sexta-feira, 20 de novembro de 2020

LIÇÃO 8: A TEOLOGIA DE ZOFAR: o justo não passa por tribulação?

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos o discurso de Zofar, o último amigo de Jó a falar na série de debates (Jó 11; 20). Ele insistirá na tese de que o justo não passa por tribulação, à semelhança do que pensavam seus amigos Elifaz e Bildade. Todavia, Zofar é mais duro e impiedoso na acusação contra Jó. Ao contrário de seus amigos, ele faz dois discursos suficientes para derramar seu ressentimento contra o patriarca. Ele o acusa de se levantar contra sabedoria divina e aconselha Jó a voltar-se para Deus. – Zofar é o mais jovem e o último a falar. Dos três amigos de Jó ele é o mais impiedoso. Adam Clarke (2014, p. 15) diz que os seus discursos são avinagrados. A teologia desse amigo, portanto, é azeda e amarga. De fato, Zofar não poupa palavras duras e críticas ácidas ao combalido Jó. Para os Pais da Igreja, Zofar era um acusador falso e um homem cheio de ressentimentos. Ele demonstra-se incomodado porque acredita que os amigos não firam hábeis o suficiente para argumentar com Jó. em vez disso, ele acredita que a lábia de Jó fizera-os ficar calados. Ele, porém, não se convencera nem um pouco com toda a argumentação de Jó, então era ora dele destilar toda a sua sábia fúria sobre Jó.

   I. DEUS SE MOSTRA SÁBIO QUANDO AFLIGE O PECADOR

1. Deus grande e sábio. Zofar defende que o sofrimento de Jó fazia parte de um sábio julgamento divino, pois, para ele, Deus demonstra grande sabedoria em reprimir os maus. Por outro lado, os bons jamais passam por tribulação. Para Zofar, se alguém deve algo tem de pagar. Com dureza, o terceiro amigo de Jó não demonstra a mínima compaixão pelo sofrimento do patriarca de Uz ao acusá-lo de que se comporta como um animal irracional, um jumento que não tem entendimento (11.12) ao não perceber a sabedoria divina na condução das coisas.  Para Zofar, Jó valeu-se na sua defesa de palavras exageradas (11.2), desrespeitosas (11.3), cheias de justiça própria (11.4) e ignorantes sobre as coisas de Deus (11.5,6). 

2. Deus não é indiferente à ação do ímpio. O terceiro amigo de Jó acreditava que ele havia se autodeclarado “puro” e “sem culpa” (Jó 11.4; cf 9.21; 10.7). Cria também que Deus não é indiferente à ação do ímpio como Jó parecia ter sugerido. Assim, para Zofar, se Deus debatesse com Jó, como era desejo deste, então não haveria dúvidas de que Ele ficaria contra o patriarca e não ao seu favor. Nesse embate, Deus revelaria a Jó os segredos de sua sabedoria e o homem de Uz veria que Ele estava sendo sábio em tratá-lo como merecia. Logo, Jó seria condenado. – Zofar ataca Jó com muita veemência, apresentando-o como alguém apreciado ao falar, ainda que não possa dizer algo sobre o tema em discussão, e como quem mantém falsidades. Desejava que Deus mostrasse a Jó que a ele era infligido menos castigo do que o merecido. Estamos prontos com muita segurança para pedir a Deus que atue em nossas disputas, e para pensar que se tão-somente falasse, Ele estaria a nosso favor. Devemos deixar todas as disputas a critério do juízo de Deus, que é segundo a verdade; porém, nem sempre os que são mais inclinados a apelar à justiça divina são os que têm mais razão. – Zofar fala bem a respeito de Deus, sua grandeza e sua glória; e no tocante ao homem, fala o quão vãos e néscios costumam ser. Assim Deus vê ao homem vão: que se considera sábio ainda que nasça como um indomável filhote de jumento selvagem, não domesticável. O homem é uma criatura vã; vazia, esta é a qualificação correta. Não obstante é uma criatura orgulhosa que se engana a si mesma. Pensa que é sábio, ainda que não se submeta às leis da sabedoria. Ele seria sábio se seguisse a sabedoria proibida e, como os seus primeiros pais, tendendo a ser mais sábio do que aquilo que está escrito, perde a árvore da vida por causa da árvore do conhecimento. Uma criatura nesta condição é apta para contender com Deus?

3. Tolos se passando por sábios. Jó reage com ironia à “sabedoria” defendida anteriormente por seus amigos (“vós”, Jó 12.2) e agora por Zofar. Este, juntamente com seus amigos, havia se levantado como legítimo representante do verdadeiro saber. Zofar, pois, pretende representar o próprio Deus em seu discurso (Jó 13). Todavia, Jó está convencido de que isso não passava de charlatanismo: “Vós, porém, sois inventores de mentiras e vós todos, médicos que não valem nada” (Jó 13.4). Ele, portanto, está resoluto em deixar os amigos e ir à procura de Deus: “Mas eu falarei ao Todo-Poderoso; e quero defender-me perante Deus.” (Jó 13.3). O patriarca estava certo de que havia uma sabedoria do alto, que seus amigos desconheciam por completo, e, quando revelada, ficaria ao seu lado (cf. cap. 28). 

No lugar dos julgamentos dos homens, há uma sabedoria do alto que sonda os corações dos que são chamados pelo nome do Senhor, pois Este não vê como os homens veem (1 Sm 16.7). – Jó confronta seus amigos com a boa opinião que têm de sua própria sabedoria, comparada com a dele. somos bons em chamar de reprovações às repreensões, e para pensar que zombam de nós quando nos aconselham e admoestam; esta é a nossa maneira néscia de pensar; porém, aqui havia razão para esta acusação. Ele suspeitava que a verdadeira causa da conduta deles era que desprezavam ao que caía na pobreza. Este é o estilo do mundo. Mesmo o homem reto e justo é olhado com desdém se enfrentar uma dificuldade como esta.  – Jó apela aos seus feitos, os maiores ladrões, opressores, e ímpios costumam prosperar; porém, isto nunca ocorre por sorte ou azar; o Senhor é quem ordena estas coisas. A prosperidade terrena é de pouco valor diante de seus olhos. Ele tem coisas melhores para os seus filhos. Jó resolve tudo dentro dos limites da propriedade absoluta que Deus tem de todas as criaturas. Ele demanda de seus amigos a liberdade para julgar o que eles disseram; Ele apela a um juízo justo. – Jó fala evidentemente com um espírito muito irado contra seus amigos. Eles expuseram algumas verdades que quase eram aplicáveis a Jó; porém, o coração que não se humilha diante de Deus nunca recebe mansamente as censuras dos homens.

SUBSÍDIO DIDÁTICO -PEDAGÓGICO

Inicie a aula de hoje indagando aos alunos: Os bons não passam por tribulações? Só os maus sofrem? Deixe que eles respondam as perguntas livremente e os ouça com atenção. Perceba que as questões trazem consigo desconforto, pois elas nos afetam sinceramente.

A ideia com esse exercício é mostrar que, conforme exposto no tópico, muitos podem cometer as mesmas injustiças de Zofar se não atentar para o seguinte fato: a relação da soberania divina com a realidade humana nos escapa totalmente. Por isso, olhemos com mais carinho para o que se passa com o outro e, no lugar de julgá-lo precipitadamente, atentemos para resolver de que forma podemos ajudá-lo

  II. A CONVERSÃO COMO RESPOSTA A AFLIÇÃO

1. Purificação moral. Nos versículos 13-20 do capítulo 11, Zofar conclui seu discurso sobre a situação de Jó. Ele não tem dúvidas de que o patriarca está em pecado e, por isso, a única forma de ele se restabelecer é por meio de uma purificação moral. Zofar, portanto, conclama Jó ao arrependimento e conversão. Ele enumera três passos para que isso aconteça: conduta correta (v. 13); oração (v. 13) e renúncia ao pecado (11.14). Então, segundo Zofar, se Jó cumprisse essas condições, reconhecendo que estava em pecado, Deus o restauraria de sua miséria. Entretanto, a ideia de arrependimento de Zofar é mais de natureza externa do que interna. O que está em vista é uma teologia do moralismo salvífico em vez da graça divina. Nesse aspecto, o arrependimento não passava de um mero ritual. Na teologia de Zofar a simples prática desses ritos trazia consigo o poder de conferir o favor divino. Na verdade, isso era o que se conhece hoje como legalismo religioso.

2. É possível negociar com Deus? Estudiosos destacam que Zofar tenta induzir Jó a negociar com Deus a fim de se ver livre de suas dificuldades. Era exatamente isso que Satanás desejava que Jó fizesse (Jó 1.9). O Diabo acusou Jó de ter uma fé interesseira, com base nas promessas de prosperidade em troca de sua obediência. Se Jó tivesse seguido o conselho de Zofar, teria feito exatamente o que o Inimigo queria. – Zofar exorta a Jó a que se arrependa e lhe dá ânimo, ainda que misturados com pensamentos maus sobre Jó. Ele pensava que a prosperidade terrena sempre era a sorte do justo, e que Jó estava condenado a ser hipócrita, a menos que sua prosperidade fosse restaurada. "Então o teu rosto levantarás sem mácula", isto é, poderás ir diretamente ao trono da graça, e não com terror e o assombro expressos no cap. 9.34. Se formos vistos no rosto do Ungido, nossos rostos antes deprimidos poderão ser levantados; ainda que corruptos, agora lavados com o precioso sangue do Senhor Jesus Cristo, podem ser levantados sem manchas. Poderemos nos aproximar com plena segurança de fé, quando formos purificados da má consciência (Hb 10.22).

3. A angústia de Jó. Diante das insistentes acusações dos amigos e do silêncio de Deus, Jó dá sinais de desânimo (cap. 12 – 13). Ele manifesta de vez toda a sua condição humana. O justo sofre!

Se Jó seguisse o conselho de Zofar estaria assinando um termo de confissão. Assumindo algo que não havia feito. Ele sabia de sua integridade e, por isso, não se sujeita a esse capricho do amigo. Isso o lança num dilema angustiante. No capítulo 14, ele demonstra que sua esperança está desvanecendo, comparando-se a uma flor que é cortada, uma sombra que desaparece e um empregado que trabalha, mas que logo é dispensado. Qual o sentido da vida nessas circunstâncias? Haveria esperança? Jó parece estar desiludido. Até mesmo uma árvore quando tem seu tronco cortado volta a ter brotos novamente, mas isso não acontecia com o homem. Nesse aspecto, o homem se assemelhava mais a água que evapora ou que se infiltra na terra. Diante desse quadro, Jó se pergunta: “Morrendo o homem, porventura, tornará a viver?” (Jó 14.14). Era a pergunta de um homem crente e piedoso, porém, angustiado, que não tem medo de expressar sua verdadeira condição humana. – Jó declara que não necessita de que eles o ensinem. Os que discutem, procuram magnificar-se a si mesmos e inconvenientemente rebaixam os seus irmãos. Quando estamos a ponto de desfalecer ou perturbados com medo da ira, ou da força da tentação, ou do peso da aflição, devemos recorrer ao médico das nossas almas, que nunca rejeita a alguém, nunca dá uma receita errada e nunca deixa de curar um caso sequer. com Ele devemos falar a todo o momento. Para os corações quebrantados e as consciências feridas, todas as criaturas são médicos que nada valem sem Cristo. – Jó resolveu apegar-se ao testemunho que sua própria consciência lhe dava sobre sua retidão. Dependia de Deus quanto à sua justificação e salvação, as duas grandes coisas que esperamos alcançar através de Cristo. Pouco esperava a salvação temporal; porém, estava muito confiado de sua salvação eterna. Jó cria que Deus não somente seria seu Salvador para fazê-lo feliz, mas seria a sua salvação; e, ao desfrutar dEle, seria feliz. sabia que não era um hipócrita, e concluiu que não era justo ser reprovado. – Nós deveríamos estar bem contentes tendo Deus como nosso amigo, mesmo que às vezes Ele pareça estar contra nós. Devemos crer que Ele fará tudo para o nosso bem, ainda que tudo pareça também estar contra nós. Devemos nos apegar a Deus mesmo nos momentos em que aparentemente não possamos encontrar consolo nEle. Na hora da morte, devemos obter dEle consolo vivo, e isto é confiar nEle ainda que nos mate.   

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Exortação à humildade e ao arrependimento (11.13-20). Zofar foi insensível até aqui, a ponto de ser ríspido em seu tratamento com Jó. Mas ele não entregou os pontos em relação ao seu antigo amigo como se fosse um caso perdido. Ainda existe a oportunidade de Jó recuperar-se da sua terrível condição. Visto que ele está certo de que algum pecado cometido por Jó é a raiz da sua condição e que o sofrimento de Jó resulta desse pecado, a resposta é simples. Jó deveria estar aberto e humilhar-se em relação ao seu mau procedimento. Isso exige reparação, inclusive uma preparação apropriada do seu coração (13) para colocá-lo num relacionamento correto com Deus. Estende as tuas mãos para ele subentende súplica em oração para remover a iniquidade da sua vida e do seu lar (13-14). Quando isso for feito, Jó estará apto a levantar o seu rosto sem mácula (15). Sua vida será mais radiante e alegre do que antes. Todas as causas do medo serão removidas, e em seu lugar haverá segurança e esperança em sua vida (17-19). Zofar pede para ele olhar em volta. Muitos acariciarão o teu rosto (19) significa: ‘Muitos procurarão o seu favor’ (NVI)” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 50).

  III. DEUS JULGA E CASTIGA OS PECADORES

1. O castigo dos maus. O capítulo 20 contém o segundo discurso de Zofar. Nele, Zofar lembra a Jó que a aparente prosperidade dos ímpios não passa de ilusão e dura apenas um instante. Na verdade ele repete o que os seus outros amigos já há muito vinham dizendo (Jó 20.5). Os versículos 12 a 14 desse mesmo capítulo são usados por Zofar para comparar o deleite do ímpio à uma comida envenenada. Ela pode saciar, mas proporcionará uma digestão trágica (Jó 20.14). Dessa forma, tudo o que o ímpio adquiriu de forma desonesta e pecaminosa terá que devolver e restituir (Jó 20.18). Esse ímpio terá como adversário o próprio Deus, que o julgará e punirá (Jó 20.27-29). – O discurso de Zofar fala sobre a miséria garantida do ímpio. O triunfo do ímpio e o gozo do hipócrita são passageiros. Os prazeres e os ganhos do pecado trazem enfermidade e pesar, terminando em remorso, angústia e destruição. A piedade escondida é iniqüidade dobrada, e a destruição correspondente será concordante. – A condição desgraçada do ímpio neste mundo é aqui exposta detalhadamente. As luxúrias da carne são aqui chamadas de pecados da juventude; ocultá-las e guardá-las sob a língua refere-se a esconder a transgressão e deleitar-se nela. Porém, aqui Aquele que conhece o que há no coração sabe o que há debaixo da língua, e fará com que seja descoberto. O amor ao mundo e à sua riqueza também é maldade, e o homem coloca o coração nestas coisas. Além do mais, a violência e a injustiça são pecados que acarretam o juízo de Deus sobre famílias e nações. – Nunca uma doutrina foi melhor explicada, nem pior aplicada que esta, porque Zofar pretendia demonstrar que Jó era hipócrita. Recebamos a boa explicação e apliquemo-la de maneira ainda melhor como advertência para nós, para que permaneçamos reverentes, e não pequemos. O ponto de vista que alguém tem de Jesus, guiado pelo Espírito Santo e colocado adequadamente sobre a nossa alma, é algo que apagará milhares de argumentos carnais sobre os sofrimentos do crente.

2. Jó diante de um paradoxo. O capítulo 21 traz a resposta de Jó ao argumento de Zofar. Para o patriarca a tese de Zofar de que os ímpios são sempre punidos era contraditada pela experiência. Os ímpios poderiam sim ser punidos, mas isso nem sempre parecia acontecer, conforme descrito: “Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?” (Jó 21.7). Jó havia constatado que os ímpios pareciam gozar de longevidade e prosperidade (Jó 21.8). Além de terem vida longa, eles passavam seus dias em total regalia e morriam em total felicidade, como podemos constatar neste versículo: “Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura” (Jó 21.13 – ARA). – Jó aproxima-se do assunto em debate. A prosperidade exterior é uma marca da Igreja e de seus membros, de modo que a ruína da prosperidade de um homem demonstra que é um hipócrita? Eles asseguram isso; porém, Jó não concorda. Se olhassem corretamente para ele, teriam miséria suficiente para pedir compaixão, e suas ousadas interpretações desta providência misteriosa transformar-se-iam em veneração silenciosa. – Jó disse: "Às vezes, é permitido que caiam juízos notáveis sobre pecadores destacados; porém, nem sempre". Por que isto é assim? Este é o dia da paciência de Deus. De uma ou de outra maneira, Ele emprega a prosperidade do ímpio para servir aos seus próprios conselhos, enquanto os prepara para a destruição; porém, Ele deixará evidente que há outro mundo. Estes prósperos pecadores tomam a Deus e a religião descuidadamente, como se, por possuírem tanto neste mundo, não tivessem a necessidade de buscar o outro. Porém, a religião não é coisa vã. Se este for o nosso caso, podemos agradecer a nós mesmos por ficar fora dela. Jó mostra o quanto isso é néscio. - A desproporção entre o tempo e a eternidade é tão grande que, se o inferno fosse a sorte de todo o pecador, finalmente haveria pouca diferença se um fosse para lá cantando e outro suspirando. Se um ímpio morre em um palácio e outro em uma masmorra, para ambos serão o verme que não morre e o fogo que não se apaga. Assim, pois, não vale a pena confundir-se devido às diferenças deste mundo.

3. A verdade vem à tona. A lei da retribuição não se aplica a todas as esferas da existência humana nem explica os caminhos soberanos do Altíssimo, pois Deus também “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45). – Jó antecipa-se àquilo que tanto o salmista quanto Salomão questionaram: “Por que prosperam os ímpios?”. No livro de Eclesiastes, Salomão indagou: “Tudo isso vi nos dias da minha vaidade; há um justo que perece na sua justiça, e há um ímpio que prolonga os seus dias na sua maldade” (Ec 7.15). Da mesma forma, o salmista sentia-se incomodado com a “prosperidade dos ímpios” (Sl 73.3). Só um tolo não enxergaria que essa é uma verdade evidente debaixo do sol. Jesus afirmou que Deus é bom para todos, pois faz que o seu sol se levante sobre bons e maus...

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Após sua grande declaração de fé em 19.25-27, Jó consegue alcançar um grau marcante de serenidade. Mesmo depois das conclusões mordazes do discurso de Zofar, ele não reage com o mesmo tipo de tensão emocional que caracterizam seus discursos anteriores. Neste capítulo ele começa a pensar mais claramente acerca das questões levantadas em vez de gastar suas energias em erupções emocionais que descrevem seu sofrimento e frustração. No ciclo de discursos, a preocupação de Jó era com o fato de sentir que Deus havia se tornado seu inimigo. Em seguida, ele foi esmagado ao perceber que seus amigos o desertaram, a ponto de se colocarem contra ele. Mas agora o discurso de Zofar faz com que Jó assuma uma posição positiva em relação aos argumentos dos seus amigos. Ele contradiz esses argumentos com evidência prática. Ele constata que prosperidade e retidão não andavam invariavelmente juntas. Também fica evidente pela observação da vida que a maldade nem sempre é castigada” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.64).

  CONCLUSÃO

Vimos como Jó continua sua defesa contra os argumentos de seus amigos, que insistem em acusá-lo de pecado. Ele está convencido de que é inocente e que não cometeu nada que justifique tamanho sofrimento. Os amigos de Jó, por desconhecerem as razões de seu sofrimento, o acusam de forma impiedosa; e patriarca, por desconhecer a ação de Deus nesse episódio, chega ao limite do desespero e desesperança. Todavia, como das outras vezes, mesmo angustiado e não sabendo como Deus permite tudo isso, Jó não diz palavras blasfematórias contra o seu Criador. – Jó roga que seus pecados lhe sejam revelados. Um penitente verdadeiro está disposto a conhecer o pior de si mesmo; todos devemos ter o desejo de conhecer quais são as nossas transgressões, para podermos confessá-las e nos resguardarmos contra elas no futuro. – Jó se queixa dolorosamente dos severos tratos de Deus para com ele. O tempo não apaga a culpa do pecado. Quando Deus escreve coisas amargas contra nós, o seu desígnio é nos fazer lembrar de pecados esquecidos e levar-nos ao arrependimento para nos livrar deles. Deus ensinou Jó a crer no Redentor vivo, a esperar a ressurreição dos mortos e a vida no mundo vindouro; e ele se consola com esta expectativa. Jó está seguro de que o Redentor dos pecadores, do jugo de Satanás e da condenação do pecado, é seu Redentor e espera a salvação através dEle; e que é um Redentor vivo, que ainda não se encarnara; que posteriormente se manifestará como o Juiz do mundo para levantar os mortos e completar a redenção de seu povo. Com quanto prazer o santo Jó desabafa a respeito deste assunto! Que as fiéis palavras sejam gravadas em nosso coração pelo Espírito Santo. Todos estamos preocupados por ver que a raiz está em nós. A raiz é o princípio de graça vivo, vivificante que atua no coração; tão necessário para a nossa fé, como a raiz da árvore, à qual deve a sua firmeza e o seu fruto. Jó e seus amigos diferem sobre os métodos da providência, mas concordam quanto à raiz, que é a fé no porvir.

REFERÊNCIAS

GONÇALVES, José. A fragilidade humana e a soberania divina: o sofrimento e a restauração de Jó. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 21-33.  Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

LIÇÕES BÍBLICAS. 4º Trimestre 2020 - Lição 8. Rio de Janeiro: CPAD, 15, nov. 2020.

MESQUITA. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. São Paulo: JUERP, 2013.

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