para a formação de um caráter cristão. O estudo bíblico contribui para que o pastor e o obreiro tenham sempre uma boa mensagem. Jesus certa vez afirmou que falamos do que há em abundância em nosso coração (Mt 12.34). Então um coração cheio da Palavra de Deus vai sempre falar o que convém. [Comentário: Ao dar esta ordem, Paulo nos ensina sobre o que o líder deve falar. Falar a sã doutrina é responsabilidade primordial da liderança, toda a igreja deve ser impactada com isso, ela deve ser conhecida por isso. A sã doutrina é a sua voz. É por isso que ela está neste mundo. Pedro escreveu que a igreja é a propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamar as virtudes daquele que a chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1Pe 2.9). A igreja tem a responsabilidade de tornar o caráter de Deus conhecido. É preciso proclamar as virtudes de Deus e a igreja faz isso quando fala o que convém à sã doutrina. Falar a sã doutrina é a responsabilidade da igreja. Para tal, é preciso manejar bem a Palavra da Verdade (2Tm 2.15). As palavras iniciais de Paulo,Tu, porém, são enfáticas. Os falsos mestres fustigados na seção anterior têm desviado as pessoas; a linha seguida por Tito deve ser exatamente a oposta. Destarte, seu ensino deve ser o que convém à sã doutrina, em contraste com as "fábulas" e os mandamentos dos homens sectários. A sã doutrina expõe o falso ensino e expõe a falsa profissão de fé].

2. Saber falar e saber ouvir. Tiago, apóstolo de Jesus, deixou precioso ensino sobre o saber falar: "Sabeis isto, meus amados irmãos; mas todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar" (Tg 1.19). Há pessoas, nas igrejas, que falam demais. E dizem o que não deveriam, causando problemas de relacionamentos. Ser "tardio para falar" e "pronto para ouvir" é sinal de sabedoria, de maturidade emocional e espiritual. Quem lidera tem que desenvolver a capacidade de escutar as pessoas, ainda que não concorde com elas. [Comentário: Pronto para ouvir (do latim promptu), que quer dizer “disponível”. Esta disponibilidade deve ser espontânea, sincera; um desejo natural para ouvir. Estar disponível para ouvir, é estar disposto e pronto para obedecer. Era comum as pessoas ouvirem a Palavra de Deus nos cultos, nas sinagogas. Não havia exemplares da Bíblia como os temos hoje. A Palavra estava nos rolos e manuscritos, que eram lidos pelos líderes religiosos. Tardio para falar – sem pressa, lento, vagaroso. É ficar calado sem ficar emburrado, sem ficar carrancudo ou trombudo. O sentido da frase é: o crente não deve precipitar-se em dizer qualquer coisa sem antes ter ouvido e colocado em prática. As consequências da pressa no falar acaba levando o cristão a negar a fé e a contradizer o evangelho (Tg 1.26). “se alguém cuida ser religioso [isto é, nascido de novo pelo evangelho] e não refreia a sua língua, mas engana o seu coração, a sua religião é vã.”].

3. Integridade no falar. O obreiro deve ter uma linguagem sempre sã e irrepreensível (Tt 2.8). Jesus ensinou: "Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não, porque o que passa disso é de procedência maligna" (Mt 5.37). Quando alguém, na igreja local, diz uma coisa e faz outra ou, quando mente, torce a mensagem, por motivos pessoais ou para agradar alguém, está sendo usado pelo maligno. É "de procedência maligna". Isso não convém à sã doutrina. Integridade é fazer o que diz (Tg 2.12). O que falamos deve contribuir para edificação de vidas (Ef 4.29). [Comentário: Paulo dá conselhos detalhados, para que Tito realize um bom ministério. Eis um deles: “Use palavras certas, para que ninguém possa criticá-lo e para que os inimigos fiquem envergonhados por não terem nada de mau a dizer a nosso respeito.” (Tt 2.8). Gostemos ou não, o mundo sempre será inimigo dos cristãos. Pedro, entretanto, nos instrui: “Mas, se vocês sofrem por terem feito o bem... Deus os abençoará por causa disso” (1Pe 2.20). De acordo com Paulo, uma das maneiras de sofrer fazendo o bem é usar “palavras certas”. Quando sofremos injustiças, fica difícil responder com dignidade cristã. Nessas horas, o Inimigo estimula nossa natureza humana, sugerindo palavras torpes, para desabafar nossa raiva. Jesus nos ensina que, nas horas extremas, o Espírito Santo pode colocar as palavras certas em nossa boca (Lc 11.12). O segredo, então, é nos alimentarmos do Espírito do Cristo. Se isto acontecer, nossas palavras serão certas(http://devocionais.amoremcristo.com/artigo/2589/use-palavras-certas/)].


SUBSÍDIO DIDÁTICO

Caro professor, neste tópico você deve destacar o fato de que os versículos 1 a 8 do capítulo 2 da Carta a Tito é uma lista semelhante a de deveres domésticos recomendados à Igreja em 1 Tm 5.1-16 e 6.1,2. Mas diferente de 1 Timóteo, não há preocupação com as viúvas na igreja pastoreada por Tito, muito menos ele é instruído em como lidar com esses vários segmentos da igreja. O enfoque apostólico está nas responsabilidades de cada segmento que constituem a igreja em Creta: os idosos, os jovens, os servos, etc.

2. EXORTAÇÕES AOS IDOSOS, AOS JOVENS E SERVOS

1. Como os idosos devem portar-se. "Os velhos que sejam sóbrios, graves, prudentes, sãos na fé, na caridade e na paciência" (v. 2). O crente deve permanecer fiel ao Senhor e dar um bom testemunho até os últimos dias de sua vida. Muitos acreditam que, pelo fato de já terem passado dos sessenta anos, podem fazer e falar o que bem entenderem na igreja. Os mais idosos devem ser exemplo para os mais jovens, por isso, Paulo diz que estes devem ser moderados, sérios, prudentes, firmes na fé, no amor e na esperança. Acerca dos velhos crentes, disse o salmista: "Os que estão plantados na Casa do Senhor florescerão nos átrios do nosso Deus. Na velhice ainda darão frutos; serão viçosos e florescentes, para anunciarem que o Senhor é reto; ele é a minha rocha, e nele não há injustiça" (Sl 92.13-15). Os mais jovens precisam aprender com os mais idosos, por isso, estes precisam ser exemplo em tudo. Comentário: Homens com mais de 60 anos de idade” que “por serem membros maduros da comunidade e exemplos para os homens mais jovens, Paulo recomenda que estes devem ter os seguintes requisitos: (1) Sobriedade: No grego temos 'nephalios', isto é, 'moderado' em tudo... Sua forma verbal é 'nepho', 'ser sóbrio', 'ser auto controlado', 'ser bem equilibrado' (1Tm 3.2,11); (2) Gravidade: No grego é 'sermnos', isto é, 'respeitoso', 'nobre', 'digno'; (3) Prudência: No grego é 'sophron', que quer dizer 'prudente', 'refletido', auto controlado. Em sua forma nominal temos a famosa virtude grega da 'moderação', que deveria controlar todas as ações, impedindo os vícios de excesso e de deficiência”.].
2. As mulheres idosas devem ser exemplo para as mais novas. "As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convém a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem" (v. 3). Mulher idosa tem vivência e experiência, seja como mãe e esposa, seja como serva de Deus, por isso podem ensinar as irmãs mais novas. Devem ser mulheres santas, "sérias no viver", que não andem com atitudes e maus exemplos, na igreja, ou fora dela. Não devem ser caluniadoras (gr. diabolos), ou que se deem a costumes carnais de falar dos outros, de criticar, ou murmurar. [Comentário: Paulo admoesta que estas mulheres devem ter o seu estilo de vida apropriado, digno, merecedor de honra, próprio das mulheres cristãs. Elas precisam ser: (1) Sérias no seu viver: No grego é 'katastema', que aponta para 'conduta', 'comportamento' , 'maneiras'. Portanto, as mulheres mais idosas deveriam ser 'reverentes em sua conduta', não se deixando levar ao redor pelo mundanismo; (2) Não caluniadoras: O original grego usa o vocábulo 'diabolos', um dos títulos dados ao próprio Satanás (1Tm 3.6); temos aqui o típico 'pecado feminino', em que tantas mulheres (mas também tantos homens) se deleitam em provocar a queda de outrem, para se sentirem superiores; (3) Não dadas ao vinho: O alcoolismo era um problema sério na sociedade pagã, e a igreja cristã não estava isenta deste problema, por isso a recomendação; (4) Mestras do bem: Em outras palavras, as mulheres idosas devem ser mestras de 'coisas boas', da 'sã doutrina', da 'correta conduta cristã', em tudo quanto nisso esta implícito. E isso tanto na igreja (1Tm 2.11), como no lar, e também nos lares das mulheres mais jovens e de seus filhos (CHAMPLIN, 2002, p. 427).].

3. Os jovens cristãos (v. 6). Paulo chama a atenção para o comportamento juvenil, exortando os jovens a serem "moderados", ou seja, controlados. O jovem cristão precisa ser moderado no falar, no agir e em todas as áreas da sua vida, procurando em tudo exaltar e glorificar o nome do Senhor. [Comentário: O apóstolo passa recomendações aos rapazes acima de 12 anos de idade (MACARTHUR, 2010, p. 1680); que estes “... em todas as coisas, sejam criteriosos” (Tt 2.6 – ARA) a expressão “...em todas as coisas..”, alude 'no tocante a tudo'. “Em tudo eles deveriam ser “criteriosos”; no original o termo 'sophroneo', significa 'ser sério', 'ser sensato', 'ser auto controlado'. Crisóstomo aplica esse mandamento a necessidade de vencermos as tendências para os prazeres estranhos. Diz ele: 'Nesse período de idade, nada é tão difícil como dominar os prazeres indevidos'. Os jovens crentes devem controlar-se, devem refrear-se, para que possam dar um testemunho forte e coerente em favor de Cristo, não permitindo que qualquer excesso próprio da juventude leve-os a perder o controle sobre as próprias ações” (apud, CHAMPLIN, 2002, p. 428.].

4. O comportamento dos servos cristãos (vv. 9,10). Paulo escreveu em uma época onde havia a escravidão humana. Em Creta, assim como em todo o império romano, havia muitos escravos. Na igreja existia senhores e escravos que se converteram a Cristo, por isso, Paulo mostra como devia ser o relacionamento, a conduta dos servos e dos senhores.  O apóstolo mostra que os servos deveriam agradar seus senhores "em tudo",  pois um senhor crente não daria ordens que fossem incompatíveis com a fé cristã e com a Palavra de Deus. Os escravos que tinham senhores crentes deveriam manter uma atitude de submissão. [Comentário: O comportamento esperado dos escravos que eram cristãos nos dias do apóstolo, são os mesmos esperados, nos dias de hoje, pelos funcionários com relação aos seus empregadores. Estes devem tratar os seus patrões com respeito e em tudo agradarem. Dizer que estes não deveriam contradizer significa que eles não deveriam ser teimosos, incontroláveis, ou resistentes à autoridade. Que não deveriam defraudar refere-se a qualquer tipo de roubo, mesmo aquele que possa ser classificado como um “pequeno roubo”. Eles poderiam ser tentados a se apropriar de “pequenos” itens necessários, mas como cristãos devem resistir a esta tentação, para mostrar toda a boa lealdade (RIBAS, 2010, p. 559)].

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"O apóstolo agora [a partir do versículo 2] fornece uma extensa seção de instruções a vários grupos de crentes com relação a seu caráter e conduta. O vocabulário empregado não é tão específico, e a seção é tão semelhante às antigas discussões extrabíblicas relativas ao comportamento virtuoso, que Paulo parece não estar tratando dos problemas das congregações de Creta, mas 'de modo geral está incentivando os seus leitores às boas obras e a um estilo de vida cristão de modo que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador' (v.10). Os versos 2-10 são uma proteção espiritual - um medicamento ou um remédio que evita as enfermidades.
Paulo primeiramente ordena que 'os velhos' tenham quatro virtudes. A palavra grega para 'velhos' (presbytes) - e para 'mulheres idosas' (presbytis) em 2.3; cf. também presbytera ('mulheres idosas') em 1 Timóteo 5.2 - está relacionada à palavra grega empregada em Tito 1.5 para 'presbíteros' (presbyteros). Todas estas são derivadas da raiz léxica presby, 'velho'. 'Nos círculos judaicos e cristãos é frequentemente difícil distinguir entre a designação da idade e o título do ofício' (Bromiley, 1985, 931). Todas as palavras acima também podem ser traduzidas como 'presbítero [podendo ser aplicadas tanto a homens como a mulheres]'.
As instruções específicas de Paulo consistem em que os homens mais velhos sejam: (1) 'temperantes' ou 'sóbrios' (cf. 1 Tm 3.2,11); (2) 'graves', 'merecedores de respeito' ou de bom caráter (cf. 1 Tm 3.8); (3) 'prudentes' (cf. 1 Tm 3.2; Tt 1.8; 2.5,6); (4) 'sãos' ou saudáveis nas três virtudes fundamentais: 'na fé, na caridade e na paciência até o fim. Ainda que nada disso seja explicitamente dito a respeito dos grupos mencionados a seguir, podemos assumir que isto seja esperado por parte de todos" (Comentário Bíblico Pentecostal: Novo Testamento. 1.ed.Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.1511).
O crente deve permanecer fiel ao Senhor e dar um bom testemunho até os últimos dias de sua vida.

3. O BOM EXEMPLO EM TUDO

1. Bom exemplo (vv. 7,8). O líder precisa ser exemplo. Se Deus lhe confiou a autoridade e a responsabilidade de um rebanho, você precisa ter uma vida irrepreensível. Ser irrepreensível não significa ser perfeito, dessa forma nenhum ser humano poderia assumir tal posição. Ser irrepreensível significa ter um padrão de conduta elevado e maduro, segundo os princípios bíblicos. A conduta do líder não pode minar a confiança do rebanho. [Comentário: Irrepreensível, adjetivo; Que não merece censura; que não merece ser repreendido: conduta irrepreensível. Que não há falhas; perfeito. Do grego αμεμπτος [amemptos]: Sem culpa, sem falta, inocente, irrepreensível. Em 1 Timóteo 3.1-7, Paulo mostra os requisitos para os pastores, presbíteros ou diáconos: a importância de viver "acima de qualquer suspeita." Romanos 13.13 diz: "Andemos dignamente, como em pleno dia, não em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções, não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências.” O claro ensino das Escrituras é a ideia de que os líderes da igreja deve estar vivendo acima do padrão do mundo: “Não vos conformeis com este mundo” (Rm 12.1, 2). Afinal de contas, os pastores e presbíteros são exemplos para as pessoas que os estão ouvindo e vendo o seu procedimento, semana após semana, e eu acredito que Deus deseja um padrão de vida mais elevado de seus líderes. Isso não quer dizer que pessoas que não são pastores, presbíteros ou diáconos, podem fazer o que quiserem e Deus não vai se importar, não é isso, só que Deus exige dos líderes que sejam irrepreensíveis.].

2. Incorrupção da doutrina. Tito deveria ter muito cuidado com a doutrina, para que sua pregação e ensino fossem de modo correto, com fundamento na Palavra de Deus, na "doutrina dos apóstolos" (At 2.42). Jesus advertiu seus discípulos a se resguardarem da "doutrina dos fariseus" (Mt 16.6,12). Hoje, temos visto igrejas que "vendem" bênçãos por dinheiro; utilizam manipulação psicológica para arrecadar mais recursos das pessoas; fazem "curas" e milagres, em troca do vil metal. [Comentário: O ensinamento na primeira igreja foi chamado a doutrina dos apóstolos. Jesus revelou a sua vontade aos apóstolos e mandou que eles a entregassem ao mundo. Observe que este ensinamento não foi chamado “a doutrina da igreja”. A Igreja Católica Romana ensina que a igreja produz as Escrituras. É com esta base que eles aceitam os escritos dos “Pais da Igreja”, as tradições e até editos modernos como palavras de autoridade. Mas o relato de Lucas demonstra que aconteceu ao contrário. Foi a pregação do evangelho que deu origem à igreja. Então, santos apóstolos e profetas guiaram a igreja até Deus completar a sua revelação (Efésios 3:5). A doutrina da igreja primitiva veio dos apóstolos porque eles a receberam diretamente de Deus. Não devemos falhar em observar quem perseverava na doutrina. Todos os crentes, não somente os pregadores, perseveravam na doutrina. Freqüentemente, esperamos os outros se dedicarem à doutrina para nos guiarem. Todos os membros da primeira congregação foram dedicados à palavra. Todos desejavam aprender. Isso não significa que todos fossem mestres ou peritos. Deus não precisa de um monte de professores para cumprir seu plano. De fato, os estudiosos freqüentemente se acham sofisticados demais para aceitar a simplicidade do plano de Deus (1 Coríntios 1:18-31). Não precisamos fazer seminário, mas Deus quer que sejamos capazes de defender as razões da nossa esperança nele (1 Pedro 3:15). Essa defesa será possível somente por meio de um discipulado dedicado. Os primeiros cristãos desejavam aprender porque queriam fazer. O cristianismo não é uma busca acadêmica. No livro de Atos, Lucas escreveu sobre vidas transformadas, não sobre formaturas de faculdades. Os tessalônicos suportaram perseguições. Os efésios queimaram livros de artes mágicas. Um casal, Áqüila e Priscila, saíram de Roma, foram para Corinto e depois para Éfeso, e depois voltaram para Roma pelo seu desejo de divulgar o evangelho. Pessoas de fé se mostram dedicadas em ouvir e praticar! –por Bryan Moody, http://www.estudosdabiblia.net/escb14_02.htm].

3. Gravidade e sinceridade. São atitudes que equivalem à seriedade. Um obreiro deve ser sério, honesto, com postura que honre a Deus e ao seu ministério. Completando a lista de recomendações, Paulo diz que Tito deve ter "linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe, não tendo nenhum mal que dizer". É conduta exemplar, exigida de todos os que querem ser obreiros, dedicados à obra do Senhor. [Comentário: O crescimento em direção à maturidade cristã e a Santificação Contínua é dever de todo crente! Para que sejamos ornamento "ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador". No texto de 3.3-7, Paulo mostra que a bondade de Deus e seu amor para conosco (v. 4) nos regeneraram e nos renovaram (v. 5). Em outras palavras, fomos tornados novas criaturas. Este amor e esta bondade foram derramados em Jesus Cristo (v. 6), e assim fomos justificados e tornados herdeiros da vida eterna (v. 7). Quanto às discussões tolas e sem sentido, que Tito as deixasse de lado. Nesta classificação, o apóstolo inclui as discussões sobre a lei e as genealogias, tão caras aos judeus. Eles levam isto tão a sério que, ainda hoje, o judeu que tiver o sobrenome Cohen (palavra hebraica para “sacerdote”) é reverenciado nas sinagogas, pois é descendente de Levi. Isto não tem valor algum. E se alguém insiste em ser briguento, depois da segunda admoestação, que seja deixado de lado (v. 10). Por vezes esquecemos este conselho de Paulo e gastamos muita vela com mau defunto, discutindo por ninharia. A pessoa que ama discussões na igreja é pervertida, está em pecado e está perdida (v. 11). A palavra do versículo 10 tem muito sentido: “evita-o”. a idéia é “põe de lado”. Extraído do artigo“Estudo Bíblico em Tito, de Pr. Isaltino Gomes Coelho Filhohttp://www.isaltino.com.br/2010/11/estudo-biblico-em-tito/].


SUBSÍDIO DIDÁTICO

Professor, a conclusão desta aula deve conduzir os alunos a compreenderem o chamado cristão para a família cristã cultivar bons exemplos de vida. No texto de Paulo a Tito, todos os homens, mulheres, idosos e jovens da igreja são desafiados a cultivarem virtudes como "autodomínio", "perseverança" e "amor". Por isso, a afirmação de Paulo "para que a palavra de Deus não seja blasfemada". Só é possível isso acontecer quando a família cristã persevera no modelo dado por Deus, por intermédio do Evangelho, e vive em família como Jesus viveu: sua mensagem, seu anúncio, seus princípios e valores.

CONCLUSÃO

As exortações de Paulo a Tito são de grande valor para os obreiros, em todos os lugares e em todos os tempos. Ele especifica como tratar as pessoas, por suas diversas faixas etárias. Destaca o valor do exemplo cristão, como forma de evitarem-se os escândalos que tanto comprometem o bom nome do evangelho e da Igreja de Cristo. São ensinamentos perfeitamente atualizados, não obstante terem sido escritos há tanto tempo. [Comentário: Um ensinamento importante de Paulo nessa carta é que o cristão cultive o hábito de fazer boas obras, até que isso se torne parte de sua natureza. Sabendo que tal piedade não se afina facilmente com a natureza humana, o apóstolo procura incentivar ainda mais o leitor, lembrando o passado de pecados e a nova condição no presente (3.5-7). A ênfase nas boas obras está em 1.16; 2.7, 14; 3.1, 8, 14. Mas sem nenhuma dúvida, essa carta não ensina salvação pelas obras, mas sim que o salvo deve praticar boas obras.]. “NaquEle que me garante: "Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8)”.


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.