SUBSÍDIO I
A MONARQUIA EM
ISRAEL
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição
da palavra monarquia; notaremos que o estabelecimento de um rei sobre Israel já
era algo predito por Deus em sua Lei; pontuaremos quais os critérios para a
escolha do rei; estudaremos sobre a monarquia e o reino unido, e por fim;
falaremos sobre a monarquia e o reino dividido.
I - DEFINIÇÃO DA PALAVRA
MONARQUIA
1.1 Definição do termo. Segundo o dicionarista
Antônio Houaiss (2001, p. 1949) o termo monarquia significa: “forma de governo
em que o chefe de Estado tem o título de rei ou rainha (ou seus equivalentes)”.
Monarquia é uma das mais antigas formas de governo, com ecos na liderança de
chefes tribais. Existem duas principais formas de monarquia: a absoluta
(considerada um regime autoritário), em que o poder do monarca vai além do
chefe de Estado, e a constitucional ou parlamentar (considerada um regime
democrático), em que o poder do monarca é limitado por uma constituição. Formas
de governo sem um monarca são denominadas de repúblicas.
II - A MONARQUIA EM ISRAEL
2.1 O estabelecimento da
monarquia em Israel. Deus já havia dito que de Abraão descenderia reis (Gn 17.6; 49,10);
por meio de Jacó, anunciou que o cetro ficaria com Judá (Gn 49.10); e, por meio
de Moisés exortou como deveria ser a postura de um rei (Dt 17.14-20). O
registro de Samuel nos mostra que ainda não era o tempo, e, o povo
precipitou-se pedindo para si um monarca (1Sm 10.19; 12.19); no entanto, Deus
atendeu a voz do povo. Ficou explícito em sua instituição que Deus reprovou tal
escolha para aquele momento de Israel (1Sm 12.18-19). Não era errado Israel
desejar um rei, o problema residia no fato de que o povo estava rejeitando o
Senhor como seu líder, porque queria ser como as “outras nações” (1Sm 8.5).
Deus, em sua misericórdia, ordenou que Samuel cuidadosamente explicasse ao povo
os “prós” e “contras” de se ter um rei (1Sm 8.11-18). É bem verdade que se
encontrava disposto na Lei mosaica acerca dos ditames peculiares a um rei (Dt
17.14,15), no entanto, Israel e os seus anciãos erraram ao não reconhecerem o
Senhor como seu legítimo e verdadeiro Rei (1Sm 8.7; 12.12). De fato é inegável
que era da vontade de Deus que Israel tivesse um monarca (Gn 49.10; Nm 24.17;
Dt 2.10; 17.14-20). Entretanto, não era de seu anelo que Israel obtivesse da
maneira como estava fazendo na ocasião errada e com motivos impróprios, mas
mesmo assim Deus permitiu o estabelecimento de um rei.
III - CRITÉRIOS PARA O
ESTABELECIMENTO DO REI EM ISRAEL
Na história dos hebreus a
monarquia foi uma concessão de Deus correspondendo a um desejo da parte do povo
(1Sm 8.7;12.12). Esse desejo, que já havia sido manifestado numa proposta a
Gideão (Jz 8.22,23), e na escolha de Abimeleque para rei de Siquém (Jz 9.6),
equivale à rejeição da teocracia (1Sm 8.7), visto como o Senhor era o
verdadeiro rei da nação (1Sm 8.7; Is 33.22). A própria terra era conservada,
como sendo propriedade divina (Lv 25.23). Notemos alguns critérios
estabelecidos por Deus para a escolha do rei em Israel:
3.1 O rei não poderia ser
estrangeiro. Enquanto os
israelitas eram residentes forasteiros em Canaã e no Egito, muitos
não israelitas faziam parte das casas dos filhos de Jacó e de seus descendentes
(Gn 17.9-14). Alguns dos envolvidos em casamentos mistos, junto com seus
filhos, estavam incluídos na grande mistura de gente que acompanhou os
israelitas no Êxodo (Êx 12.38; Lv 24.10; Nm 11.4). No entanto, em assuntos
governamentais, o estrangeiro não tinha nenhuma posição política e nunca podia
tornar-se rei do povo de Israel: “[…] dentre teus irmãos porás rei sobre ti;
não poderás pôr homem estranho sobre ti, que não seja de teus irmãos” (Dt
17.15).
3.2 O rei deveria ser escolhido
pelo Senhor. Qual era o
grande requisito para ser designado rei em Israel? Era um único e estava
absolutamente a cargo de Deus: ser escolhido por Ele: “Porás, certamente, sobre
ti como rei aquele que escolher o Senhor teu Deus [...]” (Dt 17.15). O rei não
se escolhia a si mesmo, mas era o Senhor quem o escolhia. A Bíblia diz que
somos embaixadores (2Co 5.20; 8.23; Ef 6.20) e um embaixador não se nomeia a si
mesmo. Moisés, ao findar o seu ministério pediu ao Senhor que pusesse um homem
escolhido por Ele para ser líder do povo de Israel; e o Senhor escolheu Josué, servo
de Moisés (Js 1.1). Lembramos também o profeta Amós que não era filho de
profeta, mas boieiro. Mas foi chamado pelo Senhor (Am 7.14,15). Os apóstolos,
do mesmo modo, não se escolheram a si mesmos (1Co 12.28; Ef 4.11 ver Lc
6.12,13).
3.3 O rei deveria ser piedoso. O rei não poderia
multiplicar para si cavalos (Dt 17.16). No Salmo 20, que é uma oração pelo rei,
lemos no verso 7 que “uns confiam em carros e outros em cavalos, mas nós
faremos menção do nome do Senhor” . Podemos considerar “cavalos” como a força
natural do próprio braço, ou seja, sua força. Mas não é pela força nem pela
violência que o rei tinha vitória (Zc 4.6). O rei ainda não poderia multiplicar
para si mulheres (Dt 17.17-a); não poderia multiplicar para si ouro ou prata
(Dt 17.17-b); e, deveria ler a Palavra de Deus todos os dias da sua vida (Dt
17.19) 3.4 O rei deveria ser ungido. Desde as origens da monarquia, a unção já
é mencionada (1Sm 9.16; 10.1; 2Sm 2.4; 5.3). Esta unção era acompanhada da
vinda do Espírito Santo; pois ela conferia uma graça especial ao monarca.
Assim, o Espírito de Deus se apossou de Saul depois que este foi ungido (1Sm
10.10), e no caso de Davi aparece ainda mais (1Sm 16.13). O rei é o ungido do
Senhor e merecia ser respeitado e honrado (1Sm 24.7,11; 26.9,11,16,23; 2Sm
1.14,16; 2Sm 19.22).
IV - A MONARQUIA E O REINO UNIDO
O reino unido foi a época em que
as doze tribos de Israel tinham um único soberano. Somente três reis reinaram
sobre todo o povo unido de Israel (as doze tribos). Depois os israelitas se
dividiram em dois reinos: Judá, ao sul, e Israel, ao norte. O reino de Judá
teve 19 reis e uma rainha ao longo de 340 anos, enquanto que o reino de Israel
teve 19 reis ao longo de 200 anos. Na monarquia unificada contamos os seguintes
reis: Saul (1Sm 10.1), Davi (1Sm 16.10-13), e Salomão (1Rs 1.39). Notemos:
4.1 O primeiro rei: Saul (1Sm 10.1). O
primeiro monarca de Israel tinha tudo para dar certo, pois ascendeu ao trono
com um alto índice de popularidade (1Sm 9.2; 10.22-24 ver ainda 1 Sm 11.6,11),
e reinou quarenta anos (At 13.21). Ao pedir um rei a Deus, o povo de Israel fez
uma escolha precipitada. O profeta Samuel se entristeceu (1Sm 8.6), mas Deus o
advertiu: “ouve a voz do povo em tudo quanto te disser, pois não te tem
rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não reinar sobre ele”
(1Sm 8.7 ver ainda 1Sm 12.17-19). Saul foi o primeiro rei de Israel. Com ele se
inicia a monarquia. Sua escolha se deu por designação profética e aclamação
popular, 1Sm 10:24. Era da tribo de Benjamim (1Sm 9.1,2) e foi ungido pelo
profeta Samuel, (1Sm 10.1). Iniciou seu governo com uma vitória sobre os
amonitas (1Sm 11.6-11), e contou com grande apoio popular (1Sm 11.15). Saul não
teve palácio nem trono apenas um assento em Gibeá (1Sm 20.25). Foi um rei
guerreiro que conduziu sua nação a inúmeras vitórias militares (1Sm 13.15).
Todo o tempo de seu reinado foi gasto em guerras e combateu os filisteus e os
amalequitas. Porém, foi rejeitado pelo Senhor por não obedecer à sua Palavra
(1Sm 13.13,14; 15.11,23). No final de seu reinado, temendo perder o trono,
passou a perseguir a Davi e procurava matá-lo.
4.2 O segundo rei: Davi (1Sm 16.1). Davi, da
tribo de Judá um dos ascendentes de Jesus (Mt 1.1-6), foi ungido por Samuel
quando Saul ainda reinava (1Sm 16.1-13). O rei de Israel que sucedeu a Saul foi
um homem “segundo o coração de Deus” (1Sm 13.14 ver At 13.22). Davi foi
escolhido e ungido rei ainda moço (1Sm 16.1-13 ver Sl 89.20), mas, em sua
trajetória até o trono, passou por um longo período de perseguição, batalhas e
desafios até ser coroado rei sobre todo o Israel. Foi ungido rei primeiramente
sobre Judá e, sete anos depois, sobre todo o Israel (2Sm 5.1-5). Ele levou a
nação de Israel a patamares inimagináveis (2Sm 5.1,2), e teve o seu reino
confirmado (2Sm 7.16). Davi nunca se queixou do laborioso e solitário pastoreio
das ovelhas de seu pai e mesmo ungido rei não hesitou em voltar ao seu trabalho
habitual (1Sm 16.19). Ele tinha um coração de servo e o próprio Deus testificou
disso (Sl 78.70; 89.20). Era humilde e reconhecedor de suas limitações (Sl 131;
40.12,17).
Apesar de ser um soldado
inigualável, um comandante corajoso, um rei bem sucedido, sempre atribuiu todas
as suas vitórias ao Senhor dos Exércitos (Sl 34.4-7; 40.5-10; 124; 144.1,2).
Portava-se perante o Altíssimo com o coração sincero (Sl 26.2; 38.9), e apesar
de suas grandes falhas, seu maior desejo era conhecer os caminhos de Deus, e
para isso, punha-se sob sua direção em tudo que fazia (Sl 17.5; 18.21; 25.4,5;
143.8,10), e Jeová era seu mais precioso tesouro (Sl 16.2,5; 142.5). Além de
conhecer seus erros (2Sm 12.13a; Sl 51.4), ele arrependeu-se do que fez, pediu
perdão e foi perdoado (2Sm 12.13b; Sl 32.5; 38.18; 51.3-19).
4.3 O terceiro rei: Salomão (1Rs 1.39). Quando
Davi atingiu a velhice, ordenou ao sacerdote Zadoque que ungisse a Salomão e o
proclamasse rei sobre Israel (1Rs 1.33-40). O rei Salomão, o terceiro rei de
Israel, foi mais sábio do que todos os homens, pois Deus lhe deu “sabedoria e
muitíssimo entendimento” (1Rs 4.29-31). Durante o seu reinado, ele construiu o
templo de adoração a Deus, que era a glória e o orgulho de toda a nação. Num
ato de adoração ao Senhor, ofereceu mil sacrifícios em Gibeão (1Rs 3.4). Lá
estava o tabernáculo e o altar de bronze que Moisés havia erigido no deserto
(2Cr 1.2-5). Naquela mesma noite, o Senhor apareceu em sonhos a Salomão. Neste
sonho, Deus faz ao rei uma pergunta, dando-lhe a oportunidade de pedir o que
desejasse, e sua resposta foi: “sabedoria para governar o povo de Israel” (1Rs
3.3-10). Ao acordar do sonho, ele voltou à Jerusalém, ao tabernáculo, e
ofereceu mais sacrifícios a Deus. Naquela noite, Salomão teve uma experiência
com Deus que marcou seu reinado e, enquanto esteve perante o altar do Senhor,
reinou com notória sabedoria e sucesso apesar de suas falhas.
V - A MONARQUIA E O REINO
DIVIDIDO
Após cento e vinte anos de
monarquia, uma grande cisão política e religiosa durante o reinado de Roboão
separou a nação de Israel em dois reinos: reino do Sul, Judá (duas tribos) e
reino do Norte (dez tribos) (2Cr 10.1-15). Notemos:
5.1. A dinastia do Norte (Israel). Foram aproximadamente
200 anos de dinastia (série de reis ou soberanos de uma mesma família que se
sucedem no trono) tendo o cativeiro assírio marcado o seu fim. Todos os reis
fizeram o que pareciam mal aos olhos do Senhor e não deixaram de andar no mesmo
caminho de Jeroboão, o primeiro soberano do reino do Norte (1Rs 12.20).
Infelizmente, as atitudes de
Jeroboão custaram muito caro para a nação. Por mais que os profetas exortassem
o povo a voltar para os mandamentos de Deus, a liderança permanecia no erro,
porque lhe era conveniente. Assim, o reino do Norte, deixou de existir como
nação independente quando a Assíria derrubou a monarquia israelita e levou as
tribos em cativeiro.
5.2 A dinastia do reino do Sul (Judá). O reino de Judá
teve uma durabilidade um pouco maior, aproximadamente 140 anos a mais que o
reino do Norte, talvez pelo fato de que algumas vezes o povo se atentou para as
leis de Deus. O governo foi exercido por vinte descendentes de Davi e a capital
permaneceu sempre a mesma: Jerusalém. Um dos momentos áureos do reino de Judá
foi a grande reforma promovida pelo rei Ezequias, na qual o culto e o
sacrifício a Deus foram restaurados (2Cr 30.26).
Infelizmente, apesar das
profecias advertindo o povo sobre abandonar a idolatria e voltar-se para Deus,
eles continuaram vivendo de maneira leviana e irresponsável. O dia do juízo
chegou e foi um dos dias mais tristes da história do povo de Deus.
CONCLUSÃO
Aprendemos com esta lição que o
segredo de desfrutarmos das bênçãos do Senhor é permanecermos em sua presença
em obediência e nos submetermos a sua vontade (Dt 28.1-14).
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Ao tratar da instituição da monarquia em
Israel, não podemos ignorar a soberania de Deus ao estabelecer essa forma de
governo. Embora a monarquia fosse um desejo nacional. Deus interveio e, segundo
a sua vontade, estabeleceu essa forma de governo. Outrora, Ele levantava juízes
em diversas regiões, mas agora Ele levantaria uma monarquia em Israel. Nesse
sentido, estudaremos a razão da monarquia, a escolha do rei Saul, o primeiro
rei de Israel e o mérito dessa escolha. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Uma
leitura geral do capítulo 8 de 1 Samuel esclarece alguns porquês que levaram o
povo a solicitar a monarquia. Mas vale evidenciar que os críticos acreditam e
aludem que tanto esse texto como os capítulos 10 a 12 tratam, na verdade, de
uma narrativa que se segue à implantação da monarquia e que o que se poderia
ter então aqui é uma crítica histórica que se faz a essa instituição.
Podemos
dizer que a monarquia terá diversas causas no processo histórico da existência
do povo de Deus. Na época dos juízes, o quadro é de total celeuma, anarquia,
falta de autoridade (Jz 21.25) e, dentro do próprio sistema dos juízes, já
havia o desejo por uma liderança centralizada em boa parte do povo. Isso se
comprova porque o povo solicitou que Gideão fosse o líder deles (Jz 8.22,23). [O
governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD]
I. POR QUE A
MONARQUIA?
1. Um sentimento de orgulho
nacional (8.4,5). O desvio de
Israel teve origem em sua desobediência a Deus. Os israelitas só o buscavam em
tempos de crise; então, davam ouvidos à mensagem divina. Segundo a Bíblia, Deus
chamou Israel para ser líder espiritual do mundo (1 Cr 17.21; Jo 4.22), mas a
nação enveredou pelo mesmo caminho das outras nações. Assim, por meio do
orgulho nacional, os israelitas foram levados a pedir um rei antes da hora.
Nesse caso, adotar o regime monárquico,segundo o modelo pagão, significava
rejeitar a liderança divina representada por Samuel. Dessa forma, os israelitas
escolheram uma política meramente humana, fugindo de sua real vocação
sacerdotal e profética. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 5, 3 Novembro, 2019]
O
capítulo 8 é uma transição entre o período dos juízes e a era da monarquia. Em
termos teológicos, ele representa o fim da teocracia, ou o reino de Deus por
meio de juízes ou líderes indicados diretamente. Vários críticos assumiram que
1 Samuel 8-12 (como, na verdade, todo o registro de 1 e 2 Samuel) é o resultado
da união de duas fontes independentes e bastante diferentes. Supõe-se que haja
uma fonte anterior favorável à ideia de um reino, e refletida em 9.1-10.16; e
uma posterior, oposta à monarquia e vista em 8.1-22; 10.17-27; e 12.1-25. No
entanto, tal reconstrução é altamente especulativa e bastante desnecessária. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, p.192].
Alguns
biblistas, especialmente aqueles que trabalham com o Antigo Testamento, apontam
que havia uma falta de consenso quanto à questão da monarquia, pois alguns
dentre os judeus achavam que isto era certo e bom: ter um só líder que pudesse
estar à frente do povo de Deus. Através da implantação da monarquia, segundo a
visão de alguns, a concentração e a unificação de Israel dar-se-iam de maneira
mais fácil, sobretudo com um líder capaz de organizar uma força militar
poderosa e uma adoração centralizada, dando proteção a todos. Essa instituição
era imprescindível; para outros, porém, não era necessário. Assim pensava
Samuel. [O governo divino em mãos humanas”,
editada pela CPAD].
Há perigo quando o povo de Deus
deixa a sua verdadeira vocação para imitar as instituições terrenas. Embora
seja bíblico cumprir nossas obrigações políticas e sociais, a vocação da Igreja
é espiritual, como afirmou Jesus: “O meu Reino não é deste mundo; se o meu
Reino fosse deste mundo, lutariam os meus servos, para que eu não fosse
entregue aos judeus; mas, agora, o meu Reino não é daqui” (Jo 8.36). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Sendo
ou não correta a implantação da monarquia, o desejo de um líder com poder
centralizado já era grande, e o que vai colocar mais lenha na fogueira são
algumas causas externas. Uma delas é a velhice de Samuel. Ele, que foi a grande
esperança de todos, que conseguiu colocar Israel no eixo da vontade divina,
estava se apagando. Muitos temiam surgir uma liderança como fora a de Eli; por
isso, todos se empenharam em buscar um rei que lhes desse proteção e
estabilidade.
Hermeneuticamente,
não é fácil explicar Deuteronômio 17.14,15, posto que, na opinião de muitos
estudiosos, o que se percebe pela sua leitura é uma monarquia antecipada da
parte de Deus, a qual seria implantada no seu momento certo. Não há dúvidas de
que o Senhor desejava a monarquia; nela, porém, Deus seria o rei que escolheria
um humano para estar à frente do seu povo.
No
geral, ocorre que o povo, já tendo o desejo de ter um rei, procurava aproveitar-se
de qualquer circunstância para que esse projeto viesse a ser consolidado.
Assim, diante da velhice de Samuel e da vida corrupta que seus filhos levavam,
foi formada uma comissão para ter com esse juiz e, com isso, solicitar a
implantação da monarquia.
Nada
poderia justificar esse pedido feito pela assembleia geral, primeiro porque
estava se esquecendo de que os juízes que surgiam vinham por meio de uma
aprovação divina e, em segundo lugar, ainda que a monarquia fosse implantada,
ela seria dirigida por homens pecaminosos também.
O
âmago do pedido está revelado quando os israelitas dizem querer um rei como
todas as demais nações tinham. Nesse particular, estavam colocando-se no nível
daqueles pagãos, que não tinham compromisso com Deus, que eram independentes.
Samuel não aprovou o pedido, posto que eles queriam ser como as nações
pecaminosas.
A
questão de querer uma monarquia não era pecado, pois se teria muitas vantagens
na concentração de um poder unificado em torno da autoridade de um homem em
tempos de constantes guerras. Porém, a grande questão é que o próprio povo que
pede um rei era pecaminoso e só se voltava para Deus em momentos de grandes
crises, desespero, e foi nesse momento que solicitaram um rei. [O
governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
2. O fracasso dos filhos de
Samuel. Este era o
contexto dos israelitas: a Arca da Aliança não estava mais com o povo; havia
ameaças constantes dos filisteus e os filhos de Samuel não andavam em caminhos
retos. Nesse sentido, o pedido dos anciãos tocou o coração do profeta; pois ele
sabia que os seus filhos não tinham condições morais nem espirituais para
substituí-lo. Samuel era um líder fiel, sincero, verdadeiro e, embora
fosse duro ouvir, ele sabia que os anciãos falavam a verdade.
Uma irônica semelhança entre os
últimos anos de Samuel e os de Eli está descrita no versículo 3. Nos dois
casos, os filhos em quem se confiava provaram ser desleais. No entanto, existe
uma diferença, a de que o autor inspirado não sugere a culpa de Samuel em
nenhum ponto. Os pecados de seus filhos não eram tão exacerbados e eram de um
tipo que não era imediatamente visto ou detectado. Avareza (3) -
dinheiro; ou, como Lutero traduziu, cobiça. Perverteram o juízo -
“perverteram a justiça”. [Comentário Bíblico
Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.193].
Todo
líder deve ter o cuidado necessário para não ensinar ou pregar algo durante
toda a sua vida e, no final, não cumprir. Foi o que aconteceu com Samuel. O que
ele viu na família de Eli agora estava acontecendo na sua. Ele não repreendeu
seus filhos, o que prejudicou seriamente sua influência sobre o povo. Cuidar
bem da casa é o segredo para que toda a família do pastor tenha êxito até o
final da jornada. Daí a importância de seguir a recomendação de Paulo: “Que
governe bem a sua própria casa” (1 Tm 3.4). [O governo divino em mãos humanas”,
editada pela CPAD].
Biblicamente, não há problema em
um filho de pastor vir a substituir o pai no ministério. Entretanto, isso não
pode se dar por causa do amor paterno, mas pela vocação dada por Deus e
confirmada pela Igreja de Cristo (1 Tm 3.1-7; Tt 1.5-9). O dono da obra é o
Senhor! [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Pelo
nome dos dois filhos de Samuel, logo poderia ser concluído o que se esperava de
cada um deles. Joel, do hebraico, quer dizer “Jeová é Deus”. Abias,
“Jeová é meu Pai”. Nenhum dos dois fez jus ao seu nome. Samuel foi um grande
homem; sua moral e seu caráter, ilibados, mas nenhum de seus filhos seguiu seus
passos.
O
grande erro de Samuel foi querer assegurar o seu futuro colocando filhos de
caráter corrupto na obra. Isso foi o estopim para que aumentasse o desejo de
Israel de ter um novo rei. Alguns estudiosos dizem que esses filhos vieram a
corromper-se depois, mas, mesmo assim, podemos declarar que houve erro da parte
de Samuel em dar autoridade aos filhos de vida moral baixa; depois, o erro dos
filhos foi não proceder de acordo com a sinceridade do pai. O homem de Deus
deve sempre agir confiando e dependendo da graça divina. Samuel errou
profundamente e sentiu-se rejeitado pelo povo por não aceitar seus filhos, mas,
diante de toda a situação, ele volta para o caminho certo, buscando a
orientação do Senhor. Se tivesse feito isso desde o início, ele não teria
sofrido esse drama no final de seu ministério. Ainda que venhamos a falhar e
que outros possam abandonar-nos, o melhor mesmo é entregar tudo nas mãos de
Deus e buscar a sua orientação. [O governo divino em mãos humanas”,
editada pela CPAD].
3. Rejeitando os planos de Deus
(10.6,7). Escolher a
monarquia, naquele contexto, era rejeitar o propósito divino. Foi algo
deliberado do povo contra o plano estabelecido por Deus desde quando Israel
ocupou a Terra de Canaã. Deus é onisciente. Ele sabia que esse momento chegaria
(Dt 17.14). Assim, no tempo certo, o próprio Deus daria um rei com as
qualidades necessárias. É preciso seguir essa diretriz no processo de sucessão
de líderes. Não podemos perder a perspectiva de que é Deus que dá seus líderes
à Igreja (Mt 9 38; Lc 10.2). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Lendo
1 Samuel 19.11, entendemos que os anciãos já estavam determinados. Tudo o que
Samuel falou não teve qualquer resultado. Estudiosos têm procurado saber a
causa da postura desses anciãos. Alguns dizem que eles pensavam que Samuel
haveria de escolher um deles, o que não aconteceu.
Precisamos
atentar para a postura de Samuel: ele não pediu qualquer orientação ou sugestão
deles que pudesse fazê-los acreditar que seria como esperavam. Samuel voltou-se
apenas para o Deus verdadeiro, o Senhor de todas as coisas, e somente a Ele
pediu a direção. Deus disse para Samuel atender o povo, mas nada seria como
eles pensavam. Tudo aconteceria conforme a determinação divina. Um verdadeiro
líder não pode ficar em uma reunião procurando ouvir “a” ou “b”. É claro, ele
deve buscar conselhos, mas sua prioridade será sempre se voltar para o dono da
obra, buscando orientação. Desse modo, terá a direção mais sábia do mundo.
Os
israelitas estavam se esquecendo de que, até o momento em que estavam vivendo,
eles sempre foram guiados e orientados por Deus. O Senhor concedeu líderes
importantes em cada situação, deu-lhes os seus mandamentos, livrou-os de
poderes opressores; agora, no entanto, por causa dessa atitude nada
inteligente, tudo iria mudar.
Buscando
ser como as outras nações, Israel estaria cometendo alguns erros, a saber: (1)
queria ter as mesmas questões políticas que as outras nações; (2) deixaria de
ter os líderes locais para concentrarem-se apenas em um poder maior; e (3)
desejava um líder famoso como os das nações para fazer suas guerras.
A
tomada de atitude de Israel desprezava em tudo a ação divina, inclusive todo o
trabalho que o Senhor já havia feito por eles antigamente. Todo esse processo
causou grandes estragos para o povo de Deus, mas foi aceito pela permissão
divina, e não por vontade própria. [O governo divino em mãos humanas”,
editada pela CPAD].
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Ao introduzir a lição de hoje, que tem como tema a
instituição do primeiro reinado de Israel, faça uma síntese a respeito de como
Deus conduzia o seu povo até aquele derradeiro momento. Como sugestão para essa
síntese, use o seguinte texto como auxílio: “[…] Desde os dias de Moisés Deus
governava Israel através de sacerdotes e juízes especialmente dotados com poder
e habilidade. Quando Samuel, o último dos juízes, envelheceu, o povo pediu um
rei para que eles fossem como as nações que estavam ao seu redor. O repúdio que
demonstravam estava dirigido a Deus e a uma caminhada de fé. Eles desejaram
imitar as nações não simplesmente no governo, mas também no espírito,
dependendo de suas próprias possibilidades e poder ao invés de depender do
Senhor (1 Sm 8)” (Dicionário Bíblico
Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.1775).
II. A ESCOLHA DE SAUL COMO REI
1. Por que Saul? Quando lemos o livro de 1
Samuel, logo percebemos que o foco do autor sagrado é Davi, e não Saul. Se Saul
foi o primeiro rei de Israel, por que o foco da narrativa não recaiu sobre ele?
Podemos considerar que, num primeiro momento, o rei Saul foi ungido pela
soberana vontade de Deus. Entretanto, ele reinou indiferente aos mandamentos
divinos; era um rei falho, egoísta e ciumento. O propósito do autor sagrado é
contrastá-lo com Davi, um homem segundo o coração de Deus. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Como é de costume, o registro começa
com a genealogia de Saul, que parte através de Quis, seu pai, Abiel (14.51),
Zeror, Becorate e Afias, que é identificado como filho de um homem de
Benjamim. Em 1 Samuel 14.51; 1 Crônicas 8.33 e 9.39 apresenta-se Ner como o
pai de Quis, uma aparente discrepância, melhor compreendida quando entendemos
que as genealogias bíblicas frequentemente omitem algumas gerações. Varão
alentado em força (1) é a expressão usada para descrever Quis. Ela pode
indicar a sua riqueza ou a sua bravura, ou ambas. De qualquer maneira, o
registro mostra que Saul vinha de uma família importante e abastada da tribo de
Benjamim - uma família de boa situação econômica e altamente respeitada.
O próprio Saul é descrito como jovem
e tão belo (2). O termo hebraico utilizado não indica necessariamente
juventude, mas sim o apogeu da vida - pois Saul tinha pelo menos um filho
adulto na época de sua escolha como rei. Belo... mais belo - a palavra
em hebraico indica uma impressão favorável e pode significar “bonito, elegante,
bem feito, robusto”. Uma menção especial é feita à altura de Saul. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005, p.194].
2. A unção de Saul por Samuel
(10.1). Na unção de
Saul, alguns detalhes devem ser destacados. Samuel o beijou em sinal de afeição
e admiração pessoal. A unção era feita com azeite de oliva. A cerimônia
simbolizava a investidura divina para o exercício do cargo.
Os que são separados, por Deus,
para a sua Obra, têm a unção do Espírito Santo – a capacidade que vem do alto
para o exercício do Santo Ministério (Ef 4.11-14). Hoje, não necessitamos do
azeite para a separação de obreiros para o ministério da Palavra; basta a
imposição de mãos do presbitério (1 Tm 4.14; 2 Tm 1.6). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
A Unção
Particular (10.1-16). O processo de tornar
Saul rei envolveu dois estágios. O primeiro foi a cerimônia privada relatada
aqui. O segundo foi a escolha pública, seguida por uma coroação oficial (10.17-25;
11.14-15). Um vaso de azeite (1) - o azeite de oliva era usado na
cerimônia de unção, o que significa borrifar ou aplicar o óleo sobre a pessoa
que era ungida. O vaso era um jarro de gargalo estreito de onde o óleo saía em
gotas. Os sacerdotes (Êx 28.41, etc.) e os profetas (1 Rs 19.16) eram ungidos;
mas a cerimônia se aplicava particularmente à instalação de reis. O povo frequentemente
se referia ao rei como “o ungido do Senhor” (16.6; 24.6). O termo hebraico mashiach
(em português, “Messias”) significava “o ungido” e aplicava-se ao futuro
rei ideal de Israel. Christos, a palavra grega para “o ungido”, é o
equivalente a Messias, e tornou-se o nome de Jesus de Nazaré. E o beijou -
o típico sinal oriental de sujeição ou de subordinação a um superior. O
Senhor tem te ungido - por meio de seu profeta, que agiu de acordo com as
suas instruções. A sua herdade - terras, herança, posses. Israel
pertencia a Deus em razão tanto da libertação da nação da escravidão no Egito
como da sua escolha de Israel, entre todas as nações, para ser o canal do seu
amor e de redenção para todo o mundo.
A Escolha
Pública (10.17-27. O próximo passo de
Samuel era organizar uma apresentação pública do rei recém- ungido. Com essa
finalidade ele convocou... o povo ao Senhor em Mispa (17), à cidade de
Benjamim que era o lugar das convocações nacionais. Não ficava longe de Ramá,
onde morava Samuel.
As palavras introdutórias de Samuel
recordaram ao povo as libertações de Deus, do Egito e das mãos dos inimigos
(18). Esses fatos imputaram ainda mais culpa à sua rejeição ao seu governo
direto sobre eles, ou seja, a teocracia (19). O povo apresentou-se pelas...
tribos e pelos... milhares. A palavra hebraica para milhares também
significa “famílias”, o que parece ser o caso aqui. Tomou-se a tribo de
Benjamim (20) - isto é, a tribo foi escolhida por sorteio. [Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005, p.196, 198].
3. Os sinais de confirmação da
unção (10.2-7). Três são os sinais
que confirmaram a unção de Saul como o rei de Israel: (1) Saul encontra as
jumentas perdidas de seu pai; (2) ele encontra três homens no Monte Tabor, um
levando três cabritos, outro, três bolos de pão, e o outro, um odre de vinho;
(3) a capacidade de profetizar pelo Espírito de Deus.
O primeiro sinal representava o
trabalho que o rei teria; o segundo apontava para o sustento divino para a
tarefa de Saul; e o terceiro, o rei reinaria sob o Espírito de Deus e, assim,
salvaria Israel de seus inimigos.
Quem é chamado para o ministério
precisa aplicar-se ao trabalho (Jo 5.17); sustentar-se pelo alimento sagrado, a
Palavra de Deus (Dt 8.3; Mt 4.4); e estar cheio do Espírito Santo (Ef 5.18). A
jornada ministerial é pesada; por isso, é preciso estar centrado em Deus em
todo o exercício ministerial. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Saul receberia três sinais
relacionados à veracidade das palavras de Samuel e da certeza da sua escolha
como príncipe e rei: (a) dois homens iriam informá-lo do regresso das jumentas;
(b) ele iria encontrá-los subindo a Deus (3) - isto é,
encaminhando-se para a adoração - e iriam dar parte das suas ofertas a Saul; e
(c) ele iria encontrar um rancho de profetas, e o Espírito do Senhor
desceria sobre ele, a fim de torná-lo um homem diferente. A localização do carvalho
de Tabor não é conhecida. Saul deveria então ir a Gilgal, onde
esperaria sete dias pela vinda de Samuel e receberia instruções (2-8). O
outeiro de Deus (5), ou Gibeah-Elohim, provavelmente uma elevação
perto de Gibeá, uma vez que Saul era bastante conhecido na cidade que tinha
aquele nome (1011). Gibeah é a palavra em hebraico para “colina”, e a
sua tradução é uma questão não resolvida, poderia ser “colina” ou “Gibeá”. [Comentário Bíblico
Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.194].
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“[…] Quando Saul se virou para partir
em direção à sua casa. Deus lhe mudou o
coração em outro (9). O humilde trabalhador rural estava a caminho de
tornar-se um líder militar e civil. O
Espírito de Deus se apoderou dele (10) e os seus conhecidos, ao vê-lo,
perguntavam uns aos outros: Está também
Saul entre os profetas? (11), uma frase destinada a tornar-se famosa em uma
época posterior, sob as mais extremas manifestações de 19.23-24. Tornou-se provérbio (12) não significa
necessariamente a partir daquele momento, mas pode ter sido na época posterior
narrada no capítulo 19. Os versos 6-11 mostram ‘A criação de um novo homem’,
pois Samuel disse a Saul: te mudarás em
outro homem, 6. Aqui temos (1) Redenção – Deus lhe mudou o coração em outro, 9; (2) Renovação – O Espírito de Deus se apoderou dele,
10; e (3) Reconhecimento – todos os que
dantes o conheciam viram que eis que com os profetas profetizava; então disse o
povo, cada qual ao seu companheiro: Que é o que sucedeu ao filho de Quis?” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, p.197).
III. O REI QUE O POVO ESCOLHEU
1. Uma escolha
pautada na aparência. Saul
rejeitou a Palavra do Senhor, assim, brevemente, Deus daria ao povo um rei
segundo o Seu coração (1 Sm 13.13; 15.23). Entretanto, para o povo, Saul era um
candidato que enchia os olhos. Fisicamente, era um homem notável (1 Sm 9.2). 0
povo não via nada além que a aparência humana; mas Deus, que sonda todas as
coisas, conhecia o coração de Saul. Mesmo não sendo o rei ideal do ponto de
vista divino. Deus o designou e o nomeou. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
Saul
tinha boas qualidades físicas, porém, no espiritual, suas qualidades eram péssimas.
Nesse particular, seguindo a visão de Stanley A. Ellisen, ele era impaciente,
imprudente, egoísta, exigente, desobediente a Deus, cheio de ciúme. Era
orgulhoso e não se humilhava quando repreendido pelo Senhor. Com tudo isso,
aprendemos como é perigoso escolher um líder apenas atentando para a capacidade
ou qualidades humanas em detrimento daquilo que é espiritual. Por isso, o
melhor mesmo é orar ao Senhor da seara para que Ele envie a pessoa certa (Lc
10.2).
Temos
que entender que ser rico, bonito e inteligente não impede alguém de fazer a
obra de Deus, mas não necessariamente é um sinal de aprovação divina. Davi é
descrito como sendo um homem de muitas qualidades humanas (1 Sm 16.18). Sua
escolha não se deu por isso, mas, sim, pelo amor e temor que ele manifestava
para com Deus. No tocante à aparência física – que, por vezes, é um tema
presente em Samuel –, na verdade, trata-se de uma ênfase do autor como um tipo
de advertência, que não se deve confiar nisso e que, por vezes, os dons
exteriores podem servir como impedimento, pois corre-se o risco de confiar-se
mais neles do que no Senhor, como aconteceu com Absalão e com Adonias. [O
governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
2. Os direitos do novo
rei. O profeta Samuel
esclareceu que o rei teria os seguintes privilégios: todos estariam sob o
poder do novo rei e prontos para servi-lo na guerra, no trabalho do campo e da
cozinha real, na implantação de impostos, no confisco de escravos para o
trabalho, na produção de perfumes, e na cobrança dos dízimos da produção – no
Antigo Testamento essa é a única vez que se trata de dízimo cobrado pelo rei (1
Sm 8.10-17).
Assim, as
exigências descritas por Samuel faziam parte do novo sistema político que o
povo tanto desejava, um padrão desenvolvido pelas nações gentílicas. No Novo
Testamento, há recomendação evangélica de como o cristão deve se portar na
forma de governo politico-temporal vigente (Rm 13.1-7; 1 Pe 2.13-17). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019]
[...] Samuel declarou ao povo o
direito do reino (25), para que, avisados previamente, estivessem
prevenidos - embora haja conjeturas sobre uma eventual distinção entre o
direito (ou lei) do reino e a “maneira (ou costume) do rei”
(8.11ss.). A lei do reino (“os direitos e deveres da monarquia” ou “os direitos
e deveres de um rei”) representaria os limites constitucionais colocados, por
sanção divina, nos poderes da monarquia; ao passo que “o costume do rei”
representaria os abusos desses poderes que pudessem ocorrer. Samuel escreveu-o
num livro - a primeira menção à escrita desde o tempo de Moisés, e a
primeira referência à escrita entre os profetas. Pô-lo perante o Senhor -
talvez em um Tabernáculo agora reconstruído em Siló, ou talvez em Mispa, de
alguma maneira que desconhecemos. Embora o reinado estivesse aprovado e o rei
fosse apresentado, ainda foi Samuel quem dispersou o povo (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, p.198).
Vivendo
agora um novo momento histórico, tendo um rei, o povo, que antes não prestava
serviço a ninguém e que vivia dominado e orientado pelo Senhor, doravante iria
sair dessa vida autônoma para uma vida de submissão, que envolvia alguns
aspectos: (a) Militar – seriam convocados para a guerra; (b) Agrícola – o
melhor das colheitas seria para o rei; (c) Serviços gerais – as mulheres
trabalhariam como perfumistas, cozinheiras, padeiras, etc.; (d) Impostos –
doravante pagariam impostos ao rei. Note que, no versículo 15, aparece pela
única vez a cobrança feita pelo rei para a entrega do dízimo. A vida livre que
antes Israel vivia agora seria marcada pela imposição. A situação iria cada vez
mais se intensificar, a ponto de os israelitas voltarem-se para o Senhor.
Samuel passa a descrever sobre as exigências reais. Estudiosos falam que elas não
são tão pesadas como as do então Estado Moderno. [O governo divino em mãos humanas”,
editada pela CPAD].
3. O novo sistema político e o
aspecto teológico. Deus sempre
cuidou de Israel; deu-lhe mandamentos, escolheu lideranças para representá-lo
em momentos ímpares, fez com que o povo se arrependesse e se voltasse para Ele
muitas vezes. Agora, não seria diferente. O Senhor não se afastaria da nação.
Se originalmente esta não era a vontade de Deus, o Criador usaria esse modelo
para guiar o seu povo. Ele já preparara um rei segundo o coração dEle (1 Sm
13.14).
Neste novo modelo, a liderança
seria centralizada na pessoa do rei; sacerdotes e profetas representariam o
conselho de Deus para o governo monárquico. Assim, o Altíssimo conduziria o seu
povo pela história. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 5, 3 Novembro, 2019].
Pelo novo sistema político, Deus não
deixaria de trabalhar no meio de seu povo. Os reis deveriam dali em diante
governar tendo como medida o reino superior de Deus, com justiça e equidade.
Caso não procedessem assim, seriam julgados pelo Senhor. Deus havia feito um
pacto perpétuo com a casa de Davi: ela teria que proceder com equidade, porém
sempre fracassou. O que ficou foi a promessa que, da linhagem de Davi, viria o
grande Rei, Jesus, que julgará os povos com justiça (Is 11; Jr 23; Ez 34). [O governo divino em
mãos humanas”, editada pela CPAD].
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“Todos
os anciãos de Israel (4) vieram até Samuel,
para demonstrar uma ampla insatisfação com a situação. A sua exigência de um
rei se baseava em duas razões: já estás
velho, e teus filhos não andam pelos teus caminhos (5), além do desejo de
que o rei pudesse ser o seu juiz ou líder e de que eles pudessem ser como todas as nações. Este desejo de
adequar-se aos outros, rebelando-se contra as características divinas, foi uma
fonte de problemas para o povo de Deus em todas as épocas.
O descontentamento de Samuel (6) não
ocorreu porque o povo julgou que ele estava velho e que os seus filhos não eram
dignos de sucedê-lo, mas porque pediram um rei -fato no qual ele via claramente
implicações profundas com envolvimentos morais e espirituais. Os seus receios
se confirmaram quando o Senhor lhe disse: o
povo não te tem rejeitado a ti; antes, a mim me tem rejeitado, para eu não
reinar sobre ele (7). A nação já tinha uma triste história de rebelião e
idolatria, e estava, agora, apenas fazendo a Samuel o que já havia feito ao
Senhor (8). Esperava-se que o profeta concordasse com o pedido, mas ele
protestou e claramente informou os líderes do resultado da sua escolha (9)” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, p.193).
CONCLUSÃO
Deus é o Senhor da história. Muitas vezes não
conhecemos seus caminhos nem propósitos, mas sabemos que sua vontade é sempre a
mais perfeita e agradável. Não podemos perder de vista que o Pai é quem governa
a nossa vida. Como cristãos, devemos buscar a bênção de que a nossa vontade e
escolhas estejam sempre bem alinhadas com as de Deus. [Lições Bíblicas CPAD, Revista
Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 5, 3 Novembro, 2019].
Na oração de Ana, ela descreve-o como
o Deus que controla tudo, ou seja, o destino do seu povo
e da raça humana. Ele é quem abate e exalta, inclusive é quem dará força
ao rei e ao seu ungido (1 Sm 2.1-10). Assim, entendemos que, no novo
sistema político, a monarquia, Deus continuaria reinando no cenário
humano, mas tendo como representante maior o seu ungido, o qual deveria
representar a justiça do Senhor perante seu povo. Caso não seguisse o padrão
de justiça estabelecido por Deus, o rei, então, seria castigado. [O governo divino em mãos humanas”, editada pela CPAD].
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