SUBSÍDIO I
Ética Cristã e Planejamento
Familiar
O casamento cristão pressupõe a
formação de uma nova família e, como resultante, o nascimento de filhos. Está
inserida na criação dos filhos, a responsabilidade familiar de prover o
sustento e todo o cuidado indispensável para o desenvolvimento do ser humano.
Por conseguinte, entre outros deveres e obrigações do casal, inclui-se o
planejamento familiar. A Declaração de Fé das Assembleias de Deus professa que
“a família é uma instituição criada por Deus, imprescindível à existência,
formação e realização integral do ser humano, sendo composta de pai, mãe e
filho(s) — quando houver”. Reitera ainda a Declaração que “o pai e a mãe
integram, de forma originária, determinante e estruturante, a família, e a eles
a Bíblia impõe o dever de sustentar, formar, disciplinar os filhos e
instruí-los moral e espiritualmente” (SOARES, 2017, p. 205). No caso de
infertilidade em, pelo menos, um dos cônjuges, nas Assembleias de Deus pode-se
recorrer às técnicas reprodutivas, desde que a fertilização ocorra no interior
do corpo da mulher e os gametas utilizados pertençam ao próprio casal (SOARES,
2017, p. 206). Quanto ao uso de métodos contraceptivos no planejamento
familiar, as Assembleias de Deus preferem o método natural, mas não se opõem ao
uso dos métodos artificiais, desde que não sejam abortivos (BARROS, 1997, p.
93).
Assim sendo, o posicionamento
ético cristão quanto à procriação e o planejamento familiar baseiam-se no
equilíbrio entre esses dois institutos. De um lado, não se deve procriar de
modo imprudente e irrefletido, e, de outro, não se deve deliberadamente, por
questões moralmente injustificáveis, evitar ou impedir toda e qualquer
concepção e a consequente procriação da espécie humana.
Controle de Natalidade
São procedimentos de políticas
demográficas com o objetivo de diminuir e até impedir o nascimento de crianças.
Tais medidas são adotadas pelos governos para refrear o aumento da população de
um país. Nesse caso, regular o número dos filhos é visto como solução para
erradicar os níveis de pobreza, bem como alternativa para a preservação e o
melhor uso dos recursos naturais. Por ordem do Estado, o número de filhos é
limitado à revelia da vontade dos pais. Para esse fim, são utilizados métodos
contraceptivos e até esterilização permanente. Em países totalitários ocorrem
denúncias do uso do aborto e até do infanticídio como soluções para o controle
de natalidade. Em sentido mais amplo, o controle de nascimento de seres humanos
pode ser considerado como:
Qualquer ato ou
aparelho que mantenha separada duas pessoas de sexo oposto que tenham o
potencial de procriar, qualquer ato ou aparelho que mantenha a pessoa, o macho
ou fêmea, incapaz de realizar a totalidade da função sexual, qualquer ato ou
aparelho que mantenha separados os espermatozoides e os óvulos durante ou após
a relação sexual, e qualquer ato ou aparelho que destrua o produto da concepção
(o zigoto formado pelos gametas masculino e feminino), não obstante a idade do
produto de concepção. (HENRY, 2007, p.140)
Nesse contexto, o
controle de natalidade visa manter o índice populacional dentro dos parâmetros
estabelecidos pela autoridade estatal. Alguns pesquisadores diferenciam o
controle de natalidade do controle populacional. Alegam que o primeiro
contempla apenas os métodos contraceptivos que impedem a procriação e que o
segundo atua, inclusive, na eliminação de pessoas que já nasceram. Seja como
for, trata-se de controle da reprodução humana que, se não observados os
princípios éticos e morais, atentam contra a soberania divina e a
inviolabilidade da vida.
O Relatório de Kissinger
O “Relatório de Kissinger”,
datado de 30 de setembro de 1974, foi redigido pelo então secretário de Estado
dos Estados Unidos Henry Kissinger. Para entender os atuais programas de
natalidade, é indispensável o conhecimento do referido relatório norte-americano.
O documento recebeu o título “Implicações do Crescimento da População Mundial
para a Segurança e os Interesses Externos dos Estados Unidos”, classificado
como “confidencial” sob o código NSSM 200. O texto foi desclassificado pela
Casa Branca e deixou de ser sigiloso em 1989. O relatório estabelece políticas
e estratégias para a redução do crescimento populacional dos países em
desenvolvimento. As ações recomendadas para o “controle de natalidade” envolvem
a ampla divulgação e comercialização indiscriminada de anticonceptivos orais,
uso do dispositivo intrauterino (DIU), esterilização de homens e mulheres e o
uso de preservativos. E, dentre outras políticas de controle, o documento
destaca a prática do aborto:
Embora os órgãos
que estão participando deste estudo não tenham recomendações específicas para
propor em relação ao aborto, acredita-se que as questões seguintes são
importantes e devem ser consideradas no contexto de uma estratégia global de
população: – nunca um país reduziu o crescimento da sua população sem recorrer
ao aborto. (NSSM 200, 1974, p. 182)
Ressalta também o
relatório a importância do papel da mulher no controle dos nascimentos. Ideias
como o empoderamento feminino, direito sobre o próprio corpo, disputa com os
homens na esfera política e no mercado de trabalho são apontados como
essenciais para o sucesso do programa:
A condição e a
utilização das mulheres nas sociedades dos países subdesenvolvidos são
particularmente importantes na redução do tamanho da família […] As pesquisas
mostram que a redução da fertilidade está relacionada com o trabalho da mulher
fora do lar. (NSSM 200, 1979, p. 1301)
Estudiosos do
controle populacional avaliam que foi a partir desse relatório que
assustadoramente se implantaram, nos países em desenvolvimento, diversos e
variados processos políticos para a redução dos nascimentos. Incluem-se como
consequência do “Relatório de Kissinger” as propostas para a
institucionalização da educação sexual nas escolas de Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio. Desse modo, o controle de natalidade nos países
subdesenvolvidos estaria a serviço dos interesses econômicos das grandes
potências, e não apenas com a manutenção ambiental do planeta. Apesar das
controvérsias acerca do assunto, ressalta-se sua contribuição, positiva e
negativa, para a redução populacional.
Taxa de natalidade no
Brasil
Em 26 de outubro de 2016, dados
divulgados pelo IBGE avaliaram que o envelhecimento da nação, não excluindo a
melhoria da qualidade de vida, estaria relacionado com a queda de nossa taxa de
fecundidade. Na década de 1980, a taxa de nascimento era estimada em 4,12
filhos por mulher. No ano 2000, a taxa caiu para 2,39 filhos. E, de acordo com
as estimativas do IBGE, esse número deverá cair para 1,51 em 2030 e chegará ao
índice de 1,50 no ano de 2060.
Coincidência ou não, nossa taxa
de fecundidade diminuiu drasticamente após o documento norte-americano
conhecido como “Relatório de Kissinger”. Desde 1974, o Brasil adota medidas
para fins de controle das taxas de natalidade. Analistas apontam que
“estabeleceu-se, através da mídia principalmente, que uma família ideal teria o
número máximo de dois filhos por casal. Além disso, acontece até hoje a
distribuição de pílulas anticoncepcionais e camisinhas, bem como a venda desses
produtos a preços acessíveis e sem controle médico” (PENA, 2017, p. 1).
Planejamento Familiar
Diferente do “controle de
natalidade”, que consiste em evitar o nascimento dos filhos por meio do
controle estatal, a proposta do “planejamento familiar” é de instituir a
paternidade-maternidade responsável. Trata-se de uma decisão voluntária e
sensata por parte dos pais quanto ao número de filhos que possam criar e educar
com dignidade. No planejamento familiar, fatores diversos são analisados, tais
como, a saúde dos pais, as condições e a renda da família, o tempo entre uma e
outra gestação e o espaçamento de nascimento entre um e outro filho. No
contexto cristão, quanto ao número de filhos, o casal deve buscar orientação
divina por meio da oração e submeter-se à direção do Espírito Santo.
O planejamento familiar é algo
restrito à realidade de cada lar constituído. Algumas famílias terão condições
econômicas, psicológicas e estruturais para criar um único filho e outras podem
criar um número maior de filhos. E isso, quando respeitadas as condições e ou
as limitações particulares, não enaltece e nem deprecia as famílias. Alguns
lares lutam contra a infertilidade e se submetem a tratamentos diversos para
viabilizar a gravidez. Em certos casos, o tratamento é eficaz e a gravidez
acontece, e em outros não. Existem ainda as situações em que a fecundidade é
tamanha que se faz necessário o uso de métodos contraceptivos. Portanto,
ratifica-se que cada família deve, sob o temor de Deus, adequar-se às suas
particularidades para planejar o nascimento de seus filhos.
Métodos contraceptivos
Denomina-se de “métodos
contraceptivos” os procedimentos que são empregados para evitar a concepção ou
a gravidez. Em outras palavras, tais métodos, impedem que os espermatozoides
fertilizem o óvulo. Dentre os métodos atualmente disponíveis existem os
irreversíveis ou permanentes (esterilização cirúrgica) e os reversíveis ou
temporários (utilizados durante o ato sexual). Diante dos variados métodos
existentes, a Igreja posiciona-se contrária ao uso do DIU (Dispositivo
Intrauterino) e a denominada pílula do “dia seguinte” por possuírem
características abortivas. Quanto ao uso do DIU, cientistas da área médica e
estudiosos da ética cristã, avaliam que:
Não existe consenso completo sobre o modo de funcionamento do DIU. Sabe-se que a peristalse tubária aumenta e passa rapidamente o óvulo das trompas para o útero. O DIU mantém as partes do útero separadas e pode interferir na implantação normal do óvulo. Não foi demonstrado que óvulos fertilizados tivessem sido abortados do útero, contudo a ovulação ocorre, os espermatozoides não são impedidos de entrar na trompa do falópio e as trompas não são bloqueadas aos óvulos — e a implantação não ocorre. (HENRY, 2007, p. 138)
Diante dessa controvérsia,
entende-se que o DIU não impede a fertilização e sim a implantação do óvulo já
fertilizado. Nesse caso, trata-se de técnica condenada pelas Escrituras por
atentar contra a inviolabilidade da vida. Quanto à pílula do “dia seguinte”, a
oposição da Igreja para o seu uso relaciona-se com as mesmas questões éticas do
DIU, pois a citada pílula é usada após o coito, e “não tem como objetivo o
isolamento do espermatozoide e do óvulo, mas procura alterar, por meio do uso
de hormônios, a parede do útero para tornarem impossível a implantação do
óvulo” (HENRY, 2007, p. 139), tornando-se em condenável técnica abortiva.
Por fim, assume-se
neste tópico que a contraconcepção em análise é aquela que se pratica no âmbito
do casamento bíblico, sem mancha, sem mácula, monogâmico e heterossexual (Hb
13.4). O pressuposto adotado para o uso de métodos contraceptivos no
planejamento familiar refere-se ao entendimento de que o sexo não é
exclusivamente procriação. Entende-se também que a procriação deve ser
responsável e fundada no amor para com o cônjuge e os filhos que virão a
nascer. Condena-se o uso dos métodos contraceptivos quando usado fora do
casamento, para encobrir as consequências de atividade sexual ilícita, quando
usado como ideologia meramente humana, quando não se quer assumir a
responsabilidade da maternidade e paternidade divinamente instituída, e quando
as técnicas possuem características abortivas.
O planejamento familiar não é um
tema exclusivo de nossa época. Ele está presente nas páginas do Antigo e do
Novo Testamento. E todos os exemplos bíblicos ratificam a inviolabilidade da
vida e a intervenção divina em favor das famílias de acordo com sua soberana
vontade.
A Família e a Procriação da
Espécie
Após criar o primeiro casal,
Deus os abençoou e lhes disse: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a
terra” (Gn 1.28). Nesse primeiro mandamento, Deus requereu à reprodução do
gênero humano. Após o dilúvio, o sobrevivente Noé e seus filhos também
receberam mandamento acerca da procriação: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei
a terra” (Gn 9.1). Note-se que essa é uma ordem universal direcionada às
gerações pré e pós-diluviana. Repara-se que Deus não especificou qual seria o
fator multiplicador e nem quantos filhos deveriam ser gerados por família.
Observa-se ainda que os propósitos são idênticos: homens e mulheres devem se
reproduzir para “encher a terra”.
A procriação nas páginas da
Bíblia Sagrada envolve um homem e uma mulher que, unidos pelos laços do
matrimônio e por meio do ato sexual, reproduzem a espécie humana. As Escrituras
ensinam que suscitar a descendência é uma responsabilidade da família,
intimamente ligada à perpetuação da raça humana. A reprodução humana é um
processo divinamente criado que depende da união dos gametas masculino e
feminino. Cada um — o macho e a fêmea — possui a sua própria célula
reprodutora: a do homem é o espermatozoide e a da mulher é o óvulo. Essas
células reprodutoras possuem cada uma 23 cromossomos, o que corresponde à
metade encontrada em outras células do organismo. Por isso, para gerar um novo
ser vivo, é indispensável à união dos gametas do macho e da fêmea. Essa união
resulta em 46 cromossomos, gerando a primeira célula do ser vivo, chamada de
zigoto ou célula-ovo. A partir daí, a combinação do material genético do homem
e da mulher dará origem a uma terceira combinação, que resultará na perpetuação
da descendência e da raça humana. Portanto, a procriação bíblica requer
naturalmente a relação sexual entre um homem e uma mulher.
Quanto ao modelo de procriação
artificial, nossa Declaração de Fé assevera o seguinte:
As técnicas em que a
fertilização ocorre fora do corpo da mulher, com a respectiva manufatura do
embrião, são condenáveis por desrespeitarem o processo de fecundação natural
que deve ocorrer no interior do ventre materno […] Condenamos as técnicas
reprodutivas que requerem o descarte de embriões e doação. Rejeitamos a
maternidade de substituição, mediante a qual se doa temporariamente o útero,
por ferir a pureza monogâmica. Não admitimos a reprodução post-mortem em virtude
da cessação do vínculo matrimonial. (SOARES, 2017, p. 206)
Sob essa questão, a igreja
posiciona-se favorável ao uso das demais técnicas artificiais de reprodução
desde que não atentem contra a pureza da relação sexual monogâmica. O texto
normativo reconhece a reprodução artificial desde que a fertilização (processo
no qual tem início a vida humana) ocorra no interior do corpo da mulher e os
gametas utilizados pertençam ao próprio casal (SOARES, 2017, p. 206).
O Planejamento Familiar no
Antigo Testamento
Na Antiga Aliança, a fertilidade
era vista como uma dádiva: “Eis que os filhos são herança do Senhor, e o fruto
do ventre, o seu galardão” (Sl 127.3). Nesse contexto, ter muitos filhos era
sinal de benevolência do Altíssimo e sinônimo de felicidade (Sl 127.5). A
esterilidade era motivo de discriminação (1 Sm 1.6,7), provocava desavenças (Gn
30.1,2) e era vista como vergonha (Gn 30.23). Em contraste a essa cultura, as
esposas dos patriarcas foram estéreis e sofreram muito até que Deus lhes abriu
a madre. Sara concebeu na velhice e gerou apenas um filho: Isaque (Gn 21.2).
Isaque, ao casar-se, durante vinte anos orou pelo ventre de Rebeca e ela gerou
dois filhos: Jacó e Esaú (Gn 25.21). Raquel, a esposa amada de Jacó, após anos
de espera também concebeu apenas dois filhos: José e Benjamim (Gn 35.24).
Percebe-se, então, no caso dos patriarcas, a intervenção divina e as diferenças
do multiplicador de família para família.
A lei do levirato
Para o povo hebreu, suscitar
descendência era algo primordial para a família e para o cumprimento da
promessa abraâmica (Gn. 12.3; 13.16). Gerar filhos era uma bênção divina que
representava prestígio social e continuidade dos laços sanguíneos (Sl 128.1-6;
Pv 31.28). Por isso, desde o princípio foi instaurado entre os hebreus a lei do
levirato. O vocábulo vem do latim levir,
que significa “cunhado”, e consiste no ato de suscitar descendência ao homem
que tenha morrido sem deixar filhos. Nesse caso, o cunhado deveria se casar com
a viúva e gerar com ela uma descendência para seu irmão. Desse modo, o filho
que nascesse seria considerado filho do falecido, fazendo com que a memória
deste jamais fosse esquecida.
O primeiro caso bíblico relata
que Er era casado com Tamar e morreu sem deixar descendentes. Então, Judá, seu
pai, ordenou ao seu segundo filho, Onã, que tomasse a viúva para suscitar com
ela descendência ao seu irmão (Gn 38.7,8). Porém, diz o texto que Onã “toda vez
que possuía a mulher do seu irmão, derramava o sêmen no chão para evitar que
seu irmão tivesse descendência” (Gn 38.9b, NVI). Realizava ele o que hoje é chamado
de “coito interrompido”, considerado no texto como um mal pelo qual o Senhor o
matou (Gn 38.10). Contudo, o castigo de Onã não se deu pelo fato de ele usar um
método contraceptivo — aliás, um dos menos eficazes —, mas pela sua postura
egoísta por saber que “a
descendência não seria sua” (Gn 38.9a, NVI). Cerca de 500 anos
depois, essa cultura foi incorporada na lei mosaica com um adendo de não
obrigatoriedade. O cunhado poderia recusar o casamento com a viúva do irmão (Dt
25.7a). A mulher então deveria levar o caso ao conhecimento dos anciãos (Dt
25.7b). Se o homem persistisse em não tomar a cunhada por esposa, a viúva
deveria pegar uma das sandálias dos pés do cunhado e cuspir no seu rosto em
sinal de protesto (Gn 25.9). A partir dessa ação, a casa do descumpridor de seu
dever passaria a ser conhecida como “a casa do descalçado” (Gn 25.10).
O Planejamento Familiar no Novo
Testamento
Na Nova Aliança, a fertilidade
também é exaltada. Ao visitar Maria e anunciar a sua gravidez, o anjo lhe
disse: “Salve agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres”
(Lc 1.28). Na mesma ocasião, ao contar para Maria acerca da gravidez de Isabel,
o anjo enfatizou: “Isabel, tua prima, concebeu um filho em sua velhice; e é
este o sexto mês para aquela que era chamada estéril” (Lc 1.36). Isabel gerou
um único filho, João, o batista (Lc 1.59-60), e Maria, após o nascimento de
Jesus, gerou ao menos quatro filhos e duas filhas (Mt 13.55,56). Repara-se, em
ambos os casos, a intervenção divina e a diferença no fator multiplicador de
uma casa para outra casa.
Em sua Epístola
aos Efésios, Paulo trata dos deveres dos maridos, das esposas e dos filhos (Ef
5.21-33; 6.1-4). Como fundamento para esses deveres, o apóstolo estabelece a
regra da sujeição mútua (Ef 5.21). Nem o marido é sem a mulher e nem a mulher é
sem o marido (1 Co 11.11). No texto bíblico, as mulheres recebem a incumbência
de serem submissas aos esposos (Ef 5.22), os maridos são exortados a amar suas
mulheres do mesmo modo como Cristo amou a Igreja (Ef 5.25), e os filhos são
orientados a obedecer e honrar pai e mãe (Ef 6.1,2). Uma família cristã que
observa esses princípios vive em harmonia, e as deliberações são tomadas de
comum acordo entre o marido e a mulher, cabendo a decisão final à cabeça do lar
(Ef 5.23). Não obstante, as decisões no âmbito do lar têm como pressuposto o
amor, e não a arbitrariedade ou autoritarismo. Com essa percepção, o
planejamento familiar não é ignorado ou negligenciado, ao contrário, o número
de filhos e as condições para criá-los são avaliados por meio do diálogo, da
oração e do temor ao Senhor.
BAPTISTA, Douglas. “Valores
Cristãos: enfrentando as questões morais do nosso tempo”, editada pela
CPAD.
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
O planejamento familiar é um tema relevante, a ser
discutido no meio evangélico, com base nos princípios bíblicos. Na aula de
hoje, trataremos a respeito desse assunto, inicialmente definiremos o que é
Planejamento Familiar, diferenciando-o do Controle de Natalidade. Em seguida,
mostraremos a visão bíblica a respeito dos filhos, mostrando que existem
diferenças na Antiga e Nova Aliança. Ao final, apresentaremos algumas
recomendações cristãs, com vistas a um melhor planejamento familiar.
1. DEFINIÇÃO DE PLANEJAMENTO FAMILIAR
A expressão Planejamento Familiar é bastante ampla,
e pode ser aplicada às diferentes partes da sua constituição. Comumente é usado
para se referir ao total de filhos que um casal tem ou pretende ter. O
Planejamento Familiar é diferente do Controle de Natalidade, que geralmente é
imposto pelo Estado, ou mesmo por uma religião. O Planejamento Familiar,
diferente daquele, é assunto do casal, que deve avaliar dentro das suas
possibilidades, quantos filhos pretende ter. A ONU define-o como “o exercício
da paternidade responsável, e a utilização voluntária e consciente por parte do
casal, do instrumento necessário à planificação do número de filhos e
espaçamentos entre uma gestação e outra”. Cabe, portanto, ao casal, a decisão
pelo método contraceptivo mais apropriado, sempre consultando um profissional
da área, que acompanhará a utilização de um método específico. Os cristãos
devem atentar para alguns métodos disponíveis, pois alguns deles são de
natureza abortiva, por isso não devem ser utilizados. Antes de fazer sua opção,
o casal deve orientar-se com um método, e tirar as suas dúvidas a fim de não
cometer agravo nesse sentido. E é importante deixar claro: aborto não é método
contraceptivo, optar por seria descartar uma vida humana.
2. A VISÃO BÍBLICA
SOBRE OS FILHOS NA ANTIGA E NOVA ALIANÇA
Reconhecemos que existem poucos versículos bíblicos
que tratam especificamente a respeito do Planejamento Familiar. Na Antiga
Aliança, essa prática não era incentivada, principalmente porque os israelitas
viviam em uma cultura guerra, e de cultura campesina. Por esse motivo, ter
muitos filhos era sinal de prosperidade, inclusive de bens materiais. Não faz
muito tempo, os pais tinham muitos filhos no Brasil, principalmente na época em
que a maioria das pessoas residiam no campo. Com o êxodo rural, muitos migraram
para a cidade, e dependendo da condição socioeconômica, optam por ter mais ou
menos filhos. A nível de escolaridade, ao que tudo indica, contribui
significativamente para o Planejamento Familiar. A classe média costuma ter
menos filhos, geralmente dois ou três. Enquanto que as classes com menor poder
aquisitivo, costumam ter mais filhos. Na Antiga Aliança havia a esperança da
mulher de ser a mãe do Salvador, por isso mesmo Maria foi agraciada (Lc. 1.28).
Em todo caso, devemos reconhecer que, em geral, ter filhos é uma orientação
divina, dada no princípio, ainda que, a ordenança para a procriação é geral,
não é específica (Gn. 1.28).
3. O PLANEJAMENTO FAMILIAR NO CONTEXTO CRISTÃO
Os cristãos devem saber que podem apelar para os
métodos contraceptivos, a fim de melhor planejarem a quantidade de filhos na
família. A influência do catolicismo fez com que muitos evangélicos pensassem
que o Planejamento Familiar fosse pecado. Mas devemos saber que o sexo não é
apenas para a procriação, conforme estudamos anteriormente, é também para a
recreação. E mais, a mulher ovula apenas uma vez ao mês, sendo assim, a
utilização de métodos contraceptivos não abortivos é uma opção normal, que pode
ser recorrida por qualquer casal cristão, considerando as orientações
profissionais. É importante que os casais considerem suas possibilidades, e
avaliem a partir dos princípios bíblicos, a quantidade de filhos que terá. Ter
filhos é uma benção do Senhor (Sl. 127.3), mas é preciso criá-los com
sabedoria, para que não se transformem em maldição. A base para o Planejamento
Familiar não pode ser egocêntrica, muitos casais não querem ter filhos porque
consideram custoso, ou no caso da mulher, porque “deformam” o corpo. A esse
respeito, devemos considerar que fomos chamados para amar, e esse
inevitavelmente implica em sacrifício. Deus enviou Seu Filho, que morreu pelos
nossos pecados (Jo. 3.16), os pais também devem considerar o sacrifício como
parte do relacionamento familiar.
CONCLUSÃO
O Planejamento Familiar é uma opção para o casal
cristão, que pode decidir com sabedoria, e debaixo de oração, quanto filhos
pretende ter. Tal planejamento deve ser orientado por um profissional da saúde,
que dará os encaminhamentos necessários. É importante considerar as condições
socioeconômicas, e também a disposição para o sacrifício. Pois o amor deve ser
a premissa fundamental, e a entrega aos filhos que, na maioria dos casos, exige
algum tipo de sacrifício.
Prof. Ev. José
Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog
subsidioebd
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
O casamento, no
plano divino, pressupõe o nascimento de filhos. Nele, estão inseridos a criação
dos filhos, o sustento deles e todo o cuidado indispensável para o
desenvolvimento humano. Por conseguinte, dentre outros deveres do casal, o
planejamento familiar é importantíssimo. (LB CPAD, 2º Trim 2018, Lição 9, 27
Maio 18)
“Há numerosas áreas de complexidade moral que
confrontam o cristão. Embora a ética cristã básica seja bastante simples (o
amor), muitas vezes é bem difícil de ser aplicada. Os assuntos de controle da
natalidade e do aborto são exemplos-chaves das dificuldades”. (Norman
Geisler, Ética Cristã, p. 180). Para o cristão, ter ou não ter filhos, não é
apenas uma questão biológica, mas uma decisão que envolve fé, amor e obediência
aos princípios de Deus para a família. A Palavra de Deus é o nosso supremo
guia quanto à verdade e norma de vida; é o único e suficiente guia para julgar
aquilo que cremos e fazemos. Considerando isto, um casal cristão tem o dever de
planejar sua vida sexual de tal modo que possam gerar filhos e estes sejam
desejados como dádiva divina. O mandamento de gerar descendentes é muito
abrangente e inclui a responsabilidade de providenciar as necessidades físicas,
emocionais, intelectuais e espirituais dos filhos. Embora entendamos que o
poder de planejar, reconhecemos que o controle final não pertence ao homem,
assim como todos os outros setores da vida, está subordinado à vontade divina.
“Tanto a concepção irresponsável de filhos até o limite da capacidade
biológica da mulher, como a limitação egoísta do número de filhos, são ambos
igualmente condenáveis.” (Prof. Arnaldo J. Schmidt).
I. O
CONCEITO GERAL DE PLANEJAMENTO FAMILIAR
1. Controle de natalidade. Não é planejamento familiar, mas procedimentos de
políticas demográficas com o objetivo de diminuir ou até mesmo impedir o
nascimento de crianças. Tais medidas são adotadas pelos governos totalitários
para refrear o aumento da população de um país. Nesse caso, regular o número
dos filhos é visto como solução para erradicar os níveis de pobreza, bem como
alternativa para a preservação do meio ambiente e o melhor uso dos recursos
naturais. Por ordem do Estado o número de filhos é limitado à revelia da
vontade dos pais. Para esse fim são utilizados métodos contraceptivos e até a
esterilização permanente. Em países totalitários ocorrem denúncias do uso do
aborto, e até do infanticídio, como soluções para o controle de natalidade.
Há de se diferenciar ‘controle de natalidade’ e
‘planejamento familiar’. O primeiro podemos definir como de aspecto político
com fins de redução do tamanho da família e controle populacional. Para
isto, são desenvolvidas políticas direcionadas aos países em desenvolvimento,
com vistas a frear seu crescimento demográfico, que compreende políticas que
terão como contrapartida toda e qualquer técnica contraceptiva e abortiva para
frear o crescimento populacional.
“Essa ideia de utilizar o controle de natalidade
como método de diminuir os nascimentos, vem das teorias malthusiana e neomalthusiana, teorias
demográficas que analisam o alto índice populacional de um país como o fator
principal de seu baixo desenvolvimento econômico, colocando em vista que os
países com maiores índices de desenvolvimento econômico tem baixo crescimento
populacional, e conseguem esse fato a partir da utilização dos controles de
natalidade” (Wellington Souza Silva. ‘Controle de natalidade’.
Disponível em: https://www.infoescola.com/geografia/controle-de-natalidade/.
Acesso em: 21 maio, 2018).
Como exemplo de pais que adotou esta política
durante décadas com fins de controle populacional, a República Popular da
China (país que tem a maior população do mundo, com mais de 1 300 000 000
de habitantes) adotou a ‘Política do Filho
Único’, regulamentando por lei que os
casais não podem ter mais do que um filho, penalizando caso tenham um segundo
filho, ou mais, tendo como objetivo facilitar o acesso da população do país a
um sistema de saúde e educação de qualidade. Essa política vigorou de 1970 até
2015, em outubro de 2015, no entanto, o governo chinês aboliu a lei por conta
do envelhecimento da população, ao passar a permitir até dois filhos por
família.
2. Planejamento familiar. Diferente do “controle de natalidade”, que consiste
em evitar o nascimento dos filhos por meio do controle estatal, a proposta do
“planejamento familiar” é a de instituir a paternidade-maternidade responsável.
Trata-se de uma decisão voluntária e sensata por parte dos pais quanto ao
número de filhos que possam ter com dignidade. No planejamento familiar fatores
diversos são analisados, tais como: a saúde dos pais, as condições da família
(renda, moradia, alimentação), o espaçamento de tempo entre uma e outra
gestação. No contexto cristão, quanto ao número de filhos, o casal deve buscar
orientação divina por meio da oração, submeter-se à direção do Espírito Santo e
levar em conta o bom senso (Rm 14.21-23).
“Por planejamento familiar ou planeamento
familiar, entende-se o conjunto de ações que têm, como finalidade, contribuir
para a saúde da mulher e da criança, permitindo, às mulheres e aos homens,
escolher quando querem ter um filho, o número de filhos que querem ter, o
espaçamento entre o nascimento dos filhos e o tipo de educação, conforto,
qualidade de vida e condições sociais e culturais que seus filhos terão” (WIKIPÉDIA). Com o Planejamento familiar intenciona-se controlar o
número de filhos e o intervalo entre gestações com o objetivo de garantir o bem
estar tanto da criança como do casal. Nesse aspecto, não há nada de errado para
o casal cristão, aliás, é uma atitude louvável, sensata e digna; cabe apenas
ressaltar que o planejamento é humano mas cabe à Deus, em sua sublime
soberania, a consecução do planejado.
“Não se deve concluir que, porque alguns usos do
controle da natalidade são egoístas todos são egoístas. Na realidade, há várias
situações em que o controle da natalidade pode ser a coisa altruísta ou certa
para se fazer. (1) Por exemplo, adiar a família até que se possa cuidar dela
melhor pode ser uma ação muito sábia e altruísta. Se razões psicológicas,
econômicas, ou educacionais indicassem um tempo futuro melhor para a família,
então não será moralmente errado esperar. Para a maioria dos casais que se
casam na idade usual, algum programa de limitação artificial da família é uma
necessidade emocional e econômica. (2) Além disto, se o controle da natalidade
pode ser usado para limitar o tamanho da família conforme a capacidade dos pais
de prover para ela, então a pessoa não peca. As Escrituras conclamam o homem a
prover pelos seus (1 Tm 5:8) e planejar para o futuro. “Pois, qual de vós,”
disse Jesus, “pretendendo construir uma torre, não se assenta primeiro para
calcular a despesa e verificar se tem os meios para a concluir?” (Lc 14:28). E
quem argumentaria que uma família não é mais importante do que uma torre? (3)
Além disto, refrear-se de ter filhos por razões da saúde (física ou mental) não
é errado como tal. Na realidade, será errado trazer filhos para o mundo se
fosse destrutivo para os pais e/ou as condições fossem destrutivas para os
filhos. (4) Finalmente, não é errado evitar ter filhos por algum propósito
moral superior tal como Jesus se referiu em Mateus 19:12. Os homens podem
dedicar-se voluntariamente ao celibato, ou passar sem filhos em prol do reino
de Deus. Enquanto a espécie não estiver sendo ameaçada pela sua abstenção e
enquanto a sua dedicação for para o bem dos outros, não é errado usar o
controle da natalidade para evitar terem seus próprios filhos. Há, na
realidade, algumas vocações e chamadas legítimas e necessárias na vida, para as
quais uma família seria uma desvantagem, mas uma esposa seria uma ajuda.” (‘O
cristão, o controle da natalidade e o aborto’. Disponível em: http://www.cacp.org.br/o-cristao-o-controle-da-natalidade-e-o-aborto/. Acesso em: 21 maio, 2018)
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“[...] Neste século, em que a
maternidade já é vista como algo sem tanto valor por parte de certos segmentos
da sociedade; quando, por outro lado, há quem deseje ardentemente ter um filho,
em função da infertilidade; quando a reprodução in vitro já é uma realidade; o
problema do chamado ‘controle da natalidade’ ou do planejamento familiar é
sempre atual.
Esse é um tema preocupante em termos
da ética cristã. Isso porque para o cristão, ter ou não ter filhos não é apenas
uma questão biológica, mas uma decisão que envolve fé, amor e obediência aos
princípios de DEUS para a família. Para os não-cristãos, a questão é respondida
de modo pragmático. Há pessoas que, em função de sua vida individualista e
hedonista, ter filhos é um empecilho à liberdade de cada um.
De acordo com a ONU, o planejamento
familiar ‘é o exercício da paternidade responsável, e a utilização voluntária e
consciente por parte do casal, do instrumento necessário à planificação do número
de filhos e espaçamentos entre uma gestação e outra. Pressupõe o uso de métodos
anticoncepcionais produzidos pela ciência’. Notemos que há uma diferença
fundamental entre ‘o controle da natalidade’ e o planejamento familiar, na
visão sociológica. O primeiro pressupõe medidas rígidas (controles) impostas
por determinado governo, interferindo na liberdade de um casal ter ou não
determinado número de filhos. O segundo utiliza métodos persuasivos, buscando a
adesão dos casais à limitação do número de filhos, bem como o espaçamento entre
gestações, com o concurso de meios científicos à disposição das famílias”
(LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética
Cristã: Confrontando as questões morais do nosso tempo. 1.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2002, pp. 55-57)
II. O QUE AS
ESCRITURAS DIZEM SOBRE O PLANEJAMENTOS FAMILIAR
O planejamento familiar, desde que não seja
feito por meio de aborto e meios abortivos, não contraria a Palavra de Deus.
1. A família e a procriação da
espécie. Após criar o primeiro
casal. Deus o abençoou e disse: “Frutificai e multiplicai-vos, e enchei a
terra” (Gn 1.28). Nesse primeiro mandamento, o Senhor requereu a reprodução do
gênero humano. Após o dilúvio, Noé e seus filhos também receberam o mesmo
mandamento acerca da procriação: “Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a
terra” (Gn 9.1). Note que essa é uma ordem universal direcionada às gerações
pré e pós-diluviana. Repare que Deus não especificou qual seria o fator
multiplicador nem quantos filhos deveriam ser gerados por cada família. Além
disso, o propósito do mandamento é único: homens e mulheres devem se reproduzir
para “encher a terra”.
Nos textos citados há a ordenança de procriar e
encher a terra, recebidos tanto por Adão quanto por Noé, neste último caso, Noé
e seus filhos. Mas obviamente, o propósito do sexo na vida conjugal não é
apenas o de procriar; como entendemos de textos como Gênesis 2.24 e Efésios
5.31, mas também tem propósitos de unificação e de recreação, pois o casamento
é mais do que procriar – se não, não seria utilizado para representar a união
mística de Cristo com a Igreja (Ef 5.25). É uma união sem correspondentes, em
que duas pessoas compartilham mutuamente as experiências da vida num romance
permanente (Gn 29.18 e 20; 35.19,20; Ef 5.25), numa aliança irrevogável( Mt
5.32), e nutrido nos princípios práticos do amor, não em sentimentos (1Co 13).
“O sexo é um dos meios de encorajar e enriquecer
aquela união. Além disto, o sexo é um prazer que valoriza a união num tipo de
reencenação recreacional da grande felicidade do primeiro amor conjugal. Logo,
o sexo cumpre pelo menos dois propósitos além de gerar filhos. E se Deus
pretende que o sexo unifique e satisfaça, além de multiplicar, logo, não há
razão porque alguma forma de controle de nascimento não possa ser exercida a
fim de promover estes outros propósitos do casamento, sem produzir filhos.” (‘O
cristão, o controle da natalidade e o aborto’. Disponível em: http://www.cacp.org.br/o-cristao-o-controle-da-natalidade-e-o-aborto/.
Acesso em: 21 maio, 2018)
No entanto, a procriação está restrita ao casamento,
é o limitador. Não há permissão para o homem ou a mulher procriarem fora do
relacionamento conjugal. Isso, pela misericórdia divina, para poupar o
homem/mulher do sofrimento e de toda a carga de responsabilidade que um filho
traz. Por isso, a melhor situação para a geração de filhos, é dentro do
casamento. E é no ápice desta comunhão conjugal que o filho é concebido, o
filho não é somente a carne e o sangue do casal, mas, principalmente, o fruto
do seu amor. Nesse sentido, Paulo escreve que “A mulher não tem poder sobre
o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido
não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher.” (1Co 7.4).
Note que não está escrito que o corpo da namorada pertence ao namorado, nem que
o corpo da noiva pertence ao noivo, aliás, a Bíblia nos diz que o sexo fora do
casamento é imoral (Mt 15.19, 1Co 6.9, 6.13, 7.2, 2Co 12.21, Gl 5.19, Ef 5.3).
2. O planejamento familiar no
Antigo Testamento. Na Antiga Aliança
a fertilidade era vista como uma dádiva: “Eis que os filhos são herança do
SENHOR, e o fruto do ventre, o seu galardão” (Sl 127.3). Neste contexto, ter
muitos filhos era sinal de benevolência do Altíssimo e sinônimo de felicidade
(Sl 127.5). A esterilidade era motivo de discriminação (1Sm 1.6,7), provocava
desavenças (Gn 30.1,2) e era vista como vergonha (Gn 30.23). Em contraste a
essa cultura, as esposas dos patriarcas foram estéreis e sofreram muito até que
Deus lhes abriu a madre: Sara concebeu na velhice e gerou apenas um filho:
Isaque (Gn 21.2); ao casar-se, durante vinte anos, Isaque orou pelo ventre de
Rebeca e ela gerou dois filhos: Jacó e Esaú (Gn 25.21); Raquel, a esposa amada
de Jacó, após anos de espera, também concebeu apenas dois filhos: José e
Benjamim (Gn 35.24). Aqui, principalmente no caso dos patriarcas, podemos
perceber a intervenção divina, bem como o fator de multiplicação, de família
para família. (LB CPAD, 2º Trim 2018, Lição 9, 27 Maio 18)
É interessante ver que na época do Antigo Testamento
ter muitos filho era sinal da benevolência do Criador e que a falta de filhos
era sinal da reprovação divina; logo, era desejo de toda mulher ser mãe de
muitos filhos, e de preferência varões. No Antigo Testamento, não ter filhos
era constrangedor (1Sm 1.15) e a mulher judia, que não gerava, logo dividiria
seu marido com uma concubina (Gn 16.1-3.). Além do mais, devido às profecias,
as mulheres judias esperavam por um messias. Elas ansiavam ser a mãe do
Salvador. Elas tinham filhos na esperança de um messias (Is 7.14)
“Sara, esposa do patriarca Abraão, sendo estéril,
sentiu-se frustrada, recorreu a um ato desesperado oferecendo sua serva ao
marido para que este tivesse um filho com ela, como sendo esse filho do casal.
Isso resultou em sérias e perpétuas complicações, quando se considera que em
Abraão e Sara estava implícita a linhagem do futuro Messias (Mt 1.1). Abraão, sentindo-se
infrutífero quanto à sua descendência, disse ao Senhor: “Senhor Jeová, o que me
hás de dar, pois ando sem filhos...” (Gn 15.2). Em resposta, o Senhor mandou
que ele olhasse para as estrelas e lhe disse: “Assim será a tua semente...” (Gn
15.5; Ler Gn 17.15,16). b) Não ter filhos era sinal de infelicidade. Sendo
Raquel estéril, disse a seu marido: “Dá-me filhos, senão morro” (Gn 30.1).
Quando Deus abriu sua madre, ela exclamou: “Tirou-me Deus a minha vergonha” (Gn
30.23). Ana, mulher de Elcana, também é exemplo do sofrimento e amargura de uma
mulher estéril (Ler 1 Sm 1.7,10,11,20). c) Ter família numerosa era sinal de
bênção. Ana teve Samuel e mais cinco filhos (1 Sm 2.21). Os filhos eram
considerados presentes ou prêmios da parte do Senhor, como diz o salmista: “Eis
que os filhos são herança do Senhor e o fruto do ventre o seu galardão” (Sl
127.3). (Lições Bíblicas CPAD, Jovens e Adultos; 3º Trimestre de
2002. Título: Ética Cristã — Confrontando as questões morais. Comentarista:
Elinaldo Renovato de Lima; Lição 5: O cristão e o planejamento familiar, Data:
5 de Agosto de 2002)
3. O planejamento familiar no
Novo Testamento. Na Nova
Aliança a fertilidade também é exaltada. Ao visitar Maria e anunciar a sua
gravidez, o anjo lhe disse: “Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és
tu entre as mulheres” (Lc 1.28). Na mesma ocasião, ao contar para Maria acerca
da gravidez de Isabel, o anjo enfatizou: “tua prima, concebeu um filho em sua
velhice; e é este o sexto mês para aquela que era chamada estéril” (Lc 1.36).
Isabel gerou um único filho, João — o batista (Lc 1.59-60), e Maria, após o
nascimento de Jesus, gerou ao menos quatro filhos e duas filhas (Mt 13.55,56).
Repare, em ambos os casos, a intervenção divina, bem como a diferença no fator
de multiplicação de uma casa para outra.
Não há diferença nesta questão entre o Antigo e o
Novo concerto, em ambos permanece a ideia da concepção de filhos como graça
divina, ter filhos sempre foi tido como uma bênção de Deus. Zacarias, esposo de
Isabel, não tinha filhos, pois sua mulher era estéril. Deus enviou o anjo
Gabriel para informar a este sacerdote de avançada idade que ele seria pai:
“Terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no seu nascimento” (Lc 1.14). As
crianças foram abençoadas por Jesus. Ele colocou um menino no meio das atenções
(Mt 18.2,4); recebeu crianças trazidas pelos pais, toucou-lhes brandamente,
abençoando-as (Lc 18.15-17). Cabe uma ressalva aqui, analisando o texto de
Mateus 24.19, quando Jesus adverte: “ai das grávidas e das que amamentarem
naqueles dias!” referindo-se às mulheres judias e seus filhos, que sofrerão
o dano das escolhas erradas daquele povo, ou da rejeição de seu Messias.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Procriar, uma determinação divina (Gn 1.28)
Após criar os céus e a
terra, com a luz cósmica, a terra (porção seca), os mares, os animais, e a
vegetação, DEUS criou o homem, de modo especial, dizendo: ‘Façamos o homem à
nossa imagem, conforme a nossa semelhança [...]’ (Gn 1.26). ‘E criou DEUS o
homem à sua imagem; à imagem de DEUS o criou; macho e fêmea os criou. E DEUS os
abençoou e DEUS lhes disse: Frutificai, e multiplicai-vos, e enchei a terra, e
sujeitai-a’ (Gn 1.27,28). Este foi o primeiro mandamento dado ao homem pelo
Criador após criar o ser humano, masculino e feminino. Note-se que este
mandamento foi dado antes da Queda. Assim, já estava implícita a sexualidade,
tendo o homem os órgãos e o instinto sexual, com plena capacidade reprodutiva.
Isso põe em terra a falsa ideia de que o pecado de Adão foi o ato sexual. DEUS
criou os órgãos sexuais com propósito definido.
Os que se opõem a
qualquer tipo de limitação de filhos, ou planejamento familiar, argumentam que,
se DEUS disse ‘crescei e multiplicai-vos’, não é correto limitar filhos. Mas,
conforme podemos depreender da Bíblia, DEUS não exige do homem o tamanho de sua
família ou prole. O número de filhos nunca foi especificado na Bíblia, como
condição especial para o cumprimento da vontade divina. DEUS não estabeleceu,
de modo rígido, taxativo, o multiplicador” (LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as questões
morais do nosso tempo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, pp. 57-58).
III. ÉTICA
CRISTÃ E O LIMITE DO NÚMERO DE FILHOS
1. A questão do fator de
multiplicação. Quem se opõe
ao planejamento familiar considera a limitação do número dos filhos uma
desobediência ao mandamento de procriação (Gn 1.28). Por isso ensinam que a
mulher deve gerar filhos indefinidamente. Contrariando essa ideia, a mulher não
é fértil todos os dias. O Criador agraciou a mulher com apenas três dias
férteis a cada mês, indicando que ela não tem o dever de gerar filhos a vida toda.
Deus não estipulou qual deveria ser o número de filhos. Portanto, o mandamento
de multiplicação é cumprido quando o casal gera um filho, pois eram duas
pessoas e agora passaram a ser três. Deve-se também entender que a ordem de
procriação é “geral” e não “específica”; ou seja, Deus ordenou a reprodução da
raça humana, não a reprodução de cada pessoa. Do contrário, os solteiros e os
viúvos (1Co 7.8), os eunucos (Mt 19.12) e os casados estéreis (Lc 23.29)
estariam em pecado. E se fosse pecado não procriar, até a privação sexual
voluntária, autorizada nas Escrituras, estaria em contradição (1Co 7.5). Desse
modo, o fator de multiplicação depende da vontade do Senhor para cada família.
“No Novo Testamento, não há referência expressa a
ter ou não muitos filhos. Mas os filhos são galardão do Senhor. “Eis que os
filhos são herança do Senhor, e o fruto do ventre, o seu galardão. Como flechas
nas mãos do valente, assim são os filhos da mocidade” (Salmo 127.3). Para ter
filhos, cremos que o casal deve orar muito, para que nasçam debaixo da bênção
de Deus. E, para não tê-los, deve orar muito mais, para não contrariar a
vontade de Deus. Devem ser considerados os fatores de saúde, alimentação e
educação (espiritual e secular), pois não é justo que se tragam filhos ao mundo
para vê-los subnutridos, mal-educados e malcuidados. Isso não é amor.
Orientação quanto à natalidade. Aspectos a serem
considerados:
a) A vontade de Deus. De uma maneira geral, o casal, pela
união sexual, poderá gerar filhos. É a vontade permissiva do Senhor. Como
filhos de Deus, no entanto, devemos estar, acima de tudo, sujeitos à vontade
diretiva do Senhor. Ele nos guia pelo seu Espírito (cf. Rm 8.14). “Para ter
filhos, o cristão deve buscar, por fé, a direção de Deus e não apenas depender
do instinto sexual”.
b) Alimentação, saúde e educação digna. Da concepção ao
parto, o novo ser precisa ser bem alimentado, de modo a não desenvolver-se com
deficiências orgânicas que ocasionam danos por toda a vida. Se um casal gera um
filho doente, por subnutrição, ou doença da mãe, vai fazê-lo sofrer. Filhos mal
educados tendem a se converter em pessoas prejudiciais à sociedade e, em
escândalo para a igreja do Senhor. Isso não glorifica a Deus. Em 1 Timóteo 5.8,
lemos: “Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua
família, negou a fé e é pior do que o infiel” (1 Tm 5.8). Esse cuidado tem seu
começo na gestação.
c) A abstenção permitida. A Bíblia admite a abstenção sexual
do casal, “por mútuo consentimento”, para que ambos se dediquem melhor à
oração, num período de tempo (1 Co 7.4,5)”. (Lições Bíblicas CPAD,
Jovens e Adultos; 3º Trimestre de 2002. Título: Ética Cristã — Confrontando as
questões morais. Comentarista: Elinaldo Renovato de Lima; Lição 5: O cristão e
o planejamento familiar, Data: 5 de Agosto de 2002)
2. A questão ética no
planejamento familiar. Planejar não é
pecado. Cristo falou positivamente do planejamento do construtor e do rei
guerreiro (Lc 14.28-32). O pecado está na presunção em não pedir a aprovação
divina para o projeto (Tg 4.13-15). O cristão deve aconselhar-se com Deus para
tomar qualquer decisão (Tg 1.5; 1Jo 5.14). Nossas motivações devem ser
apresentadas ao Senhor em oração e devem ser desprovidas de vaidade e de
egoísmo (Tg 4.2,3). É vaidade a mulher não querer procriar para não alterar a
beleza do corpo, bem como é egoísmo do homem não gerar filhos para fugir da
responsabilidade. No entanto, postergar o nascimento dos filhos até que se
possa cuidar melhor da família; limitar o número dos filhos para que se possa
criá-los com dignidade e, espaçar o tempo de nascimento entre um e outro filho
para melhor acolher mais uma criança, não são pecados, pois as Escrituras
ensinam que o homem deve cuidar bem de sua família (1Tm 5.8). Para tanto,
sempre se faz necessário consultar à vontade soberana do Senhor em tudo (Mt
6.10).
É perfeitamente viável e desejável que o casal
cristão planeje e busque a orientação divina quanto à questão de gerar filhos.
Também é claro que é condenável a decisão de não gerar filhos pela simples causa
da vaidade. Quem pensa em casar, deve antes preparar-se para todo o resto que
acompanha este processo: as alegrias mas também as dores, o sofrimento, as
responsabilidades, etc.
“Isto pressupõe uma paternidade responsável
diante da lei de Deus, cujos preceitos, ética e moral devem ser conhecidos e
observados. Tudo isso, pela fé, pois o que não é de fé é pecado (ver Rm 14.23).
Ter filho, um após o outro, seguidamente, sem levar em conta suas implicações,
pode não ser amor; e, sim, carnalidade desenfreada aliada à ignorância. O Livro
Sagrado afirma que “tudo tem seu tempo determinado” (Ec 3.1). Além disso, nos é
oportuna a seguinte ordem: “Examinai tudo. Retende o bem” (1 Ts 5.21). Para
ter, ou não, filhos, o casal deve, acima de tudo, orar ao Senhor” (Elinaldo Renovato).
“Uma família grande demais, em um mundo
superpovoado, seria irresponsabilidade, assim como seria irresponsável evitar
espontaneamente constituir uma família sem ter em mente o propósito de Deus
para o casamento. E em alguns casos, a finalidade primordial pode ser
suplantada por outras responsabilidades morais” (Ética: As
Decisões Morais à Luz da Bíblia. CPAD, p.132).
SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
O controle da natalidade é medida de caráter coercitivo,
determinada por governos, com o intuito de diminuir o crescimento populacional.
Como o cristão deve posicionar-se ante essa atitude impositiva, por parte dos
governos em diversos países do mundo?
Entendemos que o cristão não deve concordar com o ‘controle
da natalidade’, visto que, visando fins utilitaristas e econômico-sociais,
configura uma intervenção direta na vontade de um casal, quanto a ter ou não
ter filhos.
O planejamento familiar não interfere na decisão do casal.
Apenas orienta quanto à natalidade” (LIMA, Elinaldo Renovato de. Ética Cristã: Confrontando as questões
morais do nosso tempo. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, pp. 61-62).
CONCLUSÃO
O homem não peca pela simples limitação ou
espaçamento do nascimento de seus filhos. Ele comete pecado quando suas motivações
são presunçosas e utilitaristas. O cristão que consulta ao Senhor, e aceita a
vontade divina na limitação do número de seus filhos, é abençoado em toda a
esfera de sua família (Sl 128.1-6). Todavia, ele rejeita por completo o aborto
e os meios abortivos no planejamento familiar.
“Não encontramos nas Escrituras uma passagem
sequer que nos sirva de base para a aprovação do planejamento familiar. Da
mesma maneira não encontramos nenhum texto que determine um número específico
de filhos para cada casal. O mandamento tanto para Adão e Eva, quanto para Noé
e seus filhos de crescer, multiplicar e encher a terra, não é específico e
pessoal, ou seja, não tem em perspectiva apenas o indivíduo, mas sim a
humanidade como um todo (Gn 1.28; 9.1). Podemos usar como exemplo desse
princípio o fato do juízo de Deus ter sido derramado sobre os construtores da
torre de Babel devido ao propósito deles de não povoar a terra (Gn 11.1-8),
ainda que nada seja dito a respeito deles não desejarem ter filhos. Mesmo o
texto do Salmo 127 que nos mostra claramente como é importante ao homem o
possuir muitos filhos, usa um símile (figura de linguagem) e não uma definição
clara de quantos eles devem ser. Diante do exposto, devemos procurar deixar que
a Palavra de Deus nos oriente a respeito deste tema tão importante e
controverso e, uma vez orientados por Ela, busquemos a graça de Deus para que
nos conformemos à Sua orientação” (Rosivaldo Oliveira Sales. ‘A
QUESTÃO DO PLANEJAMENTO FAMILIAR E O CONTROLE DA NATALIDADE’. Disponível em: http://pbteologil.blogspot.com.br/2012/09/a-questao-do-planejamento-familiar-e-o.html. Acesso em: 21 maio, 2018)
“Achando-se as tuas palavras, logo as
comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo
teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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