sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

LIÇÃO 13: A HUMILDADE E O AMOR DESINTERESSADO

SUBSÍDIO I

INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA

Esta parábola é registrada uma única vez, em Lucas 14.7-14, com a finalidade de ensinar o valor da humildade como marca de um verdadeiro seguidor de Cristo. Jesus havia observado que muitos buscavam ocupar os primeiros assentos nas celebrações festivas, e, que esta busca, demonstrava alguns problemas que deveriam ser confrontados. Nesta parábola há a informação que um fariseu, possivelmente muito rico e detentor de muitos bens (Lc 14.12), convidou Jesus para um banquete em sua casa. Embora este convite ter sido feito aparentemente de forma amistosa, a intenção deste fariseu era observar Cristo “mais de perto” para encontrar nEle algo que pudesse condená-lo (Lc 14.1).
Lockyer destaca que as pessoas que tinham a intenção de “pegar” Cristo em uma armadilha estavam “cegas pelo preconceito e esqueceram que o convidado a partilhar de sua hospitalidade, era o Senhor Onisciente e, como tal, estava em grande vantagem sobre eles. Eles não podiam ler os seus pensamentos, mas ele podia ler os deles e, nas parábolas desse capítulo, ele revelou os pensamentos que lhes iam na mente, e o significado sinistro dos seus atos. Naquela tarde memorável de sábado, ele dominou aquelas pessoas, e elas não o manipularam”.1
Era comum neste contexto haver uma distribuição especial de lugares para os convidados, que normalmente, se assentavam ao redor de uma mesa quadrangular, onde na posição central se posicionava o personagem mais importante da situação, e, bem próximo a ele, à esquerda e à direita, posicionavam-se os convidados mais importantes. Era comum também para um convidado sentir a necessidade de ser honrado pelo anfitrião, e este comportamento por si só não era errôneo, porém, a necessidade de buscar tal honra, somada ao desejo de torná-la essencial na ordem de prioridades pessoais, demonstrava ausência de humildade e desejo por reconhecimento humano.
A lição desta parábola é clara e objetiva ao exaltar o valor da humildade como marca indelével dos seguidores de Cristo, conforme Lucas 7.11: “Porquanto, qualquer que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado”. Neste contexto, composto por fariseus, doutores da lei e religiosos de forma geral, a passagem de Provérbios 25.6-7 era bem conhecida: “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes; porque melhor é que te digam: Sobe para aqui, do que seres humilhado diante do príncipe a quem já os teus olhos viram”. Jesus por intermédio desta parábola tinha a intenção de ensinar o caminho correto do reconhecimento ao demonstrar que o convidado deveria ocupar os últimos lugares, e então, a partir dessa situação, recebesse o convite para ocupar outras posições de privilégio. Caso essa realidade não fosse aplicada, o convidado que tomou a atitude de ocupar o lugar de destaque sem ser convidado, poderia ser repreendido pelo anfitrião e deveria deixar o lugar que ocupava, gerando assim um grande constrangimento para si.
A lição repousa na ideia de que ocupar uma posição inferior possibilitava experimentar algo extraordinário, ou seja, ao portar-se de maneira humilde o convidado poderia trilhar um caminho de “ascensão” natural, uma vez que, se convidado fosse, avançaria em relação a posição que ocupava. Ao contrário, se ocupasse uma posição superior, sem ter sido convidado para isso, experimentaria o caminho do “declínio”, sendo convidado para se retirar de tal posição para ocupar um lugar inferior. Conegero destaca que “é melhor ser humilde em uma posição inferior do que um usurpador em uma posição superior”. 
Jesus estava demonstrando que seria prudente a qualquer convidado ocupar sempre o lugar de menor destaque à mesa, e que esse comportamento deveria ser sincero, transferindo para o anfitrião a prerrogativa do julgamento de importância e reconhecimento. Não se trata de um ensinamento dirigido ao cumprimento de regaras, mas sim, uma lição de humildade ensinada por Jesus.
Champlin destaca na reflexão de Lucas 14.10 que “era prudente ou sábio, por motivos de autorrespeito, escolher uma posição inferior, a fim de que, qualquer modificação na posição dos convidados, não deixasse de melhorar a posição do último colocado”.3  Este autor também destaca que na perspectiva espiritual, “não é apenas prudente, e, sim, necessário, desenvolver uma atitude humilde no tocante à própria posição social e no tocante à vida em geral”. Jesus ensina aqui que a atitude humilde “deveria ser a verdadeira expressão da personalidade e não tão somente uma ação sábia para impedir a possibilidade de ser envergonhado”.5  Jesus era um convidado digno de honra naquele banquete, porém, tomou o lugar mais humilde do ambiente para compartilhar uma extraordinária lição de humildade e honra.
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal resume os ensinamentos de Jesus nesta parábola em duas partes: (a) Primeiro – dirigiu-se aos convidados dizendo-lhes que não buscassem lugares de honra, pois no Reino de Deus o serviço é mais importante do que a posição. (b) Segundo – disse ao anfitrião que não fosse excessivamente seletivo quanto aos convidados, numa referência direta à importância da prestação do serviço à todos, ou seja, o ensinou que Deus abre as portas do seu Reino a todos.

Texto extraído da obra: As Parábolas de Jesus: As verdades e princípios divinos para uma vida abundante. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Chegamos ao final deste trimestre, estudamos várias parábolas de Jesus, identificando o foco de cada uma delas. Nessa última lição, destacaremos a importância da humildade, e do amor desinteressado. Inicialmente, meditaremos a respeito da parábola dos convidados, em seguida, enfatizaremos duas das principais virtudes da fé cristã: a humildade e o amor desinteressado. Ao final da lição, reforçaremos que o agape – amor sacrificial – é a marca identitária do verdadeiro cristão.

I. VÁRIOS CONVIDADOS, POUCOS LUGARES
                                                                 
Jesus contou uma parábola a respeito dos primeiros assentos, e dos lugares de honra dos convidados, durante uma refeição na casa de um fariseu. Conforme destacamos ao longo desses estudos, a maioria das parábolas de Jesus tinha como objetivo principal criticar os religiosos do seu tempo, por desmereceram os gentios e se pautarem na justiça própria. Naquela ocasião, Jesus curou um enfermo (Lc. 14.1-4), e se identificou com sua necessidade, provocando a ira dos religiosos. Os fariseus disputavam espaço nos lugares, considerando que naquele tempo, bem como acontece nos tempos atuais, os espaços determinam valores simbólicos. Através dessa parábola, Jesus ensina que a função que exercemos, para a glória do Reino de Deus, é mais importante do que as pessoas estabelecem, com base em suas hierarquias religiosas (v. 12). Há um livro intitulado O Monge e o Executivo, que orienta na direção de um reposicionamento das funções institucionais. A base da pirâmide é invertida, de modo que aqueles que estão em cima deve estar conscientes que têm maior responsabilidade. Não podemos esquecer que a palavra ministro – diáconos em grego – tem justamente a ideia de servo. Jesus deu o maior exemplo de humildade ao lavar os pés dos seus discípulos, justamente em um momento em que eles disputavam a respeito de quem seria o maior no reino de Deus (Jo. 13.1-11). Os cristãos devem viver a partir desse mesmo princípio, buscando colocar sempre os outros em posição de proeminência, tendo o mesmo sentimento de servo que houve em Cristo (Fp. 2.5).

II. HUMILDADE, A LÓGICA DO REINO DE DEUS

O triunfalismo está destruindo o modelo bíblico para a igreja cristã, não poucos líderes estão obcecados pelo poder temporal. Ninguém quer mais servir, alguns pastores acham-se quase deuses, esqueceram que são, antes de tudo, diáconos (servos), tanto de Cristo quanto da igreja. Esse endeusamento acaba por provocar um desejo contido, uma neurose eclesiástica coletiva, implicando em doença no contexto da igreja. Os membros não querem ser diáconos, presbíteros nem pensar, evangelistas, talvez, mas a preferência nacional mesmo é a de ser pastor. Isso sem falar naqueles que são apóstolos, bispos, e se brincar, semideuses, em uma luta desenfreada para ser o maior. Paradoxalmente Jesus ensinou justamente o contrário, que quem quiser ser o maior deve ser o menor. A atuação dos membros na igreja deve estar alicerçada no princípio da funcionalidade, isso porque somos partes de um mesmo corpo, com múltiplas funções, dependendo das necessidades (I Co. 12.12). O sistema eclesiástico torna-se doentio quando a hierarquia resulta em um fim em si mesmo. Os espaços são limitados, e as pessoas disputam as posições de poder. O resultado é pura carnalidade, conflitos infindos que se arrastam, na medida em que um derruba o outro, mirando assumir sua posição. Esse sistema alimenta muita inveja, faz com que as pessoas não estejam dispostas a servir, mas a bajular. Elas se aproximam das pessoas não porque as amam, ou porque lhes desejam bem, mas por interesse, a fim de tirar algum proveito. Diante desse quadro, precisamos recuperar o modelo bíblico da liderança servidora. Os pastores das igrejas locais precisam dar o exemplo, cultivar uma cultura bíblica do serviço, motivar os crentes a se colocarem a disposição uns dos outros, com genuíno amor cristão. As posições de liderança são bíblicas, e os pastores devem ser respeitados como tais, aqueles que se dedicam à Palavra, dignos de redobrada recompensa (I Tm. 5.17), mas devem ter cuidado para não se transformarem em celebridades evangélicas, favorecendo o culto às celebridades. 

III. ÁGAPE, UM AMOR DESINTERESSADO

No grego do Novo Testamento, a palavra amor é “ágape”, cujo significado primário vem do amor puro e verdadeiro de Deus em relação ao Seu Filho (Jo.17.26), ao seu povo (Gl. 6.10) e à humanidade perdida que se rebelou contra Deus (Jo. 3.16; Rm. 5.8). O verbo “agapao” tem em Deus sua demonstração máxima, na verdade, o próprio Deus é amor (I Jo. 4.9-10). Por isso, esse Deus age com amor em relação ao homem perdido (Jo. 3.16; I Jo. 3.1,16). Em resposta ao amor de Deus, o homem deve também amá-lo, bem como ao próximo (Mc. 12.30-33; Mt. 19.19; 22.39; Mc. 12.31; Rm. 13.8; I Jo. 3.11,23), especialmente aos domésticos na fé (Gl. 5.6; I Jo. 2.10). Com base em I Co. 13, compreendemos que a prática dos dons espirituais na igreja não compensa a falta de amor. O amor cristão, que é uma das virtudes do Espírito (Gl. 5.22), tem algumas características que não podem ser desprezadas: 1) é paciente e benigno – tem uma capacidade infinita para suportar as adversidades; 2) não se aborrece com o sucesso dos outros, não se ufana como um balão cheio de vento, mas sem conteúdo; não é egoísta, não busca apenas seus interesses; 3) não se ressente do mal – está sempre disposta a pensar o melhor das outras pessoas e não lhes imputa o mal; 4) tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta – significa que você abre mão de um direito que tem a favor do seu irmão, pois o amor perdoa e esquece a ofensa do outro.

CONCLUSÃO

O amor é a caminho para a maturidade, é o cumprimento da lei, é o maior de todos os mandamentos, é a apologética contundente. Uma igreja sem amor está adoecida e precisa urgentemente de ser curada por Aquele que é Amor e que levou esse amor ao extremo sacrificando-se pelos pecadores. Ele nos amou de uma maneira tal que enviou Seu Filho em sacrifício pelos pecados (Jo. 3.16), em resposta a esse amor, devemos também amar os irmãos e nos sacrificar-nos por eles (I Jo. 3.16).
José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog subsidioebd.blogspot.com
  
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Jesus contou a parábola dos primeiros assentos, ou lugares de honra, e dos convidados, ao participar de uma refeição na casa de um fariseu. Ele instruiu a todos acerca da humildade e do perfil das pessoas que devem ser convidadas para ocasiões especiais. O verdadeiro objetivo do fariseu, e de seus companheiros, era encontrar algo em Cristo que pudesse condená-lo. Na ocasião, Jesus observou o perfil dos convidados e notou que eles buscavam escolher os primeiros lugares. Foi a partir dessa observação, e também do perfil dos convidados, que o Mestre contou essa curta, mas instrutiva, parábola.
Lucas é o único dos quatro evangelistas que registrou essa parábola. O capítulo 14 começa com o convite de um fariseu para Jesus participar de uma refeição em sua casa. Na sequência, vemos três coisas que caracterizam alguém que se aproxima de Jesus na condição que Deus espera do pecador: cura, exaltação e recompensa. Estas três coisas estão representadas na cura de um homem hidrópico, na exaltação do que se coloca em último lugar e na recompensa dos que sabem que “há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20.35). Apesar de ser uma parábola curta e bastante simples, ela possui um significado muito importante para todos nós: a humildade precede a honra (Mt 23.12; Lc 14.7-11; Tg 4.6,10; 1Pd 5.5,6; Pv 3.34; o exemplo de Cristo - Fp 2.5-11). Jesus observou que muitos buscavam os primeiros assentos na festa. Provavelmente, tinham algumas preocupações que revelavam áreas da vida a serem trabalhadas. Os primeiros lugares eram especiais, destinados às pessoas a quem o anfitrião queria honrar. 

I. INTERPRETAÇÃO DA PARÁBOLA DOS PRIMEIROS LUGARES E DOS CONVIDADOS
                                                                 
1. O dia, a ocasião e o local. O dia, a ocasião e o local onde essa parábola foi contada são três pontos importantes para se entender sua importância. No início do capítulo somos informados que, num sábado, Jesus fora comer na casa de um dos chefes dos fariseus e deparou-se com um homem hidrópico (Lc 14.1,2). Após provocar os fariseus que ali estavam, Jesus curou o enfermo e ele se foi (Lc 14.3,4). O Mestre então revelou que os religiosos que se encontravam ali faziam determinados trabalhos que eles julgavam importantes em dia de sábado (Lc 14.5), e que curar o homem, sem importância para eles, certamente era lícito, por isso, “nada lhe podiam replicar sobre isso” (Lc 14.6). Uma vez que se tratava de uma refeição, era comum, em ocasiões como essa, haver uma distribuição especial de lugares para os convidados que, normalmente, se assentavam ao redor de uma mesa quadrangular, cuja posição central era ocupada pelo anfitrião, e, bem próximo a ele, isto é, à esquerda e à direita, posicionavam-se os convidados mais distintos. Era costume um convidado ser honrado pelo dono da festa. Desejar esta homenagem não era algo errôneo, porém, na ansiedade de buscar tal honraria, muitos se excediam, demonstrando ausência de humildade e desejo por reconhecimento humano.
O texto diz que o estavam observando. Os fariseus estavam profundamente incomodados com a pessoa de Jesus. A pergunta para a qual todos queriam descobrir a resposta era: Quem é este Jesus? Assim que Jesus entra na casa do fariseu duas coisas ficam evidentes: Ali está um homem hidrópico [a hidropisia é causada por distúrbios na circulação do sangue pode ter uma distribuição generalizada, ocorrendo em quase todas as partes do corpo, ou pode ser local, isto é, apresentar-se em uma parte apenas do corpo. À hidropisia geral dá-se o nome de anasarca. A hidropisia é mais comum no abdome, no peito, no encéfalo, nos rins, nas pernas e em torno dos olhos. Pode ser reconhecida pela formação de pequenas depressões que persistem quando se faz pressão sobre a parte afetada.(WIKIPÉDIA)], uma figura perfeita do pecador inchado de pecados e incapaz de curar-se a si mesmo. Conhecendo as intenções e pensamentos dos fariseus e doutores da lei que estão ali, Jesus lança uma pergunta desafiadora: “É permitido ou não curar no sábado?” (Lc 14.3). Todos ficam em silêncio, ainda que acreditassem que curar no sábado fosse uma transgressão da Lei [no capítulo anterior o dirigente da sinagoga havia declarado isto]. O silêncio deles é o sinal inequívoco de que aqueles homens que sabiam a Lei de cor e salteado não podiam apontar uma passagem sequer em que a guarda da lei anule a misericórdia e graça de Deus. – Jesus ordena a cura do hidrópico e de quebra, revela a hipocrisia daqueles homens (Mt 23.3-5).

2. A parábola. É com este contexto em mente que devemos estudar a parábola dos primeiros assentos e dos convidados. Havia dois objetivos por parte do Senhor. Primeiro, Ele procurava ensinar aos convidados e, ao mesmo tempo, os seus discípulos e a todos os que o aceitam, acerca de não se buscar lugares de honra, pois no Reino de Deus servir é mais importante do que ocupar uma posição. Segundo, ao curar o hidrópico, Jesus instruía ao anfitrião, e a todos nós, que não devemos ser seletivos quanto aos convidados para uma ocasião especial, pois assim como Deus aceita a todos, devemos ser prestativos e servir a todos, pois se atendermos pessoas abastadas, elas vão querer nos retribuir, e isso será a nossa recompensa (v.12).
Como já dito acima, aquele convite aparentemente amável, tinha o objetivo de apanhar Jesus; eles estavam observando Jesus atentamente, para que pudessem descobrir algum motivo para apresentar uma acusação contra ele (Lc 14.1). Há alguns estudiosos que defendem a hipótese de que aquele homem hidrópico foi posto diante de Jesus de propósito, ou seja, os próprios religiosos o colocaram ali como um tipo de armadilha na qual esperavam que Jesus caísse. Talvez tenha sido assim, mas não é algo que podemos afirmar com certeza, já que não era incomum que alguém entrasse em uma celebração sem ser convidado (Lc 7.37,38). Logo após a cura daquele homem, Jesus observa a forma com que os convidados daquela ceia estavam escolhendo os lugares em volta da mesa, e diante disso contou a Parábola dos Primeiros Lugares. Naquela época, o costume oriental não era sentar à mesa, tal qual fazemos hoje. Era usado na sala onde se celebrava a ceia, uma mesa baixa cercada de divãs – uma espécie de sofá - que tinham a capacidade de acomodar três pessoas. Esses divãs eram colocados em forma de um “U” ao redor da mesa que era retangular. Na posição central da mesa, isto é, na cabeceira, ficava a pessoa de maior importância. Ao seu lado esquerdo, ficava a segunda pessoa em importância, e no lado direito a terceira pessoa em importância. Assim, o divã à esquerda da cabeceira da mesa era o segundo em honra, e, depois, vinha o divã da direita, e assim sucessivamente durante toda a extensão da mesa. Essa era uma regra de hierarquia social que orientava os judeus naquela época. Entretanto, na ceia em que Jesus estava essa regra parecia estar sendo ignorada, e os convidados estavam demonstrando todo egoísmo, orgulho e preconceito na escolha dos lugares.

3. Os grandes ensinamentos da parábola. Os ensinamentos de Jesus para os convidados não são uma série de bons conselhos sobre etiqueta social, mas lições com significado prático-espiritual. Por isso, esta última lição visa conscientizar-nos de nossa postura enquanto discípulos de Cristo, destacando a importância de, na prática, demonstrarmos o quanto vivemos sob uma forma diferente da do mundo (Rm 12.2; Mt 20.17-28).
As lições desta parábola não se restringem a regras de etiqueta, mas seu significado é bastante claro no versículo 11: “Porque todo aquele que se exalta será humilhado, e aquele que se humilha será exaltado”. Esse ensino expressa uma verdade bíblica que pode ser conferida por toda a Escritura. Temos vários personagens bíblicos que provaram na prática esse ensino, como por exemplo, Jezabel, Nabucodonosor e Herodes Agripa I, exaltados que foram humilhados (1Rs 21.7,23; 2Rs 9.30-37; Dn 4.30-33; At 12.20-23); enquanto José, Ana, e o próprio publicano da parábola, são exemplos de humilhados que foram exaltados (Gn 41.41; 1Sm 1.12-20; Lc 18.9-14). A lição extrapola o mundo atual e vai à eternidade, a história do Rico e Lázaro prova que tanto a exaltação quanto a humilhação final e plena se dará na vida porvir (Lc 16.19-31), um ensino que também foi compreendido pelo levita Asafe (Sl 73).


SUBSÍDIO EXEGÉTICO
                               
“A parábola é, na verdade, uma repreensão de muitos à mesa de jantar. Na maioria das culturas, há lugares de muita e de poucas honras numa refeição (Bratcher, 1982, p.244). Pessoas de posição social mais alta têm lugares mais próximos do anfitrião. Para ensiná-los a ordem das coisas de Deus, Jesus começa exortando-os a que, se são convidados a um casamento, tomem os lugares mais baixos. Uma pessoa de mais destaque que eles pode ter sido convidada. Se um convidado chegar antes dessa pessoa e tomar o assento mais próximo do anfitrião, ele corre o risco de ser humilhado. O anfitrião pedirá àquele que está num lugar de honra a sair. O convidado presunçoso talvez descubra que a maioria dos lugares está ocupado, o que o forçará a ocupar um lugar menos desejável. Sua autopromoção o levou à vergonha e humilhação.
“Jesus não recomenda a prática da falsa humildade, mas o convidado que, de começo, toma o lugar mais humilde não se arrisca a passar vexame. De fato, quando o anfitrião o vir sentado em lugar humilde, ele o convidará a se sentar mais para cima. Isto lhe dá honra aos olhos de todos os convidados no casamento. “Jesus se dirigiu aos convidados. Agora Ele se volta para o anfitrião. O que Ele lhe diz também se aplica aos líderes religiosos. Os fariseus excluíam os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos da plena participação da vida religiosa. Para contornar esta prática, Jesus indica que a hospitalidade deve ser estendida a todos e adverte contra incluir somente os amigos, os parentes, os ricos e os famosos.
“A tentação é entreter só o nosso grupo. Quando um anfitrião convida outros para jantar em sua casa, ele deve incluir aqueles que não lhe podem devolver o favor. Se ele sente que os convidados vão retribuir-lhe o convite, o que ele deu? Nada! É apenas comércio, sem ter generosidade. Sua hospitalidade é motivada por desejo de recompensa. Mas a verdadeira hospitalidade e generosidade ocorrem quando não há possibilidade de retribuição. Aqueles que querem agradar a Deus devem alcançar os pobres e os que sofrem de incapacidade física ou mental. Jesus não proíbe que convidemos os que podem nos retribuir o convite, mas proíbe que esqueçamos os que não estão em posição de retribuir. A generosidade e a bondade não devem ser usadas para ganhar poder sobre os outros e a colocá-los em dívida para conosco. A verdadeira hospitalidade, instigada por amor genuíno, não tem restrições” (ARRINGTON, F. L. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.415,416).

II. AS GRANDES LIÇÕES DA PARÁBOLA E A INVERSÃO DA LÓGICA HUMANA

1. A primeira grande lição da parábola. Esta parábola ensina, acima de tudo, a humildade como marca de um verdadeiro seguidor de Cristo (Lc 9.23,24). Jesus instrui que é prudente a qualquer convidado ocupar sempre o lugar de menor destaque à mesa, e que esse comportamento deve ser sincero, pois cabe ao anfitrião a prerrogativa de julgar quem deve ser reconhecido (vv.8,9). A lição está na ideia de que ocupar de forma espontânea uma posição humanamente inferior ensejava a oportunidade de se experimentar algo realmente honroso, ou seja, ao portar-se de maneira humilde o convidado poderia ser honrado com naturalidade, uma vez que, se fosse chamado a ocupar um lugar à frente, se destacaria em relação à posição em que se encontrava (v.10). Ao contrário, se caso se colocasse num local de destaque, sem ter sido convidado para isso, experimentaria o caminho da vergonha, sendo removido para dar lugar a alguém que o anfitrião julgasse merecedor e digno daquela honra (vv.8,9).
Quando Jesus entrou naquela casa e começou a observar o comportamento dos convidados, não se surpreendeu com a maneira de se comportarem, porque ele sabia que os fariseus faziam muita questão dos primeiros lugares nas sinagogas e nos demais lugares aonde iam (Lc 14.8-9). Neste ponto da parábola Jesus não estava falando de cadeiras e convidados, estava falando do reino espiritual, onde quem tenta se exaltar será humilhado e quem a se próprio se humilha será exaltado pelo Dono da Igreja. Jesus não pretendia ensinar aos fariseus e teólogos apenas algumas regras de boas maneiras à mesa. Ensinou uma lição de humildade e amor dirigindo-se aos convidados que ali estavam, bem como àquele que o convidará

2. A segunda grande lição da parábola. Além da sensatez que faz a opção pela humildade, Cristo ensina nesta parábola que se formos dar um jantar devemos convidar e acolher os menos favorecidos (v.13). A ênfase da segunda grande lição ensinada por Cristo mostra que as ações devem ser praticadas sem esperar reciprocidade alguma (v.12). Tais práticas devem nortear os pensamentos dos verdadeiros seguidores do Mestre, pois Ele mesmo assim vivia e praticava boas ações com espírito humilde e amor desinteressado (Mt 20.28; Jo 10.17,18; 15.13). Este ensinamento de Cristo, naturalmente, não se refere apenas ao ato de convidar alguém para jantar, mas diz respeito a todas as atividades que são realizadas em favor de algum próximo que não tem como nos retribuir (Mt 25.34-40).
Jesus disse ao hospedeiro que este não devia convidar com interesse de ser recompensado. Se o anfitrião convida seus parentes, amigos e conhecidos para comerem com ele, com a intenção de que eles, depois, também o convidem, estará pensando no quanto receberá de volta. Mas, se convida pessoas que são financeira e socialmente impossibilitadas de retribuir o convite, sua recompensa será paga pelo próprio Deus, por ocasião da ressurreição. Quem promoveria um banquete e convidaria a mais baixa classe da sociedade: os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos? Financeiramente, os pobres dependem dos ricos, e aqueles que são aleijados, coxos e cegos, muitas vezes, precisam da ajuda dos que são fisicamente capazes. Essas pessoas não têm meios nem força para retribuir os favores. Quando o convite é extensivo às pessoas que não têm acesso aos prazeres da mesa, gozados pelos ricos, a bênção se torna merecida. Natural­mente, Jesus não estava dizendo que o anfitrião deveria convidar apenas os oprimidos. Ele ensina que os nossos atos devem ser praticados sem que esperemos reciprocidade. Devem ser executados com espírito de humildade e amor desinteressados. Tais atos recebem a aprovação divina, pois: "Sem­pre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes" (Mt 25.40). Este ensino universal não se limita ao oferecimento de banquetes, mas inclui também todas as dádivas que não podem ser retribuídas por aqueles que as recebem” (EBD AREIA BRANCA).
3. A lógica do Reino é diferente da humana. As duas grandes lições da parábola dos primeiros assentos e dos convidados desafiam a lógica humana, pois nesta prevalecem os adágios e as estratégias oportunistas, mas na lógica do Reino tudo é diferente (Mt 20.25- 28 cf. v.11). De igual forma, devemos ajudar os que não têm condições, pois estes geralmente são esquecidos, pois não tendo nada a oferecer, acabam abandonados. O Senhor, porém, ensina que quando formos realizar algo assim, devemos convidar “os pobres, aleijados, mancos e cegos” (v.13), pois estes não têm como nos “recompensar” (v.14). Isso, porém, não significa que ficaremos sem recompensa.
Jesus estava ensinando nessa parábola uma importante lição sobre a humildade e a auto-depreciação. A lição principal dessa parábola é o mesmo ensino transmitido em um dos provérbios do rei Salomão: “Não te glories na presença do rei, nem te ponhas no lugar dos grandes; porque melhor é que te digam: Sobe aqui; do que seres humilhado diante do príncipe que os teus olhos já viram” (Pv 25.6,7). Os lugares mais inferiores revelam uma possibilidade maravilhosa, isto é, ser convidado a ocupar uma posição mais importante, já que para quem ocupa a posição mais inferior seu único rumo possível é para cima. Já os lugares superiores podem revelar uma possibilidade aterrorizante, ou seja, a terrível humilhação de ser convidado a deixar o lugar de honra. É melhor ser humilde em uma posição inferior do que um usurpador em uma posição superior. Quando repartimos nossos recursos com aqueles que nada têm, desfrutamos do grande privilégio de contemplar a alegria que há no olhar de quem é abençoado. O ensino bíblico é muito claro de que devemos demonstrar hospitalidade para com os necessitados (Rm 12:13; 1Tm 3:2; Tt 1:8; 1Pe 4:9), e quem entende essa norma bíblica certamente compreende na pratica a verdade que há nas palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: “Há maior felicidade em dar do que em receber” (At 20:35)”. (ESTILOADORAÇÃO)

SUBSÍDIO HISTÓRICO-CULTURAL

“Na época de Jesus, o costume judaico em um jantar era dispor os assentos em forma de U com uma mesa baixa diante deles. Os convidados se apoiariam no cotovelo esquerdo, e estariam sentados de acordo com a sua posição social, sendo o lugar de honra o assento no centro do U. Quanto mais distante do lugar de honra, menor o status. Se alguém se colocasse no primeiro lugar e então chegasse outro convidado mais digno, lhe pediriam que passasse para um lugar inferior. Mas a esta altura o único lugar vago seria o derradeiro, no final da mesa” (Comentário do Novo Testamento. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.417-18).

III. A RECOMPENSA DA HUMILDADE E DO ALTRUÍSMO

1. Humildade e altruísmo. Nesta parábola Cristo nos ensina o cultivo da humildade e do desprendimento – também conhecido como amor desinteressado ou altruísmo –, como características indispensáveis ao verdadeiro cristão. Mais do que uma lição de educação humana, Cristo fala sobre o privilégio que possuímos de servir e não de sermos servidos (Mc 10.45), exaltando o serviço ao próximo não por vanglória, mas por dedicação pessoal e altruísmo (Pv 18.12; Rm 12.9,10; Fp 2.3-11).
O Caminho apresentando por Jesus sempre leva em direção ao reconhecimento do Pai e não dos homens. Seja em relação à esmola, oração, jejum, ou mesmo a quem vamos procurar favorecer, em todos os casos devemos buscar a recompensa divina e não a dos homens. “…e teu Pai, que vê em secreto, ele mesmo te recompensará publicamente” (Mt 6.4)” (Pr. Adiel de Santana).

2. Amor, a palavra-chave do altruísmo. Atualmente a palavra amor está desgastada, pois muitos “amam” apenas de lábios, mas não de verdade (1 Jo 3.18). O texto bíblico, porém, é bastante enfático: “O amor não seja fingido” (Rm 12.9a). O amor é a palavra-chave do altruísmo, pois este só pode ser praticado em amor e, por sua vez, o amor só pode ser revelado na prática (Tg 2.15-17; 1 Jo 3.17).
A Bíblia diz que Deus é amor (1 João 4:8) e que o amor é uma escolha que marca a vida e as atitudes daqueles que seguem a Deus. Além disso, a Bíblia descreve o amor como uma característica que distingue aqueles que são de Deus, é um dos frutos do Espírito, como é possível comprovar em Gálatas 5:22” (RESPOSTAS). Quando falamos do amor bíblico é preciso distinguirmos os três tipos de amor - Eros, Philos e Ágape. A espécie de amor exigido do cristão é o Ágape, genuíno, incondicional e perfeito amor. Ele não depende de empatia, de gostar ou de se identificar com o objeto do amor; ele exige decisão de, mesmo não se identificando com o objeto, amar. Não é apenas um mero sentimento ou emoção, mas uma entrega voluntária e pessoal que conduz a plena submissão. O amor genuíno tem um grande poder, é capaz de afastar o medo (1Jo 4.18). O amor ágape é aquele tipo de amor que não busca seus próprios interesses, é um amor desinteressado, puro e genuíno. Quando o amor de Deus habita no coração de uma pessoa, ela é mais forte, mais feliz e mais confiante.

3. A recompensa. Retribuir uns aos outros não é altruísmo, mas ajudar aos que estão necessitados certamente o é, pois isso trará grande recompensa vv.12b,14; Mt 10.40-42). Ninguém que ajude e estenda a mão aos necessitados ficará sem retribuição da parte do Senhor (Mt 25.34-40).
Jesus desejava que o anfitrião convidasse pessoas quem não podiam retribuir o favor. Se agisse desse modo sua recompensa lhe seria dada por meio das mãos do próprio Deus. O que Jesus quer nos ensinar é que devemos fazer todas as coisas sem esperar nenhuma reciprocidade. Nossas ações devem ser oferecidas como atos de amor e humildade desinteressada. São essas ações que recebem a aprovação divina “O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40).

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Partir o pão com os necessitados e os inválidos nunca passará sem ser percebido pelo Pai divino. Embora eles não possam nos oferecer recompensa, Deus pode e recompensa. O que os pobres e os que sofrem de incapacidade física ou mental não podem fazer por nós, Ele fará ‘na ressurreição dos justos’. Quer dizer, no dia em que os justos ressuscitarem, Deus dará uma recompensa esplêndida àqueles que foram generosos com os necessitados e os fracos. Tais indivíduos mostram por seu serviço amoroso que aprenderam a viver a vida do Reino na terra, e eles serão recompensados com justiça no tempo do fim” (ARRINGTON, F. L. In ARRINGTON, French L.; STRONDAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.416).

CONCLUSÃO

Jesus aconselhou as pessoas a não se apressarem a ocupar os melhores lugares em um banquete. Entretanto, hoje muitos estão ansiosos por elevar a sua posição social. A quem você procura impressionar? Em vez de buscar prestígio, procure um lugar onde você possa servir. Se Deus quiser que você o sirva em uma escala maior, Ele mesmo o convidará a ocupar uma posição elevada.
Como explanado nos tópicos acima, o propósito de Jesus ao contar esta parábola é focar o valor da humildade. Os fariseus eram orgulhosos de sua religiosidade. No Reino de Deus, o que vale não é nosso orgulho ou realizações, mas nossa submissão à vontade de Deus – nossa obediência. Não devemos procurar os lugares de maior destaque. No Reino de Deus não interessa quem é o mais inteligente, o mais eloquente, o mais importante. Nesse Reino ganhará importância aqueles que valorizaram o bem do outro sem se importar em ser o primeiro ou o mais importante.

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

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