SUBSÍDIO I
A ORIGINALIDADE DE SAMUEL
Para uma visão panorâmica do
conteúdo de 1 e 2 Samuel, faremos um passeio em aspecto geral, no afã de situar
você, leitor, no contexto, a fim de que possa assimilar bem o que nele está
proposto.
Ao abrir a Bíblia Hebraica Stuttgartensi,
logo você lerá Shemoel a
b b (a, b) e, na Septuaginta,
Basileion A. B. G. D. O Cânon Hebraico apresenta 1 e 2 Samuel
como um só livro, ou seja, sem a divisão que consta em nossas Bíblias em
português. Diversos nomes aparecem nas páginas desses dois livros, mas o
protagonista é Samuel, ainda que a ênfase sobre ele seja mais forte nos
primeiros quinze capítulos do primeiro livro. Já no segundo, seu nome não
aparece, mas ele continua sendo o personagem influente. O doutor Champlin,
nesse particular, pontua:
O nome do livro deriva-se de uma
das três personagens principais da obra, o profeta Samuel. Ele aparece, com
preeminência, nos primeiros quinze capítulos de I Samuel. E, mesmo depois que a
história passa a gravitar em torno, primeiramente, de Saul, então, de Saul e
Davi, e, finalmente, de Davi apenas, Samuel continua aparecendo como uma das
três personagens principais do relato, até a sua morte [...] (1Sm 25.1).
Particularmente, podemos
asseverar que isso se deve ao fato de ele haver ungido os dois primeiros reis
de Israel, Saul e Davi, o que se tornou algo indelével, mas, talvez, essa
ênfase nos dois livros resulte de sua forte influência como profeta de Deus. No
segundo livro que leva seu nome, Samuel não aparece mais, posto que a última
referência a ele consta em 1 Samuel 28.20.
O nome de Samuel é
forte nos dois livros, sendo que só no primeiro ele é citado 125 vezes. Em
diversos outros livros das Escrituras Sagradas, seu nome também aparece, como
em Crônicas, Salmos, Jeremias, Atos e Hebreus. No geral, perfaz um total de 136
vezes que seu nome é citado. Quanto a essa ênfase constante do nome de Samuel,
podemos estar convictos de que não se trata de mera casualidade, mas de dois
fatores preponderantes: a presença do Senhor em sua vida e a sinceridade em
suas palavras.
E crescia Samuel, e o Senhor era
com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra. E todo o
Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta
do Senhor. (1 Sm 3.19,20)
Em sua origem, como dissemos, no
hebraico, esses livros eram um só. A alteração se dá com o surgimento da Septuaginta (LXX) e
daí surge a divisão em dois — 1 e 2 Samuel —, os quais eram denominados Livros
dos Reinos. Nessa época, também os livros de 1 e 2 Reis, como aparecem em
nossas Bíblias, eram chamados de Livros dos Reinos III e IV. No Comentário Bíblico Beacon — Josué a
Ester, os autores dizem:
Na Septuaginta, a tradução
grega do Antigo Testamento hebraico, os volumes originalmente não divididos
foram separados. Os dois livros de Samuel foram chamados de Primeiro e Segundo
dos Reinos, e os nossos 1 e 2 Reis eram chamados de Terceiro e Quarto dos
Reinos. Jerônimo adotou nomes similares na Vulgata
Latina, a fim de chamá-los de Primeiro, Segundo, Terceiro e
Quarto Reis, uma prática refletida nos subtítulos da versão inglesa do rei
Tiago, conhecida como “King James Version”, ou apenas KJV. O primeiro Livro de
Samuel, outrora chamado de o Primeiro Livro dos Reis e o Primeiro Livro de
Reis, comumente chamado de O Terceiro Livro dos Reis.
Por vezes alguém pode perguntar
qual o propósito das alterações no nome desses livros e se isso afeta a questão
da inspiração. Podemos dizer que nada disso implica na matéria da inspiração,
mas que se trata apenas de um recurso didático.
Vale ressaltar que
é importante que entendamos a citação dos livros dentro do Cânon Hebraico,
também feita por Jesus Cristo (Lc 24.44). Segue então essa estrutura no
hebraico:
• Lei. Os cinco livros: Gênesis,
Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
• Os profetas. Estão arrolados em oito livros.
- Os primeiros quatro livros são
chamados de profetas anteriores: Josué, Juízes, Samuel, Reis.
- Profetas posteriores, mais quatro livros, os quais envolvem os primeiros três profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel. - Profetas menores, um livro, mencionando os outros doze profetas.
• Os Kethubhim ou Escrituras. Esses são em número de onze livros, os quais podem ser classificados assim:
- Os poéticos. São três livros: Salmos, Provérbios, Jó.
- Profetas posteriores, mais quatro livros, os quais envolvem os primeiros três profetas maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel. - Profetas menores, um livro, mencionando os outros doze profetas.
• Os Kethubhim ou Escrituras. Esses são em número de onze livros, os quais podem ser classificados assim:
- Os poéticos. São três livros: Salmos, Provérbios, Jó.
- Os cinco rolos ou Megilloth.
Cantares de Salomão, Rute, Lamentações de Jeremias, Eclesiastes, Ester.
- Os três livros históricos: Daniel, Esdras (com Neemias), Crônicas.
- Os três livros históricos: Daniel, Esdras (com Neemias), Crônicas.
Esses livros fazem
um total de 24 do Antigo Testamento no Cânon Hebraico, o que, nas nossas
Bíblias, corresponde a um total de 39 livros. Em que se baseia a contagem
diferente? Podemos responder a essa pergunta usando as palavras do Dr. Turner,
em sua Introdução ao
Velho Testamento:
Os livros históricos, Reis,
Crônicas, e Esdras-Neemias, são por nós divididos em duas partes ou livros dos
profetas menores, que os hebreus consideravam como um livro só, fazem com que
24 livros mais 11 livros sejam os mesmos 39 livros que temos em nossas Bíblias.
Ocasionalmente os judeus uniam Rute com Juízes e Lamentações com Jeremias,
perfazendo assim um total de somente 22 livros. (Isso correspondia às letras do
alfabeto hebraico).
É bom levar em consideração que
o livro de Samuel é da categoria dos profetas anteriores, incluindo ainda os
livros de Josué, Juízes, Samuel e Reis. Essa classificação se dá simplesmente
pelo fato de relatarem a história que começa com a morte de Moisés indo até o
desfecho do reino. A inclusão de Daniel como histórico, e não profético, é
resultado de dois fatores: primeiramente, ele não era considerado profeta,
ainda que tenha profetizado; em segundo lugar, a metade do seu livro se
enquadra em um conteúdo histórico.
Portanto,
precisamos entender que, no tocante à organização e mudança de nomes presente
em alguns livros, como no caso do Hebraico para o Grego (LXX), nada disso afeta
a inspiração da Palavra, mas apenas é uma questão que busca auxiliar o leitor.
Texto extraído da
obra “O governo
divino em mãos humanas”, editada pela CPAD
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Neste trimestre, estudaremos os livros históricos
de 1 e 2 Samuel. Veremos que eles mostram como Deus escolhia homens para reinar
sobre Israel. A partir de seus personagens principais - Samuel, Saul e Davi-,
perceberemos que os líderes do passado não eram infalíveis. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Iniciamos o
4º trimestre com o estudo destes livros bíblicos que nos legam conteúdo
histórico, profético, pedagógico, edificador e consolador. Começando com uma
nação desunida e entregue à idolatria, terminando com uma nação unida pela
monarquia e serviente ao Deus Verdadeiro. O papel desempenhado por Samuel, o
último juiz, não foi fácil, mas foi decisivo para a grande mudança nacional, no
campo espiritual seguido pelo campo material. Encontraremos as figuras de Saul
e Davi antagonizadas em torno da figura de Samuel. Nessa tríade, os eleitos
para o bem do povo, caberia não ab-rogar para si poder, títulos ou direito à
realeza, mas reconhecer em Deus o verdadeiro Rei - 1 e 2 Samuel aponta para as
condições do reinado de Deus com o seu povo. Ao final deste trimestre, veremos
que a iniciativa de pedir um rei, que parecia ter origem no desejo do povo,
pela lógica interna partiu do próprio Deus. Bom estudo e crescimento maduro na
fé cristã!
I. CONTEXTO
HISTÓRICO DE 1 E 2 SAMUEL
1. A originalidade de
Samuel. Originalmente, os
livros de 1 e 2 Samuel formavam uma só obra, assim como 1 e 2 Reis e 1 e 2
Crônicas. Os livros de 1 e 2 Samuel formam uma narrativa que trata da história
de Israel, a partir de sua entrada em Canaã (XII a.C.) até ao cativeiro na
Babilônia (587-586 a.C.). Eles não são apenas registros de fatos e de pessoas
do passado, mas são a Palavra de Deus indispensável ao nosso ensino, edificação
e consolação (2 Tm 3.16). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Nos manuscritos hebraicos mais antigos, os dois
Livros de Samuel formavam apenas um só livro; mais tarde, eles foram divididos
em dois pelos tradutores da Septuaginta; essa divisão foi seguida pela Vulgata e pelas traduções modernas na nossa língua e
no hebraico. Os primeiros manuscritos hebraicos classificam o Livro nos Nevi'im
(Profetas), com o primeiro livro chamado Shmû’ēl (שְׁמוּאֵל / Samuel),
homenageando assim, o Profeta que Deus usou para estabelecer o reino de Israel.
Os textos hebraicos subsequentes e as versões em português chamaram o livro
dividido de "1º e 2º Samuel", Na Septuaginta eles aparecem como
"O Primeiro e o Segundo Livros dos Reinos" e na Vulgata,
"Primeiro e Segundo Reis", diferentemente das nossas versões
protestantes, e os Livros de 1º e 2º Reis são chamados de "Terceiro e
Quarto fieis". Os acontecimentos dos Livros ocorreram no período
compreendido entre o ano 1105 a.C., com o nascimento de Samuel (1Sm 1.1-28),
até aproximadamente o ano de 971 a.C., com as últimas palavras de Davi (2Sm
23.1-7). Temos um período de aproximadamente 135 anos de História Judaica, com
sua transformação de um grupo de tribos unidas sob os Juízes a uma nação unida,
governada por uma monarquia centralizada.
2. Os personagens principais do
livro. Há vários
personagens importantes nesses livros, mas dentre eles, três se destacam:
Samuel, o profeta; Saul, o primeiro rei de Israel; e Davi, o homem segundo o
coração de Deus. A partir desses homens, os livros de Samuel, como os demais da
Bíblia, evidenciam o cuidado especial de Deus, bem como suas disciplinas,
justiça e misericórdia, a fim de polir a vida dos reis e do povo hebreu,
conforme seus propósitos (Tt 2.14; Hb 12.10). [Lições Bíblicas CPAD,
Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Os livros contemplam Samuel (1105-1030 a.C.), Saul,
que reinou no período de 1052-1011 a.C., e Davi, que foi rei da monarquia
unificada no período de 1011-971 a.C. Foi nesse período que Deus tratou com
Israel para lhe dar ‘cara’ de Reino. No início do primeiro Livro, Israel
encontrava-se espiritualmente deficiente. Os sacerdotes eram corruptos (1Sm
2.12-17,22-26), a arca da Aliança não estava no tabernáculo (1Sm 4.3—7.2),
havia prática de idolatria (1Sm 7.3-4) e os juízes eram desonestos (1Sm 8.2-3).
Mediante a influência piedosa de Samuel (1Sm 12.23) e Davi (1Sm 13.14), essas
condições foram revertidas. O segundo livro termina com a ira do Senhor sendo
afastada de Israel (2Sm 24.25).
3. O propósito de 1 e 2
Samuel. O propósito de 1 e
2 Samuel é relatar a história do reinado de Israel, partindo do estado de
anarquia' para a monarquia teocrática (Jz 21.25; cf. 1 Sm 10.1). Uma das lições
mais preciosas que esses livros nos ensinam é que o "obedecer é melhor do
que o sacrificar" (1 Sm 15.22). [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Os livros de Samuel demonstram as consequências
pessoais e nacionais do pecado. Tomemos os casos dos pecados de Eli e de seus
filhos, que resultaram na morte deles (1Sm 2.12-17,22-25; 3.10-14; 4.17-18); A
falta de reverência pela arca da Aliança levou à morte muitos israelitas (1Sm
6.19; 2Sm 6.6-7); A desobediência de Saul resultou em rejeição pelo Senhor, como
rei de Israel (1Sm 13.9,13-14; 15.8-9,20-23). Inclusive Davi, que embora tenha
sido perdoado dos pecados de adultério e assassinato depois de sua confissão
(2Sm. 12.13), ainda assim sofreu as inevitáveis e devastadoras consequências
deles (2Sm 12.14).
“Os livros de Samuel
relatam o período de transição da teocracia para a monarquia, e o
estabelecimento desta. A história começa nos dias finais dos juízes e nos deixa
com o velho Davi firmemente entronizado como rei de Israel e de Judá. Samuel e
Saul são os outros dois grandes personagens do livro. Samuel foi o último dos
juízes e o primeiro dos profetas. Homem de profunda piedade e discernimento
espiritual, dedicava-se totalmente à realização dos propósitos de Deus para o
bem de Israel. Embora não descendesse da linha genealógica de Arão, sucedeu a
Eli no cargo sacerdotal. Ao que parece, foi o primeiro a estabelecer uma
instituição para o preparo dos jovens que desejavam abraçar a vocação
profética. Viu-se na contingência de guiar a Israel em algumas das mais profundas
crises de sua história; no desempenho de suas funções quase alcança a estatura
de Moisés. Embora não tivesse ambições pessoais, achou-se no papel de
"fazedor de reis", comissionado para ungir a Saul, o primeiro rei, e
a Davi, o maior dos reis de Israel.” (BIBLIOTECABIBLICA)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
"Os
dois livros de Samuel são os primeiros dos seis livros duplos* que
originalmente não estavam divididos e que perfaziam um total de três: Samuel,
Reis e Crônicas. Samuel e Reis são encontrados no cânon hebraico ao lado de
Josué e Juízes em uma seção conhecida como 'Os Profetas Anteriores*. Juntos,
estes livros contêm o registro histórico iniciado por Josué e a travessia do
Jordão e estendem-se até o período do exílio babilônico" (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, p.175).
II. AUTORIA
E DATA
1. Título e autor. O nome de Samuel significa "nome de Deus" e o
título dos livros que levam o seu nome revela uma figura protagonista para
contar a história do povo de Deus. Segundo alguns estudiosos do Antigo
Testamento, e do aspecto externo dos livros, as duas obras são anônimas, assim
como os outros livros históricos. Entretanto, de acordo com os capítulos 1 ao
24 de 1 Samuel, o filho de Ana pode ser apontado como autor, e os demais
capítulos, atribuídos aos profetas Natã e Gade. Esse fato é possível, pois de
acordo com o aspecto interno dos livros históricos, os autores sagrados quase
sempre eram testemunhas oculares dos eventos que se sucediam (1 Cr 29.29). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Samuel pode significar "Deus Ouve" ou
"Nome de Deus". O autor é anônimo. Sabemos que Samuel escreveu um
livro (1Sm 10.25), e é muito possível que tenha escrito parte deste livro
também. Outros possíveis participantes de Samuel são os profetas Natã e Gade
(1Cr 29.29).
“A tradição judaica
atribuía a autoria de "Samuel” ao próprio Samuel ou a Samuel, Natã e Gade
(com base em ICr 29.29). Mas Samuel não pode ser o autor já que sua morte foi
registrada em ISm 25.1, antes mesmo dos acontecimentos associados ao reino de
Davi. Além disso, Natã e Gade foram profetas do Senhor durante a vida de Davi,
e não estariam vivos quando o livro de Samuel foi escrito. Embora os registros
escritos desses três profetas pudessem ter sido usados como fonte de informação
para escrever 1 e 2Samuel, o autor humano desses livros é desconhecido. Essa
obra chega ao leitor como uma composição anônima, ou seja, o autor humano fala
em nome do Senhor e dá a interpretação divina dos acontecimentos narrados. Os
livros de Samuel não contêm qualquer indicação clara da data de sua composição.
Que seu autor os escreveu depois da divisão do reino entre Israel e Judá em 931
a.C., é evidente por causa das muitas referências feitas a Israel e Judá como
entidades distintas (ISm 11.8; 17.52; 18.16; 2Sm 5.5; 11.11; 12.8; 19.42-43; 24.1,9).
Também, a declaração de que "Ziclague pertence aos reis de Judá, até ao
dia de hoje" em 1Sm 27.6 nos apresenta uma clara evidência de que este foi
escrito em data pós-salomônica. Entretanto, não existe essa clareza sobre qual
seja a data mais tardia possível para a
composição. Entretanto, no cânon hebraico,
1 e 2Samuel foram incluídos nos Profetas Anteriores, junto com Josué, Juízes e
l e 2Reis. Se os “Profetas Anteriores foram compostos como uma unidade, então
Samuel deve ter sido escrito durante o cativeiro babilônio (c. 560-540 a.C.),
já que 2Reis termina durante d exílio (2Rs 25.27-30). Contudo, como Samuel
possui um estilo literário distinto do de Reis, é muito provável que tenha sido
escrito antes do exílio, durante o período do reino dividido (c. 931-722 a.C.)
sendo que posteriormente passou a fazer parte dos Profetas Anteriores.” (Bíblia
de Estudo MacArthur, SBB. Introdução ao Primero Livro de Samuel, pág 435).
2. A data dos livros. Os estudiosos apresentam as datas entre 1.100 e 970 a.C. Essa
data marca os acontecimentos históricos desde o nascimento de Samuel ao término
do reinado de Davi. Assim, crê-se que Samuel nasceu em aproximadamente 1.100
a.C., e começou a exercer a função de líder provavelmente no ano 1.070, depois
de cinco anos que o sacerdote Eli havia morrido. Os especialistas do Antigo
Testamento afirmam que o reinado de Davi foi entre 1.010 e 970 a.C., assim,
podemos avaliar que o período geral dos livros de 1 e 2 Samuel é de
aproximadamente 130 anos. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Originalmente, os livros de 1 e 2 Samuel eram um só
livro. Os tradutores do Septuaginta os separaram, e desde então temos mantido
essa separação. Os eventos de 1 Samuel ocorreram durante um período de 135
anos, a partir de 1105 a.C. com o nascimento de Samuel (1Sm 1.1-28), até
aproximadamente o ano de 971 a.C., com as últimas palavras de Davi (2Sm
23.1-7).
3. A situação espiritual. Samuel cresceu em Siló. Nesse lugar praticavam-se os mais
degradantes pecados pelos filhos do sacerdote Eli. A idolatria e a imoralidade
eram os pecados dominantes na nação (1 Sm 7.3). Em Israel, o sacerdote do povo
era Eli, mas ele se deixou levar pelos filhos, honrando-os mais que ao Senhor
Deus. Ele não lhes aplicou a disciplina necessária, mesmo sabendo de todos os
atos pecaminosos de seus filhos (1 Sm 2.29). Esse quadro desolador gerou
consequências espirituais irreparáveis ao povo de Israel: religiosidade
aparente, espiritualidade superficial e um sacerdócio descomprometido com Deus
(1 Sm 2.22,23). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Note que pela exortação de Samuel no capítulo 7.3, o
povo andava desviado do Senhor e seguindo os baalins [Divindades
cultuadas por alguns povos antigos, especialmente pelos Cananeus, habitantes de
Canaã, terra prometida a Abraão, antes da chegada dos judeus. Etimologia
(origem da palavra baalins). Plural de baalim, de baal, do hebraico Bahal. (DICIO)] e
os astarotes [Astarote era o nome da principal divindade fêmea
adorada na antiga Síria, Fenícia e Canaã. Os fenícios a chamavam de Astarte, os
assírios a adoravam como Ishtar, e os filisteus tinham um templo de Astarote (1
Samuel 31:10). Por causa da conquista incompleta de Israel da terra de Canaã, a
adoração de Astarote sobreviveu e atormentou Israel, começando assim que Josué
foi morto (Juízes 2:13).(GOTQUESTIONS)].
Predominantes no panteão cananeu, essas divindades eram deuses da fertilidade
que infestavam Israel. "Baal" e “Astarote" representam a
pluralidade da majestade, representando a suprema autoridade sobre as demais
divindades dos cananeus. Astarote representava a deusa feminina, enquanto Baal
representava o deus masculino do céu que fecundava a terra. Essa prostituição
cultual está bem clara no capítulo 2.22,23 quando é retratado que os filhos de
Eli se deitavam com as mulheres. Fazia parte do comportamento depravado dos
filhos de Eli manter relações sexuais com as mulheres que ministravam no
tabernáculo (veja Êx 38.81). Esse tipo de prostituição religiosa era comum
entre os vizinhos de Israel, os cananeus. Não era apenas uma “religiosidade
aparente, espiritualidade superficial e um sacerdócio descomprometido com Deus”,
mas era sinal claro de desvio do Senhor e de uma religião mista, unindo
elementos cúlticos pagãos com os elementos do culto ao Senhor.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Reproduza
o esquema abaixo a fim de apresentar os dois livros de Samuel:
1 SAMUEL
|
2 SAMUEL
|
I. O Ministério de Samuel
(1 Sm 1.1-8.22);
II. Saul tornou-se
rei (1 Sm 9.1-15.35);
III. Saul e Davi (1
Sm 16.1-31.13).
|
I. O Reino de Davi (2
Sm 1.1-20.26);
II. Um apêndice (2 Sm
21.1-24.25)
|
III. A TEOLOGIA NOS LIVROS DE
SAMUEL
1. Profecias cumpridas. Eruditos concordam que há ensinos robustos na estrutura textual dos
livros de 1 e 2 Samuel. Por exemplo, profecias cumpridas na história e mudanças
que ocorreram na estrutura social da nação estão patentes em 1 Samuel 7 e 12, e
2 Samuel 17. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 1, 6
Outubro, 2019]
A mudança maior e principal foi na estrutura
espiritual, marcando o momento em que Israel negligenciou a Deus e correu atrás
de deuses estrangeiros e quando voltou para o Senhor. Evidencia disso está em
1Sm 7.3 com a exortação: “preparai o coração ao SENHOR... e ele vos livrará”.
Essa declaração relembra o ciclo registrado no livro de Juízes: apostasia,
opressão, arrependimento e livramento. Depois do arrependimento nacional e volta
ao Senhor, os filisteus são vencidos, eles pedem um rei, Samuel unge a Saul rei
de Israel; evidência de transformação social como fruto da transformação
espiritual. Se quisermos ver uma diferença neste mundo tenebroso, precisamos
testemunhar de Cristo, para que haja uma transformação espiritual, em consequência,
virá uma transformação social. Também fica um convite a pensarmos em que tipo
de evangelho temos pregado em nossa nação, no Novo Testamento onde o Evangelho
chegou, houve transformação na sociedade; que transformação temos produzido na
Brasil?
2. Em busca de um rei. Samuel era um líder preocupado com o crescimento espiritual da nação.
Por isso ele está presente no momento em que o povo israelita pede para si um
rei. Como homem de Deus, Samuel declara sua sinceridade, transparência e
retidão no exercício sacerdotal (1 Sm 12.1-5). Assim, ele pediu que o povo
considerasse o que o Altíssimo havia feito por eles, mesmo diante do ato de
rebelião contra Deus (1 Sm 12.24). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º
Trimestre 2019. Lição 1, 6 Outubro, 2019]
O povo de Israel olha para os seus vizinhos e
desejam ser como eles, deseja ter um rei (1Sm 8.5). Samuel, insatisfeito com
esse pedido do povo, recorre ao Senhor e obtém a resposta: não é a liderança de
Samuel que o povo rejeitou com esse pedido, mas a liderança do Senhor o Rei de
Israel em última instância! Depois de alertar o povo do que implicaria ter um
rei, Samuel unge Saul, coroando-o em Mispa (1Sm 10.17-25). De acordo com Dt
17.14, Deus sabia que esse seria o desejo do povo e permitiria que assim o
fosse. No entanto, 1Sm 8.20 revela um motivo que era definitivamente contrário
à vontade do Senhor: o desejo de Israel era substituir seu Rei, o Senhor, por
um rei como o das outras nações. Foi assim que Israel rejeitou o Senhor. O
problema não era ter um rei, mas sim a razão pela qual o povo queria um rei, ou
seja, para ser como as outras nações. De maneira insensata; também achavam que
haveria mais poder se tivessem um rei para liderá-los nas batalhas.
3. Os alicerces da dinastia davídica. No capítulo 7 de 2 Samuel há o estabelecimento profético da dinastia de
Davi. Ela surge pela ordem do Senhor. A Bíblia mostra que não obedecer a
vontade de Deus levou muitos reis a tornarem-se escravos deportados e, depois,
assassinados, como aconteceu com Joaquim e Zedequias (2 Rs 24.12; Jr 39.7).
Assim, a quebra da aliança no período monárquico trouxe graves consequências
para o povo de Deus: o templo foi destruído, assim como as muralhas da cidade,
e os israelitas foram humilhados em terras estranhas. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 1, 6 Outubro, 2019]
O estabelecimento da aliança davídica está
registrada em 2Sm 7.1-17, com a promessa incondicional do Senhor a Davi è sua
posteridade.
“Embora não seja chamada de aliança aqui, o será
mais adiante (23.5). Essa promessa é de vital importância para o entendimento
da promessa irrevogável de Deus em que um rei da linhagem de Davi governará
para sempre (v. 16). É estimado que mais de 40 passagens bíblicas individuais
estejam diretamente relacionadas a esses versículos (cf. SI 89; 110; 132);
portanto, essa passagem é de especial importância no AT. Seu cumprimento
definitivo acontecerá na segunda vinda de Cristo, quando ele estabelecer o
reino do milênio na terra (cf. Ez 37; Zc 14; Ap 19). Essa é a quarta das cinco
alianças irrevogáveis e incondicionais feitas por Deus. As primeiras três são:
1) A aliança noaica (Gn 9.8-17); 2) A aliança abraâmica (Gn 15.12-21) e 3) a
aliança levítica ou sacerdotal (Nm 3.1-18; 18.1-20; 25.10-13). A nova aliança,
que realmente proveu a redenção, foi revelada mais tarde por intermédio de
Jeremias (Jr 31.31-34) e foi cumprida pela morte e ressurreição de Jesus
Cristo.” (Bíblia de Estudo MacArthur, SBB. Nota textual 2Sm
7.1-17, pág 402).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"A linha teológica que
traspassa Samuel e Reis é a escolha divina de um líder para representá-Lo,
enquanto o Senhor implementa os concertos com Israel. Essa nação existia na
terra por causa do concerto incondicional que Deus fez com Abraão. O Senhor
implementou o concerto abraâmico quando Ele resgatou o seu povo do Egito e fez
deles uma nação. Mas as bênçãos da terra eram condicionais. A bênção de Deus
era dada por obediência, como declaradamente em Deuteronômio" (Roy B. Zuck (Ed). Teologia do Antigo Testamento. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018, p.135).
IV. SAMUEL: O DIVISOR DE ÁGUAS
1. Um momento de crise
espiritual. Samuel aparece no
cenário bíblico veterotestamentário num momento de uma grande crise espiritual.
O trabalho desse servo do Senhor não seria fácil, pois ele desempenharia um
papel fundamental na transição do período dos juízes para a monarquia. Assim,
ele orientou o povo para promover a construção de uma unidade nacional e
espiritual. O profeta, juiz e sacerdote Samuel foi o homem a quem Deus escolheu
para falar, julgar e representar a nação de Israel, o povo escolhido por Deus
(Lv 20.24,26)||. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos,
4º Trimestre 2019. Lição 1, 6 Outubro, 2019]
No início de 1º Samuel, Israel encontrava-se
espiritualmente desviado. Havia corrupção no meio dos sacerdotes (1Sm
2.12-17,22-26), a mobília principal do tabernáculo, a arca da Aliança havia
sido tomada pelos filisteus (1Sm 4.3-7.2), o povo estava entregue à idolatria
(1Sm 7.3-4), seus juízes desonestos (1Sm 8.2-3). O Senhor usou a piedade de
Samuel para influenciar o povo e promover mudanças (1Sm 12.23). Terminando com
Davi (1Sm 13.14), essas condições foram revertidas. O livro de 2Samuel termina
com a ira do Senhor sendo afastada de Israel (2Sm 24.25).
“Samuel teve importância
singular na história de Israel. Ele foi o último dos juízes a exercer
autoridade civil sobre o povo. Embora não pertencesse à linhagem de Arão,
oficiava os rituais como principal sacerdote. Foi também reconhecido como
profeta e criou escolas de profetas que influenciaram as futuras gerações dos
reis de Israel.” (ICNVFREGUESIA)
‘Ele liderou Israel como
sacerdote e como chefe militar e político. Samuel foi um exemplo de fidelidade
e obediência a Deus’ (RESPOSTAS)
2. O líder Samuel. Samuel fechou o ciclo dos juízes. Ele contribuiu
grandemente para a nação de Israel ao estabelecer os alicerces do ofício
profético, preservar o sacerdócio e estruturar a base espiritual do sistema
monárquico (1 Sm 3.15-21; 2.18; 8.10-22). Posteriormente, profetas mais novos
herdariam o modelo espiritual deixado por Samuel, bem como todo um conjunto de
conselhos para a casa real de Israel. Com Samuel, aprendemos que a chave para
alcançar estabilidade e prosperidade no ministério é confiar em Deus e depender
de seu favor. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 1, 6 Outubro, 2019]
Samuel promoveu uma grande reforma nacional,
renovando a aliança e trazendo o povo de volta à adoração à YHWH, o Deus de
Israel. Baniu os rituais de adoração cananéia e estabeleceu um estilo
sacerdotal inovador, percorrendo rotineiramente as cidades de Mispa, Ramá,
Gilgal, Belém, Betel e Berseba, para realizar suas tarefas sacerdotais e
desenvolver um ministério de ensino eficiente. Foi grande líder militar,
subjugou os filisteus em Mispa, e ali ergueu uma pedra; e deu-lhe o nome
“Ebenézer”, por que, disse ele, “Até aqui nos ajudou o Senhor” (1Sm
7.12). Até sua morte, exerceu o papel de juiz de Israel (1Sm 7.15). Ungiu, a
pedido do povo, o primeiro rei, Saul, que por ter se apossado indevidamente da
responsabilidade sacerdotal, foi rejeitado pelo Senhor. Seguindo a ordem de
Deus, Samuel ungiu Davi como rei no lugar de Saul. Toda a sua vida é
evidenciada pela retidão diante do Senhor (1Sm 12.5), e legou ao povo a receita
do sucesso: obediência ao rei e sujeição à lei de Moisés.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Um dos maiores líderes de Israel (2 Cr 35.18; Sl 99.6;
Jr 15.1; At 3.24; Hb 11.32). Samuel veio a Israel em uma das horas mais
sombrias da nação. Os filisteus, que por um longo período haviam intimidado os
israelitas, estavam ameaçando tragá-los. Mas Ana, a esposa de Elcana, de
Ramataim-Zofim, da montanha de Efraim, estava mais preocupada com o fato de não
ter filhos. Enquanto adorava no Tabernáculo em Siló, ela rogava que o Senhor
lhe desse um filho, o qual ela ofereceria para ser um nazireu de Deus (Nm 6)
por toda sua vida. Este filho foi Samuel, aquele que ungiu reis, o último dos
juízes, e o primeiro dos profetas depois de Moisés" (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.1753).
CONCLUSÃO
Os livros de 1 e 2 Samuel apresentam a
narrativa histórica da transição do período dos juízes para a monarquia
dinástica. As muitas histórias apresentadas nesses livros revelam os erros e os
acertos de líderes humanos, mas, ao mesmo tempo, revela o quanto Deus trabalha
pelo seu povo. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 1, 6 Outubro, 2019]
“Os livros de Samuel
proporcionam-nos um capítulo indispensável nos anais do trato de Deus com seu
povo Israel, e sua preservação e preparação para seus duplos fins: serem
depositários dos oráculos de Deus e trazerem à luz, no seu devido tempo,
"o mais importante Filho do grande Davi"”. (BIBLIOTECABIBLICA)
Os livros de 1 e 2 Samuel estão no âmago do relato
bíblico sobre a história de Israel. Interessante que o livro de Juízes terminam
atribuindo a decadência moral da nação à falta de um rei (Jz 21.25); em 1Sm
este problema é resolvido com o Senhor concedendo um rei à nação, mas logo fica
evidente que a situação moral não se sustenta com um rei qualquer, mas com um
rei que seja segundo o coração de Deus (1Sm 13.14)! A promessa de Deus feita a
Davi é central na narrativa Bíblica e uma garantia de que os propósitos de Deus
para seu povo se cumprirão. Ao concluir a leitura de 2 Sm, podemos continuar o
percurso histórico bíblico, certos de que Deus tem um plano para o seu povo e o
realizará por meio de seu servo escolhido, ainda que imperfeito, Davi. Sejamos
abençoados neste 4º trimestre!
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário