sábado, 4 de julho de 2020

LIÇÃO 1: DANIEL ORA POR UM DESPERTAMENTO [Edição Especial]

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

DANIEL ORA POR UM DESPERTAMENTO 

3º Trimestre: Edição Especial 

ESBOÇO DA LIÇÃO
Daniel foi despertado para Orar
A Resposta às Orações de Daniel
O resultado de um Despertamento proveniente de Deus

OBJETIVOS GERAL DA LIÇÃO
Conscientizar os alunos sobre a necessidade de estudar a Palavra e orar em busca de um despertamento, proveniente de Deus, nesses dias trabalhosos.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
I. Apresentar os motivos que levaram Daniel a ser despertado para a oração;
II. Pontuar a resposta divina às orações de Daniel;
III. Destacar o resultado de um despertamento proveniente de Deus.

Iniciaremos mais um trimestre. Entretanto, ele é distinto, pois ainda estamos no meio de uma Pandemia. Ao iniciá-lo muitos ainda não sabem se voltarão a ser reunir na Escola Dominical como antigamente.

Há lugares que ainda estão sem reuniões ordinárias das igrejas locais. Outros, aos poucos, estão começando a retomar a “normalidade” das reuniões. Muitas perdas também foram e estão sendo sentidas na comunhão do povo de Deus. Famílias inteiras foram afetadas pelo ataque cruel do vírus. Perdemos grandes líderes de igreja, pessoas valentes na obra de Deus, que tombaram nesta Pandemia. 

As perguntas são inevitáveis. O medo bate a porta do mais seguro crente. Estamos vivendo um tempo de crise. Por isso, neste trimestre, a CPAD reedita a lição comentada pelo Missionário Eurico Bergstén, “Os Princípios Divinos em Tempos de Crise: A Reconstrução de Jerusalém e o Avivamento Espiritual como Exemplos para os Nossos Dias”.    

A primeira lição abordará o profeta Daniel e sua vida de oração no contexto do cativeiro babilônica. Ao lermos o livro de Daniel, percebemos que o jovem judeu estava no centro de uma grande crise: destruição da nação de origem, deportação na forma de escravo, mudança de identidade (a alteração do nome significa isso), contato com outras religiões, constantes ameaças. Daniel estava vivenciando uma grande crise. Entretanto, o final do livro de Daniel relata o quanto sua alma foi preservada e como ele amadureceu ao longo de todas as provações. Vale a pena meditar na descrição e aplicação que John C. Lennox, filósofo e apologista cristão do Reino Unido, faz a respeito de Daniel e seus amigos:

Porque assim diz o SENHOR: Certamente que, passados setenta anos na Babilônia, vos visitarei e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando-vos a trazer a este lugar. Porque eu bem sei os pensamentos que penso de vós, diz o SENHOR; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que esperais. Então, me invocareis, e ireis, e orareis a mim, e eu vos ouvirei. E buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração. E serei achado de vós, diz o SENHOR. (Jr 29.10-14)

É evidente pela análise da história de Daniel que ele levou a sério o que Jeremias disse e nós também devemos. Em tempos de estresse e turbulência, é extremamente reconfortante saber que o Deus que é soberano na história global não é indiferente ou está distante dos altos e baixos de nossa trajetória pessoal. Deus tem planos, planos individuais, para aqueles que confiam nEle. Com certeza, não houve a cena de quatro adolescentes saindo de Jerusalém e observando (como podemos imaginá-los) por olhos lacrimejantes enquanto os rostos ansiosos de seus pais aflitos perdiam-se na distância. Nesses momentos comoventes, eles podem não ter sentido que Deus lhes daria um futuro e uma esperança. Mas foi o que Ele fez.

É algo que deve nos animar, quando nossa fé em Deus está sendo submedida à severa provação, quando nossas orações parecem ricochetear num céu aparentemente impenetrável e as dúvidas amontoam-se em face de circunstâncias adversas e do crescente ataque público contra a fé cristã. Quando as emoções de Daniel e seus amigos foram dilaceradas, tiveram verdadeiro consolo ao saber que, embora extremamente traumático, o que estava acontecendo com eles havia sido previsto pelos profetas. E podemos agir da mesma forma. Afinal, o próprio Senhor Jesus deixou claro que aqueles que o seguissem acabariam sendo tratados como Ele foi [...]. 

Portanto, a Palavra de Deus ainda faz diferença em nossa vida. Daniel compreendeu, por meio das Escrituras, que Deus não é indiferente aos sofrimentos humanos. Essa compreensão gera fé. Traz convicção profunda para a vida. Sim, a Palavra de Deus traz cura para a alma. E, como consequência, a Palavra de Deus gera um verdadeiro despertamento espiritual. 

Que o Senhor gere isso em nossas vidas neste trimestre!

Neste tempo de Pandemia, cuide de você e dos seus!

Marcelo Oliveira de Oliveira
Redator da Revista Lições Bíblicas Adultos

 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

   INTRODUÇÃO

Os crentes fiéis brilham como a Luz (Mt 5.15) e resplandecem no meio de uma geração corrompida e perversa (Fp 2.15). Assim era Daniel. Quando no ano 606 a.C. foi levado cativo para a Babilônia (Dn 1.1-4,6), era ainda muito jovem, tinha cerca de 15 anos. Muitos anos depois, Daniel gozava de elevado conceito no reino da Babilônia. [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

A mensagem do livro de Daniel pode não ser popular e palatável, mas é desesperadamente necessária. Ela faz uma radiografia da própria alma, investiga os recessos do coração e lança luz nos corredores sombrios da vida. Daniel viveu num tempo em que a verdade estava sendo pisada, os valores morais estavam sendo escarnecidos e a religião tinha perdido sua integridade. Daniel tem uma mensagem ética clara para nosso tempo. Revela-nos como podemos ser íntegros na adversidade ou na prosperidade. Mostra-nos como devemos confiar em Deus não simplesmente por aquilo que Ele faz, mas por quem Ele é. A mensagem de Daniel nos ensina que em vez de uma corrida frenética atrás de milagres, deveríamos buscar avidamente a integridade. Em vez de buscar sofregamente as bênçãos de Deus, deveríamos ansiar por conhecer mais profundamente o Deus das bênçãos. Deus é mais importante que Suas dádivas. O Abençoador tem mais valor que a bênção. O Doador é mais importante que a dádiva. Aqueles que conhecem a Deus são ativos e fortes e jamais se curvam diante dos homens. [LOPES, 2014, p. 14]

   I. DANIEL FOI DESPERTADO PARA ORAR

Ao ler o profeta Jeremias (Jr 29.10), ele observou que os 70 anos de cativeiro na Babilônia estavam para findar. Todavia, ainda não era possível notar qualquer sinal de que alguma coisa estivesse acontecendo na direção de uma mudança radical (Dn 9.2).

Assim, Daniel começou a orar com jejum, cobrindo-se de saco e cinza, em sinal de profunda tristeza (Dn 9.1-3) e orou com perseverança. [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

1. Daniel vivia uma vida consagrada a Deus. Isto dava-lhe condições de orar. A Bíblia diz: “A oração dos retos é o seu contentamento” (Pv 15.8) e Ele escutará a oração dos justos” (Pv 15 29). Daniel não se misturou com o paganismo, e vivia conforme sua consciência, no temor do Senhor. Daniel é considerado como um exemplo e um modelo para os crentes de todos os tempos (Dn 1.8). [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

Não era fácil ser jovem nos dias de Daniel. A nação inteira estava vivendo em flagrante desobediência a Deus. Os tempos de fervor espiritual haviam se acabado com a reforma religiosa do rei Josias. Deus, portanto, por intermédio de Jeremias e Habacuque alerta o povo que um tempo de calamidade aconteceria. A poderosa Babilônia invadiria Jerusalém e levaria o povo para o cativeiro.

A vida de Daniel é um farol a ensinar-nos o caminho certo no meio da escuridão do relativismo. Seu testemunho rompeu a barreira do tempo e ainda encoraja homens e mulheres em todo o mundo a viver com integridade. Observemos alguns aspectos de sua vida:

Em primeiro lugar, no meio de uma geração que se corrompia, Daniel possuía valores absolutos. Ele era ainda um adolescente, mas conhecia a Deus. Era ainda jovem, mas sabia o que era certo e errado. Estava no alvorecer da vida, mas não se misturava com aqueles que se entregavam ao relativismo moral. Era um jovem que tinha coragem de ser diferente.

Daniel vivia no meio de uma geração que estava colhendo o que seus pais haviam semeado (Dn 1.2). Jerusalém ficara intacta na primeira invasão, mas o templo fora saqueado. Isso não foi por acidente. Por muito tempo, os judeus haviam confiado no templo, e não no Senhor (Jr 7.7). Achavam que enquanto tivessem o templo estariam a salvo. Mas o templo não os salvou. Uma religião sem vida não nos salvará. Confiar no templo não era um substituto para o arrependimento. Deus reina, quer Seu templo exista, quer não. A invasão da Babilônia, o saque do templo, os tesouros transportados foram obra de Deus. O povo estava sendo derrotado, mas Deus era vitorioso.

Em segundo lugar, no meio de tragédias terríveis, Daniel não deixa seu coração se azedar. Ele teve muitas perdas. Perdeu sua nacionalidade e sua bandeira. Foi arrancado de sua Pátria e de seu lar. Perdeu sua família, foi arrancado dos braços de seus pais, de seus amigos, de seus vizinhos. Ele foi agredido, violentado em seus direitos mais sagrados. [...] Mas, mesmo na cidade das liberdades sem fronteiras, do pecado atraente e fácil, Daniel mantém-se íntegro, fiel e puro diante de Deus e dos homens. [LOPES, 2014, p. 29]

2 A estatura espiritual de Daniel capacitava-o para enfrentar verdadeiros combates em oração. Muitos crentes não conseguem servir de ajuda decisiva com as suas orações, porque nunca chegaram a experimentar o que significa combater em oração, o que significa perseverar firmemente em oração (Rm 12.12; Gl 1.30; Cl 2.1). Somente “visitam”, de vez em quando, culto de oração. Daniel, porém, tinha por hábito orar três vezes ao dia (Dn 6.10). Quando sua própria vida, bem como a de seus amigos e a de todos os sábios da Babilônia, estava em perigo, Daniel alcançou o livramento e a vitória através da oração (Dn 2.18-20). Daniel era. portanto, experiente na vida de oração. [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

Uma das perguntas mais frequentes que ouço é: se Deus já decretou todas as coisas, se Ele já sabe de antemão tudo que vai acontecer, por que orar? A Bíblia tem muito a nos ensinar sobre essa questão: Jonas pregou sobre a destruição de Nínive, o povo se converteu e Deus suspendeu o mal e poupou o povo. Abraão orou por Sodoma, e quando Deus estava destruindo a cidade, lembrou-se de Abraão e salvou Ló. O Pentecostes foi prometido, mas os discípulos o aguardaram em unânime e perseverante oração. Jesus prometeu que voltará para buscar à Sua igreja e a Bíblia nos ensina a orar: Vem, Senhor Jesus!

Daniel leu nos livros que o cativeiro do povo duraria setenta anos, mas ele se pôs na brecha da oração em favor do povo. Essa oração de Daniel é uma das mais importantes da Bíblia.

Daniel, em sua preparação para a oração, nos ensina quatro coisas importantes: em primeiro lugar, uma busca intensa. Ele voltou o rosto para o Senhor. Isso demonstra a intensidade de sua oração. Ele tinha vida de oração metódica e regular, mas agora esse homem se concentra em oração. Em segundo lugar, um clamor fervoroso. Daniel ora e suplica. O decreto de Dario o leva a ser mais enfático em sua oração e clamor. Em terceiro lugar, uma urgência inadiável. Daniel ora e jejua. Quem jejua tem pressa. Quem jejua não pode protelar. Daniel tem urgência em seu clamor. Faltam apenas mais dois anos para o cumprimento da profecia e ele não vê em seu povo o quebrantamento necessário. Ele sabe que a profecia passa pelo arrependimento do povo. Por isso, ora com tanta urgência. Em quarto lugar, um quebrantamento profundo. Ele se humilha. Veste-se com pano de saco e cinza. Ele era um homem do palácio, mas despoja-se de sua posição. [LOPES, 2014, p. 109]

3. Coincidindo com o período de oração de Daniel, profundas mudanças estavam para acontecer na Babilônia. O reino da Babilônia estava em guerra com medos e persas. O rei da Babilônia era na época Nabonido. Seu filho Belsazar estava na capital, a cidade da Babilônia, cuidando dos assuntos administrativos do governo. Belsazar organizou uma festa para seus grandes. Estando já embriagado, mandou trazer os vasos sagrados que o rei Nabucodonosor havia trazido do Templo de Deus em Jerusalém, e havia colocado no templo pagão da Babilônia. Ele e todos os seus convidados beberam vinho nestes vasos santos (Dn 5.2-4).

Houve então uma intervenção divina. O rei viu que dedos de mão de homem escreviam na parede, defronte do castiçal (Dn 5.5). Acabou-se a alegria da festa. Os joelhos do rei tremiam. Sábios e astrólogos não puderam interpretar a mensagem escrita na parede. Finalmente Daniel foi introduzido na festa (Dn 5.13) e interpretou o texto escrito na parede. Entre outras coisas, estava escrito: “Dividido foi o teu reino, e deu-se aos medos e aos persas” (Dn 5.28). “Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus” (Dn 5-30). [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

Vinte anos após a morte de Nabucodonosor, por volta do ano 539 a.C. se deu esses acontecimentos descrito no capítulo 5 de Daniel.

A aparição do julgamento. Subitamente, sem aviso prévio, a festança deu lugar a um silêncio chocante. Na parede rebocada apareceram alguns dedos de mão de homem (5) que lentamente começaram a escrever uma mensagem. Mas o rei não conseguiu entender uma única palavra do que tinha sido escrito, nem seus convidados de honra. Então, se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos bateram um no outro (6). Quando Belsazar conseguiu falar, ele começou a gritar e chamar os peritos na sabedoria, os astrólogos, os caldeus e os adivinhadores (7), para explicar esse mistério. O rei prometeu todo tipo de recompensa e promoção para qualquer um que pudesse ler a escrita na parede e interpretar a sua mensagem. Esse homem seria vestido de púrpura (púrpura real), uma cadeia de ouro seria colocada ao redor do seu pescoço e ele se tornaria o terceiro em importância no governo do seu reino. Esse era o posto mais elevado disponível, visto que Nabonido ocupava o posto mais elevado, e Belsazar, o segundo. Quando os sábios não conseguiram decifrar a escrita, o rei e todos os convidados ficaram outra vez aterrorizados. O termo aramaico usado aqui, mishettabbeshiyn, significa muito mais do que perplexidade. Na verdade, havia “confusão e grande comoção na assembleia”.

Daniel é chamado. Enquanto os homens clamavam e as mulheres gritavam, a rainha (10; rainha-mãe, Nitocris), que havia se ausentado da festa, entrou na sala do banquete do palácio. Assumindo o comando da situação histérica com postura e dignidade, ela gentilmente admoestou o rei, seu filho, e o instruiu na ação a ser tomada. Ela lembrou-o de um homem que tem o espírito dos deuses santos (11). Esse homem havia provado sua capacidade extraordinária inúmeras vezes ao desvendar os segredos sobrenaturais nos dias do seu avô Nabucodonosor. Era o próprio Daniel, chamado Beltessazar (12), que Nabucodonosor havia constituído chefe dos sábios da Babilônia.

A Interpretação de Daniel. A escrita na parede havia terminado. Quatro palavras misteriosas brilhavam na parede. Elas foram escritas na língua dos caldeus, mas qual era o seu significado? MENE, MENE, TEQUEL e PARSIM (25). Daniel explicou cada palavra com um significado duplo. MENE, MENE significava “contado, contado”: Contou Deus o teu reino e o acabou (26); TEQUEL — “pesado”: Pesado foste na balança e foste achado em falta (27). PARSIM — “fragmentos quebrados” (no aramaico: UPARSIM; o U significa “e”). Usando a forma do particípio singular, PERES — fragmentado, Daniel pronunciou o julgamento final: Dividido (ou quebrado em pedaços) foi o teu reino e deu-se aos medos e aos persas (28). [HARPER, 2006, p. 517]

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Daniel foi um jovem hebreu da classe nobre, levado cativo à Babilônia por Nabucodonosor, rei do império. Acerca de sua genealogia não sabemos muita coisa, apenas aquilo que é depreendido do livro que traz seu nome. Não era sacerdote, como Jeremias e Ezequiel, mas era, como Isaías, da tribo de Judá e provavelmente da Casa Real (cf. 1.3-6), isto é, da descendência de Davi.

Daniel foi um profeta de Deus cujos temas são de alcance muito vasto. Vaticinou acontecimentos que ainda vão surgir na história do Planeta, os quais estamos estudando à luz do contexto do seu próprio Livro. Ele, naquela corte, ganhou muita celebridade, O primeiro acontecimento pelo qual obteve influência na corte babilônica foi a interpretação que deu ao sonho do rei. Ele foi, realmente, um homem escolhido por Deus para tão grande tarefa espiritual” (SILVA, Severino Pedro. Daniel Versículo por Versículo: As visões para esses últimos dias. 28ª imp., Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p. 12).

  II. A RESPOSTA ÀS ORAÇÕES DE DANIEL

Daniel havia orado, lembrando-se da promessa de Deus registrada pelo profeta jeremias: “Vos visitarei e cumprirei sobre vós a minha boa palavra, tornando-vos a trazer a este lugar” (Jr 29.10).

Com a queda do reino babilônico, e com o início do governo do rei Ciro, as coisas evoluíram com muita rapidez, deixando todos surpreendidos e admirados. [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

À luz da santidade não ofuscada de Deus e diante da crescente maldade do seu povo, restava a Daniel apelar para a misericórdia divina. Qualquer esperança que Israel pudesse ter para restauração ou salvação não podia estar baseada no mérito. Ela deveria estar fundamentada somente na graça. Assim, mesmo antes da era da graça, temos um vislumbre da manifestação da graça divina. O Senhor, segundo todas as tuas justiças, aparte-se a tua ira e o teu furor [...] por causa dos nossos pecados e por causa das iniquidades de nossos pais, tornou-se Jerusalém e o teu povo um opróbrio para todos os que estão em redor de nós (16).

Então a impertinência de Daniel quebra todas as barreiras e transborda os canais do poder da palavra. Inclina, ó Deus meu, os teus ouvidos e ouve: abre os teus olhos e olha [...] O Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e opera sem tardar; por amor de ti mesmo, ó Deus meu (18-19).

Certamente temos aqui um exemplo em que “a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tg 5.16).

Nos versículos 15-19, encontramos “Abordagens Apropriadas na Oração de Petição”. 1) Lembre-se das antigas bênçãos de Deus (15a). 2) Confesse sua própria indignidade (15b, 16b). 3) Ore persistentemente (19a). 4) Peça em nome da bondade de Deus e no interesse do seu Reino (16 a, 17-18, 196)

O anjo mensageiro Gabriel (9.20-23). Semelhantemente à luz clara que ilumina o pano de fundo sombrio de uma nuvem tempestuosa sobrecarregada, a resposta de Deus irrompeu sobre Daniel no meio da sua oração desesperada. Um dos mensageiros de Deus, cujas ministrações Daniel já havia experimentado (8.16), veio velozmente até ele. Esse era Gabriel (21), o mensageiro das revelações especiais de Deus (Lc 1.19, 26).

O coração de Daniel deve ter experimentado um conforto indescritível ao ouvir a promessa de Deus: “Daniel, agora vim para dar-lhe percepção e entendimento” (22, NVI). Então Gabriel informou-o que desde o início da sua oração Deus estava ouvindo e respondendo. As “rodas” da história já estavam começando a girar para cumprir aquilo que Daniel estava pedindo — e mais. Então, para fazer culminar a mensagem de conforto, ele deu a Daniel um testemunho do interesse pessoal de Deus: porque és mui amado (23). Nesse contexto, somos lembrados da narrativa de Lucas acerca de um Intercessor maior em sua agonia no jardim chamado Getsêmani, ao qual, em sua agonia, “apareceu-lhe um anjo do céu, que o confortava” (Lc 22.43).  [HARPER, 2006, p. 534]

1. A Bíblia relata o que realmente aconteceu. “No primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra do SENHOR, por boca de Jeremias), despertou o SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo: Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O SENHOR, Deus dos céus, me deu todos os reinos da terra; e ele me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que é em Judá. Quem há entre vós, de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusalém, que é em Judá, e edifique a Casa do SENHOR, Deus de Israel; ele é o Deus que habita em Jerusalém” (Ed 1.1-3) [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

O versículo inicial tem a solidez e profundidade típicas da historiografia bíblica, com seu interesse tanto nos pormenores externos de um evento quanto na abertura do seu significado interior. O evento pode ser datado (538 a.C.), e pode tomar seu lugar entre as novas políticas que fluíram da queda de um império e da ascensão de outro. Mas embora Ciro tivesse suas próprias boas razões para aquilo que fez, o Senhor tinhas as dEle; e estas eram, como sempre, o âmago da questão e a chave do futuro.

Era o Senhor, segundo ficamos sabendo, que despertou Ciro para agir, assim como despertaria também um grupo de exilados para responder (Ed 1.5). Era o mesmo Senhor quem, sem Ciro o saber, já o “despertara”, anos antes, para começar sua marcha através do mundo, e quem aplainara seu caminho para a vitória, com exatamente este alvo em mira. Sua realização mais relevante, de modo contrário a todos os cálculos humanos, não era conquistar um império, mas, sim, “edificar a minha cidade, libertar os meus exilados” (Is 45.13).

Mais do que isto, Deus dera a Sua palavra a Judá no sentido de que o exílio teria passado dentro de apenas setenta anos. “para vos dar,” segundo Ele disse, “o fim que desejais” (Jr 25.12-13; 29.10-11). E Deus mais do que cumpriu Sua palavra. Quase não fazia cinquenta anos desde 587 a.C., o ano em que Jerusalém caíra. Tinha havido uma deportação antes disto (597), e outra, simbólica, já em 605 (2 Rs 24.10-17; Dn 1.1 ss.), mas até mesmo o mais longo destes períodos não chegou aos setenta anos designados. Não era a última vez que a misericórdia de Deus encurtaria os dias da provação (Mt 24.22). [KIDNER, 1985, p. 32]

2. Conforme esta declaração de Ciro, estava cumprida a promessa divina dada através do profeta Jeremias. Mas tudo foi como diz a Bíblia: “Tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos” (Ef 3.20).

Vejamos, pois, o que estava para acontecer:

a. Todos os Judeus seriam liberados para voltarem a Judá, caso quisessem (Ed 1.3).

b. Receberam permissão para reedificar o templo.

c. Todas as despesas da construção do Templo poderiam ser tiradas dos tributos de além do rio.

d. Os vasos sagrados devem ser entregues aos cuidados de Zorobabel, nomeado governador dos judeus pelo rei Ciro, para serem transportados de volta para Jerusalém (Ed 1.7). [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

Foi feito um pregão. Este (se seguiu o padrão normal) seria gritado por arautos nas principais cidades do império, e possivelmente exposto em inscrições também. Mas se o escrito foi exposto publicamente ou não, foi preservado nos registros, juntamente com os pormenores administrativos para a implementação da decisão. O quanto dependeria deste fato emergiria vinte anos mais tarde nos eventos do capítulo 6.

(v. 2,3). O famoso Cilindro de Ciro lança luz interessante sobre este decreto. A inscrição conta-nos da sua lealdade a Marduque, o principal deus da Babilônia, e do seu respeito pelos deuses dos povos súditos. Ao passo que as imagens daqueles deuses tinham sido tratadas como troféus por seus antecessores, ele agora as restaurava às suas “cidades santas,” reedificava seus templos e repatriava seus adoradores. Expressava a esperança de que estes deuses, portanto, orariam por ele diariamente aos deuses da Babilônia: Bei, Nebo e, acima de todos, Marduque.

Portanto, do seu próprio ponto de vista, mandar reedificar a casa do SENHOR... o Deus que habita em Jerusalém era apenas mais um exemplo de uma política consistente. Mais de um dos seus sucessores demonstrariam a mesma solicitude pelo protocolo religioso correto. A homenagem prestada ao Senhor no v. 2 era, decerto, uma cortesia diplomática, mas indubitavelmente bastante sincera dentro do contexto. Era importante fazer a redação do decreto corretamente para cada grupo repatriado, e o SENHOR, Deus dos céus era como os judeus descreviam sua divindade. Além disto, para um politeísta com as amplas simpatias de Ciro, pareceria claro que todos os deuses tinham determinado o triunfo dele; cada um deles, portanto, no seu próprio contexto, poderia ser grato por isto.

No entanto, conforme Josefo, (Ant. xi, 1), alguém mostrara a Ciro a profecia de Isaías 44.28, que o menciona pelo nome, e este estava ansioso por cumpri-la. Embora isto não seja impossível, não tem confirmação, e a própria inscrição de Ciro demonstra que qualquer conhecimento que tenha tido do Senhor, era, na melhor das hipóteses, nominal. Isaías 45.5-6 insiste em que conhecer ao Senhor envolve o reconhecimento de nenhum deus além dEle. [KIDNER, 1985, p. 32]

SUBSÍDIO BÍBLICO

Oração

A terminologia da oração é rica e variada na Bíblia Sagrada. O termo geral hebraico é tepilla, de uma forma do verbo palal; o termo grego é proseuche, onde o passivo médio é proseuchomai. A ideia básica da palavra hebraica é a intercessão, e da palavra grega é o voto, mas essa etimologia não é mais o determinante de seu significado. As duas palavras podem ser usadas de forma abrangente para qualquer tipo de solicitação, intercessão ou ação de graças. A oração é descrita como o ato de “invocar o nome do Senhor” desde os dias de Sete (Gn 4.26) até a época em que o ‘Senhor’ se revelou como o Salvador, Jesus Cristo (Jl 2.32, com Rm 10.9,12,13).

Os cristãos identificam se com aqueles que invocam seu nome (1 Co 1.2). Outras expressões do AT são ‘suplicar’ ou ‘procurar o favor’ de Jeová (pi’el de hala, literalmente ‘tornar-se agradável à sua face’), ‘curvar-se em adoração’ (shaha), ’aproximar-se’ (nagash) , ‘ver’ ou ‘encontrar’ para suplicar (paga’) , ’implorar’ (za’aq) para reparar uma falta, ‘pedir’ (sho’al), ‘suplicar’ (‘athar) ou ‘comparecer perante a face do Senhor’. Além de proseuchomoai, os autores do NT usam os termos ‘implorar’ (deomai), ’solicitar’ (aiteo) ou simplesmente ‘pedir’ (erotao) quando se referem à oração. Ao contrário de proseuchomai, essas palavras não são caracteristicamente ‘religiosas’ e podem denotar pedidos dirigidos tanto aos homens quanto a Deus. Entre as palavras mais específicas para oração estão entygkano (interceder), proskyneo (adorar), e eucharisteo (dar graças)” (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p. 1419-20).

  III. O RESULTADO DE UM DESPERTAMENTO PROVENIENTE DE DEUS

1. O rei Ciro foi despertado em seu espírito. “Despertou o Senhor o espírito do rei Ciro” (Ed 1.1). Talvez por meio de seu contato com Daniel é que Ciro veio a conhecer a Deus, e talvez até mesmo o adorasse. Ciro teve uma experiência pessoal com Deus no seu coração, e passou a compreender as realidades de Deus que ele antes ignorava.

a. Ciro passou a ver a Deus como o SENHOR DOS CÉUS (Ed 1.2). O grande rei Nabucodonosor demorou a aprender esta lição (Dn 4.30-37). Cada despertamento verdadeiro faz com que o homem veja a majestade de Deus, sentindo a sua própria pequenez, o seu pecado e a sua baixeza. Saulo assolava, perseguia, fazia e desfazia, mas quando se encontrou Jesus, no caminho de Damasco, caiu por terra e apenas pôde perguntar: “Quem es Senhor?” (At 9.5). A Bíblia diz que ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor se não for pelo Espírito Santo (1 Co 12.3).

É possível que Daniel tenha desempenhado um papel nesse tratamento favorável dispensado aos judeus (Dn 6.2.5-28). De ordo com o historiador Josefo, ele era o primeiro ministro de Ciro e compartilhava as profecias de Isaías com o rei (Is 44.28; 46.1-4). O Deus de Israel era reconhecido como a suprema autoridade divina (Ed 5.12; 6.9-10; 7.12,21,23), que soberanamente; dispensava autoridade aos monarcas humanos. (BARBOSA, 2020)

b. Ciro teve uma experiência com Deus, que é Santo. Os vasos sagrados haviam sido roubados do Templo de Jerusalém, por Nabucodonosor, e guardados no templo pagão da Babilônia (2 Cr 36.18). Ciro era, agora, o responsável por eles, e mesmo sendo esses vasos muito valiosos, ele queria voluntariamente devolvê-los (Ed 1.7-11)

  Assim acontece sempre em cada despertamento verdadeiro. Quando Zaqueu teve seu encontro com Jesus, quis devolver o que havia ganho com usura (Lc 19.8). [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

O Senhor Deus executa o plano da redenção no decurso da história, até o seu final determinado. No cumprimento disto, Deus, às vezes, resolve humilhar governantes poderosos, como fez a Nabucodonosor (Dn 4), ordenar juízo destruidor contra reis (Faraó, por ocasião do Êxodo (Êx 14); Belsazar, em Babilônia (Dn 5)), ou elevar um dirigente internacional (o rei Ciro da Pérsia), a fim de cumprir a sua palavra e realizar os seus propósitos. Ao despertar o espírito de Ciro, para ser benevolente para com os vencidos e exilados, Deus fez cumprir-se a tempo a sua promessa feita através de Jeremias. Provérbios declara que o coração do rei é como ribeiros de águas na mão do SENHOR; a tudo quanto quer o inclina, a fim de garantir a marcha contínua da redenção e desfecho da história (Pv 21.1). (BARBOSA, 2020)

2. O rei Ciro recebeu bênçãos espirituais. O profeta Isaías, 200 anos antes, profetizou acerca de Ciro chamando-o de “ungido do Senhor” (Is 45.1). Isso nos permite entender que o Espírito Santo deve ter-lhe proporcionado alguma bênção espiritual. Cada Despertamento traz bênçãos para o coração do crente. [Lições Bíblicas, 5 Julho, 2020]

Cerca de 160 anos antes do aparecimento de Ciro, Isaías predissera a respeito de um governante chamado Ciro, que permitiria a volta dos judeus à sua pátria, para reedificarem Jerusalém e o templo (Is 41.2; 44.26-28; 45.1,4,5,13). É interessante que, a palavra ‘ungido’ em Is 45.1, é a tradução da palavra hebraica por transliteração – "Messias". Esse é o termo usado para o rei e redentor messiânico no Sl 2.2 e em Dn 9.25-26, mas em Isaías 45.1 é uma referência a Ciro, como o rei separado pela providência de Deus para seus propósitos divinos. É importante dizer que, embora não fosse adorador do Deus de Israel, o monarca persa desempenhou um papel incomum como pastor de Israel (Is 44.28) e como juiz ungido de Deus sobre as nações. Deus queria que Ciro soubesse que eia o Deus dos judeus quem estava lhe dando as vitoriosas conquistas. Segundo Josefo, o historiador judeu que disse que Daniel teria influenciado Ciro com as profecias de Isaías, o rei sabia que o Deus de Israel estava com ele. Embora não possamos dizer que Ciro tenha se convertido ao Senhor e o adorado, aquele rei experimentou as bênçãos de Deus em sua vida,  por que foi exatamente isso que o Senhor havia dito que faria. (BARBOSA, 2020)

SUBSÍDIO HISTÓRICO

“[…] Ciro, um general de inteligência estratégica admirável, passou parte de sua vida desferindo ataques-relâmpago contra vários adversários, tanto próximos quanto distantes. Com a experiência de guerra, Ciro cercou Babilônia, tornando-a praticamente sem resistência em 539. O rei Nabonido tinha o hábito de ausentar-se da capital, e fazia-o até mesmo ou especialmente) nas comemorações de Ano Novo, quando como de costume participava dos rituais tradicionais. Suas ausências eram cada vez mais frequentes e demoradas, de forma que o real governo da cidade estava na mão de seu filho Belsazar. Foi este desafortunado vice-rei que presenciou o colapso da nação com a chegada de Gubaru, o comandante persa e governador de Gutium. Parece que Belsazar morreu durante ou pouco depois do conflito, enquanto seu pai Nabonido foi capturado e em seguida solto condicionalmente. Duas semanas depois, Ciro marchou triunfantemente pela cidade e celebrou com alegria a derrota de seu rival, tornando-se o senhor absoluto do oriente.

Ciro pôs em prática uma política beneficente, permitindo a todos os exilados o retorno para suas terras. Os judeus, é claro, também estavam incluídos, e viram neste decreto a bênção de Deus, como cumprimento da palavra profética, Para eles, esta libertação não era menos significativa que aquela do êxodo sob a liderança de Moisés. Na verdade, a linguagem dos profetas, por exemplo Isaías 40 – 66, está repleta de imagens do êxodo. É verdade que a maioria dos judeus da dispersão preferiu permanecer em suas casas, especialmente os que moravam em Babilônia, mas aqueles que tinham seus olhos voltados para o propósito eterno de Deus viram no cativeiro um instrumento de correção. E o retorno à pátria era o sinal de que ainda tinham um papel redentor a desempenhar” (MERRIL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento: o reino de sacerdotes que Deus colocou entre as nações. 6ª Ed. Rio de Janeiro: CPAD 2007, pp. 503,04).

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Francisco. Especial Lição 1: Daniel ora por um despertamento. Disponível em: https://auxilioebd.blogspot.com. Acesso em 03.07.2020

HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon: Isaías a Daniel. Vol 4. Rio de Janeiro: CPAD, 2006,

KIDNER, Derek. Esdras e Neemias: introdução e comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1985, Série Cultura Bíblica.

LIÇÕES BÍBLICAS. Edição Especial Jovens e Adultos, 3º Trimestre 2020 - Lição 1. Rio de Janeiro: CPAD, 05 Julho, 2020.

LOPES, Hernandes Dias. Daniel – um homem amado no céu. São Paulo: Hagnos, 2014.

 



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