SUBSÍDIO I
DAVI É UNGIDO REI
INTRODUÇÃO
Na sequência do
estudo dos livros de Samuel, estudaremos a respeito da escolha de Davi por Deus
para ser o novo rei de Israel. - Davi era o homem segundo o coração de Deus
escolhido pelo Senhor para reinar sobre Israel.
I – A ESCOLHA DE DAVI COMO REI DE ISRAEL
O rei Saul
apresentara-se como um rebelde contra o Senhor e, diante disso, não poderia
mais continuar reinando sobre Israel, sob pena de levar todo o povo à perdição.
Espiritualmente, pois, o reino caminhava muito mal e Deus já revelara ao seu
profeta, Samuel, o desejo de escolher um outro rei, que fizesse a Sua vontade.
Ciente desta disposição e estando afeiçoado a Saul, Samuel começou a interceder
pelo rei, a fim de que Deus pudesse modificar a sua triste sorte (I Sm.16:1).
Estes fatos
mostram-nos como devemos ter muito cuidado na obra do Senhor. Assim como Deus
queria o bem-estar espiritual de Seu povo e isto não era possível com Saul à
frente, diante de seu espírito rebelde, do mesmo modo, nos dias hodiernos, Deus
também não tem prazer em ver “capitães” rebeldes à frente da Igreja do Senhor.
Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo Paulo diz que os que presidem
devem fazê-lo com muito cuidado (Rm.12:8), pois o Senhor a tudo observa e não
admite que rebeldes fiquem à frente de Seu povo.
Em resposta à oração
intercessória de Samuel, o Senhor lhe manda até a casa de Jessé, em Belém de
Judá, pois ali Se tinha provido de um rei entre os filhos de Jessé. Samuel,
numa lição que nos dá, ao saber qual tinha sido a resposta de Deus a seus
pedidos por Saul, prontamente obedeceu, não ficou insistindo nem teimando. Que
possamos todos, ao receber de Deus uma resposta a nossas súplicas, conformarmo-nos
à Sua vontade, pois não se ganha coisa alguma em contender contra o Senhor.
Samuel, porém, sabia
que Saul era um rei duro e impiedoso. Ao receber a ordem divina para ungir a um
dos filhos de Jessé, o profeta, que desfrutava de intimidade com Deus, temeu
por sua vida, pois sabia que Saul não hesitaria em mandar matá-lo, caso
soubesse que ele havia ungido outrem para reinar sobre Israel. O Senhor, então,
dá-lhe uma estratégia, qual seja, a de fosse realizar um sacrifício pacífico em
Belém e que convidasse a Jessé e a sua família e, após o sacrifício, quando
estivessem todos para comer a refeição, Deus indicaria quem deveria ser ungido
(I Sm.16:2,3).
Vemos como Deus
trabalha. O receio de Samuel era justificado. Saul já dera mostra de sua impulsividade
e de seu caráter violento, o que muito explicava a sua rebeldia contra o
Senhor. No entanto, Deus não Se irou contra Samuel nem viu nesta atitude do
profeta uma recusa a realizar a Sua vontade. Prontamente, deu-lhe uma
estratégia em que a ordem divina seria prontamente cumprida e o risco de
perseguição por parte de Saul senão completamente, sensivelmente diminuído.
O mesmo hoje ainda
acontece. Devemos levar ao Senhor as nossas dúvidas e dificuldades quando somos
convocados para o Senhor para realizarmos alguma obra. O que não podemos é
desprezar as reais circunstâncias que se apresentam como obstáculos à
realização da vontade de Deus como também, por conta de tais dificuldades,
deixar de fazer a vontade do Senhor. Muitos hoje ou deixam de lado a prudência
e querem cumprir a vontade de Deus sem o devido cuidado e, diante disto, saem
prejudicados, ou, então, o que é pior, simplesmente desobedecem a Deus por
conta dos problemas que se apresentam. Samuel não fez nem uma coisa, nem outra.
Correu aos pés do Senhor e lhe pediu uma estratégia, exatamente o que Tiago nos
conclama a fazer: “e, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus,
que a todos dá liberalmente, e não lança em rosto, e lhe será dada” (Tg.1:5).
Ao chegar a Belém,
uma pequena cidade de Judá (Mq.5:2), Samuel causou não pequeno alvoroço entre
os anciãos da cidade, pois a presença do homem de Deus nunca era despropositada
ou gratuita. Samuel, porém, apazigua a todos e diz que sua vinda é de paz e que
deveria oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, convidando Jessé e sua família
para a efeméride, o que significava que, após o sacrifício, tomaria a refeição
na residência de Jessé (I Sm.16:4,5).
Após o sacrifício e
já na hora da refeição que se lhe seguia (Lv.7:15-17), Samuel, então, em
obediência à ordem divina, mandou que se lhe trouxessem os filhos de Jessé,
pois o Senhor havia dito que, dentre eles, tinha Se provido de um rei. (I
Sm.16:1).
Chegou, então, o
primogênito de Jessé, Eliabe. Além de ser o primogênito e, portanto, ser, por
força da lei de Moisés, não só aquele que pertencia ao Senhor (Ex.13:2;
Nm.3:13; 8:17), como também o mais abençoado dentre todos os filhos, tanto que
fazia jus à porção dobrada na herança (Dt.21:17), Eliabe era de porte atlético,
guerreiro (I Sm.17:13) e, diante de tantas “evidências”, Samuel não teve dúvida
de que, diante dele, estava o novo rei de Israel (I Sm.16:6).
No entanto, se Samuel
via o exterior e fazia suas avaliações com relação às convenções humanas e, até
mesmo, diante das conclusões humanas diante da lei divina, Deus conhecia o
coração de Eliabe e sabia que ele era um homem covarde e invejoso, apesar de
sua aparência e altura (cf. I Sm.17:28), motivo pelo qual não era o escolhido
do Senhor para reinar sobre Israel (I Sm.16:7). Mesmo Samuel, o homem de Deus
daquele tempo, o homem em que habitava o Espírito Santo (o Espírito, embora
ainda estivesse sobre Saul naquele instante, já não mais operava no rei, o que
fazia de Samuel a única pessoa, que temos conhecimento, naquele instante, a ter
o Espírito de Deus em Israel), não era capaz de conhecer o coração humano, pois
só Deus pode fazê-lo. Por isso, ante esta história da rejeição de Eliabe,
sejamos cuidadosos e não façamos julgamentos precipitados sobre A ou B, pois
não temos condição de saber o que há no interior do homem, o que existe em seu
coração enquanto não convivermos com ele o suficiente para vermos os seus
frutos e, então, sabermos quem ele é (cf. Mt.7:15-20).
Ante estas palavras
do Senhor a Samuel, o profeta mandou que passasse diante dele os outros filhos
de Jessé. Passaram diante de Samuel, então, os sete filhos que ali estavam (I
Sm.16:10), tendo Deus rejeitado a todos eles, inclusive os dois outros
guerreiros, Abinadabe e Samá (por isso, os únicos nomeados no texto sagrado,
nessa ocasião – I Sm.16:8-10).
Quando passou diante
dele o sétimo moço e o Senhor o recusou, Samuel, certamente, ficou atônito.
Deus havia lhe dito que de um dos filhos de Jessé havia Se provido de um rei e
o último acabara de ser rejeitado. Como Samuel, porém, sabia em quem cria,
indagou a Jessé se havia ainda outro filho. Foi, então, que Jessé deu notícia
da existência de um oitavo, o menor, que estava a apascentar as ovelhas. Davi
era o menor, aquele que nem sequer era considerado a ponto de ser convidado
para participar do sacrifício e da refeição que lhe seguiria (I Sm.16:11).
Mais uma vez vemos
como Deus vê diferentemente do homem. Aquele que havia sido desprezado,
desconsiderado, de que ninguém sentiu a falta, era o escolhido de Deus. Isto
ainda continua a acontecer, pois “…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo
para confundir as sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para
confundir as fortes, e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis,
e as que não são para aniquilar as que são, para que nenhuma carne se glorie
perante Ele” (I Co.1:27-29). Temos a visão divina para ver e compreender estas
coisas, ou temos nos prendido às coisas deste mundo e nos tornado cegos ante a
obra do Senhor?
Diante desta notícia,
Samuel, já sabedor de que se trava do escolhido de Deus, mandou que se enviasse
alguém para chamar o filho que restava, pois ninguém se assentaria em roda da
mesa enquanto ele não chegasse. Deus já começava ali a honrar Davi, pois, de
não-convidado, passara a ser o convidado de honra. De desprezado pelo próprio
pai e pela família, passara a ser o homenageado do profeta e ex-juiz de Israel.
De rejeitado pelos homens, passara a ser o escolhido de Deus. Davi, mesmo antes
de ter conhecimento do seu chamado, já prefigurava o Cristo que, de rejeitado
pelos homens e por Israel (Is.53:3; Jo.1:11), foi o escolhido de Deus para ser
posto acima de todos (Fp.2:9-11), a pedra rejeitada que foi posta por cabeça da
esquina (At.4:11).
Muito se discute
sobre o número dos filhos de Jessé. O texto de I Sm.16 fala-nos que havia sete
filhos no banquete e que, depois, Davi foi chamado, o que faz com que o número
de filhos seja de oito, o que é confirmado por I Sm.17:12. Em I Cr.2:13-15,
entretanto, Davi é apontado como o sétimo filho de Jessé, como se Jessé tivesse
apenas sete filhos e não oito como constou em I Sm. Em I Cr., aliás, são dados
os nomes de todos os filhos de Jessé, o que não ocorre em I Sm., que apenas dá
o nome dos três mais velhos (Eliabe, Abinadabe e Simeia ou Samá), que eram os
filhos de Jessé que faziam parte do exército de Israel (I Sm.17:13). Ali
ficamos sabemos os nomes dos outros três, a saber: Netanel, Radai e Ozem (I
Cr.2:14,15). Diante desta divergência, há, inclusive, quem aí veja uma
“contradição da Bíblia”, querendo, com isso, infirmar a origem divina do texto
sagrado.
Esta dificuldade, por
primeiro, não tem o condão de trazer qualquer dúvida quanto ao fato de a Bíblia
ser a Palavra de Deus. A revelação divina ao homem e o cumprimento de tudo
quanto está nas Escrituras não pode ser simplesmente anulado ou posto em dúvida
porque dois textos, muito provavelmente escritos num intervalo entre eles de
mais de quinhentos anos (pois os livros de Samuel foram escritos durante os
reinados de Davi e Salomão e os livros das Crônicas são obras posteriores ao
cativeiro da Babilônia, muito provavelmente escritos por Esdras), destoam
quanto ao número de filhos de Jessé, uma informação absolutamente secundária,
para não dizer terciária, quaternária etc.
Por segundo, tem-se
que os livros das Crônicas são baseados em registros feitos anteriormente (I
Cr.4:38) e, nestes registros, que não foram inspirados pelo Espírito Santo e,
portanto, não são dotados de infalibilidade, não constava senão o nome de sete
filhos de Jessé. Por quê? Ora, um deles muito bem pode ter morrido sem deixar
descendentes e antes mesmo de Davi subir ao trono, quando, então, se teve o
cuidado de fazer os registros a respeito da família que então se tornou a
família real. Isto é possível e não pode ser refutado, e só esta possibilidade
elimina a hipótese de “contradição”. O importante é que, em ambos os textos,
Davi é apresentado como “o filho menor”, que é o objetivo da revelação divina,
ou seja, mostrar que a escolha de Davi foi divina e fora de quaisquer
parâmetros humanos, o que é relevantíssimo no que toca ao desenvolvimento do
plano de Deus para a salvação do homem.
Quando Davi
chegou, a Bíblia diz que ele era ruivo, formoso de semblante e de boa presença. Esta descrição
física do jovem mostra-nos claramente que Davi não era rejeitado porque fosse
defeituoso ou uma pessoa feia, mas, única e exclusivamente, porque era “o filho
menor”, em virtude das convenções sociais de seu tempo. Era um rapaz bonito,
bem- apessoado, simpático e educado, mas que era desprezado por conta de sua
qualidade de filho caçula. Isto também impede que se diga que Davi era um filho
bastardo ou algo semelhante, como se chegou mesmo a apregoar. Se o fosse, isto,
certamente, não impediria a escolha da parte de Deus, mas não podemos inferir
tal afirmação pois o texto sagrado não nos permite fazê-lo, visto que a Bíblia
jamais omitiria tal dado, caso ele existisse, como, por exemplo, vemos no caso
de Jefté (Jz.11:1,2).
Discute-se se Davi
era “ruivo” mesmo ou se o termo não foi corretamente traduzido, querendo dizer
“loiro” ou “claro” em relação aos seus irmãos, que deveriam ser mais escuros.
Muitos acham que a expressão revela que Davi era “bronzeado” ou “moreno” (como
traduziu a Nova Versão Internacional), em virtude de sua exposição ao sol. De
qualquer maneira, ele se distinguia dos seus irmãos na sua aparência física.
Não tinha o corpo atlético e “sarado” de seus irmãos mais velhos, mas era de
“gentil aspecto”, ou seja, uma pessoa simpática que transmitia ternura e
dulçor, algo bem diferente da imagem que Israel tinha para um rei e que tanto
havia se adaptado à aparência física de Saul. Como os olhos humanos se enganam…
Quando Davi chegou,
Samuel somente o ungiu depois que o Senhor lhe mandou, prova de que aprendera a
lição de que só Deus conhece o coração do homem. Apesar das evidências, o
profeta se manteve obediente à voz do Senhor e, quando o Senhor confirmou que
aquele era o escolhido, tomou o vaso de azeite e ungiu Davi no meio de seus
irmãos. Este ato, apesar de solene, foi sobretudo um ato espiritual, que teve
efeito imediato tão somente no interior de Davi, pois a Bíblia diz que, a
partir daquele instante, o Espírito de Deus Se apoderou de Davi (I Sm.16:13).
Do ponto-de-vista
exterior, após aquela unção, todos tomaram a refeição e Samuel, como nos diz o
texto sagrado, levantou-se e tornou a Ramá. Enquanto isto, “o novo rei”, no dia
seguinte, voltou a apascentar as ovelhas de seu pai. Nada, aparentemente, havia
mudado, tudo como antes.
Na verdade, porém,
Davi não era mais o mesmo. Assim como Saul, quando ungido, tornou-se um outro
homem (I Sm.10:6), Davi também teve alterado o seu estado espiritual. No
entanto, se Saul profetizou logo em seguida ao apossamento do Espírito, o mesmo
não se deu com Davi. No entanto, diz-nos a Bíblia, o Espírito do Senhor se
retirou de Saul, como resultado direto da unção de Davi e, a partir de então,
Saul ficou à mercê de um espírito maligno, enviado da parte do Senhor, ou seja,
por Sua vontade permissiva (I Sm.16:14).
Como estávamos ainda
na dispensação da lei, vemos que o Espírito operava sob medida e, diante da
rejeição divina a Saul, não podia mais o Espírito habitar em Saul quando se
ungiu um novo rei. Por isso, o Espírito Se apoderou de Davi e, simultaneamente,
Se retirou de Saul. Espiritualmente, pois, já havia ocorrido a sucessão. Davi
só viria a ocupar o trono muitos anos depois, mas, diante de Deus, a sucessão
já se fizera. Havia um novo rei, um novo ungido em Israel.
O mesmo ocorre nos
dias hodiernos. Quando somos salvos pelo Senhor, o Espírito Santo vem habitar
em nós (Jo.14:17; Rm.8:9), sem que, para isso, porém, tenha de sair de ninguém
mais. Agora o Espírito Santo atua livremente, não mais por medida (Jo.3:34), de
sorte que podemos desfrutar da condição de templos do Espírito Santo
independentemente da conduta dos demais (I Co.6:19). No entanto, se
entristecermos o Espírito Santo e, em mantendo nossa conduta pecaminosa, O
agravarmos (Ef.4:30; Hb.10:29), corremos sério risco de cairmos na mesma
situação de Saul, quando não um, mas até mesmo oito espíritos malignos podem
nos causar enorme e, por vezes, irremediável prejuízo espiritual em nossas
vidas (Mt.12:43-45; Lc.11:25-26; Hb.10:30,31).
II – PRIMEIRAS CONSEQUÊNCIAS DA UNÇÃO DE DAVI
Davi não era mais o mesmo desde a sua unção. Aparentemente, tudo
ficara do mesmo jeito. Ele continuava sendo “o filho menor de Jessé que
apascentava as ovelhas de seu pai”. O rei de Israel ainda era Saul e a situação
política e militar de tensão entre israelitas e filisteus não havia tido
qualquer alteração depois daquela visita de Samuel a Belém.
Nos dias hodiernos,
muitos se confundem porque acham que as coisas devem acontecer de imediato. Nos
lugares celestiais em Cristo, elas ocorrem assim que Deus as quer, mas, neste
mundo material, neste planeta Terra, tudo tem de esperar a “plenitude dos
tempos” (Gl.4:4). Não sabemos quanto tempo demorou entre a unção de Davi e a
sua subida ao trono, pois as Escrituras não informam a idade de Davi ao ser
ungido, apenas relatando que começou a reinar com trinta anos (II Sm.5:2),.
Parece, mesmo, que o Senhor quis, propositadamente, omitir este dado aos
homens, a fim de que, nesta omissão, aprendêssemos a lição de esperar com
paciência no Senhor, o que, aliás, nos é explicitamente cantado por ninguém
mais, ninguém menos que o próprio Davi no salmo 40 (Sl.40:1). Não foram,
certamente, poucos os anos entre a unção e a subida ao trono.
Ainda que continuasse
a apascentar as ovelhas de seu pai, Davi era agora um outro homem. Não sabemos
se antes Davi já não mantinha uma vida de adoração a Deus (o que é bem
provável), mas o fato é que, com a unção, Davi passou a ter uma vida de
adoração a Deus que se intensificou e passou a ser notada. Em I Sm.16:18, é
dito que um dos mancebos que serviam ao rei Saul lhe falou a respeito de Davi,
que era uma pessoa que sabia tocar e que Deus era com ele. Este “saber tocar
bem” não só nos fala do conhecimento técnico de Davi, mas, sobretudo, de sua
vida espiritual, afinal de contas, pelo que nos mostra o contexto, estava-se a
procurar alguém que “Deus fosse com ele”, a fim de expulsar o espírito maligno
que atormentava o rei Saul.
Davi tinha recebido o Espírito Santo e, aliado à técnica
que já possuía, passou a adorar a Deus com um verdadeiro louvor. É desta época já
que vemos nascer aquele que haveria de ser “o suave em salmos de Israel” (II
Sm.23:1 “in fine”, isto é, a parte final do versículo). A presença do Espírito
Santo na vida de alguém faz com que este alguém passe a ter uma vida de
adoração, passe a servir ao Senhor, inclusive no que toca ao louvor, um louvor
que faz afugentar o maligno, um louvor que é contrário a Satanás. Como, então,
podemos admitir “louvores” na atualidade que têm suas raízes e sua razão de ser
em cultos de adoração ao diabo, como o samba, filho dos terreiros de candomblé
ou o “rock”, criado para a satisfação da carne, ou, como na sua versão “heavy
metal”, criado pelos satanistas para adorarem ao diabo?
OBS: “…Depois
de tudo isto, surgiu a música gospel, que teve grande influência do rock, jazz,
pop, funk etc., criada com o intuito de trazer aqueles jovens para dentro das
igrejas. No entanto, esta música não tem compromisso em ser perfeita para
adoração, pois não se diferencia da música secular, destina-se ao homem e não a
Deus. Para atrair o jovem à igreja, o único caminho é a cruz de Cristo.
Chegamos ao ponto de determinadas ‘igrejas’, no afã de atrair os jovens,
promoverem até mesmo pagode com feijoada e, na época de carnaval, formam com os
seus fiéis, blocos de samba e, mais recentemente, trouxeram para dentro das
igrejas, as lutas do tipo ‘vale-tudo’( será que isto é a forma de evangelizar e
agradar a Deus?).…” (LEITE, Edson Luiz Tenório. Palestra sobre música na
igreja. Março/2009).
Deus começa, então, a
agir. Atormentado por um espírito maligno, o rei Saul é orientado a buscar um
músico ungido, que tocasse bem harpa e afugentasse o espírito maligno. É interessante
que um dos mancebos do rei é quem dá a notícia ao rei da existência de Davi,
certamente porque, em alguma ocasião, viu Davi tocando e sentiu que o Senhor
era com aquele jovem.
Mostra-se, então, que
Davi não era mais o mesmo desde a unção. Sua música, tocada
despretensiosamente, enquanto apascentava as ovelhas de seu pai, já não era a
mesma. Mexia com as pessoas, fazia com que elas sentissem a presença de Deus.
Davi, que já então tinha a visitação do Espírito Santo, talvez ali já começasse
a entoar os seus primeiros salmos, a falar profeticamente. Não fazia isto para
exibir-se ou apresentar-se a quem quer que seja, pois, muito provavelmente, não
tinha sequer conhecimento de que era ouvido e notado pelos que se encontravam
com ele no campo, muito menos que haveria de ser mencionado por um dos mancebos
ao rei Saul, mas tudo fazia porque tinha prazer em louvar e adorar ao Senhor.
O salvo tem de
proceder do mesmo modo. Tem de, no campo (que é o mundo, como se vê de
Mt.13:38), louvar e adorar ao Senhor, no anonimato, como resultado de sua
gratidão a Deus por tão grande salvação e pela presença do Espírito Santo em
seu interior. Deve fazer com que a sua atividade profissional, o seu meio de
vida para a satisfação de suas necessidades materiais, seja um instrumento de
louvor e adoração ao Senhor. Assim fazendo, certamente será notado e um vaso de
Deus para a libertação de todos os oprimidos do diabo (At.10:38). Como temos
nos comportado no campo? Quais têm sido as atitudes diante dos homens? Não nos
esqueçamos de que somos espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens (I Co.4:9).
Um dos mancebos
percebeu que Davi sabia tocar, era valente e animoso, homem de guerra, sisudo
em palavras, de gentil presença e com quem o Senhor estava (I Sm.16:18). Que
testemunho dava Davi depois que fora ungido! Antes, era apenas ruivo, formoso
de semblante e de boa presença, ou seja, suas qualidades eram basicamente
físicas, relacionadas com o seu corpo, sua aparência, ou seja, com a vida
terrena, com as coisas desta vida. Depois da unção, o jovem, embora continuasse
fisicamente atraente, era muito mais do que isto: era valente e animoso, homem
de guerra e sisudo em palavras, além do que mostrava, claramente, que o Senhor
estava com ele.
Que diferença vemos,
nos dias hodiernos, entre os jovens que cristãos se dizem ser. Estão somente
preocupados com a aparência física, são facilmente levados pela mídia e aderem
irrefletidamente à moda, aos ditames sociais a respeito da aparência e da maneira
de vestir e de se comportar, pouco se importando se isto corresponde, ou não,
aos princípios bíblicos, quase sempre tachados de “mandamentos de homens”,
“atraso” ou “coisas do passado”, como se a Palavra de Deus perdesse seu vigor
ao longo dos anos. Assim, vemos jovens se preocupando muito mais com o exterior
do que com sua vida espiritual, do que com sua intimidade com o Senhor. Nos
congressos e encontros, então, o que vale é o uniforme, os penteados, as
maquiagens e não, propriamente, a presença do Espírito de Deus, os reais
batismos com o Espírito Santo e a manifestação dos dons espirituais.
Davi, embora fosse
bonito, não estava se importando com isto. Pelo contrário, a presença do
Espírito Santo na sua vida fez com que se mostrasse um jovem valente. Davi era
valente e não “valentão”. Não era um espancador, um homem violento. Não, não e
não! Era valente, ou seja, não tinha medo, era corajoso, sabendo enfrentar as
feras que ameaçavam o rebanho de seu pai. Sabia enfrentar o mal. Quantos jovens
hoje têm esta qualidade? Quantos podem dizer, como canta o poeta sacro Almeida
Sobrinho no hino 225 da Harpa Cristã, que, na batalha contra o mal, segue em
marcha triunfal, olha para Jesus, não deixa a sua cruz, enfrenta o maligno,
luta sem recuar, é franco, não teme o mal, manifesta o amor aos caídos em
redor, proclama o Evangelho, vive sempre com Jesus e vence a si próprio?
A presença do Espírito Santo na vida de alguém faz com
que ela se torne valente. Por isso, é dito que os tímidos, os covardes não herdam
o reino de Deus (Ap.21:8), porque eles não têm fé (Mc.4:40), não têm o Espírito
Santo em suas vidas. Por isso, ao vermos tantos que cristãos se dizem ser, na
atualidade, sem qualquer valentia, não podemos ter outra conclusão senão a de
que não pertencem, infelizmente, ao corpo de Cristo.
Mas, além de valente, com a unção, Davi se tornou,
também, animoso.
Na Versão Almeida e Atualizada, como na Tradução Brasileira, o termo utilizado
é “forte”. Não basta ser valente, é preciso ser “forte”, ou seja, ter força, ter
sustentação para suportar as adversidades. O salvo também é um forte, pois é
fortificado na graça que há em Cristo Jesus (II Tm.2:1). A força dada por Deus
nos permite passar por todas as coisas, inclusive pelas necessidades e
carências (Fp.4:13). É o Espírito Santo quem nos dá a força necessária para o
nosso coração (Sl.104:15).
A presença do
Espírito Santo na vida de Davi já havia modificado a impressão que causava
diante dos homens. Se, antes da unção, era visto apenas como alguém formoso de
semblante e de gentil presença, agora já inspirava respeito e temor no
ponto-de-vista humano e militar. Era tido como “animoso” e como “homem de
guerra”. Davi não havia ainda sequer feito parte do exército de Israel (basta
ver que, mesmo depois destes fatos, não foi chamado para a guerra contra os
filisteus, mas somente seus três irmãos mais velhos – I Sm.17:13), mas já era
notado e sentido como um “homem de guerra”. Que era isto? O resultado da
presença do Espírito Santo na sua vida!
O salvo, também, não
precisa “convocar batalhas espirituais”, nem ficar à procura de “espíritos
territoriais” e tantas outras tolices que os defensores da chamada “teologia da
batalha espiritual” têm espalhado no meio das igrejas locais em nossos dias. A
simples presença do Espírito Santo faz com que seja visto como um “homem de
guerra”, seja notado como alguém que tem comunhão com Deus. Eis a fonte de uma
série de “ódios à primeira vista” de que os salvos são alvo no trabalho, na
escola, na vizinhança. Quando passamos a fazer parte da Igreja, as portas do
inferno se levantam contra nós, mas, graças a Deus, jamais prevalecerão contra
nós (Mt.16:18). Aleluia!
Mas Davi tinha,
ainda, outra característica, após a sua unção, que não na tinha antes: ser sisudo em palavras, ou seja, ser prudente
em palavras, ter sabedoria ao falar. A presença do Espírito Santo dá-nos
prudência, dá-nos sabedoria, pois o temor do Senhor é o princípio da sabedoria
e a prudência, a ciência do Santo (Pv.9:10). Davi cedo foi instruído pelo
Espírito de Deus a saber falar, a saber se conduzir, o que seria indispensável
para que pudesse vir a reinar em Israel. A prudência é uma qualidade que
devemos sempre buscar junto ao Senhor.
OBS: Por
sua biblicidade, transcrevemos pronunciamento do ex-chefe da Igreja Romana, o Papa
Emérito Bento XVI, a respeito da prudência e seu importante papel na vida do
servo de Deus: “… A segunda característica que Jesus requer do servo é a
prudência. Isto exige que, de pronto, se evite um mal-entendido. A prudência é
coisa diversa da astúcia. Prudência, segundo a tradição filosófica grega, é a
primeira das virtudes cardeais: indica o primado da verdade, que, mediante a
“prudência” se torna critério de nosso agir. A prudência exige a razão humilde,
disciplinada e vigilante, que não se deixa abalar com os prejuízos; não julga
segundo os desejos e paixão, mas segundo a verdade — mesmo a verdade que
incomoda. A prudência significa pôr-se em busca da verdade e agir de acordo com
ela. O servo prudente é, sobretudo, um homem de verdade e um homem de razão
sincera. Deus, por meio de Jesus Cristo, escancarou a janela da verdade que,
diante de nossas forças, permanece rígida, ainda que transparente. Ela se
mostra nas Escrituras Sagradas e na fé da Igreja, a verdade essencial sobre o
homem, que imprime a direção justa ao nosso agir. Assim, a primeira virtude
cardeal do ministro de Jesus Cristo consiste em se deixar plasmar pela verdade
de Cristo que se lhe mostra. Desta maneira, tornamo-nos homens verdadeiramente razoáveis,
que julgam com base no conjunto e não a partir de detalhes casuais. Não nos
deixemos guiar pela pequena janela de nossa astúcia pessoal, mas pela grande
janela da verdade integral que Cristo nos abriu, olhemos o mundo e os homens e
reconheçamos aquilo que verdadeiramente conta nesta vida.” (BENTO XVI. Homilia
na consagração episcopal ocorrida na Basílica Vaticana em 12 de setembro de
2009. Disponível em:
http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/24320.php?index=24320&po_date=12.09.2009&lang=po
Acesso em 12 set. 2009) (tradução nossa de texto em italiano).
Diante deste
testemunho dado pelo mancebo, Saul resolveu mandar chamar aquele jovem para que
lhe viesse tocar harpa a fim de aliviá-lo da presença do espírito maligno. É
interessante vermos a mensagem que Saul mandou a Jessé: “envia-me Davi, teu
filho, o que está com as ovelhas”. Apesar de todas as qualidades apresentadas
pelo jovem, o que mais o caracterizava, o que o tornava peculiar era o fato de
estar com as ovelhas de seu pai, era a sua qualidade de pastor. Foi por causa
disto que havia sido escolhido por Deus, era por causa disto que haveria de se
notabilizar. Davi foi chamado para ser levado até a presença do rei, como uma
linda figura de que precisamos ser chamados para servirmos junto ao Rei dos
reis e Senhor dos senhores. Davi não foi até Saul para oferecer os seus
serviços e, humanamente falando, até poderia fazê-lo, já que havia sido ungido
como o novo rei de Israel. No entanto, soube esperar o momento de Deus para
assumir o trono, e esta ida até o rei seria apenas um primeiro estágio, um
primeiro contato com a vida da corte.
Mandado por seu pai,
Davi se apresenta ao rei com um presente da parte de Jessé. Levou um jumento
carregado de pão, um odre de vinho e um cabrito (I Sm.16:20). Davi começa bem e
diferente de Saul. Enquanto Saul tinha ido completamente desprovido de
presentes e ofertas ao sacerdote e profeta Samuel, então o governante de Israel
(I Sm.9:7,8), Davi, bem instruído por seu pai, chega à presença do rei com algo
a lhe oferecer. Temos consciência de que temos de comparecer com algo diante do
Rei Jesus? Como diz o poeta sacro Simon Lündgren, no hino 16 da Harpa Cristã:
“Posso, tendo as mãos vazias, com Jesus eu m’encontrar? Nada fiz e vão-se os
dias, que Lhe posso apresentar? (…) Quantas almas poderia ao Senhor
apresentar?” (primeira estrofe e refrão). Muitos, hoje em dia, entretanto, não
tem esta preocupação, são piores que Saul e Davi, pois Saul, embora nada
tivesse para oferecer ao profeta, só foi à sua presença depois que seu moço lhe
disse ter algo a dar ao profeta…
Este jumento levado
por Davi a Saul também nos traz importantes lições a respeito das consequências
da unção do Espírito Santo na vida do jovem Davi. O jumento estava carregado,
prova de que havia abundância. A vida trazida pelo Espírito Santo é uma vida
abundante, não é uma vida mesquinha. Ficamos muito impressionados com a vida
espiritual medíocre que muitos estão vivendo na atualidade. O Espírito Santo
não é dado por medida (Jo.3:34) e, portanto, não podemos nos conformar com esta
mesquinhez, que é antes um indicativo da ausência do Espírito do que qualquer
outra coisa. Que nosso seja o pedido do hino traduzido/adaptado por Paulo
Leivas Macalão: “Nós queremos ter vida abundante de pureza e de santidade, para
amarmos a Deus em verdade, pela graça que Ele nos deu. Vem nos dar Tua vida
abundante, nosso amado e divino Senhor. Tua vida de gozo exultante, abundante
no Consolador.” (primeira estrofe e refrão do hino 374 da Harpa Cristã).
Mas a carga do jumento
também é elucidativa. Trazia Davi a Saul pão, símbolo maior da Palavra de Deus,
o alimento espiritual por excelência. “Nem só de pão viverá o homem, mas de
toda a palavra que sai da boca de Deus”, disse o Senhor quando tentado pelo
diabo, repetindo palavras escritas por Moisés (Dt.8:3; Mt.4:4b). A presença do
Espírito Santo na vida do homem faz com que ele queira mais e mais da Palavra
de Deus. Como, então, entender como manifestação do Espírito Santo reuniões
onde a Palavra de Deus é exígua, quando não totalmente inexistente, como é o
caso dos malfadados e funestos “louvorzões” que estão a empestar as igrejas
locais na atualidade?
Além de pão, o
jumento trouxe um odre de vinho, vinho que é o símbolo da alegria (Ec.10:19). A
presença do Espírito Santo traz alegria ao homem, a verdadeira alegria, que não
depende das circunstâncias nem do momento para se manifestar, mas a alegria
perene, a sensação de satisfação pela comunhão com Deus, a alegria manifestada
pelo advogado norte-americano Horatio Gates Spafford (1828-1868), autor do hino
“Sou feliz com Jesus”, feito em adoração a Deus depois da perda de todos os
seus filhos no naufrágio do vapor francês ‘Ville de Havre” em 1874, onde diz:
“Se paz a mais doce me deres gozar, se dor a mais forte sofrer; oh, seja onde
for, Tu me fazer saber que feliz com Jesus hei de estar. Sou feliz com Jesus,
sou feliz com Jesus, meu Senhor.” (primeira estrofe do hino 230 do Hinário
Adventista). Como, pois, entender que há presença do Espírito Santo na vida
daqueles que não têm prazer em servir ao Senhor, que não gostam de participar
dos cultos e das reuniões, que vivem cabisbaixos e depressivos por causa das
dificuldades da vida?
Mas o jumento também
trazia um cabrito, um animal que deveria ser sacrificado para ser consumido
pelo rei. Tal presente nos lembra a necessidade de jamais nos esquecermos do
papel do sacrifício de Cristo, meio pelo qual pudemos nos chegar à mesa do
Senhor e ter com Deus comunhão. A centralidade de Jesus em nossas vidas tem de
ser uma constante. Como diz querido irmão que sempre nos acompanha em nossas
idas e vindas, nunca podemos nos esquecer do Calvário, jamais podemos tirar de
nossa mente a cruz do Calvário, algo que tem sido tão esquecidos nos dias
hodiernos. A presença do Espírito Santo em nossas vidas não nos permite
esquecer a “palavra da cruz” e nos faz pregar a Cristo e Este, crucificado (I
Co.2:2).
OBS:
Não devemos olvidar que o cabrito, assim como o cordeiro, era animal que podia
ser utilizado para a celebração da Páscoa (Ex.12:5), motivo pelo qual podemos
relacionar o cabrito desta passagem bíblica à figura de Nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo, a nossa páscoa (I Co.5:7).
Davi foi até Saul e, diz-nos o texto sagrado, que esteve
perante ele, ou seja, passou a trabalhar para o rei. A dedicação de Davi
foi tanta que a Bíblia nos diz que Saul o amou muito (I Sm.16:21). Não é à toa
que o nome de Davi significa “amado”. Sua presença gentil e, sobretudo, a sua
dedicação e zelo conquistavam os corações daqueles que desfrutavam da sua
companhia. Davi era um servo exemplar, alguém que tinha prazer em servir e,
neste particular, encontramos mais uma característica que faz da nossa
personagem deste trimestre como um tipo de Cristo, o Servo do Senhor, o Servo
por excelência (Is.42:1; 49:3; 52:13; Mt.20:28; Mc.10:45).
De igual modo, nós,
que fomos salvos pelo Senhor Jesus, devemos, também, servir. O principal título
que devemos ter é o de “servo de Jesus Cristo”, como, aliás, gostava de se
identificar o apóstolo Paulo. Nos dias de apostasia em que vivemos, porém,
muitos são os que querem ser servidos em vez de servir. Acumulam para si
honrarias e servidores, mas não querem servir, numa postura completamente
oposta à determinada pelo Senhor Jesus aos Seus discípulos (Mc.10:42-45). A
figura do pastor, aliás, é bem elucidativa a este respeito: embora seja aquele
que conduz o rebanho, seja o único racional no meio de seres irracionais, é o
pastor que serve as ovelhas e não o contrário. Estamos dispostos a servir?
Davi não impressionou
o rei Saul pela sua unção, pelo fato de, ao tocar sua harpa, o espírito maligno
se retirar do rei atormentado. Davi não se fez prevalecer nem foi amado por
causa do poder de Deus que nele estava, mas, sim, por causa do seu serviço, de
seu trabalho, de sua dedicação. Assim devemos proceder na obra do Senhor. É
certo que temos de mostrar o poder de Deus que há em nós, mas não é esta
manifestação do poder de Deus que deve ser o fator a nos levar a obter o
respeito, a consideração e o amor dos nossos irmãos e do mundo, como,
infelizmente, tem ocorrido em tantos lugares, mas o nosso serviço, a nossa
dedicação, o nosso amor a Deus. Muitos têm fracassado espiritualmente porque se
deixam ser considerados pelo poder de Deus que neles opera (cf. Ef.3:20) e
facilmente se esquecem que o poder é de Deus e não deles e que devem eles se
afirmar entre o povo como vasos de barro, como pessoas dedicadas e servidoras
(cf. II Co.4:7). Por não se comportarem assim, envaidecem-se e têm um fim
semelhante ao do soberbo rei Uzias (II Cr.26:16-21). Que Deus nos guarde!
A dedicação de Davi bem como o seu porte diante do rei
fez com que Saul o amasse muito (I Sm.16:21) e o fizesse seu pajem de armas,
ou seja, seu escudeiro, aquele que carregava as armas. Entrava, assim, Davi em
contato com o exército do rei, ainda que como mero pajem de armas. É pelo
serviço dedicado que o Senhor abre as portas para que adentremos, ainda que
humildemente, no caminho que ele tem determinado para o nosso ministério diante
d’Ele.
A presença do Espírito Santo na vida de Davi se fez
sentir, também, no fato de Davi, com sua harpa, afugentar o espírito maligno
que atormentava Saul.
Isto era um indicador de que Davi estava cheio do Espírito Santo. O Espírito
que nele estava lhe dava o poder para que, com o dedilhar de sua harpa,
houvesse a fuga do demônio que afligia o rei.
A unção do Espírito Santo dá-nos poder sobre os demônios. É um sinal que
segue aos que creem (Mc.16:17). Nos dias hodiernos, muitos querem “amarrar o
demônio”, “entrevistar o demônio” e há, mesmo, aqueles que nem acreditam mais
em demônios ou que nem sequer se incomodam com eles, que passeiam livremente
por entre os crentes nos cultos frios e despidos da presença do Senhor que cada
vez mais ocorrem nas igrejas locais. Entretanto, a presença do Espírito Santo
faz com que os espíritos malignos sejam expulsos, saiam do meio do povo de
Deus.
O verdadeiro louvor,
o louvor baseado nas Escrituras Sagradas, o louvor resultante de uma vida santa
e piedosa, de um ritmo consagrado ao Senhor, faz com que os demônios
desapareçam, que os espíritos malignos se retirem daquele ambiente. Por que não
se vê isto mais nas igrejas? Simplesmente, porque não há “Davis” a entoar e a
cantar os louvores a Deus, não há vidas cheias do Espírito Santo a interpretar
obras genuinamente sacras e destinadas ao louvor do Senhor. Enquanto estivermos
nos “balanços”, nas “baladas”, nos ritmos destinados ao homem e/ou ao diabo,
estaremos bem longe de expulsar os demônios. Aliás, verdade seja dita, em
muitos lugares, hoje em dia, há invocação dos demônios por este
“pseudo-louvor”, uma vez que são usados ritmos e instrumentos que foram criados
para chamar os espíritos malignos, como o samba, pontos de macumba, agogôs,
atabaques etc. etc. etc.
Davi inicia a sua vida junto ao trono como o carregador
das armas de Saul.
Que exemplo a ser seguido! Embora fosse já considerado um jovem valente (I
Sm.16:18), com capacidade para ser um bom soldado (I Sm.16:18 NTLH), um homem
de guerra (I Sm.16:18 ARA, ARC), um guerreiro (I Sm.16:18 TB, NVI), o jovem foi
posto tão somente para carregar as armas. E qual foi a sua reação? Obedeceu,
passou a servir ao rei com a mesma dedicação que havia servido ao seu pai no
pastoreio das ovelhas. Quantos que, chamados por Deus para ser generais, não
aceitam começar como carregadores de armas e, por causa disto, jamais chegam a
comandar exércitos na luta espiritual contra o mal. Aprendamos a lição da humildade
de espírito com Davi!
Davi foi, então,
“efetivado” como pajem de armas pelo rei Saul, que deu ordem a Jessé para que o
deixasse em sua companhia (I Sm.16:22). Muitos procuram encontrar neste texto
uma “contradição”, pois, no capítulo seguinte, vemos Davi novamente servindo a
seu pai, apascentando suas ovelhas. Não há, porém, qualquer contradição: os
servidores do rei não serviam ininterruptamente. A monarquia israelita ainda
estava em seu início e não havia uma estrutura burocrática permanente e
constante. Os servidores atuavam durante parte do ano e, depois, voltavam a
suas famílias, até porque, nesta época, não havia sequer uma capital em Israel.
Por isso, Davi, embora tenha sido “efetivado”, não ficava sempre com o rei e,
em mais uma demonstração de sua humildade e espírito servidor, quando retornava
à casa de seu pai, retomava a sua tarefa de pastor de ovelhas. Que exemplo, que
dedicação que devemos seguir na obra do Senhor!
Davi tornava-se,
assim, um próximo de Saul, ainda não tão próximo, mas era necessário que fosse
um próximo, pois Samuel havia dito que o reino passaria de Saul para um próximo
dele (I Sm.15:28) e, como sabemos, nenhuma palavra dita por Samuel o Senhor
deixava cair em terra (I Sm.3:19).
III – O INGRESSO DE DAVI NA CORTE DE SAUL
Davi não seria apenas
o tocador oficial de Saul nem tampouco seu pajem de armas. Sua aproximação para
com o rei iria aumentar ainda mais, pois o Senhor tinha o propósito de
prepará-lo para reinar sobre Israel e, como tal, tinha ele de conviver na corte
de Saul.
A primeira oportunidade que o Senhor criou para que Davi
pudesse se inserir de vez neste ambiente real foi uma nova guerra entre Israel
e os filisteus (I
Sm.17:1-3).
Saul dispôs as suas
tropas diante dos filisteus, numa localidade chamada “vale do carvalho” (I
Sm.17:2). Um vale separava os dois exércitos.
Nesta situação de
iminência de batalha, que, inclusive, já havia sido ordenada por Saul (I
Sm.17:2), saiu do arraial dos filisteus um homem guerreiro chamado “Golias”, nome cujo significado é
“exílio”, embora haja alguns estudiosos que entendem que o significado seja
“forte”, “vigoroso”. Ele era de Gate, uma das cinco cidades filisteias (Gaza,
Asdode, Asquelom, Gate e Ecrom – Js.13:3) e se destacava por sua descomunal
compleição física. Com efeito, Golias media dois metros e noventa centímetros
de altura. Tamanha altura faz com que alguns estudiosos da Bíblia entendam que,
embora morasse em Gate, Golias fosse, na verdade, descendente dos “refains”, os
gigantes que moravam em Canaã (Gn.15:20; Js.17:15) e que haviam sido
desalojados pelos amonitas (Dt.2:19-21) e, provavelmente, alguns remanescentes
teriam ido habitar com os filisteus.
Além de ser
extremamente alto, Golias trazia na cabeça um capacete de bronze e vestia uma
couraça de escamas de bronze e o peso da couraça era de sessenta quilos. Usava,
também, caneleiras de bronze e um dardo de bronze pendurado nas costas. A haste
de sua lança era parecida com a lançadeira de tecelão e sua ponta de ferro
pesava sete quilos e duzentos gramas. Além do mais, diante dele, ia um
escudeiro.
A visão de Golias era aterradora. Com sua altura e
com o tamanho e qualidade de suas armas, lembrando que os filisteus somente
tinham o domínio da metalurgia naquela época em Canaã, não havia como gerar o
pânico e o medo entre os soldados israelitas.
Aprendemos aqui mais
uma lição espiritual: o inimigo sempre atua levando em conta os nossos
sentidos. Golias impressionava pela sua aparência, “caprichava” em sua
apresentação diante dos israelitas e, por este motivo, causava medo, pavor,
pânico entre os soldados israelitas.
De igual maneira, o
diabo atua entre nós. Procura nos manter presos ao que vemos, ouvimos, ao que
sentimos. Apresenta-se de modo incomum, impressionante, a fim de gerar medo,
pavor e pânico no meio do povo de Deus. Por isso, o apóstolo Paulo diz que não
andamos por vista, mas por fé (II Co.5:7).
Impressionados pela
aparição de tão terrível guerreiro, os israelitas cometeram o seu primeiro
deslize. Em vez de atenderem à ordem de batalha, que já havia sido dada tanto
por Saul quanto pelos chefes (I Sm.17:2), passaram a dar ouvidos a Golias, que
foi até o vale e parou, passando a clamar às companhias de Israel (I Sm.17:8).
Não podemos dar lugar
ao inimigo (Ef.4:27). A ordem havia sido de ir à batalha. Caso os israelitas o
tivessem feito, certamente teriam vencido, porque, afinal de contas, já haviam
vencido os filisteus anteriormente (cf. I Sm.13 e 14). Os filisteus é que
estavam em desvantagem, em decadência, não, os israelitas, que vinham de mais
uma grande vitória militar, desta vez, sobre os amalequitas.
No entanto, em vez de
irem à luta, aceitaram a pausa ardilosamente planejada pelo inimigo. Quando
Golias apareceu e parou no vale, o exército israelita também o fez. Quantos
crentes não fazem o mesmo em nossos dias? Quando o Senhor os tem mandado lutar
contra as hostes espirituais da maldade (Ef.6:11,12), simplesmente param,
quando o inimigo aparece vistoso e impressionante. Deixam de orar, ler a
Bíblia, jejuar, participar dos cultos, evangelizar, orar pelos enfermos,
santificar-se porque passam a ouvir o que o inimigo tem a dizer através de seus
“campeões”, que vêm impressionantes com um visual e uma conversa paralisadores
da obra do Senhor.
A vestimenta garbosa
de Golias era brilhante, pois o bronze reluz na luz do sol e o texto sagrado
nos diz que o gigante só vinha durante o dia, de manhã e de tarde, precisamente
para que suas vestes se mostrassem brilhantes e ele, ainda mais aterrorizante
(I Sm.17:16). Ele queria chamar a atenção, desviar os soldados de Israel do
foco da batalha e da ordem que havia sido dada, mas não atendida.
O inimigo faz
exatamente o mesmo nos dias hodiernos. Usa o entretenimento para desviar a
atenção dos que cristãos se dizem ser. Traz sempre um colorido, algo brilhante
e que ofusque a visão espiritual do povo de Deus, para mantê-los paralisados e
fora da realidade da vida espiritual. Gasta-se muito tempo com coisas que não
edificam, que nada produzem a não ser fracasso espiritual e, com isto, milhares
e milhares são postos fora da batalha, embora tenham sido convocados para
militar a boa milícia. Tomemos cuidado, pois o apóstolo Paulo é bem claro ao
nos mostrar que quem milita não se embaraça com os negócios desta vida e quem
não militar legitimamente não será coroado (II Tm.2:4,5).
Golias trouxe uma proposta para os israelitas. Disse que não havia
necessidade alguma para que se fizesse a batalha. Ele era filisteu e os
soldados de Israel, servos de Saul. Que descesse um dos homens de Israel para o
vale e ali lutasse com Golias. Se Golias vencesse, os israelitas deveriam
servir os filisteus, mas, se Golias perdesse, os filisteus serviriam os
israelitas (I Sm.17:8-10).
Como, porém,
demorasse a batalha, pois já há quarenta dias se encontravam frente a frente os
exércitos de Israel e dos filisteus, Jessé, que já era bem idoso (I Sm.17:12),
mandou que Davi fosse obter informações a respeito de seus irmãos, levando-lhes
alimento(cerca de 20 quilos de grão tostado e dez pães), não tendo se esquecido
de mandar ao chefe de mil dez queijos de leite(I Sm.17:17,18).
Mais uma vez, vemos
que Davi não foi vazio até a presença de pessoas dignas de honra. Jessé sempre
tinha o cuidado de enviar seu filho com presentes às autoridades, uma bela
figura de que devemos estar sempre prontos a dar, pois melhor coisa é dar do
que receber (At.20:35). Nos dias em que vivemos, de egoísmo e individualismo
exagerados, não é esta a doutrina seguida, inclusive por muitos que cristãos se
dizem ser. No entanto, tal ensinamento foi ratificado pelo próprio Senhor Jesus
e, se nós O servimos, devemos adotar tal conduta e não a que grassa no mundo.
Devemos estar sempre dispostos a dar, não a receber. Enquanto isso, muitos
falsificadores da Palavra de Deus estão a incentivar e estimular o povo aos
gritos dizendo “Receba! Receba! Receba!”… Tomemos cuidado!
O objetivo da ida de
Davi era visitar os seus irmãos, ver se lhes ia bem e trazer algum sinal a
Jessé de que estavam bem (I Sm.17:18). Davi, então, foi até o “vale do
carvalho”, onde estavam Saul e todo o Israel para a batalha com os filisteus (I
Sm.17:19).
Davi, logo de
madrugada, iniciou a sua viagem, deixando as ovelhas com um guarda (I
Sm.17:20). Vemos, pois, a dedicação de Davi, que não tinha se alterado nem um
pouco desde quando havia sido ungido rei de Israel por Samuel. Pelo contrário,
vemo-lo tão cuidadoso quanto antes. Diante da ordem de seu pai, não hesitou em
sair logo de madrugada, para fazer a viagem. Não esperou que o dia nascesse,
nem um horário mais conveniente. Incontinenti, ao receber a ordem de seu pai,
providenciou para que, no primeiro instante, fosse tal determinação devidamente
cumprida.
Temos esta dedicação
quando recebemos incumbência da parte daqueles que estão sobre nós, seja na
sociedade, seja na igreja? Mais ainda: temos esta prontidão para atendermos ao
que nos manda o Senhor? Muitos, na atualidade, porque fazem algo “para Jesus”,
são negligentes, descuidados, não se dedicam nem se esforçam. Afinal de contas –
dizem – é para Jesus mesmo… Não nos comportemos desta maneira, pois as
Escrituras são bem claras ao dizer que é “maldito aquele que fizer a obra do
Senhor fraudulentamente! E maldito aquele que preserva a sua espada do sangue!”
(Jr.48:10). Quantos não têm sido alvos desta maldição pela sua negligência com
que desempenham as tarefas que lhe foram destinadas na casa do Senhor? Pensemos
nisto!
Davi não só se levantou de madrugada para atender à ordem
de Jessé, como, antes de partir, tratou de deixar suas ovelhas com um guarda (I Sm.17:20 “in
initio”). O fato de ter recebido uma nova tarefa da parte de seu pai não o
desincumbiu do dever de pastor das ovelhas de seu pai. Não sabia quando
voltaria para cuidar das ovelhas (aliás, nunca mais voltou, foi esta a sua
despedida do pastoreio daquele rebanho), e, por isso mesmo, tratou de deixar
alguém a cuidar delas, um guarda. Como é belo quando deixamos um guarda para
cuidar daquilo que éramos responsáveis e que, por vontade do Senhor, não mais o
seremos.
É importante observar
que Davi não deixou um novo pastor, mas, sim, um guarda. É verdade que não
sabia que jamais voltaria a pastorear o rebanho de seu pai (I Sm.18:2), mas
deste gesto vem-nos uma bonita lição: a Jessé, e somente a ele, caberia indicar
um sucessor para Davi no pastoreio das ovelhas, mas, enquanto não houvesse tal
indicação, não poderiam as ovelhas ficar desamparadas, sem ninguém que as
assistisse. Por isso, Davi deixou um guarda, que delas tomasse conta até que a
situação se regularizasse. Na obra do Senhor, também devemos fazer isto: ao
pressentirmos ou pelas circunstâncias percebermos que não mais continuaremos
uma determinada tarefa, devemos deixar apenas “guardas”, pessoas que
interinamente cuidem daquilo que fazíamos, até que a pessoa de direito escolha
o substituto. Nem deixar desamparado, nem se substituir a quem de direito, eis
a lição que Davi nos deixa na mudança de tarefas na casa do Senhor.
Ao chegar ao campo de
batalha, Davi, que havia parado no lugar dos carros, deparou-se com a chamada para
a ordem de batalha. Aos gritos chamavam-se os soldados para a peleja, mas, como
sempre, esta ordem de batalha ficava prejudicada, ante o triunfo das falácias
de Golias. Israelitas e filisteus puseram-se em ordem, fileira contra fileira.
Que fez então o jovem Davi, que não era afeito a tais situações?
Davi, ao perceber que
se estava dando ordem para a batalha, não se acovardou, nem tampouco se
distanciou. Ao ver toda a movimentação das tropas, em primeiro lugar, deixou a
carga que trouxera na mão do guarda da bagagem. Como Davi era cuidadoso! Tinha
uma grande carga para entregar e havia vindo para isto e, diante do alvoroço,
não se deixou levar pela mera curiosidade, mas, antes de ir até o local da
batalha, tratou de deixar a carga na mão do guarda da bagagem. Dedicação,
responsabilidade e senso dos deveres, eis as características de Davi que, com a
unção do Espírito Santo, cada vez mais se intensificavam. Será que os “ungidos”
são tão cuidadosos assim em nossos dias?
Davi foi ao campo de
batalha, mas, apesar de ser natural que quisesse ver a batalha, não estava ali
para satisfazer a sua curiosidade ou desviar sua atenção para coisas alheias à
ordem que recebera. Foi até a batalha, mas para procurar os seus irmãos e saber
se estavam bem (I Sm.17:22). Davi não se deixou distrair com a batalha, com o
alvoroço de ambos os exércitos. Tinha plena consciência de sua missão e buscava
cumpri-la à risca. Assim são os homens segundo o coração de Deus: cumpridores
de seus deveres.
Davi achou seus
irmãos e falava com eles, quando Golias apareceu e tornou a dizer as suas
falácias (I Sm.17:23). O medo e o pavor que o gigante já tinha conseguido gerar
entre os israelitas era tanto que, tendo o filisteu dito suas palavras, como
fazia toda manhã e tarde, os israelitas fugiram de diante dele e demonstraram
grande medo (I Sm.17:24).
Além da covardia,
havia, também, se criado, entre os homens israelitas, o mexerico, a fofoca.
Isto sempre ocorre quando não há fé. Ao lado da letargia, da paralisia, surgem
também os boatos, os comentários, as conversas inúteis e nada edificantes. Como
o soldado que não guerreia torna-se ocioso, advém todos os males da ociosidade,
entre os quais, o do falar da vida alheia. Tanto assim é que não faltaram
homens de Israel que alardeassem pelo arraial a notícia de que o rei Saul havia
prometido enriquecer de grandes riquezas, dar a mão de sua filha em casamento e
tornar franca a casa de seu pai em Israel a quem se dispusesse a ferir Golias
(I Sm.17:25).
Davi havia visto o gigante com toda a sua armadura, com
toda a sua pompa e arrogância. Como se não bastasse, ouvira as suas
palavras e, ainda, se deparara com a vergonhosa cena de covardia e pavor vindos
do exército de Israel. Também tomara conhecimento da oferta real que era uma
submissão aos ditames do inimigo. Mas,
como reagiu a tudo isto? De uma maneira completamente diferente. Viu em Golias
um incircunciso filisteu que não tinha qualquer legitimidade para afrontar os
exércitos do Deus vivo!
Como é diferente a
visão de um servo de Deus! Enquanto os israelitas viam tão somente o homem de
2,90 m de altura, com seu capacete de bronze e uma couraça de escamas de bronze
de 60 kg de peso, as caneleiras de bronze, um dardo de bronze pendurado, uma
lança cuja haste, parecida com uma lançadeira de tecelão, tinha uma ponta de
ferro de 7,2 kg, Davi só vira um incircunciso filisteu que estava a afrontar os
exércitos do Deus vivo!
Davi não se deixou impressionar pela terrível aparência
do guerreiro Golias,
mas, cheio do Espírito Santo como era, não se deixou levar pela vista, mas,
sim, usou o olhar da fé. Viu naquele homem alguém que não pertencia ao povo de
Deus. Ele era um incircunciso, ou seja, alguém que não era abrangido pelas
promessas que o Senhor havia feito a Abraão, alguém com quem Deus não tinha
compromisso (Gn.17:9-14). Por não ser alvo da aliança com Deus, Golias era nada
mais, nada menos que um amaldiçoado, vez que estava a afrontar o povo de Deus
(Gn.12:3).
Davi também não via um “exército dos servos de Saul”. Embora respeitasse
e considerasse o rei, de que, inclusive, era pajem de armas, Davi bem sabia que
Israel era o povo de Deus, a Sua propriedade peculiar dentre os povos, um reino
sacerdotal, um povo santo (Ex.19:5,6). Assim, como Golias poderia subsistir
afrontando “os exércitos do Deus vivo”? Davi não se deixara levar pela falácia
da falsa identificação do povo de Israel e nem mesmo a covardia dos soldados
foi capaz de deixar de crer que estava diante de soldados do próprio Deus.
A visão de Davi era,
portanto, alimentada pelas promessas e alianças que Deus havia feito com o Seu
povo, seja com Abraão, seja no Sinai com todo o povo que havia saído do Egito.
Assim, também, devemos agir no dia-a-dia de nossa luta contra o mal: crermos na
nova aliança feita com base no sangue de Jesus, sangue que fala melhor do que o
de Abel (Hb.12:24). O que nos tem faltado, muitas vezes, em nossa jornada
terrena, é a visão do Calvário, que nos garante a vitória, que nos faz crer
que, apesar de todas as dificuldades, não há quem nos possa separar do amor de
Deus que está em Cristo Jesus, nosso Senhor, porque se Deus é por nós, quem
será contra nós (Rm.8:33-39)?
Ao chegar diante de
Saul, Davi, após confirmar a sua intenção de enfrentar o gigante, trouxe uma
palavra de ânimo ao monarca: “não desfaleça o coração de ninguém por causa
dele; teu servo irá e pelejará contra este filisteu” (I Sm.17:32).
Davi fazia com que se
retomasse o correto curso da discussão, a correta compreensão dos fatos. Não se
tratava de uma luta entre “servos de Saul” e Golias, mas, sim, de uma resposta
do povo de Israel a uma afronta ao Deus vivo. Deus que havia livrado Davi da
mão de um urso e de um leão, animais irracionais, não haveria de livrá-lo das
mãos de um incircunciso que havia se atrevido a afrontar o próprio Deus diante
de Seu povo?
Diante desta
argumentação, que não era racional nem lógica, como a do rei Saul, mas baseada
na fé, uma argumentação centrada nas promessas e nas alianças de Deus para com
o seu povo, o rei Saul não teve como manter o seu desestímulo. O rei sabia que
contra Deus o incircunciso não poderia prevalecer e que as promessas do Senhor
estavam em pleno vigor. Assim, rendeu-se ao ímpeto de Davi e aceitou que ele
fosse combater Golias (I Sm.17:37).
Davi muniu-se do
cajado, um dos instrumentos que utilizava como pastor de ovelhas, talvez porque
fosse com o cajado que tivesse lutado com o urso e com o leão, mantendo-se,
pois, coerente com o que havia falado com o rei para demonstrar tanto sua
confiança em Deus quanto sua experiência. Davi mostra-nos, pois, que o homem de
Deus não deve apenas falar, mas agir conforme as suas palavras. Davi não era
alguém que dizia “faça o que mando, não faça o que faço”. Muito pelo contrário,
como verdadeiro tipo de Jesus, primeiro fazia, para depois ensinar (At.1:1).
Além do cajado, Davi
também escolheu para si cinco seixos do ribeiro e os pôs no alforje de pastor
que trazia, no surrão, i.e., na bolsa. Mais uma vez, vemos que Davi se mantinha
coerente com o que havia dito ao rei. Também notamos que Davi, ao viajar por
ordem de seu pai, viajou, como se diz, “com a roupa do corpo”. O fato de estar
de posse dos instrumentos de trabalho do pastor é a comprovação de que Davi,
assim que deixou as ovelhas com o guarda, já empreendeu viagem, não se
distraindo com coisa alguma no caminho. Não tinha vergonha de mostrar o que era
e isto, aliás, deve ter sido o mote para que Eliabe procurasse desmoralizá-lo,
pois, da forma como estava vestido, era nítido que se tratava de um pastor de
ovelhas.
Outra grande lição
que nos dá o jovem Davi. Devemos ir à luta contra o mal como somos, sem
qualquer hipocrisia, sem quaisquer subterfúgios. Devemos assumir o que somos,
até porque foi Deus quem nos fez desta maneira e qualquer artifício que se
procure fazer será uma falsidade, será, mesmo, uma ingratidão para com o
Senhor. Como esta veracidade e sinceridade está distante dos enganos e máscaras
que tanto caracterizam os homens destes dias trabalhosos em que vivemos que, tendo
a aparência de piedade, negamna com suas ações (II Tm.3:5).
OBS:
É com tristeza que vemos, na atualidade, que a apresentação, a aparência tem
sido um critério para escolha de obreiros e de designação de pessoas para este
ou aquele trabalho na casa e na obra do Senhor. Que tristeza! É óbvio que um
homem de Deus não pode ser um relaxado, um desleixado, alguém que não observe
os princípios básicos da higiene e da compostura, até porque não podemos ser
instrumento de escândalo nem mesmo aos gentios (I Co.10:32), mas daí a elevar
este requisito a critério tanto ou mais valioso que a direção do Espírito Santo
é mais uma amostra dos dias difíceis que estamos a viver.
Davi, após ter cuidadosamente se armado, com as armas de
que dispunha e com as quais tinha habilidade, mais uma vez manifestando toda a
sua prudência e senso de responsabilidade, “foi-se chegando ao filisteu” (I Sm.17:40), sem
afobamento, sem precipitação, mas plenamente consciente do que fazia. Que bom
seria se todos nós, quando estivéssemos diante do adversário, tivéssemos o
comportamento sóbrio do jovem Davi. Aliás, diz Paulo a Tito, neste mundo é
assim que devemos viver (Tt. 2:12).
Golias, ao notar que
se aproximava um israelita, também foi se chegando, prova de que, embora
tivesse feito suas falácias, que, por sinal, eram parte de sua estratégia de
guerra, não estava simplesmente atemorizando o inimigo, mas era um guerreiro
pronto para entrar em ação. Não nos iludamos: o inimigo não se cansa, nem
vacila, está dia e noite acusando os servos do Senhor e procurando derrotá-los
(Ap.12:10). Quem dorme é o crente negligente, mas jamais as hostes espirituais
da maldade! Lembre-se disto!
Entretanto, quando o
gigante se aproximou e viu quem vinha para enfrentá-lo, desprezou Davi, caindo,
assim, na própria armadilha que havia montado para os israelitas, ou seja, o de
construir um imaginário com base nas aparências, o que havia deixado o exército
de Israel com pânico e pavor, com evidentes sequelas em seu desempenho militar.
Agora, ao ver aquele jovem pastor, com “pedaços de pau”, vindo ao seu encontro,
Golias age da mesma maneira e, no seu desprezo, constrói um imaginário baseado
na autoconfiança e na autossuficiência que lhe seriam fatais.
Golias viu Davi como
um mancebo, ruivo e de gentil aspecto (I Sm.17:42). Não era uma visão errada.
Era precisamente o que Samuel havia visto quando do momento de sua chegada à
casa de Jessé. Todavia, o que Golias, homem carnal, não poderia ver era o que o
moço de Saul havia visto, ou seja, que, além de mancebo, ruivo e de gentil
aspecto, Davi também era valente, animoso, homem de guerra, sisudo em palavras
e, o mais importante de tudo, que Deus era com ele. Quando os homens do mundo
nos olharem, não os condenemos, pois eles não podem compreender quem somos, não
tiveram seus olhos ainda iluminados pela luz do Evangelho de Cristo (II
Co.4:4). Os homens espirituais tudo discernem, mas por ninguém do mundo são
discernidos (I Co.2:15).
Golias, então, lança
mão de sua retórica para intimidar aquele que, a seus olhos, chance alguma
tinha na batalha. Vangloria-se, dizendo que Davi o considerava como um cão para
vir a ele com paus. Certamente, havia prestado atenção no cajado que Davi
trazia em sua mão bem como a funda, que já deveria estar armada, ainda que sem
pedras. Em seguida, amaldiçoou a Davi pelos seus deuses e disse que daria a
carne de Davi para as aves do céu e as bestas do campo (I Sm.17:43,44).
Em seguida, movido
pelo Espírito Santo, Davi profetiza, dizendo que, naquele dia, o Senhor
entregaria Golias em sua mão e ele o feriria e lhe tiraria a cabeça, como
também os corpos do arraial dos filisteus é que seriam dados às aves dos céus e
às bestas da terra, a fim de que a terra soubesse que havia Deus em Israel e o
próprio Israel soubesse que a salvação vem do Senhor, que Ele mesmo é a guerra
(I Sm.17:46,47). Temos mais uma evidência da presença do Espírito Santo na vida
de Davi. Davi era profeta e, como tal, dissera aquelas palavras, que, aliás,
foram literalmente cumpridas. Nesta profecia, Davi mostra que Deus não Se deixa
escarnecer e que aquilo que os maus desejam contra o povo de Deus é o que lhes
sobrevêm.
Após a troca de palavras, iniciou-se o combate
propriamente dito.
O filisteu foi ao encontro de Davi, mas o jovem se apressou, correu ao combate,
encontrou-se com o filisteu. Não podemos nos acovardar diante do ataque do
inimigo, mas ir ao seu encontro, apressadamente, sem distração, mas também não
de modo precipitado. Davi correu ao encontro do gigante, mas sua pressa não foi
tanta que o impediu de, habilmente, pôr a mão no alforje, tomar dali uma pedra
e atirá-la com a funda. A habilidade, a destreza eram de Davi, mas a pontaria
foi de Deus. A pedra acertou a testa do gigante, num local que estava
desprotegido pelo capacete, pedra esta que cravou na sua testa. Como resultado
disto, o gigante caiu com o rosto em terra (I Sm.17:49).
Aqui vemos claramente
a parte humana e a parte divina no embate com o adversário. Davi fez a sua
parte, que foi a preparação, a pressa para não ser surpreendido pelo gigante, a
tomada da pedra no alforje e o uso da funda. Tais coisas Davi poderia fazer e
eram necessárias não para Deus fazer o milagre, porque o Senhor não precisa de
pessoa alguma para tanto, mas, sim, para que se pudesse demonstrar que a fé em
Deus é retribuída com a vitória sobre o mal.
Entretanto, por mais
habilidade e dedicação que Davi tivesse mostrado, é inegável que a pontaria ali
foi de Deus, como também o fato de o gigante ter caído com o rosto em terra e
não de costas, como seria o lógico a ocorrer nesta situação, tudo para
demonstrar que tudo se fazia pelo poder de Deus, que o próprio Senhor era a
guerra, que a vitória só a Ele poderia ser atribuída, daí porque o texto
sagrado dizer que Davi, com uma pedra e uma funda, vencera o gigante, sem ter
sequer uma espada na mão (I Sm.17:50).
Em seguida, Davi, uma
vez mais, mostra que o homem deve estar pronto, mesmo quando Deus age. Vendo
que o gigante estava tombado no chão, o jovem correu, pôs em pé sobre o
filisteu, tomou a sua espada, tirando-a da bainha e o matou, cortando com ela a
cabeça. Fê-lo de modo destemido, sem nem dar confiança para o escudeiro de
Golias e movido pelo Espírito Santo, até porque percebera que havia
profetizado, pouco antes, que haveria de cortar a cabeça do filisteu. Não
devemos dar confiança a quem quer que seja quando sabemos que estamos a fazer
aquilo que é da vontade de Deus.
Percebendo os
filisteus que Golias havia morrido, fugiram, a fim de que se cumprisse a
Palavra do Senhor de que os corpos dos filisteus seriam dados às aves dos céus
e às bestas da terra no arraial dos filisteus, não no vale, lugar que havia
sido ilegitimamente apontado como o local da batalha pelo gigante. Como se não
bastasse, a luta voltou a ser coletiva, voltou a ser dos israelitas contra os
filisteus, porque também a modificação efetuada pelo inimigo não poderia
prevalecer.
A fé demonstrada por Davi contagiou o povo de Deus. Os israelitas
abandonaram o pânico e o pavor, trocaram-nos pela alegria e pela coragem. Correram
atrás dos filisteus e o perseguiram até o termo dos próprios filisteus,
chegando às portas de Ecrom, tendo caído filisteus pelo caminho de Saaraim,
entre Gate e Ecrom, tendo ademais feito grande despojo nos arraiais dos
filisteus. Uma vitória completa que não só fez cessar a resistência dos
filisteus a Israel, como abriu as portas de parte das terras filistinas para
Israel.
Diante de tamanha
vitória, o rei Saul pergunta a Abner, o comandante do exército, de quem Davi
era filho e, como Abner não o soube dizer, Saul fez a pergunta diretamente para
o jovem (I Sm.17:55-58). Muitos discutem esta passagem, vendo aí uma
“contradição” bíblica, já que Davi era pajem de armas de Saul. No entanto, não
devemos nos levar por esta linha de pensamento. Davi era apenas um dos muitos
mancebos que serviam ao rei Saul, era uma pessoa irrelevante, insignificante na
corte e, por isso, Saul não lhe dava muito valor, nem se preocupara em saber
quem era e a que família pertencia, ainda mais que Davi era de Judá, tribo
distinta da de Saul (Benjamim). Tem-se aqui apenas um reforço de que Davi era,
até então, um ilustre desconhecido da classe governante de Israel.
Davi, então, ingressa definitivamente na corte do rei
Saul.
Mas este ingresso iria trazer-lhe enormes dissabores, é o que veremos na
próxima lição.
Ev. Caramuru Afonso Francisco. Disponível em: https://www.portalebd.org.br
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
O conceito de unção é do Antigo
Testamento; destinava-se a sacerdotes e reis, para que estes exercessem com
êxito suas funções e ministérios (Êx 40.13-15;1 Sm 9.16); profetas também eram
ocasionalmente ungidos, segundo a determinação divina (1 Rs 19.16). Nesta
lição, veremos que a temática da unção de Davi é um clássico bíblico, pois ela
trata da capacitação de servos de Deus para desempenhar em funções na obra
divina. A unção do rei Davi, por intermédio de Samuel, é uma declaração da
escolha divina para cumprir seus propósitos. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
É comum ouvirmos hoje alguns crentes usando como
jargão, as palavras unção, ungir, ungido.
Apesar de falarem sobre “unção”, poucos sabem exatamente o que significam essas
palavras dentro do contexto da Bíblia. O termo vem do Latim unctio,
que quer dizer “ato de untar”, que vem de unguere, que é “esfregar”.
No Antigo Testamento era comum derramar azeite sobre a cabeça de profetas, reis
e sacerdotes com o objetivo de consagrá-la, santificá-la para um serviço
especial. “A unção de Deus é a capacitação que Deus dá a todo crente para O
servir. A unção de Deus nos santifica, purificando-nos do pecado. A unção é
sinal de dedicação a Deus.” (respostas).
Davi foi ungido para mostrar que tinha sido escolhido para governar o povo de
Israel, obedecendo a Deus (1Sm 16.13). Bom estudo e crescimento maduro na fé
cristã!
I. DAVI: O
REI UNGIDO
1. Significado e propósito da
unção. No hebraico, há
duas palavras para unção − suk e mashah. A palavra suk aponta para a unção com
o óleo sobre o corpo ou a cabeça de um convidado (Dt 28.40; Rt 3.3). A palavra
grega que corresponde ao hebraico suk é aleipho (Lc 7.38,46), que pode
referir-se ao ato de ungir os enfermos (Mc 6.13; Tg 5.14). Quanto à palavra
mashah, a ideia é a de cobrir ou untar. Dela deriva o substantivo mashiah
(Messias).
A palavra grega chrio se
relaciona com mashah, daí o nome “Cristo”. No Antigo Testamento, a palavra
preferível para a prática da unção religiosa é mashah: unção de pedra (Gn
31.13); dos sacerdotes (Êx 28.41; 29.7,36), dos reis (1 Sm 9.16), dos profetas
(1 Rs 19.16) e de objetos diversos (Êx 30.26-28).
Nesse sentido, o ato da unção
busca mostrar que a pessoa ou o objeto ungido fora especialmente separado para
o serviço de Deus, tornando-se assim, intocável (1 Sm 24.6). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
A lição apresenta dois vocábulos hebraicos assim
definidos: Mashah (ungir), aparece no Antigo Testamento 128
vezes significando ungir, ungido e unção.
O verbo suk (ungir) aparece 9 vezes, mas a sua unção se refere ao uso cosmético
e medicinal com azeite (Rt 3.3; 2Cr 28.15). O verbo hebraico mashah é
traduzido para o grego por chriö, e aparece em Lc 4.18; At 4.27;
10.38; 2 Co 1.21; Hb 1.9.
2. O simbolismo da unção. Como um ato ordenado por Deus, a unção passou a
simbolizar o derramamento do Espírito do Senhor (1 Sm 10.9; Is 61.1). O termo
mashah do Antigo Testamento, que no Novo é chrio, refere-se à unção do Messias
que viria (Sl 45.7; Dn 9.24). Assim, o Novo Testamento mostra que essa unção
estava sobre Jesus (Lc 4.18). Pedro fez menção dessa unção sobre o Filho de
Deus (At 10.38); e Paulo descreveu essa mesma unção sobre os cristãos (2 Co
1.21,22).
A unção no Antigo Testamento
destinava-se à separação de alguém está relacionada a Cristo, como Filho de
Deus e Salvador do Mundo, e aos cristãos, no sentido de dotar-nos de poder para
testemunhar as verdades do Evangelho (At 1.8; 1 Jo 2.20,27). A verdadeira unção
é ordeira, decente e tem como alvo a glória divina e a expansão do Reino de
Deus. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
“Tudo no Antigo Testamento era simbólico e
provisório. A caminhada pelo deserto, o tabernáculo, o altar, o animal
sacrificado, os sacerdotes. Tudo figurava as realidades definitivas que seriam
estabelecidas por Jesus no Novo Testamento, quando, então, envelheceria o
Antigo Testamento. A unção com óleo sagrado também era simbólica e provisória.
O óleo seria preparado por Moisés, o libertador, e seria derramado sobre os
elementos do culto, que também era provisório e simbólico. O tabernáculo e a
arca significavam a presença de Deus e o sacerdote era o mediador entre Deus e
os homens, santificado para isso. Os textos do Antigo Testamento que fazem
referência à preparação e utilização do óleo sagrado da unção são muito
definidos. No hebraico são utilizadas as palavras shemen (óleo), qodesh
(separado para Deus, sagrado) e mishchah (consagração, unção para consagrar). A
utilização dessas expressões aponta claramente para o fato de que a unção com o
óleo sagrado significava que objetos, lugares e pessoas estavam sendo
especialmente consagrados a Deus, separados em santificação para ele. Não
existia qualquer significado de cura ou de atribuição de poder. Só havia este
significado quando a unção era realizada com o óleo preparado por Moisés de
acordo com a fórmula e critérios estabelecidos por Deus. Quem se utilizasse do
óleo de maneira diferente ou para ungir qualquer pessoa era banido do povo de
Deus. Há quem diga que o óleo significa a presença do Espírito Santo, no
entanto não encontramos tal ensinamento ou afirmativa nas Escrituras.” (ibvb)
3. A unção sobre Davi. Alguns detalhes importantes cercam 1 Samuel 16.1-13 por
ocasião da unção de Davi por Samuel. O autor sagrado destaca o sentimento
humano de Samuel, o qual gostava muito de Saul, mas o profeta estava no querer
de Deus. Devido a seus pecados, Saul não poderia continuar como rei. Então Deus
busca na casa de Jessé, o belemita, neto de Boaz e Rute, um de seus filhos para
reinar (Rt 4.17).
Conhecendo bem Saul, Samuel
tinha consciência de que a missão de ungir um novo rei seria difícil. Por isso,
ele foi orientado por Deus a fazer um banquete e um sacrifício naquela região.
Como representante de Deus, muitos o temeram, mas Samuel relatou que sua ida
era de paz.
Os filhos de Jessé passaram
diante do profeta, mas nenhum deles foi escolhido, embora Samuel se
impressionasse com a postura e aparência dos jovens. Entretanto, um estava
ausente, cuidando dos haveres da família. Davi foi ungido em meio aos seus
irmãos e, a partir daí, o Espírito do Senhor se apoderou de Davi,
concedendo-lhe sabedoria, poder, orientação, para que pudesse cumprir os
propósitos divinos. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
O que nos chama a atenção nesse episódio é a
narrativa de 1Sm 16.1: “...me provi”. O rei foi escolhido e provido por
Deus (Dt 17.1 S), que ordena todas as coisas de acordo com o conselho do sua
própria vontade (Is 40.14), e não de acordo com o desejo dos homens (1Sm 8.5-6;
2Sm 2.8-9). Uma curiosidade: Até o estabelecimento da casa de Deus em Jerusalém
(Dt 12.11), os sacrifícios podiam ser feitos em qualquer cidade, por isso a
álibi de Samuel: “... vim para sacrificar”. Esta primeira unção de Davi
foi diante de sua família/casa e simbolizava o reconhecimento e a ordenação de
Deus. As duas unções seguintes (2Sm 2.7; 5.3) serviram para estabelecer Davi
como rei publicamente, para o beneficio de Judá e Israel respectivamente. Sua
segunda unção seria diante de uma assembleia em sua tribo, Judá; e sua terceira
unção seria diante da nação de Israel. A expressão familiar do Antigo
Testamento “O Espírito do Senhor se apossou de Davi”,
refere-se à capacitação para desempenhar alguma tarefa dada por Deus. A unção
de Davi era um símbolo exterior do trabalho interior de Deus. A operação do
Espírito Santo nesse caso não era para regenerar, mas para capacitar Davi a
desempenhar o seu papel no programa de Deus para Israel.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Inicie o tópico com a seguinte pergunta: O que é unção?
Ouça atenciosamente cada resposta. Em seguida, explane sobre o assunto de
acordo com o primeiro tópico. Ao final do tópico, resuma o conteúdo a fim de
que alguma dúvida identificada nas respostas do aluno seja superada.
II. DAVI O REI QUE ERA SERVO
1. O ungido servindo. A unção de Deus não tira a nossa atitude de servos.
Davi, sendo ungido, não abandonou sua posição de servo e fez isso até que
chegasse o momento de assumir o trono. Sua atitude de servo foi estratégica,
para que Deus o colocasse na corte de Saul, local de onde os planos divinos
seriam executados. No relato do encontro de Davi com Saul, deve-se entender que
tais acontecimentos não se seguem em ordem cronológica. Todavia, o mais
importante é vislumbrar a promessa divina em curso, pois Davi crescia enquanto Saul
decrescia. [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 7, 17 Novembro, 2019]
Ao longo da história de Davi podemos ver Deus agindo
para levar a cabo seu plano. Deus usou o mal que havia caído sobre Saul para
introduzir Davi na corte do rei e diante dos olhos observadores de Israel. Davi
é apresentado pelo autor de 1 Samuel como o mavioso salmista de Israel (2Sm
23.1) antes de apresentá-lo como guerreiro. Davi era um terno músico de
excepcional habilidade e reputação. O trabalho humilde e modesto de Davi é
enfatizado e ele deu provas dessa humildade e paciência quando retornou
fielmente ao seu ofício depois da unção de Samuel. Os santos de Deus, quer seja
no Antigo Testamento, quer seja no Novo, são reconhecidos pelos seus frutos (1Sm
2.26; Lc 2.40). A aprovação de Davi por Deus já era reconhecida por certas
pessoas de Israel.
2. O Espírito do Senhor se
retira de Saul. O Espírito
de Deus se afastou de Saul. Este, por sua vez, passou a ser assombrado por um
espírito mau que ali estava por expressa permissão do Senhor. Para acalmar essa
profunda melancolia na alma, o servo Davi foi convidado e levado à corte pela
graça de Deus e por suas virtudes: tinha boa aparência, talento, capacidade de
aprender e compreender as coisas; era bom guerreiro e o Senhor era com Ele (1
Sm 16.18). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 7, 17 Novembro, 2019]
Sobressai no texto que, quando a subida de Davi ao
trono começou, também teve início a queda lenta e dolorosa de Saul. Sem a
presença e capacitação do Espírito Santo de Deus, Saul não era mais, de fato, o
rei de Israel (1Sm 15.28), embora sua retirada física do trono, e sua morte,
tenham acontecido anos mais tarde. Deus, em sua soberania, permitiu que um
espírito maligno atormentasse Saul (Jz 9.23; 1 Rs 22.19-23; Jó 1.6-12) com o
propósito de estabelecer o trono de Davi. Esse espírito, um mensageiro de
Satanás, deve ser diferenciado do estado emocional perturbado trazido pelo
pecado interior, ou das conseqüências danosas de atos pecaminosos dos outros.
Esse espírito demoníaco atacou Saul de fora, pois não existe qualquer evidência
que comprove que o espírito habitava em Saul. Saul, cuja constituição interior
já era propensa a um juízo questionável e temor dos homens, passou a sentir o
castigo de Deus na forma de graves ataques de depressão, raiva e delírios,
provocados e agravados pelo espírito maligno designado a ele. Existem diversas
ocasiões no Novo Testamento em que Deus, como castigo, entregou pessoas aos
demônios ou a Satanás (At 5.1-3? 1 C.o 5.1-7; 1 Tin 1.18-20). Ele também usou
Satanás e os demônios para fortalecer os santos (Jó 1.1-2.6; Mt 4.1 ss.; Lc
22.31-32; 2Co 12.7-11).
3. Deus levanta
autoridades. Davi esteve muito
tempo com Saul, mas em momento algum relatou a unção de Samuel sobre sua vida;
ou tentou aproveitar-se da vulnerabilidade do rei para matá-lo e assumir o
reinado; antes, participou de lutas em seu favor. Só no momento certo é que foi
aclamado rei. É Deus que levanta e dá a autoridade.
Deus pode levar crentes a
grandes postos. Entretanto, é preciso aprender a servir, ter atitude de servo,
pois foi esse o exemplo que Jesus nos deixou: servir a todos (Mc 10.45; Fp 2.7). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
É interessante notar que Saul amou Davi por suas
habilidades, porém mais tarde passou a invejá-lo e odiá-lo, pois sabia que o
Senhor o abençoara (1Sm 18.29). Nesse ínterim, Davi foi nomeado seu escudeiro,
e provavelmente tenha sido mais um dos jovens designados para os quartéis de
Saul. As obrigações de Davi dividiam-se entre as suas obrigações no quartel de
Saul como um de muitos escudeiros (1Sm 16.21) e a sua tarefa de apascentar as
ovelhas de seu pai em Belém. Sem dúvida, Davi aprendeu lições importantes
quanto ao peso da responsabilidade durante essa época, lições que mais tarde
poria em prática no governo de Israel. Na loucura de Saul em buscar matar a
Davi, muitos intercessores se levantaram e o defenderam, como Aimeleque que
respondeu defendendo o caráter de Davi como leal a Saul. Davi reconheceu que o
próprio Senhor havia colocado Saul à frente do reino. Por consequência, o
julgamento e o afastamento de Saul teriam que ser deixados a cargo do Senhor.
Se Davi fosse um rebelde perverso contra o governo de Saul, como este havia
dito (1Sm 22.8,13), ele teria matado Saul quando teve a oportunidade. O fato de
Davi haver apenas cortado a orla do manto de Saul, quando este estava inerte em
suas mãos, era prova que Davi não era seu inimigo. Mais tarde, o reinado de
Davi em Jerusalém foi marcado pela lealdade à sua aliança com Jônatas (2Sm
9.1).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
Neste tópico é importante aplicar a perspectiva do serviço
cristão no mundo atual. Para isso, considere o seguinte trecho teológico:
“Diakonia (‘serviço’, ‘ministério’). São os esforços no serviço a Cristo que
continuam o ministério encarnacional que Ele realizou e que nos ajuda a realizar.
O caráter desse ministério é servir; não imita o padrão da autoridade ou do
propósito que este mundo impõe. A essência do ministério tem sido exemplificada
por Cristo de uma vez para sempre (Mc 10.45) e, como consequência, servimos a
Cristo por meio de servir à criação que está debaixo do seu senhorio. A
dimensão de serviço no ministério leva-nos, além de divulgar as boas-novas com
denodo e coragem, a participar do desejo de Deus que é alcançar de modo prático
os marginalizados da sociedade. As pessoas que não têm ninguém para pleitear a
sua causa, e que se encontram desconsideradas e abandonadas, também foram
criadas à imagem de Deus” (HORTON, Stanley (Ed.).
Teologia Sistemática: Uma
Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.604).
III. DAVI: O REI QUE RA GUERREIRO
1. O gigante Golias. Depois de ungido, Davi tem diante de si um grande
desafio, o qual foi temido por todo Israel: lutar contra Golias. Tendo este
aproximadamente três metros de altura, era um sobrevivente da raça dos gigantes
anaquins, um remanescente que se refugiou em Gaza, Asdode, na ocasião da execução
feita por Josué, das montanhas de Judá (Js 11.21,22).
Esse gigante tinha uma couraça
feita de metal em escama que lhe guardava todo o corpo; todas as armas de
defesa desse guerreiro eram de bronze e as de ataque, de ferro. O desafio de
Golias era que fosse separado apenas um homem para decidir o conflito − esse
tipo de luta era comum.
O silêncio de Saul e a apatia do
povo eram resultado do afastamento do Espírito Santo de Deus. [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
Golias (em hebraico, גָּלְיָת = “passagem,
mudança, exílio, transmigração”). Existem na Bíblia referências a alguns
personagens muito estranhos, muito misteriosos - os gigantes. Os nomes com que
eram designados - Nefilins, Refaíns, Emins, Anaquins, Enaquins, Zanzumins,
Zuzis, são todos adjetivos, significando: "poderosos",
"fortes", "valentes", "guerreiros", etc., porém
com um significado particular, próprio deles, os GIGANTES. Encontramos outros
relatos de homens de estatura extraordinária: havia Ogue, rei de Basã, um dos
refains, cujo esquife tinha nove côvados (4 m) de comprimento e quatro côvados
(1,8 m) de largura. (Dt 3.11). Além de Golias, havia outros homens de Refaim,
de tamanho extraordinário, entre os quais estava Isbi-Benobe, cuja lança era de
300 siclos de cobre (3,4 kg) (2Sm 21.16); Safe ou Sipai (2Sm 21.18; 1Cr 20.4);
Lami, irmão de Golias, "cuja haste de lança era como o cilindro dos
tecelões" (1Cr 20.5); e um homem de tamanho extraordinário, cujos dedos
das mãos e dos pés eram aos seis, no total de 24 (2Sa 21.20). Os espias sem fé
relataram aos israelitas que em Canaã viram "os nefilins, os filhos de
Anaque, que são dos nefilins; de modo que ficamos aos nossos próprios olhos
como gafanhotos, e assim também éramos aos olhos deles". (Nm 13.33). Estes
homens de estatura extraordinária, chamados de filhos de Anaque (provavelmente
significando "Pescoço-comprido [quer dizer, de estatura alta]"), não
eram realmente nefilins, conforme relatado, mas eram apenas homens
extraordinariamente altos, porque os nefilins, conforme relato de Genesis (Gn
6.4), pereceram no Dilúvio. Alem disso, a expressão "ficamos aos nossos
próprios olhos como gafanhotos" é típica do hebraico, que usa muitas
hipérboles, ou seja, expressões exageradíssimas.
No combate que teve contra Davi, usava uma cota de malha
que pesava 5000 ciclos (57 kg). Como Davi era um rapaz ainda, provavelmente só
a cota de malha de Golias já atingia seu peso. Mas Davi ainda tinha que lutar
com um gigante que carregava um grande escudo para proteção e uma lança, cuja
ponta metálica pesava 600 ciclos (6, kg). Sua haste foi descrita na Bíblia como
"cilindro dos tecelãos". Pouco depois de Davi ter sido ungido por
Samuel, os filisteus ajuntaram-se em Socó para uma guerra contra Israel, e
então acamparam em Efes-Damim. Golias desafiava Israel em alta voz para
apresentarem um homem que lutasse com ele em combate individual, o resultado
determinaria qual o exército que se tornaria servo do outro. Seu desafio durou
40 dias. Mas no exército israelita não havia soldado com coragem suficiente de
enfrentar Golias com seus quase 3 metros de altura, ainda mais sendo este um
soldado mercenário treinado e muito bem armado. Quando Davi soube do que estava
acontecendo ficou indignado e aceitou o desafio do filisteu. A tentativa de
Saul em colocar sua armadura em Davi não teve êxito, porque como citado, era
apenas um rapaz. Davi foi apenas com a funda e algumas pedras lisas que pegou
em um rio próximo ao encontro de Golias. Invocando o nome de seus deuses para o
mal contra Davi, Golias riu-se dele, perguntando se era por acaso um cão para
que viesse a ele com cordas, referindo-se à funda que Davi usava. Davi
respondeu: “Tu vens a mim com espada, e com lança, e com dardo, mas eu chego a
ti com o nome do Deus dos exércitos, o Deus das fileiras combatentes de Israel,
de quem escarneceste.” As armas de Davi eram da parte de seu Deus e isso
dava-lhe confiança da vitória. Apressando-se, Davi pegou uma pedra e atirou com
a funda e ela penetrou a testa de Golias. Não deve ter lhe matado
instantaneamente porque a Bíblia diz que quando Golias caiu com a face por
terra, Davi apressou-se, pegou a espada de Golias e entregou-lhe a morte
'definitivamente' cortando sua cabeça.Quando viram seu campeão morto, os
filisteus fugiram, mas foram perseguidos e dizimados até sua cidade.
2. Davi, ungido e cheio de
fé. Davi continuava
sua missão de servo: ele não ficava permanentemente na casa de Saul, mas sempre
voltava para a casa de seu pai, ficando a cuidar das ovelhas. Davi era jovem e
não estava pronto para a guerra − isso aos olhos dos homens. Mas Deus usou essa
impossibilidade, para fazer a apresentação do futuro rei de Israel, o seu
escolhido.
O pai de Davi envia-o ao
acampamento para dar provisão aos seus irmãos e, ali, ele viu a afronta do
gigante, que já vinha desafiando o povo de Deus há 40 dias. Mesmo com sua
proposta, Saul não encontrou alguém que estivesse pronto a enfrentá-lo. Davi
perguntou para alguém o que seria dado àquele que matasse o filisteu e tirasse
a afronta de sobre Israel, o qual relatou os prêmios: grandes riquezas, a filha
do rei como esposa e isenção de impostos (1 Sm 17.25-27).
Quando chamado por Saul, Davi
contou suas experiências em lutar contra o urso e o leão, para proteger o
rebanho de seu pai, e da mesma forma ele protegeria o rebanho do Deus vivo das
ameaças de Golias. Quem é ungido e confia no poder Deus não teme o inimigo, por
mais feroz que este se apresente, antes, entra na batalha confiante, sabendo
que podemos vencer (2 Co 1.10; 2 Tm 4.17,18). [Lições Bíblicas
CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
Davi ainda muito jovem, colocou-se como o campeão
dos israelitas para enfrentar o blasfemo Gigante filisteu, homem acostumado às
batalhas, vestido com toda sua armadura (I Sm. 17.5-7), tal disposição heróica
e louca de Davi, causou espanto ao guerreiro filisteu. Golias tomou tal atitude
como um insulto. Sem perca de tempo, Davi confiante n’Aquele que o vocacionara
para liderar a nação judaica, pela força do Ruach YAWEH, adestrado com sua
arma, a funda, abateu o sanguinário Golias (1 Sm.17.49,50). Que irônico! Que
vitória! Um jovem pastor e sua funda ganhando uma batalha para o seu exército!
A missão estaria cumprida quando a cabeça do oponente estivesse separada do
corpo sem vida (1 Sm. 17.50-24). Vitorioso, o jovem Davi recebe do rei Saul a
filha como esposa e passa a fazer parte da família real, e ironicamente,
torna-se amigo leal do príncipe herdeiro, Jônatas. Desta luta aparentemente
desigual tiramos algumas lições:
1) enfrentar gigantes é uma experiência intimidadora - lemos
com entusiasmo o relato bíblico sobre a vitória de Davi, mas, no dia-a-dia,
lutar contra os gigantes não é uma tarefa fácil;
2) pelejar é uma experiência solitária - ninguém mais pode
assumir o posto para o qual fomos chamados, cada um de nós precisa enfrentar os
“Golias” que se apresentam contra nós;
3) confiar em Deus é uma necessidade - a menos que
depositemos nossa fé em Deus, não conseguiremos ir muito longe, ficaremos
aterrorizados pelo tamanho dos “gigantes” e
4) vencer traz consequências memoráveis - as vitórias do
passado devem nos impulsionar para olhar com maior bravura para o futuro.
3. As armas do garoto. Davi atribui a vitória que obteve sobre o urso e o leão não
à sua habilidade, mas a Deus. Sendo assim, sua base para lutar contra Golias é
a fé em Deus. Saul tentou preparar humanamente Davi para a guerra, pondo nele
as suas armas, sem sucesso. O garoto as deixou de lado, e tomou seu cajado, sua
funda e cinco pedras. O cajado era usado para ajudar na caminhada e enxotar os
cães ferozes; a funda era usada por pastores e, para quem soubesse fazer bom
uso, ela se tornava uma arma perigosa, como no caso dos benjaminitas (Jz
20.16).
Davi lançou a pedra com sua
funda, acertando o gigante, que caiu atordoado. Prontamente Davi toma dele a
espada e lhe corta a cabeça. O garoto venceu essa batalha porque confiou em
Deus e dependeu exclusivamente da armadura divina, e não das armas de Saul, que
são uma referência aos recursos apenas humanos. O cristão que deseja ser
vitorioso contra as forças de Satanás precisa se revestir da armadura de Deus
(Ef 6.13-17). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019.
Lição 7, 17 Novembro, 2019]
Davi possuía uma fé sincera no Deus do Israel e Saul
sabia que o Senhor estava com Davi (1Sm 17.37). Os instrumentos do pastor
provaram ser armas apropriadas também para o pastor de Israel. Um dos valentes
de Davi em batalha, Benaia, filho de Joiada, também matou um egípcio de grande
estatura (2Sm 23.20-21) com um cajado igual ao que Davi levou para enfrentar
Golias. Interessante notar que, ao ver aquele jovem franzino, ruivo e de
aparência fraca, sem perceber, Golias profere uma afirmação de verdadeira
ironia sobre ele mesmo (1Sm 17.43). Do mesmo modo que um cão selvagem pode ser
uma ameaça ao rebanho e deve ser caçado e morto, assim deveria ser com Golias.
Golias foi para lutar em seu próprio nome; Davi foi para lutar em nome do
Senhor de todos os exércitos (1Sm 17.45). Nós estamos em guerra - sê-me somente
filho valente e guerreia as guerras do SENHOR. (1 Sm.18.17). O crente enfrenta
incircuncisos com os quais precisa lutar e deve vencer. Na verdade, cada um de
nós, na vocação para a qual fomos chamados, enfrentamos nossos próprios
gigantes: o mundo, a carne e o diabo (Ef. 2.1-3). Para derrubá-los e corta-lhes
a cabeça, é preciso estar preparado, munido não com a armadura de Saul, mas com
aquela provida por Deus (Ef. 6.10,11).
4. O contraste entre Davi e
Golias. Humanamente,
era impossível Davi vencer Golias, visto que este era um gigante, e Davi, um
jovem comum; mas todo o diferencial estava na unção que Davi recebera e a fé
que tinha em Deus. Paulo disse que o cristão anda por fé, não por vista (2 Co
5.7).
Enquanto todos temem o desafio
do gigante, Davi responde com segurança por confiar no Senhor. Ele não entraria
nesse combate com os ideais de Golias, que buscava manter sua fama de grande
guerreiro, um campeão de batalhas; pelo contrário, todas as vezes que era
necessário lutar, Davi procurava saber a orientação do Senhor, pois ele não
guerreava suas guerras, mas sim as de Deus (1 Sm 22.10; 23.2,4.10; 30.8; 2Sm
2.1), pois seu propósito era exaltar o nome do Altíssimo.
Nossas batalhas não devem ser
pela busca de nossa glória, honra ou destaque pessoal, mas pela glória de Deus
(Rm 11.36). [Lições Bíblicas CPAD, Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7,
17 Novembro, 2019]
Davi lutou em nome do Senhor e para a glória do
Senhor, cujo nome e glória se estenderão até os confins da terra, em todas as
nações (Js 4.24; 2Sm 22.50; SI 2). Davi entendia totalmente a questão
principal, ou seja, ao desafiar o povo do Senhor, os filisteus na verdade
estavam desafiando o Senhor. No campo de batalha, diante do inimigo, ‘Davi...
correu’, livre de armadura ou temor e animado pela fé em Deus, ao encontro
de Golias e o venceu cortando-lhe... a cabeça (1Sm 17.51). Davi cumpriu a
promessa feita a Golias no verso 46a. Mais tarde, os filisteus fariam o mesmo
com a cabeça de Saul (1Sm 31.9). A exclamação de Davi que havia um Deus em
Israel (v. 46) foi comprovada diante dos filisteus, que não desconheciam a ira
do Senhor (1Sm 5-7). Sabiamente, eles fugiram aterrorizados, mas não honraram
os termos propostos por Golias caso perdessem (17.6-9).
SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
Aqui,
vale a pena fazer uma comparação entre Davi e Golias, conforme este trecho: “Um
homem de estatura gigantesca, Golias, de
Gate (4), apresentou-se como o campeão dos filisteus, e desafiou um
oponente do exército de Israel – uma prática comum nas antigas táticas de
guerra. Ele tinha mais de dois metros e oitenta centímetros de altura, usava
uma armadura que pesava cerca de sessenta e oito quilos, e a haste de sua lança
era como um eixo de tecelão, cuja ponta pesava cerca de nove quilos. O côvado
era a distância desde a ponta do cotovelo até a extremidade do dedo médio, cerca de quarenta e cinco centímetros. O palmo
era a distância entre a ponta do mindinho até a ponta do polegar, quando os
dedos estão esticados, e mede em torno de quinze a vinte centímetros. Grevas (6), perneiras. Escudo, ou seja,
dardo. Ouvindo, então, Saul e todo o
Israel… espantaram-se e temeram muito (11). Os israelitas sabiam que Saul,
o homem mais alto e mais forte do exército, deveria ser campeão de Israel. E Davi era filho de um homem, efrateu, de
Belém de Judá (12) – como os livros históricos do Antigo Testamento
registram, em alguns casos, compilados a partir de documentos mais antigos (por
exemplo, 10.25; 1 Rs 11.41; 14.19; 15.7; etc.), existe a ocasional repetição de
informações dadas anteriormente. Jessé era um homem idoso nessa época. Os seus
três filhos mais velhos estavam no exército com Saul. Davi, porém, ia e voltava de Saul, para apascentar as ovelhas de seu
pai (15) – uma referência à aparição anterior de Davi na corte de Saul em
Gibeá (cf. 16.19-23)” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, p.209)
CONCLUSÃO
Deus procura homens e mulheres
para entregar-lhes grandes responsabilidades. Ele não conta somente com a
posição física, social, intelectual de alguém, mas para sua condição
espiritual, por isso Ele olha o coração do ser humano, e não somente o
exterior. Foi dentre os filhos de Jessé que Deus serviu-se de um servo, segundo
o seu coração (1 Sm 13.14). Deus unge e separa pessoas humildes para sua obra,
que estejam prontas para viver pela fé e que não temam enfrentar o inimigo. [Lições Bíblicas CPAD,
Revista Adultos, 4º Trimestre 2019. Lição 7, 17 Novembro, 2019]
Em vez de Saul Deus escolheria um homem com o
coração segundo o seu, ou seja, alguém que tivesse vontade de obedecer a Deus.
Paulo cita a passagem de 1Sm 13.14 “um homem que lhe agrada” em Atos
13.22 a respeito de Davi. Deus escolheu Davi porque olha para o coração e não
para a aparência física (1Sm 16.7). Davi foi o mais famoso rei de Israel e
descrito em 1 Samuel 13.14 como um homem segundo o coração de Deus. Em Davi uma
virtude se sobressai: possuía uma fé absoluta em Deus.
“Deus unge e separa pessoas humildes para sua
obra” - humildade é a qualidade de quem age com
simplicidade, uma característica das pessoas que sabem assumir as suas
responsabilidades sem arrogância, prepotência ou soberba. Não temos méritos
próprios, nem justiça própria, logo, não cabe em nós sentimento algum voltado
para o orgulho ou merecimento.
“Na Assembleia de Deus tu estejas
Humilde aos pés do Senhor:
Santidade convém à Igreja,
P'ra gozarmos celeste amor” (144 HC)
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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