SUBSÍDIO I
INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA
Esta parábola é registrada uma
única vez, em Lucas 14.7-14, com a finalidade de ensinar o valor da humildade
como marca de um verdadeiro seguidor de Cristo. Jesus havia observado que
muitos buscavam ocupar os primeiros assentos nas celebrações festivas, e, que
esta busca, demonstrava alguns problemas que deveriam ser confrontados. Nesta
parábola há a informação que um fariseu, possivelmente muito rico e detentor de
muitos bens (Lc 14.12), convidou Jesus para um banquete em sua casa. Embora
este convite ter sido feito aparentemente de forma amistosa, a intenção deste
fariseu era observar Cristo “mais de perto” para encontrar nEle algo que
pudesse condená-lo (Lc 14.1).
Lockyer destaca que as pessoas
que tinham a intenção de “pegar” Cristo em uma armadilha estavam “cegas pelo
preconceito e esqueceram que o convidado a partilhar de sua hospitalidade, era
o Senhor Onisciente e, como tal, estava em grande vantagem sobre eles. Eles não
podiam ler os seus pensamentos, mas ele podia ler os deles e, nas parábolas desse
capítulo, ele revelou os pensamentos que lhes iam na mente, e o significado
sinistro dos seus atos. Naquela tarde memorável de sábado, ele dominou aquelas
pessoas, e elas não o manipularam”.1
Era comum neste contexto haver
uma distribuição especial de lugares para os convidados, que normalmente, se
assentavam ao redor de uma mesa quadrangular, onde na posição central se
posicionava o personagem mais importante da situação, e, bem próximo a ele, à
esquerda e à direita, posicionavam-se os convidados mais importantes. Era comum
também para um convidado sentir a necessidade de ser honrado pelo anfitrião, e
este comportamento por si só não era errôneo, porém, a necessidade de buscar
tal honra, somada ao desejo de torná-la essencial na ordem de prioridades pessoais,
demonstrava ausência de humildade e desejo por reconhecimento humano.
A lição desta parábola é clara e
objetiva ao exaltar o valor da humildade como marca indelével dos seguidores de
Cristo, conforme Lucas 7.11: “Porquanto, qualquer que a si mesmo se exaltar
será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Neste
contexto, composto por fariseus, doutores da lei e religiosos de forma geral, a
passagem de Provérbios 25.6-7 era bem conhecida: “Não te glories na presença do
rei, nem te ponhas no lugar dos grandes; porque melhor é que te digam: Sobe
para aqui, do que seres humilhado diante do príncipe a quem já os teus olhos
viram”. Jesus por intermédio desta parábola tinha a intenção de ensinar o
caminho correto do reconhecimento ao demonstrar que o convidado deveria ocupar
os últimos lugares, e então, a partir dessa situação, recebesse o convite para
ocupar outras posições de privilégio. Caso essa realidade não fosse aplicada, o
convidado que tomou a atitude de ocupar o lugar de destaque sem ser convidado,
poderia ser repreendido pelo anfitrião e deveria deixar o lugar que ocupava,
gerando assim um grande constrangimento para si.
A lição repousa na ideia de que
ocupar uma posição inferior possibilitava experimentar algo extraordinário, ou seja,
ao portar-se de maneira humilde o convidado poderia trilhar um caminho de “ascensão”
natural, uma vez que, se convidado fosse, avançaria em relação a posição que
ocupava. Ao contrário, se ocupasse uma posição superior, sem ter sido convidado
para isso, experimentaria o caminho do “declínio”, sendo convidado para se
retirar de tal posição para ocupar um lugar inferior. Conegero destaca que “é
melhor ser humilde em uma posição inferior do que um usurpador em uma posição
superior”.
Jesus estava demonstrando que
seria prudente a qualquer convidado ocupar sempre o lugar de menor destaque à
mesa, e que esse comportamento deveria ser sincero, transferindo para o anfitrião
a prerrogativa do julgamento de importância e reconhecimento. Não se trata de
um ensinamento dirigido ao cumprimento de regaras, mas sim, uma lição de
humildade ensinada por Jesus.
Champlin destaca na reflexão de
Lucas 14.10 que “era prudente ou sábio, por motivos de autorrespeito, escolher
uma posição inferior, a fim de que, qualquer modificação na posição dos
convidados, não deixasse de melhorar a posição do último colocado”.3
Este autor também destaca que na perspectiva espiritual, “não é apenas
prudente, e, sim, necessário, desenvolver uma atitude humilde no tocante à
própria posição social e no tocante à vida em geral”.4 Jesus
ensina aqui que a atitude humilde “deveria ser a verdadeira expressão da
personalidade e não tão somente uma ação sábia para impedir a possibilidade de
ser envergonhado”.5 Jesus era um convidado digno de honra naquele
banquete, porém, tomou o lugar mais humilde do ambiente para compartilhar uma
extraordinária lição de humildade e honra.
A Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal resume
os ensinamentos de Jesus nesta parábola em duas partes: (a) Primeiro –
dirigiu-se aos convidados dizendo-lhes que não buscassem lugares de honra, pois
no Reino de Deus o serviço é mais importante do que a posição. (b) Segundo –
disse ao anfitrião que não fosse excessivamente seletivo quanto aos convidados,
numa referência direta à importância da prestação do serviço à todos, ou seja,
o ensinou que Deus abre as portas do seu Reino a todos.
Texto extraído da
obra: As Parábolas
de Jesus: As
verdades e princípios divinos para uma vida abundante. 1. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Chegamos ao final deste
trimestre, estudamos várias parábolas de Jesus, identificando o foco de cada
uma delas. Nessa última lição, destacaremos a importância da humildade, e do
amor desinteressado. Inicialmente, meditaremos a respeito da parábola dos convidados,
em seguida, enfatizaremos duas das principais virtudes da fé cristã: a
humildade e o amor desinteressado. Ao final da lição, reforçaremos que o agape
– amor sacrificial – é a marca identitária do verdadeiro cristão.
I. VÁRIOS
CONVIDADOS, POUCOS LUGARES
Jesus contou uma parábola a respeito dos primeiros
assentos, e dos lugares de honra dos convidados, durante uma refeição na casa
de um fariseu. Conforme destacamos ao longo desses estudos, a maioria das
parábolas de Jesus tinha como objetivo principal criticar os religiosos do seu
tempo, por desmereceram os gentios e se pautarem na justiça própria. Naquela
ocasião, Jesus curou um enfermo (Lc. 14.1-4), e se identificou com sua
necessidade, provocando a ira dos religiosos. Os fariseus disputavam espaço nos
lugares, considerando que naquele tempo, bem como acontece nos tempos atuais,
os espaços determinam valores simbólicos. Através dessa parábola, Jesus ensina
que a função que exercemos, para a glória do Reino de Deus, é mais importante
do que as pessoas estabelecem, com base em suas hierarquias religiosas (v. 12).
Há um livro intitulado O Monge e o Executivo, que orienta na direção de um
reposicionamento das funções institucionais. A base da pirâmide é invertida, de
modo que aqueles que estão em cima deve estar conscientes que têm maior
responsabilidade. Não podemos esquecer que a palavra ministro – diáconos em
grego – tem justamente a ideia de servo. Jesus deu o maior exemplo de humildade
ao lavar os pés dos seus discípulos, justamente em um momento em que eles
disputavam a respeito de quem seria o maior no reino de Deus (Jo. 13.1-11). Os
cristãos devem viver a partir desse mesmo princípio, buscando colocar sempre os
outros em posição de proeminência, tendo o mesmo sentimento de servo que houve
em Cristo (Fp. 2.5).
II. HUMILDADE,
A LÓGICA DO REINO DE DEUS
O triunfalismo está destruindo o modelo bíblico
para a igreja cristã, não poucos líderes estão obcecados pelo poder temporal.
Ninguém quer mais servir, alguns pastores acham-se quase deuses, esqueceram que
são, antes de tudo, diáconos (servos), tanto de Cristo quanto da igreja. Esse
endeusamento acaba por provocar um desejo contido, uma neurose eclesiástica
coletiva, implicando em doença no contexto da igreja. Os membros não querem ser
diáconos, presbíteros nem pensar, evangelistas, talvez, mas a preferência
nacional mesmo é a de ser pastor. Isso sem falar naqueles que são apóstolos,
bispos, e se brincar, semideuses, em uma luta desenfreada para ser o maior.
Paradoxalmente Jesus ensinou justamente o contrário, que quem quiser ser o
maior deve ser o menor. A atuação dos membros na igreja deve estar alicerçada
no princípio da funcionalidade, isso porque somos partes de um mesmo corpo, com
múltiplas funções, dependendo das necessidades (I Co. 12.12). O sistema
eclesiástico torna-se doentio quando a hierarquia resulta em um fim em si
mesmo. Os espaços são limitados, e as pessoas disputam as posições de poder. O
resultado é pura carnalidade, conflitos infindos que se arrastam, na medida em
que um derruba o outro, mirando assumir sua posição. Esse sistema alimenta
muita inveja, faz com que as pessoas não estejam dispostas a servir, mas a
bajular. Elas se aproximam das pessoas não porque as amam, ou porque lhes
desejam bem, mas por interesse, a fim de tirar algum proveito. Diante desse
quadro, precisamos recuperar o modelo bíblico da liderança servidora. Os
pastores das igrejas locais precisam dar o exemplo, cultivar uma cultura
bíblica do serviço, motivar os crentes a se colocarem a disposição uns dos
outros, com genuíno amor cristão. As posições de liderança são bíblicas, e os
pastores devem ser respeitados como tais, aqueles que se dedicam à Palavra,
dignos de redobrada recompensa (I Tm. 5.17), mas devem ter cuidado para não se
transformarem em celebridades evangélicas, favorecendo o culto às
celebridades.
III. ÁGAPE,
UM AMOR DESINTERESSADO
No grego do Novo Testamento, a palavra amor é
“ágape”, cujo significado primário vem do amor puro e verdadeiro de Deus em
relação ao Seu Filho (Jo.17.26), ao seu povo (Gl. 6.10) e à humanidade perdida
que se rebelou contra Deus (Jo. 3.16; Rm. 5.8). O verbo “agapao” tem em Deus
sua demonstração máxima, na verdade, o próprio Deus é amor (I Jo. 4.9-10). Por
isso, esse Deus age com amor em relação ao homem perdido (Jo. 3.16; I Jo.
3.1,16). Em resposta ao amor de Deus, o homem deve também amá-lo, bem como ao
próximo (Mc. 12.30-33; Mt. 19.19; 22.39; Mc. 12.31; Rm. 13.8; I Jo. 3.11,23),
especialmente aos domésticos na fé (Gl. 5.6; I Jo. 2.10). Com base em I Co. 13,
compreendemos que a prática dos dons espirituais na igreja não compensa a falta
de amor. O amor cristão, que é uma das virtudes do Espírito (Gl. 5.22), tem
algumas características que não podem ser desprezadas: 1) é paciente e benigno
– tem uma capacidade infinita para suportar as adversidades; 2) não se aborrece
com o sucesso dos outros, não se ufana como um balão cheio de vento, mas sem
conteúdo; não é egoísta, não busca apenas seus interesses; 3) não se ressente
do mal – está sempre disposta a pensar o melhor das outras pessoas e não lhes
imputa o mal; 4) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta – significa
que você abre mão de um direito que tem a favor do seu irmão, pois o amor
perdoa e esquece a ofensa do outro.
CONCLUSÃO
O amor é a caminho para a maturidade, é o
cumprimento da lei, é o maior de todos os mandamentos, é a apologética
contundente. Uma igreja sem amor está adoecida e precisa urgentemente de ser
curada por Aquele que é Amor e que levou esse amor ao extremo sacrificando-se
pelos pecadores. Ele nos amou de uma maneira tal que enviou Seu Filho em
sacrifício pelos pecados (Jo. 3.16), em resposta a esse amor, devemos também
amar os irmãos e nos sacrificar-nos por eles (I Jo. 3.16).
José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog
subsidioebd.blogspot.com
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
Jesus contou a parábola dos primeiros assentos,
ou lugares de honra, e dos convidados, ao participar de uma refeição na casa de
um fariseu. Ele instruiu a todos acerca da humildade e do perfil das pessoas
que devem ser convidadas para ocasiões especiais. O verdadeiro objetivo do
fariseu, e de seus companheiros, era encontrar algo em Cristo que pudesse
condená-lo. Na ocasião, Jesus observou o perfil dos convidados e notou que eles
buscavam escolher os primeiros lugares. Foi a partir dessa observação, e também
do perfil dos convidados, que o Mestre contou essa curta, mas instrutiva,
parábola.
Lucas é o único dos quatro evangelistas que
registrou essa parábola. O capítulo 14 começa com o convite de um fariseu para
Jesus participar de uma refeição em sua casa. Na sequência, vemos três coisas
que caracterizam alguém que se aproxima de Jesus na condição que Deus espera do
pecador: cura, exaltação e recompensa. Estas três coisas estão representadas na
cura de um homem hidrópico, na exaltação do que se coloca em último lugar e na
recompensa dos que sabem que “há maior felicidade em dar do que em receber” (At
20.35). Apesar de ser uma parábola curta e bastante simples, ela possui um
significado muito importante para todos nós: a humildade precede a honra (Mt
23.12; Lc 14.7-11; Tg 4.6,10; 1Pd 5.5,6; Pv 3.34; o exemplo de Cristo - Fp
2.5-11). Jesus observou que muitos buscavam os primeiros assentos na festa.
Provavelmente, tinham algumas preocupações que revelavam áreas da vida a serem
trabalhadas. Os primeiros lugares eram especiais, destinados às pessoas a quem
o anfitrião queria honrar.
I. INTERPRETAÇÃO
DA PARÁBOLA DOS PRIMEIROS LUGARES E DOS CONVIDADOS
1. O dia, a
ocasião e o local. O dia, a ocasião
e o local onde essa parábola foi contada são três pontos importantes para se
entender sua importância. No início do capítulo somos informados que, num
sábado, Jesus fora comer na casa de um dos chefes dos fariseus e deparou-se com
um homem hidrópico (Lc 14.1,2). Após provocar os fariseus que ali estavam,
Jesus curou o enfermo e ele se foi (Lc 14.3,4). O Mestre então revelou que os
religiosos que se encontravam ali faziam determinados trabalhos que eles
julgavam importantes em dia de sábado (Lc 14.5), e que curar o homem, sem
importância para eles, certamente era lícito, por isso, “nada lhe podiam
replicar sobre isso” (Lc 14.6). Uma vez que se tratava de uma refeição, era
comum, em ocasiões como essa, haver uma distribuição especial de lugares para
os convidados que, normalmente, se assentavam ao redor de uma mesa
quadrangular, cuja posição central era ocupada pelo anfitrião, e, bem próximo a
ele, isto é, à esquerda e à direita, posicionavam-se os convidados mais
distintos. Era costume um convidado ser honrado pelo dono da festa. Desejar
esta homenagem não era algo errôneo, porém, na ansiedade de buscar tal honraria,
muitos se excediam, demonstrando ausência de humildade e desejo por
reconhecimento humano.
O texto diz que o estavam observando. Os fariseus
estavam profundamente incomodados com a pessoa de Jesus. A pergunta para a qual
todos queriam descobrir a resposta era: Quem é este Jesus? Assim que Jesus
entra na casa do fariseu duas coisas ficam evidentes: Ali está um homem
hidrópico [a hidropisia é causada por distúrbios na circulação do
sangue pode ter uma distribuição generalizada, ocorrendo em quase todas as
partes do corpo, ou pode ser local, isto é, apresentar-se em uma parte apenas
do corpo. À hidropisia geral dá-se o nome de anasarca. A hidropisia é mais
comum no abdome, no peito, no encéfalo, nos rins, nas pernas e em torno dos
olhos. Pode ser reconhecida pela formação de pequenas depressões que persistem
quando se faz pressão sobre a parte afetada.(WIKIPÉDIA)], uma figura perfeita
do pecador inchado de pecados e incapaz de curar-se a si mesmo. Conhecendo as
intenções e pensamentos dos fariseus e doutores da lei que estão ali, Jesus
lança uma pergunta desafiadora: “É permitido ou não curar no sábado?”
(Lc 14.3). Todos ficam em silêncio, ainda que acreditassem que curar no sábado
fosse uma transgressão da Lei [no capítulo anterior o dirigente da
sinagoga havia declarado isto]. O silêncio deles é o sinal inequívoco de
que aqueles homens que sabiam a Lei de cor e salteado não podiam apontar uma
passagem sequer em que a guarda da lei anule a misericórdia e graça de Deus. –
Jesus ordena a cura do hidrópico e de quebra, revela a hipocrisia daqueles
homens (Mt 23.3-5).
2. A parábola. É com este contexto em mente que devemos estudar a
parábola dos primeiros assentos e dos convidados. Havia dois objetivos por
parte do Senhor. Primeiro, Ele procurava ensinar aos convidados e, ao mesmo
tempo, os seus discípulos e a todos os que o aceitam, acerca de não se buscar
lugares de honra, pois no Reino de Deus servir é mais importante do que ocupar
uma posição. Segundo, ao curar o hidrópico, Jesus instruía ao anfitrião, e a
todos nós, que não devemos ser seletivos quanto aos convidados para uma ocasião
especial, pois assim como Deus aceita a todos, devemos ser prestativos e servir
a todos, pois se atendermos pessoas abastadas, elas vão querer nos retribuir, e
isso será a nossa recompensa (v.12).
Como já dito acima, aquele convite aparentemente
amável, tinha o objetivo de apanhar Jesus; eles estavam observando Jesus
atentamente, para que pudessem descobrir algum motivo para apresentar uma
acusação contra ele (Lc 14.1). Há alguns estudiosos que defendem a hipótese de
que aquele homem hidrópico foi posto diante de Jesus de propósito, ou seja, os
próprios religiosos o colocaram ali como um tipo de armadilha na qual esperavam
que Jesus caísse. Talvez tenha sido assim, mas não é algo que podemos afirmar
com certeza, já que não era incomum que alguém entrasse em uma celebração sem
ser convidado (Lc 7.37,38). Logo após a cura daquele homem, Jesus observa a
forma com que os convidados daquela ceia estavam escolhendo os lugares em volta
da mesa, e diante disso contou a Parábola dos Primeiros Lugares. Naquela época,
o costume oriental não era sentar à mesa, tal qual fazemos hoje. Era usado na
sala onde se celebrava a ceia, uma mesa baixa cercada de divãs – uma espécie de
sofá - que tinham a capacidade de acomodar três pessoas. Esses divãs eram
colocados em forma de um “U” ao redor da mesa que era retangular. Na posição
central da mesa, isto é, na cabeceira, ficava a pessoa de maior importância. Ao
seu lado esquerdo, ficava a segunda pessoa em importância, e no lado direito a
terceira pessoa em importância. Assim, o divã à esquerda da cabeceira da mesa
era o segundo em honra, e, depois, vinha o divã da direita, e assim
sucessivamente durante toda a extensão da mesa. Essa era uma regra de
hierarquia social que orientava os judeus naquela época. Entretanto, na ceia em
que Jesus estava essa regra parecia estar sendo ignorada, e os convidados
estavam demonstrando todo egoísmo, orgulho e preconceito na escolha dos
lugares.
3. Os grandes
ensinamentos da parábola. Os ensinamentos
de Jesus para os convidados não são uma série de bons conselhos sobre etiqueta
social, mas lições com significado prático-espiritual. Por isso, esta última
lição visa conscientizar-nos de nossa postura enquanto discípulos de Cristo,
destacando a importância de, na prática, demonstrarmos o quanto vivemos sob uma
forma diferente da do mundo (Rm 12.2; Mt 20.17-28).
As lições desta parábola não se restringem a regras
de etiqueta, mas seu significado é bastante claro no versículo 11: “Porque
todo aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado”.
Esse ensino expressa uma verdade bíblica que pode ser conferida por toda a
Escritura. Temos vários personagens bíblicos que provaram na prática esse
ensino, como por exemplo, Jezabel, Nabucodonosor e Herodes Agripa I, exaltados
que foram humilhados (1Rs 21.7,23; 2Rs 9.30-37; Dn 4.30-33; At 12.20-23);
enquanto José, Ana, e o próprio publicano da parábola, são exemplos de
humilhados que foram exaltados (Gn 41.41; 1Sm 1.12-20; Lc 18.9-14). A lição
extrapola o mundo atual e vai à eternidade, a história do Rico e Lázaro prova
que tanto a exaltação quanto a humilhação final e plena se dará na vida porvir
(Lc 16.19-31), um ensino que também foi compreendido pelo levita Asafe (Sl 73).
SUBSÍDIO EXEGÉTICO
“A parábola é, na verdade, uma repreensão de muitos
à mesa de jantar. Na maioria das culturas, há lugares de muita e de poucas
honras numa refeição (Bratcher, 1982, p.244). Pessoas de posição social mais
alta têm lugares mais próximos do anfitrião. Para ensiná-los a ordem das coisas
de Deus, Jesus começa exortando-os a que, se são convidados a um casamento,
tomem os lugares mais baixos. Uma pessoa de mais destaque que eles pode ter
sido convidada. Se um convidado chegar antes dessa pessoa e tomar o assento
mais próximo do anfitrião, ele corre o risco de ser humilhado. O anfitrião
pedirá àquele que está num lugar de honra a sair. O convidado presunçoso talvez
descubra que a maioria dos lugares está ocupado, o que o forçará a ocupar um
lugar menos desejável. Sua autopromoção o levou à vergonha e humilhação.
“Jesus não recomenda a prática da falsa humildade,
mas o convidado que, de começo, toma o lugar mais humilde não se arrisca a
passar vexame. De fato, quando o anfitrião o vir sentado em lugar humilde, ele
o convidará a se sentar mais para cima. Isto lhe dá honra aos olhos de todos os
convidados no casamento. “Jesus se dirigiu aos convidados. Agora Ele se volta para
o anfitrião. O que Ele lhe diz também se aplica aos líderes religiosos. Os
fariseus excluíam os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos da plena
participação da vida religiosa. Para contornar esta prática, Jesus indica que a
hospitalidade deve ser estendida a todos e adverte contra incluir somente os
amigos, os parentes, os ricos e os famosos.
“A tentação é entreter só o nosso grupo. Quando um
anfitrião convida outros para jantar em sua casa, ele deve incluir aqueles que
não lhe podem devolver o favor. Se ele sente que os convidados vão
retribuir-lhe o convite, o que ele deu? Nada! É apenas comércio, sem ter
generosidade. Sua hospitalidade é motivada por desejo de recompensa. Mas a
verdadeira hospitalidade e generosidade ocorrem quando não há possibilidade de
retribuição. Aqueles que querem agradar a Deus devem alcançar os pobres e os
que sofrem de incapacidade física ou mental. Jesus não proíbe que convidemos os
que podem nos retribuir o convite, mas proíbe que esqueçamos os que não estão
em posição de retribuir. A generosidade e a bondade não devem ser usadas para
ganhar poder sobre os outros e a colocá-los em dívida para conosco. A
verdadeira hospitalidade, instigada por amor genuíno, não tem restrições”
(ARRINGTON, F. L. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal. 1.ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.415,416).
II. AS
GRANDES LIÇÕES DA PARÁBOLA E A INVERSÃO DA LÓGICA HUMANA
1. A primeira
grande lição da parábola. Esta parábola
ensina, acima de tudo, a humildade como marca de um verdadeiro seguidor de
Cristo (Lc 9.23,24). Jesus instrui que é prudente a qualquer convidado ocupar
sempre o lugar de menor destaque à mesa, e que esse comportamento deve ser
sincero, pois cabe ao anfitrião a prerrogativa de julgar quem deve ser
reconhecido (vv.8,9). A lição está na ideia de que ocupar de forma espontânea
uma posição humanamente inferior ensejava a oportunidade de se experimentar
algo realmente honroso, ou seja, ao portar-se de maneira humilde o convidado
poderia ser honrado com naturalidade, uma vez que, se fosse chamado a ocupar um
lugar à frente, se destacaria em relação à posição em que se encontrava (v.10).
Ao contrário, se caso se colocasse num local de destaque, sem ter sido
convidado para isso, experimentaria o caminho da vergonha, sendo removido para
dar lugar a alguém que o anfitrião julgasse merecedor e digno daquela honra
(vv.8,9).
Quando Jesus entrou naquela casa e começou a
observar o comportamento dos convidados, não se surpreendeu com a maneira de se
comportarem, porque ele sabia que os fariseus faziam muita questão dos
primeiros lugares nas sinagogas e nos demais lugares aonde iam (Lc 14.8-9).
Neste ponto da parábola Jesus não estava falando de cadeiras e convidados,
estava falando do reino espiritual, onde quem tenta se exaltar será humilhado e
quem a se próprio se humilha será exaltado pelo Dono da Igreja. Jesus não
pretendia ensinar aos fariseus e teólogos apenas algumas regras de boas
maneiras à mesa. Ensinou uma lição de humildade e amor dirigindo-se aos
convidados que ali estavam, bem como àquele que o convidará
2. A segunda
grande lição da parábola. Além da sensatez
que faz a opção pela humildade, Cristo ensina nesta parábola que se formos dar
um jantar devemos convidar e acolher os menos favorecidos (v.13). A ênfase da
segunda grande lição ensinada por Cristo mostra que as ações devem ser
praticadas sem esperar reciprocidade alguma (v.12). Tais práticas devem nortear
os pensamentos dos verdadeiros seguidores do Mestre, pois Ele mesmo assim vivia
e praticava boas ações com espírito humilde e amor desinteressado (Mt 20.28; Jo
10.17,18; 15.13). Este ensinamento de Cristo, naturalmente, não se refere
apenas ao ato de convidar alguém para jantar, mas diz respeito a todas as
atividades que são realizadas em favor de algum próximo que não tem como nos
retribuir (Mt 25.34-40).
“Jesus disse ao hospedeiro que este não devia
convidar com interesse de ser recompensado. Se o anfitrião convida seus
parentes, amigos e conhecidos para comerem com ele, com a intenção de que eles,
depois, também o convidem, estará pensando no quanto receberá de volta. Mas, se
convida pessoas que são financeira e socialmente impossibilitadas de retribuir
o convite, sua recompensa será paga pelo próprio Deus, por ocasião da
ressurreição. Quem promoveria um banquete e convidaria a mais baixa classe da
sociedade: os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos? Financeiramente, os
pobres dependem dos ricos, e aqueles que são aleijados, coxos e cegos, muitas
vezes, precisam da ajuda dos que são fisicamente capazes. Essas pessoas não têm
meios nem força para retribuir os favores. Quando o convite é extensivo às
pessoas que não têm acesso aos prazeres da mesa, gozados pelos ricos, a bênção
se torna merecida. Naturalmente, Jesus não estava dizendo que o anfitrião
deveria convidar apenas os oprimidos. Ele ensina que os nossos atos devem ser
praticados sem que esperemos reciprocidade. Devem ser executados com espírito
de humildade e amor desinteressados. Tais atos recebem a aprovação divina,
pois: "Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o
fizestes" (Mt 25.40). Este ensino universal não se limita ao oferecimento
de banquetes, mas inclui também todas as dádivas que não podem ser retribuídas
por aqueles que as recebem” (EBD AREIA BRANCA).
3. A lógica do
Reino é diferente da humana. As duas grandes
lições da parábola dos primeiros assentos e dos convidados desafiam a lógica
humana, pois nesta prevalecem os adágios e as estratégias oportunistas, mas na
lógica do Reino tudo é diferente (Mt 20.25- 28 cf. v.11). De igual forma,
devemos ajudar os que não têm condições, pois estes geralmente são esquecidos,
pois não tendo nada a oferecer, acabam abandonados. O Senhor, porém, ensina que
quando formos realizar algo assim, devemos convidar “os pobres, aleijados,
mancos e cegos” (v.13), pois estes não têm como nos “recompensar” (v.14). Isso,
porém, não significa que ficaremos sem recompensa.
“Jesus estava ensinando nessa parábola uma
importante lição sobre a humildade e a auto-depreciação. A lição principal
dessa parábola é o mesmo ensino transmitido em um dos provérbios do rei
Salomão: “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos
grandes; porque melhor é que te digam: Sobe aqui; do que seres humilhado diante
do príncipe que os teus olhos já viram” (Pv 25.6,7). Os lugares mais inferiores
revelam uma possibilidade maravilhosa, isto é, ser convidado a ocupar uma
posição mais importante, já que para quem ocupa a posição mais inferior seu
único rumo possível é para cima. Já os lugares superiores podem revelar uma
possibilidade aterrorizante, ou seja, a terrível humilhação de ser convidado a
deixar o lugar de honra. É melhor ser humilde em uma posição inferior do que um
usurpador em uma posição superior. Quando repartimos nossos recursos com
aqueles que nada têm, desfrutamos do grande privilégio de contemplar a alegria
que há no olhar de quem é abençoado. O ensino bíblico é muito claro de que
devemos demonstrar hospitalidade para com os necessitados (Rm 12:13; 1Tm 3:2;
Tt 1:8; 1Pe 4:9), e quem entende essa norma bíblica certamente compreende na
pratica a verdade que há nas palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: “Há
maior felicidade em dar do que em receber” (At 20:35)”. (ESTILOADORAÇÃO)
SUBSÍDIO HISTÓRICO-CULTURAL
“Na época de Jesus, o costume judaico em um jantar
era dispor os assentos em forma de U com uma mesa baixa diante deles. Os
convidados se apoiariam no cotovelo esquerdo, e estariam sentados de acordo com
a sua posição social, sendo o lugar de honra o assento no centro do U. Quanto
mais distante do lugar de honra, menor o status. Se alguém se colocasse no
primeiro lugar e então chegasse outro convidado mais digno, lhe pediriam que
passasse para um lugar inferior. Mas a esta altura o único lugar vago seria o
derradeiro, no final da mesa” (Comentário
do Novo Testamento. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.417-18).
III. A
RECOMPENSA DA HUMILDADE E DO ALTRUÍSMO
1. Humildade e
altruísmo. Nesta parábola Cristo nos
ensina o cultivo da humildade e do desprendimento – também conhecido como amor
desinteressado ou altruísmo –, como características indispensáveis ao verdadeiro
cristão. Mais do que uma lição de educação humana, Cristo fala sobre o
privilégio que possuímos de servir e não de sermos servidos (Mc 10.45),
exaltando o serviço ao próximo não por vanglória, mas por dedicação pessoal e
altruísmo (Pv 18.12; Rm 12.9,10; Fp 2.3-11).
“O Caminho apresentando por Jesus sempre leva em
direção ao reconhecimento do Pai e não dos homens. Seja em relação à esmola,
oração, jejum, ou mesmo a quem vamos procurar favorecer, em todos os casos
devemos buscar a recompensa divina e não a dos homens. “…e teu Pai, que vê em
secreto, ele mesmo te recompensará publicamente” (Mt 6.4)” (Pr. Adiel de Santana).
2. Amor, a
palavra-chave do altruísmo. Atualmente a
palavra amor está desgastada, pois muitos “amam” apenas de lábios, mas não de
verdade (1 Jo 3.18). O texto bíblico, porém, é bastante enfático: “O amor não
seja fingido” (Rm 12.9a). O amor é a palavra-chave do altruísmo, pois este só
pode ser praticado em amor e, por sua vez, o amor só pode ser revelado na
prática (Tg 2.15-17; 1 Jo 3.17).
“A Bíblia diz que Deus é amor (1 João 4:8) e que
o amor é uma escolha que marca a vida e as atitudes daqueles que seguem a Deus.
Além disso, a Bíblia descreve o amor como uma característica que distingue
aqueles que são de Deus, é um dos frutos do Espírito, como é possível comprovar
em Gálatas 5:22” (RESPOSTAS). Quando falamos do
amor bíblico é preciso distinguirmos os três tipos de amor - Eros, Philos e
Ágape. A espécie de amor exigido do cristão é o Ágape, genuíno, incondicional e
perfeito amor. Ele não depende de empatia, de gostar ou de se identificar com o
objeto do amor; ele exige decisão de, mesmo não se identificando com o objeto,
amar. Não é apenas um mero sentimento ou emoção, mas uma entrega voluntária e
pessoal que conduz a plena submissão. O amor genuíno tem um grande poder, é
capaz de afastar o medo (1Jo 4.18). O amor ágape é aquele tipo de amor que não
busca seus próprios interesses, é um amor desinteressado, puro e genuíno.
Quando o amor de Deus habita no coração de uma pessoa, ela é mais forte, mais
feliz e mais confiante.
3. A recompensa. Retribuir uns aos outros não é altruísmo, mas ajudar aos
que estão necessitados certamente o é, pois isso trará grande recompensa
vv.12b,14; Mt 10.40-42). Ninguém que ajude e estenda a mão aos necessitados
ficará sem retribuição da parte do Senhor (Mt 25.34-40).
Jesus desejava que o anfitrião convidasse pessoas
quem não podiam retribuir o favor. Se agisse desse modo sua recompensa lhe
seria dada por meio das mãos do próprio Deus. O que Jesus quer nos ensinar é
que devemos fazer todas as coisas sem esperar nenhuma reciprocidade. Nossas ações
devem ser oferecidas como atos de amor e humildade desinteressada. São essas
ações que recebem a aprovação divina “O Rei, respondendo, lhes dirá: Em
verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos
irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40).
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Partir o pão com os necessitados e os inválidos
nunca passará sem ser percebido pelo Pai divino. Embora eles não possam nos
oferecer recompensa, Deus pode e recompensa. O que os pobres e os que sofrem de
incapacidade física ou mental não podem fazer por nós, Ele fará ‘na
ressurreição dos justos’. Quer dizer, no dia em que os justos ressuscitarem,
Deus dará uma recompensa esplêndida àqueles que foram generosos com os
necessitados e os fracos. Tais indivíduos mostram por seu serviço amoroso que
aprenderam a viver a vida do Reino na terra, e eles serão recompensados com
justiça no tempo do fim” (ARRINGTON, F. L. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD,
Roger (Eds.). Comentário Bíblico
Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.416).
CONCLUSÃO
Jesus aconselhou as pessoas a
não se apressarem a ocupar os melhores lugares em um banquete. Entretanto, hoje
muitos estão ansiosos por elevar a sua posição social. A quem você procura
impressionar? Em vez de buscar prestígio, procure um lugar onde você possa
servir. Se Deus quiser que você o sirva em uma escala maior, Ele mesmo o
convidará a ocupar uma posição elevada.
Como explanado nos tópicos acima, o
propósito de Jesus ao contar esta parábola é focar o valor da humildade. Os
fariseus eram orgulhosos de sua religiosidade. No Reino de Deus, o que vale não
é nosso orgulho ou realizações, mas nossa submissão à vontade de Deus – nossa
obediência. Não devemos procurar os lugares de maior destaque. No Reino de Deus
não interessa quem é o mais inteligente, o mais eloquente, o mais importante.
Nesse Reino ganhará importância aqueles que valorizaram o bem do outro sem se
importar em ser o primeiro ou o mais importante.
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário