SUBSÍDIO I
Ética Cristã e suicídio
O suicídio é um drama no mundo.
Muitos casos são potencializados por causa das crises de depressão profunda. Há
um relato de suicídio muito triste de uma famosa escritora inglesa, Virginia
Woolf (1882-1941). Seu estilo literário é considerado influente sobre a também
conhecida escritora brasileira Clarice Lispector. Obras marcantes de Virgínia
são “Orlando”, “As Ondas”, “Mrs. Dalloway” e uma que este articulista aprecia
muito, “Cenas Londrinas”, dentre outras. Virgínia sofreu muito com períodos de
crises depressivas. Na época, não se tinha fármacos tão eficientes em relação à
doença. No momento de crise, a escritora sentia dores de cabeça alucinantes
indo à exaustão física. Até que um dia, não mais suportando o sofrimento,
Virginia Woolf tirou a própria vida colocando pedras em seu casaco, caminhando
e afogando-se no Rio Ouse, perto de sua residência.
O exemplo mencionado acima pode
ser classificado como “suicídio pessoal”, quando a pessoa individualmente
desiste de viver. São muitos os casos de indivíduos que se encontram nessa
situação. De acordo com o jornalista André Trigueiro, na obra “Viver é a melhor
opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo”, foi realizado um
mapeamento de milhares de pessoas de várias partes do mundo, que tinham em
comum em seus óbitos o suicídio. Em 90% dos casos foi constatado que as pessoas
que praticaram o suicídio tinham histórico de alguma patologia mental,
especialmente o transtorno de humor, conhecido como depressão, esquizofrenia,
bipolaridade e outras, que poderiam ser perfeitamente tratadas. É uma
amostragem chocante. Significa que 90% dos casos do suicídio poderiam ser
revertidos. Além do livro, há vários vídeos do jornalista André Trigueiro sobre
o assunto no Youtube. Outra obra que pode ajudar muito a conhecer a implicação
das doenças psíquicas na vida é a clássica “O demônio do meio-dia: uma anatomia
da depressão”, do jornalista Andrew Solomon. É uma descrição realista a cerca
do domínio da depressão sobre a psiquê humana.
Diante desse quadro grave, o
suicídio deve ser tratado com muita seriedade. Por isso, estude bem o assunto.
Mencione a questão médica da depressão e a sua relação com o suicídio. Então,
mostre a posição teológica e ética da Igreja de Cristo. E aproveite a
oportunidade para propor ações de prevenção a favor da vida, junto à classe.
Boa aula!
Revista Ensinador
Cristão, ano 19 – nº 74, p. 39. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
A expressão
"suicídio" vem do Latim sui (a si mesmo) e caedere (matar, cortar)
que significa "matar a si mesmo", também conhecida como "morte
autoinfligida". Essa prática tem sido um mal silencioso e o índice de
pessoas que se suicidam vem crescendo assustadoramente. Nesta lição,
estudaremos o suicídio nas Escrituras e no mundo, seus tipos e o posicionamento
cristão quanto ao tema.
“O termo suicídio foi utilizado pela primeira vez
em 1737 por Desfontaines, cujo significado tem origem no latim, na junção das
palavras sui (si mesmo) e caederes (acção de matar), ou seja, é um ato que
consiste em pôr fim intencionalmente à própria vida”. (Dicionário
inFormal)
“Em alguns idiomas, como o inglês, o verbo
suicidar(-se) não existe: uma pessoa commits suicide, ou seja, comete suicídio.
Moralmente errado, mas etimologicamente correto.” (Dicionário
Etimológico)
Este é um tema atualíssimo e cheio de controvérsia
no meio cristão evangélico, dado algumas posições distintas quanto à salvação
do suicida. Uma lição apenas não será suficiente para elucidar a questão,
primeiro por que esta é uma questão muito difícil para se responder com
certeza; Na realidade, ela possa ser respondida com absoluta certeza. Assim,
embora possamos fazer alguns esforços para determinar a condição espiritual da
pessoa, no final das contas é o juízo final de Deus sobre a alma de uma pessoa.
Segundo, algumas linhas teológicas acreditam que o suicídio seja um pecado
imperdoável e nos Evangelhos lemos que o pecado imperdoável é blasfemar contra
o Espírito Santo (Lc 12.10). Em essência temos, então, quatro posições:
(1) Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para
o inferno (posição Católica Tradicional); (2) Um cristão nunca chega a
cometer suicídio, porque Deus impediria; (3) Um cristão pode cometer
suicídio, mas perderá sua salvação, e (4) Um cristão pode cometer
suicídio, sem que necessariamente perca sua salvação. Vale, ainda, afirmar que
o sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados,
presentes e futuros (Cl 2.13-14, Hb 10.11-18). Assim, concluímos que dependendo
da corrente teológica defendida, quanto à segurança da salvação, um cristão
defenderá a condenação ao inferno do suicida (Arminianos) ou que, mesmo tirando
a própria vida, sua salvação estará garantida, porque esta não se perde jamais
(Reformados). O que é certo afirmarmos convictamente é que Deus é o autor da
vida e não está dentro dos nossos direitos acabar com qualquer vida, até mesmo
a nossa. E como a lição trata de ética cristã, devemos tratar esse assunto com
muito temor e amor, muitos irmãos na fé foram atingidos por essa tragédia em
suas famílias, e muitas vezes temos sido cruéis com estes ao tratarmos do tema,
afirmando convictamente sobre um fato não estabelecido de forma definitiva.
Agostinho tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial, unidade; naquilo
que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade”. Dito
isto, convido-o a pensarmos maduramente a fé cristã!
I. O
SUICÍDIO NAS ESCRITURAS E NO MUNDO
As Escrituras registram seis casos de suicídio:
cinco no Antigo Testamento e um no Novo. Em situação de conflito, homens se
desesperam e tiram a própria vida no mundo todo.
1. No Antigo Testamento. A história de Sansão mostra que a tarefa dele era a de derrotar os
filisteus (Jz 13.5). Mas ele revelou o segredo de sua força e foi preso.
Decidido a cumprir sua missão, na festa a Dagon, derrubou o templo sobre si e
seus inimigos (Jz 16.30). Entretanto, esta ação é vista como sacrifício de
guerra e não suicídio. Por isso, Sansão aparece na lista dos heróis da fé (Hb
11.32-34). Outro registro é o caso de Saul e de seu escudeiro. O primeiro rei
em Israel rejeitou o Senhor e buscou o ocultismo (l Sm 28.7). Acuado na peleja
contra os filisteus, Saul lançou-se sobre a própria espada e seu auxiliar fez o
mesmo (1Sm 31.4,5). O quarto caso foi o de Aitofel, conselheiro de Absalão, que
não suportou ter o seu conselho rejeitado e se enforcou (2 Sm 17.23). O quinto
registro é o do rei Zinri, que derrotado e apavorado, tirou a própria vida (l
Rs 16.18,19). Exceto Sansão, tais homens, motivados pelo orgulho, escolheram a
morte em lugar de confiarem em Deus. Aliás, podemos dizer que Sansão morreu em
combate.
Sansão é um tipo de Cristo e não um suicida. Alguns
apontam a morte de Sansão (Jz 16. 29-31) como sendo um exemplo de um servo de
Deus que se suicidou. Mas observo que a posição de Sansão não pode ser vista
como normativa ou até exemplificativa da questão. Sansão era mais um
prisioneiro de guerra, do que qualquer outra coisa. Ele e o país se achavam em
uma situação emergencial de conflito, como descrevem os capítulos 13 a 16 do
livro de Juízes. Vemos, em sua ação, não um suicídio por desespero, pelo fato
de estar cego, mas um ato de um guerreiro que não hesita em sacrificar sua vida
em função de uma grande vitória - o seu brado final comprova isso (“morra eu
com os filisteus!”).
“O exemplo de Sansão (Jz 16.30) não favorece o
suicídio (autocheiria), porque nas ruínas da casa que ele derrubou ele se
sepultou não menos que os demais. Este foi um feito singular, perpetrado pela
influência extraordinária do Espírito Santo, como transparece tanto do apóstolo
(Hb 11.34), que declara que ele fez isso pela fé, baseado nas orações que
ofereceu a Deus para a obtenção de força extraordinária para este ato, e no
fato de que elas foram ouvidas (Jz 16.28). Deus aumentou sua força e lhe
outorgou o desejado sucesso para que assim ele fosse um eminente tipo de
Cristo, que causa grande destruição de seus inimigos por meio de sua morte e
que quebra o jugo tirânico posto no pescoço de seu povo. Finalmente, o desígnio
não visava simplesmente a uma vingança privada, mas à vindicação da glória de
Deus, da religião e do povo, visto que ele era uma pessoa pública e levantada
por Deus dentro o povo como vingador.” (O Suicídio e o sexto
mandamento: “Não Matarás”. Disponível em: https://bereianos.blogspot.com.br/2012/11/o-suicidio-e-o-sexto-mandamento-nao.html Acesso:
em: 29 Abr, 2018)
Sobre Saul temos um problema: o texto de 1 Samuel
31 diz que o rei Saul suicidou-se, caindo sobre a sua espada, mas 2 Samuel 1
registra que ele foi morto por um amalequita. Mas seguindo a maioria dos
estudiosos que apontam para o suicídio como relato verídico, Saul não é exemplo
de homem temente à Deus, está mais para a semente de Satanás. Agostinho declara
corretamente que Saul “certamente era réprobo” (Cidade de Deus, 17.6). Como
primeiro rei de Israel, a iniquidade de Saul é especialmente evidente em seus
pecados contra o reino de Deus.
O sanguinário Rei Zinri morre violentamente como
viveu, sete dias depois de assumir o trono de Israel. Conforme a narrativa de 1
Rs 16,15, Zinri começou a reinar no ano 27 de Asa, e reinou apenas uma semana.
2. No Novo Testamento. O mais emblemático caso é o suicídio de Judas Iscariotes. Ele fizera
parte do colegiado apostólico (Lc 6.16). Sua função de tesoureiro requeria
integridade (Jo 13.29). No entanto, ele furtava as ofertas que eram lançadas na
bolsa (Jo 12,6). Sua ambição por dinheiro foi uma das motivações para entregar
Jesus (Mc 14.11). Culpado por trair um inocente, enforcou-se (Mt 27.4,5) e
como resultado: "precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas
entranhas se derramaram" (At 1.18). Cristo já o tinha alertado, "ai
daquele homem por quem o Filho do Homem é traído!" (Mc 14.21), porém.
Judas não resistiu ao Diabo nem teve a humildade para buscar o perdão do
Senhor. Ele preferiu o suicídio a corrigir o erro. Em nossos dias, a
banalização da vida e da fé tem contribuído para comportamentos similares e
consequente queda espiritual de pessoas.
Em Marcos 14.21 Jesus diz que seria melhor para
Judas nunca ter nascido, por estas palavras, Judas provavelmente esteja no
inferno. Na oração sacerdotal de Jesus em João 17.12, é dito que ele guardou os
outros discípulos “no teu nome, os que me deste”, mas ele não guardou
Judas dessa forma, com o resultado de que Judas, o filho da perdição, se
perdeu. Não ter sido guardado no nome divino é provavelmente equivalente a
nunca ter sido salvo. A palavra grega para “perdição” significa “destruição” ou
“inferno”, de forma que Judas era o “filho do inferno”, o que também parece
indicar que Judas está no inferno.
“No Novo Testamento, temos o famigerado caso de
Judas Iscariotes, o traidor, que se enforcou depois de haver jogado as trinta
moedas de prata sobre o pavimento do templo diante do sumo sacerdote e dos
anciões (Mt 27.3-5). Um dos textos bíblicos que nos chamam a atenção sobre essa
atitude de Judas foi registrado por Lucas quando menciona que alguns dias antes
de suicidar-se Satanás entrara em Judas Iscariotes: “Entrou, porém, Satanás em
Judas...” (Lc 22.3). O que nos leva a entender que o suicídio também pode
ocorrer por possessão ou, no mínimo, por uma poderosa influência do diabo sobre
os filhos da desobediência.” (Suicídio - De quem é a vida,
afinal?. Disponível em: http://www.icp.com.br/df34materia2.asp.
Acesso em: 30 Abr, 2018)
3. O suicídio no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) as mortes por suicídio
aumentaram 60% nas últimas cinco décadas. Quase um milhão de pessoas tiram a
própria vida todos os anos e cerca de outros vinte milhões tentam ou pensam em
suicídio. Para cada suicídio, cerca de seis a dez outras pessoas são
diretamente afetadas. Na maioria dos países desenvolvidos, o suicídio é a
primeira causa de morte não natural. Desde 2015, as autoridades iniciaram o
movimento "setembro amarelo", que é estimulado pela Associação
Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP). O movimento consiste em
sinalizar locais públicos com faixas ou símbolos amarelos.
De acordo com um estudo da Organização Mundial da
Saúde (OMS), pelo menos uma pessoa se suicida no mundo a cada 40 segundos. O
suicídio se tornou uma verdadeira epidemia de proporções globais, sendo uma
preocupação constante para vários países ao redor da Terra (Megacurioso). Ainda de acordo com a OMS, o
suicídio é uma das três principais causas de morte, em muitos países, entre
pessoas de 15 a 44 anos. Alguns estudos revelam que a maioria dos suicídios
está ligada a transtornos psiquiátricos.
“O sociólogo francês Émilie Durkhein produziu um
estudo sobre o suicídio, classificando-o em três categorias sociais: o suicídio
egoísta, o altruísta e o anômico. Mais tarde, ele acrescentou à sua tese o
suicídio fatalista.
* O suicídio egoísta. Seria o resultado de um
individualismo excessivo, ou seja, a falta de interesse do indivíduo pela
comunidade.
* O suicídio altruísta ou heróico. A pessoa é
levada a cometer o suicídio por um excessivo altruísmo e sentimento de dever,
muito comum nas sociedades primitivas e orientais.
* O suicídio anômico. Em grego, o termo significa
“sem lei”, mostrando a desorientação e o choque produzidos na vida de uma pessoa
por uma mudança abrupta qualquer.
O suicídio fatalista, por sua vez, seria aquele
decorrente do excesso de regulamentação da sociedade sobre o indivíduo cujas
“paixões” são reprimidas, de forma violenta, por uma disciplina opressiva.” (Suicídio - De quem é a vida, afinal?. Disponível em: http://www.icp.com.br/df34materia2.asp. Acesso em: 30 Abr,
2018)
SUBSÍDIO DIDÁTICO
Pesquise notícias em
revistas ou jornais sobre pessoas famosas que suicidaram-se. Leve esses
recortes para a sala de aula. Após introduzir o primeiro tópico, apresente as
reportagens. Mas antes, elabore algumas perguntas — tais como: O que faz uma
pessoa famosa tirar a própria vida? Por que pessoas que aparentemente não têm
falta de nada tiram a própria vida? - para serem feitas após a apresentação da
reportagem. Dirija essas perguntas à classe e aguarde as respostas. Conclua a
atividade mostrando que as circunstâncias do cotidiano da vida muitas vezes
mascara o que realmente as pessoas estão vivendo. Encerre lendo o trecho
bíblico que diz: “Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a
sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Mc 8.36,37).
II. OS TIPOS
DE SUICÍDIOS
Os tipos de suicídio podem ser classificados em
convencional, pessoal e sacrificial. Neste tópico veremos suas principais
implicações.
1. Suicídio convencional. Dá-se o nome de "convencional" ao suicídio provocado pela
tradição cultural ou coerção do grupo social. Entre os esquimós, por exemplo, é
tolerado e esperado o suicídio de incapacitados e idosos. No Japão a prática do
hara-kiri expressava o orgulho do suicida em escapar de alguma situação
intolerável e era visto como um ato de nobreza. Em maio de 2007, ao ser
investigado por corrupção, o Ministro da Agricultura do Japão sentiu-se
extremamente envergonhado e cometeu o suicídio por enforcamento. Em 2014, a
taxa média de suicídios no Japão era de 70 pessoas por dia. Especialistas
costumam citar a antiga tradição de "suicídio em nome da honra" para
explicar que razões culturais tornaram os japoneses mais propensos à morte
autoinfligida.
“A maioria dos autores classifica o suicídio em
duas grandes categorias, a saber: o suicídio convencional e o suicídio pessoal.
O suicídio convencional inclui os suicídios
tradicionais e os baseados em costumes e culturas de certos grupos. No Japão,
por exemplo, existe a tradição do suicídio honroso (hara-kiri). Em outras
culturas, mulheres se suicidam para acompanhar seus maridos que partiram. Este
comportamento é aceito ali como um ato de heroísmo.” (Esperança à beira do abismo - A problemática do suicídio.
Disponível em: http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo.
Acesso em: 30 Abr, 2018)
2. Suicídio pessoal. Praticado por iniciativa individual, sem a influência de tradição
cultural. As motivações para este tipo de suicídio são variadas e muitas vezes
não é possível apontar causas aparentes. Contudo, o suicídio é considerado uma
fuga radical e permanente dos problemas da vida, tais como dificuldades
financeiras, desilusões amorosas, sentimentos de culpa, depressão, neuroses,
desequilíbrios mentais e espirituais, e outros. Tais pessoas, desprovidas de fé
e de esperança, em um ato de desespero atentam contra a própria vida. Dados
oficiais indicam que 32 brasileiros cometem suicídio a cada dia. Esse índice é
superior as mortes causadas pela AIDS e pela maior parte dos tipos de câncer.
“Já o suicídio pessoal, não está ligado a nenhum
fator cultural ou tradicional. A decisão é de foro intimo. Algumas pessoas se
suicidam por problema de depressão, outras por uma questão de fuga de problemas
que julgam impossíveis se resolverem, por se sentirem traídas e rejeitadas,
querendo chamar a atenção, outras ainda por vingança, por medo, dentre outros
fatores e motivações.” (Esperança à beira do abismo - A
problemática do suicídio. Disponível em:http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo.
Acesso em: 30 Abr, 2018)
3. "Suicídio" sacrificial. Também conhecido como "morte em prol dos outros". Trata-se da
tentativa altruísta de alguém salvar a vida alheia em detrimento da sua
própria. Neste caso enquadra-se o bombeiro, que ao entrar no fogo, acaba
morrendo como resultado de sua ação ou o salva-vidas que se afoga ao entrar na
água para salvar o outro. Também o profissional ou voluntário que perde a vida
combatendo o crime ou socorrendo as vítimas de acidentes e de emergências.
Nessas circunstâncias, a morte de quem arrisca a vida em favor do próximo não é
suicídio, mas um ato de amor. Cristo disse que ninguém tem maior amor do que
este: "de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (Jo 15.13). O
próprio Senhor entregou a vida dEle por nós por meio de um sacrifício amoroso
(Jo 10.15).
“O suicídio sacrificial pode ser justificado nos
casos em que as pessoas amam mais os outros do que a si mesmas. Geisler (1988)
fundamenta essa postura por meio de textos bíblicos do Novo Testamento tais
como o momento em que Jesus comenta sobre a sua própria vida “ninguém a tira de
mim, mas eu a dou livremente” (João: 10: 18, Bíblia de Jerusalém), ou quando
prescreve “Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida por seus amigos”
(João: 15: 13, Bíblia de Jerusalém). Assim, a morte voluntária torna-se um ato
moralmente correto, quando o sacrifício da própria vida objetiva a salvação de
outras vidas. Entretanto, para Fairbairn (1999), a morte por sacrifício ou em
prol do outro não seria concebida como suicídio, já que a morte não é a
intenção final, mas um meio para atingir outro objetivo.” (Thiago
Antonio Avellar de Aquino. Tese de Doutorado; ATITUDES E INTENÇÕES DE COMETER O
SUICÍDIO: SEUS CORRELATOS EXISTENCIAIS E NORMATIVOS. Disponível em: http://vvgouveia.net/en/images/Teses/Aquino_T._A._A._2009.pdf.pdf.
Acesso em: 30 Abr, 2018.)
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“O suicídio de Abimeleque. A história
de Abimeleque, que viveu nos inícios do século XIII a.C, ilustra muito bem a
natureza ilusória, egoísta e perversa do suicídio. Filho bastardo de Gideão,
insurge-se logo após a morte do pai. Já em Ofra, com a ajuda de uns homens
levianos e maus, mata traiçoeiramente seus irmãos (Jz 9.5). O único a escapar
foi Jotão que, para denunciar o cruel assassino, profere um lindíssimo apólogo.
Em seguida, Abimeleque sai a arrebanhar os israelitas, a fim de fazer-se rei
daquelas terras. Não demorou muito e, agora, erguia-se como um dos maiores
vilões das crónicas hebreias.
Apesar de alguns sucessos iniciais,
seus empreendimentos começam a malograr. Pouco a pouco, vai perdendo o apoio do
povo que, alertado pela fábula de Jotão, revolta-se e expõe-lhe a tirania.
Assim, vê-se obrigado a travar algumas batalhas desgastantes e renhidas que,
dia a dia, vão desprotegendo-o. Ao sitiar a cidade de Tebes, que ficava na
região de Manassés, ‘certa mulher lançou uma pedra superior de moinho sobre a
cabeça de Abimeleque e lhe quebrou o crânio’ (Jz 9.53). Gravemente ferido, mas
ainda orgulhoso e soberbo, ordena ao escudeiro: ‘Desembainha a tua espada e
mata-me, para que não se diga de mim: Mulher o matou’. O seu companheiro de
guerra não lhe questiona a ordem nem levanta questão ética alguma. Antes, ‘o
moço o atravessou, e ele morreu’ (Jz 9.54). Com sua morte, a nação de Israel é
novamente pacificada.
Na conclusão da história, somos
obrigados a perguntar: Por que Abimeleque requereu a eutanásia [ou suicídio]? O
motivo ele mesmo o declara: ‘Para que não se diga: Mulher o matou’. Ele não
procurou fugir à dor, mas escapar à vergonha. Não matara ele tantos homens? Por
que morrer, agora, às mãos de uma mulher? Portanto, a morte ser-lhe-ia boa e
até suave não por que o livraria da dor, mas por que o libertaria da ignomínia.
Parte dos que defendem a eutanásia não temem propriamente os desconfortos e as
aflições de uma morte lenta e excruciante; o que mais os assusta é depender dos
que, até então, deles dependiam” (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017,
pp.114,15).
III. O
POSICIONAMENTO CRISTÃO PARA O SUICÍDIO
A posição teológica e a ética do cristão são desfavoráveis
à prática do suicídio por afrontar a soberania divina.
1. O posicionamento teológico. O cristão se posiciona contra o suicídio fundamentado no sexto
mandamento do Decálogo: "Não matarás" (Êx 20.13). O
princípio que proíbe o homem de assassinar o outro, também o proíbe de
"assassinar" a si mesmo. A vida humana é uma dádiva divina e,
portanto, pertence a Deus (SI 100.3). O Criador é quem determina o início e o
término da vida, não a criatura (Ec 3.2). É Deus quem estabelece quando e como
a vida deve cessar, seja por doença, velhice ou acidente. Por conseguinte, o
fim da vida está sob a presciência e soberania divina.
“Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele que nos fez, de
não nós a si mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto” (Sl
100.3).Considerando que não somos de nós mesmos, mas de Deus, por termos sido
criados por Ele, a iniciativa de uma pessoa de tirar a própria via significa
que ela está-se colocando acima de Deus e agindo com autoridade maior que a do
Senhor, o autor da vida. O homem foi criado a imagem e semelhança de Deus;
destruiu o próprio corpo é desonrar o Criador. Paulo disse: “Ou não sabeis que
o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de
Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1Co 6.19). Deus é o doador da vida,
presente e futura. (Ver Gn 1.26-27; Sl 8.5; 24.1; Jo 1.3; 3.16;
10.10;11.25-26). É o Senhor que tem estabelecido as normas de conduta para a
nossa vida presente e para toda a eternidade.” (Esperança
à beira do abismo - A problemática do suicídio. Disponível em: http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo.
Acesso em: 30 Abr, 2018)
2. O posicionamento ético. A posição da Ética Cristã é contrária ao suicídio pelos seguintes e
principais motivos:
a) o suicídio implica banalizar a vida e afrontar a soberania divina;
b) o suicida viola o mandamento de amar "o próximo como a si
mesmo";
c) o suicídio é um ato egoísta de quem pensa em aliviar seu sofrimento
sem se importar com os outros;
d) suicidar-se denota inversão dos valores da vida e falta de confiança
em Deus;
e) o suicídio é um gesto de ingratidão que interrompe o ciclo e a missão
da vida outorgada por Deus. Mercê dessa posição a igreja precisa ajudar as
pessoas a não sucumbirem diante desse mal.
“A ética Cristã não justifica o suicídio quando
este ocorrer para si mesmo. Segundo pessoas que já tentaram o suicídio, a ação
suicida ocorrer com o objetivo de obter uma válvula de escape de algum
problema. Entende-se que é um uso perverso contra si mesmo, pois o objeto
perdeu o interesse por si mesmo, sentindo ódio de si de forma irracional.
Quando a pessoa tem interesse em si mesmo, esta preserva sua vida. A ética
Cristã tem sua base no contexto de irracionalidade do suicídio, onde entende-se
que, embora alguns desejem tirar a própria vida, há individuo que não determina
se suicidar. Pois o suicido tem por fundamento obter alívio de certo(s)
problema(s). Agostinho entendeu que o suicido é um fracasso de coragem. Pois
este é o desejo de não existir mais. Já que este é um problema psicológico e
moral e não filosófico. É visto nesse ângulo, pois a ética cristã compreende
que, o suicida busca uma saída de forma fácil, já que este não tem forças para
enfrentar o problema. Nos fazendo perceber que não existe suicídio egoísta,
pois o verdadeiro amor próprio jamais irá eliminar o próprio-eu que ama.” (Claudia
Souzaq, A ÉTICA CRISTÃ E O SUICIDIO. Disponível em:http://eueabibliaponderandoosfatos.blogspot.com.br/2014/10/a-etica-crista-e-o-suicidio.html.
Acesso em: 30 Abr, 2018).
“Rus Walton, pesquisador cristão e ex-secretário
do Desenvolvimento do governo de Ronald Regan, não considera o suicídio um
problema de patologia. Ou seja, não se trata de um problema da mente, mas, sim,
de enfermidade da alma: “Por que seríeis ainda castigados, se mais vos
rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. Desde a planta
do pé até a cabeça não há nele coisa as, senão feridas e inchaços e chagas
podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo” (Is 1.5-6). Essa
enfermidade Jesus Cristo pode curar. O pecado e a fonte das inclinações
suicidas. Quando a alma está sem Cristo, a mente e corrupta, perdida. As
pessoas sem Cristo estão envolvidas em caminhos que parecem direitos, mas que,
por fim, conduzem a morte.” (Esperança à beira do abismo - A
problemática do suicídio. Disponível em: http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo.
Acesso em: 30 Abr, 2018)
SUBSÍDIO DIDÁTICO
Professor (a), exponha o aspecto
teológico e ético das implicações do suicídio deixando claro que não é a
vontade do Pai que tal mal suceda à pessoa e sua família. Como igreja de Deus,
somos convocados a militar pela vida. Levar esperança às pessoas angustiadas é
a missão do seguidor de Jesus. Deixe claro que vivemos num mundo onde as
pessoas estão cada vez mais vazias: só Cristo pode preencher esse vazio.
Proclamemos a salvação de Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
O aumento do suicídio é resultado da ideologia que
enaltece a criatura em lugar do Criador. Quando o homem evoca autonomia
sobre o próprio corpo e a vida, desprezando e afrontando a soberania divina,
graves e funestas consequências ocorrem. Ávida só tem sentido quando está sob o
controle irrestrito de seu Criador (Is 41.13).
Desde a queda da humanidade toda sorte de pecado
tem dominado a alma humana, o suicídio não é diferente, sempre esteve presente.
Mas há uma classe de pessoas que estão suscetíveis a esta tragédia que ninguém
lembra: os pastores - o suicídio de pastores, líderes e filhos de líderes
cresce e preocupa. “Pastores têm uma tendência à solidão e a fazer tudo
sozinhos. Muitos trabalham baseados na identidade de servo e não de filho. Não
sabem ou não gostam de delegar para outros as tarefas que não são suas
prioridades. Têm dificuldade para dizer não” (Pr. Gedimar de Araújo). “O
que está acontecendo com os que estão na função de cuidado, mas não conseguem
administrar suas próprias demandas? Por que pessoas que já ajudaram a tantos,
desistem da própria vida? De acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos
pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80%
acreditam que o ministério pastoral afetou negativamente suas famílias e 70%
dizem não ter um amigo próximo”. [...]A causa mais comum noticiada para o
suicídio de pastores e líderes, é a depressão associada a esgotamento físico e
emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de
amigos.” (SEPAL). Ore por seu pastor!
“XXVII. É bom retribuir a Deus o que dado
por ele, mas quando isso é exigido de nós como devolvido de maneira devida; no
entanto, não quando nem é exigido nem devolvido da maneira devida. Admitimos
que a morte é às vezes melhor que a vida; porém infligida por outros, não
buscada por nós mesmos. A morte pode ser licitamente desejada, porém não
buscada. Assim como a vida é recebida só pela vontade divina, assim também não
deve ser entregue a não ser por sua ordem. É bravo desprezar aquele
terribilíssimo mensageiro (to phoberotaton) de Deus; porém, precipitar-se sobre
ele voluntariamente é temerário e insano (o que Aristóteles, Nichomachaen
Ethics 3.8 [Loeb, 19:163-171]), ensina que não e bravura, mas covardia). E
também o amor pelo país, a segurança de outros e o anelo pela imortalidade, que
podem impelir à brava sujeição à morte enviada contra nós, não devem ter a
mesma influência em levar-nos a convidá-la quando não enviada.
XXVIII. Uma coisa é suportar a morte, deixar-se
matar; sim, inclusive apresentar-se a ela bravamente ante o chamado de Deus.
Outra coisa é matar-se. O primeiro caso, em algumas circunstâncias, é lícito, e
Cristo, os mártires e os heróis fizeram algo semelhante; porém não igualmente o
segundo caso.
XXIX. "Dar o próprio corpo para ser queimado",
no dizer de Paulo (1Co 13.3), não é um ato temerário e destituído de valor,
pela qual alguém voluntaria e desnecessariamente se expõe à morte em prol da
causa de Deus. Antes, é um ato necessário e santo, pelo qual ele enfrenta o
martírio atendendo ao chamado de Deus e não recusa tal chamado, ou mentindo, ou
negando a verdade pelo amor da família ou do mundo, quando lhe cabe por sorte
ser levado aos tribunais dos pagãos pelos inimigos do evangelho”. (Autor: François Turretini (1623-1687) Fonte: François Turretini,
Compêndio de Teologia Apologética, Livro II, Ed. Cultura Cristã, págs. 153-156.
Via: Blog 2Timóteo 3.16).
“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim
o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor
Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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