sábado, 25 de setembro de 2021

LIÇÃO 13: O CATIVEIRO DE JUDÁ

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO

 INTRODUÇÃO 

A fase final do reino de Judá foi protagonizada por quatro reis: Joacaz, filho do rei Josias (2 Cr 36.1); Jeoaquim, que reinou por ocasião do primeiro grupo de prisioneiros levados para Babilônia, em 605 a.C. (2 Cr 36.5,6); Joaquim, que com apenas três meses de reinado, vivenciou o cerco de Jerusalém por Nabucodonosor, que resultou em dez mil pessoas presas, em 597 a.C. (2 Cr 36.9,10); e Zedequias, o rei entronizado por Nabucodonosor no lugar de Joaquim (2 Cr 36.10,11). Nesta lição, veremos Zedequias rebelando-se contra o rei de Babilônia, causando um novo cerco que durou dezoito meses e, finalmente, resultou na queda definitiva de Jerusalém, em 586 a.C. – Observamos que o estágio final do Reino de Judá, também chamado de Reino do Sul, foi protagonizado por quatro reis vassalos, que agiram malignamente segundo a avaliação religiosa do autor dos Reis, e por um bom último governador. O primeiro rei foi Jeoacaz, filho do reformador Josias. Jeoacaz praticou muitas iniquidades, a despeito do zelo do seu pai. Como início do declínio do reino, foi feito vassalo do Faraó-Neco, que impôs pesados tributos sobre Judá, na quantia de três toneladas e meia de prata e 35 quilos de ouro. O Faraó ainda o tirou do trono, levou-o para o Egito e, no seu lugar, colocou Jeoaquim, que impôs uma carga de impostos sobre o povo para dar conta dos tributos do Faraó. Igualmente, Jeoaquim foi um mau rei no sentido de não servir ao Senhor. Com a morte de Jeoaquim, o seu filho Joaquim assumiu o trono. Com três meses de reinado, Nabucodonosor veio debelar a rebelião que o seu pai havia iniciado, fazendo o cerco a Jerusalém em 597 a.C., levando cativas dez mil pessoas entre nobres e artesãos, pessoas que tivessem alguma utilidade e das classes mais altas. Dentre eles, foi deportado o profeta Ezequiel, mas o seu ministério iniciaria somente na Babilônia. Nabucodonosor levou todos os tesouros do Templo de Salomão e da casa do rei. – No lugar de Joaquim, Nabucodonosor estabeleceu como rei vassalo a Zedequias, parente de Joaquim, cujo nome significa “Jeová é justo” ou “justiça de Jeová”, numa alusão ao que Jeová estava fazendo com Judá de forma justa. Zedequias, porém, rebelou-se contra a Babilônia, o que acarretou num novo cerco babilônico, que durou 18 meses; e, finalmente, a terceira leva de cativos ocorreu em 586 a.C. com a queda final de Jerusalém. A Babilônia também levou todo o restante das riquezas do Templo e de Jerusalém, bem como os utensílios do Templo. – É sobre esse assunto que vamos estudar nesta última lição deste trimestre.

 I. O DECLÍNIO ESPIRITUAL DE JUDÁ

1. As advertências dos profetas. Os profetas do Antigo Testamento foram unânimes e incansáveis em denunciar as injustiças e as terríveis transgressões do povo e dos líderes da nação (Jr 11.9-12). Todos foram taxativos em dizer que aquelas vindicações, especialmente contra o pecado de idolatria, já estavam excedendo as medidas de Deus.

2. Previsão dos acontecimentos que levaram Judá ao exílio. O ministério de Jeremias foi o mais importante desse período. Ele iniciou suas atividades proféticas no reinado de Josias e deu continuidade durante os quatro reinos seguintes (Jr 1.1-3).

No tempo desse grande profeta, havia muita discórdia e confusão sobre o que era a verdadeira e a falsa palavra de Deus. Por isso precisamos estar atentos para discernirmos a Palavra do Senhor. Ao advertir o povo sobre os pseudoprofetas, Jeremias o fez de modo tão peculiar, que parece estar se referindo aos falsos profetas dos nossos dias (Jr 23.16,17).

3. Motivos que levaram Judá ao cativeiro. O cativeiro aconteceu especialmente por causa da obstinada desobediência da liderança judaica. Essa posição é consolidada por vários outros profetas, dentre eles, Miqueias (Mq 3.9-11). Além da idolatria, pecados abomináveis foram cometidos contra Deus: derramaram sangue inocente (2 Cr 24.17-22); cometeram todo tipo de corrupção e injustiça social (Hc 1.2-4); não observaram o descanso sabático e ainda mataram muitos dos seus profetas (Mt 23.35).

A situação de Judá é uma triste realidade para um povo que recebeu tantas profecias, avisos e oportunidades de arrependimento, mas decidiu pela apostasia. Ao olhar para a história de Judá, cultivemos o sentimento de humildade em nosso coração (cf. Rm 20.21) para que o temor a Deus nos previna de toda apostasia (Hb 12.16,17). Andar com Ele é a melhor maneira de remover os obstáculos da alma, que nos atrapalham na caminhada cristã.

As advertências dos profetas. Vários profetas haviam predito a ruína de Jerusalém, incitando o povo ao arrependimento para que a justiça divina não agisse contra o povo, a Cidade Santa e o Templo, mas todos os avisos foram em vão. Dentre os profetas pré-exílicos do Reino do Sul, podemos citar Miqueias, Sofonias, Naum e Habacuque. Joel e Obadias profetizaram bem antes do exílio. Isaías foi o maior profeta em período anterior ao exílico de Judá, e Jeremias anunciou, acompanhou e relatou todas as atrocidades dos cercos babilônicos e da sorte dos cativos. Ezequiel e Daniel atuaram no exílio. – Os profetas tinham um caráter de denúncia da injustiça, da opressão e do pecado e apelavam à consciência do povo, mas especialmente aos líderes, indicando que os fatos denunciados, bem como a idolatria, estavam chegando na medida de Deus enviar o seu juízo, o que, de fato, aconteceu com o cativeiro babilônico. A necessidade deles no Antigo Testamento é pela quase ausência da palavra escrita, necessitando-se de arautos orais dos oráculos divinos.

Previsão dos acontecimentos que levaram Judá ao exílio. O profeta Habacuque previu detalhes de como seria o exército babilônico e as suas estratégias de guerra, conforme está descrito no capítulo 1 dos versículos 5-11. Entretanto é concebível que o ministério de Jeremias foi o mais importante durante os episódios do cativeiro. Iniciou-se durante o reinado de Josias e esteve ativo durante os próximos quatro reis; portanto, acompanhou cinco reis. Ele profetizava na porta do Templo (cap. 7), tanto para o povo, quanto para a classe dominante. A sua formação para ser sacerdote permitiu-lhe ser um homem culto; por isso, os seus escritos são de uma literatura rica e cheia de trocadilhos, como este: em 23.10, ele usa um trocadilho no hebraico para profetas = nebî’îm (sing. navi) e adúlteros = mena’pîm, referindo-se aos muitos profetas falsos que antecederam a última leva de cativos em 586 a.C., que anunciavam que a Babilônia não voltaria mais, o que encorajou alguns reis a rebelarem-se contra o império. O falso só existe porque há o verdadeiro; o falso só se manifesta no meio do verdadeiro, tomando a forma deste. Nem sempre a maioria e a liderança estão certas nas suas opiniões — é o caso de Jeremias, pois ele era minoria. O próprio Jesus cita as palavras de Jeremias, mostrando como ele pode ser contemporâneo até para nossos dias ainda: “É, pois, esta casa, que se chama pelo meu nome, uma caverna de salteadores aos vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isso, diz o Senhor” (Jr 7.11; ver Mt 21.13; Mc 11.17; Lc 19.46). – Havia muita confusão no tempo de Jeremias entre o que era, de fato, Palavra de Deus e o que era falso. Havia muitas vozes discordantes, exatamente como é hoje. Assim, precisamos prestar muita atenção para discernir a Palavra de Deus. – A proliferação de falsos profetas ocorre por causa de crentes e líderes que não conhecem verdadeiramente o Senhor em uma sociedade consumista e hedonista. Não foram libertos da ganância e, por isso, querem ouvir palavras de prosperidade da parte do Senhor. Jesus referiu-se a esses falsos profetas quando disse: “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no Reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele Dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E, em teu nome, não expulsamos demônios? E, em teu nome, não fizemos muitas maravilhas? E, então, lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (Mt 7.20-23). – Jeremias foi muito enfático e assertivo nas suas predições: “Porque o meu povo fez duas maldades: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.13).

Motivos que levaram Judá ao cativeiro – O cativeiro aconteceu especialmente por causa da liderança. Em todo o livro dos Reis, o autor sagrado deixa isso transparecer, culminando a ideia num momento de esperança frustrada com a reforma de Josias, que enfatizava que o problema da perdição não estava no povo, mas na liderança. Essa ideia é corroborada por vários profetas como visto neste capítulo; dentre eles, está Miqueias: “Ouvi agora isto, vós, chefes da casa de Jacó, e vós, maiorais da casa de Israel, que abominais o juízo e perverteis tudo o que é direito, edificando a Sião com sangue e a Jerusalém com injustiça. Os seus chefes dão as sentenças por presentes, e os seus sacerdotes ensinam por interesse, e os seus profetas adivinham por dinheiro; e ainda se encostam ao Senhor, dizendo: Não está o Senhor no meio de nós? Nenhum mal nos sobrevirá. Portanto, por causa de vós, Sião será lavrado como um campo, e Jerusalém se tornará em montões de pedras, e o monte desta casa, em lugares altos de um bosque.” (Mq 3.9-12) – Jeremias também evidencia a liderança como causadora do cativeiro: “Os sacerdotes não disseram: Onde está o Senhor? E os que tratavam da lei não me conheceram, e os pastores prevaricaram contra mim, e os profetas profetizaram por Baal e andaram após o que é de nenhum proveito” (Jr 2.8). – A situação de rebeldia era tão periclitante que, quando Deus mandou o profeta Jeremias registrar pela primeira vez as suas profecias em um rolo de livro, e após Baruque, o ajudante de Jeremias, ler o seu conteúdo na porta do Templo diante de todo o povo, embora tenha caído um grande temor sobre os príncipes, o mesmo não aconteceu com o rei, pois mandaram Jeremias e Baruque esconderem-se com receio de serem mortos (Jr 36.23,24). – O autor de Reis afirma: “O Senhor não o quis perdoar” (2 Rs 24.4), porque já havia chegado a um tal nível de deterioração que seria impossível o povo voltar-se novamente para Deus, a não ser que fossem severamente castigados para refletirem sobre o mal cometido. Outra afirmação forte de Reis é que o Senhor rejeitou-os da sua presença (2 Rs 24.20), o que também é corroborado pelo profeta Jeremias (6.20). Deus chegou a chamar Jerusalém de Gomorra (Jr 23.14; Is 1.9,10)! Se Ele chamou assim a sua cidade escolhida, então vale a pena atentarmos para nossa situação de enxertados na oliveira e vivermos uma vida digna da glória de Deus (Rm 11.17,18,21).

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

A fim de estimular o raciocínio e a participação em sua classe, leve seus alunos a discutir um ponto relacionado com a lição ou com um texto bíblico, usando o seguinte plano:

Dê a cada membro da classe uma cópia do ponto a ser discutido ou texto a ser interpretado. Dê alguns minutos para que cada um possa escrever suas ideias. Depois distribua a classe em grupos de três ou quatro, a fim de falarem do que escreveram. Cada grupo deverá escolher um membro para apresentar as opiniões do grupo, quando a classe se juntar novamente. Depois de quatro ou seis minutos, junte a classe e deixe que os grupos falem da conclusão a que chegaram. À medida que cada representante expuser suas ideias, anote-as no quadro de escrever. Conclua a discussão fazendo um resumo do trabalho apresentado pelos grupos. Esta dinâmica de grupo envolve toda a classe e promove valiosas ideias para o desenvolvimento da lição.

A situação de Judá é uma triste realidade para um povo que recebeu tantas profecias, avisos e oportunidades de arrependimento, mas decidiu pela apostasia.

II. A OBSTINAÇÃO DE ZEDEQUIAS E SUA QUEDA

1. A teimosia de Zedequias. Zedequias, o último rei de Judá, não entendeu bem a exata conjuntura em que a nação se encontrava; e, por sua própria conta, resolveu não dar ouvidos à voz do profeta (Jr 38.14-28). Zedequias fez constantes ameaças a Jeremias e até tentou mantê-lo submisso aos seus caprichos. Mas, Jeremias, como homem de Deus, não se deixou corromper, antes, proferiu toda a palavra do Senhor (Jr 38.17,18).

2. Surdos aos avisos dos profetas. Jeremias advertiu ao rei Zedequias dizendo que, caso se rendesse à Babilônia, sua integridade seria preservada. Todavia, o rei não deu ouvidos ao profeta, razão de acontecer o que estava previsto. O poderoso exército babilônico invadiu e destruiu Jerusalém (Jr 39.1). Zedequias e povo de Judá estavam tão confiantes em sua religiosidade e escolha divina em relação às demais nações, que nem pensavam na hipótese de serem quase aniquilados (Jr 7.4).

A teimosia de Zedequias. Zedequias, o último rei de Judá, não entendeu a situação em que estava Judá, não ouviu o profeta Jeremias (38.14-28), nem mesmo discerniu que o tempo do fim havia chegado, que Judá iria para o cativeiro, que a potência mundial da época, a Babilônia, não pouparia uma nação enfraquecida e teimosa, com rebeliões facilmente sufocadas. Vejamos quais os males de Zedequias: (i) Ele não estava disposto a ouvir a palavra de Deus através de Jeremias; (ii) ele quebrou um juramento feito em nome de Javé como vassalo da Babilônia; (iii) ele não estava arrependido e nem falou em impedir os líderes e sacerdotes de profanar o templo com a reintrodução de práticas de idolatria. Além disso, Zedequias fez constantes ameaças a Jeremias e tentou manter o profeta sob as suas ordens. Todavia, o homem de Deus não se deixa corromper. Jeremias não omitiu nenhuma palavra do Senhor para o rei. Ele pagou um alto preço, ficou por um tempo preso no pátio da guarda real e um tempo atolado na lama de uma cisterna recebendo apenas pão para comer.

Surdos aos avisos dos profetas. Tanto o rei Zedequias quanto o povo de Judá estavam tão confiantes na sua religiosidade e preferência divina em relação às demais nações, porque tinham instituições religiosas fortes e um templo magnífico, que achavam que nunca seriam destruídos, ao que o profeta vaticinou: “Não vos fieis em palavras falsas, dizendo: Templo do Senhor, templo do Senhor, templo do Senhor” (Jr 7.4). Havia uma falsa segurança baseada no magnífico Templo de Salomão. Da mesma maneira, hoje em dia, não é a grandiosidade de uma religião, ou a solidez das suas instituições, ou mesmo a linhagem real dos seus líderes que poderão prevalecer, a não ser que a vontade de Deus seja feita em todas as coisas e Ele esteja entronizado em detrimento dos falsos deuses, que entram sorrateiramente em qualquer estrutura religiosa, por mais pura e santa que ela seja.

SUBSÍDIO HISTÓRICO

“Zedequias, entretanto, era o rei de facto de todo o Judá deixado na terra em 597. Mau como foram seus irmãos, ele não atentou para as admoestações do profeta Jeremias, para aceitar a soberania dos babilônicos como a vontade de Deus para a nação. Rebelou-se contra Nabucodonosor, ocasionando o desastre fatal para o reino. Não é possível precisar esta data (ver Ez 17.11-18), mas em 588, Nabucodonosor lançou um ataque contra Jerusalém, por meio de um cerco que culminou na queda da cidade e no fim da monarquia judaica, em julho de 586 (2 Rs 25.2-7). Zedequias conseguiu escapar por uma abertura na muralha da cidade e fugiu para os lados de Jericó, mas logo foi capturado e conduzido à presença de Nabucodonosor que, na ocasião, estava alojado na Síria, na cidade de Ribla. Nesta cidade, o rei de Jerusalém teve de presenciar a execução de seus filhos. Depois, vazaram-lhe os olhos e conduziram-no assim para Babilônia” (MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento: O reino de sacerdotes que Deus colocou entre as nações. 6. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 480).

III. JERUSALÉM É CERCADA E LEVADA CATIVA

1. A destruição da Cidade Santa e do Templo. Após as investidas dos assírios, dos egípcios, e de três ofensivas dos babilônios, a forte e imponente cidade de Davi se encontrava completamente arrasada. Durante o cerco de Jerusalém, que durou dezoito meses, ninguém podia entrar nem sair. Os víveres estocados foram sendo rapidamente consumidos, e os animais eram abatidos e oferecidos como alimento; até que não restou mais nada. A cidade santa estava em extrema pobreza e miséria (Lm 4.1-6). Foi nesse momento que o poderoso exército de Babilônia rompeu uma brecha no muro e invadiu a cidade. O Templo Sagrado, erigido há 380 anos, foi saqueado, destruído e queimado. A glória de Israel se foi.

2. A matança, o cativeiro, a peste e a pobreza. No livro de Lamentações de Jeremias, o profeta descreve, com riqueza de detalhes, as deploráveis cenas que assistiu (Lm 4.3-10). A fome chegou a tal ponto que as mães cozinhavam e serviam os próprios filhos como comida. Até os sacerdotes perderam as esperanças; e as virgens, ficavam assentadas, sem forças, à beira do caminho. As crianças morriam de sede e fome; ninguém podia saciá-las.

3. A esperança profetizada. A mensagem de Jeremias deixou todos desesperados. Em Lamentações, o profeta desvela toda a sua tristeza. Mas, mesmo assim, não deixou de se lembrar e registrar o quanto Deus é misericordioso e o tamanho da sua fidelidade (Lm 3.22,23). Portanto, assim como Jeremias mudou sua desolação para um estado de esperança, também o cristão deve desenvolver uma atitude de fé diante de suas dificuldades e enfrentamentos. O maior motivo da nossa esperança é a ressurreição de Cristo: “Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.27b).

A destruição da Cidade Santa e do Templo. Nada os detinha os babilônios. Eles conquistaram as nações de uma forma que nunca havia ainda sido vivenciado no mundo antigo. Eles estavam determinados a tornarem-se os senhores do mundo e podiam fazê-lo não somente pela grandeza do seu exército e instituições sólidas, mas também porque eram autossuficientes. Foi esse poderio babilônico que cercou, invadiu, destruiu e reduziu Jerusalém a cinzas e lembranças. Essa destruição foi profetizada e permitida pelo Senhor Deus: “E, na verdade, conforme o mandado do Senhor, assim sucedeu a Judá, que o tirou de diante da sua face [...]” (2 Rs 24.3).

Jerusalém caiu, apesar dos esforços de Yahweh por meio de seus profetas, de restaurar o seu povo. Mas eles escarneceram de suas palavras até que não mais houve remédio senão a destruição e deportação (2 Cr 36.15,16). Havendo rejeitado a postura de filhos da aliança servos de Yahweh, a comunidade judaica espalhada pelo cativeiro agora cumpriria o papel de escravos em terra estranha. Somente quando se cumprisse o tempo da disciplina, o povo poderia sonhar com o retorno à sua terra. Então reassumiria a responsabilidade de ser verdadeiramente a nação santa e o povo de Deus. – A visão de Ezequiel dá conta de que a tragédia principal não foi apenas a deportação. Foi pior do que isso, pois a glória de Deus havia sido retirada do Templo e para lá nunca mais voltaria. “E a glória do Senhor se alçou desde o meio da cidade e se pôs sobre o monte que está ao oriente da cidade” (Ez 11.23). Somente na era escatológica é que a glória do Senhor voltará ao Templo, dessa vez na própria presença do Senhor Deus da glória por meio do Messias: “[...] e virá o Desejado de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos. [...] A glória desta última casa será maior do que a da primeira, diz o Senhor dos Exércitos, e neste lugar darei a paz, diz o Senhor dos Exércitos” (Ag 2.7,9). – A destruição final de Jerusalém aconteceu após a terceira investida babilônica, com a queima do Templo, do palácio real e dos edifícios importantes, bem como a leva dos restantes, inclusive os sacerdotes.

A matança, o cativeiro, a peste e a pobreza. A situação de Jerusalém e dos habitantes de Judá ficou deplorável com a última invasão babilônica. Todos os nobres, príncipes e ricos foram deportados para a Babilônia, ficando somente os pobres na terra que não tivessem condições de incitar uma rebelião. O profeta Jeremias foi levado cativo até uma parte do caminho. Depois, por benevolência de Nabucodonosor, pôde escolher entre ser levado cativo ou voltar para Jerusalém. Como ele não tinha forças emocionais para decidir-se diante de tamanha desolação, o general babilônico ordenou-lhe que voltasse para Jerusalém. Nessa caminhada de cativos, Jeremias contemplou com tristeza as correntes com que as pessoas nobres e mais influentes de Judá estavam sendo oprimidas e humilhadas. Estavam todos atados, de cabeça baixa, moribundos e sendo conduzidos como animais para longe de Jerusalém, a cidade amada. – Os pobres que sobraram na terra foram liderados, por ordem de Nabucodonosor, por Gedalias, mas, após o assassinato deste, todo o restante do povo apavorado fugiu para o Egito. Nessa fuga, forçaram o profeta Jeremias a ir junto para que a sua vida fosse poupada, embora Jeremias fosse pró-babilônia e Nabucodonosor soubesse disso. Jeremias foi levado a contragosto e advertiu severamente os principais líderes que sobraram para que não fugissem para o Egito, pois lá sim seriam mortos; se ficassem em Jerusalém, seriam poupados da espada e da fome (Jr 42.7-43.13). – Assim, quatro flagelos caíram sobre todo o povo, sem escapar ninguém: morte por causa da guerra, do cerco babilônico e da invasão de Jerusalém; os nobres e artesãos que sobraram foram levados cativos para a Babilônia; os que ficaram eram os mais pobres, que empobreceram mais ainda; e a peste vitimou muita gente por causa das péssimas condições de alimentação e abandono. Um dos livros bíblicos que retrata esse cenário com muita propriedade é Lamentações de Jeremias.

A esperança profetizada. O desespero retratado por Jeremias tomou conta de todos, que, no caso de Judá, foi o lamentável ocorrido da destruição da cidade e da ida para o exílio. Mas o desespero pode ser a simples e silenciosa ausência de sentido, de perspectiva, de futuro, de ideal ou de sonhos. Embora ele tenha lamentado profundamente a destruição da cultura, da religião, dos lugares sagrados e da habitação do povo de Judá, a princípio, num gesto de autocomiseração e autopiedade, ele depois se lembrou de algo bom que aconteceria adiante. Ele escreveu um dos livros mais tristes de toda a Bíblia, Lamentações, mas nas suas lamentações ele lembrou-se do Senhor, o que lhe permitiu praticar a resiliência presente na esperança: “As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos; porque as suas misericórdias não têm fim. Novas são cada manhã; grande é a tua fidelidade. [...] Bom é o Senhor para os que se atêm a Ele, para a alma que o busca. Bom é ter esperança e aguardar em silêncio a salvação do Senhor”. (Lm 3.22-23, 25-26)

SUBSÍDIO DEVOCIONAL

“Contrariamente a súplica de Jeremias e Ezequiel, que convocaram à submissão, os últimos reis de Judá se opuseram aos babilônios. A terceira vez que as forças babilônicas apareceram diante de Jerusalém, Nabucodonosor ordenou que a cidade e o seu povo fossem destruídos, e que a maior parte do seu povo fosse levada para o cativeiro. Os poucos que restaram assassinaram o governador babilônio e sua guarnição, e fugiram para o Egito, deixando a terra vazia dos descendentes de Abraão.

Superficialmente, o cativeiro babilônico parece uma grande tragédia. No entanto, ele provou ser uma bênção incomum. Na Babilônia os judeus se voltaram para as Escrituras a fim de entender o que lhes acontecera. De forma decisiva rejeitaram a idolatria; depois do cativeiro a nação nunca mais foi atraída para a adoração a falsos deuses. E enquanto estavam na Babilônia, o sistema de estudo e oração nas sinagogas foi instituído; um sistema que manteve o foco de Israel nas Escrituras até o dia de hoje.

Mesmo no mais terrível dos juízos Deus permaneceu verdadeiro ao seu compromisso em fazer o bem ao seu povo. Não obstante o que acontecer a você e a mim, sabemos que Deus tem um compromisso conosco. Ele nos ama, e nos fará o bem” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 227).

CONCLUSÃO 

A experiência do reino de Judá no cativeiro é uma triste lição para todos os crentes. Quando os “falsos deuses” ocupam o coração de uma pessoa, ela se torna cativa de suas escolhas erradas. A boa notícia é que, pela misericórdia de Deus, Judá retornou à sua Terra Prometida. Deus ainda usa suas misericórdias para com seu povo. Elas não têm fim. “Novas são cada manhã” (Lm 3.23). Assim como Jeremias mudou a sua desolação para um estado de esperança, também o cristão, diante das suas dificuldades e enfrentamentos, desenvolve essa mesma atitude esperançosa, pois a falta de esperança produz a tristeza, que leva ao abatimento e à frustração, que leva a fraqueza, ao desânimo e ao cansaço de não querer ser o que Deus pensa que podemos ser. Paulo sabia dos sofrimentos que todo o universo enfrenta por causa do pecado, mas também manifestou a esperança da redenção: “Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.22-25).

REFERÊNCIAS

BÍBLIA, Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 535.

LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre 2021 - Lição 13. Rio de Janeiro: CPAD, 26, set. 2021. 

POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica, 2010. 

sábado, 18 de setembro de 2021

LIÇÃO 12: O REINADO DE JOSIAS

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO

 INTRODUÇÃO 

Josias foi o último dos reis justos de Judá. Nunca houve um rei como ele que se voltasse para o Senhor de todo o coração. Este grande monarca e fiel homem de Deus expurgou o país de todas as falsas divindades ali colocadas por seus ancestrais. E ao saber que o livro da Lei havia sido encontrado dentro do Templo, iniciou em seu reino a maior e mais impactante renovação espiritual vista entre todas as tribos de Israel. – O nascimento do rei Josias foi profetizado aproximadamente 300 anos antes, quando um profeta anônimo foi enviado à Jeroboão enquanto este sacrificava aos seus falsos deuses. Sob a perspectiva do autor de Reis e Crônicas, Josias foi um dos melhores reis que Israel teve, pois limpou o Templo de muitas divindades, dos rituais e da simbologia pagã que haviam colocado nele, a saber: a estaca sagrada (poste-ídolo), o aposento das prostituições sagradas, lugar onde as mulheres teciam véus para Aserá, os cavalos e o carro do deus Sol ali colocados pelos reis de Judá e os altares que os reis de Judá tinham levantado no terraço (2 Rs 23.4-12). Ele também destruiu os altares, os ídolos e os rituais em vários locais fora de Jerusalém e nos lugares altos das cidades. Fez uma limpeza geral contra as formas de adoração idólatras que se haviam instalado em Israel e que foram instituídas pelos reis que o antecederam. Inclusive os altares a deuses que foram introduzidos por Salomão também foram destruídos por Josias. Ele aniquilou toda uma cultura idólatra e trabalhou para que os sacerdotes dessas divindades também perdessem os seus postos. 

 I. JOSIAS REPARA O TEMPLO

1. “Achei o livro da Lei no Templo do Senhor”. Com seu desejo de realizar reparos na Casa do Senhor, Josias ordenou a Safã, o escrivão, e a outros assessores, que fossem ao encontro do sumo sacerdote Hilquias e arrecadassem todos os possíveis recursos financeiros (2 Rs 22.4). Pode-se imaginar a enorme surpresa que teve o escrivão do rei ao receber do sumo sacerdote Hilquias a notícia de que o Livro do Senhor havia sido achado dentro da Casa do Senhor (2 Rs 22.8). Por este relato percebe-se como era o nível de desinteresse das coisas de Deus por quem deveria zelar, não apenas pelo sagrado Livro, mas pelo cumprimento das leis divinas expressas nele.

2. O rei rasgou suas vestes. Ao saber do conteúdo do livro, Safã, o escrivão, levou-o imediatamente ao rei Josias (2 Rs 22.10). O rei leu o livro tão avidamente, e ficou tão pasmado diante da realidade de haver descumprido seu conteúdo, que não tardou em rasgar suas próprias vestes em sinal de profunda tristeza e consternação (2 Rs 22.11).

Ao ser impactado pela mensagem do livro, Josias não se justificou em razão dos próprios pecados, como fazem os que não querem conformar suas vidas à vontade soberana de Deus. O rei não culpou a ninguém; simplesmente se humilhou rasgando suas vestes, demonstrando a piedade do seu coração.

3. Entendendo a vontade de Deus. Por ordem de Josias, o sumo sacerdote Hilquias e seus auxiliares foram consultar a profetiza Hulda para saberem se os pecados de Judá tinham atingido o nível do juízo divino (2 Rs 22.12-142 Cr 34.22). Então a profetiza confirmou que Jerusalém realmente seria destruída, mas que por amor a Josias, isso aconteceria somente após a morte dele (2 Rs 22.18-20). Assim Deus demonstrou que ouviu a oração do rei; embora, a condenação de Judá estivesse sendo apenas adiada (Jr 11.9-1713.27).

Quando o escrivão do rei foi enviado a conversar com o sacerdote Hilquias, cujo nome significa “Javé é minha porção”, para iniciar e organizar a reforma do Templo, este lhe comunicou que havia achado o livro da Lei de Moisés. Hilquias achou o livro, mas não se mostrou surpreso pelo seu conteúdo, pois tudo indica que tivera contato com ele anteriormente. O achado do livro dentro do Templo obviamente significa que ele estava perdido naquele lugar, mas isso parece muito incoerente. Como o livro da Lei de Moisés poderia ter-se perdido dentro do Templo? Talvez pelo motivo exposto adiante: de que um escriba zeloso propositadamente o tivesse guardado; só que o real motivo foi, provavelmente, o descaso para com o livro que a idolatria sistematizada ocasionou à liderança religiosa e civil. Dessa forma, a lassidão espiritual e o relaxamento religioso daqueles que deveriam zelar não apenas pela guarda, mas também pelo cumprimento da Lei fez com que o mais precioso livro fosse perdido paradoxalmente dentro do lugar onde ele deveria ser guardado e anunciado com veemência. – A perda do livro dentro do Templo, portanto, é uma realidade factível ainda hoje. Seria impossível perder a Palavra de Deus materialmente, pois a temos em milhões de cópias e, mais recentemente, em meios digitais dos mais variados tipos e variações. Nunca nos faltarão exemplares físicos ou eletrônicos da Bíblia, mas, assim mesmo, ela poderá ser perdida cada vez que a negligenciamos, como bem afirmou Tiago: “E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos. Porque, se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante ao varão que contempla ao espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo, e foi-se, e logo se esqueceu de como era. Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito.” (Tg 1.22-25) – Portanto, é preciso proatividade em relação à observância, ao cumprimento e à obediência àquilo que a Palavra de Deus diz; não uma observância exterior e hipócrita, mas uma observância que parte de um coração adorador. O cerne do entendimento da Palavra de Deus é estabelecer um relacionamento com o seu autor para compreendê-la espiritualmente, pois o seu conteúdo é relacional, porque contamos com a presença do seu autor, o Espírito Santo. As principais mudanças tomadas em nossa vida são feitas num relacionamento espiritual com a Palavra de Deus e o seu autor. A Palavra de Deus serve-nos primordialmente de duas maneiras: (1) através do confronto, com a sua voz moral e ética, e (2) através do conforto, com a sua voz amorosa e consoladora. Muitas pessoas veem a Palavra de Deus apenas como conforto em tempos de angústia, mas ela não serve somente para isso. A sua função também é causar desconforto diante do pecado e dos desvios da própria Palavra. Assim, para que ela, de fato, produza conforto permanente, na maioria dos casos precisará produzir desconforto ao confrontar a miserabilidade do pecador. A Palavra de Deus cria algo novo em nossas entranhas e gera mudanças de comportamentos, hábitos, vícios e abandono de pecados. Dessa forma, é preciso deixar a Palavra ler a alma humana, invertendo-se a forma natural de leitura. Por isso, o salmista escreveu: “Guardei no coração a tua palavra para não pecar contra ti” (Sl 119.11, NVI). A versão bíblica A Mensagem substitui “pecar contra ti” por “entrar em falência”, o que demonstra a impossibilidade de prosperidade humana sem ter a Palavra de Deus como bússola infalível.

Quando o escrivão Safã recebeu o livro das mãos de Hilquias, ele imediatamente tomou um tempo para lê-lo. Não se sabe se ele fez isso apenas por curiosidade ou se já queimava no seu coração o desejo por um avivamento, visto ser ele funcionário do rei, que, anos antes, começara a adorar a Deus no Templo. Certamente, toda a corte real já havia sido influenciada pela devoção do rei. – Depois de tomar conhecimento do seu conteúdo, Safã levou o livro ao rei, que o leu tão avidamente e causou-lhe tanto impacto que, diante da percepção concreta de que haviam falhado grandemente em cumprir o seu conteúdo, ele rasgou as vestes, o que, na antiguidade, era um sinal de profunda consternação e tristeza. Isso mostra um profundo arrependimento e contrição por parte desse rei piedoso, mas também coragem de lutar contra aquilo que o seu pai e, principalmente, o avô haviam instituído. O rei sabia que não seria um trabalho fácil, pois toda a sociedade e todas as camadas dela estavam tomadas pela idolatria e, além disso, não estavam há tempos fazendo o culto a Deus corretamente. – A reação do rei não foi a de justificar-se diante dos seus pecados, como muitos fazem quando não querem deixar a vida que não se conforma com a vontade de Deus. Ele nem mesmo culpou a ninguém; simplesmente se humilhou e, em sinal exterior do que já havia acontecido no seu coração, rasgou as suas vestes.

O rei Josias entendeu com exatidão o que a Lei de Moisés dizia, pois compreendeu que o Senhor estava irado com eles porque, da mesma forma como os seus antepassados, haviam negligenciado vários preceitos da Lei. Assim, ele enviou os seus mensageiros a consultarem a profetisa Hulda. Naquela época, era normal as pessoas servirem-se de alguém com dons especiais para saberem a vontade de Deus. Hoje, embora esses dons ainda operem livremente pelo Espírito Santo, é salutar que a comunhão íntima de cada um com o Senhor seja tão estimada que não se precise buscar ajuda de outros para ouvir a voz de Deus, pois o Espírito Santo testifica no coração de cada crente sobre qual é a vontade de Deus (Rm 8.16), da mesma forma como Paulo era guiado pelo Espírito Santo (At 13.2; 16.7). – A profetisa Hulda confirmou a certeza que o rei já tinha, e, de fato, o veredito celestial já estava feito: Jerusalém seria destruída, mas, por amor a Josias e pela sinceridade do seu arrependimento, isso aconteceria somente depois da sua morte, demonstrando, assim, que o Senhor ouviu a oração do rei e atentou para o seu arrependimento genuíno. Neste texto, a palavra hebraica para arrependimento (2 Rs 22.19) é rakak, que significa ser amolecido ou enternecido. – Arrependimento é um ataque sem tréguas contra toda impiedade e idolatria, a começar pela própria pessoa, como foi o caso de Josias. Só depois é que ele colocou em prática as maneiras de alcançar o maior número de pessoas para um novo pacto com o Senhor Deus.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Para alcançarmos os objetivos fundamentais que formulamos, quais deverão ser os nossos objetivos imediatos? O que planejamos fazer neste trimestre, neste mês, nesta lição? Esses planos variam com as situações. Os interesses e as necessidades de nossos alunos deverão determinar nossos objetivos para cada lição em particular. Muitas vezes o comentarista da lição sugere as metas em conexão com ela. Essas metas poderão ou não coincidir com as necessidades da classe. Por isso, deve o professor determinar seus objetivos de acordo com a realidade de sua classe. Tendo em mente o assunto da lição a ser ensinada, o professor poderá perguntar-se:

· Quais conhecimentos desejo que meus alunos adquiram?

· Quais situações desejo que eles enfrentem?

· Quais atitudes e decisões desejo que eles tomem?

II. A RENOVAÇÃO DO PACTO COM O SENHOR

1. A leitura do livro diante do povo. Josias, como um líder zeloso pelo cumprimento da Palavra de Deus, sabia que a reforma não teria êxito se todos não fossem envolvidos. Por isso convocou todas as autoridades de Judá e de Jerusalém, e todo o povo; do mais simples ao mais importante, para se reunirem no Templo do Senhor e ouvirem a leitura da Lei de Deus (2 Rs 23.1,2). Ouvindo a mensagem, o povo preparou o coração para uma nova aliança com o Senhor.

O verdadeiro avivamento começa com a escuta da Palavra de Deus. Quando a Bíblia passa ser ouvida com seriedade, o coração é quebrantado, a nossa vida é avivada e o Espírito Santo faz morada. O avivamento por meio da Palavra é duradouro.

2. A destruição dos ídolos. No início de sua reforma, quando tinha completado oito anos de reinado, o rei Josias reparou o Templo, tirando todos os utensílios que tinham sido feitos para Baal (2 Rs 22.123.2). Além disso, ele expurgou as imundícies idolátricas de todas as cidades de Judá, e só voltou à Jerusalém quando todo o trabalho de limpeza havia terminado (2 Rs 23.4-20). O coração de Josias fervia de amor pelo Deus de Abraão, tão ultrajado por seu povo.

O achado do livro era um argumento muito convincente que Josias poderia usar diante do povo e para incrementar ainda mais as reformas que já haviam iniciado anos antes. O mesmo impacto que Josias teve ao ler o livro ele também queria o povo tivesse. O livro foi lido primeiramente por Safã, depois pelo rei e, por último, pelo povo. Como um líder zeloso pelo cumprimento da Palavra de Deus, a reforma não teria êxito se todos não fossem envolvidos. Ele chamou os principais líderes civis e religiosos, e todos foram juntos ao Templo, mostrando unidade de propósitos, desde a pessoa mais humilde a mais ilustre. Essa leitura do livro preparou o coração do povo para a proposta que Josias fez de fazer uma nova aliança com Deus, ao que todo povo concordou e comprometeu-se.

Imediatamente após a leitura do livro e a nova aliança com Deus, começou uma reforma ainda mais radical do que a que já havia sido iniciada quando Josias tinha 16 anos. Agora não sobraria nenhum ídolo em Judá. A reforma passou por todo o Israel, incluindo algumas tribos do Reino do Norte, que, a essa altura, já estavam no exílio por conta da idolatria. Por todas as cidades ele promoveu total limpeza das imundícies idolátricas e só voltou para Jerusalém após terminado esse expurgo. O coração de Josias estava fervendo de amor ao Deus de Abraão, tão tristemente ultrajado pelo seu povo. Que maravilha! Que nos dê homens como Josias, tementes e zelosos pelas coisas de Deus.

Uma reforma tão radical como essa custou um alto preço tanto para Josias quanto para os envolvidos nos cultos pagãos, pois ele demitiu — e alguns até matou — os sacerdotes falsos, os prostitutos sagrados, os médiuns e os adivinhos. O próprio rei percorreu todo o reino numa limpeza total sem precedentes na história de Israel. Para ter certeza de que os altares e lugares sagrados idólatras não seriam usados novamente, mandou queimar ossos humanos dos sacerdotes pagãos sobre todos esses lugares, profanando-os e tornando-os imprestáveis para o culto.

Josias foi tomado de profunda convicção e zelo para levar a cabo a sua reforma. Por isso, diz-se que ele foi o melhor rei de Judá depois de Davi, no sentido de agradar a Deus em todas as coisas (2 Rs 22.2). A própria Bíblia afirma que Josias andou nos caminhos do seu pai Davi, embora fosse filho do idólatra Amom. Isso demonstra a nova paternidade espiritual de Josias, que abriu mão da perversa herança dos seus antepassados idólatras.

SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO

“O compromisso religioso inicial de Josias foi demonstrado por seus esforços para reparar o Templo do Senhor. Ele estava desorientado, pois aparentemente durante o reinado de Manassés a maioria das cópias das Escrituras do Antigo Testamento foi destruída. Então uma cópia da lei, que alguns acreditam compreender todos os cinco livros de Moisés, foi achada. Um Josias abalado percebeu quão desobediente Judá tinha sido.

Perguntas dirigidas a Hulda, uma profetisa, trouxe de volta a palavra de que o destino de Judá estava selado. Mas em razão de Josias ter sido humilde e sensível a Deus, o desastre viria apenas depois de sua morte.

Deus ainda está à procura de pessoas que estão abaladas pelo abandono da sociedade sobre os princípios bíblicos de santidade e de justiça. Quando formos humildes e sensíveis, Deus nos abençoará individualmente a despeito do que possa acontecer a nossa terra.

O zelo de Josias era tão grande que ele começou a livrar Judá de todas aquelas práticas contra as quais a Palavra de Deus falava. A lista das suas ações sugere a extensão da apostasia de Judá.

O que podemos apreciar sobre Josias é o seu exemplo de total compromisso. Nenhum de nós poderia fazer um pedido mais importante do que sermos como Josias, que ‘se [converteu] ao Senhor com todo o seu coração, e com toda a sua alma, e com todas as suas forças’ (23.25).

O reinado de 31 anos de Josias sobre Judá não mudou a direção da sua nação. Mas os seus constantes esforços para servir ao Senhor lhe renderam a honra divina. Deus não exige que sejamos bem-sucedidos. Ele nos chama, porém, para sermos totalmente comprometidos” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp.226,27).

III. A CELEBRAÇÃO DA PÁSCOA

1. A celebração da Páscoa e a restauração do culto e dos ofícios do Templo. Somente depois de dezoito anos de reinado foi que Josias conseguiu comemorar a primeira Páscoa. Esta foi a maior celebração desde os tempos do profeta Samuel (2 Rs 23.21-23). Josias também reestabeleceu a liturgia do culto, o sacerdócio, e diversos ofícios que eram praticados no Templo; tais como, sacerdotes, levitas, cantores, guardas do Templo etc.

2. A maior páscoa da monarquia. A Páscoa era uma das maiores festas do povo de Israel. Relembrava a proteção divina e o livramento da escravidão no Egito. Deveria ser sempre festejada, pois permitia ao povo recordar as obras que o Senhor realizara no passado (Êx 12.14,24-27). No entanto, devido ao pecado, o povo se esqueceu dos feitos e promessas de Deus.

Após achar o livro da Lei do Senhor, derrubar os altares a deuses pagãos e destituir os sacerdotes que realizavam tais abominações, Josias deu ordem para que o povo retornasse à celebração da Páscoa ao Senhor. Ele realizou o maior festejo do seu tempo. Nunca houvera Páscoa tão fervorosa (2 Rs 23.21-23).

O rei Josias restituiu o ofício dos sacerdotes, dos levitas, dos cantores e dos guardas do Templo e ofereceu sacrifícios e holocaustos conforme manda a Lei. Foram oferecidos muitos animais em sacrifício, que foram comidos pelo povo. Ao todo, foram oferecidos 37.600 carneiros e cabritos e 8.500 touros. Foi uma grande festa sem precedentes que durou sete dias. Interessante observar que a Arca da Aliança não estava no seu devido lugar no Santo dos Santos do Templo, mas havia sido negligenciada nos tempos de adoração dos falsos deuses. Algum rei anterior, em conivência com os sacerdotes e de forma relapsa, havia tirado a Arca do seu lugar, mas a reforma de Josias foi abrangente, pois todos os detalhes foram observados. Assim, a Arca da Aliança voltou para o seu lugar, e a reforma estava completa, e, durante o reinado de Josias, o povo de Israel adorou somente a Deus, o Senhor.

Como já afirmado, a Páscoa comemorada por Josias foi a maior da época da monarquia. Não há detalhes quanto à época que Josias comemorou a Páscoa, mas ela era celebrada todos os anos na primavera em 14 de Nisã (originariamente, Abib). Nela, os israelitas relembravam o modo milagroso pelo qual Deus operou a salvação do seu povo, livrando-os da opressão, do sofrimento, da angústia e da escravidão promovidos pelos egípcios. Era a lembrança da fidelidade de Deus à sua promessa, do seu amor libertador e do seu cuidado em favor do seu povo. – O nome hebraico para referir-se à páscoa é Pesah, que pode significar pular, passar por cima, saltar por cima ou, também, passar de largo, no sentido de poupar a vida, pois o anjo destruidor passou de largo na noite da fuga do Egito e poupou os primogênitos das casas onde havia sido aplicado o sangue nas ombreiras e na verga das portas (Êx 12.7). Essa determinação havia sido dada por Deus, diante da teimosia de Faraó, para que o povo de Israel não fosse atingido pela última praga lançada sobre o Egito, que era a morte dos primogênitos de homens e animais. Portanto, na casa dos israelitas onde houvesse sido sacrificado um cordeiro e o sangue deste aspergido nos locais indicados, não sucederia a mortandade. Assim, trata-se do misericordioso cuidado do Senhor em preservar os filhos de Israel quando um poder destruidor “passou por cima” deles sem causar-lhes dano. A festa passou a ser celebrada. A festa passou a ser celebrada, mais tarde, de modo alegre. Na primeira noite do Seder (ordem ou liturgia), a família israelita festejava a liberdade que o Senhor Deus dera ao povo

SUBSÍDIO DEVOCIONAL

“[…] Somos informados de que nunca se celebrou tal páscoa como esta em nenhum dos reinados anteriores, não, desde os dias dos juízes (v.22), o que, a propósito, insinua que, embora o relato que o livro de Juízes dá do estado de Israel sob aquela dinastia pareça apenas melancólico, ainda houve, então, alguns dias dourados.

Parece que essa páscoa foi extraordinária por causa do número e da devoção dos participantes, de seus sacrifícios e ofertas, e de sua exata observância das leis da festa. E não ocorreu agora como na páscoa de Ezequias, quando participaram muitos que não estavam limpos de acordo com a purificação do santuário, e foi permitido aos levitas fazerem o trabalho dos sacerdotes. Nós temos motivos para pensar que durante todo o restante do reinado de Josias a religião floresceu e as festas do Senhor foram muito cuidadosamente observadas. Mas nessa páscoa, a satisfação que eles tiveram no concerto recentemente renovado, a reforma no prosseguimento dela, e o renascimento de uma ordenança cujo original divino eles tinham encontrado recentemente no livro da Lei, e que tinha sido negligenciado por muito tempo ou guardado sem cuidado, os colocou em grande entusiasmo de santa alegria. E Deus ficou satisfeito em recompensar o zelo que tiveram em destruir a idolatria com sinais incomuns da sua presença e favor. Tudo isso concorreu para fazer dessa páscoa uma festa de destaque” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Josué a Ester Edição Completa. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.632).

CONCLUSÃO 

Josias fez uma limpeza geral em Israel, eliminando todas as formas de idolatria instituídas pelos reis que o antecederam, inclusive o rei Salomão. Este grande monarca e figura do Messias, foi a promessa de Deus sobre Judá, de que o paganismo não prevaleceria sobre seus reis, mas que a raiz de Jessé voltaria a brotar (Is 11.1-4Rm 15.12). – Josias, portanto, foi a promessa de Deus sobre Judá, bem como uma figura do Messias vindouro, de que a idolatria não teria prevalência sobre os seus reis, mas a raiz de Jessé brotaria ainda que a nação fosse um monte de troncos queimados (ver Is 6.12,13). Infelizmente, Josias foi morto em campo de batalha contra o Egito, batalha esta que ele não precisava ter-se envolvido. O profeta Jeremias compôs um lamento pela morte de Josias, que foi entoado durante um longo tempo pelos judeus (2 Cr 35.25).

REFERÊNCIAS

BÍBLIA, Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p. 535.

LIÇÕES BÍBLICAS. 3º Trimestre 2021 - Lição 12. Rio de Janeiro: CPAD, 19, set. 2021. 

POMMERENING, Claiton Ivan. O plano de Deus para Israel em meio à infidelidade da nação. Rio de Janeiro: CPAD, 2021. 

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997. 

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. II Históricos, p. 449. Santo André: Geográfica, 2010.