COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
A provação de Jó fez com que sua
vida se tornasse um verdadeiro drama. Nem mesmo os mais aclamados cineastas
seriam capazes de dramatizar algo semelhante. Da condição de homem mais rico e admirado
do Oriente, ele tornou-se, não apenas um pobre moribundo, mas, na visão de seus
amigos, “um pecador revoltado e arrogante”.
De uma vida abastada, piedosa e
fraternalmente estruturada, Jó mergulhou em um mar de calamidades. De repente
tudo se desmoronou. Os rebanhos foram roubados e dizimados; os empregados foram
assassinados e, outros, mortos em desastres aparentemente naturais; os filhos,
seu bem mais precioso, morreram. Cenas difíceis de esquecer! Refletir sobre
como Jó reagiu a tudo isso é o objetivo dessa lição. – Jó de fato, sofreu muito. Todavia, não é apenas a
realidade do sofrimento que deve ser levado em conta do drama de Jó. A falta de
explicação lógica para a existência desse sofrimento, sem dúvida, agravou ainda
mais sua dor. Como num piscar de olhos, Jó perde tudo o que havia construído e
juntado ao longo do tempo, restando-lhe muita dor e muitas perguntas sem
respostas. Ao colocar o sofrimento em relevo, o livro de Jó mostra, com isso,
que o sofrimento é uma realidade da condição humana. Não apenas Jó, mas também
todos os humanos sofrem em um grau maior ou menor. Não há como fugir dessa condição.
Fugir dela seria fugir de nós mesmos. Talvez por isso que o livro de Jó tenha
sido usado pastoralmente ao longo da história da igreja
I. TRAGÉDIA DE NATUREZA ECONÔMICA
1. O sucesso na esfera
comercial. O autor sagrado já havia
sublinhado que Jó era “maior de todos os do Oriente” (Jó 1.3). O respeito, a
admiração, a riqueza e a prosperidade do homem de Uz contribuíram para a
construção dessa imagem. O autor já havia destacado a riqueza e a prosperidade de
Jó, medidas pela grande quantidade de animais e servos a serviço dele. O
comércio e a atividade do campo eram suas principais atividades. Devido à sua
grande riqueza, não são poucos os autores que igualam Jó a grandes industriais
e empresários contemporâneos. Enquanto as ovelhas proporcionavam lã para a
produção têxtil, por outro lado os camelos e jumentas estavam a serviço do
transporte de cargas. Dessa forma, Jó se destacava no Oriente como um homem de
negócios.
2. O sucesso na esfera do
campo. A atividade do campo era, sem dúvida, o principal
negócio de Jó. O fato de que ele tinha tantas juntas de bois a seu serviço
demonstra que ele era um agricultor que possuía uma grande extensão de terras,
e não um nômade como alguns autores supõem. Estudiosos destacam o fato de que a
palavra hebraica ‘abuddah, encontrada somente em Jó e em Gênesis 26.14, é uma
referência direta à lavoura e ao cultivo da terra. Os bois, e da mesma forma as
ovelhas, ofereciam a proteína animal. As ovelhas, juntamente com as jumentas,
alimentavam a produção de laticínios. Isso fazia de Jó um verdadeiro
empreendedor no sentido moderno do termo. – Jó era um homem muito
rico, com um total de 11.500 animais domesticados divididos naqueles tipos de animais
que os homens ricos precisam: animais de trabalho, animais que serviam como alimentação,
e animais de transporte. Tal riqueza capacitava-o a ter uma casa muito grande,
vastas propriedades e abundância de escravos, que mantinham todas as suas posses
em boa ordem. Isso, de acordo com uma avaliação popular, era evidência da aprovação
e da ajuda divina. Jó era “o maior de todos os do Oriente" expressão vaga que
é inútil investigar. Ele era o maior homem de sua área e desfrutava de poder
político e favor entre seus vizinhos. A área na qual ele vivia era o deserto da
Arábia, conforme o vs. 1. “Ele era o chefe dessa área, mas não sabemos o quanto
essa área se estendia. Os árabes ainda chamam o Haurã, ou seja, o distrito a leste
de Jerusalém, de terra de Jó" (Ellicott, in loco.). A área onde Jó vivia
ficava no “deserto” (Jó 1. 9). Era um lugar fértil, falando em termos agrícolas,
próprio para criação de gado (ver Jó 1.3, 4 e 4 .12), provavelmente fora da própria
Palestina. “O povo do Oriente era identificado com os habitantes de Quedar no
norte da Arábia (Jr 49.28). Jó era também incomumente sábio. Os homens do
Oriente eram notórios por sua grande sabedoria, que eles expressavam
artisticamente em provérbios, cânticos e histórias. Jó era altamente
respeitável (ver Jó 29.7-11); sábio conselheiro (29.21-24); empregador honesto
(31.13-15, 38, 39); hospitaleiro e generoso (31.16-21,32); e fazendeiro
próspero (31.38-40)”. No entanto esse homem foi ferido pela tragédia, por
razões desconhecidas.
3. O ataque do Diabo na esfera
comercial. Satanás atingiu o centro das
atividades comerciais do patriarca. O Adversário procurou retirar aquilo que,
graças ao trabalho duro, Jó havia conquistado. Assim, destruiu os animais e o
pessoal a serviço dele, desestabilizando-o financeiramente. Seu negócio foi a
bancarrota. Sem animais de carga, o transporte estava prejudicado.
4. O ataque do Diabo na esfera
do campo. Da mesma forma que atingiu os
negócios de Jó na esfera comercial, Satanás o atingiu também na esfera do
campo. Destruindo a sua fonte de produção de proteínas e laticínios, o Diabo
atingiu em cheio toda a fonte de sua riqueza. Era preciso muito equilíbrio para
não se desesperar diante de um quadro tão sombrio.
Aqui é necessário fazer uma ponderação.
Evidentemente que nem sempre o empreendimento de alguém quebra por investidura
de uma ação maligna direta; muitas vezes é apenas um mau gerenciamento ou até
mesmo consequência de uma crise de mercado. Todavia, no caso de Jó, foi uma
ação maligna e em muitos casos hoje também o é. – Jó era um homem rico que não tinha com quem se
preocupar no mundo. O ataque Satanás foi desfechado primeiramente contra suas
riquezas. É agonizante ser rico e de súbito tornar-se pobre, o que tem sido a
experiência de tanta gente durante as grandes guerras. O primeiro ataque
desastroso. Satanás estava com pressa querendo golpear Jó onde ele seria
mais gravemente ferido: destruiria seus bens e seus familiares! Algum tipo de
festa especial seria a cena do primeiro ataque satânico, de modo que a alegria
seria transformada em súbita angústia o autor quer falar da angústia, quando um
homem é derrubado no chão por acontecimentos esmagadores. A sessão dos
versículos 13-19 apresenta quatro desastres que reduziram Jó a virtualmente
nada. Nesses ataques Satanás não tocou no corpo de Jó. Até aí a saúde de Jó não
fora assediada. No capítulo 2, entretanto, o corpo de Jó é atingido, o que
alguns supõem ser o teste mais severo que ele teve que enfrentar. “Satanás
começou seus assaltos contra Jó, quando seus 10 filhos se banqueteavam na casa
do irmão mais velho. Os assaltos foram alternativamente causados por forças
humanas e naturais: o ataque dos sabeus (v. 15); o fogo de Deus (v. 16); o
ataque desfechado pelos caldeus (v. 17); e grande ventania que soltou da banda
do deserto (v. 19). Deus permitiu Satanás desfechar ambos os tipos de causas,
para conseguir o seu propósito dentro de um cronograma rápido e preciso. Jó quando
se encolhia sob o choque das notícias de uma perda, era estonteado por outro
choque” (Roy B.
Zuck, in loc.). Notemos dois
tipos específicos de mal: os desastres naturais, que constituem o “mal natural”
e desastre que vem da vontade pervertida do homem, isto é, o “mal moral”. Jó
sofreu ambos os tipos. Apesar de assim esmagado, ainda reteve sua fé e adoração,
mostrando que elas eram desinteressadas e não baseadas em vantagens pessoais. Esse
é o principal tema do livro. Podem essa fé e essa adoração desinteressadas
existir diante de uma grande adversidade? Satanás estava ansioso por fazer
sofrer. Sabemos que existem grandes forças malignas do mundo, e devemos
diariamente pedir a proteção de Deus contra elas. Por outra parte, só existe um
Poder no universo, o de Deus, embora chamemos de poderes a outras energias. Repousemos
sobre o poder de Deus, que opera através do Senhor Jesus Cristo.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Como introdução a esta lição, sugerimos que você faça um
breve resumo para a classe a respeito dos aspectos gerais do sofrimento de Jó,
como o físico, social, emocional e espiritual. Para isso considere este pequeno
fragmento textual: “O sofrimento de Jó era multifacetado. Era físico, social,
emocional e espiritual. Estava em dor e tormento (13.25; 16.6; 30.17) e tinha
grandes dificuldades (’amal, ‘tristeza’, ‘desgraça’, 3.10; palavra também usada
em 4.8; 5.6,7; 11.16; 15.35). No âmbito físico, teve insônia (7.4), perdera
peso (16.8), ficou com os olhos vermelhos e olheiras profundas (v. 16),
emagreceu (17.7; 19.20), tinha calafrios (21.6), dores nos ossos (30.17), a
pele enegrecera e descascara (vv. 28,30), tinha febre (v.30) e furúnculos que
coçavam (2.7). Socialmente, as pessoas o rejeitavam. Zombavam e escarneciam
(12.4; 16.10; 17.2,6), e até as crianças debochavam dele (30.1,9-11). Por isso,
não tinha alegria (9.25; 30.31). Na sua angústia e amargura (7.11; 10.1),
sentia que estava na escuridão (19.8; 30.26) e em desespero (6.14,20). Todos os
amigos e parentes o abandonaram (19.17-29). Diante de Deus, Jó estava
espiritualmente sem esperança (14.13; 19.10). Deus estava parado e
aparentemente desinteressado em Jó (19.7; 30.20), embora o sofredor clamasse
por ajuda (30.24,28)” (ZUCK, Roy B. Teologia
do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 300).
II. TRAGÉDIA DE NATUREZA FAMILIAR
1. Filhos. A tragédia que se abateu sobre Jó foi de fato catastrófica. Ele perdeu
em um só dia seus dez filhos de forma calamitosa – sete filhos e três filhas. O
texto sagrado diz: “Estando teus filhos e tuas filhas comendo e bebendo vinho,
em casa de seu irmão primogênito, eis que um grande vento sobreveio dalém do
deserto, e deu nos quatro cantos da casa, a qual caiu sobre os jovens, e
morreram” (vv.18,19). Não haveria nada mais trágico do que esse acontecimento.
Perder um filho é calamitoso, mas perder todos de forma inexplicável é nefasto.
2. Esposa. A frase “Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2.9), atribuída à esposa de Jó, é
uma das mais chocantes do livro. Talvez por isso seja objeto de várias
explicações. Muitos autores tentam suavizá-la quando a interpretam como sendo
uma ironia feita pela esposa de Jó. Nesse caso ela, de fato, estaria dizendo:
“Você continua aí com essa sua fé enquanto tudo desmorona à sua volta. Por que
tudo isso? Deixe de lutar por isso e aceite a morte”.
Outros procuram atribuir um
sentido ao texto o qual ele não tem. Para estes, a esposa de Jó não estava
mandando amaldiçoar a Deus, mas orientando Jó a louvá-lo e morrer em paz. No
entanto, as evidências do texto depõem contra esse entendimento. A reação de
Jó, ao dizer que sua esposa falava como qualquer louca, confirma esse
fato.
3. O fato. Um vento forte soprou sobre a família de Jó, devastando-a. Ainda hoje,
“fortes ventos” continuam a “soprar” em famílias inteiras. O resultado
desses “ventos” é a degradação familiar, divórcios, drogas etc. A exemplo de
Jó, o crente deve se refugiar em Deus. É preciso que a família abra a Bíblia em
casa e busque o Senhor em estudo e devoção. – Uma coisa foi perder as riquezas e os servos. Algo muito diferente foi
perder membros da própria família. Conforme avançaram os testes intensificaram
os sofrimentos. Grande vendaval (talvez um dedo sobrenatural) fez a casa onde
estava a maior parte da família de Jó (em meio a uma grande festa), desabar.
Somente uma pessoa não-identificada (provavelmente um servo), escapou e correu
para contar a Jó o que havia acontecido. O vento soprou no deserto,
aparentemente atacando com a força de um tornado. O vento demoliu tudo em seu
caminho, incluindo a casa na qual os filhos de Jó se divertiam, e se encaminhou
diretamente para o alvo. O tornado foi satanicamente orientado. Esse foi o
segredo de sua precisão. Ali estava Jó, reduzido a nada. Porventura ele agora
amaldiçoaria a Deus, conforme Satanás disse que faria (v. 11)? Continuaria Jó
adorar a Deus, quando as “razões” para isso fosse removidas? Continuaria e adorar
a Deus embora ele, um homem inocente, tivesse sido ferido? Aceitaria sua fé o
fato de que terríveis sofrimentos podem sobreviver ao homem piedoso? Seria sua
adoração desinteressada, ou ele adoraria a Deus somente quando obtivesse algum
benefício pessoal dessa atitude e desses atos? – A escandalosa esposa de Jó conseguiu, de alguma maneira, escapar aos
golpes que acabaram com sua família. Ela havia sido como uma rainha na cidade,
gastando o dinheiro de Jó com alegria feroz. Agora o dinheiro dele se acabara;
os filhos dele morreram; e tudo quanto restava a Jó era seu monte de lixo e suas
pústulas. A mulher de Jó era exatamente como Satanás esperava que fosse. Se ela
tivesse alguma espiritualidade, certamente era uma espiritualidade egoísta. Ela
não tinha nada de adoração desinteressada. Ver Jó ainda firme na sua integridade
era o máximo de insensatez, na opinião dela. Ela disse a Jó que fizesse o que Satanás
disseram que ele faria – “amaldiçoar a Deus” – e, depois disso, morrer e obter
o fim do triste drama. Ela não se preocupava se Jó seria ou não um pecador que
estivesse pagando pelos seus erros. Ela simplesmente queria que ele e seu Deus
saíssem do caminho. Ela queria que a farsa da fé religiosa terminasse, pois não
aguentava tão inúteis sofrimentos. Portanto os inimigos de um homem podem ser
aqueles da sua própria casa (Mt 10.36). A esposa de Jó só estava tentando vê-lo
morto e livre de sofrimentos, supondo que uma maldição tivesse o poder de
eliminar os sofrimentos dele. Em outras palavras, ela era uma antiga advogada
da eutanásia. Ela raciocinava que, se Jó amaldiçoasse a Deus, uma retaliação divina
mataria o homem, pondo fim a seus sofrimentos.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Seus bens mais
queridos e mais valiosos era os seus dez filhos; e, para concluir a tragédia,
uma notícia lhe foi trazida ao mesmo tempo de que eles estavam mortos e
enterrados em meio às ruínas da casa na qual festejavam, junto com todos os
criados que os serviam, exceto um que veio rapidamente com essa notícia
(vv.18,19). Esta foi a maior das perdas de Jó, e que o atingiu mais de perto; e
por isso o Diabo a reservou para o final, para que se outras contrariedades
falhassem, esta pudesse fazê-lo amaldiçoar a Deus. Nossos filhos são partes de
nós mesmos; é muito difícil separar-nos deles, e isso fere um bom homem de
maneira mais profunda possível. Mas separar-se de todos eles de uma vez, e o
fato de estarem todos mortos, sim, aqueles que haviam sido por tantos anos a
sua preocupação e a sua esperança, era algo que o atingia realmente no âmago do
seu ser” (HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD,
2010, p. 10).
III. TRAGÉDIA DE NATUREZA FÍSICA
E PSICOLÓGICA
1. O Diabo toca na saúde de
Jó. Depois que o Diabo viu o seu plano fracassar, pois
o patriarca não sucumbiu à tentação, mesmo diante da dizimação de seus bens e
familiares, o Adversário agora tem a permissão divina para tocar na saúde de
Jó. Essa nova prova é um drama muito distinto na literatura do Antigo
Testamento. Ela dará a tônica ao restante do livro.
2. Saúde física. O texto sagrado diz que o Diabo “feriu a Jó de uma chaga maligna, desde
a planta do pé até ao alto da cabeça.” (Jó 2.6,7). Tratava-se de uma doença
extremamente maligna, capaz de provocar um grande sofrimento em Jó, a ponto de
este sentar-se nas cinzas e pegar um caco de barro para com ele raspar as
feridas. Essa era uma prática que o homem antigo adotava quando se via
acometido de uma grande desgraça. Ele ia para o monte de cinzas (hb. mazbala),
um local considerado imundo, onde os inválidos e dementes costumavam ficar. Ali
ele esperava a morte entre cães, insetos e aves de rapina. Trágico!
3. Saúde mental. Não há dúvida que, além do sofrimento físico, Jó também experimentou o
sofrimento psicológico. Embora não haja nada no texto que nos permita dizer que
ele entrou em depressão, não há como negar que Jó passou por uma grande tensão
psicológica. Há vários textos no corpo do livro que permite fazer essa dedução,
mas já no início da sua fala é possível perceber esse fato (Jó 3.1-14). Ainda
que mantivesse sua fidelidade a Deus, o patriarca amaldiçoou o dia de seu
nascimento, não vendo mais razão para que fosse celebrado. Só debaixo de forte
pressão psicológica é que pessoas chegam a tal ponto. – Satanás afligiu Jó com tumores malignos, ou úlceras. Não há como
determinar a natureza exata dessa enfermidade, nem isso é importante para a
compreensão do texto. Até as humildes pústulas são uma questão séria. Resultam
de uma infecção cutânea avançada, que penetra nas camadas mais profundas da
pele e, então, chega ao músculo. São causadas por bactérias, como o
estreptococo ou o estafilococo, e devem ser tratadas por meio de antibióticos. Não
estamos abordando um caso de lepra. O hebraico original diz aqui shehi ra,
que subtende uma inflamação. Não há inflamação mais estranha do que uma pústula,
e ter pústula do alto da cabeça à planta dos pés seria algo que uma pessoa não
poderia suportar. Em sua agonia, Jó retirou-se para um monte de lixo, para ali
morrer. A tradução “sentado em cinza” reflete o termo hebraico mazbala, ou
seja, um montão de lixo de cinzas. Até hoje, segundo dizem os viajantes, do
lado de fora das aldeias árabes, pode-se observar monturos, monte de lixo,
carcaças apodrecendo, crianças brincando em meio a pilha de lixo, esmoreles sem
moradia e idiotas da vila perambulando ao redor, e cães selvagens brigando por
pedacinho de alimento que encontra naquela confusão horrenda. Jó, o respeitado
o príncipe árabe, abandonou sua casa e foi para esse lugar tão miserável, a fim
de esperar pela morte. Ele estava rasgado por dentro pela dor e pela angústia
mental. Não havia medicamentos, e suas orações desesperadas eram inúteis. Por que
Jó tinha de raspar seus ferimentos não é revelado, mas é provável que ele
usasse aquele caco para coçar as suas pústulas. Talvez ele também ele também estivesse
removendo o pus que corria de suas pústulas. Suas feridas eram por demais
nojentas para serem tocadas. Houvera tempo em que o aristocrata Jó se sentara
entre os sábios nos conselhos da cidade, mas agora o vemos sentado a raspar-se
em suas pústulas putrefatas.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“[…] Foi o patriarca constrangido a suportar as dores mais
terríveis e os piores desconfortos a que um ser humano jamais fora submetido.
Entretanto, reteve a sua integridade. Muitos são os servos de Deus que estão a
sofrer as mais terríveis enfermidades. Uns, à semelhança de Ezequias, enfrentam
um tumor maligno que, pouco a pouco, vão lhes consumindo as forças e o que lhes
resta das humanas feições. Outros, como o Lázaro da história narrada pelo
Senhor Jesus, jazem cobertos de uma chaga que os tornam repulsivos, embora
espiritualmente sejam os mais puros dos homens. Outros, ainda, tal como o jovem
pastor Timóteo, veem-se às voltas com uma doença no estômago que os fustiga com
fortes ânsias” (ANDRADE, Claudionor
de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de
Janeiro: CPAD, 2002, p. 85).
CONCLUSÃO
Nesta lição vimos o drama de Jó, que foi provado de uma
forma dura no seu trabalho, família e saúde. Somente um homem com uma fé
inabalável mantém sua lucidez diante de tantas catástrofes. Somente o Senhor
pode manter o fiel de pé diante de calamidades dessa natureza. O Diabo chegou
ao ponto máximo de pressão contra Jó, mas não conseguiu executar o seu intento.
O patriarca permaneceu de pé diante da provação. – Desnudado de suas riquezas e de sua família, Jó está
nu diante de Deus, tal como esteve nu ao nascer. O Senhor é o Doador e o
Tirador, e Jó não disputou os direitos Dele. Satanás pensava que Jó só se
interessava por seus próprios direitos pessoais. Entretanto Satanás estava
tratando com um homem melhor do que propusera. Jó nasceu destituído, havia
florescido e, então, retornara à destituição. Jó estava resignado diante desse retorno
e atribuiu tudo ao poder divino. Ele reconheceu que Yahweh é o proprietário de geral
de tudo, e Seu nome deve ser sempre bendito em qualquer vicissitude.
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, R. N. O
Antigo Testamento interpretado versículo por versículo: Jó. São Paulo:
Hagnos, 2001, p. 1864.
LIÇÕES BÍBLICAS.
4º Trimestre 2020 - Lição 4. Rio de Janeiro: CPAD, 24, out. 2020.
HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 3.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
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