sexta-feira, 1 de novembro de 2019

LIÇÃO 5: A INSTITUIÇÃO DA MONARQUIA EM ISRAEL

SUBSÍDIO I
       A MONARQUIA EM ISRAEL

INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição da palavra monarquia; notaremos que o estabelecimento de um rei sobre Israel já era algo predito por Deus em sua Lei; pontuaremos quais os critérios para a escolha do rei; estudaremos sobre a monarquia e o reino unido, e por fim; falaremos sobre a monarquia e o reino dividido.

I - DEFINIÇÃO DA PALAVRA MONARQUIA

1.1 Definição do termo. Segundo o dicionarista Antônio Houaiss (2001, p. 1949) o termo monarquia significa: “forma de governo em que o chefe de Estado tem o título de rei ou rainha (ou seus equivalentes)”. Monarquia é uma das mais antigas formas de governo, com ecos na liderança de chefes tribais. Existem duas principais formas de monarquia: a absoluta (considerada um regime autoritário), em que o poder do monarca vai além do chefe de Estado, e a constitucional ou parlamentar (considerada um regime democrático), em que o poder do monarca é limitado por uma constituição. Formas de governo sem um monarca são denominadas de repúblicas.

II - A MONARQUIA EM ISRAEL

2.1 O estabelecimento da monarquia em Israel. Deus já havia dito que de Abraão descenderia reis (Gn 17.6; 49,10); por meio de Jacó, anunciou que o cetro ficaria com Judá (Gn 49.10); e, por meio de Moisés exortou como deveria ser a postura de um rei (Dt 17.14-20). O registro de Samuel nos mostra que ainda não era o tempo, e, o povo precipitou-se pedindo para si um monarca (1Sm 10.19; 12.19); no entanto, Deus atendeu a voz do povo. Ficou explícito em sua instituição que Deus reprovou tal escolha para aquele momento de Israel (1Sm 12.18-19). Não era errado Israel desejar um rei, o problema residia no fato de que o povo estava rejeitando o Senhor como seu líder, porque queria ser como as “outras nações” (1Sm 8.5). Deus, em sua misericórdia, ordenou que Samuel cuidadosamente explicasse ao povo os “prós” e “contras” de se ter um rei (1Sm 8.11-18). É bem verdade que se encontrava disposto na Lei mosaica acerca dos ditames peculiares a um rei (Dt 17.14,15), no entanto, Israel e os seus anciãos erraram ao não reconhecerem o Senhor como seu legítimo e verdadeiro Rei (1Sm 8.7; 12.12). De fato é inegável que era da vontade de Deus que Israel tivesse um monarca (Gn 49.10; Nm 24.17; Dt 2.10; 17.14-20). Entretanto, não era de seu anelo que Israel obtivesse da maneira como estava fazendo na ocasião errada e com motivos impróprios, mas mesmo assim Deus permitiu o estabelecimento de um rei.

III - CRITÉRIOS PARA O ESTABELECIMENTO DO REI EM ISRAEL

Na história dos hebreus a monarquia foi uma concessão de Deus correspondendo a um desejo da parte do povo (1Sm 8.7;12.12). Esse desejo, que já havia sido manifestado numa proposta a Gideão (Jz 8.22,23), e na escolha de Abimeleque para rei de Siquém (Jz 9.6), equivale à rejeição da teocracia (1Sm 8.7), visto como o Senhor era o verdadeiro rei da nação (1Sm 8.7; Is 33.22). A própria terra era conservada, como sendo propriedade divina (Lv 25.23). Notemos alguns critérios estabelecidos por Deus para a escolha do rei em Israel:
3.1 O rei não poderia ser estrangeiro. Enquanto os israelitas eram residentes forasteiros em Canaã e no Egito, muitos não israelitas faziam parte das casas dos filhos de Jacó e de seus descendentes (Gn 17.9-14). Alguns dos envolvidos em casamentos mistos, junto com seus filhos, estavam incluídos na grande mistura de gente que acompanhou os israelitas no Êxodo (Êx 12.38; Lv 24.10; Nm 11.4). No entanto, em assuntos governamentais, o estrangeiro não tinha nenhuma posição política e nunca podia tornar-se rei do povo de Israel: “[…] dentre teus irmãos porás rei sobre ti; não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos” (Dt 17.15).
3.2 O rei deveria ser escolhido pelo Senhor. Qual era o grande requisito para ser designado rei em Israel? Era um único e estava absolutamente a cargo de Deus: ser escolhido por Ele: “Porás, certamente, sobre ti como rei aquele que escolher o Senhor teu Deus [...]” (Dt 17.15). O rei não se escolhia a si mesmo, mas era o Senhor quem o escolhia. A Bíblia diz que somos embaixadores (2Co 5.20; 8.23; Ef 6.20) e um embaixador não se nomeia a si mesmo. Moisés, ao findar o seu ministério pediu ao Senhor que pusesse um homem escolhido por Ele para ser líder do povo de Israel; e o Senhor escolheu Josué, servo de Moisés (Js 1.1). Lembramos também o profeta Amós que não era filho de profeta, mas boieiro. Mas foi chamado pelo Senhor (Am 7.14,15). Os apóstolos, do mesmo modo, não se escolheram a si mesmos (1Co 12.28; Ef 4.11 ver Lc 6.12,13).
3.3 O rei deveria ser piedoso. O rei não poderia multiplicar para si cavalos (Dt 17.16). No Salmo 20, que é uma oração pelo rei, lemos no verso 7 que “uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor” . Podemos considerar “cavalos” como a força natural do próprio braço, ou seja, sua força. Mas não é pela força nem pela violência que o rei tinha vitória (Zc 4.6). O rei ainda não poderia multiplicar para si mulheres (Dt 17.17-a); não poderia multiplicar para si ouro ou prata (Dt 17.17-b); e, deveria ler a Palavra de Deus todos os dias da sua vida (Dt 17.19) 3.4 O rei deveria ser ungido. Desde as origens da monarquia, a unção já é mencionada (1Sm 9.16; 10.1; 2Sm 2.4; 5.3). Esta unção era acompanhada da vinda do Espírito Santo; pois ela conferia uma graça especial ao monarca. Assim, o Espírito de Deus se apossou de Saul depois que este foi ungido (1Sm 10.10), e no caso de Davi aparece ainda mais (1Sm 16.13). O rei é o ungido do Senhor e merecia ser respeitado e honrado (1Sm 24.7,11; 26.9,11,16,23; 2Sm 1.14,16; 2Sm 19.22).

IV - A MONARQUIA E O REINO UNIDO

O reino unido foi a época em que as doze tribos de Israel tinham um único soberano. Somente três reis reinaram sobre todo o povo unido de Israel (as doze tribos). Depois os israelitas se dividiram em dois reinos: Judá, ao sul, e Israel, ao norte. O reino de Judá teve 19 reis e uma rainha ao longo de 340 anos, enquanto que o reino de Israel teve 19 reis ao longo de 200 anos. Na monarquia unificada contamos os seguintes reis: Saul (1Sm 10.1), Davi (1Sm 16.10-13), e Salomão (1Rs 1.39). Notemos:
4.1 O primeiro rei: Saul (1Sm 10.1). O primeiro monarca de Israel tinha tudo para dar certo, pois ascendeu ao trono com um alto índice de popularidade (1Sm 9.2; 10.22-24 ver ainda 1 Sm 11.6,11), e reinou quarenta anos (At 13.21). Ao pedir um rei a Deus, o povo de Israel fez uma escolha precipitada. O profeta Samuel se entristeceu (1Sm 8.6), mas Deus o advertiu: “ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele” (1Sm 8.7 ver ainda 1Sm 12.17-19). Saul foi o primeiro rei de Israel. Com ele se inicia a monarquia. Sua escolha se deu por designação profética e aclamação popular, 1Sm 10:24. Era da tribo de Benjamim (1Sm 9.1,2) e foi ungido pelo profeta Samuel, (1Sm 10.1). Iniciou seu governo com uma vitória sobre os amonitas (1Sm 11.6-11), e contou com grande apoio popular (1Sm 11.15). Saul não teve palácio nem trono apenas um assento em Gibeá (1Sm 20.25). Foi um rei guerreiro que conduziu sua nação a inúmeras vitórias militares (1Sm 13.15). Todo o tempo de seu reinado foi gasto em guerras e combateu os filisteus e os amalequitas. Porém, foi rejeitado pelo Senhor por não obedecer à sua Palavra (1Sm 13.13,14; 15.11,23). No final de seu reinado, temendo perder o trono, passou a perseguir a Davi e procurava matá-lo.
4.2 O segundo rei: Davi (1Sm 16.1). Davi, da tribo de Judá um dos ascendentes de Jesus (Mt 1.1-6), foi ungido por Samuel quando Saul ainda reinava (1Sm 16.1-13). O rei de Israel que sucedeu a Saul foi um homem “segundo o coração de Deus” (1Sm 13.14 ver At 13.22). Davi foi escolhido e ungido rei ainda moço (1Sm 16.1-13 ver Sl 89.20), mas, em sua trajetória até o trono, passou por um longo período de perseguição, batalhas e desafios até ser coroado rei sobre todo o Israel. Foi ungido rei primeiramente sobre Judá e, sete anos depois, sobre todo o Israel (2Sm 5.1-5). Ele levou a nação de Israel a patamares inimagináveis (2Sm 5.1,2), e teve o seu reino confirmado (2Sm 7.16). Davi nunca se queixou do laborioso e solitário pastoreio das ovelhas de seu pai e mesmo ungido rei não hesitou em voltar ao seu trabalho habitual (1Sm 16.19). Ele tinha um coração de servo e o próprio Deus testificou disso (Sl 78.70; 89.20). Era humilde e reconhecedor de suas limitações (Sl 131; 40.12,17).
Apesar de ser um soldado inigualável, um comandante corajoso, um rei bem sucedido, sempre atribuiu todas as suas vitórias ao Senhor dos Exércitos (Sl 34.4-7; 40.5-10; 124; 144.1,2). Portava-se perante o Altíssimo com o coração sincero (Sl 26.2; 38.9), e apesar de suas grandes falhas, seu maior desejo era conhecer os caminhos de Deus, e para isso, punha-se sob sua direção em tudo que fazia (Sl 17.5; 18.21; 25.4,5; 143.8,10), e Jeová era seu mais precioso tesouro (Sl 16.2,5; 142.5). Além de conhecer seus erros (2Sm 12.13a; Sl 51.4), ele arrependeu-se do que fez, pediu perdão e foi perdoado (2Sm 12.13b; Sl 32.5; 38.18; 51.3-19).
4.3 O terceiro rei: Salomão (1Rs 1.39). Quando Davi atingiu a velhice, ordenou ao sacerdote Zadoque que ungisse a Salomão e o proclamasse rei sobre Israel (1Rs 1.33-40). O rei Salomão, o terceiro rei de Israel, foi mais sábio do que todos os homens, pois Deus lhe deu “sabedoria e muitíssimo entendimento” (1Rs 4.29-31). Durante o seu reinado, ele construiu o templo de adoração a Deus, que era a glória e o orgulho de toda a nação. Num ato de adoração ao Senhor, ofereceu mil sacrifícios em Gibeão (1Rs 3.4). Lá estava o tabernáculo e o altar de bronze que Moisés havia erigido no deserto (2Cr 1.2-5). Naquela mesma noite, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão. Neste sonho, Deus faz ao rei uma pergunta, dando-lhe a oportunidade de pedir o que desejasse, e sua resposta foi: “sabedoria para governar o povo de Israel” (1Rs 3.3-10). Ao acordar do sonho, ele voltou à Jerusalém, ao tabernáculo, e ofereceu mais sacrifícios a Deus. Naquela noite, Salomão teve uma experiência com Deus que marcou seu reinado e, enquanto esteve perante o altar do Senhor, reinou com notória sabedoria e sucesso apesar de suas falhas.

V - A MONARQUIA E O REINO DIVIDIDO

Após cento e vinte anos de monarquia, uma grande cisão política e religiosa durante o reinado de Roboão separou a nação de Israel em dois reinos: reino do Sul, Judá (duas tribos) e reino do Norte (dez tribos) (2Cr 10.1-15). Notemos:
5.1. A dinastia do Norte (Israel). Foram aproximadamente 200 anos de dinastia (série de reis ou soberanos de uma mesma família que se sucedem no trono) tendo o cativeiro assírio marcado o seu fim. Todos os reis fizeram o que pareciam mal aos olhos do Senhor e não deixaram de andar no mesmo caminho de Jeroboão, o primeiro soberano do reino do Norte (1Rs 12.20).
Infelizmente, as atitudes de Jeroboão custaram muito caro para a nação. Por mais que os profetas exortassem o povo a voltar para os mandamentos de Deus, a liderança permanecia no erro, porque lhe era conveniente. Assim, o reino do Norte, deixou de existir como nação independente quando a Assíria derrubou a monarquia israelita e levou as tribos em cativeiro.
5.2 A dinastia do reino do Sul (Judá). O reino de Judá teve uma durabilidade um pouco maior, aproximadamente 140 anos a mais que o reino do Norte, talvez pelo fato de que algumas vezes o povo se atentou para as leis de Deus. O governo foi exercido por vinte descendentes de Davi e a capital permaneceu sempre a mesma: Jerusalém. Um dos momentos áureos do reino de Judá foi a grande reforma promovida pelo rei Ezequias, na qual o culto e o sacrifício a Deus foram restaurados (2Cr 30.26).
Infelizmente, apesar das profecias advertindo o povo sobre abandonar a idolatria e voltar-se para Deus, eles continuaram vivendo de maneira leviana e irresponsável. O dia do juízo chegou e foi um dos dias mais tristes da história do povo de Deus.

CONCLUSÃO

Aprendemos com esta lição que o segredo de desfrutarmos das bênçãos do Senhor é permanecermos em sua presença em obediência e nos submetermos a sua vontade (Dt 28.1-14).

Prof. Paulo Avelino. Disponível em: https://www.portalebd.org.br

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO
Ao tratar da instituição da monarquia em Israel, não podemos ignorar a soberania de Deus ao estabelecer essa forma de governo. Embora a monarquia fosse um desejo nacional. Deus interveio e, segundo a sua vontade, estabeleceu essa forma de governo. Outrora, Ele levantava juízes em diversas regiões, mas agora Ele levantaria uma monarquia em Israel. Nesse sentido, estudaremos a razão da monarquia, a escolha do rei Saul, o primeiro rei de Israel e o mérito dessa escolha. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Uma leitura geral do capítulo 8 de 1 Samuel esclarece alguns porquês que levaram o povo a solicitar a monarquia. Mas vale evidenciar que os críticos acreditam e aludem que tanto esse texto como os capítulos 10 a 12 tratam, na verdade, de uma narrativa que se segue à implantação da monarquia e que o que se poderia ter então aqui é uma crítica histórica que se faz a essa instituição.
Podemos dizer que a monarquia terá diversas causas no processo histórico da existência do povo de Deus. Na época dos juízes, o quadro é de total celeuma, anarquia, falta de autoridade (Jz 21.25) e, dentro do próprio sistema dos juízes, já havia o desejo por uma liderança centralizada em boa parte do povo. Isso se comprova porque o povo solicitou que Gideão fosse o líder deles (Jz 8.22,23). [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD]
I. POR QUE A MONARQUIA?
1. Um sentimento de orgulho nacional (8.4,5). O desvio de Israel teve origem em sua desobediência a Deus. Os israelitas só o buscavam em tempos de crise; então, davam ouvidos à mensagem divina. Segundo a Bíblia, Deus chamou Israel para ser líder espiritual do mundo (1 Cr 17.21; Jo 4.22), mas a nação enveredou pelo mesmo caminho das outras nações. Assim, por meio do orgulho nacional, os israelitas foram levados a pedir um rei antes da hora. Nesse caso, adotar o regime monárquico,segundo o modelo pagão, significava rejeitar a liderança divina representada por Samuel. Dessa forma, os israelitas escolheram uma política meramente humana, fugindo de sua real vocação sacerdotal e profética. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
O capítulo 8 é uma transição entre o período dos juízes e a era da monarquia. Em termos teológicos, ele representa o fim da teocracia, ou o reino de Deus por meio de juízes ou líderes indicados diretamente. Vários críticos assumiram que 1 Samuel 8-12 (como, na verdade, todo o registro de 1 e 2 Samuel) é o resultado da união de duas fontes independentes e bastante diferentes. Supõe-se que haja uma fonte anterior favorável à ideia de um reino, e refletida em 9.1-10.16; e uma posterior, oposta à monarquia e vista em 8.1-22; 10.17-27; e 12.1-25. No entanto, tal reconstrução é altamente especulativa e bastante desnecessária. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.192].
Alguns biblistas, especialmente aqueles que trabalham com o Antigo Testamento, apontam que havia uma falta de consenso quanto à questão da monarquia, pois alguns dentre os judeus achavam que isto era certo e bom: ter um só líder que pudesse estar à frente do povo de Deus. Através da implantação da monarquia, segundo a visão de alguns, a concentração e a unificação de Israel dar-se-iam de maneira mais fácil, sobretudo com um líder capaz de organizar uma força militar poderosa e uma adoração centralizada, dando proteção a todos. Essa instituição era imprescindível; para outros, porém, não era necessário. Assim pensava Samuel. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
Há perigo quando o povo de Deus deixa a sua verdadeira vocação para imitar as instituições terrenas. Embora seja bíblico cumprir nossas obrigações políticas e sociais, a vocação da Igreja é espiritual, como afirmou Jesus: “O meu Reino não é deste mundo; se o meu Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui” (Jo 8.36). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Sendo ou não correta a implantação da monarquia, o desejo de um líder com poder centralizado já era grande, e o que vai colocar mais lenha na fogueira são algumas causas externas. Uma delas é a velhice de Samuel. Ele, que foi a grande esperança de todos, que conseguiu colocar Israel no eixo da vontade divina, estava se apagando. Muitos temiam surgir uma liderança como fora a de Eli; por isso, todos se empenharam em buscar um rei que lhes desse proteção e estabilidade.
Hermeneuticamente, não é fácil explicar Deuteronômio 17.14,15, posto que, na opinião de muitos estudiosos, o que se percebe pela sua leitura é uma monarquia antecipada da parte de Deus, a qual seria implantada no seu momento certo. Não há dúvidas de que o Senhor desejava a monarquia; nela, porém, Deus seria o rei que escolheria um humano para estar à frente do seu povo.
No geral, ocorre que o povo, já tendo o desejo de ter um rei, procurava aproveitar-se de qualquer circunstância para que esse projeto viesse a ser consolidado. Assim, diante da velhice de Samuel e da vida corrupta que seus filhos levavam, foi formada uma comissão para ter com esse juiz e, com isso, solicitar a implantação da monarquia.
Nada poderia justificar esse pedido feito pela assembleia geral, primeiro porque estava se esquecendo de que os juízes que surgiam vinham por meio de uma aprovação divina e, em segundo lugar, ainda que a monarquia fosse implantada, ela seria dirigida por homens pecaminosos também.
O âmago do pedido está revelado quando os israelitas dizem querer um rei como todas as demais nações tinham. Nesse particular, estavam colocando-se no nível daqueles pagãos, que não tinham compromisso com Deus, que eram independentes. Samuel não aprovou o pedido, posto que eles queriam ser como as nações pecaminosas.
A questão de querer uma monarquia não era pecado, pois se teria muitas vantagens na concentração de um poder unificado em torno da autoridade de um homem em tempos de constantes guerras. Porém, a grande questão é que o próprio povo que pede um rei era pecaminoso e só se voltava para Deus em momentos de grandes crises, desespero, e foi nesse momento que solicitaram um rei. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
2. O fracasso dos filhos de Samuel. Este era o contexto dos israelitas: a Arca da Aliança não estava mais com o povo; havia ameaças constantes dos filisteus e os filhos de Samuel não andavam em caminhos retos. Nesse sentido, o pedido dos anciãos tocou o coração do profeta; pois ele sabia que os seus filhos não tinham condições morais nem espirituais para substituí-lo. Samuel era um líder fiel, sincero, verdadeiro e, embora fosse duro ouvir, ele sabia que os anciãos falavam a verdade.
Uma irônica semelhança entre os últimos anos de Samuel e os de Eli está descrita no versículo 3. Nos dois casos, os filhos em quem se confiava provaram ser desleais. No entanto, existe uma diferença, a de que o autor inspirado não sugere a culpa de Samuel em nenhum ponto. Os pecados de seus filhos não eram tão exacerbados e eram de um tipo que não era imediatamente visto ou detectado. Avareza (3) - dinheiro; ou, como Lutero traduziu, cobiça. Perverteram o juízo - “perverteram a justiça”. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.193].
Todo líder deve ter o cuidado necessário para não ensinar ou pregar algo durante toda a sua vida e, no final, não cumprir. Foi o que aconteceu com Samuel. O que ele viu na família de Eli agora estava acontecendo na sua. Ele não repreendeu seus filhos, o que prejudicou seriamente sua influência sobre o povo. Cuidar bem da casa é o segredo para que toda a família do pastor tenha êxito até o final da jornada. Daí a importância de seguir a recomendação de Paulo: “Que governe bem a sua própria casa” (1 Tm 3.4).  [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
Biblicamente, não há problema em um filho de pastor vir a substituir o pai no ministério. Entretanto, isso não pode se dar por causa do amor paterno, mas pela vocação dada por Deus e confirmada pela Igreja de Cristo (1 Tm 3.1-7; Tt 1.5-9). O dono da obra é o Senhor! [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Pelo nome dos dois filhos de Samuel, logo poderia ser concluído o que se esperava de cada um deles. Joel, do hebraico, quer dizer “Jeová é Deus”. Abias, “Jeová é meu Pai”. Nenhum dos dois fez jus ao seu nome. Samuel foi um grande homem; sua moral e seu caráter, ilibados, mas nenhum de seus filhos seguiu seus passos.
O grande erro de Samuel foi querer assegurar o seu futuro colocando filhos de caráter corrupto na obra. Isso foi o estopim para que aumentasse o desejo de Israel de ter um novo rei. Alguns estudiosos dizem que esses filhos vieram a corromper-se depois, mas, mesmo assim, podemos declarar que houve erro da parte de Samuel em dar autoridade aos filhos de vida moral baixa; depois, o erro dos filhos foi não proceder de acordo com a sinceridade do pai. O homem de Deus deve sempre agir confiando e dependendo da graça divina. Samuel errou profundamente e sentiu-se rejeitado pelo povo por não aceitar seus filhos, mas, diante de toda a situação, ele volta para o caminho certo, buscando a orientação do Senhor. Se tivesse feito isso desde o início, ele não teria sofrido esse drama no final de seu ministério. Ainda que venhamos a falhar e que outros possam abandonar-nos, o melhor mesmo é entregar tudo nas mãos de Deus e buscar a sua orientação. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
3. Rejeitando os planos de Deus (10.6,7). Escolher a monarquia, naquele contexto, era rejeitar o propósito divino. Foi algo deliberado do povo contra o plano estabelecido por Deus desde quando Israel ocupou a Terra de Canaã. Deus é onisciente. Ele sabia que esse momento chegaria (Dt 17.14). Assim, no tempo certo, o próprio Deus daria um rei com as qualidades necessárias. É preciso seguir essa diretriz no processo de sucessão de líderes. Não podemos perder a perspectiva de que é Deus que dá seus líderes à Igreja (Mt 9 38; Lc 10.2). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Lendo 1 Samuel 19.11, entendemos que os anciãos já estavam determinados. Tudo o que Samuel falou não teve qualquer resultado. Estudiosos têm procurado saber a causa da postura desses anciãos. Alguns dizem que eles pensavam que Samuel haveria de escolher um deles, o que não aconteceu.
Precisamos atentar para a postura de Samuel: ele não pediu qualquer orientação ou sugestão deles que pudesse fazê-los acreditar que seria como esperavam. Samuel voltou-se apenas para o Deus verdadeiro, o Senhor de todas as coisas, e somente a Ele pediu a direção. Deus disse para Samuel atender o povo, mas nada seria como eles pensavam. Tudo aconteceria conforme a determinação divina. Um verdadeiro líder não pode ficar em uma reunião procurando ouvir “a” ou “b”. É claro, ele deve buscar conselhos, mas sua prioridade será sempre se voltar para o dono da obra, buscando orientação. Desse modo, terá a direção mais sábia do mundo.
Os israelitas estavam se esquecendo de que, até o momento em que estavam vivendo, eles sempre foram guiados e orientados por Deus. O Senhor concedeu líderes importantes em cada situação, deu-lhes os seus mandamentos, livrou-os de poderes opressores; agora, no entanto, por causa dessa atitude nada inteligente, tudo iria mudar.
Buscando ser como as outras nações, Israel estaria cometendo alguns erros, a saber: (1) queria ter as mesmas questões políticas que as outras nações; (2) deixaria de ter os líderes locais para concentrarem-se apenas em um poder maior; e (3) desejava um líder famoso como os das nações para fazer suas guerras.
A tomada de atitude de Israel desprezava em tudo a ação divina, inclusive todo o trabalho que o Senhor já havia feito por eles antigamente. Todo esse processo causou grandes estragos para o povo de Deus, mas foi aceito pela permissão divina, e não por vontade própria. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Ao introduzir a lição de hoje, que tem como tema a instituição do primeiro reinado de Israel, faça uma síntese a respeito de como Deus conduzia o seu povo até aquele derradeiro momento. Como sugestão para essa síntese, use o seguinte texto como auxílio: “[…] Desde os dias de Moisés Deus governava Israel através de sacerdotes e juízes especialmente dotados com poder e habilidade. Quando Samuel, o último dos juízes, envelheceu, o povo pediu um rei para que eles fossem como as nações que estavam ao seu redor. O repúdio que demonstravam estava dirigido a Deus e a uma caminhada de fé. Eles desejaram imitar as nações não simplesmente no governo, mas também no espírito, dependendo de suas próprias possibilidades e poder ao invés de depender do Senhor (1 Sm 8)” (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.1775).
II. A ESCOLHA DE SAUL COMO REI
1. Por que Saul? Quando lemos o livro de 1 Samuel, logo percebemos que o foco do autor sagrado é Davi, e não Saul. Se Saul foi o primeiro rei de Israel, por que o foco da narrativa não recaiu sobre ele? Podemos considerar que, num primeiro momento, o rei Saul foi ungido pela soberana vontade de Deus. Entretanto, ele reinou indiferente aos mandamentos divinos; era um rei falho, egoísta e ciumento. O propósito do autor sagrado é contrastá-lo com Davi, um homem segundo o coração de Deus. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Como é de costume, o registro começa com a genealogia de Saul, que parte através de Quis, seu pai, Abiel (14.51), Zeror, Becorate e Afias, que é identificado como filho de um homem de Benjamim. Em 1 Samuel 14.51; 1 Crônicas 8.33 e 9.39 apresenta-se Ner como o pai de Quis, uma aparente discrepância, melhor compreendida quando entendemos que as genealogias bíblicas frequentemente omitem algumas gerações. Varão alentado em força (1) é a expressão usada para descrever Quis. Ela pode indicar a sua riqueza ou a sua bravura, ou ambas. De qualquer maneira, o registro mostra que Saul vinha de uma família importante e abastada da tribo de Benjamim - uma família de boa situação econômica e altamente respeitada.
O próprio Saul é descrito como jovem e tão belo (2). O termo hebraico utilizado não indica necessariamente juventude, mas sim o apogeu da vida - pois Saul tinha pelo menos um filho adulto na época de sua escolha como rei. Belo... mais belo - a palavra em hebraico indica uma impressão favorável e pode significar “bonito, elegante, bem feito, robusto”. Uma menção especial é feita à altura de Saul. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.194].
2. A unção de Saul por Samuel (10.1). Na unção de Saul, alguns detalhes devem ser destacados. Samuel o beijou em sinal de afeição e admiração pessoal. A unção era feita com azeite de oliva. A cerimônia simbolizava a investidura divina para o exercício do cargo.
Os que são separados, por Deus, para a sua Obra, têm a unção do Espírito Santo – a capacidade que vem do alto para o exercício do Santo Ministério (Ef 4.11-14). Hoje, não necessitamos do azeite para a separação de obreiros para o ministério da Palavra; basta a imposição de mãos do presbitério (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
A Unção Particular (10.1-16). O processo de tornar Saul rei envolveu dois estágios. O primeiro foi a cerimônia privada relatada aqui. O segundo foi a escolha pública, seguida por uma coroação oficial (10.17-25; 11.14-15). Um vaso de azeite (1) - o azeite de oliva era usado na cerimônia de unção, o que significa borrifar ou aplicar o óleo sobre a pessoa que era ungida. O vaso era um jarro de gargalo estreito de onde o óleo saía em gotas. Os sacerdotes (Êx 28.41, etc.) e os profetas (1 Rs 19.16) eram ungidos; mas a cerimônia se aplicava particularmente à instalação de reis. O povo frequentemente se referia ao rei como “o ungido do Senhor” (16.6; 24.6). O termo hebraico mashiach (em português, “Messias”) significava “o ungido” e aplicava-se ao futuro rei ideal de Israel. Christos, a palavra grega para “o ungido”, é o equivalente a Messias, e tornou-se o nome de Jesus de Nazaré. E o beijou - o típico sinal oriental de sujeição ou de subordinação a um superior. O Senhor tem te ungido - por meio de seu profeta, que agiu de acordo com as suas instruções. A sua herdade - terras, herança, posses. Israel pertencia a Deus em razão tanto da libertação da nação da escravidão no Egito como da sua escolha de Israel, entre todas as nações, para ser o canal do seu amor e de redenção para todo o mundo.
A Escolha Pública (10.17-27. O próximo passo de Samuel era organizar uma apresentação pública do rei recém- ungido. Com essa finalidade ele convocou... o povo ao Senhor em Mispa (17), à cidade de Benjamim que era o lugar das convocações nacionais. Não ficava longe de Ramá, onde morava Samuel.
As palavras introdutórias de Samuel recordaram ao povo as libertações de Deus, do Egito e das mãos dos inimigos (18). Esses fatos imputaram ainda mais culpa à sua rejeição ao seu governo direto sobre eles, ou seja, a teocracia (19). O povo apresentou-se pelas... tribos e pelos... milhares. A palavra hebraica para milhares também significa “famílias”, o que parece ser o caso aqui. Tomou-se a tribo de Benjamim (20) - isto é, a tribo foi escolhida por sorteio. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.196, 198].
3. Os sinais de confirmação da unção (10.2-7). Três são os sinais que confirmaram a unção de Saul como o rei de Israel: (1) Saul encontra as jumentas perdidas de seu pai; (2) ele encontra três homens no Monte Tabor, um levando três cabritos, outro, três bolos de pão, e o outro, um odre de vinho; (3) a capacidade de profetizar pelo Espírito de Deus.
O primeiro sinal representava o trabalho que o rei teria; o segundo apontava para o sustento divino para a tarefa de Saul; e o terceiro, o rei reinaria sob o Espírito de Deus e, assim, salvaria Israel de seus inimigos.
Quem é chamado para o ministério precisa aplicar-se ao trabalho (Jo 5.17); sustentar-se pelo alimento sagrado, a Palavra de Deus (Dt 8.3; Mt 4.4); e estar cheio do Espírito Santo (Ef 5.18). A jornada ministerial é pesada; por isso, é preciso estar centrado em Deus em todo o exercício ministerial. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Saul receberia três sinais relacionados à veracidade das palavras de Samuel e da certeza da sua escolha como príncipe e rei: (a) dois homens iriam informá-lo do regresso das jumentas; (b) ele iria encontrá-los subindo a Deus (3) - isto é, encaminhando-se para a adoração - e iriam dar parte das suas ofertas a Saul; e (c) ele iria encontrar um rancho de profetas, e o Espírito do Senhor desceria sobre ele, a fim de torná-lo um homem diferente. A localização do carvalho de Tabor não é conhecida. Saul deveria então ir a Gilgal, onde esperaria sete dias pela vinda de Samuel e receberia instruções (2-8). O outeiro de Deus (5), ou Gibeah-Elohim, provavelmente uma elevação perto de Gibeá, uma vez que Saul era bastante conhecido na cidade que tinha aquele nome (1011). Gibeah é a palavra em hebraico para “colina”, e a sua tradução é uma questão não resolvida, poderia ser “colina” ou “Gibeá”. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.194].
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“[…] Quando Saul se virou para partir em direção à sua casa. Deus lhe mudou o coração em outro (9). O humilde trabalhador rural estava a caminho de tornar-se um líder militar e civil. O Espírito de Deus se apoderou dele (10) e os seus conhecidos, ao vê-lo, perguntavam uns aos outros: Está também Saul entre os profetas? (11), uma frase destinada a tornar-se famosa em uma época posterior, sob as mais extremas manifestações de 19.23-24. Tornou-se provérbio (12) não significa necessariamente a partir daquele momento, mas pode ter sido na época posterior narrada no capítulo 19. Os versos 6-11 mostram ‘A criação de um novo homem’, pois Samuel disse a Saul: te mudarás em outro homem, 6. Aqui temos (1) Redenção – Deus lhe mudou o coração em outro, 9; (2) Renovação – O Espírito de Deus se apoderou dele, 10; e (3) Reconhecimento – todos os que dantes o conheciam viram que eis que com os profetas profetizava; então disse o povo, cada qual ao seu companheiro: Que é o que sucedeu ao filho de Quis?” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.197).
III. O REI QUE O POVO ESCOLHEU
  1. Uma escolha pautada na aparência. Saul rejeitou a Palavra do Senhor, assim, brevemente, Deus daria ao povo um rei segundo o Seu coração (1 Sm 13.13; 15.23). Entretanto, para o povo, Saul era um candidato que enchia os olhos. Fisicamente, era um homem notável (1 Sm 9.2). 0 povo não via nada além que a aparência humana; mas Deus, que sonda todas as coisas, conhecia o coração de Saul. Mesmo não sendo o rei ideal do ponto de vista divino. Deus o designou e o nomeou. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Saul tinha boas qualidades físicas, porém, no espiritual, suas qualidades eram péssimas. Nesse particular, seguindo a visão de Stanley A. Ellisen, ele era impaciente, imprudente, egoísta, exigente, desobediente a Deus, cheio de ciúme. Era orgulhoso e não se humilhava quando repreendido pelo Senhor. Com tudo isso, aprendemos como é perigoso escolher um líder apenas atentando para a capacidade ou qualidades humanas em detrimento daquilo que é espiritual. Por isso, o melhor mesmo é orar ao Senhor da seara para que Ele envie a pessoa certa (Lc 10.2).
Temos que entender que ser rico, bonito e inteligente não impede alguém de fazer a obra de Deus, mas não necessariamente é um sinal de aprovação divina. Davi é descrito como sendo um homem de muitas qualidades humanas (1 Sm 16.18). Sua escolha não se deu por isso, mas, sim, pelo amor e temor que ele manifestava para com Deus. No tocante à aparência física – que, por vezes, é um tema presente em Samuel –, na verdade, trata-se de uma ênfase do autor como um tipo de advertência, que não se deve confiar nisso e que, por vezes, os dons exteriores podem servir como impedimento, pois corre-se o risco de confiar-se mais neles do que no Senhor, como aconteceu com Absalão e com Adonias. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
2. Os direitos do novo rei. O profeta Samuel esclareceu que o rei teria os seguintes privilégios: todos estariam sob o poder do novo rei e prontos para servi-lo na guerra, no trabalho do campo e da cozinha real, na implantação de impostos, no confisco de escravos para o trabalho, na produção de perfumes, e na cobrança dos dízimos da produção – no Antigo Testamento essa é a única vez que se trata de dízimo cobrado pelo rei (1 Sm 8.10-17).
     Assim, as exigências descritas por Samuel faziam parte do novo sistema político que o povo tanto desejava, um padrão desenvolvido pelas nações gentílicas. No Novo Testamento, há recomendação evangélica de como o cristão deve se portar na forma de governo politico-temporal vigente (Rm 13.1-7; 1 Pe 2.13-17). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
[...] Samuel declarou ao povo o direito do reino (25), para que, avisados previamente, estivessem prevenidos - embora haja conjeturas sobre uma eventual distinção entre o direito (ou lei) do reino e a “maneira (ou costume) do rei” (8.11ss.). A lei do reino (“os direitos e deveres da monarquia” ou “os direitos e deveres de um rei”) representaria os limites constitucionais colocados, por sanção divina, nos poderes da monarquia; ao passo que “o costume do rei” representaria os abusos desses poderes que pudessem ocorrer. Samuel escreveu-o num livro - a primeira menção à escrita desde o tempo de Moisés, e a primeira referência à escrita entre os profetas. Pô-lo perante o Senhor - talvez em um Tabernáculo agora reconstruído em Siló, ou talvez em Mispa, de alguma maneira que desconhecemos. Embora o reinado estivesse aprovado e o rei fosse apresentado, ainda foi Samuel quem dispersou o povo (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.198).
Vivendo agora um novo momento histórico, tendo um rei, o povo, que antes não prestava serviço a ninguém e que vivia dominado e orientado pelo Senhor, doravante iria sair dessa vida autônoma para uma vida de submissão, que envolvia alguns aspectos: (a) Militar – seriam convocados para a guerra; (b) Agrícola – o melhor das colheitas seria para o rei; (c) Serviços gerais – as mulheres trabalhariam como perfumistas, cozinheiras, padeiras, etc.; (d) Impostos – doravante pagariam impostos ao rei. Note que, no versículo 15, aparece pela única vez a cobrança feita pelo rei para a entrega do dízimo. A vida livre que antes Israel vivia agora seria marcada pela imposição. A situação iria cada vez mais se intensificar, a ponto de os israelitas voltarem-se para o Senhor. Samuel passa a descrever sobre as exigências reais. Estudiosos falam que elas não são tão pesadas como as do então Estado Moderno. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
3. O novo sistema político e o aspecto teológico. Deus sempre cuidou de Israel; deu-lhe mandamentos, escolheu lideranças para representá-lo em momentos ímpares, fez com que o povo se arrependesse e se voltasse para Ele muitas vezes. Agora, não seria diferente. O Senhor não se afastaria da nação. Se originalmente esta não era a vontade de Deus, o Criador usaria esse modelo para guiar o seu povo. Ele já preparara um rei segundo o coração dEle (1 Sm 13.14).
Neste novo modelo, a liderança seria centralizada na pessoa do rei; sacerdotes e profetas representariam o conselho de Deus para o governo monárquico. Assim, o Altíssimo conduziria o seu povo pela história. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019].
Pelo novo sistema político, Deus não deixaria de trabalhar no meio de seu povo. Os reis deveriam dali em diante governar tendo como medida o reino superior de Deus, com justiça e equidade. Caso não procedessem assim, seriam julgados pelo Senhor. Deus havia feito um pacto perpétuo com a casa de Davi: ela teria que proceder com equidade, porém sempre fracassou. O que ficou foi a promessa que, da linhagem de Davi, viria o grande Rei, Jesus, que julgará os povos com justiça (Is 11; Jr 23; Ez 34). [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Todos os anciãos de Israel (4) vieram até Samuel, para demonstrar uma ampla insatisfação com a situação. A sua exigência de um rei se baseava em duas razões: já estás velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos (5), além do desejo de que o rei pudesse ser o seu juiz ou líder e de que eles pudessem ser como todas as nações. Este desejo de adequar-se aos outros, rebelando-se contra as características divinas, foi uma fonte de problemas para o povo de Deus em todas as épocas.
O descontentamento de Samuel (6) não ocorreu porque o povo julgou que ele estava velho e que os seus filhos não eram dignos de sucedê-lo, mas porque pediram um rei -fato no qual ele via claramente implicações profundas com envolvimentos morais e espirituais. Os seus receios se confirmaram quando o Senhor lhe disse: o povo não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele (7). A nação já tinha uma triste história de rebelião e idolatria, e estava, agora, apenas fazendo a Samuel o que já havia feito ao Senhor (8). Esperava-se que o profeta concordasse com o pedido, mas ele protestou e claramente informou os líderes do resultado da sua escolha (9)” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.193).
CONCLUSÃO
Deus é o Senhor da história. Muitas vezes não conhecemos seus caminhos nem propósitos, mas sabemos que sua vontade é sempre a mais perfeita e agradável. Não podemos perder de vista que o Pai é quem governa a nossa vida. Como cristãos, devemos buscar a bênção de que a nossa vontade e escolhas estejam sempre bem alinhadas com as de Deus.  [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019].
Na oração de Ana, ela descreve-o como o Deus que controla tudo, ou seja, o destino do seu povo e da raça humana. Ele é quem abate e exalta, inclusive é quem dará força ao rei e ao seu ungido (1 Sm 2.1-10). Assim, entendemos que, no novo sistema político, a monarquia, Deus continuaria reinando no cenário humano, mas tendo como representante maior o seu ungido, o qual deveria representar a justiça do Senhor perante seu povo. Caso não seguisse o padrão de justiça estabelecido por Deus, o rei, então, seria castigado. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].

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