COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
A Bíblia de Estudo
Pentecostal define "dons” como “manifestações sobrenaturais concedidas da
parte do Espírito Santo, e que operam através dos crentes, para o seu bem
comum". Neste trimestre analisaremos os dons de Deus dispensados à Igreja
para que, com graça e poder, ela proclame o Evangelho de Jesus a toda criatura.
Além de auxiliar o Corpo de Cristo no exercício da grande Comissão, os dons
divinos subsidiam os santos para que cheguem à unidade da fé (Ef 4.12,13). – Deus
se compraz em dar presentes. É da natureza divina a generosidade para com sua
criação, e o mesmo pode ser dito no que concerne ao relacionamento de Deus para
com sua Igreja. Nesse caso específico, a Bíblia nos apresenta a expressão “dom”
como uma capacitação dada pelo próprio Deus para que seus servos possam atuar
de forma adequada nas esferas da igreja local. – Ao criar o ser humano, homem e
mulher, deu-lhes o sopro divino, o primeiro dom, o dom da vida. Não apenas a
vida biológica, mas a vida espiritual, a vida eterna, com a qual o homem
poderia desfrutar para sempre da gloriosa presença do Criador, sem sofrer os
males decorrentes do pecado. - A Queda foi a tragédia de dimensão espiritual,
humana e cósmica. O homem não soube aproveitar a grande dádiva da existência e
da vida, propiciada pelo Ser Supremo. E desperdiçou a grande oportunidade de
viver com Deus, no paraíso, que se estenderia por todo o planeta, num ambiente
plenamente adequado para uma vida especial. Perdeu a vida eterna, restando-lhe
o dom da vida na dimensão biológica, sujeito às fraquezas e desordens naturais.
- Mas Deus provou que tem um plano especial para o homem, na face da Terra. E
propiciou a redenção da humanidade, com a promessa da “semente da mulher” (Gn
3.15), que haveria de ferir a cabeça da serpente, o Diabo e seus seguidores.
Jesus, a maior dádiva de Deus à humanidade, nasceria de uma mulher (cf. Is
7.14), para ser morto, em sacrifício pelo homem perdido, e tornar-se o vencedor
do pecado, da morte e do Diabo. A salvação foi o maior dom de Deus ao mundo (Jo
3.16). O dom da vida eterna, em Cristo Jesus.
I. OS DONS NA BÍBLIA
1. No Antigo
Testamento. O Dicionário
Bíblico Wycliffe mostra que há várias palavras hebraicas que significam
"dádiva". A origem dessas palavras está na raiz hebraica nathan, que
significa "dar". Por isso, podemos afirmar que no Antigo Testamento
há vislumbres dos dons divinos concedidos a pessoas peculiares como reis,
sacerdotes, profetas e outros. Todavia, os dons divinos não estavam acessíveis
ao povo de Deus da Antiga Aliança como observamos no regime da Nova Aliança.
2. No Novo
Testamento. O mesmo dicionário informa
ainda que ao longo do Novo Testamento a palavra "dom" aparece com
diferentes significados, que se relacionam ao verbo grego didomi. Este verbo
representa o sentido ativo da palavra "dar" em Filipenses 4.15. Na
Nova Aliança, os dons de Deus estão disponíveis para que a Igreja, em nome de
Jesus, promova a libertação dos cativos, ministre a cura aos doentes e proclame
a salvação do homem para a glória de Deus. O Novo Testamento também deixa
claro que todos os crentes têm acesso direto a Deus através de Cristo Jesus e,
por isso, podem receber os dons do Espirito.
3. Uma dádiva para
a Igreja. A fim de sermos mais
didáticos e eficientes no estudo a respeito dos dons. dividiremos este assunto
em três categorias principais: Dons de Serviço, Dons Espirituais e Dons
Ministeriais. Esta divisão acompanha a classificação dos dons conforme se
encontra nas epístolas paulinas aos Romanos, 1 Coríntios e Efésios,
respectivamente. Insistimos, porém, que esta classificação é apenas um recurso
didático, pois quando o apóstolo expõe o assunto em suas cartas, ele não parece
querer exaurir os dons em uma lista, antes, preocupa-se em exortar os irmãos a
buscá-los e usá-los para encorajar, confortar e edificar a Igreja de Cristo,
bem como glorificar a Deus e evangelizar o mundo.
A palavra “dom” tem vários
significados no texto bíblico. No Antigo Testamento, escrito em hebraico, há
várias palavras que traduzem o sentido de “dom”. Dentre elas, destacamos os
termos mattan, com o sentido de alguma coisa oferecida gratuitamente, ou “um
presente”, como em Provérbios 19.6; 21.14; ou como dote, dádiva (Gn 34.12). Há
o termo maseth, que também significa “presente”, “dádiva” (Et 2.18; Jr 40.5); a
mais usada, no entanto, é minchach, que ocorre duzentas e nove vezes, com o
significado de “oferta”, “presente” (SI 45.12; 72.10). Em todas as ocorrências,
o sentido é sempre o de algo que é dado ou oferecido gratuitamente. No Antigo
Testamento, os dons eram concedidos a pessoas específicas, chamadas por Deus
para cumprir determinadas missões. Os dons não estavam à disposição de todo o
povo de Deus.
No Novo Testamento, escrito em grego,
a palavra “dom” assume de igual modo significados diversos. O termo “doma”
indica a oferta de um “presente”, “boa coisa” (Mt 7.11); o “pão nosso” é uma
dádiva de Deus (Lc 11.13); “dons”, concedidos por Deus aos homens (Ef 4.8), com
base no Salmo 68.19. A palavra cháris indica “dom gratuito”, ou “graça” (2 Co
8.4). O termo charisma é muito utilizado em estudos bíblicos, pois tem o
significado de “dons do Espírito”, concedidos pela graça de Deus, com
propósitos muito elevados; é relacionado ao termo ta charismata, utilizado em 1
Coríntios 12.4,9,28,30,31, que tem o sentido de “dons da graça”. Há o termo
grego ta pneumática, usado por Paulo, em 1 Coríntios 12.1; 14.1, que se refere
a “dons espirituais”. Em o Novo Testamento, os dons de Deus estão à disposição
de todos os que creem, com a finalidade de promover graça, poder e unção à
Igreja no exercício de sua missão, de forma que Cristo seja glorificado.
1) Através da natureza – Em sua infinita bondade, Deus “...é
quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas” (At 17.25). Além da
vida humana, infundida no ato da criação, e na geração de cada novo ser vivo,
Deus concede, através da natureza, o ar, a água, o sol, a chuva, a germinação
das plantas, os frutos, os alimentos e tudo o que é necessário à sobrevivência
no planeta. São “dons” ou dádivas naturais. E fruto da graça de Deus.
Para o naturalista, tudo isso é
resultado de um processo ecológico, fruto do acaso cego. É a suprema ignorância
sobre a verdadeira origem da Terra e do universo em geral. Mas os cristãos
verdadeiros, que conhecem a Palavra de Deus, como revelação divina, sabem que
todo o funcionamento dos ecossistemas são fruto da criação de Deus e de sua
bondade para com o homem, face o seu plano glorioso para o planeta Terra, que é
propriedade de Deus (SI 24.1).
2) Através das aptidões humanas – De modo geral, cada pessoa tem algum
tipo de habilidade para realizar determinadas coisas. A psicometria, que usa o
Quociente de Inteligência (QI) como parâmetro, indica que há pessoas com nível
de inteligência maior ou menor que outra. Numa outra linha de entendimento, o
psicólogo Howard Gardner (1980) entende que existem 7 tipos de inteligência:
Inteligência linguística. As pessoas que possuem este tipo de
inteligência têm grande facilidade de se expressar tanto oralmente quanto na
forma escrita. Elas além de terem uma grande expressividade, também têm um alto
grau de atenção e uma alta sensibilidade para entender pontos de vista alheios.
É uma inteligência fortemente relacionada ao lado esquerdo do cérebro é uma das
inteligências mais comuns.
Inteligência lógica: Pessoas com esse perfil de
inteligência têm uma alta capacidade de memória e um grande talento para lidar
com matemática e lógica em geral. Elas têm facilidade para encontrar solução de
problemas complexos, tendo a capacidade de dividir estes problemas em problemas
menores e ir resolvendo até chegar à resposta final. São pessoas organizadas e
disciplinadas. É uma inteligência fortemente relacionada ao lado direito do
cérebro.
Inteligência Motora: Talento para os esportes e para a
dança. Pessoas com este tipo de inteligência possuem um grande talento em
expressão corporal e tem uma noção espantosa de espaço, distância e profundidade.
Tem um controle sobre o corpo maior que o normal, sendo capazes de realizar
movimentos complexos, graciosos ou então fortes com enorme precisão e
facilidade. E uma inteligência relacionada ao cerebelo que é a porção do
cérebro que controla os movimentos voluntários do corpo. Presente em
esportistas olímpicos e de alta performance. E um dos tipos de inteligência
diretamente relacionado à coordenação e à capacidade motora.
Inteligência Espacial. Pessoas com este perfil de
inteligência têm uma enorme facilidade para criar, imaginar e desenhar imagens
2D e 3D. Elas têm uma grande capacidade de criação em geral, mas principalmente
tem um enorme talento para a arte gráfica. Pessoas com este perfil de
inteligência têm como principais características a criatividade e a
sensibilidade, sendo capazes de imaginar, criar e enxergar coisas que quem não
tem este tipo de inteligência desenvolvido, em geral, não consegue dominar
esses assuntos.
Inteligência Musical: É um dos tipos raros de
inteligência. Pessoas com este perfil têm uma grande facilidade para escutar
músicas ou sons em geral e identificar diferentes padrões e notas musicais. Eles
conseguem ouvir e processar sons além do que a maioria das pessoas consegue,
sendo capazes também dei criar novas músicas e harmonias inéditas. Pessoas com
este perfil é como se conseguissem “enxergar” através dos sons. Algumas pessoas
têm esta inteligência tão evoluída que são capazes de aprender a tocar
instrumentos musicais sozinhas. Assim como a inteligência espacial, este é um
dos tipos de inteligência fortemente relacionados à criatividade.
Inteligência Interpessoal: É um tipo de inteligência ligada à
capacidade natural de liderança. Pessoas com este perfil de inteligência são
extremamente ativas e em geral causam uma grande admiração nas outras pessoas.
São os líderes práticos, aqueles que chamam a responsabilidade para si. Eles
são calmos, diretos e tem uma enorme capacidade para convencer as pessoas a
fazer tudo o que ele achar conveniente. São capazes também de identificar as
qualidades das pessoas e extrair o melhor delas organizando equipes e
coordenando trabalho em conjunto.
Inteligência Intrapessoal: Liderança indireta para influenciar
as pessoas. É um tipo raro de inteligência, também relacionado à liderança.
Quem desenvolve a inteligência intrapessoal tem uma enorme facilidade em
entender o que as pessoas pensam, sentem e desejam. Ao contrário dos líderes
interpessoais que são ativos, os líderes intrapessoais são mais reservados,
exercendo a liderança de um modo mais indireto, através do carisma e
influenciando as pessoas através de ideias e não de ações. Entre os tipos de
inteligência, este é considerado o mais raro. – Numa análise teológica, podemos
dizer que esse ou aquele tipo de inteligência ou habilidade humana é dom
natural de Deus, manifestado através de talentos, virtudes, capacidades inatas,
ou vocações para determinadas tarefas.
Inteligência Espiritual. O apóstolo Paulo, em sua visão
ampla acerca da vida espiritual, incluiu, em seus ensinos o conceito de
“Inteligência Espiritual” (Cl 1.9). Sem dúvida alguma, é a inteligência
concedida por Deus para os crentes compreenderem, discernirem e praticarem a
vontade de Deus, em todas as áreas e situações de sua vida. A inteligência
espiritual transcende os dons naturais e situa-se na esfera da ação do Espírito
Santo na vida do crente. Certamente, podemos dizer que também é um dom de Deus.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para
introduzir a primeira lição, reproduza o esquema abaixo. Divida a classe em
três grupos e peça que, em grupo, os alunos leiam e relacionem os dons
apresentados em cada uma das listas elaboradas pelo apóstolo Paulo. Peça que os
alunos também digam o total de dons relacionados em cada lista.
1ª Lista – 1 Coríntios
12.8-10. (Um total de nove dons)
2ª Lista – 1 Coríntios
12.28. (Um total de oito dons)
3ª Lista – 1 Coríntios
12.29,30. (Um total de sete dons)
Reúna os alunos
formando um único grupo. Ouça os grupos e conclua enfatizando que todos estes
dons estão disponíveis para a igreja atual. Os dons não cessaram. Que venhamos
a buscá-los com fé para a edificação do Corpo de Cristo.
II. OS DONS DE SERVIÇO, ESPIRITUAIS E
MINISTERIAIS
1. Dons
relacionados ao serviço cristão. Em Romanos
12 o apóstolo Paulo admoesta a igreja, lembrando-a de que o membro do Corpo de
Cristo não pode se achar autossuficiente. Assim como um membro do corpo humano
depende dos outros para exercer a sua função, na igreja necessitamos uns dos
outros para o fortalecimento da nossa vida espiritual e comunhão em Cristo. Por
isso, a categoria de dons apresentada em Romanos 12 traz a ideia da manutenção
dessa comunhão dos santos, pois ao falarmos de serviços, subentende-se que quem
serve está prestando um serviço para alguém. Observe os dons de serviço
listados por Paulo em Romanos: Ministério (oficio diaconal), exortação
(encorajamento), repartir, presidir e exercer misericórdia. Note que esses dons
estão relacionados com uma ação em prol do outro, do próximo. Portanto, se você
tem um dom, deve usá-lo em benefício da Igreja de Cristo na Terra.
2. Conhecendo os dons
espirituais. "Acerca dos dons espirituais, não quero,
irmãos, que sejais ignorantes" (1 Co 12.1). Os dons listados em I
Coríntios 12 são: Palavra da sabedoria; palavra da ciência; fé; curas; operação
de maravilhas; profecia; discernimento de espíritos; variedades de línguas;
interpretação de línguas.
Apesar de as manifestações
sobrenaturais pertencerem ao mundo espiritual, isto é, a uma categoria
particular da experiência religiosa do crente, o apóstolo Paulo desejava que as
igrejas, e em especial a de Corinto, conhecessem algumas considerações
importantes sobre os dons espirituais. Uma característica predominante em
Corinto, segundo o Comentário Bíblico Beacon (CPAD), era a vida pregressa dos
membros envolvidos com idolatria. Muitas manifestações espirituais na igreja
lembravam a experiência mística das religiões de mistérios. Os coríntios
precisavam ser ensinados de forma correta sobre a existência dos dons e de sua
utilização dentro do culto e fora dele. Por isso, à luz da Palavra de Deus,
devemos ensinar a respeito dos dons espirituais para que a igreja seja edificada.
A Bíblia traz os ensinos corretos sobre o uso dos dons, e se há distorções
nessa esfera, estas acontecem por algumas igrejas não ensinarem de forma
correta o que a Bíblia diz, e isso contribui para o surgimento do fanatismo
religioso, da corrupção doutrinária dos movimentos estranhos e de muitas
heresias. Portanto, o ensino correto das Escrituras nos orienta sobre a forma
adequada da utilização dos dons e previne o surgimento de práticas condenáveis
no culto.
3. Acerca dos dons ministeriais. A Epístola de Paulo aos Efésios classifica os dons
ministeriais assim: Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e doutores
(4.11). Os propósitos de o Senhor concedê-los à Igreja, segundo
a Bíblia de Estudo Pentecostal, são, em primeiro lugar,
capacitar o povo de Deus para o serviço cristão; em segundo, promover o
(crescimento da igreja local; terceiro, desenvolver a vida espiritual dos
discípulos de Jesus (4.12-16). O Senhor deu a sua Igreja ministros para
servi-la com zelo e amor (1 Pe 5.2,3). O ensino do Novo Testamento acerca do
exercício ministerial está ligado a concepção evangélica de serviço (Mt
20.20-28; Jo 13.1-11), jamais à perspectiva centralizadora e sacerdotal do
Antigo Testamento.
Os dons espirituais ou carismáticos
são manifestações espirituais ou poderes, concedidos pelo Espírito Santo com o
propósito maior de glorificar a Cristo. O Novo Testamento faz uso da expressão
pneumática (gr. derivada de pneuma, “espírito”), indicando que a expressão
“dons espirituais” refere-se às manifestações sobrenaturais concedidas como
dons da parte do Espírito Santo, e que operam através dos crentes, para o seu
bem comum (w. 1,7; 14.1). A expressão pneumatikon, usada por Paulo (1 Co 12.1),
refere-se a “coisas espirituais”, entendidas como os dons espirituais. Após a
ressurreição de Cristo, Ele se credenciou, diante de Deus, dos anjos e dos
poderes do mal, para dar “dons aos homens” (Ef 4.8). Indo além dos “dons
naturais”, Jesus resolveu capacitar seus servos, integrantes de sua Igreja,
dando-lhes dons (carismas), que são postos à disposição de todos os salvos, no
seio da comunidade cristã. Esses dons não são privilégio ou exclusividade dos
líderes, dos pastores, evangelistas, presbíteros, ou dos ensinadores da igreja.
Eles estão à disposição dos santos, para que, por eles, o Senhor realize seus
propósitos especiais. Ele os reparte “particularmente a cada um como ele quer”
(1 Co 12.11).
A Igreja de Jesus é
“...a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para”
anunciar “as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz” (1 Pe 2.9). Esse povo é “o seu Corpo”, do qual Ele é a cabeça (Cl 1.18). A
Igreja é a “...universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão
inscritos nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos
aperfeiçoados” (Hb 12.23). E não pode ser confundida com “igrejas e igrejas”,
que existem, cuja origem não é divina, mas humana e criadas com propósitos
humanos. Os dons espirituais contribuem para estabelecer e demonstrar a
diferença entre “igrejas” e a Igreja de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
O CONHECIMENTO DOS DONS ESPIRITUAIS - Os salvos em Cristo Jesus não
podem ser ignorantes acerca dos dons espirituais (1 Co 12.1-3). É interessante,
ainda que no aspecto negativo, como há falta de ensino, em muitas igrejas,
acerca do batismo com o Espírito Santo e mais ainda sobre os dons espirituais.
Essa omissão contribui para a ignorância acerca dos dons, e dá lugar a
comportamentos estranhos, de origem carnal e emocional, como expressões falsas
de espiritualidade. É o caso do “cair no espírito”, quando certos pastores ou
pregadores, sem base bíblica, dão palavras de ordem a pessoas incautas e
carentes de ensino, e elas caem desmaiadas. E isso é visto como “elevado sinal
de espiritualidade”. Quanto mais pessoas o pregador “derrubar”, é visto como
muito espiritual. Se não derrubar crentes não é espiritual!
A NECESSIDADE DOS DONS ESPIRITUAIS - A Igreja, como “Corpo de Cristo”,
precisa de poder, de unção e de manifestações espirituais, que se expressam
genuinamente através dos dons espirituais. Esses dons são indispensáveis à
unidade e à ação da Igreja, por diversas razões.
1) Na espera pela vinda de Jesus. Em toda a sua história, desde sua
fundação por Jesus Cristo, a Igreja tem sido a instituição mais atacada pelas
forças do mal. Ela nasceu debaixo da perseguição. Impérios humanos tentaram
destruí-la, apagando seu nome da face da terra. Filosofias humanistas e
materialistas tentaram sufocá-la, abafando sua mensagem; sistemas políticos
totalitários e ateístas, a serviço do Diabo, tentaram eliminar sua influência
no mundo. Os ataques contra a integridade espiritual da Igreja continuam, ao
longo dos séculos. Como Noiva do Cordeiro, Ela precisa de poder para vencer às
mais diferentes investidas malignas, na longa espera pelo Noivo. Ainda que, no
século XXI, haja, no meio das igrejas locais, recursos que os primeiros
cristãos não possuíam, em termos teológicos, educacionais ou tecnológicos, o
único recurso que lhe dá condições de suplantar o império do mal é o Poder do
Espírito Santo. E este poder se manifesta na operação sobrenatural dos dons
espirituais.
2) Os dons espirituais fazem a
diferença. Na parábola das Dez
Virgens (Mt 25.1-13), Jesus demonstrou a seus discípulos que a chegada do Noivo
poderia demorar. As cinco virgens loucas representam a parte da Igreja que não
estará preparada para esperar a Volta de Jesus. As virgens prudentes
representam os crentes salvos, que, além de terem o “azeite” nas lâmpadas, ou
em suas vidas e testemunho, têm “azeite” nas vasilhas de reserva. O “azeite”
representa a presença e o poder do Espírito Santo na vida dos crentes que vão
subir ao encontro do Senhor Jesus Cristo (cf. 1 Ts 4.16,17). Os dons
espirituais é que fazem a diferença, atuando no meio da igreja, nesses “tempos
trabalhosos” (2 Tm 3.1), em que a pecaminosidade e a rebeldia contra Deus estão
aumentando. Há milhares e milhares de “igrejas”, mas só vão subir ao encontro
do Noivo os crentes salvos, santos e irrepreensíveis para a vinda de Jesus (1
Ts 5.23).
3) Os dons podem ser abundantes. A igreja de Corinto é um exemplo
eloquente de que uma igreja cristã pode experimentar a ocorrência de uma
variedade enorme de dons espirituais. Na introdução à sua primeira Carta aos
Coríntios, Paulo tece considerações elogiosas àqueles crentes, acentuando que
nenhum dom (espiritual) lhes faltava, “esperando a manifestação de nosso Senhor
Jesus Cristo” (1 Co 1.7), que os haveria de confirmar até o fim para serem”
irrepreensíveis no Dia de Nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 1.8).
4) Os dons são indispensáveis à
evangelização. A missão da Igreja,
levada a efeito através das igrejas locais, é de proclamar o evangelho. Nos
tempos pós-modernos, a incredulidade, a frieza e a indiferença pelo evangelho
de Cristo é tão grande e tão latente, que, sem a manifestação espiritual de
forma evidente, as pessoas não vão saber discernir entre os falsos evangelhos e
o verdadeiro evangelho de Jesus. Sempre houve essa necessidade. Nos primórdios
da evangelização, através de Jesus Cristo, as pessoas criam nEle, a ponto de
multidões segui-lo, hão só pela sua mensagem que tinha autoridade, e fazia
diferença (Jo 7.46), mas, principalmente, por causa dos sinais e prodígios que
Ele fazia.
DONS MINISTERIAIS (Ef 4.11) – Ministérios são serviços
ou funções exercidos na igreja local, como parte do Corpo de Cristo, que é a
sua Igreja. No âmbito cristão, ministérios são serviços que devem ser exercidos
por pessoas que tenham a mentalidade de servas de Cristo. Quem não pode ser
servo não pode ser ministro na Igreja de Cristo. Ele disse que não veio para
ser servido, mas para ser servo (Mt 20.28). 1
O LADO ESPIRITUAL DA IGREJA – A Igreja de Jesus Cristo é espiritual e
humana. No lado espiritual, precisa de poder espiritual, de sabedoria
espiritual, de capacitação espiritual. Daí, a necessidade dos dons espirituais,
como foi visto no item anterior. O lado espiritual reflete a natureza da Igreja
como organismo, ou o Corpo de Cristo, Paulo discerniu bem o aspecto espiritual
da Igreja, como organismo espiritual ao dizer: “Antes, seguindo a verdade em
caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o
corpo, bem ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa
operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor”
(Ef 4.15,16).
O LADO HUMANO DA IGREJA – No lado humano, a Igreja precisa de
liderança. E esta não pode ser exercida apenas pela capacidade humana,
intelectual, teológica, por mais que tais capacitações sejam importantes. A
liderança eclesiástica deve ser espiritual, ministerial e administrativa. Os
ministérios ou serviços (gr. diakonion), indispensáveis ao ordenamento e o
funcionamento da igreja dependem da graça de Deus. Os dons ministeriais
fortalecem a unidade da Igreja, atuando de modo equilibrado ao lado dos
espirituais. Os líderes cristãos podem ter formação secular ou teológica, mas não
podem prescindir da legitimação através dos dons que os capacitam para liderar
o Corpo de Cristo na Terra. Antes de tudo, precisam ter convicção da chamada de
Deus para serem servos-líderes. Jesus, o Dono e Senhor da Igreja, só dá dons a
homens que têm esse perfil de homens-servos. Os dons espirituais estão à
disposição de todos os crentes, de todos os salvos. Mas os dons ministeriais
são específicos para homens que têm a chamada de Deus para o ministério de
servir à Igreja.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Os dons são
dados, de fato, com a intenção divina de que todos recebam proveito deles (1 Co
12.7). Isso não significa que todos têm um dom específico, mas há dons
(manifestações, revelações, meios pelos quais o Espírito se torna conhecido)
que são dados (continuamente) para o que for útil (proveitoso, para
crescimento). 'Útil' significa algo que ajuda, especialmente na edificação da
Igreja, tanto espiritualmente como em número de membros. (O Livro de Atos tem
um tema de crescimento numérico e geográfico. Deus quer que o Evangelho seja
divulgado em todo o mundo). Pode ser ilustrado pelo mandamento do Senhor:
'Negociai até que eu venha' (Lc 19.13). Ao partirmos para o ministério dos seus
dons, Ele nos ajuda a crescer na eficiência e na eficácia, assim como fizeram
os que usaram devidamente o que o Senhor lhes deu, na Parábola das Dez Minas
(Lc 19.15-19)" (HORTON, Stanley M. A
Doutrina do Espirito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012, pp. 229,30).
III. CORINTO: UMA IGREJA PROBLEMÁTICA NA
ADMINISTRAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS (1 Co 12.1-11)
1. Os dons são
importantes. Um argumento
utilizado pelos cessacionistas (pessoas que defendem a errônea ideia de que os
dons espirituais cessaram no primeiro século), é que os crentes pentecostais
tendem a se achar superiores uns aos outros por terem algum dom.
Lamentavelmente, isto é verdade em muitos lugares. Entretanto, o apóstolo Paulo
faz questão de tratar desse assunto com os crentes de Corinto que estavam
supervalorizando alguns dons em detrimento de outros. Precisamos resgatar a
noção de serviço que Jesus Cristo ensinou nos Evangelhos, pois todos os dons
vêm diretamente de Deus para melhor servirmos à igreja de Cristo.
2. Diversidade dos
dons. O que mais nos chama a
atenção na lista de dons apresentada por Paulo em 1 Coríntios 12 não são os
nove dons, mas a diversidade deles. Isto denota a unidade da Igreja de Cristo,
mas simultaneamente a sua multiplicidade. O Comentário Bíblico PentecostaI Novo
Testamento tem razão quando fala que "talvez Paulo tenha selecionado estes
noves dons por serem adequados à situação que havia em Corinto", pois se
compararmos a lista de 1 Coríntios com Romanos e também Efésios, veremos que
outros dons são relacionados de acordo com as necessidades de cada igreja
local.
3.
Autossuficiência e humildade. Os dons
espirituais são concedidos aos crentes pela graça de Deus, e não por méritos
pessoais (Rm 12.6; 1 Pe 4.10). Não podemos orgulhar-nos e portar-nos de modo
arrogante e autoritário no exercício dos dons, mas com humildade e temor a
Deus. Portanto, não use o dom que Deus lhe deu com orgulho, visando à exaltação
pessoal. Isto é pecado contra o Senhor e contra a Igreja! Use-o com um coração
sincero e transbordante de amor pelo próximo (1 Co 13). Não foi por acaso que o
capitulo 13 (Amor) de 1 Coríntios foi colocada entre o 12 (dons) e o do 14
(língua e profecia)
Os dons espirituais
devem ser utilizados na igreja, respeitados os requisitos e condições
estabelecidos na palavra de Deus. Fora disso, há o risco de haver manifestações
espúrias ou falsas em relação ao verdadeiro caráter dos dons.
OS DONS DEVEM SER
EXERCIDOS COM AMOR – A divisão da Bíblia
em capítulos só ocorreu em 1227 e, em versículos, em 1551. Quando se lê o
capítulo 12 de 1 Coríntios, sobre os dons espirituais e se passa para o
capítulo seguinte, sobre o amor cristão, tem-se a impressão de que são temas
distintos. Na verdade, originalmente, antes da divisão da Bíblia em capítulos,
o texto dos capítulos 12 a 14 trata do mesmo tema dos dons.
Paulo termina o
capítulo 12, com sua belíssima dissertação sobre os dons espirituais, com uma
exortação por demais relevante, dizendo: “Portanto, procurai com zelo os
melhores dons; e eu vos mostrarei um caminho ainda mais excelente” (1 Co 12.31
— grifo nosso). Que “caminho ainda mais excelente” é esse? A resposta vem de
imediato, na ligação entre o último versículo do capítulo 12 e o primeiro
versículo do capítulo 13, quando o apóstolo dá sequência ao seu precioso ensino
sobre os dons espirituais. E afirma de modo peremptório: “Ainda que eu falasse
as línguas dos homens e dos anjos e não tivesse caridade, seria como o metal
que soa ou como o sino que tine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e
conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé,
de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria”
(1 Co 13.1,2).
Fica bem claro que, se
os crentes tiverem dons espirituais em abundância, mas não tiverem amor, o
exercício desses carismas de nada adianta diante de Deus. Nesses dois
versículos Paulo mostra a síntese da inutilidade dos dons, quando usados sem
amor.
OS DONS DEVEM SER
USADOS DE ACORDO COM A PALAVRA – A Palavra de Deus deve ser a referência número um para qualquer atividade
ou manifestação na igreja? “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para
o meu caminho” (SI 119.105). E o Espírito Santo quem inspira a Palavra de Deus
e a seus escritores. Logo, não há nenhuma justificativa para que um dom seja
exercido em desacordo com os preceitos da Palavra de Deus.
OS DONS NÃO DÃO ORIGEM
A DOUTRINAS – A fonte primordial e
única de qualquer doutrina, na igreja cristã, é a Palavra de Deus. É altamente
danoso para a integridade espiritual de qualquer igreja, quando um líder, ou um
outro membro da igreja, apresenta como doutrina aquilo que não tem fundamento
na Bíblia. Determinado obreiro ensinou que os crentes que possuem internet
estão em pecado. Para se dizer que algo é pecado é necessário fundamentar na
Palavra de Deus. Na realidade, tal ensino é fruto de opinião pessoal do líder.
Do contrário, é imposição autoritária, que só traz prejuízo à obra do Senhor.
Ensinar que quem usa a internet de maneira ilícita, para visualizar coisas que
não agradam a Deus, está pecando, é correto, mas afirmar que possuir internet é
pecado é abuso de autoridade ministerial. Não há necessidade de outra fonte de
doutrina além da Palavra de Deus (G1 1.8,9).
QUEM TEM UM DOM DEVE
SER MAIS HUMILDE – Os dons espirituais
são parte das riquezas sobrenaturais, concedidas pelo Espírito Santo aos servos
do Senhor, com o objetivo de servir à igreja. Jamais o portador de um dom deve
orgulhar-se e portar-se de modo arrogante ou autoritário. Deve agir, sabendo
que “Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do
poder seja de Deus e não de nós” (2 Co 4.7). Nunca devemos esquecer de que o
Espírito Santo glorifica a Cristo e não ao homem (Jo 16.14). Se o que tem o dom
não tiver essa consciência de humildade, poderá perder a graça para usá-lo.
Deus não admite que o seu louvor seja transferido para ninguém.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"[Dons
espirituais]
Os dons espirituais,
que são pela graça, mediante a fé, encontra-se na palavra grega mais usada para
descrevê-los: charismata, 'dons livre e graciosamente concedidos',
palavra esta que se deriva de charis, graça, o imerecido favor divino.
Os carismas são dons que merecemos sem os merecermos. Dão testemunho da bondade
de Deus, e não da virtude de quem os receberam.
Uma das falácias que
frequentemente engana as pessoas é a ideia de como Deus abençoa ou usa alguém;
isso significa que Ele aprova tudo o que a pessoa faz ou ensina. Mesmo quando
parece haver uma 'unção', não há garantia disso. Quando Apolo chegou a Éfeso
pela primeira vez, não somente era eloquente em sua pregação; era também
'fervoroso de espírito'. Tinha o fogo. Mas Priscila e Áquila perceberam que
faltava algo. Logo, o levaram (provavelmente, para casa, a fim de participar de
uma refeição), e lhe explicaram com mais exatidão o caminho de Deus (At
18.25,26).
Era, pois o caminho de
Deus a respeito dos dons espirituais, que Paulo, como um pai, desejava explicar
com mais exatidão aos coríntios. A esses dons ele dá o nome de 'espirituais' em
1 Coríntios 12.1 (a palavra dom não se encontra no grego). A palavra, por si
mesma, inclui algo dirigido pelo Espírito Santo [...] " (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espirito Santo
no Antigo e Novo Testamento. 12. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 225).
CONCLUSÃO
O estudo dos dons
de Deus aos homens é amplo e nos apresenta recursos pelos quais podemos servir
ao Senhor e a sua Igreja. Esses dons são para os nossos dias, pois não há na
Bíblia nenhum versículo que diga que os dons espirituais deixaram de existir
com a morte do último apóstolo. Portanto, busquemos os dons do Espírito Santo,
pois estão à nossa disposição. Eles são um exemplo da multiforme graça de Deus
em dispensar instrumentos espirituais para a Igreja na história. – A Igreja de Cristo Jesus, nestes
tempos que antecedem à sua Vinda, precisa mais do que nunca do exercício e da
experiência concreta dos dons espirituais e ministeriais. Espiritualidade sem
organização ministerial pode levar a práticas fanáticas de falsos exemplos de
espiritualidade. O exercício dos ministérios, sem a demonstração do poder de
Deus, atuando pelos dons espirituais, seguramente leva à frieza institucional,
transformando igrejas em meras instituições religiosas.
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 2º
Trimestre 2021 - Lição 1. Rio de Janeiro: CPAD, 04, abr. 2021.
LIMA, Elinaldo
Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
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