sexta-feira, 27 de novembro de 2020

LIÇÃO 9: JÓ E A INESCRUTÁVEL SABEDORIA DE DEUS

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos uma das mais belas exposições bíblicas sobre a sabedoria. O capítulo 28 foi propositadamente colocado pelo autor para delimitar o fim dos longos discursos dos amigos do homem de Uz. O seu propósito é contrastar a sabedoria meramente humana com a sabedoria revelada, que é de origem divina. Assim, temos o objetivo de declarar que somente Deus é a fonte da verdadeira sabedoria. Essa divina sabedoria se manifesta na vida dos homens de forma prática através do temor do Senhor. – O livro de Jó pertence ao gênero literário sapiencial, e o seu capítulo 28 é todo dedicado a uma exposição sobre a verdadeira sabedoria. Alguns autores acreditam que esse capítulo não pertence aos discursos originais de Jó, e ainda outros acham que ele encontra-se fora de lugar. Todavia, essa teoria não parece razoável dentro do contexto de Jó. O mais natural é entender que Jó tenha recebido de Deus iluminação para fazer uma exposição tão bela e profunda sobre a sabedoria sob diferentes aspectos. É sobre esse assunto que vamos discorrer no estudo desta maravilhosa lição.

   I. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM NATURAL

1. O empenho na busca da sabedoria. Neste capítulo (28) Jó faz um contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria. Primeiramente, o patriarca descreve a habilidade do homem na exploração dos minérios naturais (vv.1-11). Então, ele contrasta o trabalho nas minas com a busca do homem pela sabedoria. Da mesma forma que desde os primórdios o homem usa diligentemente a tecnologia na busca de metais preciosos, assim também ele tem empreendido um grande esforço para encontrar a sabedoria. Para ser encontrado, primeiramente, o minério precisa ser garimpado; a sabedoria igualmente. O minério existe, mas está enterrado; a sabedoria existe, mas está oculta.

2. Como quem explora o minério, assim o homem faz com a sabedoria. No trabalho de mineração requer-se habilidade, diligência, persistência e muita técnica na execução; a busca da sabedoria também demanda tais características. As minas geralmente são locais de difícil acesso e de pouca iluminação, por isso, há a necessidade de se abrir caminho e colocar luz artificial (vv.3,4). Assim também ocorre no empreendimento do homem pela busca pela sabedoria, mas apesar de todo o esforço nessa procura, Jó crê que isso tem sido feito sem sucesso. 

3. De onde vem a sabedoria? Jó demonstra que o homem tem sido exitoso no seu trabalho junto às minas, todavia, incapacitado na “escavação da sabedoria”. Tem procurado, mas não tem encontrado. O homem descrito por Jó é capaz de desviar o curso das águas, a fim de evitar a inundação das minas (v.12), mas não é capaz encontrar a sabedoria. A sabedoria dos sábios e da academia estava disponível para ser alcançada. Todavia, a sabedoria retratada por Jó não era fruto da tradição nem podia ser obtida pelo método acadêmico. Embora os metais preciosos pudessem ser encontrados na terra escavada, a verdadeira sabedoria não podia ser obtida pelo simples esforço humano. Isso justificava o conflito que havia entre a teoria teológica dos amigos de Jó e a vivência concreta do patriarca. Portanto, a verdadeira sabedoria não era propriedade dos sábios, mas uma dádiva de Deus. Tiago nos lembra de que “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (1.5). – O tema desse poema grandioso, uma das grandes obras de arte poéticas do livro, é que a sabedoria é inalcançável pelo homem. Por “sabedoria” não se entende o tipo de sabedoria prática inculcada pelo livro de Provérbios, mas a sabedoria como compreensão total e completa do mundo e de sua ordem. Esse uso do termo “sabedoria” seria muito compreensível ao autor de Eclesiastes, que ressalta que “ele [o homem] não consegue compreender inteiramente o que Deus fez” (Ec 3.11; cf. 8.17). Esse poema soaria um pouco estranho na boca de Jó, pois somente pela força de demorada argumentação de Deus (caps. 38-41) é que ele é conduzido a esse reconhecimento (cf. 42.3); mais importante, contudo, do que a pergunta de qual personagem no diálogo vem essa declaração é o destaque dado ao grande abismo entre a sabedoria humana e a divina. – O poeta não está interessado em denegrir a sabedoria humana para engrandecer a sabedoria de Deus. O seu poema começa como um cântico de elogio da engenhosidade humana (v. 1-11) e só depois prossegue afirmando que mesmo assim a verdadeira sabedoria escapa à sua com preensão e é conhecida somente por Deus (v. 12-27); ao homem é dado conhecer não a “sabedoria”, mas a lei de Deus: para o homem, a sabedoria está no temor do Senhor (v. 28). (a) A sabedoria do homem (28.1-11). O poeta escolhe som ente um exemplo de sabedoria humana: a capacidade do homem de fundir o minério extraído da terra (v. 2). Essa é uma ilustração particularmente adequada da sabedoria humana, pois inclui o tema da busca por aquilo que é precioso. O hebraico do poema é bastante obscuro, em parte porque muito pouco se conhece das tecnologias antigas de mineração. Todas as versões precisam usar um pouco de imaginação para fazer sentido dos detalhes, mas o retrato geral apresentado pelas versões modernas está claro. Em primeiro lugar, são registrados quatro metais que o homem extrai na mineração. No v. 3, parece haver uma referência a lâmpadas usadas debaixo da terra. O v. 4 destaca o perigo e a solidão em que se trabalha nessa indústria e descreve de forma pitoresca o minerador na hora de descer no poço da mina: ele se pendura e balança. Esse negócio da mineração é um processo paradoxal: na superfície, continuam os processos pacíficos da agricultura, enquanto abaixo disso talvez tenha de haver a remoção violenta de obstáculos para se chegar ao metal (v. 5). A engenhosidade humana criou no subsolo da terra um caminho desconhecido para aves e animais da terra (v. 7,8). Ao contrário dos animais, o homem é o dominador da terra (v. 11); ele tem capacidade para atacar as encostas das colinas; ele “desarraiga as montanhas pela raiz” (v. 9, BJ). Os seus olhos são mais penetrantes do que os do falcão (v. 10; cf. v. 7), os seus caminhos, mais secretos e remotos do que os do leão (v. 10; cf. v. 8). (b) Mas onde se poderá achar a sabedoria? (28.12-28). Evidentemente a “sabedoria” que não pode ser encontrada pelo exame e pela busca é algo diferente da sabedoria tecnológica do homem. O poeta não nos conta abertamente o que ele quer dizer, mas permite que se forme um clímax que mostra de forma crescente a impossibilidade de se obter essa sabedoria. Não se conhece o seu lugar (v. 12), tampouco o caminho para ela (v. 13); não pode ser avaliada em termos de ouro ou prata (v. 15-19). Nem o mundo sabe onde se pode encontrá-la (v. 14). Até mesmo os poderes sobrenaturais da Destruição (lit. Abadom, i.e., Sheol, o submundo) e da Morte só conhecem um leve rumor dela (v. 22). Mas Deus sabe tudo a respeito dela (v. 23), pois na verdade foi essa a sua sabedoria que ele usou para estabelecer a criação (v. 24-27). E inacessível ao homem esse conhecimento sobrenatural do Universo e o seu propósito e as leis que o regem; o que foi dado a conhecer ao homem, no entanto, é um outro tipo de sabedoria: uma sabedoria mais manejável e praticável, uma sabedoria que consiste no fazer: no temor do Senhor e em evitar o mal (v. 28) está a sabedoria para o homem. Esse poema pode muito bem subsistir sozinho, mas, deve ser lido como resposta final e conclusiva de Zofar a Jó, o seu significado está em rejeitar a reivindicação de Jó ao completo conhecimento dos caminhos do Todo-poderoso (27.11) e preceituar para Jó não a busca pela sabedoria, mas o esforço de buscar a retidão como objetivo em si.

SUBSÍDIO DIDÁTICO -PEDAGÓGICO

Comece a aula de hoje indagando aos alunos sobre o conceito de sabedoria. Ao mesmo tempo que você ouve as respostas, perceba como é comum muitos confundirem sabedoria com capacidade intelectual. Após ouvi-los, explique que, embora uma pessoa sábia possa apresentar uma grande capacidade intelectual, a sabedoria não está associada diretamente a tal capacidade. Procure deixar isso bem claro para os alunos. E, como veremos nesta lição, afirme que a sabedoria divina está intimamente ligada ao “temor do Senhor” na vida do crente.

  II. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM COMERCIAL

1. O preço da sabedoria. Podemos ver um paralelo entre a sabedoria exposta por Jó neste capítulo (vv.12-19) com a descrita no livro de Provérbios. Esse livro, por exemplo, contém várias exortações para se adquirir a sabedoria. Todavia, há uma diferença entre o que Jó ensina e o que Salomão ensinou sobre a sabedoria em Provérbios. Em Salomão, a sabedoria tem um custo e pode ser encontrada, se buscada com diligência e entendimento. Ela tem seu preço e pode ser passada de pai para filho (Pv 4.5,7,23). Por outro lado, para Jó a sabedoria está em outro patamar. Ela tem valor, mas não preço. Como bem destacam estudiosos, a sabedoria em Jó é incomparável, não se pode comprar ou trocar com todos os outros tesouros. É patrimônio exclusivo de Deus; não é possessão dos mestres, por isso, não pode ser transmitida (cf. Tg 1.5). Aqui, Jó fala de sabedoria e inteligência, de conhecer e desfrutar de Deus e de nós mesmos. Seu valor é infinitamente superior a todas as riquezas deste mundo. É uma dádiva do Espírito Santo que não pode ser comprada com dinheiro. Que seja mais precioso aos nossos olhos o mesmo que o é aos olhos de Deus. Jó pede como quem deseja encontrá-la, e sente-se como desesperado pela ideia de pensar em encontrá-la em outra parte que não seja em Deus, e de forma que não seja pela revelação divina. – Observemos que nos primeiros capítulos, Jó aparece como um homem feliz e extremamente piedoso, levando a sério as questões relacionadas à vida religiosa. Todavia num segundo momento, Jó aparece de forma questionadora, não conformado com os infortúnios, quando, por exemplo, uma tempestade varre a sua casa e família. O Jó paciente cede o seu lugar para o Jó inquieto. Uma das belezas do livro de Jó está exatamente na narrativa dos fatos sem a tentativa de mascarar as agruras pelas quais o velho patriarca passa. Aqui, Jó discute com Deus e demonstra o seu ressentimento diante da aparente injustiça que estava sofrendo. – É necessário fazer um contraste entre Jó e Eclesiastes. Por um lado, Jó levanta a voz contra toda explicação teológica que é simples demais para explicar as contradições da vida. Por outro lado, o livro de Eclesiastes faz análise filosófica sobre o lado sombrio da vida que acontece “debaixo do sol”. Nesse aspecto, o Eclesiastes (Pregador) é um bom observador e um crítico radical da vida. Uma palavra-chave que ajuda a entender a mensagem de Eclesiastes está na compreensão do sentido de hebel, que, comumente traduzida por “fumaça, vapor”, mantém o sentido de “vaidade”. No Eclesiastes, hebel é usada nos contextos da riqueza, trabalho, prazer e conhecimento. O Pregador (Eclesiastes) não pode ser visto como um observador frívolo otimista, pois a sua visão da vida mostra a realidade nua e crua como se apresenta a existência humana. É nisso que ele é parecido com Jó.        

2. O valor da sabedoria. Sobre o valor da sabedoria vale a pena recordar o que disse certo pregador londrino: “A sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecer não é ser sábio. Muitos homens têm extensos conhecimentos e, justamente por isso, são os mais tolos. Não há tolo maior do que o tolo instruído. Mas saber como usar o conhecimento é ter sabedoria”. Assim, em Jó, vemos que o homem ainda não aprendeu o verdadeiro preço da sabedoria nem onde encontrá-la (Jó 28.13) e que, por isso, acredita ser fácil adquiri-la. – A exposição de Jó sobre a sabedoria deve ser entendida a partir do seu contexto imediato. Nos capítulos precedentes, Jó travou um longo debate com os seus três amigos Elifaz, Bildade e Zofar. Esse ciclo de debates terminou. O discurso proferido sobre a sabedoria introduz uma pausa no texto prenunciado o que viria a seguir: outra série de discursos que serão proferidos por Eliú. Devemos lembrar que os amigos de Jó fizeram uma defesa apaixonada sobre a sabedoria, ao mesmo tempo em que acusavam Jó de não possuir. Novamente, Jó porá a sabedoria no centro da discussão. E por que ele fará isso? Porque os seus amigos alegaram que eram sábios e que com eles estava o entendimento; todavia, foram incapazes de dar respostas sábias e satisfatórias às questões levantadas por Jó, que chegou à conclusão de que, sem dúvida, havia uma sabedoria, mas, com toda certeza, ela não se encontrava com os seus amigos. O que se vê no capítulo 28 é o argumento do patriarca apresentando a sabedoria sob três dimensões – natural, comercial e espiritual – demonstrando por que os homens não a haviam encontrado. – desta forma é visto que a sabedoria visto no contexto do Antigo Testamento é mais prático do que teórico. Em muitos textos do Antigo Testamento, é revelado que o Senhor Deus é a fonte dessa sabedoria.

3. A sabedoria não é um bem comercial. O patriarca não nega que a sabedoria exista ou que ela pode ser encontrada, mas o que ele diz é que a sabedoria não é um bem comercial. Ela não pode ser encontrada em toda parte, nem mesmo nas mais poderosas forças da natureza primitiva – o abismo (hb. tehon) e o mar (hb. yam). A sabedoria é de valor inestimável e só quem pode concedê-la é Deus. – Tendo gastado todo o seu esforço e usado todas as técnicas disponíveis, mesmo assim o homem demonstrou-se incapaz de encontrar a sabedoria. Ele valeu-se de meios naturais nessa busca. A sabedoria a qual se refere Jó demonstra ser bem diferente daquela conhecida pelos seus amigos, que diziam que a sabedoria era um bem herdado que passava de pai para filho. Era, portanto, um bem que poderia ser encontrado. Por outro lado, Jó mostra que a sabedoria da qual está falando é de natureza diferente, não podendo ser herdada ou passada de pai para filho. Não é, portanto, um bem simplesmente cultural. Mas onde se pode encontrá-la? É exatamente isso que ele mostrará: “Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência” (28.12). Como ficou demonstrado, no entendimento de Jó, a sabedoria não é um bem meramente cultural que poder ser encontrado por meios naturais. Haveria meios ou caminhos para ela ser adquirida? “O homem não lhe conhece o caminho; nem se acha ela na terra dos viventes” (28.13). Ela não pode ser encontrada na “terra dos viventes”, não está no mar e nem tampouco no “abismo”. Da perspectiva natural, não há nada que possa comprá-la: “Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira” (28.16). Onde, pois, está a sabedoria?  

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“A Excelência da Sabedoria – vv.14-19. Tendo falado sobre a riqueza do mundo, que os homens valorizam tanto, e que se esforçam tanto por obter, Jó aqui fala de outra joia mais valiosa, que é a sabedoria e o entendimento, conhecer e ter prazer, em Deus e em nós mesmos. Os que descobriam todos os caminhos e meios para enriquecer se julgam muito sábios; mas Jó não considera que tenham sabedoria. Ele supõe que eles conseguiram o seu objetivo, e trouxeram à luz aquilo que buscavam (v.11), mas pergunta: ‘Mas onde se achará a sabedoria?’ pois ela não está aqui. Este seu caminho é a sua loucura. Devemos, portanto, buscá-la em outro lugar; e ela não será encontrada em outra parte, senão nos princípios e nas práticas da religião. Há mais conhecimento verdadeiro, satisfação e felicidade na divindade genuína, que nos mostra o caminho para as alegrias do céu, do que na filosofia natural ou na matemática, e que podem nos ajudar a encontrar o caminho para as entranhas da terra” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.136).

  III. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM ESPIRITUAL

1. Uma verdade revelada. No versículo 20, Jó faz a importante pergunta: “De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?”. Anteriormente, Jó fez um contraste entre o trabalho de um minerador e o de quem procura a sabedoria. Nele, os homens, semelhante a um mineiro, têm garimpado à procura da sabedoria, mas, mesmo assim, não têm achado. Toda diligência, técnica e determinação não têm sido suficientes para que ele a encontre. A sabedoria não está no centro da terra, nem com os sábios, de forma que possa ser passada pela simples via da tradição. Ela está oculta. Todos os esforços humanos revelam-se inúteis na sua aquisição. A sabedoria está em Deus e somente Ele pode outorgá-la. Deus é a fonte da sabedoria e somente Ele pode revelá-la. 

2. Uma verdade prática. A sabedoria vem de Deus. Ela está em Deus e é Ele quem a revela. A sabedoria divina não é uma verdade a ser apenas contemplada, mas a ser vivida. Ela é prática. Jó diz que a sabedoria está no “temor do Senhor” (Jó 28.28). O temor do Senhor aproxima o homem de Deus e o afasta do mal. A sabedoria, portanto, é relacional. Esse foi um testemunho que o próprio Deus já havia dado sobre Jó. Ao contrário de seus amigos, ele vivia a sabedoria divina. Não apenas a sabedoria contemplativa, tradicional, transmitida pela tradição. A sua sabedoria era uma verdade revelada, por isso, convertia-se em ação prática e relacionamento duradouro. – A pergunta do versículo 12 é repetida no 20. Jó está caminhando para a conclusão do seu argumento. Jó está caminhando para a conclusão do seu argumento. Como ele mostra no primeiro ciclo de seu argumento (28.1-11), não é possível obter a sabedoria simplesmente a sabedoria pelo esforço humano, mesmo que os homens sejam dirigentes e aguerridos nesse projeto. Ela também não tem preço. Não é um bem comercial e, por isso, não pode ser comprada. Não tem preço, mas possui valor. Ela é um bem imaterial, na verdade espiritual. Não pode ser adquirida por meio da tradição, mas por revelação. Não é um produto humano, mas divino. "Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência" – Existe uma sabedoria dobrada; uma oculta em Deus, que é secreta e não nos pertence; e outra que é dada a conhecer por Ele, a qual é revelada ao homem. Os sucessos de um dia, e os assuntos de um homem, estão relacionados entre si, e dependem um do outro, de modo que somente Ele, diante de quem tudo está patente e vê o todo de uma só vez, pode julgar retamente cada parte. Porém, o conhecimento da vontade revelada de Deus está ao nosso alcance, e nos faz bem. – Que o homem considere isto como sabedoria sua: Temer ao Senhor e afastar-se do mal. Que aprenda isto e terá aprendido bastante. Onde encontrar esta sabedoria? seus tesouros estão escondidos em Cristo, revelados pela Palavra, recebidos por fé através do Espírito santo. Não alimenta o orgulho, nem as atitudes e pensamentos vãos, nem entreterá a nossa vã curiosidade. Ensina aos pecadores, para que temam ao Senhor e se afastem do mal, no exercício do arrependimento e da fé, sem desejar a solução de todas as dificuldades acerca das situações da vida.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Não podemos alcançar a verdadeira sabedoria, senão pela revelação divina. ‘O Senhor dá a sabedoria’ (Pv 2.6). Entretanto, ela não é encontrada nos segredos da natureza ou da providência, mas nas regras para o nosso próprio proceder. Ao homem, Ele não disse, ‘Suba ao céu, para encontrar ali a felicidade’, nem ‘Desça às profundezas, para encontrá-la ali’. Não, a ‘palavra está mui perto de ti’ (Dt 30.14). Ele te mostrou, ó homem, não o que é grande, mas o que é bom; não o que o Senhor teu Deus deseja fazer contigo, mas o que Ele pede de ti (Mq 6.8). ‘A vós, ó homens, clamo’ (Pv 8.4). Senhor, o que é o homem, para que seja assim visitado! Veja, perceba isto, aquele que tem ouvidos, que ouça o que o Deus do céu diz aos filhos dos homens: O temor do Senhor, isto é a sabedoria. Aqui temos: 1. A descrição da verdadeira religião, a religião pura e imaculada; é temer o Senhor e afastar-se do mal, o que está de acordo com a descrição que Deus faz de Jó (1.1). O temor do Senhor é a fonte e o resumo de toda a religião” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.138).

  CONCLUSÃO

Vimos que mesmo com empenho na busca da sabedoria, os resultados não são satisfatórios. A sabedoria não é alcançada. A sabedoria é um bem valioso e caro; ela não tem apenas preço, mas, sobretudo, valor. Ela não pode ser comprada ou comercializada, nem mesmo pode ser herdada. Ela é uma verdade revelada. Somente Deus é a fonte legitima da sabedoria. Ela se materializa no temor do Senhor. Quem teme ao Senhor é um sábio. – Jó sustenta que as dispensações da providência são reguladas pela sabedoria suprema. Para confirmar isto, demonstra a grande quantidade de conhecimento e riqueza de que os homens podem se assenhorear. As cavernas da terra podem ser descobertas, mas não os conselhos do céu. Os que são preguiçosos quanto à religião devem observar os trabalhadores das minas, considerar os seus caminhos e serem sábios. Que a coragem e a diligência deles – em buscar riquezas que perecem – nos envergonhe por nossa preguiça e fraqueza de coração para labutar pelas autênticas riquezas. Quão melhor é adquirir a sabedoria que o ouro! Quão mais fácil e seguro! Porém, busca-se o ouro e despreza-se a graça. A esperança de coisas preciosas da terra, como as chamam os homens, ainda que sem valor e perecíveis, são um grande incentivo para o trabalho; e não será muito maior a perspectiva certa de coisas verdadeiramente preciosas no céu?

REFERÊNCIAS

BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento - Jó. p. 750, São Paulo: Vida, 2009.

GONÇALVES, José. A fragilidade humana e a soberania divina: o sofrimento e a restauração de Jó. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 43.  Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

LIÇÕES BÍBLICAS. 4º Trimestre 2020 - Lição 9. Rio de Janeiro: CPAD, 29, nov. 2020.

 

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