COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O autor sagrado não elabora uma biografia de Jó, mas traça
um perfil que diz muito sobre esse gigante da fé. Jó foi um homem diferente,
não em natureza, pois ele era igual aos demais de sua época. Todavia, foi, sem
dúvida, distinto na espiritualidade. Ele foi um homem que não apenas possuía
bens materiais e uma família sólida, mas mantinha profunda comunhão com Deus.
Assim, nesta lição destacaremos alguns traços da vida e espiritualidade de Jó. – A história de Jó
começa aqui com um relato: (I). De sua grande devoção em geral (v. 1), e
com um exemplo particular, v. 5. (II). De sua grande prosperidade, w.
2-4. (III). Da malícia de Satanás contra ele, e da permissão que obteve
para testar a sua constância, w. 6-12. (IV). Dos surpreendentes
problemas que lhe aconteceram, a perda das suas posses (w. 13-17), e a morte de
seus filhos, w. 18,19. (V). De sua paciência e devoção exemplares sob
essas vicissitudes, vv. 20-22. Em tudo isso ele é apresentado como um exemplo
de sofrimento e aflição, dos quais nenhuma prosperidade pode nos proteger, mas
ao longo dos quais a integridade e a retidão nos preservarão.
I. UM HOMEM DE CARÁTER IRRETOCÁVEL
1. Íntegro (sincero)
(v.1). O caráter define o que uma pessoa é de verdade. Ela
é vista a partir dos valores que governam a sua vida interior. O “mau-caráter”
define uma pessoa que não merece confiança, que é desonesta e que, portanto,
não possui valores nobres. Jó não era um homem sem pecado, mas tinha um caráter
irretocável. Nesse sentido, os primeiros versículos do livro possuem vários
adjetivos que descrevem o seu caráter. No primeiro, o autor o apresenta como um
homem íntegro. A palavra “íntegro”, que traduz o hebraico tām, possui o sentido
de inocente, sem culpa. No grego, segundo a Septuaginta, a palavra alethinós
remete ao que é verdadeiro. Assim, podemos afirmar que Jó era sincero nas
intenções, afeições e diligente nos esforços para cumprir seus deveres para com
Deus e os homens.
2. Reto (v.1). Ele também era um homem reto que, no hebraico yāšār, tem um sentido de
alguém justo, direito. Na Septuaginta, de acordo com o grego amemptos, possui o
sentido de irrepreensível. Portanto, o homem de Uz era justo, reto, direito e
se comportava de maneira irrepreensível.
3. Temente a Deus e desviava-se
do mal (v.1). Jó é descrito como alguém
temente a Deus, que desviava-se do mal. Estas palavras, de acordo com os termos
relativos ao hebraico, sur e yare, traduzem a ideia de alguém que prestava
reverência a Deus e evitava o mal. Já na Sepetuaginta, os termos relativos ao
grego, theosebés e apecho, trazem o sentido de alguém devotado ao culto e à
adoração a Deus e que, por isso, mantinha o mal sempre à distância.
As Escrituras mostram que, muito
antes de Salomão, Jó praticava o que o homem mais sábio do mundo,
posteriormente, ensinaria: “Teme ao SENHOR e aparta-te do mal” (Pv 3.7). – Jó é apresentado no
estilo simples e direto das narrativas patriarcais. Jó não é um israelita,
assim parece, pois a sua terra natal, Uz, é muito provavelmente Edom (cf. o nome próprio Uz nas
genealogias dos descendentes de Edom; Gn 36.28; 2Cr 1.42), embora algumas
passagens tenderiam a identificá-la com Arã (cf. Gn 10.23; 22.21), a nordeste
de Israel. Todavia, Jó é um adorador do verdadeiro Deus, embora se refira a ele
principalmente como Elohim, “Deus”, e não como “Javé”, o nome próprio de Deus.
Que Jó é um homem íntegro e justo, i.e., irrepreensível, e não que ele
é perfeito e sem pecados, é a afirmação que encontramos na boca do narrador, de
Deus (1.8) e do próprio Jó. – Jó era um homem muito bom, extremamente piedoso, e
melhor do que os seus vizinhos: Ele era correto e honrado. Isso tenciona nos
mostrar, não apenas a reputação que tinha entre os homens (ele era, de um modo
geral, considerado um homem honesto), mas qual era realmente o seu caráter;
pois este é o julgamento de Deus com respeito a ele, e por esta razão temos a certeza
de que está de acordo com a verdade. (1). Jó era um homem religioso,
alguém que temia a Deus, isto é, o adorava de acordo com a sua vontade, e
comportava-se em todos os sentidos com base nas regras da lei divina. (2).
Ele era sincero em sua religião: Ele era perfeito; não sem pecado, como ele
mesmo reconhece (cap. 9.20): Se reto me disser, serei declarado perverso. Mas,
tendo respeito por todos os mandamentos de Deus, visando a perfeição, ele era
realmente tão bom quanto parecia ser, e não dissimulava em sua profissão de
devoção; seu coração era puro e seus olhos sinceros. A sinceridade é a
perfeição do Evangelho. A religião em que não há sinceridade não pode ser
considerada uma religião verdadeira. (3). Ele era correto tanto em seus
procedimentos com relação a Deus quanto com os homens, era fiel às suas
promessas, sereno em seus conselhos, fiel nos mínimos detalhes à confiança nele
depositada, e tinha consciência de tudo o que dizia e fazia. Veja Isaías 33.15.
Embora não fosse de Israel, Jó era realmente um israelita em quem não havia
dolo. (4). O temor a Deus que reinava em seu coração era o princípio que
determinava todas as suas relações. Isso o tornou perfeito e justo, por dentro
e por inteiro para Deus. Ilimitado e invariável na religião; isso o manteve
próximo e fiel ao seu dever. Ele temia a Deus, respeitava o seu poder e a sua
autoridade, e temia a sua ira. (5). Ele temia a ideia de fazer algo que
fosse errado; com a máxima aversão e ódio, com cuidado e uma vigilância
constantes, conservava-se longe do mal e evitava todos os aspectos do pecado e
a aproximação dele, e isso por causa do seu temor a Deus, Neemias 5.15. Temer
ao Senhor é odiar o mal (Pv 8.13); e então, pelo temor do Senhor os homens
desviam-se do mal, Provérbios 16.6.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Inicie o tópico fazendo uma reflexão acerca do “temor do
Senhor” e sua relação com uma vida sabiamente vivida. Fale aos alunos que os
livros de sabedoria do Antigo Testamento, como Provérbios, e o próprio Livro de
Jó, colocam o “temor do Senhor” como princípio primeiro para uma vida de
sabedoria. Para auxiliá-lo nessa reflexão, leve em conta o seguinte fragmento
textual: “Sabedoria e o temor do Senhor. […] ‘O temor do Senhor’ é central à
literatura sapiencial, ocorrendo 14 vezes em Provérbios e várias vezes em Jó.
[…] Além de ser o ponto de partida ou início da sabedoria, o temor do Senhor
também é ‘o princípio primeiro e controlador’, ou ‘a essência e o coração’ da
sabedoria” (ZUCK, Roy B. Teologia
do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 287).
II. UM HOMEM SÁBIO E PRÓSPERO
1. Um conselheiro sábio. Há pessoas ricas que nem são
sábias nem tampouco prósperas. Possuem conhecimento, mas não entendimento;
riquezas, mas não prosperidade. Jó distingue-se nesse aspecto.
Ele foi um homem sábio, rico e próspero. A Bíblia afirma que Jó era
“maior do que todos os do Oriente” (Jó 1.3). “Maior” aqui não pode ser
entendido apenas como uma referência a bens materiais, mas também à sua sabedoria.
Estudiosos destacam que Jó era mais importante em sabedoria, riqueza e piedade
do que qualquer outra pessoa daquela região e ressaltam o reconhecimento da
sabedoria de Jó conforme se destacava a sabedoria dos orientais expressa em
provérbios, canções e histórias. Isso fazia dele um homem proeminente, a quem
as pessoas recorriam com frequência em busca de conselho e orientação (Jó
29.21,22). – Na concepção hebraica, a sabedoria não se limitava
ao conhecimento, mas à habilidade de ter a vida piedosa que Deus planejou para
o homem (Dt 4.5-8). Sabedoria, na mentalidade hebraica, significa bom senso ou
habilidade de governar-se a si mesmo pela escolha; a habilidade de conformar-se
à vontade e ao padrão de Deus; uma retidão prática que se coaduna com a postura
de retidão adotada pelo homem irregenerado. Jó gozava de uma posição elevada
segundo qualquer padrão. Salomão teve uma reputação semelhante: "Era a
sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente..." (IRs
4.30). – “Os homens do Oriente eram notórios por sua grande sabedoria, que eles
expressavam artisticamente em provérbios, cânticos e histórias… Jó era
altamente respeitável (ver Jó 29.7-li); sábio conselheiro (29.21 -24);
empregador honesto (31.13-15,38,39); hospitaleiro e generoso (31.16-21,32); e
fazendeiro próspero (31.38-40)” (Roy B. Zuck, in loc.). No entanto, esse homem
foi ferido pela tragédia, por razões desconhecidas”
2. Um homem próspero. O homem de Uz não era apenas
rico, mas, sobretudo, próspero. O texto sagrado destaca que, além de sua
esposa, ele tinha sete filhos e três filhas (v. 2). Para os padrões da época,
possuía uma família com o formato ideal. Ele também era um fazendeiro bem
sucedido. Em sua fazenda havia sete mil ovelhas, três mil camelos, quinhentas
juntas de bois, e quinhentas jumentas; e tinha também muitíssima gente a seu
serviço (v. 3). – Andersen Francis vai
dizer que “Jó tinha uma família ideal de sete filhos e três filhas, sendo
que os dois números, e a soma deles, são símbolos da perfeição, um claro sinal
do favor divino. Como era comum no antigo Oriente Próximo, a riqueza de Jó
não era medida pelo dinheiro ou pelas terras que ele tinha, mas pelo grande
rebanho, como era com os patriarcas (Gn 13.7), e pela família numerosa, que, no
caso de Jó, a soma deles simbolizava a perfeição e o favor divino. – Russell
Champlin diz que “Jó tinha uma família feliz, uma boa esposa, sete filhos e
três filhas. Eles formavam uma unidade familiar feliz, livre de preocupações,
seja no campo econômico, seja no campo da saúde, seja em qualquer outro campo
da vida diária. “Herança do Senhor são os filhos; o fruto do ventre, seu
galardão” (Sl 127.3)” (Samuel Terrien, in toe). Para a mente dos hebreus, Jó
tinha todas as indicações da aprovação divina”
3. Uma prosperidade baseada no “ser”. Jó, portanto, possuía um grande patrimônio e uma bela família. Sua
prosperidade se refletia na relação harmoniosa entre ele, sua família, seus
negócios e, sobretudo, Deus. Não era uma prosperidade estabelecida somente no
“ter”, mas, principalmente, no “ser”. – “Entretanto,
a prosperidade e a felicidade que possuem não dependem deles, tampouco está
segura em suas mãos. Portanto, longe de mim o conselho dos ímpios!” (Jó 21.16). Como
escreve o Pr Claudionor de Andrade: “Na verdade, não era Jó um simples
fazendeiro, nem um sheik qualquer. Se levarmos em conta a utilização de seus camelos
no transporte de mercadorias tanto para o Oriente quanto para o Ocidente, e se
considerarmos a utilização da lã de suas ovelhas na confecção de tapetes e
roupas, concluiremos ter sido o patriarca um grande capitão de indústrias e um
respeitável financista internacional. Apesar de todas essas riquezas, Jó não se
deixava dominar por elas, pois o seu maior bem era Deus: o Sumo Bem. Logo: não
passava ele de um simples mordomo de quanto possuía. J. Caird alerta quanto aos
perigos dos haveres materiais: “O que impede o homem de entrar no Reino de Deus
não é o fato de possuir riquezas, mas o fato de as riquezas o possuírem”. Jó
era um homem rico de espírito pobre; nada presumia de si mesmo. Nas riquezas
terrenas, via apenas pobreza. Mui acertadamente, afirmou Agostinho: “As
riquezas terrenas acham-se repletas de pobreza”. Mais tarde, viria o patriarca
confessar que, em momento algum de sua vida, confiara nas riquezas”.
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“As posses de Jó, incluindo seus filhos […] e filhas, são registradas
para provar a retidão desse homem (2-3). O ponto principal de discussão entre
Jó e seus amigos vai ser o significado da prosperidade material. Acreditava-se
naquela época que a família e os rebanhos eram bênçãos de Deus para uma pessoa
reta. A riqueza de Jó significava que ele desfrutava do favor de Deus de uma
maneira excepcional. Os números usados (sete, três e cinco), enumerando os
filhos de Jó e seus rebanhos, são expressões adicionais da sua integridade.
Cada filho tinha sua própria casa. As filhas provavelmente moravam na
casa do pai. Cada filho realizava uma festa, em casa de cada um no seu dia (4).
Não está claro aqui se esses banquetes eram realizados no dia do aniversário de
um deles ou, visto que havia sete filhos, o autor estaria descrevendo uma vida
tão ideal que os filhos de Jó estavam frequentemente celebrando e se entretendo
mutuamente em uma comunhão harmoniosa. Em cada evento, a piedade de Jó é
ilustrada pelo fato de que ele sempre oferecia holocaustos (5) pelos seus
filhos, se caso um deles pudesse ter pecado inadvertida ou secretamente. Essa
frase, e os santificava, ilustra um uso comum no Antigo Testamento de
santificação como um cerimonial de consagração ou separação” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C.
(et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de
Janeiro: CPAD, 2014, p. 25).
III. UM HOMEM DE PROFUNDA PIEDADE
PESSOAL
1. Um homem dedicado à família. O
primeiro capítulo de Jó diz: “Iam seus filhos e faziam banquetes em casa de
cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e
beberem com eles” (1.4). O ambiente descrito aqui é de uma família em harmonia
que, de forma feliz, festejava a vida. De forma alguma o texto sugere
dissolução, bebedice ou licenciosidade nessas comemorações. Eram
confraternizações feitas no ambiente familiar. – Um em cada dia da semana (sete filhos); essa
referência aos banquetes nos dias de semana, que aconteciam de casa em casa,
demonstra que havia amor e harmonia entre os membros da família. As irmãs
receberam um destaque especial a fim de demonstrar que eram tratadas com amor. –
“Os filhos desse príncipe edomita eram, ao que tudo indica, solteiros, e, no
entanto, cada um deles mantinha sua casa de uma maneira real (cf. II Sam. 13.7;
14.28 ss.). Tão incomum era a harmonia fraterna, que regularmente eles se
reuniam para ter banquetes em família, para os quais convidavam seus irmãos,
costume excepcional no antigo Oriente” (Samuel Terrien, in loc.). – “Parece que
os banquetes eram uma forma de vida dos jovens ricos, de modo que, cada semana,
diríamos, um oferecia a seus irmãos o banquete semanal, e neles cometiam
pecados contra Deus em seus corações (v. 5). Vê-se que era uma família rica,
feliz e religiosa, sendo o pai o seu sacerdote. Não temos muita informação a
respeito dessa norma familiar antiga; entretanto, sendo pequenas as
comunidades, e o intercurso social, muito reduzido, levaria as famílias ricas a
se reunirem, para fins religiosos e sociais, por meio de banquetes”.
2. Um homem de moral e piedade. Jó
foi um homem que possuía uma forte moralidade e uma sólida espiritualidade.
Além de seu caráter irretocável, o texto deixa claro que ele tinha uma vida
piedosa (Jó 1.5). Essa piedade está presente não apenas nos primeiros
capítulos, mas em todo o livro. Mesmo nos momentos de desespero, como
consequência de sua provação, ele sempre mantinha seus olhos em Deus. Essa
piedade era a causa da dedicação de Jó à família. – Ao final de cada semana, Jó oferecia tantos
sacrifícios quanto o número de seus filhos (Lv 1.4), oficiando semanalmente
("continuamente") como um sacerdote familiar, numa época anterior ao
estabelecimento do sacerdócio araônico. Essas ofertas eram para cobrir qualquer
pecado que seus filhos pudessem ter cometido durante semana, indicando como era
profunda a sua devoção espiritual. Esse registro está incluído a fim de
demonstrar a retidão e a virtude de Jó e de sua família, o que torna o seu
sofrimento ainda mais impressionante. – “O autor sagrado nos diz que Jó era
próspero e piedoso, e que a tragédia atingiria um homem inocente; de nós
espera-se que perguntemos: “Por quê?”. Jó era um homem muito rico, porquanto
era rico tanto espiritual quanto materialmente. A prosperidade sempre arrasta
sua própria ameaça. Os ricos acabam por voltar-se à idolatria de muitas
espécies, literais e espirituais. Mas não era esse o caso de Jó. Ele provou que
é melhor um crente ser rico do que pobre, e que o homem espiritual não tem
dificuldade para manusear dinheiro, que, afinal, pode ser uma fonte de serviço
espiritual”.
3. Um homem de vida consagrada. A
piedade de Jó está evidente no cuidado espiritual que ele tinha com os filhos.
Jó sempre orava por eles: “Sucedia, pois, que, tendo decorrido o turno de dias de
seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e
oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó:
Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o
fazia Jó continuamente.” (Jó 1.5).
Como sacerdote de seu lar, Jó cumpria o ritual do culto em favor de sua
família. O levantar cedo ou de madrugada, como expressão idiomática do hebraico
bíblico, é uma forma de enfatizar a piedade de Jó. Essa devoção é demonstrada
pela consagração vivida por ele. O texto diz que ele se “santificava”. O
vocábulo português “santificava” traduz o termo hebraico, qadash, que possui o
sentido de ser separado ou consagrado. Uma pessoa que é consagrada é uma pessoa
que ora, uma pessoa que ora é uma pessoa consagrada. Portanto, à luz da vida de
Jó, somos instados a viver uma vida consagrada diante de Deus e dos homens. – “Os Sacerdotes da Família. Sabemos que
originalmente o pai era o sacerdote da família. Mais tarde, entre o povo
hebreu, surgiu o clã sacerdotal, os levitas, o que transformou a tribo deles em
uma casta religiosa. Portanto, muitos dos deveres que cabiam antes aos
sacerdotes foram formalizados em adoração pública. Mas a história de Jó é posta
dentro do período patriarcal, quando o chefe de uma família era também o
sacerdote da família. Sem dúvida, é isso o que está por trás da cena referida
neste versículo, onde Jó oferece pessoalmente os devidos sacrifícios.
Presumimos que o autor sacro esteja atribuindo à sociedade árabe o tipo de
condições que existiam na sociedade hebreia. Os árabes, afinal, eram filhos de
Abraão e tinham as mesmas tradições essenciais dos hebreus. E blasfemado contra
Deus em seu coração. Cf. Jó 2.6,9. Satanás supunha que os homens dotados de
riquezas, até mesmo o piedoso Jó, privados de seus bens materiais e de seus
familiares, transformar-se-iam em amaldiçoadores de Deus.”
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Jó não teve de isolar-se para tornar-se piedoso. Foi justamente como
pai de família, homem de negócios e membro de uma sociedade politicamente
organizada, que ele pontificou-se como o melhor ser humano de seu tempo.
Ninguém precisa isolar-se para tornar-se santo; santo nasce exatamente em meios
às tentações.
Todos os heróis da fé destacaram-se como membros participativos da
sociedade. O que dizer de Noé? Ou de Abraão, Isaque e Jacó? Ou dos profetas?
Isaías e Ezequiel eram casados. E o exemplo do próprio Cristo? Ele não se
afastou dos homens para redimi-los; Emanuel resgatou-nos estando entre nós e
fazendo-se como um de nós
Enganam-se os que julgam ser a santidade o produto de uma vida solitária. Santidade é serviço; é dedicação integral ao Senhor Jesus; é desviar-se do mal e ter a parecença do Cordeiro de Deus” (ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 37).
CONCLUSÃO
Destacamos três aspectos importantes acerca da vida de Jó: caráter,
prosperidade e piedade. Só compreenderemos devidamente a vida desse gigante da
fé do Antigo Testamento a partir dessa matriz.
É possível que alguém seja rico, mas não possua caráter algum; da mesma
forma é possível que alguém possua valores morais sem, contudo, esboçar piedade
alguma. Todavia, ninguém terá um caráter irretocável, não apenas fragmentos
ético-morais; prosperidade, não apenas posses; piedade, não apenas
religiosidade se não conhecer a Deus na intimidade. Jó era assim: íntegro,
reto, temente a Deus e se desviava do mal. – O comentarista destaca
três virtudes do patriarca a fim de compreender a vida de Jó; no entanto, uma
só virtude seria necessária para uma perfeita compreensão: Temos ao Senhor. –
Como escreve o Pr Claudionor de Andrade: “Assim era Jó! Um homem em todas as
coisas perfeito, porque perfeito era o seu Deus. E chegado o momento de os
crentes sermos conhecidos não somente por nossas palavras, mas principalmente
por nossas boas obras. Como destaca o apóstolo Tiago, de nada vale a nossa fé
se estiver desprovida de obras; é através destas que demonstramos a nossa
confiança no Todo-Poderoso. Que o Senhor nos ajude a alcançar o mesmo padrão de
excelência que fez de Jó um dos homens mais perfeitos e íntegros de toda a
História Sagrada. Não é um ideal inatingível, porque o próprio Cristo nos
exorta a persegui-lo: “Sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus é
perfeito!””
REFERÊNCIAS
ANDRADE. Claudionor Corrêa de, Jó O Problema do Sofrimento do
Justo e o seu Propósito. Série Comentário Bíblico. Editora CPAD. pag. 37-38.
BARBOSA, Francisco.
Lição 1: O livro de Jó. Disponível em: https://auxilioebd.blogspot.com. Acesso em 02.10.2020
BRUCE, F. F. Comentário
Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento - Jó. p. 714, São Paulo: Vida, 2009.
CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado versículo
por versículo. Editora Hagnos. p. 1863.
FRANCIS, I. Andersen. Jó Introdução e Comentário. Editora Mundo
Cristão. p. 77).
HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 3.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
LIÇÕES BÍBLICAS. 4º
Trimestre 2020 - Lição 2. Rio de Janeiro: CPAD, 11 outubro, 2020.
MESQUITA. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano.
São Paulo: JUERP, 2013.
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