COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O pentecostalismo
é uma reação contra uma estrutura formal e exageradamente intelectualizada do
comportamento cristão. Estudar as Escrituras não precisa ser sinônimo de formalismo.
O propósito fundamental do “batizar no Espírito Santo” é a busca de uma
aproximação de um Deus pessoal e real. – Ser batizado no Espírito Santo é uma linguagem conhecida desde
os primitivos cristãos até os dias atuais, é uma expressão bíblica usada por
leigos e teólogos, pentecostais e não pentecostais. Todos nós usamos a mesma
expressão, mas não falamos a mesma língua. Para nós, o batismo no Espírito
Santo é uma coisa; para os não pentecostais, é outra. Para os pentecostais
clássicos, a evidência física inicial do batismo é o falar em línguas, a
glossolalia, mas os outros pentecostais discordam disso, e os neopentecostais estão
mais focados na cura divina e na prosperidade financeira.
I. O QUE SIGNIFICA “BATISMO NO ESPÍRITO”
O Novo Testamento nos ensina que
a salvação é uma coisa e o batismo no Espírito é outra. São duas bênçãos
espirituais distintas concedidas por Deus em Cristo.
1. O fenômeno do Pentecostes
(vv. 2-4). João Batista anuncia que Jesus é
o que batiza no Espírito Santo (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). Nesse
sentido, ser batizado no Espírito Santo é identificado como receber poder do
alto e a “promessa de meu Pai” (Lc 24.49). Os discípulos deveriam esperar o seu
cumprimento em Jerusalém (At 1.4,5). Não há dúvida de que a descida do Espírito
no dia de Pentecostes é uma referência a esse batismo (vv.2-4). Chegamos a essa
conclusão também pela explicação do apóstolo Pedro aos demais apóstolos (At
11.15,16). Isso reforça a ideia de que “cheios do Espírito Santo” no presente
contexto se refere a ser “batizado no Espírito Santo”, mas em outras partes do
Novo Testamento indica uma vida na plenitude e no fervor do Espírito (At
4.8,31; 7.55; 13.52; Ef 5.18).
2. Duas bênçãos distintas. Quem nasceu de novo tem o Espírito Santo (Jo 3.5-8). Essa verdade é
ensinada com clareza no Novo Testamento. O Espírito habita em todos os crentes
em Jesus, sejam eles pentecostais ou não (1 Co 3.16; 6.19). Quem não tem o
Espírito não é cristão (Rm 8.9). Sabemos que a experiência de ser batizado no
Espírito Santo é distinta da experiência da conversão porque os discípulos já
tinham a vida eterna e o Espírito mesmo antes do dia de Pentecostes (Lc 10.20;
Jo 20.22). Todos os presentes no cenáculo por ocasião da descida do Espírito
eram crentes, e isso confirma a nossa doutrina pentecostal de que a bênção de
ser batizado no Espírito Santo é distinta da conversão (At 8.12-17; 9.17;
19.2-6).
3. Conceito teológico. Ser batizado no Espírito Santo inicia o crente no serviço, e não na
salvação. Isso significa ser revestido do poder do alto e diz respeito à
capacitação dos crentes em Jesus para a expansão do evangelho e a edificação
espiritual (Lc 24.49). Trata-se de uma experiência que ocorre após ou junto à
regeneração (At 9.17; 10.44-48). Todas as promessas sobre o batismo no Espírito
Santo se cumprem integralmente no derramamento de Pentecostes e continuam até a
atualidade. Cremos e ensinamos que tal experiência Deus disponibilizou para
todos os crentes, homens e mulheres, jovens e idosos, escravos e livres (At
2.18) em todos os lugares e em todas as épocas (At 2.38, 39). – João Batista
disse: “Eu batizo vocês com água, para arrependimento; mas aquele que vem
depois de mim é mais poderoso do que eu, do qual não sou digno de carregar as sandálias.
Ele os batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11). Essa promessa
reaparece nas passagens paralelas (Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). O Senhor Jesus se
referiu a ela antes de sua ascensão (At 1.4) e acrescentou: “Porque João, na
verdade, batizou com água, mas vocês serão batizados com o Espírito Santo,
dentro de poucos dias” (At 1.5). Essa declaração vincula Mateus 3.11 com a
experiência do dia de Pentecostes (At 2.2-4). A prova disso é que o apóstolo
Pedro identificou a experiência de Cornélio (At 10.44-46) com a promessa
anunciada por João Batista e reiterada pelo Senhor Jesus (At 11.15-17). – A
declaração de Pedro significa que o acontecido em Pentecostes se chama batismo
no Espírito Santo, ou melhor, os cerca de 120 discípulos e discípulas foram batizados
no Espírito Santo. Há até não pentecostais que aceitam essa interpretação, que não
é nossa, vem do próprio Pedro: “Quando comecei a falar, o Espírito Santo caiu
sobre eles, como também sobre nós, no princípio. Então me lembrei da palavra do
Senhor, quando disse: ‘João, na verdade, batizou com água, mas vocês serão
batizados com o Espírito Santo’” (At 11.15, 16). Não será fácil refutar essa verdade
pentecostal. – O que na linguagem de Lucas é identificado como “batizar no Espírito
Santo” é descrito de diversas maneiras: “a promessa do Pai” (At 1.4) ou “do meu
Pai” e o “revestimento de poder” ou “poder do alto” (Lc 24.49), e ainda “dom do
Espírito Santo” (At 2.38; 10.45) e “virtude do Espírito Santo” (At 1.8). A
Bíblia descreve essa experiência de diversas maneiras: “Todos ficaram cheios do
Espírito Santo” (At 2.4), “derramarei o meu Espírito” (Jl 2.28) ou “derramarei
do meu Espírito” (At 2.17 ARC), “caiu o Espírito Santo sobre todos os que
ouviam a palavra” (At 10.44), “Quando comecei a falar, o Espírito Santo caiu
sobre eles” (At 11.15); “o Espírito Santo veio sobre eles, tanto falavam em
línguas como profetizavam” (At 19.6). Essas, pois, são as descrições do batismo
no Espírito Santo. – São dois pontos fundamentais sobre o conceito do pentecostalismo
clássico de batismo no Espírito Santo: a) trata-se de uma experiência
espiritual do crente com o Espírito de Deus separada da conversão, na qual ele
“entra em uma nova fase em relação ao Espírito”; b) tem o falar em línguas,
glossolalia, como evidência física inicial do batismo. Essa é a doutrina das Assembleias
de Deus conforme a nossa confissão de fé. Esses pontos doutrinários têm
fundamentos sólidos no Novo Testamento que serão apresentados no presente
estudo. – Todos os registros no Novo Testamento de pessoas que foram batizadas
no Espírito Santo já eram crentes, ou seja, eram discípulos de Jesus. Começando
pelo dia de Pentecostes, depois vêm as experiências dos samaritanos, de Saulo
de Tarso, de Cornélio e dos 12 discípulos de Éfeso. É possível alguém admitir que
nenhum deles era crente quando foram batizados no Espírito? São cinco relatos e
três deles com a evidência inicial das línguas. – A começar pelos discípulos no
Pentecostes. Jesus havia dito aos doze que seus nomes estavam escritos no céu:
“No entanto, alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, e sim porque
o nome de cada um de vocês está registrado no céu” (Lc 10.20). Todos os crentes
têm o Espírito Santo, esse é o pensamento paulino (Gl 3.1-5). Não existe
cristão sem o Espírito Santo: “E, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse
tal não é dele” (Rm 8.9). Não faz sentido dizer que aquelas quase 120 pessoas
reunidas no cenáculo não eram crentes. – A expressão “ser cheio do Espírito
Santo” deve ser entendida à luz do seu contexto. Nem sempre significa o batismo
no Espírito (At 4.8; 13.9; Ef 5.18), mas, no Pentecostes, “todos ficaram cheios
do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito
lhes concedia que falassem” (At 2.4), isso se refere ao batismo, pois o
contexto confirma isso, como já foi demonstrado.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Muitos têm dúvidas quanto à
natureza do Batismo no Espírito. Há os que a confundem com a da salvação. Você
pode aproveitar essa oportunidade para desfazer essa confusão, perguntado a
respeito dessa questão.
Ao expor o primeiro tópico,
explique que o Batismo no Espírito Santo não é salvação, pois ele diz respeito
à experiência de poder para o serviço; enquanto a salvação é uma experiência de
regeneração e justificação do pecador.
Todos que foram regenerados,
justificados, ou seja, salvos pela graça de Deus, podem receber o Batismo no
Espírito Santo. Essa experiência aprofunda mais a nossa comunhão com Deus,
potencializa o nosso serviço no Reino e permite caminhar em fervor na vida
cristã. Assim, atue em favor de que a sua classe não confunda Batismo no
Espírito Santo com Salvação, pois são experiências distintas na vida do crente.
II. O PROPÓSITO DO BATISMO NO ESPÍRITO
Considerando que ser batizado no
Espírito Santo não é salvação, e ambas as experiências são coisas distintas,
como verdade pentecostal fundamentada de maneira robusta no Novo Testamento,
então, é necessário saber qual o propósito desse batismo.
1. Finalidade. O propósito central é a capacitação do Espírito para o serviço divino
como: a) o poder para uma vida santa e serviço eficaz; b) a
pureza ou a santificação simbolizada pelas línguas de fogo (Mt 3.11; At
15.8,9); c) o revestimento pleno do poder de Deus, “todos foram cheios
do Espírito Santo”; d) a proclamação ou o testemunho de Cristo (At
1.8) concedido de várias formas pelo Espírito: “segundo o Espírito Santo lhes
concedia que falassem”.
2. A capacitação do Espírito. É do conhecimento da maioria que a ideia do termo “batismo” é imersão;
ser batizado significa ser mergulhado. As expressões como “derramar” o Espírito
sobre os irmãos e as irmãs ou “serem cheios” do Espírito para se referir ao
batismo no Espírito Santo podem lançar luz sobre o propósito dessa promessa,
pois, ser imerso significa capacitação. Isto é, revelação dos mistérios de Deus
(Ef 3.5), poder para testemunhar de Jesus (At 1.8), profetizar (At 11.28),
realizar milagres (Rm 15.19).
3. Uma necessidade real e
atual. O Espírito Santo veio no dia de Pentecostes porque
os discípulos precisavam que a sua mensagem fosse revestida de poder para
salvar os pecadores (Lc 24.47-49; At 1.8). Como receber esse batismo? É o
Senhor Jesus que batiza (Mt 3.16; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.33). Todos os crentes
devem buscar essa promessa para a sua edificação e crescimento espiritual. Não
existem regras rígidas no Novo Testamento para recebê-lo, pois Deus atende a
casos individuais de modos diferentes, mas é necessário arrependimento sincero,
fé nas promessas do batismo no Espírito, oração e paciência (At 2.38,39; Lc
11.9-13). – No dia de Pentecostes, “todos foram cheios do Espírito
Santo” (At 2.4), que no presente contexto, como já foi explicado, significa ser
batizado no Espírito Santo. Esse batismo é a plenitude do Espírito na vida de
quem tem Jesus no coração. Isso significa o revestimento do poder de Deus para
o serviço divino, a capacitação do Espírito para que todos possam testemunhar
de Jesus com liberdade e ousadia (At 1.8). Mas, convém deixar claro que “ser cheio
do Espírito” pode indicar outros fenômenos como ministério profético (Lc 1.15),
profecia (1.41, 67), testemunho (At 4.8, 31), realização de milagres (Rm 15.19)
entre outros. O contexto esclarece o significado da expressão. Esse tema será
retomado no capítulo 9, “Vivendo o fervor espiritual”. – O relato do
Pentecostes (At 2.1-13) revela três sinais distintivos que mostram a ação
divina por ocasião da descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes: “um som,
como de um vento impetuoso”, vindo do céu (At 2.2); a visão das línguas “como
de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (v. 3) e o falar em línguas,
“Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas,
segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (v. 4). Os dois primeiros sinais
não se repetem nunca mais. Isso acontece porque foram manifestações anunciando
a chegada do Espírito Santo, alguém tão importante quanto o Filho. Assim, o som
soava como vento, mas não era vento, e da mesma forma a visão não era fogo, mas
lembrava o fogo de Deus (Êx 3.2; 1 Rs 18.38). Foi um acontecimento singular,
algo que ocorre só uma vez. Era a manifestação do poder de Deus. – Esse milagre
é evidenciado pelo contexto da narrativa. A reação dos peregrinos que estavam
em Jerusalém para o dia de Pentecostes corrobora com o pensamento dos
pentecostais clássicos. “Todos, atônitos e perplexos, perguntavam uns aos outros:
— O que será que isso quer dizer? Outros, porém, zombando, diziam: — Estão
bêbados!” (At 2.12, 13). Os peregrinos ficaram admirados com tudo o que viam e
ouviam, e alguns deles pensaram até que o grupo de Jesus estava embriagado. A
pergunta deles: “O que será que isso quer dizer?” E a resposta dos escarnecedores:
“estão bêbados”, são sinais claros de que “as outras línguas” do Pentecostes
não eram idiomas humanos reais. Esses detalhes são evidências robustas de que
se trata de línguas ininteligíveis ou extáticas. – Os peregrinos de Jerusalém
presenciaram as línguas, e o apóstolo Pedro explica: “Mas o que está
acontecendo é o que foi dito por meio do profeta Joel” (At 2.16). Isto o quê? O
derramamento do Espírito com todos os sinais e, dentre eles, a glossolalia. O
apóstolo continua no seu sermão que os últimos dias já começaram e, desde
então, homens e mulheres, jovens e anciãos, servos e livres, independentemente
do seu status social ou posição na igreja são todos
moradas do Espírito: “E acontecerá nos últimos dias, diz Deus, que derramarei o
meu Espírito sobre toda a humanidade. Os filhos e as filhas de vocês
profetizarão, os seus jovens terão visões, e os seus velhos sonharão. Até sobre
os meus servos e sobre as minhas servas derramarei o meu Espírito naqueles
dias, e profetizarão” (At 2.17, 18). Esse discurso de Pedro é uma citação ipsis
litteris de Joel 2.28,29, exceto a frase, “nos últimos dias, diz Deus”
(v. 17) e a expressão, “e profetizarão” (v. 18). – Ser batizado no Espírito
Santo é uma experiência distinta da conversão e que capacita o cristão para
testemunhar de Jesus e ter uma vida cristã abundante e vitoriosa. Essa
manifestação do Espírito é atual e concedida a quem a buscar com fé,
obediência, humildade e persistência (Lc 11.9-13), cujo sinal físico, visível
inicial do recebimento é o falar em línguas. A promessa de ser batizado no Espírito
Santo é para toda a Igreja. Isso engloba todos os cristãos em todos os lugares
e em todas as épocas, de modo que as línguas são inseparáveis. Dos três sinais
manifestos no dia de Pentecostes com a descida do Espírito Santo, somente o
“falar em outras línguas” veio para ficar, e ele se repete ainda hoje.
SUBSÍDIO PEDAGÓGICO-TEOLÓGICO
Ao finalizar este tópico,
pergunte se ser “batizado no Espírito Santo” é o mesmo que ser “cheio do
Espírito”. Ouça as respostas. É corriqueiro muitos acharem que é a mesma coisa,
mas sem atentarem para a complexidade dessas expressões de acordo com Lucas, em
Atos, e Paulo, em Efésios.
Responda à pergunta mostrando que
a expressão “cheio do Espírito Santo” tem conotações distintas. Em Lucas
(Atos), ela revela uma capacitação para o serviço; em Paulo (Efésios), a
questões de caráter, vida santa. Para fundamentar melhor essa resposta, leve em
conta a seguinte explicação do professor Gutierres Siqueira: “A terminologia
‘cheio do Espírito Santo’ tem o significado nos escritos de Lucas e de Paulo?
Os teólogos pentecostais respondem que não, pois ser ‘cheio do Espírito Santo’
em Lucas está relacionado ao serviço e à mordomia cristã, enquanto que ser
‘cheio do Espírito Santo’ em Paulo está implicitamente ligado a questões de
caráter e santidade. Longe de ser uma contradição, há um verdadeiro
complemento, pois como servir sem o caráter cristão? Como manifestar os traços
de Cristo e ainda permanecer inerte diante do serviço para o Reino de Deus? O
que deve ficar claro na mente dos leitores da Bíblia é que ‘Batismo no Espírito
Santo’ pode ser associado a ‘ser cheio do Espírito’ em Lucas, mas não nas
epístolas paulinas. Sem dúvida, o contexto ministerial de ambos determinou a
ênfase diferenciada” (SIQUEIRA, Gutierres Fernandes. Revestidos
de Poder: Uma Introdução à Teologia Pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2018, p. 83).
III. O RECEBIMENTO E A EVIDÊNCIA
DO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO
Nem todos os crentes em Jesus
são batizados no Espírito Santo, apesar de a promessa divina ser para todas as
pessoas que se convertem ao Senhor Jesus em todos os lugares e em todas as
épocas; mas todas elas têm o Espírito Santo (Rm. 5.5).
1. As “outras línguas”. As “outras línguas”, a glossolalia, são ininteligíveis, e evidência
externa, física e inicialmente o batismo no Espírito Santo (vv.3,4). Mas, não
só isso. Note que a nossa Declaração de Fé das Assembleias de Deus acrescenta:
“mas somente a evidência inicial, pois há evidência contínua da presença
especial do Espírito como o ‘fruto do Espírito’ (Gl 5.22) e a manifestação dos
dons (1 Co 14.1)”. Sua fonte é o próprio Espírito Santo (vv.8, 11). Em línguas
os discípulos falavam “das grandezas de Deus” (v.11) e, na casa de Cornélio, todos
“os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” (At 10.46).
2. Função das línguas. Elas sinalizam a presença do Espírito. O dom de línguas, pelo que se vê
nos capítulos 12 a 14 de 1 Coríntios, está associado à oração pessoal (1 Co
14.13-23). As línguas, em Atos, indicam o recebimento do poder profético
(2.4,17; 19.6). As línguas nas cartas paulinas são também importantes, pois o
apóstolo as descreve como língua do Espírito, por meio dais quais conversamos
com Deus em mistério; por meio delas oramos em espírito e louvamos a Deus (1 Co
14.14,16,17). Esse dom, sem dúvida, é muito útil para a oração, as devoções
pessoais e o desenvolvimento de nossa sensibilidade ao Espírito (1 Co 14.2).
Foram as línguas que sinalizaram o batismo de Cornélio (At 10.47). Que sinal
tangível levou Simão Samaritano a desejar esse dom? (At 8.18).
3. Atualidade das línguas. A promessa de ser batizado no Espírito Santo é para toda a Igreja. Isso
engloba todos os cristãos em todos os lugares e em todas as eras (Jl 2.28-32;
At 2.16-21), de modo que as línguas são inseparáveis do batismo no Espírito.
Dos três sinais sobrenaturais manifestos no dia de Pentecostes com a descida do
Espírito Santo, somente o “falar em outras línguas” (v. 4) veio para ficar, ele
se repete (At 10.44-47; 19.6). Mas, os outros dois: “um som, como de um vento
veemente e impetuoso” (v.2) e “línguas repartidas, como que de fogo” (v.3)
ocorreram uma só vez, e eles não se repetem nunca mais. – São
duas as marcas distintivas do pentecostalismo clássico, “batizar ou ser
batizado no Espírito Santo” como algo distinto da conversão, trata-se de uma
experiência subsequente à salvação, como capacitação para o serviço, e a
identificação do falar em línguas como evidência física inicial do batismo no
Espírito. – O falar línguas é a evidência física inicial que indica que o irmão
ou a irmã foi batizado no Espírito Santo, “mas somente a evidência inicial,
pois há evidência contínua da presença especial do Espírito como o “fruto do
Espírito” (Gl 5.22) e a manifestação dos dons (1 Co 14.1)”. Esse é o resultado
de muitos debates desde os pioneiros do pentecostalismo moderno como Charles
Fox Pahram e William J. Seymour, esse último liderou o movimento da Rua Azusa.
Outros líderes surgiram não somente em Los Angeles, na Califórnia, como também
no estado do Texas, em Topeka e Houston, em Chicago, no estado de Illinois, em
Nova Iorque e também em diversas regiões da Europa, como Alemanha, Inglaterra e
Suíça. Mas, foi na primeira Conferência Mundial Pentecostal, organizada em
Zurique, Suíça, 1947, que afirmou a doutrina da evidência inicial. – Charles
Fox Pahram, um itinerante metodista convertido ao movimento Holiness e pregador
de curas pela fé, é tido por muitos como o fundador do pentecostalismo. Ele
influenciou o movimento com o pensamento único do falar em línguas como evidência
do batismo no Espírito Santo. Mas, isso já havia sido ensinado na Grã-Bretanha.
Cerca de 75 anos antes do avivamento da Rua Azusa, Edward Irving (1792-1834),
teólogo presbiteriano escocês, que, segundo o Dicionário
do Movimento Pentecostal, foi o precursor do movimento pentecostal, fundou em
Londres a Igreja Apostólica Católica, que não sobreviveu tempo o suficiente
para se juntar aos pentecostais do século 20. Um discípulo de Pahram, William
J. Seymour, liderou o movimento da Rua Azusa a partir de 1906. Houve divergências
entre os pioneiros do pentecostalismo clássico, cuja posição nunca foi monolítica.
Vamos às Escrituras. O fenômeno, “falar em outras línguas”, aparece
explicitamente três vezes associado diretamente a ação divina de batizar no Espírito
Santo (At 2.4; 10.44-48; 19.1-7). – A narrativa de Atos 2.1-13 mostra que as línguas
do Pentecostes são ininteligíveis, a glossolalia, que se distinguem das línguas
humanas reais. Lucas emprega dois termos gregos para “línguas” na narrativa do
dia de Pentecostes: glo¯ssa (vv. 3, 4, 11)
e dialektos (vv. 6, 8). Glo¯ ssa significa “língua”,
como fala, linguagem, “idioma” e também membro ou órgão físico da boca (Tg
3.5), que aparece metaforicamente no relato de Lucas: “E apareceram, distribuídas
entre eles, línguas, como de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (v.
3). Ao serem cheios do Espírito Santo, os discípulos e as discípulas “começaram
a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” (v.
4). A exegese das línguas permite os pentecostais clássicos interpretarem o
falar em línguas como um dom do Espírito e de natureza ininteligível. – A
palavra “outras” em grego é heteros,
assim: lalein heterais glo¯ ssais significa
“falar em outras línguas”. Segundo o Dicionário
Vine, o adjetivo heteros
“expressa uma diferença qualitativa e denota ‘outro’
de tipo diferente”. Lucas está falando de uma língua que só pode ser
compreendida por um milagre. – O falar em línguas revela as grandezas de Deus: “todos
os temos ouvido em nossas próprias línguas falar das grandezas de Deus” (v.
11). E quando Cornélio com sua família e amigos foram batizados no Espírito
Santo, o apóstolo Pedro e a sua comitiva: “os ouviam falar em línguas e
magnificar a Deus” (At 10.46). Nessas línguas, glo¯ ssai, plural de glo¯ ssa, eles
magnificam a Deus como em Pentecostes, eles falavam das grandezas de Deus. Mais
adiante, o apóstolo Paulo revela que o dom de línguas é a linguagem do Espírito
(1 Co 14.15). O termo grego para “línguas”, no derramamento do Espírito em
Pentecostes, na casa de Cornélio e nos discípulos de Éfeso, é glo¯ ssa (At 10.46;
19.6).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Falar em Línguas É bom para Você
Dos nove dons espirituais
mencionados em 1 Coríntios 12.8-10, somente a um atribui-se a força da
edificação pessoal. ‘O que fala língua estranha edifica-se a si mesmo’ (1 Co
14.4). E acrescentou Paulo: ‘Quero que todos vós faleis línguas estranhas’ (1
Co 14.5), e ‘Dou graças ao meu Deus, porque falo mais línguas do que vós todos’
(1 Co 14.18). Certamente não há autoridade maior que Paulo neste assunto. Ele
não poderia ser chamado de ‘teórico’. Seus ensinos vieram de experiências
pessoais na escola do Espírito. E o Espírito dirigiu-o em suas instruções aos
coríntios.
O termo grego oikodom, empregado
por Paulo e traduzido como ‘edificar’ ou ‘edificação’, significa formar ou ser
formado. A aplicação deste termo ao homem espiritual conduz a ideia de crescimento
e desenvolvimento do espírito. Que belo! O homem que demonstra evidência de
grande crescimento e desenvolvimento espiritual é o mesmo que testemunha: ‘falo
mais línguas do que vós todos’. Neste ponto, há uma lição para todos nós” (BRANDT, R. L. Falar em Línguas o Maior Dom:
Pentecostais, falta-nos algo? 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p. 46).
CONCLUSÃO
O que todo o povo pentecostal
precisa saber sobre o tema da lição? Que ser batizado no Espírito Santo é uma
experiência distinta da conversão e que capacita o cristão para testemunhar de
Jesus e ter uma vida cristã abundante e vitoriosa. Que essa manifestação do
Espírito é atual e concedida a quem a buscar com fé, obediência, humildade e
persistência; cujo sinal físico, visível inicial do recebimento é o falar em
línguas. – As línguas do batismo no Espírito Santo e as do dom
de variedade de línguas são as mesmas. Elas procedem de uma mesma fonte, o Espírito,
e são ininteligíveis. Elas se tornam compreensíveis por meio do dom de
interpretação (1Co 14.27, 28). O apóstolo Paulo nos ensina sobre a natureza do
dom de línguas, elas são espirituais: “Porque o que fala língua estranha não
fala aos homens, senão a Deus; porque ninguém o entende, e em espírito fala de
mistérios” (1 Co 14.2). O falar em línguas é a linguagem do Espírito, da
edificação, da adoração e do louvor (1 Co 14.15). O apóstolo afirma ainda que
fala mais línguas que todos os coríntios (1 Co 14.18), e ele estava longe de
ser um mero teórico, era homem de experiências profundas com o Espírito Santo
(1 Co 2.12; 7.40).
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 1º
Trimestre 2020 - Lição 3. Rio de Janeiro: CPAD, 16, jan. 2021.
SOARES, Esequias. O
verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a
atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997
WIERSBE, Warren W.
Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento, v. I, p. 454. Santo
André: Geográfica, 2007.
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