SUBSÍDIO I
A DEGENERAÇÃO DOS
FILHOS DE ELI
Não Valorizando a
Posição Dada por Deus
A degeneração é entendida como a alteração de algo. É mudar para uma condição
ou estado de inferioridade. Lendo Jeremias 2.21, o texto usa a palavra degenerado
em relação a Israel como povo de Deus, pois de uma vide excelente vieram a
ser uma planta amarga. Esse é o sentido de pikrían que aparece na
Septuaginta.
Na Bíblia Sacra Vulgata, referindo-se ao texto de Jeremias 2.21, aparece como
adjetivo da segunda declinação latina a palavra právus para referir-se a
algo defeituoso, vicioso, depravado, mas, em destaque, gosto da definição membros
disformes, maus conselheiros. No seu Comentário Bíblico, Jeremias e
Lamentações, R. K. Harrison, falando sobre esse versículo, diz:
Como caíram os poderosos!
Falando como Isaías em 5.1-7 Jeremias mostra como a nação prometedora tinha se
deteriorado, apesar de todos os esforços para prevenir isto. O ramo enxertado
tinha se adaptado à variedade de brava original, e por esta razão, o Marido
Celestial não teve outra opção senão arrancá-la. A vide excelente literalmente
é vinho Soreque, de uva vermelha de alta qualidade que cresce no Uadi Al-Sarar,
entre Jerusalém e o Mediterrâneo.
Israel, ao longo do tempo, foi deteriorado pelo pecado, é claro que não
por vontade divina, mas por uma deliberação própria de cada um que foi tomando o
caminho do pecado, de modo que todo o investimento de Deus não valeu a pena. Esperando
que fosse uma vinha excelente, passou a produzir uvas bravas.
Neste ponto, é disso que iremos falar em relação aos dois filhos de Eli,
que tornaram-se maus conselheiros, pois não poderia ser de outra forma, visto
que foram alterados pelo pecado, não sendo mais vide excelente, mas, sim, seres
disformes, pessoas más, que contrariaram os ditames divinos.
A primeira coisa a ser dita sobre os dois filhos de Eli — Hofni, cujo nome
quer dizer “pugilista”, e Fineias, que quer dizer “negro” — é que os dois são descritos
como filhos de Belial (1 Sm 2.12). Por meio do uso da palavra belliyya´al,
“satanás”, pode-se concluir claramente a natureza desses dois filhos de Eli, os
quais eram sacerdotes. Isso mostra o quanto a situação era grave, pois ambos
estavam à frente da obra de Deus.
Esses dois jovens tiveram o privilégio que muitos queriam ter, pois está escrito
que ninguém toma essa honra se Deus não chamar (Hb 5.4). Receberam essa bênção,
mas não valorizaram a posição dada por Deus. O ofício de sacerdote não era algo
que vinha por causa de uma capacidade humana, inteligência, ou para quem o
procurasse ou merecesse. Observe que Arão não procurou essa função, mas Deus o
chamou (2 Cr 26.18; Jo 3.27). Hofni e Fineias receberam tamanha honra; observe
que quem quisesse tomar essa honra sem ser chamado pagaria um alto preço, como
aconteceu com Coré (Nm 16.40), mas coube a esses dois filhos tal missão
gloriosa, a qual desprezaram.
Alguém que recebe uma posição honrosa da parte de Deus deve procurar desenvolvê-la
bem, pois, se assim não for, pagará um alto preço. Um exemplo bem clássico que
podemos pontuar é o de Nadabe e Abiú. Os dois passaram a desenvolver um culto
por vontade própria, voluntário, que do grego é ethelo-threskeia, que
dele fala Paulo em Colossenses 2.23.
Esses dois jovens, conforme a narrativa textual, pautaram seus ofícios apenas
sob suas próprias normas, desprezando a Santa Palavra de Deus, sem a direção
certa do Espírito Santo; ademais, supõe-se que estavam completamente
embriagados. Paga um preço altíssimo quem não valoriza a posição dada por Deus,
o que aconteceu com Nadabe e Abiú. As Escrituras Sagradas estão cheias de
exemplos de líderes que foram rejeitados por Deus por não valorizarem tal
honra. É isso o que se pode ver na pessoa de Eli e seus filhos. Para nós que
trabalhamos na obra de Deus fica uma alerta: precisamos honrar aquEle que nos
chamou, jamais nos envolvendo com negócios desta vida (2 Tm 2.4).
Fazendo uma Troca
Devido à idade avançada — pode-se crer que chegou aos 98 anos de idade (1
Sm 4.15) — Eli ficou impossibilitado de desempenhar bem seu ministério como
sacerdote, pois não tinha mais tanta força. Seus filhos deveriam continuar o
trabalho do pai com sinceridade e verdade, sabendo que estavam à frente de algo
dado por Deus, mas não foi o que aconteceu. Antes, fizeram uma troca:
transformaram o lugar de adoração a Deus em antro de devassidão.
Lendo os versículos 12-17, vemos que o texto descreve os diversos pecados
que esses rapazes cometeram. Apesar de todo o conhecimento que tinham de Deus e
suas leis, não fizeram caso, não procuraram desenvolver com Ele um
relacionamento de comunhão e santidade. O que se nota é o desprezo para com as
ofertas dedicadas ao Senhor para o sustento dos sacerdotes (Lv 7.28-34). Eles
tinham suas exigências próprias e não respeitavam as normas dos sacrifícios,
mas recebiam as porções antes de o sacrifício ser formalmente dedicado ao
Senhor.
Além desses pecados, destacam-se os sexuais. Hofni e Fineias não somente mantinham
relações sexuais com as mulheres, como, pela posição que exerciam, forçavam-nas
a se deitarem com eles, seduzindo-as. Entendemos que naqueles dias as coisas
iam piorando cada vez mais, pois muitos seguiram esse procedimento pecaminoso
dos filhos de Eli, de modo que o sacerdócio e o culto a Deus ficaram
comprometidos. Eli, claro, cumpriu bem sua missão como sacerdote, porém, agora
velho e cansado, sem forças, não tinha mais autoridade sobre seus filhos
adultos.
A troca que Hofni e Fineias fizeram foi a de preferirem seguir o caminho do
pecado, dos prazeres sexuais, imorais, a valorizar o culto ao Senhor, a posição
de sacerdote que tinham. Temos que entender que Eli, ao ouvir os rumores sobre
seus filhos, fazia suas reprimendas, alertando-os principalmente sobre o lugar
santo, mas eles não queriam ouvir mais seu pai. Sua autoridade não tinha poder
sobre eles.
Alguns estudiosos assinalam que as reprimendas de Eli para com os filhos eram
por demais brandas, suaves, frente aos grandes pecados cometidos. Sendo assim,
somente uma ação divina poderia erradicar de vez aqueles sacerdotes
pecaminosos.
Nessa situação agravante na qual se encontravam Hofni e Fineias, e, devido
ao seu comportamento, influenciavam o povo de Deus, levando-o também a pecar,
pois eram homens que exerciam uma grande posição. Só mesmo uma ação direta da
parte de Deus para bani-los de uma vez por todas, o que irá acontecer por meio
dos filisteus (1 Sm 4.10,11).
Havia uma violação tremenda da parte dos filhos de Eli. Eles estavam quebrando
os mandamentos divinos, tudo em nome dos prazeres sexuais, contaminando o lugar
sagrado, de maneira que teriam que ser punidos com a morte.
Nós, obreiros do Senhor, jamais devemos trocar nossa honrosa posição por meros
prazeres aparentes deste mundo vil, que passa com suas concupiscências (1 Jo
2.15,16,17), antes, procuremos ser exemplo em tudo, como salienta Paulo:
“Ninguém despreze a tua mocidade; mas sê o exemplo dos fiéis, na palavra, no
trato, no amor, no espírito, na fé, na pureza” (1 Tm 4.12), desempenhando
nossas funções pastorais com zelo, verdade e sinceridade, jamais trocando nosso
ministério por barganhas políticas, relações sexuais ilícitas, pois, se assim
for, pagaremos um alto preço, visto que estamos causando escândalos — e ai
daquele por quem eles vêm (Mt 18.7).
As Consequências para quem Peca contra Deus
Não se pode eclipsar os grandes males advindos ao homem ao pecar contra Deus.
Além disso, as Escrituras Sagradas revelam com nitidez os males que esse grande
vilão trouxe ao homem, que bosquejamos aqui: (1) quebra da comunhão com Deus;
(2) separação do seu Criador; e (3) morte como sentença.
Na Teologia Sistemática Pentecostal, em matéria que trata sobre hamartiologia
(doutrina do pecado), magistralmente o pastor Elienai Cabral, falando do
castigo sobre o pecado, ou seja, de suas consequências, escreve:
Já dissemos que o pecado é tanto
um ato como um estado. É um ato porque o homem mesmo preferiu, de seu
livre-arbítrio, desobedecer à Lei de Deus, rebelando-se contra Ele. Porém, o
pecado implica um estado pecaminoso porque o homem quebrou a comunhão e a
relação com o Seu Criador, separando-se Dele. Inevitavelmente, segue-se a
prática do pecado o juízo, ou seja, o castigo positivo (Gn 2.17; Rm 6.23).
O homem é um ser tendente ao pecado, posto que nasce em pecado (Sl 51.5),
mas sua concretização se dá pela ação própria do indivíduo ou quando usa de sua
liberdade para tal prática. Todavia, é certo que as consequências para os que
pecam contra Deus é gravíssima.
O texto de Samuel descreve duas coisas em se tratando dos filhos de Eli: em
primeiro lugar, a fama deles não era boa; em segundo, por causa de seu procedimento
comprometedor, eles faziam o povo de Deus pecar por transgressão. Eli tinha
conhecimento de que seus filhos estavam pecando diretamente contra Deus, pois
conhecia, e bem, as leis divinas.
Assinalamos que a lei divina deixava que os juízes arbitrassem em questões
envolvendo o próximo, no caso de um haver cometido alguma coisa contra outro,
quer fosse algum tipo de questão de maus tratos, quer em relação a bens,
punindo quem de fato merecia ser punido e repreendendo aquele que precisava ser
repreendido. Esse tipo de julgamento se daria no campo humano, pois não ofendia
a santidade e a autoridade de Deus.
Hofni e Fineias estavam pecando contra a santidade e autoridade de Deus de
modo atrevido. Isso seu pai deixa bem claro e, pelo texto da Palavra de Deus,
deveriam morrer: “Mas a alma que fizer alguma coisa à mão levantada, quer seja
dos naturais quer dos estrangeiros, injuria ao Senhor; e tal alma será extirpada
do meio do seu povo” (Nm 15.30). Observe que a palavra injuria no
hebraico é gadaph, que quer dizer “blasfemar contra Deus”. Nesse particular,
não havia qualquer tribunal humano que fosse capaz de arbitrar tal questão,
assim, a punição com morte era a medida certa para isso.
O sacerdote Eli tinha consciência de que o pecado de seus filhos não
ficaria impune, por isso os aconselhava constantemente, mas, já sem força, seus
filhos adultos não se renderam aos seus rogos. Além do mais, eles não iriam mudar
de atitude, evidenciando um arrependimento sincero, genuíno, pois já estavam
destinados à sentença.
Lendo 1 Samuel 2.12, o texto diz que esses dois sacerdotes filhos de Eli eram
indignos e não se importavam com Deus. Diz a versão Almeida Revista e Corrigida
que eles não conheciam ao Senhor; já na Revista e Atualizada se afirma que eles
não se importavam; o verbo no hebraico é yadá, que quer dizer
“conhecer”, aponta para admitir, considerar. É claro, eles sabiam quem era o
Senhor, mas não fizeram caso de sua Pessoa, dos seus mandamentos.
Os dois filhos de Eli tinham conhecimento de Deus, de sua santidade, das suas
leis divinas, e que Ele deveria ser honrado e adorado, mantendo com Ele um
relacionamento pessoal, o que não fizeram. Antes, trataram com banalidade as
coisas de Deus, procedimento que custará suas vidas.
Pense como era triste para Israel ter esses dois homens à frente da liderança.
Apesar de todo conhecimento que tinham de Deus, de saberem do trabalho feito
por seu pai, nada levavam em consideração. Na verdade, eles sabiam dos ensinos
e exigências divinas, da santidade e do poder de Deus, mas não faziam caso. São
oportunas as palavras de Richard D. Phillips aqui:
A apresentação dos filhos de Eli
deixa pouco à imaginação: Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial e não
se importavam com o Senhor (1Sm 2.12). Essa apresentação é a mais condenatória
que alguém pode receber, especialmente um ministro. Dizer que eles eram filhos
de Belial (homens indignos) é dizer que eram agentes de destruição. E depois de
dizer que eles não se importavam com o Senhor é dizer que, apesar de todo o acesso
que tinham à religião divina e de todo o seu conhecimento de teologia e de
adoração, esses homens não eram convertidos, mas sim espiritualmente ignorantes
da graça salvadora de Deus e não se importavam com as exigências de Sua
santidade.
É lamentável, mas muitos que exercem a liderança na casa de Deus por vezes
agem dessa maneira, não fazendo caso da graça divina; têm muito conhecimento,
ciência, mas não têm santidade e amor. Paulo disse que a ciência incha, mas o
amor edifica (1 Co 10.2). Conhecimento que visa a apenas evidenciar cultura,
menosprezar os outros, desprezar instituições, atacar alguém, não tem valor
algum, mas o conhecimento que vale é aquele que visa glorificar a Deus,
prioriza a santidade. É triste dizer, mas muitos são mestres e doutores
dominados pelas paixões carnais, que os levam a praticar atos que são
reprováveis por Deus, conforme escreveu Pedro (2 Pe 2.10).
Não havia expiação para o pecado dos filhos de Eli, posto que eles feriam
a autoridade e a santidade de Deus, não somente o seu poder. Esses dois filhos foram
longe demais, sendo que, ainda que se arrependessem, caso fosse possível,
poderiam apenas salvar a alma, mas morreriam, pois iriam colher o que plantaram.
Texto extraído da
obra “O governo
divino em mãos humanas”, editada pela CPAD
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição
do termo degenerar; pontuaremos a corrupção moral e espiritual de Israel; estudaremos
sobre a mensagem de juízo para Israel vinda da parte de Deus; e por fim,
analisaremos o castigo divino a nação por causa de sua degeneração.
I – DEFINIÇÃO DO TERMO DEGENERAR
1.1 Definição do verbo
degenerar. O verbo
“degenerar” significa: “mudar para um estado ou condição qualitativamente
inferior; declinar, estragar. Mudar para pior; ocasionar ou adquirir maus
hábitos ou práticas; corromper-se; deturpar; apodrecer; depravar; estragar”
(HOUAISS, 2001, p. 928). Enquanto a palavra regenerar fala de uma mudança para
melhor, degenerar é uma mudança para pior; é um movimento regressivo e não
progressivo. A degeneração é entendida como a alteração de algo. É mudar para
uma condição ou estado de inferioridade. Lendo Jeremias 2.21, o texto usa a
palavra degenerado em relação a Israel como povo de Deus, pois de uma vide
excelente vieram a ser uma planta amarga. Esse é o sentido de “pikrían” que
aparece na Septuaginta (versão da Bíblia do hebraico para o grego) […]. Na
Vulgata Latina (versão da Bíblia do grego para o latim) aparece como adjetivo
“právus” para referir-se a algo disforme, defeituoso, depravado (GOMES, 2019,
p. 67 – grifos nosso).
II – A DEGENERAÇÃO MORAL E
ESPIRITUAL DE ISRAEL
2.1 Situação do povo. O período dos juízes que
se estende até aos dias de Samuel, foi um período de oscilações espirituais na
vida do povo de Israel. Quando estavam em paz e prosperidade davam as costas
para o Senhor e adoravam os ídolos (Jz 2.11; 3.7,12; 4.1; 6.1; 10.6; 13.1),
quando se viam em aperto clamavam ao Deus verdadeiro (Jz 3.9,15; 4.3; 6.6;
10.10). A idolatria estava enraizada no meio do povo escolhido (1Sm 7.3,4).
2.2 Situação dos líderes. Deus nomeou homens a fim
de que eles pudessem conduzir o povo de Israel nos caminhos e na vontade do
Senhor. No entanto, quando os líderes se desviavam o prejuízo era ainda maior.
Vejamos como estava os líderes no período inicial do livro de 1 Samuel:
2.2.1 Eli era conivente com os
erros de seus filhos. Eli Era descendente de Arão e Itamar, tornou-se sumo sacerdote no
centro da adoração em Siló. Eli esteve a frente do povo como juiz e sacerdote
por pelo menos quarenta anos (1Sm 4.18), e viveu até aos 98 anos de idade (1Sm
4.15). Seu nome significa: “O Senhor é exaltado”, e a despeito da confiança e
da fé que ele tinha no Senhor, ele não foi bem sucedido na formação de sua
família. Seus dois filhos, que eram sacerdotes, pecavam contra o Senhor, no
entanto, Eli se restringiu apenas a uma repreensão verbal e nada mais (1Sm
2.22-26). Eli não honrou o seu chamado e estimou mais os filhos do que a Deus
(1Sm 2.28,29). Eli foi: a) um pai ausente, que não tinha tempo para os filhos
(1Sm 4.18); b) um pai omisso, que não abriu os olhos para ver os sinais de
perigo dentro do seu lar (1Sm 2.22-24; 29-34; 3.11-12,17-18); c) um pai conivente
(1Sm 2.29; 3.13); e, d) um pai passivo ao fatalismo (1Sm 3.18).
2.2.2 Hofni e Finéias pecavam
contra Deus. Os filhos de
Eli, Hofni e Finéias, foram chamados por Deus para o sacerdócio (1Sm 1.3). No
entanto, por causa do seu mau comportamento, foram chamados de filhos de
Belial: “Eram, porém, os filhos de Eli filhos de Belial” (1Sm 2.12-a). Esta
expressão hebraica é usada para descrever pessoas desprezíveis e blasfemadoras
do hebraico “gadaph” (Dt 13.13; Jz 19.22; 1Sm 25.25; Pv 16.27). Paulo usa
Belial “belliyya ́al” com o um sinônimo de Satanás (2Co 6.15). É dito também
que eles “não conheciam ao SENHOR” (1Sm 2.12-b), ou seja, não possuíam qualquer
conhecimento do verbo hebraico “yadá” íntimo e pessoal de Deus. Vejamos quais
foram os pecados destes homens que os fizeram desprezíveis:
a) Pecados de ordem
cúltica (1Sm 2.12-17). A
lei descrevia com precisão as porções dos sacrifícios que pertenciam aos
sacerdotes (Lv 3.3-5; 7.28-36; 10.12-15; Dt 18.1-5), mas os dois irmãos tomavam
para si toda a carne que queriam e, ainda, as partes de gordura que pertenciam
ao Senhor (Lv 7.28-36). Chegavam até a pegar a carne crua para assá-la e não
ter de comê-la cozida. Eles “desprezavam a oferta do Senhor” (1Sm 2.17) e
“pisavam os sacrifícios do Senhor” (1Sm 2.29). b) Pecados de ordem moral (1Sm
2.22,23). Além dos pecados de ordem cúltica (cerimonial), o registro bíblico
também diz que os filhos de Eli cometiam imoralidade sexual com alguns mulheres
que ficavam a porta do templo.
c) Pecados de ordem pessoal (1Sm 2.25). É forte a
expressão “O Senhor os queria matar”. Lendo os textos de Números 15.30, Josué
11.20, Provérbios 15.10, logo se entende claramente o porque de Deus querer
matar esses dois filhos de Eli. O texto esclarece que eles se colocaram em
rebeldia e oposição a Deus, visto que esse é literalmente o sentido da
expressão “filhos de Belial”. O procedimento pecaminoso, imoral, corrupto,
incluindo o sacrilégio, resultou de uma deliberação própria dos filhos de Eli.
Podemos dizer que sua rebelião foi algo idiossincrático, ou seja, algo pessoal,
interno, característico do comportamento, do modo de agir ou da sensibilidade e
individualidade de alguém (Jz 21.25; 1Sm 2.17).
III – A MENSAGEM DE JUÍZO PARA
ISRAEL
Diante do quadro caótico de
grande parte do povo e da liderança de Israel, Deus falou uma mensagem de
juízo. Veio um homem de Deus a Eli e lhe revelou o que Deus iria fazer para
punir os transgressores. Notemos:
3.1 Contra os sacerdotes. Na mensagem profética Deus
lembrou a Eli o que ele tinha feito de bom ao povo de Israel e ao próprio Eli
chamando-o para exercer o sacerdócio. No entanto, apesar desse tamanho
privilégio Eli não deu o devido valor a sua vocação e tratou com desdém as
coisas sagradas (1Sm 2.27-29). Deus prometeu punir Eli e seus descendentes,
fazendo com que morressem precocemente antes de completar a idade de exercerem
o sacerdócio que era aos 30 anos (Nm 4.3,23,30,35,39,43,47; Lc 3.23). O homem
de Deus profetizou a destruição da família de sacerdotes de Eli por causa de
sua desobediência ao Senhor (1Sm 2.31-33). Mais tarde esta mensagem foi
confirmada por meio de Samuel (1Sm 3.11-14). Como sinal do cumprimento desta
mensagem, o homem de Deus disse que Hofni e Finéias morreriam no mesmo dia (1Sm
2.34). O juízo também foi cumprido no massacre em Nobe (1Sm 22.11-19), e quando
a herança sacerdotal foi transferida para a família de Zadoque no reinado de
Salomão (1Rs 2.26,27,35).
3.2 Contra o povo. Além de repreender o
sacerdote Eli e seus filhos com uma dura mensagem de juízo, o homem de Deus
também disse o que aconteceria com o povo: “E verás o aperto da morada de Deus,
em lugar de todo o bem que houvera de fazer a Israel” (1Sm 2.32).
IV – O CASTIGO PELA DEGENERAÇÃO
DA LIDERANÇA SACERDOTAL
4.1 Escassez de manifestação. Samuel foi levantado em um
tempo onde não havia atividade profética, provavelmente porque havia poucos
israelitas fiéis que dariam ouvidos à Palavra de Deus: “[…] não havia visão
manifesta” (1Sm 3.1). Observamos o quanto o povo daquela época estava longe de
Deus (Jz 21.25), as pessoas faziam o que parecia bem aos seus olhos justamente
por não terem ensinamentos corretos, não havia dedicação e muito menos zelo
pela Palavra do Senhor, esqueceram dos princípios que um dia receberam. O
estado espiritual do povo era o mesmo que o do sacerdote “sem visão” (1Sm 3.2).
4.2 Derrota nas batalhas. A punição pelos pecados de
Eli e sua família aconteceu de duas maneiras: a destruição quase total de uma
família sacerdotal e a humilhação de uma nação inteira. Mas ainda ficaram
descendentes e parentes de Eli, os quais, mais à frente foram mortos por Saul.
Nessa ocasião o Tabernáculo tinha sido transferido para Nobe, e o sumo
sacerdote era Aimeleque, bisneto de Eli. Por achar que este tinha ajudado Davi
a fugir, Saul mandou matar ele e todos os demais sacerdotes, em número de
oitenta e cinco. Só escapou Abiatar (1Sm 22.6-23), que mais tarde tornou-se
sumo sacerdote, durante o reinado de Davi, mas foi destituído por Salomão,
cumprindo-se a profecia do homem de Deus em Siló (1Sm 2.35,36; 4.2; 1Rs.2.27).
4.3 Morte dos líderes. Houve diversos prenúncios
da punição divina a Eli e seus filhos, aos quais ele não deu a devida atenção,
e por isso o desastre atingiu não somente sua família, mas a todo o povo de
Deus. O próprio Eli os avisou que um pecado cometido contra o Senhor não
permitiria intercessão (1Sm 2.22-25). Depois Deus usou o menino Samuel para
dizer a Eli que estava prestes a enviar um castigo terrível sobre ele e seus
filhos (1Sm 3.1-21). Eli respondeu a Samuel: “Ele é o Senhor, faça o que bem
parecer aos seus olhos” (1Sm 2.18). Cumprindo as profecias divinas, Eli, seus
filhos e uma de suas noras, morreram todos no mesmo dia (1Sm 4.12-22).
4.4 A perda do ministério
sacerdotal. Deus havia
dado o sacerdócio a Arão e a seus descendentes para sempre, e ninguém poderia
tomar deles essa honra (Êx 29.9; 40.15; Nm 18.7; Dt 18.5 ). Porém, os servos de
Deus não podem viver como bem entendem e esperar que o Senhor os honre, “porque
aos que me honram, honrarei” (1Sm 2.30). O privilégio do sacerdócio continuaria
sendo da tribo de Levi e da casa de Arão, mas Deus o tomaria da linhagem de Eli
(1Sm 2.36). No tempo de Davi, havia pelo menos dois descendentes de Eleazar
para cada descendente de Itamar (1Cr 24.1-5), de modo que a família de Eli foi,
aos poucos, desaparecendo. Eli era descendente de Arão pela linhagem de Itamar,
o quarto filho de Arão, mas Deus abandonaria essa linhagem e se voltaria para
os filhos de Eleazar, o terceiro filho de Arão e seu sucessor com o sumo
sacerdote (ver 1Rs 2.26,27,35). Os nomes de Eli e de Abiatar não aparecem na
lista de sumos sacerdotes israelitas em 1Crônicas 6.3-15. Ao confirmar Zadoque
com o sumo sacerdote, Salomão cumpriu a profecia proferida pelo homem de Deus
quase um século e meio antes.
4.5 A perda da arca do Senhor. A tragédia também atingiu
toda a nação quando os israelitas foram derrotados pelos filisteus, e estes
tomaram a Arca da Aliança (1Sm 4.11), símbolo da presença de Deus no meio do
povo. Por isso, a mulher de Finéias, que morreu ao saber da notícia e enquanto
dava à luz um menino, deu-lhe o nome de Icabode, que significa “Foi-se a glória
de Israel” (1Sm 4.19-22).
CONCLUSÃO
Devemos vigiar para não termos o
mesmo final triste e penoso de Eli e seus filhos. Precisamos fazer como Samuel
fez, honrar ao Senhor e servi-lo com fidelidade.
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
O tema desta lição é a
degeneração da liderança sacerdotal da casa de Eli. Veremos que os filhos deste
não corresponderam aos propósitos divinos, e enveredaram pelo caminho do
pecado, o que os fez deturpar as características do sacerdócio (Lv 21.6,7).
Assim, Deus agiu de modo punitivo para com os filhos de Eli, pois eles, tendo
conhecimento das leis divinas, não andaram por elas, mas degeneraram-se,
abandonando as virtudes do verdadeiro sacerdócio. Quando Deus escolhe alguém
para executar uma missão, deve este alguém observar rigorosamente a vontade
divina. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
Nesta lição, sobressaem diversos apontamentos
espirituais, mas um em especial chamará nossa atenção: o exemplo de Eli nos
leva a pensar sobre a responsabilidade espiritual que os pais devem exercer
sobre os filhos. Paulo em 1Timóteo 5.8 escreve: “Se alguém não cuida de seus
parentes, e especialmente dos da sua própria família, negou a fé e é pior que
um descrente”. Bom estudo e crescimento maduro na fé cristã!
I. A DEGENERAÇÃO
DOS FILHOS DE ELI
1. Quando não valorizamos o que
Deus nos deu. Segundo o relato
bíblico, Eli era avançado em idade; tinha 98 anos (1 Sm 4.15). Seus dois
filhos, Hofni e Fineias, por seu turno, também não valorizaram a posição que
Deus lhes dera; degeneraram-se, transformando a Casa do Pai em lugar de
imoralidades sexuais (1 Sm 2.22). Entretanto, devemos ponderar um ponto sobre o
sacerdote Eli. Não se tem menção de abusos cometidos por ele; seu principal
erro foi não corrigir os pecados de seus filhos; ele já não tinha autoridade
sobre estes. Foi um pecado por omissão e complacência. Logo, o Senhor não
demoraria em derramar a sua ira sobre a Casa de Eli (1 Sm 3.12). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre
2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
Fazia parto do comportamento depravado dos filhos de
Eli manter relações sexuais com mulheres que ministravam no tabernáculo (Êx
38.81). Esse tipo de prostituição religiosa era comum entre os vizinhos de
Israel, os cananeus. Este comportamento dos filhos de Eli não pode ser colocado
na conta do velho sacerdote. Veja que em 1 Sm 2.25, Eli exorta seus filhos: ‘Deus
lhe será o árbitro’ - O que Eli estava querendo dizer para seus filhos era
que, se Deus certamente castigaria quem pecasse contra outro homem, muito mais
castigaria aqueles que pecassem contra ele. Mesmo exortado, os filhos de Eli
tinham persistiram no caminho do mal, e Deus já havia determinado castigá-los.
Esse endurecimento judicial divino, o resultado de uma recusa desafiadora em
arrepender-se no passado, era a razão de Hofni e Fineias se recusarem a dar
atenção às advertências de Eli. Quando o SENHOR fala com Samuel, repete o mesmo
que havia dito através do profeta no capítulo 2.27-36. A repetição para Samuel
do oráculo contra Eli confirmou a palavra falada pelo homem de Deus.
2. Fazendo uma troca. Os filhos de Eli trocaram o Senhor pelos prazeres da vida –
o apóstolo Paulo menciona os que são mais amigos dos prazeres do mundo do que
de Deus (2 Tm 3.4). Para freá-los, pois o que faziam era por demais
escandaloso, foi preciso uma ação do próprio Deus (1 Sm 2.25; 4.10.11).
Não barganhe a posição que o Pai
lhe concedeu; valorize o seu ministério, glorificando o Altíssimo e cumprindo a
sua vontade. Os que se mantiverem fiéis serão grandemente honrados por Ele
junto ao trono divino (Mt 25.21). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
Em cumprimento a 2.34; 3.12, os filhos de Eli
morreram juntos.
“A situação era tão grave que a história dos
filhos de Eli começa da seguinte maneira: “Eram, porém, os filhos de Eli filhos
de Belial; não conheciam ao Senhor." (1 Samuel 2:12). O que significa a
expressão “filhos de Belial? É o seguinte. Havia um personagem na mitologia
canaanita que se chamava Belial e ele era o principal adversário do povo de Deus
na terra. Alguns estudos identificam Belial como o demônio da arrogância e da
loucura e no Novo Testamento Belial é o oposto da luz e do próprio Jesus. Dizer
que alguém é filho de Belial é o mesmo que dizer que ele é filho do diabo, do
maligno, que se opõe a Deus e aos Seus servos, pois é desta maneira que os
filhos de Eli são identificados. O pecado de Hofni e Finéias começava na hora
que o povo trazia seus sacrifícios para serem queimados no altar, porque a
regra era clara a respeito do que cabia a eles (levitas) das ofertas queimadas
no altar, veja: “Este, pois, será o direito dos sacerdotes, a receber do povo,
dos que oferecerem sacrifício, seja boi ou gado miúdo; que darão ao sacerdote a
espádua e as queixadas e o bucho." (Deuteronômio 18:3).” (SOMBRADOONIPOTENTE)
3. As consequências para quem
peca contra Deus. Quando o homem
comete um crime contra outro homem, aqui na Terra, há os tribunais humanos para
julgá-lo, como Paulo nos lembra em Timóteo (1 Tm 1.9). Entretanto, para os
pecados dos filhos de Eli, não haveria tribunal humano, pois eles pecaram
direta e deliberadamente contra Deus. Como eles não se arrependeram, o juízo
divino era inevitável. A ira de Deus se acenderia contra eles.
Os que estão à frente do rebanho
do Senhor devem ser exemplo em tudo. É preciso ser íntegro no ensino,
incorruptível, reverente, digno e santo (Tt 2.7). Devemos ser conscientes de
que Deus não tolera o pecado, principalmente, aos que ensinam e estão em
posição de liderança (Tg 3.1). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
O povo começou a desprezar as ofertas ao Senhor,
retraíram suas mãos de ofertar com generosidade, isso porque sabiam que estas
ofertas seriam desviadas pelos fraudulentos filhos de Eli; Esta foi apenas uma
das consequências do pecado destes filhos de Belial. Seu mau exemplo atingiu o
povo, mas não ficou só nisso, veja: “Era, porém, Eli já muito velho, e ouvia
tudo quanto seus filhos faziam a todo o Israel, e de como se deitavam com as
mulheres que em bandos se ajuntavam à porta da tenda da congregação” (1Sm
2.22). É um exemplo claro de que a responsabilidade dos líderes na igreja deve
ser padrão para os demais, como Paulo exorta Tito: “Torna-te, pessoalmente,
padrão de boas obras” (Tt 207a). Tito tinha a obrigação especial de
exemplificar as qualidades morais e espirituais sobre as quais deveria
admoestar os outros (1Co 4.16; 11.1; Fp 3.17; 2Ts 3.8-9; 1Tm 4.12; Hb 13.7). Em
Tiago 3.1, Paulo adverte os Mestres, pessoas que se dedicam ao ensino ou à
pregação por nomeação oficial (Lc 4.16-27; jo 3.10; At 13.14-15; 1Co 12.28; Ef
4.11). Estes estão sob ‘maior juízo’. A palavra traduzida por ‘juízo’
normalmente expressa um veredicto negativo no Novo Testamento e, aqui, se
refere a um juízo futuro:
1) para o falso mestre que é incrédulo, na segunda vinda de
Cristo (Jd 14-15) e
2) para o cristão ao ser recompensado diante de Cristo (1Co
4.3-5).
Isso não significa desalentar os verdadeiros
mestres, mas advertir ao futuro mestre sobre a seriedade da função (Ez 3.17-18;
33.7-9; At 20.26-27; Hb 1 3.1 7).
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Ao introduzir a lição, faça um relato sobre os
filhos de Eli: Hofni e Fineias. Inicie dizendo que esses dois filhos tinham a
responsabilidade de cuidar do que era sagrado, principalmente, da Arca da
Aliança (1 Sm 4.4). Eles viviam do sagrado. Ao profanarem a sacralidade do
ministério, eles afrontaram a Deus. A história dos dois filhos de Eli chama-nos
a atenção para o perigo de profanar o que é santo. Quando estamos exercendo um
ministério há muito tempo, ou auxiliando em alguma atividade da igreja local,
corremos o risco de ficarmos insensíveis às coisas espirituais, e tornarmos um
burocrata da fé. Naturalmente, não é esta a vontade de Deus. Devemos nos
precaver contra a apostasia e as ofensivas de Satanás.
II. A SENTENÇA DO JUÍZO DE DEUS
1. A experiência profética de
Samuel. Numa época em que
era bem raro ouvir a voz de Deus, Samuel ouviu clara e reverentemente o
Altíssimo (1 Sm 3.10). Nessa experiência, o jovem profeta recebeu uma séria e
urgente comunicação divina: uma mensagem contra a casa de Eli, o seu mestre.
Tal experiência mostra que Deus não faz acepção de pessoas, ou seja, não se
importa com a idade de alguém quando a questão é fazer a vontade divina (1 Sm
3.15-18). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
- De fato pode-se constatar que o SENHOR se
manifestava a Samuel desde sua juventude. No texto de 1Sm 3, a partir do verso
10, Samuel recebe uma revelação divina acerca da destruição da casa de Eli. O
verso 15 diz que Samuel temia relatar a visão a Eli. Enquanto Samuel crescia,
tornava-se evidente que o Senhor era com ele. Assim todo o povo entendeu que
Samuel havia sido comissionado como profeta do Senhor (1Sm 3.1-21). Não demorou
muito, a visão revelada a Samuel se cumpre, a casa de Eli foi entregue à
destruição, e a Arca da Aliança tomada pelos filisteus. A família de Eli
aparentemente era culpada do pecado da insolência. Para esse pecado de rebeldia
não havia expiação e a pena de morte podia ser aplicada imediatamente (Nm
15.30-31). A presença do Senhor estava com Samuel, do mesmo modo que mais tarde
estaria com Davi (16.18;18.12). A presença do Senhor confirmava a escolha de um
homem para o seu ministério, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em
terra. Tudo o que Samuel disse com a autorização divina tornou-se realidade.
Esse cumprimento da palavra de Samuel comprovou que ele era de fato um
verdadeiro profeta de Deus (Dt 18.21-22). Após um intervalo de tempo, Samuel
aparece na narrativa bíblica conclamando o povo ao arrependimento e a
rededicação da verdadeira adoração em Israel abolindo a idolatria.
2. Sentença pronunciada. Eli recebera uma sentença por meio de um profeta
desconhecido: Deus iria punir os seus filhos (1 Sm 2.31). Prontamente, Eli
aceitou a sentença que vinha da parte de Deus. Agora era a vez do menino
Samuel. Ele não poderia mudar a mensagem, pois o que Deus lhe havia entregue
estava na mesma direção do que entregara ao profeta desconhecido. Sim, Deus
havia sentenciado a casa de Eli: viria morte e destruição sobre ela (1 Sm
3.12).
Esta sentença seria executada
por intermédio da invasão dos filisteus à terra do povo de Deus. Ali, além de
muita matança, houve a captura da Arca da Aliança, símbolo da presença divina
no meio do povo. Os filhos de Eli foram mortos. E, ao saber disso, e
principalmente de que a Arca havia sido levada, Eli caiu e quebrou o pescoço;
de imediato, sua nora entrou em trabalho de parto. Logo após, deu o nome ao seu
filho, “Icabode”, a glória de Israel se foi, a fim de marcar a tragédia que se
abateu contra aquela casa (1 Sm 4.18-22). Em seguida, ela morreu. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 4, 27 Outubro, 2019]
A repetição para Samuel do oráculo contra Eli
confirmou a palavra falada pelo homem de Deus. A partir do período de juizes
até o final do reinado de Davi, os filisteus ("povos do mar") eram
presença inimiga constante em Israel. Eles eram imigrantes não semitas (Gn
10:14; 1Cr 1.12; Jr 47.4-5; Am 9.7) que se estabeleceram ao longo das regiões
litorâneas da parte sul de Canaã, tendo o seu poderio organizado em cinco
cidades principais: Asdode, Asquelom, Ecrom, Cate e Gaza (ISm 6.17; Jz 3.13). A
introdução dos filisteus na narrativa cria uma relação entre o juizado de
Samuel e o juizado que Sansão não foi capaz de concluir (jz 13-16). A derrota
de Israel diante dos filisteus indicava claramente que Deus não estava com eles
(Nm 14.42; Dt 1.42). Em vez de pedir uma orientação ao Senhor, eles seguiram
tentando resolver a questão a seu modo. Interessante que o povo estava sem o
verdadeiro conhecimento sobre quem era o SENHOR, pensavam na Arca da Aliança
como uma espécie de amuleto, que poderiam manipular Deus a fim de obterem a
vitória. Israel foi derrotado e a arca caiu nas mãos dos filisteus. A ideia de
que possuir a arca de Deus era equivalente a ter controle sobre Deus tanto por
parte de Israel como por parte dos filisteus deve ser contrastada com o poder e
a providência de Deus no restante da narrativa. Hofni e Fineias, mortos. Em
cumprimento a 2.34; 3.12, os filhos de Eli morreram juntos. Ao receber a
notícia da derrota e da tomada da arca pelos filisteus, Eli morre. Havia ele
julgado a Israel quarenta anos, no decorrer desse tempo Eli cumpriu as funções
de sacerdote e juiz em Israel. A esposa de Fineias deu ao seu filho o nome de
Icabô, que significa “Onde está a glória?" ou "sem glória",
principalmente em razão da perca da arca, o símbolo da presença de Deus. Para
os hebreus, "glória" era usada com frequência para referir-se à
presença de Deus; portanto, o texto significa "Onde está Deus?" O
termo "foi-se" sugere a ideia de que foi levada para o exílio. Logo,
para o povo de Israel, a captura da arca era um símbolo do exílio de Deus.
Embora fosse essa a mentalidade de Israel, a narrativa do texto irá revelar que
Deus estava presente, mesmo enquanto disciplinava o seu povo.
3. desgraça da
família de Eli. A desgraça
sobre a casa de Eli veio como uma grande avalanche. Seus filhos, Hofni e
Fineias, bem como a sua nora, morreram. Além disso, 85 sacerdotes pereceram. No
reinado de Salomão, Abiatar (um sacerdote da linhagem de Eli) foi expulso e, a
partir daí, a casa de Eli passou a ser preterida (1 Rs 1.7,8; 2.27,35).
As predições do profeta
desconhecido e de Samuel se cumpriram na totalidade, ainda que levassem
aproximadamente 130 anos para seu desfecho. Isso nos mostra que o pecado contra
Deus tem a sua sentença, o seu juízo. O Novo Testamento corrobora tal
assertiva. Veja o caso da igreja em Tiatira (Ap 2.23). A Bíblia revela que o
salário do pecado é a morte (Rm 6.23). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
Abiatar foi um dos dois sumo sacerdotes que serviam
simultaneamente durante o reinado de Davi (2Sm 8.17), cuja influência Adonias
buscou. Abiatar foi sacerdote de Davi junto com Zadoque (2Sm 15.24,35; 19.11).
Abiatar traçava sua linhagem de Eli (1Rs 2.27) até Itamar (1Cr 24.3). Com a
remoção dc Abiatar (1Rs 2.26-27), a maldição de Deus sobre Eli foi concluída
(1Sm 2.33).
Romanos 6.23 descreve duas certezas inexoráveis:
1) a morte espiritual é o salário para toda pessoa que é
escrava do pecado; e
2) a vida eterna é um dom gratuito dado por Deus aos
pecadores indignos que creem no seu filho (cf. Ef 2.8-9)
“Lemos em 1Timóteo 5.8: “Se alguém não cuida de
seus parentes, e especialmente dos da sua própria família, negou a fé e é pior
que um descrente”. Muitos são os textos bíblicos que nos alertam para o cuidado
que devemos dispensar aos da nossa família. Para os líderes espirituais, o
cuidado e a espiritualidade no lar fazem parte de um bom perfil para o
exercício do ministério (1Tm 3; Tt 1). E exemplo de Eli nos leva a pensar sobre
a responsabilidade espiritual que os pais devem exercer sobre os filhos. Em
nossos dias muitos pais cristãos estão negligenciando ou delegando a terceiros
a formação religiosa dos filhos. Cristãos dedicados e bem intencionados no
exercício ministerial, mas que estão correndo o risco de serem reprovados por
Deus quanto à responsabilidade dentro de casa. Olham apenas para os de fora!”
(BATISTAFLUMINENSE)
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
“Prova de Samuel (3.1-17). A primeira
mensagem que Samuel deveria entregar serviu como uma prova severa. Ele tinha um
íntimo e afetivo relacionamento com Eli. Passaria ele a mensagem de iminente
condenação com total honestidade? Em sua prova, Samuel prefigura o ministério
de muitos dos profetas que o seguirão. A maioria dos profetas do AT foi chamada
para advertir Israel da vinda dos julguemos divinos! Os profetas não foram
especialmente populares no tempo em que viveram!” (RICHARDS, Lawrence. O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise
de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Rio de Janeiro: CPAD, 2005,
p.182).
III. AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
1. O preço do pecado. O pecado sempre traz consequências. A Bíblia revela alguns
exemplos sobre isso: (1) a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, a morte física e
espiritual (Gn 3.1-7,23; Rm 5.12); (2) Acã e sua família perderam a vida (Js
7.24,25); (3) Ananias e Safira foram mortos (At 5.1-11). Como vimos, as
consequências do pecado são trágicas. Eli tinha conhecimento do pecado de seus
filhos, mas sua covardia era visível. Por causa de sua omissão e da
irreverência de seus filhos, sua família foi tirada do sacerdócio. É bom
lembrar que Eli não era somente pai, mas principalmente, sacerdote. Por isso,
cabia-lhe a responsabilidade paternal e judicial; nisso ele falhou.
A Palavra de Deus nos mostra
que, se os filhos não forem bem encaminhados, no caminho do Senhor (Pv 29.15),
se tornarão uma vergonha aos seus pais e, se persistirem no erro, sofrerão
consequências gravíssimas. Portanto, além de orarmos por nossos filhos,
precisamos conduzi-los à comunhão com Deus (Dt 6.4-9), para, enfim, dizermos:
“eu e a minha casa serviremos ao SENHOR” (Js 24.15).||. [Lições
Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
Eli, cujo nome significa ‘Deus é exaltado’,
primeiro sumo sacerdote da linhagem de Itamar, o filho mais novo de Arão; foi
sumo sacerdote em Siló, o 14° juiz sobre Israel. Seus dois filhos, Hofni e
Finéias eram ímpios, adúlteros, desobedientes e irresponsáveis. Eli não
conseguiu impedir que seus filhos blasfemassem contra o Senhor. Eles
tornaram-se culpados de imoralidade e sacrilégio. Interessante é que Eli foi o
grande mentor do profeta Samuel (1Sm 2.11), que ainda menino foi chamado por
Deus para proferir a condenação da casa de Eli, que seria retirado do oficio
sumo sacerdotal (1Sm 3.11-14). O comentarista vê a falha de Eli no fato de não
julgar os filhos, mas na verdade, encontramos Eli exortando os dois
impenitentes em 1 Sm 2.25; O que Eli estava querendo dizer para seus filhos era
que, se Deus certamente castigaria quem pecasse contra outro homem, muito mais
castigaria aqueles que pecassem contra ele. Os dois cresceram vendo o pai
oficiar e julgar, sabiam que um dia seriam eles a desempenhar esse papel, só
que o mais importante eles desconheciam, o caráter de Deus e suas exigências Os
filhos de Eli não tinham qualquer experiência pessoal ou comunhão com o Senhor,
eram filhos de Belial (1Sm 2.12) e por isso foram reprovados. O Pr Augustus
Nicodemus Lopes fez a seguinte declaração: “Nada é mais importante para a
formação de famílias e igrejas fortes que a criação adequada dos filhos. Como é
importante que saibamos criar os filhos na disciplina e admoestação do Senhor!”
(Lopes. Augustus Nicodemus. A Bíblia e sua família. Editora Cultura Cristã. São
Paulo, 2007)
2. Os males da falta de
repreensão. Provérbios 15.10
diz que aquele que aborrece a repreensão morrerá. De acordo com o hebraico, a
palavra repreensão (heb. towkachath) quer dizer correção, censura, punição,
castigo. Nesse sentido, o próprio Deus aplica a sua repreensão: “Porque o
SENHOR repreende aquele a quem ama, assim como o pai, ao filho a quem quer bem”
(Pv 3.12). Por não atentar para ela, a casa de Eli padeceu. Muitos já não
acreditam no juízo de Deus. Ele é justiça! Ele é Santo! [Lições
Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
De fato, não podemos dizer que ele foi totalmente
negligente, ainda que tenha falhado ao achar que as coisas se ajeitariam
automaticamente. Eli errou em não comunicar aos seus filhos as verdades
espirituais que conhecia. Ainda que haja o registro de que Hofini e Fineias
eram ímpios, filhos de Belial, e assim filhos que não ouvem os conselhos dos
pais, não há como isentar Eli de culpa.
3. Pecados voluntários e
deliberados não têm perdão. O apóstolo João disse que há pecados pelos quais não se deve orar (1 Jo
5.16). Esse tipo de pecado gera morte. Nesse caso, é impossível que a pessoa se
renove para o arrependimento. Entretanto, a Bíblia revela que o que confessa o
pecado e o deixa, alcança misericórdia. Mas não houve misericórdia para os
filhos de Eli, pois eles não se humilharam, não se quebrantaram na presença de
Deus. Eles pecaram voluntária e deliberadamente; zombaram do Senhor.
Como seguidores de Jesus Cristo,
tenhamos temor e tremor. O pecado voluntário e deliberado leva à morte eterna
(Hb 10.26). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 4, 27 Outubro, 2019]
A Bíblia de Estudo McArthur comentando o texto de 1
Jo 5.16-17, afirma: “João ilustra a oração segundo a vontade de Deus com o
exemplo específico do pecado que leva à morte. Poderia tratar-se de um pecado
premeditado ou não confessado que leva o Senhor a decidir pôr fim à vida de um
cristão. Não se trata de um pecado em particular, como a homossexualidade ou a
mentira, mas qualquer pecado pode pôr um fim à tolerância de Deus. Não se
arrepender do pecado nem abandoná-lo, no final, levará à morte física como um
juízo de Deus (At 5.1-11; IC o 5.5; 11.30). Nenhuma oração intercessória será
eficaz em favor daqueles que cometeram um pecado tão deliberado e arbitrário;
ou seja, a disciplina de Deus com a morte física é inevitável nesses casos, uma
vez que Deus procura preservar a pureza de sua igreja. O contraste entre as
frases “há pecado para morte" e "há pecado não para a morte"
significa que o escritor faz distinção entre pecados que podem levar à morte
física e outros pecados. Isso não implica identificar um determinado tipo de
pecado, mortal ou não, mas dizer que nem todos os pecados são julgados por Deus
da mesma maneira.” (Bíblia de Estudo McArthur, SBB. p. 1764)
Hebreus 10.26–39 “Esta passagem de advertência
lida com o pecado da apostasia, uma queda intencional ou uma deserção. Os
apóstatas são aqueles que se movem em direção a Cristo, ouvem e compreendem Seu
evangelho, e estão à beira de salvar a crença, mas depois se rebelam e se
afastam. Esta advertência contra a apostasia é um dos mais sérios avisos em
toda a Escritura. Nem todos os hebreus responderiam ao gentil convite dos vv.
19-25. Alguns já estavam além da resposta” (BIBLIOTECABIBLICA)
Matthew Henry comentando 10.26-31, escreve: “As
exortações contra a apostasia e a favor da perseverança são enfatizadas por
muitas razões de peso. O pecado aqui mencionado é a falha total e definitiva em
que os homens desprezam e rejeitam, com vontade e resolução total e firme, a
Cristo, o único Salvador; desprezam e resistem ao Espírito, o único
Santificador; e desprezam e renunciam ao evangelho, o único caminho para a
salvação, e as palavras de vida eterna. Desta destruição Deus dá, ainda na
terra, um aviso prévio temível para as consciências de alguns pecadores, que
perdem a esperança de serem capazes de suportá-la ou de fugir dela. Pois, que
castigo pode ser mais doloroso que morrer sem misericórdia? Respondemos: morrer
por misericórdia, pela misericórdia e a graça que eles desprezaram. Quão
temível é o caso quando não só a justiça de Deus, senão a sua graça e
misericórdia, abusadas, clamam vingança! tudo isso não significa no mais mínimo
que fiquem excluídas da misericórdia as almas que se lamentam pelo pecado, ou
que lhes seja negado o benefício do sacrifício de Cristo a alguém disposto a
aceitar estas bênçãos. Cristo não lançará fora o que acudir a Ele” (BIBLIOTECABIBLICA)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“A razão do fracasso de Eli em
lidar com a imoralidade de seus filhos pode ser explicada parcialmente em
função de sua idade avançada. Tal imoralidade era agravada por ser cometida no
próprio Tabernáculo. A presença de mulheres ligadas ao funcionamento do Tabernáculo
é expressa em Êxodo 38.8. O escândalo era evidente (2.24).
A advertência de Eli a seus filhos
abrangia tanto o efeito da conduta deles sobre os outros – fazei transgredir o
povo do Senhor (24) – como as consequências sobre eles mesmos (25). A conduta
ética imprópria – o pecado de um homem contra outro – poderia ser julgado nas
cortes da lei; mas o pecado religioso contra Deus seria punido pelo próprio
Senhor. Pelo fato de o termo hebraico traduzido como juiz ser há-Elohim, que
também significa “Deus”, a ARA e outras traduções modernas trazem: ‘Pecando o
homem contra o próximo, Deus lhe será o árbitro’, ou ‘Deus o julgará’” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a
Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.183).
CONCLUSÃO
O pecado tem o seu salário. O
pecado tem as suas consequências. Por isso, se andarmos segundo a Palavra de
Deus, se formos fiéis aos seus mandamentos e se procedermos com sinceridade e
verdade, Deus nos confirmará em sua presença. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 4, 27 Outubro, 2019]
Eli perdeu o que ele tinha de mais importante: a
aprovação de Deus e sua família. Vimos em nosso estudo de hoje que uma vida que
tinha tudo para dar certo terminou de forma trágica. Aquilo que fazemos dentro
de nosso lar está diretamente ligado à forma como Deus e as pessoas nos
olharão. Uma pessoa que falha com os da sua própria família, deixando de honrar
a quem merece honra, pouco conseguirá do lado de fora. Uma pessoa que não se
preocupa com a qualidade espiritual dos que estão dentro de sua própria casa
terá a sua credibilidade na igreja abalada.Se Deus cobrará de nós as almas que
estão distantes, quanto mais as que estão dentro de nossas casas.
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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