sábado, 17 de outubro de 2020

LIÇÃO 3: JÓ E A REALIDADE DE SATANÁS

 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

Uma das constatações que o leitor logo chega ao ler o Livro de Jó é que o Diabo existe. Ele é um ser real. Todo o mal descrito poeticamente no livro é visto a partir da realidade de Satanás. Todo sofrimento experimentado pelo homem de Uz, mesmo sem a consciência histórica disso, foi motivado por uma ação maligna. Ali, o Diabo assume o caráter pessoal de uma criatura. Nesse aspecto, o livro mostra como o Diabo pode interferir na vida humana. Portanto, nesta lição abordaremos algumas questões relativas à existência e à realidade de Satanás a partir do contexto de Jó. – O Diabo é um ser espiritual criado e dotado de personalidade; as aflições de Jó começaram pela maldade de dele, mas ele só obteve êxito em tocar em Jó com a permissão do Senhor para propósitos sábios e santos. Ele sendo o inimigo de Deus e de toda a justiça procura continuamente tirar do caminho e, se possível, destruir os que amam a Deus. Não sabemos até aonde a sua influência pode ir; porém, provavelmente muita instabilidade e infelicidade dos cristãos podem ser atribuídas a ele. Enquanto nos encontramos na terra, estamos ao seu alcance. Por isso, cabe a nós estar sóbrios e sempre atentos (1 Pe 5.8).

   I. O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS

1. Um ser espiritual. O Livro de Jó não procura provar a origem do Diabo, mas o revela como um ser real. O livro destaca algumas características da natureza de Satanás que nos permitem conhecê-lo melhor. Em primeiro lugar,  conforme o livro apresenta, o Diabo é um ser espiritual e encontra-se na mesma categoria dos anjos, representada no texto pela expressão “os filhos de Deus” (Jó 1.6). Os anjos são seres espirituais que não pertencem à dimensão natural, mas à sobrenatural. Isso explica, por exemplo, a capacidade da rápida locomoção do Diabo quando rodeava a Terra e passeava por ela (Jó 1.7). – A  concepção que se tem do Diabo e da existência do mal a partir da cultura bíblica difere muito do mítico-filosófico e, também, do racionalismo. De acordo com a Bíblia o Diabo existe e é real. Todavia, no estudo sobre a existência de Satanás na cultura judaico-cristã, é preciso levar em conta o caráter progressivo da revelação bíblica. Fica bastante evidente que a compreensão que o Antigo Testamento possui sobre o Diabo e os demônios é menos completa do que aquela que é dada pelo Novo Testamento. – Antes da morte e da ressurreição de Cristo, Satanás tinha acesso vez por outra à presença de Deus, quando então questionava a sinceridade e retidão dos fiéis (ver 1.6-12; 2.1-6; 38.7; Ap 12.10). Por outro lado, a Bíblia não declara em nenhum lugar que Satanás tem acesso direto a Deus na nova aliança (ver Mt 4.10 nota), embora ele continue acusando os crentes. O crente pode eliminar essas acusações por meio do sangue de Cristo, de uma boa consciência e da Palavra de Deus (cf. Mt 4.3-11; Tg 4.7; Ap 12.11). Nossa confiança é reforçada pelo fato de termos como nosso Advogado perante o Pai o Senhor Jesus Cristo (1 Jo 2.1), que está à sua destra, intercedendo por nós (Hb 7.25).

2. Um ser criado. Satanás é um ser criado. Mesmo sendo um anjo, dotado de natureza espiritual, ele não é autoexistente. Ao contrário de Deus, que criou todas as coisas, o anjo que se tornou Satanás teve uma origem. Nem sempre o Diabo foi Diabo. Ele fora um anjo bom como os demais. Assim, ele é uma criatura, não o Criador. Por isso, o livro revela que Satanás tem suas ações limitadas por Deus. Ele pode fazer muitas coisas, mas não tudo (Jó 1.12; 2.7). Como ele não é autoexistente e, semelhante às outras criaturas que povoam o universo, não é um ser incriado, o Diabo é uma criatura limitada. – “Sem importar o termo empregado acerca desse ser, em todas as descrições bíblicas está em vista um ser real, vivo, e não meramente um símbolo do mal. Evidentemente foi um dos espíritos criados por Deus (ver Ez 1:5 e 28: 12-14). Ocupava posição extremamente exaltada e muitos acreditam que poder maior que o seu só se encontra no próprio Deus. (Ver Ez 28: 11-15.) A mesma passagem indica que, originalmente, Satanás não era um ser pervertido, mas perfeito em sua personalidade e obras”. – Com a soberana permissão de Deus, Satanás pôde atacar Jó, mas não poderia tocá-lo fisicamente. O grande teólogo Charles Hodge faz algumas colocações: “... no que diz respeito ao conhecimento dos anjos, ao modo como operam, ou quanto aos objetos desse conhecimento, nada em especial é revelado ...”. Ele continua indicando que ".... o seu poder tem grande extensão sobre mentes e matéria. Eles se comunicam uns com os outros e com outras mentes". Note, porém, que ele não vai além da admissão de comunicação. Continua, em outro ponto: eles "... possuem as limitações de criaturas. Não podem mudar substâncias, alterar leis da natureza, realizar milagres, agir sem os devidos meios, pesquisar os corações - todas essas prerrogativas de Deus". De acordo com Hodge, os poderes dos anjos são, portanto: (a) Dependentes e derivados. (b). Exercidos de conformidade com as leis do mundo material e espiritual. (c). Não de intervenção aleatória, mas permitida ou coordenada por Deus.

3. Um ser dotado de personalidade. Além do fato de ser um ente espiritual, o Diabo é dotado também de personalidade. Ele é uma pessoa e se apresenta como tal. No Livro de Jó o vemos assumindo atributos de um ser pessoal. Ele fala e possui capacidade argumentativa (Jó 1.9-11). Essa mesma característica aparece de forma mais explicita na tentação de Cristo (Mt 4.1-11; Lc 4.1-13). No livro, além de se expressar verbalmente, Satanás também demonstra possuir conhecimento. Ele sabe o que se passa na Terra e como se comportam os homens. Ele conhecia a vida de Jó. Isso faz dele um ser perspicaz. O apóstolo Paulo sabia que o Diabo é um ser que possui perspicácia quando disse não lhe ignorar os “ardis” e que ele se valia de métodos sofisticados para atingir as pessoas (2 Co 2.11; Ef 6.11).  Assim, Satanás usou de seu conhecimento e perspicácia para atacar Jó. – As evidências internas do texto do livro de Jó mostram alguns atributos de Satanás que o expõem como um ser dotado de personalidade. “O que caracteriza uma pessoa não é, como podem pensar alguns, um corpo, como o corpo do ser humano. Uma pessoa possui três características essenciais, quais sejam: (a) Inteligência; (b) Afeição; (c) Vontade. Estas três características constitutivas de um ser pessoal lhe dão alguns poderes, os quais alistamos a seguir: (1). poder de pensar. (2). poder de sentir. (3). poder de querer. (4). poder de consciência própria, ou seja, o poder de pensar em si mesmo. (5). poder de dirigir-se a si mesmo”. - O Pr. Claudionor de Andrade escreve: “Afirmou João Calvino que Satanás é um teólogo perspicaz. E foi com toda a sua argúcia teológica e filosófica, que o Maligno apresentou-se diante de Deus para acusar a Jó. O que me espanta não é o fato de Satanás caluniar o patriarca de forma tão desabrida; o que me causa estranheza é a sua audácia em discutir teologia com o próprio Deus. Que a discussão fosse com Lutero ou com Spurgeon! Mas debater teologia com a fonte da teologia? E a sua audácia não para aí. Encarreira ele argumentos tão contrários a Deus, que se tem a impressão de que o Senhor nada entende de teologia. Foi este o adversário que se levantou contra Jó. Apresentando-se diante do Todo-Poderoso como um misto de teólogo, filósofo e promotor, pôs-se a incitar Deus contra o homem mais íntegro daquela época. Aliás, Satanás não é apenas perspicaz; é também, como descreveu-o Thomas Cosmades, um ser que não trabalha ao acaso, mas ataca sistematicamente. Quem nos defenderá do acusador? Assim como Deus fez a apologia de Jó, está sempre pronto a levantar-se em nosso socorro. Se o Senhor é por nós, quem será contra nós?” 

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Sugerimos que você inicie este tópico fazendo indagações acerca da natureza do Diabo. Pergunte aos alunos o que eles acham acerca das características de Satanás: É um ser espiritual? É um ser criado ou incriado? É dotado de personalidade? São perguntas importantes que devem levá-los à compreensão de como a Bíblia revela a natureza do Diabo. Por isso, após ouvir atentamente as respostas dos alunos, desenvolva o tópico levando em consideração que a palavra Satanás significa “adversário”. Nas palavras de Myer Pearlman, essa palavra descreve a intenção persistente de o Diabo obstruir os propósitos de Deus. É uma oposição que se revelou nas seguidas tentativas de impedir o plano divino de cumprir a atividade predita em Gênesis 3.15: a vinda do Messias.

  II. O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE SATANÁS

1. Dor e sofrimento. A introdução do Livro de Jó apresenta Satanás como um ser capaz de agir contra o ser humano (Jó 1.12; 2.6). Através de suas ações é possível conhecer a natureza maligna de suas obras. É da natureza do Diabo provocar dor e sofrimento aos seres humanos. No livro, Satanás impõe ao patriarca um sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém sofreu como Jó no Antigo Testamento. Primeiramente, o Diabo atingiu as posses dele, o que fez o patriarca sofrer ao ver o seu patrimônio destruído repentinamente. Da mesma forma, houve grande sofrimento em Jó quando ele viu a tragédia se abater sobre sua casa, pois sua família foi devastada. Entretanto, o sofrimento do homem de Uz não cessou com a perda da família. O Diabo o infligiu com uma doença que o fez padecer dor e isolar-se de todos. – Satanás ocasionou os transtornos na vida de Jó em um dia em que os filhos deste patriarca começavam suas festas. Todos os problemas recaíram sobre ele de uma só vez; enquanto um mensageiro de más notícias falava, outro chegava. As possessões mais valiosas e queridas de Jó eram os seus dez filhos, e trazem-lhe a notícia que estes estão mortos. Foram arrebatados quando Jó mais necessitava deles para o consolar pelas outras perdas. somente em Deus encontramos ajuda real em todos os momentos.

2. Acusar. O Diabo é capaz de infligir dor e sofrimento, mas não só isso. Ele também acusa. Faz parte de sua natureza acusar. Foi o que ele fez com Jó (Jó 1.10,11). O Diabo o acusou de praticar uma religiosidade motivada por interesse. Assim como fez, posteriormente, com o apóstolo Pedro, querendo cirandá-lo (Lc 22.31,32), o Diabo quis fazer o com Jó. O livro do Apocalipse mostra a acusação como a missão do Diabo (Ap 12.10). – Observe aqui como Satanás censura a Jó. Esta é a maneira pela qual os caluniadores comumente agem; eles sugerem algo do qual não têm motivo, para fazer pensar que a sua mentira é verdade. Assim como devemos abominar a hipocrisia, também não podemos ser contados e chamados de hipócritas. Nada há de mal em colocar os nossos olhos na recompensa eterna de nossa obediência; porém, é mau colocá-la nas vantagens terrenas de nossa religião. – O povo de Deus e todos os que a Ele pertencem estão sob a sua proteção especial. A bênção de Deus enriquece, e o próprio Satanás admite isso. Foi Deus quem permitiu que Jó fosse provado. Nosso consolo é saber que Deus aprisionará o Diabo (Ap 20.1,2). Ele não tem poder para forçar os homens a pecar, a menos que estes o permitam; nem tampouco tem meios para afligir os homens, se estes não vierem do alto. Tudo isto está aqui escrito para nós, conforme a maneira dos homens. A Escritura fala dessa forma para nos mostrar que Deus dirige todos os assuntos da humanidade.

3. Tentar. Por outro lado, devemos destacar a atuação de Satanás na tentação para o mal. Também faz parte de sua natureza tentar pessoas. Pelo texto sagrado, podemos inferir que o Diabo impulsionou os sabeus e os caldeus, povos até então nômades, a dizimarem os bens de Jó (vv.12,14,17). É uma característica do Diabo incitar e tentar para o mal (1 Cr 21.1). – “O testemunho bíblico sobre as ações de Satanás, ao mesmo tempo em que estabelece a sua realidade e caráter antagônico à justiça de Deus, é fragmentado e, com frequência, apresentado de forma abrupta, sem intróitos ou considerações explicativas. Esta constatação é evidente desde a leitura das primeiras páginas da Bíblia. Ali encontramos um casal criado por Deus, vivendo em perfeita paz, inocência e harmonia. Estas características descrevem também todo o meio ambiente em que vivem. Repentinamente, um adversário aparece nesta cena e, imediatamente, acontece uma rápida transformação: toda aquela atmosfera paradisíaca dá lugar ao pecado, à maldição e ao caos. Imediatamente perguntamos: "De onde veio Satanás?" Mesmo a resposta dada por ele a Deus, no caso de Jó (Jó 2.2), não nos concede qualquer informação tangível. Verificamos, na realidade, que estamos lidando com um dos mais profundos mistérios do universo!” (trecho de capítulo publicado como parte do livro Fé Cristã e Misticismo, Cultura Cristã)

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Satanás […] ressalta que Jó tem sido recompensado de todas as formas possíveis – Porventura, não o cercaste tu de bens a ele? (10). Ele e sua família eram protegidos de todo e qualquer tipo de perigo, e Satanás conclui: A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está aumentando. Um sucesso incomum aparece em tudo que Jó realiza. Essa prosperidade, cobra Satanás, é a recompensa de Deus pela fidelidade de Jó.

Depois de acusar a Deus de comprar a lealdade de Jó, Satanás o desafia dizendo que uma reversão na condição próspera de Jó redundaria em sua deserção: Mas estende a tua mão […] e verás se não blasfema de ti em tua face (11). Isto é, ele renunciaria completa e abertamente a Deus e sua forma piedosa de vida.

Deus não abandona Jó nas mãos de Satanás, mas Ele dá permissão para testar a disposição de Jó em permanecer leal e devoto: Eis que tudo quanto tem está na tua mão (12). Observe, no entanto, que existe um limite para o teste: Somente contra ele não estendas a tua mão. Com tal autorização, Satanás age rapidamente para cumprir o seu propósito, confiante no sucesso de seu empreendimento” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 29).

  III. O LIVRO DE JÓ E O CASO DE SATANÁS

1. Queda e ruína de Satanás. O vocábulo “ocaso”, quando usado em sentido figurado, é definido pelo Dicionário Aurélio como “fim, final, queda e ruína”. O Livro de Jó retrata de forma nítida o ocaso final de Satanás. A vitória de Jó foi uma derrota para ele. Em quase todo o livro, Deus se mantém em silêncio e oculto, mesmo o leitor tendo consciência que Ele está lá e que o seu silêncio fala alto. Por outro lado, o Diabo não aparece mais a partir do capítulo 3 e não é mais mencionado no restante do livro. Não é, pois, propósito do livro pô-lo em evidência, nem tampouco superestimar o mal. O Livro de Jó mostra que Satanás não conseguiu o seu intento, que era fazer com que Jó blasfemasse. – Na realidade, Satanás e as hostes das trevas são responsáveis diretos por muitos dos fenômenos inexplicáveis. Coerentes com os seus propósitos e com as suas naturezas, eles utilizam estes fenômenos para enganar os homens e para imprimir autoridade aos seus emissários. Ao examinarmos esses aspectos dos fenômenos, somos atingidos por muitas perguntas sobre Satanás, sobre o mal e sobre os seus espíritos. – “A Escritura revela o resultado certo do conflito entre o bem e o mal e a inevitável condenação de Satanás e suas hostes. Jesus viu uma figura desta derrota final de Satanás na vitória dos setenta sobre as forças do mal (Lc 10.18). Jesus afirmou que, “o fogo eterno” foi preparado “para o diabo e seus anjos” (Mt 25.41). O livro de Apocalipse retrata o julgamento final executado sobre o diabo. No retomo de Cristo em glória, Satanás será confinado ao abismo sem fundo selado por 1.000 anos, durante este tempo a terra ficará livre de suas influências sedutoras e enganosas (Ap 20.1-3). No fim dos 1.000 anos Satanás estará livre de sua prisão e novamente reassumirá seu engano sobre os habitantes da terra com grande sucesso. Esta rebelião final será sumariamente esmagada pela ação divina e o diabo será lançado “no lago de fogo e enxofre” onde, com a besta e o falso profeta, “serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos” (20.7-10). Sua condenação será compartilhar a punição eterna com aqueles que ele enganou (20.12-14)” (MERRILL C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 487)

2. Jó e o testemunho de Deus. O Livro tem um início dramático, mas um final apoteótico. Jó foi submetido a uma prova de fogo, e mesmo sendo chamuscado pelas chamas do sofrimento, saiu vivo e vitorioso. Deus nunca o abandonou. A graça estava oculta, mas estava lá. No momento oportuno ela se manifestou (Jó 38.1). Da mesma forma que a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos os homens (Tt 2.11), ela também se manifestou trazendo alívio, paz e livramento a Jó. Deus mesmo, no momento certo, testemunhou que Jó era o homem que Ele sempre disse que era: justo, reto e temente a Deus (Jó 42.7,8). – É interessante notar que, no início do livro, Deus se apresenta pelo Seu Nome sagrado YHWH (JAVÉ), o Senhor da aliança, todavia, nos capítulos 3 ao 37, o nome usado é El Shaddai, o Deus Todo-Poderoso. Isso é importante porque nos mostra que o relacionamento foi restaurado em termos profundos quando Deus revela-se a Jó usando o seu nome da aliança. Repetidas vezes Jó pediu que Deus comparecesse a um tribunal para comprovar a sua inocência. Deus finalmente veio para interrogar Jó a respeito de alguns comentários que ele havia feito a seus próprios acusadores. O Senhor estava prestes a se tornar o justificador de Jó, mas, primeiro, o levou a uma correta compreensão do seu ser. Em Jó 38.36 está o cerne da questão: A sabedoria de Deus que criou e sustenta o universo também está trabalhando no sofrimento de Jó. Cabe a Jó, em sua insignificância, crer e depender do Deus Todo-Poderoso. Jó precisava admitir sua fraqueza, inferioridade e incapacidade para até mesmo tentar desvendar a infinita mente de Deus. Tudo o que Jó precisava saber era que a sabedoria de Deus era superior, e seu controle soberano era total. - A resposta de Jó a Deus foi ''Sou culpado da acusação. Não direi mais nada” (40.3-5). Jó sabia que não deveria ter criticado o Todo-Poderoso. Sabia que não deveria ler insistido em sua própria compreensão. Não deveria ter achado que Deus era injusto. Assim, finalmente, limitou-se a ficar calado! Que belo testemunho e ensinamento para nós, que em meio a crises que sequer se comparam à situação enfrentada por Jó, cometemos os mesmos erros... - “Depois do que Jó escrevemos a respeito da maneira como Deus atendeu a Jó e de como ele foi solicitado a intervir como mediador dos seus três amigos, vale ressaltar que a sua elevação como líder espiritual foi bem maior que a sua elevação material. Qual teria sido, antes da sua doença, a atuação na sua tribo, não sabemos; apenas conjeturas, e nada mais. Agora estava creditado perante a sua comunidade como líder espiritual, como sacerdote, nos moldes antigos. Por quatro vezes foi ele louvado por Deus mesmo, como meu servo (vv. 7,8) (veja 1:8)” (Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. Editora JUERP).

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“O termo hebraico (tam) usado na afirmação, este era homem sincero (perfeito, ou ‘íntegro’, ARA), é de grande interesse para os teólogos da santidade. O significado principal da raiz é plenitude de caráter. No caso de Jó, não significa perfeição no sentido absoluto. Jó afirma que ele é tam (27.5), mas ele também admite suas fraquezas humanas (9.1ss; 13.26). Jó mantém a integridade básica do seu caráter. Tudo faz parte de uma mesma disposição. Os olhos e o coração estão focados no que é íntegro (cf. Mt 6.22; At 2.46). O coração de Jó não está dividido (Sl 12.2). A vontade de Jó pertence a Deus e ele não abre mão disso (2.9,10; 27.5). Além de ser sincero (perfeito/íntegro), também lemos que Jó era reto e temente a Deus; e desviava-se do mal. Não havia falta em Jó. Ele preenchia todos os requisitos dos seus dias de um homem exemplar. Na narrativa, essas qualidades em Jó não constituem a avaliação de homens, mas sim, a do próprio Deus” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, pp. 27-28).

  CONCLUSÃO

O Livro de Jó, mesmo poeticamente, apresenta Satanás de forma real, e a partir da revelação divina na história bíblica. Dessa forma, Satanás é um ser dotado de personalidade. Ele possui grande conhecimento e age com perspicácia. Não deve, portanto, ser ignorado. Todavia, mesmo o livro tendo deixado esse fato em oculto, Jó sempre esteve debaixo das soberanas mãos de Deus. O Maligno não o tocou como quis, mas apenas da forma que Deus permitiu. Isso nos lembra a afirmação de João (1 Jo 5.18). Por isso devemos descansar em Deus. – Jó sempre esteve debaixo das soberanas mãos de Deus, a soberania de Deus é clara do início ao fim do livro! O Adversário age restringido pela soberania divina! – A ausência de uma revelação mais extensa e detalhada não significa que fomos deixados sem rumo num mundo que é caracterizado como o campo de atuação dos poderes satânicos. Vemos na realidade que, em harmonia com as demais verdades espirituais, Deus nos revelou a essência do que necessitamos para o nosso posicionamento espiritual e para a nossa peregrinação nesta terra. Os seguintes pontos são claros e derivados da Palavra de Deus: (a) Satanás é real (2 Co 11.3; 2 Tm 2.26). (b) Satanás interage com as pessoas (Gn 3.1-15) e com o próprio Deus (Jó 1.6-12). (c) Satanás possui anjos caídos que constituem o seu séquito maligno, emissários da morte e do engano, para corromper os homens (1 Tm 4.11). (d) A rebelião satânica contra Deus teve o seu ápice na primeira vinda de Cristo, quando ele tentou frustrar o plano eterno da redenção (Mt 4.1-11) e, através de intensa atividade, resistir à derrota iminente que o espera. (e) Satanás tem poder de realizar maravilhas (2 Co 11.14-15). (f) O poder de Satanás é restringido pelo Espírito Santo, por amor dos eleitos e pelo exercício da Graça Comum, que abrange a todas as criaturas. Deus permitirá uma última rebelião, antes da 2ª vinda de Cristo, que será quando "aquele que o detêm" (2 Ts 2.11) deixar que Satanás exteriorize todo o seu mal. (g) Apesar de limitado e passível de ser resistido pelos crentes, (Tg 4.7) Satanás não deve ser considerado com desprezo (Jd 8-10), mas deve ser respeitado como um potente adversário que não descansa e está sempre pronto a apanhar a sua presa (1 Pe 5.8-9). (h) A derrota de Satanás será pública, notória e final (Ap 12.9; 20.10). – A vitória sobre o pecado e Satanás é a terceira certeza cristã (1Jo 3.9; Rm 6.15-22). Deus protege o cristão de toda ação maléfica. Satanás, não toca, como João usa essa palavra ("toca") em 1Jo 5.18 e em Jo 20.17, sugerindo "prender" ou "agarrar" com o intuito de fazer mal. Uma vez que o cristão pertence a Deus, Satanás deve operar dentro da soberania de Deus e não pode ir além do que Deus permite, como no exemplo de Jó (Jó 2.5; Rm 16.20). Embora Satanás possa perseguir, tentar, provar e acusar o cristão, Deus protege seus filhos e estabelece limites definidos para a influência ou poder de Satanás (1Jo 2.13; Jo 10.28; 17.12-15).

REFERÊNCIAS

ANDRADE. Claudionor Corrêa de, Jó o Problema do sofrimento do justo e o seu propósito. Série Comentário Bíblico. Editora CPAD. p. 37-38.

BARBOSA, Francisco. Lição 3: Jó e a realidade de Satanás. Disponível em: https://auxilioebd.blogspot.com. Acesso em 16.10.2020

CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6: Hagnos. p. 102).

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 3.  Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

LIÇÕES BÍBLICAS. 4º Trimestre 2020 - Lição 3. Rio de Janeiro: CPAD, 11 outubro, 2020.

MESQUITA. Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. São Paulo: JUERP, 2013.

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