COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Uma das constatações que o leitor logo chega ao ler o Livro
de Jó é que o Diabo existe. Ele é um ser real. Todo o mal descrito poeticamente
no livro é visto a partir da realidade de Satanás. Todo sofrimento
experimentado pelo homem de Uz, mesmo sem a consciência histórica disso, foi
motivado por uma ação maligna. Ali, o Diabo assume o caráter pessoal de uma
criatura. Nesse aspecto, o livro mostra como o Diabo pode interferir na vida
humana. Portanto, nesta lição abordaremos algumas questões relativas à existência
e à realidade de Satanás a partir do contexto de Jó. – O Diabo é um ser espiritual criado e dotado de
personalidade; as aflições de Jó começaram pela maldade de dele, mas ele só
obteve êxito em tocar em Jó com a permissão do Senhor para propósitos sábios e
santos. Ele sendo o inimigo de Deus e de toda a justiça procura continuamente
tirar do caminho e, se possível, destruir os que amam a Deus. Não sabemos até
aonde a sua influência pode ir; porém, provavelmente muita instabilidade e
infelicidade dos cristãos podem ser atribuídas a ele. Enquanto nos encontramos
na terra, estamos ao seu alcance. Por isso, cabe a nós estar sóbrios e sempre
atentos (1 Pe 5.8).
I. O LIVRO DE JÓ E A NATUREZA DE SATANÁS
1. Um ser espiritual. O Livro de Jó não procura provar a origem do Diabo, mas o revela como um
ser real. O livro destaca algumas características da natureza de Satanás que
nos permitem conhecê-lo melhor. Em primeiro lugar, conforme o livro
apresenta, o Diabo é um ser espiritual e encontra-se na mesma categoria dos
anjos, representada no texto pela expressão “os filhos de Deus” (Jó 1.6). Os
anjos são seres espirituais que não pertencem à dimensão natural, mas à
sobrenatural. Isso explica, por exemplo, a capacidade da rápida locomoção do
Diabo quando rodeava a Terra e passeava por ela (Jó 1.7). – A concepção
que se tem do Diabo e da existência do mal a partir da cultura bíblica difere
muito do mítico-filosófico e, também, do racionalismo. De acordo com a Bíblia o
Diabo existe e é real. Todavia, no estudo sobre a existência de Satanás na
cultura judaico-cristã, é preciso levar em conta o caráter progressivo da revelação
bíblica. Fica bastante evidente que a compreensão que o Antigo Testamento possui
sobre o Diabo e os demônios é menos completa do que aquela que é dada pelo Novo
Testamento. – Antes da morte
e da ressurreição de Cristo, Satanás tinha acesso vez por outra à presença de
Deus, quando então questionava a sinceridade e retidão dos fiéis (ver 1.6-12;
2.1-6; 38.7; Ap 12.10). Por outro lado, a Bíblia não declara em nenhum lugar
que Satanás tem acesso direto a Deus na nova aliança (ver Mt 4.10 nota), embora
ele continue acusando os crentes. O crente pode eliminar essas acusações por
meio do sangue de Cristo, de uma boa consciência e da Palavra de Deus (cf. Mt
4.3-11; Tg 4.7; Ap 12.11). Nossa confiança é reforçada pelo fato de termos como
nosso Advogado perante o Pai o Senhor Jesus Cristo (1 Jo 2.1), que está à sua
destra, intercedendo por nós (Hb 7.25).
2. Um ser criado. Satanás é um ser criado. Mesmo sendo um anjo, dotado de natureza
espiritual, ele não é autoexistente. Ao contrário de Deus, que criou todas as
coisas, o anjo que se tornou Satanás teve uma origem. Nem sempre o Diabo foi
Diabo. Ele fora um anjo bom como os demais. Assim, ele é uma criatura, não o
Criador. Por isso, o livro revela que Satanás tem suas ações limitadas por
Deus. Ele pode fazer muitas coisas, mas não tudo (Jó 1.12; 2.7). Como ele não é
autoexistente e, semelhante às outras criaturas que povoam o universo, não é um
ser incriado, o Diabo é uma criatura limitada. – “Sem importar o termo empregado acerca desse ser, em todas as
descrições bíblicas está em vista um ser real, vivo, e não meramente um símbolo
do mal. Evidentemente foi um dos espíritos criados por Deus (ver Ez 1:5 e 28:
12-14). Ocupava posição extremamente exaltada e muitos acreditam que poder
maior que o seu só se encontra no próprio Deus. (Ver Ez 28: 11-15.) A mesma
passagem indica que, originalmente, Satanás não era um ser pervertido, mas
perfeito em sua personalidade e obras”. – Com a soberana permissão de
Deus, Satanás pôde atacar Jó, mas não poderia tocá-lo fisicamente. O grande
teólogo Charles Hodge faz algumas colocações: “... no que diz respeito ao
conhecimento dos anjos, ao modo como operam, ou quanto aos objetos desse conhecimento,
nada em especial é revelado ...”. Ele continua indicando que ".... o seu
poder tem grande extensão sobre mentes e matéria. Eles se comunicam uns com os
outros e com outras mentes". Note, porém, que ele não vai além da admissão
de comunicação. Continua, em outro ponto: eles "... possuem as limitações
de criaturas. Não podem mudar substâncias, alterar leis da natureza, realizar
milagres, agir sem os devidos meios, pesquisar os corações - todas essas
prerrogativas de Deus". De acordo com Hodge, os poderes dos anjos são,
portanto: (a) Dependentes e derivados. (b). Exercidos de conformidade com as
leis do mundo material e espiritual. (c). Não de intervenção aleatória, mas
permitida ou coordenada por Deus.
3. Um ser dotado de
personalidade. Além do fato de ser um ente
espiritual, o Diabo é dotado também de personalidade. Ele é uma pessoa e se
apresenta como tal. No Livro de Jó o vemos assumindo atributos de um ser
pessoal. Ele fala e possui capacidade argumentativa (Jó 1.9-11). Essa mesma
característica aparece de forma mais explicita na tentação de Cristo (Mt 4.1-11;
Lc 4.1-13). No livro, além de se expressar verbalmente, Satanás também
demonstra possuir conhecimento. Ele sabe o que se passa na Terra e como se
comportam os homens. Ele conhecia a vida de Jó. Isso faz dele um ser perspicaz.
O apóstolo Paulo sabia que o Diabo é um ser que possui perspicácia quando disse
não lhe ignorar os “ardis” e que ele se valia de métodos sofisticados para
atingir as pessoas (2 Co 2.11; Ef 6.11). Assim, Satanás usou de seu
conhecimento e perspicácia para atacar Jó. – As evidências internas do texto do livro de Jó mostram alguns
atributos de Satanás que o expõem como um ser dotado de personalidade. “O que
caracteriza uma pessoa não é, como podem pensar alguns, um corpo, como o corpo
do ser humano. Uma pessoa possui três características essenciais, quais sejam: (a)
Inteligência; (b) Afeição; (c) Vontade. Estas três características
constitutivas de um ser pessoal lhe dão alguns poderes, os quais alistamos a
seguir: (1). poder de pensar. (2). poder de sentir. (3). poder de querer. (4).
poder de consciência própria, ou seja, o poder de pensar em si mesmo. (5).
poder de dirigir-se a si mesmo”. - O Pr. Claudionor de Andrade
escreve: “Afirmou João Calvino que Satanás é um teólogo perspicaz. E foi com
toda a sua argúcia teológica e filosófica, que o Maligno apresentou-se diante
de Deus para acusar a Jó. O que me espanta não é o fato de Satanás caluniar o
patriarca de forma tão desabrida; o que me causa estranheza é a sua audácia em
discutir teologia com o próprio Deus. Que a discussão fosse com Lutero ou com
Spurgeon! Mas debater teologia com a fonte da teologia? E a sua audácia não
para aí. Encarreira ele argumentos tão contrários a Deus, que se tem a
impressão de que o Senhor nada entende de teologia. Foi este o adversário que
se levantou contra Jó. Apresentando-se diante do Todo-Poderoso como um misto de
teólogo, filósofo e promotor, pôs-se a incitar Deus contra o homem mais íntegro
daquela época. Aliás, Satanás não é apenas perspicaz; é também, como
descreveu-o Thomas Cosmades, um ser que não trabalha ao acaso, mas ataca sistematicamente.
Quem nos defenderá do acusador? Assim como Deus fez a apologia de Jó, está
sempre pronto a levantar-se em nosso socorro. Se o Senhor é por nós, quem será
contra nós?”
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Sugerimos que você inicie este tópico fazendo indagações
acerca da natureza do Diabo. Pergunte aos alunos o que eles acham acerca das
características de Satanás: É um ser espiritual? É um ser criado ou incriado? É
dotado de personalidade? São perguntas importantes que devem levá-los à
compreensão de como a Bíblia revela a natureza do Diabo. Por isso, após ouvir
atentamente as respostas dos alunos, desenvolva o tópico levando em
consideração que a palavra Satanás significa “adversário”. Nas palavras de Myer
Pearlman, essa palavra descreve a intenção persistente de o Diabo obstruir os
propósitos de Deus. É uma oposição que se revelou nas seguidas tentativas de
impedir o plano divino de cumprir a atividade predita em Gênesis 3.15: a vinda do
Messias.
II. O LIVRO DE JÓ E AS OBRAS DE SATANÁS
1. Dor e sofrimento. A introdução do Livro de Jó apresenta Satanás como um ser capaz de agir
contra o ser humano (Jó 1.12; 2.6). Através de suas ações é possível conhecer a
natureza maligna de suas obras. É da natureza do Diabo provocar dor e
sofrimento aos seres humanos. No livro, Satanás impõe ao patriarca um
sofrimento, até então, sem precedentes, pois ninguém sofreu como Jó no Antigo
Testamento. Primeiramente, o Diabo atingiu as posses dele, o que fez o
patriarca sofrer ao ver o seu patrimônio destruído repentinamente. Da mesma
forma, houve grande sofrimento em Jó quando ele viu a tragédia se abater sobre
sua casa, pois sua família foi devastada. Entretanto, o sofrimento do homem de
Uz não cessou com a perda da família. O Diabo o infligiu com uma doença que o
fez padecer dor e isolar-se de todos. – Satanás
ocasionou os transtornos na vida de Jó em um dia em que os filhos deste
patriarca começavam suas festas. Todos os problemas recaíram sobre ele de uma
só vez; enquanto um mensageiro de más notícias falava, outro chegava. As
possessões mais valiosas e queridas de Jó eram os seus dez filhos, e trazem-lhe
a notícia que estes estão mortos. Foram arrebatados quando Jó mais necessitava
deles para o consolar pelas outras perdas. somente em Deus encontramos ajuda
real em todos os momentos.
2. Acusar. O Diabo é capaz de infligir dor e sofrimento, mas não só isso. Ele
também acusa. Faz parte de sua natureza acusar. Foi o que ele fez com Jó (Jó
1.10,11). O Diabo o acusou de praticar uma religiosidade motivada por interesse.
Assim como fez, posteriormente, com o apóstolo Pedro, querendo cirandá-lo (Lc
22.31,32), o Diabo quis fazer o com Jó. O livro do Apocalipse mostra a acusação
como a missão do Diabo (Ap 12.10). – Observe
aqui como Satanás censura a Jó. Esta é a maneira pela qual os caluniadores
comumente agem; eles sugerem algo do qual não têm motivo, para fazer pensar que
a sua mentira é verdade. Assim como devemos abominar a hipocrisia, também não
podemos ser contados e chamados de hipócritas. Nada há de mal em colocar os
nossos olhos na recompensa eterna de nossa obediência; porém, é mau colocá-la
nas vantagens terrenas de nossa religião. – O povo de Deus e todos os que a Ele
pertencem estão sob a sua proteção especial. A bênção de Deus enriquece, e o
próprio Satanás admite isso. Foi Deus quem permitiu que Jó fosse provado. Nosso
consolo é saber que Deus aprisionará o Diabo (Ap 20.1,2). Ele não tem poder
para forçar os homens a pecar, a menos que estes o permitam; nem tampouco tem
meios para afligir os homens, se estes não vierem do alto. Tudo isto está aqui
escrito para nós, conforme a maneira dos homens. A Escritura fala dessa forma
para nos mostrar que Deus dirige todos os assuntos da humanidade.
3. Tentar. Por outro lado, devemos destacar a atuação de Satanás na tentação para o
mal. Também faz parte de sua natureza tentar pessoas. Pelo texto sagrado,
podemos inferir que o Diabo impulsionou os sabeus e os caldeus, povos até então
nômades, a dizimarem os bens de Jó (vv.12,14,17). É uma característica do Diabo
incitar e tentar para o mal (1 Cr 21.1). – “O testemunho bíblico sobre as ações de Satanás, ao mesmo
tempo em que estabelece a sua realidade e caráter antagônico à justiça de Deus,
é fragmentado e, com frequência, apresentado de forma abrupta, sem intróitos ou
considerações explicativas. Esta constatação é evidente desde a leitura das
primeiras páginas da Bíblia. Ali encontramos um casal criado por Deus, vivendo
em perfeita paz, inocência e harmonia. Estas características descrevem também
todo o meio ambiente em que vivem. Repentinamente, um adversário aparece nesta
cena e, imediatamente, acontece uma rápida transformação: toda aquela atmosfera
paradisíaca dá lugar ao pecado, à maldição e ao caos. Imediatamente
perguntamos: "De onde veio Satanás?" Mesmo a resposta dada por ele a
Deus, no caso de Jó (Jó 2.2), não nos concede qualquer informação tangível.
Verificamos, na realidade, que estamos lidando com um dos mais profundos
mistérios do universo!” (trecho de
capítulo publicado como parte do livro Fé
Cristã e Misticismo, Cultura Cristã)
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Satanás […] ressalta que Jó tem
sido recompensado de todas as formas possíveis – Porventura, não o cercaste tu
de bens a ele? (10). Ele e sua família eram protegidos de todo e qualquer tipo
de perigo, e Satanás conclui: A obra de suas mãos abençoaste, e o seu gado está
aumentando. Um sucesso incomum aparece em tudo que Jó realiza. Essa
prosperidade, cobra Satanás, é a recompensa de Deus pela fidelidade de Jó.
Depois de acusar a Deus de
comprar a lealdade de Jó, Satanás o desafia dizendo que uma reversão na
condição próspera de Jó redundaria em sua deserção: Mas estende a tua mão […] e
verás se não blasfema de ti em tua face (11). Isto é, ele renunciaria completa
e abertamente a Deus e sua forma piedosa de vida.
Deus não abandona Jó nas mãos de
Satanás, mas Ele dá permissão para testar a disposição de Jó em permanecer leal
e devoto: Eis que tudo quanto tem está na tua mão (12). Observe, no entanto,
que existe um limite para o teste: Somente contra ele não estendas a tua mão.
Com tal autorização, Satanás age rapidamente para cumprir o seu propósito,
confiante no sucesso de seu empreendimento” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário
Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 29).
III. O LIVRO DE JÓ E O CASO DE
SATANÁS
1. Queda e ruína de
Satanás. O vocábulo “ocaso”, quando usado
em sentido figurado, é definido pelo Dicionário Aurélio como “fim, final, queda
e ruína”. O Livro de Jó retrata de forma nítida o ocaso final de Satanás. A
vitória de Jó foi uma derrota para ele. Em quase todo o livro, Deus se mantém
em silêncio e oculto, mesmo o leitor tendo consciência que Ele está lá e que o
seu silêncio fala alto. Por outro lado, o Diabo não aparece mais a partir do
capítulo 3 e não é mais mencionado no restante do livro. Não é, pois, propósito
do livro pô-lo em evidência, nem tampouco superestimar o mal. O Livro de Jó
mostra que Satanás não conseguiu o seu intento, que era fazer com que Jó
blasfemasse. – Na realidade,
Satanás e as hostes das trevas são responsáveis diretos por muitos dos
fenômenos inexplicáveis. Coerentes com os seus propósitos e com as suas
naturezas, eles utilizam estes fenômenos para enganar os homens e para imprimir
autoridade aos seus emissários. Ao examinarmos esses aspectos dos fenômenos,
somos atingidos por muitas perguntas sobre Satanás, sobre o mal e sobre os seus
espíritos. – “A Escritura revela o resultado certo do conflito entre o bem e
o mal e a inevitável condenação de Satanás e suas hostes. Jesus viu uma figura
desta derrota final de Satanás na vitória dos setenta sobre as forças do mal
(Lc 10.18). Jesus afirmou que, “o fogo eterno” foi preparado “para o diabo e
seus anjos” (Mt 25.41). O livro de Apocalipse retrata o julgamento final
executado sobre o diabo. No retomo de Cristo em glória, Satanás será confinado
ao abismo sem fundo selado por 1.000 anos, durante este tempo a terra ficará
livre de suas influências sedutoras e enganosas (Ap 20.1-3). No fim dos 1.000
anos Satanás estará livre de sua prisão e novamente reassumirá seu engano sobre
os habitantes da terra com grande sucesso. Esta rebelião final será
sumariamente esmagada pela ação divina e o diabo será lançado “no lago de fogo
e enxofre” onde, com a besta e o falso profeta, “serão atormentados de dia e de
noite pelos séculos dos séculos” (20.7-10). Sua condenação será compartilhar a
punição eterna com aqueles que ele enganou (20.12-14)” (MERRILL
C. TENNEY. Enciclopédia da Bíblia. Editora Cultura Cristã. Vol. 1. pag. 487)
2. Jó e o testemunho de
Deus. O Livro tem um início dramático, mas um final
apoteótico. Jó foi submetido a uma prova de fogo, e mesmo sendo chamuscado
pelas chamas do sofrimento, saiu vivo e vitorioso. Deus nunca o abandonou. A
graça estava oculta, mas estava lá. No momento oportuno ela se manifestou (Jó
38.1). Da mesma forma que a graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todos
os homens (Tt 2.11), ela também se manifestou trazendo alívio, paz e livramento
a Jó. Deus mesmo, no momento certo, testemunhou que Jó era o homem que Ele
sempre disse que era: justo, reto e temente a Deus (Jó 42.7,8). – É interessante notar que, no início do livro,
Deus se apresenta pelo Seu Nome sagrado YHWH (JAVÉ), o Senhor da aliança,
todavia, nos capítulos 3 ao 37, o nome usado é El Shaddai, o Deus
Todo-Poderoso. Isso é importante porque nos mostra que o relacionamento foi
restaurado em termos profundos quando Deus revela-se a Jó usando o seu nome da
aliança. Repetidas vezes Jó pediu que Deus comparecesse a um tribunal para
comprovar a sua inocência. Deus finalmente veio para interrogar Jó a respeito
de alguns comentários que ele havia feito a seus próprios acusadores. O Senhor
estava prestes a se tornar o justificador de Jó, mas, primeiro, o levou a uma
correta compreensão do seu ser. Em Jó 38.36 está o cerne da questão: A
sabedoria de Deus que criou e sustenta o universo também está trabalhando no
sofrimento de Jó. Cabe a Jó, em sua insignificância, crer e depender do Deus
Todo-Poderoso. Jó precisava admitir sua fraqueza, inferioridade e incapacidade
para até mesmo tentar desvendar a infinita mente de Deus. Tudo o que Jó
precisava saber era que a sabedoria de Deus era superior, e seu controle
soberano era total. - A resposta de Jó a Deus foi ''Sou culpado da acusação.
Não direi mais nada” (40.3-5). Jó sabia que não deveria ter criticado o
Todo-Poderoso. Sabia que não deveria ler insistido em sua própria compreensão.
Não deveria ter achado que Deus era injusto. Assim, finalmente, limitou-se a
ficar calado! Que belo testemunho e ensinamento para nós, que em meio a crises
que sequer se comparam à situação enfrentada por Jó, cometemos os mesmos
erros... - “Depois do que Jó escrevemos a respeito da maneira como Deus atendeu
a Jó e de como ele foi solicitado a intervir como mediador dos seus três
amigos, vale ressaltar que a sua elevação como líder espiritual foi bem maior
que a sua elevação material. Qual teria sido, antes da sua doença, a atuação na
sua tribo, não sabemos; apenas conjeturas, e nada mais. Agora estava creditado
perante a sua comunidade como líder espiritual, como sacerdote, nos moldes
antigos. Por quatro vezes foi ele louvado por Deus mesmo, como meu servo (vv.
7,8) (veja 1:8)” (Mesquita. Antônio Neves de,. Jó Uma interpretação
do sofrimento humano. Editora JUERP).
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“O termo hebraico (tam) usado na afirmação, este era homem
sincero (perfeito, ou ‘íntegro’, ARA), é de grande interesse para os teólogos
da santidade. O significado principal da raiz é plenitude de caráter. No caso
de Jó, não significa perfeição no sentido absoluto. Jó afirma que ele é tam
(27.5), mas ele também admite suas fraquezas humanas (9.1ss; 13.26). Jó mantém
a integridade básica do seu caráter. Tudo faz parte de uma mesma disposição. Os
olhos e o coração estão focados no que é íntegro (cf. Mt 6.22; At 2.46). O
coração de Jó não está dividido (Sl 12.2). A vontade de Jó pertence a Deus e
ele não abre mão disso (2.9,10; 27.5). Além de ser sincero (perfeito/íntegro),
também lemos que Jó era reto e temente a Deus; e desviava-se do mal. Não havia
falta em Jó. Ele preenchia todos os requisitos dos seus dias de um homem
exemplar. Na narrativa, essas qualidades em Jó não constituem a avaliação de
homens, mas sim, a do próprio Deus” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário
Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, pp. 27-28).
CONCLUSÃO
O Livro de Jó, mesmo poeticamente, apresenta Satanás de
forma real, e a partir da revelação divina na história bíblica. Dessa forma,
Satanás é um ser dotado de personalidade. Ele possui grande conhecimento e age
com perspicácia. Não deve, portanto, ser ignorado. Todavia, mesmo o livro tendo
deixado esse fato em oculto, Jó sempre esteve debaixo das soberanas mãos de
Deus. O Maligno não o tocou como quis, mas apenas da forma que Deus permitiu.
Isso nos lembra a afirmação de João (1 Jo 5.18). Por isso devemos descansar em
Deus. – Jó sempre esteve debaixo
das soberanas mãos de Deus, a soberania de Deus é clara do início ao fim do
livro! O Adversário age restringido pela soberania divina! – A ausência de
uma revelação mais extensa e detalhada não significa que fomos deixados sem
rumo num mundo que é caracterizado como o campo de atuação dos poderes
satânicos. Vemos na realidade que, em harmonia com as demais verdades
espirituais, Deus nos revelou a essência do que necessitamos para o nosso
posicionamento espiritual e para a nossa peregrinação nesta terra. Os seguintes
pontos são claros e derivados da Palavra de Deus: (a) Satanás é real (2 Co
11.3; 2 Tm 2.26). (b) Satanás interage com as pessoas (Gn 3.1-15) e com o
próprio Deus (Jó 1.6-12). (c) Satanás possui anjos caídos que constituem o seu
séquito maligno, emissários da morte e do engano, para corromper os homens (1
Tm 4.11). (d) A rebelião satânica contra Deus teve o seu ápice na primeira
vinda de Cristo, quando ele tentou frustrar o plano eterno da redenção (Mt
4.1-11) e, através de intensa atividade, resistir à derrota iminente que o
espera. (e) Satanás tem poder de realizar maravilhas (2 Co 11.14-15). (f) O
poder de Satanás é restringido pelo Espírito Santo, por amor dos eleitos e pelo
exercício da Graça Comum, que abrange a todas as criaturas. Deus permitirá uma
última rebelião, antes da 2ª vinda de Cristo, que será quando "aquele que
o detêm" (2 Ts 2.11) deixar que Satanás exteriorize todo o seu mal. (g)
Apesar de limitado e passível de ser resistido pelos crentes, (Tg 4.7) Satanás
não deve ser considerado com desprezo (Jd 8-10), mas deve ser respeitado como
um potente adversário que não descansa e está sempre pronto a apanhar a sua
presa (1 Pe 5.8-9). (h) A derrota de Satanás será pública, notória e final (Ap
12.9; 20.10). – A vitória sobre o pecado e Satanás é a terceira certeza cristã
(1Jo 3.9; Rm 6.15-22). Deus protege o cristão de toda ação maléfica. Satanás,
não toca, como João usa essa palavra ("toca") em 1Jo 5.18 e em Jo
20.17, sugerindo "prender" ou "agarrar" com o intuito de
fazer mal. Uma vez que o cristão pertence a Deus, Satanás deve operar dentro da
soberania de Deus e não pode ir além do que Deus permite, como no exemplo de Jó
(Jó 2.5; Rm 16.20). Embora Satanás possa perseguir, tentar, provar e acusar o
cristão, Deus protege seus filhos e estabelece limites definidos para a
influência ou poder de Satanás (1Jo 2.13; Jo 10.28; 17.12-15).
REFERÊNCIAS
ANDRADE. Claudionor Corrêa de, Jó o Problema do sofrimento
do justo e o seu propósito. Série Comentário Bíblico. Editora CPAD. p.
37-38.
BARBOSA,
Francisco. Lição 3: Jó e a realidade de Satanás. Disponível em: https://auxilioebd.blogspot.com. Acesso em 16.10.2020
CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia
de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 6: Hagnos. p. 102).
HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 3.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
LIÇÕES BÍBLICAS.
4º Trimestre 2020 - Lição 3. Rio de Janeiro: CPAD, 11 outubro, 2020.
MESQUITA.
Antônio Neves de. Jó Uma interpretação do sofrimento humano. São Paulo:
JUERP, 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário