sábado, 5 de maio de 2018

LIÇÃO 6: ÉTICA CRISTÃ E SUICÍDIO


SUBSÍDIO I

Ética Cristã e suicídio

O suicídio é um drama no mundo. Muitos casos são potencializados por causa das crises de depressão profunda. Há um relato de suicídio muito triste de uma famosa escritora inglesa, Virginia Woolf (1882-1941). Seu estilo literário é considerado influente sobre a também conhecida escritora brasileira Clarice Lispector. Obras marcantes de Virgínia são “Orlando”, “As Ondas”, “Mrs. Dalloway” e uma que este articulista aprecia muito, “Cenas Londrinas”, dentre outras. Virgínia sofreu muito com períodos de crises depressivas. Na época, não se tinha fármacos tão eficientes em relação à doença. No momento de crise, a escritora sentia dores de cabeça alucinantes indo à exaustão física. Até que um dia, não mais suportando o sofrimento, Virginia Woolf tirou a própria vida colocando pedras em seu casaco, caminhando e afogando-se no Rio Ouse, perto de sua residência.
O exemplo mencionado acima pode ser classificado como “suicídio pessoal”, quando a pessoa individualmente desiste de viver. São muitos os casos de indivíduos que se encontram nessa situação. De acordo com o jornalista André Trigueiro, na obra “Viver é a melhor opção – A prevenção do suicídio no Brasil e no mundo”, foi realizado um mapeamento de milhares de pessoas de várias partes do mundo, que tinham em comum em seus óbitos o suicídio. Em 90% dos casos foi constatado que as pessoas que praticaram o suicídio tinham histórico de alguma patologia mental, especialmente o transtorno de humor, conhecido como depressão, esquizofrenia, bipolaridade e outras, que poderiam ser perfeitamente tratadas. É uma amostragem chocante. Significa que 90% dos casos do suicídio poderiam ser revertidos. Além do livro, há vários vídeos do jornalista André Trigueiro sobre o assunto no Youtube. Outra obra que pode ajudar muito a conhecer a implicação das doenças psíquicas na vida é a clássica “O demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão”, do jornalista Andrew Solomon. É uma descrição realista a cerca do domínio da depressão sobre a psiquê humana.
Diante desse quadro grave, o suicídio deve ser tratado com muita seriedade. Por isso, estude bem o assunto. Mencione a questão médica da depressão e a sua relação com o suicídio. Então, mostre a posição teológica e ética da Igreja de Cristo. E aproveite a oportunidade para propor ações de prevenção a favor da vida, junto à classe. Boa aula! 

Revista Ensinador Cristão, ano 19 – nº 74, p. 39. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

A expressão "suicídio" vem do Latim sui (a si mesmo) e caedere (matar, cortar) que significa "matar a si mesmo", também conhecida como "morte autoinfligida". Essa prática tem sido um mal silencioso e o índice de pessoas que se suicidam vem crescendo assustadoramente. Nesta lição, estudaremos o suicídio nas Escrituras e no mundo, seus tipos e o posicionamento cristão quanto ao tema.
O termo suicídio foi utilizado pela primeira vez em 1737 por Desfontaines, cujo significado tem origem no latim, na junção das palavras sui (si mesmo) e caederes (acção de matar), ou seja, é um ato que consiste em pôr fim intencionalmente à própria vida”. (Dicionário inFormal)
Em alguns idiomas, como o inglês, o verbo suicidar(-se) não existe: uma pessoa commits suicide, ou seja, comete suicídio. Moralmente errado, mas etimologicamente correto.” (Dicionário Etimológico)
Este é um tema atualíssimo e cheio de controvérsia no meio cristão evangélico, dado algumas posições distintas quanto à salvação do suicida. Uma lição apenas não será suficiente para elucidar a questão, primeiro por que esta é uma questão muito difícil para se responder com certeza; Na realidade, ela possa ser respondida com absoluta certeza. Assim, embora possamos fazer alguns esforços para determinar a condição espiritual da pessoa, no final das contas é o juízo final de Deus sobre a alma de uma pessoa. Segundo, algumas linhas teológicas acreditam que o suicídio seja um pecado imperdoável e nos Evangelhos lemos que o pecado imperdoável é blasfemar contra o Espírito Santo (Lc 12.10). Em essência temos, então, quatro posições: (1) Todo aquele que comete suicídio, sob qualquer circunstância, vai para o inferno (posição Católica Tradicional); (2) Um cristão nunca chega a cometer suicídio, porque Deus impediria; (3) Um cristão pode cometer suicídio, mas perderá sua salvação, e (4) Um cristão pode cometer suicídio, sem que necessariamente perca sua salvação. Vale, ainda, afirmar que o sacrifício de Cristo na cruz perdoou todos os nossos pecados: passados, presentes e futuros (Cl 2.13-14, Hb 10.11-18). Assim, concluímos que dependendo da corrente teológica defendida, quanto à segurança da salvação, um cristão defenderá a condenação ao inferno do suicida (Arminianos) ou que, mesmo tirando a própria vida, sua salvação estará garantida, porque esta não se perde jamais (Reformados). O que é certo afirmarmos convictamente é que Deus é o autor da vida e não está dentro dos nossos direitos acabar com qualquer vida, até mesmo a nossa. E como a lição trata de ética cristã, devemos tratar esse assunto com muito temor e amor, muitos irmãos na fé foram atingidos por essa tragédia em suas famílias, e muitas vezes temos sido cruéis com estes ao tratarmos do tema, afirmando convictamente sobre um fato não estabelecido de forma definitiva. Agostinho tinha razão ao dizer: “Naquilo que é essencial, unidade; naquilo que é duvidoso, liberdade; e em todas as coisas, caridade”. Dito isto, convido-o a pensarmos maduramente a fé cristã!

I. O SUICÍDIO NAS ESCRITURAS E NO MUNDO
                                
As Escrituras registram seis casos de suicídio: cinco no Antigo Testamento e um no Novo. Em situação de conflito, homens se desesperam e tiram a própria vida no mundo todo.

1. No Antigo Testamento. A história de Sansão mostra que a tarefa dele era a de derrotar os filisteus (Jz 13.5). Mas ele revelou o segredo de sua força e foi preso. Decidido a cumprir sua missão, na festa a Dagon, derrubou o templo sobre si e seus inimigos (Jz 16.30). Entretanto, esta ação é vista como sacrifício de guerra e não suicídio. Por isso, Sansão aparece na lista dos heróis da fé (Hb 11.32-34). Outro registro é o caso de Saul e de seu escudeiro. O primeiro rei em Israel rejeitou o Senhor e buscou o ocultismo (l Sm 28.7). Acuado na peleja contra os filisteus, Saul lançou-se sobre a própria espada e seu auxiliar fez o mesmo (1Sm 31.4,5). O quarto caso foi o de Aitofel, conselheiro de Absalão, que não suportou ter o seu conselho rejeitado e se enforcou (2 Sm 17.23). O quinto registro é o do rei Zinri, que derrotado e apavorado, tirou a própria vida (l Rs 16.18,19). Exceto Sansão, tais homens, motivados pelo orgulho, escolheram a morte em lugar de confiarem em Deus. Aliás, podemos dizer que Sansão morreu em combate.
Sansão é um tipo de Cristo e não um suicida. Alguns apontam a morte de Sansão (Jz 16. 29-31) como sendo um exemplo de um servo de Deus que se suicidou. Mas observo que a posição de Sansão não pode ser vista como normativa ou até exemplificativa da questão. Sansão era mais um prisioneiro de guerra, do que qualquer outra coisa. Ele e o país se achavam em uma situação emergencial de conflito, como descrevem os capítulos 13 a 16 do livro de Juízes. Vemos, em sua ação, não um suicídio por desespero, pelo fato de estar cego, mas um ato de um guerreiro que não hesita em sacrificar sua vida em função de uma grande vitória - o seu brado final comprova isso (“morra eu com os filisteus!”).
O exemplo de Sansão (Jz 16.30) não favorece o suicídio (autocheiria), porque nas ruínas da casa que ele derrubou ele se sepultou não menos que os demais. Este foi um feito singular, perpetrado pela influência extraordinária do Espírito Santo, como transparece tanto do apóstolo (Hb 11.34), que declara que ele fez isso pela fé, baseado nas orações que ofereceu a Deus para a obtenção de força extraordinária para este ato, e no fato de que elas foram ouvidas (Jz 16.28). Deus aumentou sua força e lhe outorgou o desejado sucesso para que assim ele fosse um eminente tipo de Cristo, que causa grande destruição de seus inimigos por meio de sua morte e que quebra o jugo tirânico posto no pescoço de seu povo. Finalmente, o desígnio não visava simplesmente a uma vingança privada, mas à vindicação da glória de Deus, da religião e do povo, visto que ele era uma pessoa pública e levantada por Deus dentro o povo como vingador.” (O Suicídio e o sexto mandamento: “Não Matarás”. Disponível em: https://bereianos.blogspot.com.br/2012/11/o-suicidio-e-o-sexto-mandamento-nao.html Acesso: em: 29 Abr, 2018)
Sobre Saul temos um problema: o texto de 1 Samuel 31 diz que o rei Saul suicidou-se, caindo sobre a sua espada, mas 2 Samuel 1 registra que ele foi morto por um amalequita. Mas seguindo a maioria dos estudiosos que apontam para o suicídio como relato verídico, Saul não é exemplo de homem temente à Deus, está mais para a semente de Satanás. Agostinho declara corretamente que Saul “certamente era réprobo” (Cidade de Deus, 17.6). Como primeiro rei de Israel, a iniquidade de Saul é especialmente evidente em seus pecados contra o reino de Deus.
O sanguinário Rei Zinri morre violentamente como viveu, sete dias depois de assumir o trono de Israel. Conforme a narrativa de 1 Rs 16,15, Zinri começou a reinar no ano 27 de Asa, e reinou apenas uma semana.

2. No Novo Testamento. O mais emblemático caso é o suicídio de Judas Iscariotes. Ele fizera parte do colegiado apostólico (Lc 6.16). Sua função de tesoureiro requeria integridade (Jo 13.29). No entanto, ele furtava as ofertas que eram lançadas na bolsa (Jo 12,6). Sua ambição por dinheiro foi uma das motivações para entregar Jesus (Mc 14.11). Culpado por trair um inocente, enforcou-se (Mt 27.4,5) e como resultado: "precipitando-se, rebentou pelo meio, e todas as suas entranhas se derramaram" (At 1.18). Cristo já o tinha alertado, "ai daquele homem por quem o Filho do Homem é traído!" (Mc 14.21), porém. Judas não resistiu ao Diabo nem teve a humildade para buscar o perdão do Senhor. Ele preferiu o suicídio a corrigir o erro. Em nossos dias, a banalização da vida e da fé tem contribuído para comportamentos similares e consequente queda espiritual de pessoas. 
Em Marcos 14.21 Jesus diz que seria melhor para Judas nunca ter nascido, por estas palavras, Judas provavelmente esteja no inferno. Na oração sacerdotal de Jesus em João 17.12, é dito que ele guardou os outros discípulos “no teu nome, os que me deste”, mas ele não guardou Judas dessa forma, com o resultado de que Judas, o filho da perdição, se perdeu. Não ter sido guardado no nome divino é provavelmente equivalente a nunca ter sido salvo. A palavra grega para “perdição” significa “destruição” ou “inferno”, de forma que Judas era o “filho do inferno”, o que também parece indicar que Judas está no inferno.
No Novo Testamento, temos o famigerado caso de Judas Iscariotes, o traidor, que se enforcou depois de haver jogado as trinta moedas de prata sobre o pavimento do templo diante do sumo sacerdote e dos anciões (Mt 27.3-5). Um dos textos bíblicos que nos chamam a atenção sobre essa atitude de Judas foi registrado por Lucas quando menciona que alguns dias antes de suicidar-se Satanás entrara em Judas Iscariotes: “Entrou, porém, Satanás em Judas...” (Lc 22.3). O que nos leva a entender que o suicídio também pode ocorrer por possessão ou, no mínimo, por uma poderosa influência do diabo sobre os filhos da desobediência.” (Suicídio - De quem é a vida, afinal?. Disponível em: http://www.icp.com.br/df34materia2.asp. Acesso em: 30 Abr, 2018)

3. O suicídio no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) as mortes por suicídio aumentaram 60% nas últimas cinco décadas. Quase um milhão de pessoas tiram a própria vida todos os anos e cerca de outros vinte milhões tentam ou pensam em suicídio. Para cada suicídio, cerca de seis a dez outras pessoas são diretamente afetadas. Na maioria dos países desenvolvidos, o suicídio é a primeira causa de morte não natural. Desde 2015, as autoridades iniciaram o movimento "setembro amarelo", que é estimulado pela Associação Internacional pela Prevenção do Suicídio (IASP). O movimento consiste em sinalizar locais públicos com faixas ou símbolos amarelos.
De acordo com um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos uma pessoa se suicida no mundo a cada 40 segundos. O suicídio se tornou uma verdadeira epidemia de proporções globais, sendo uma preocupação constante para vários países ao redor da Terra (Megacurioso). Ainda de acordo com a OMS, o suicídio é uma das três principais causas de morte, em muitos países, entre pessoas de 15 a 44 anos. Alguns estudos revelam que a maioria dos suicídios está ligada a transtornos psiquiátricos.
O sociólogo francês Émilie Durkhein produziu um estudo sobre o suicídio, classificando-o em três categorias sociais: o suicídio egoísta, o altruísta e o anômico. Mais tarde, ele acrescentou à sua tese o suicídio fatalista.
* O suicídio egoísta. Seria o resultado de um individualismo excessivo, ou seja, a falta de interesse do indivíduo pela comunidade.
* O suicídio altruísta ou heróico. A pessoa é levada a cometer o suicídio por um excessivo altruísmo e sentimento de dever, muito comum nas sociedades primitivas e orientais.
* O suicídio anômico. Em grego, o termo significa “sem lei”, mostrando a desorientação e o choque produzidos na vida de uma pessoa por uma mudança abrupta qualquer.
O suicídio fatalista, por sua vez, seria aquele decorrente do excesso de regulamentação da sociedade sobre o indivíduo cujas “paixões” são reprimidas, de forma violenta, por uma disciplina opressiva.” (Suicídio - De quem é a vida, afinal?. Disponível em: http://www.icp.com.br/df34materia2.asp. Acesso em: 30 Abr, 2018)

SUBSÍDIO DIDÁTICO
                               
Pesquise notícias em revistas ou jornais sobre pessoas famosas que suicidaram-se. Leve esses recortes para a sala de aula. Após introduzir o primeiro tópico, apresente as reportagens. Mas antes, elabore algumas perguntas — tais como: O que faz uma pessoa famosa tirar a própria vida? Por que pessoas que aparentemente não têm falta de nada tiram a própria vida? - para serem feitas após a apresentação da reportagem. Dirija essas perguntas à classe e aguarde as respostas. Conclua a atividade mostrando que as circunstâncias do cotidiano da vida muitas vezes mascara o que realmente as pessoas estão vivendo. Encerre lendo o trecho bíblico que diz: “Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?” (Mc 8.36,37).

II. OS TIPOS DE SUICÍDIOS

Os tipos de suicídio podem ser classificados em convencional, pessoal e sacrificial. Neste tópico veremos suas principais implicações.

1. Suicídio convencional. Dá-se o nome de "convencional" ao suicídio provocado pela tradição cultural ou coerção do grupo social. Entre os esquimós, por exemplo, é tolerado e esperado o suicídio de incapacitados e idosos. No Japão a prática do hara-kiri expressava o orgulho do suicida em escapar de alguma situação intolerável e era visto como um ato de nobreza. Em maio de 2007, ao ser investigado por corrupção, o Ministro da Agricultura do Japão sentiu-se extremamente envergonhado e cometeu o suicídio por enforcamento. Em 2014, a taxa média de suicídios no Japão era de 70 pessoas por dia. Especialistas costumam citar a antiga tradição de "suicídio em nome da honra" para explicar que razões culturais tornaram os japoneses mais propensos à morte autoinfligida.
A maioria dos autores classifica o suicídio em duas grandes categorias, a saber: o suicídio convencional e o suicídio pessoal.
O suicídio convencional inclui os suicídios tradicionais e os baseados em costumes e culturas de certos grupos. No Japão, por exemplo, existe a tradição do suicídio honroso (hara-kiri). Em outras culturas, mulheres se suicidam para acompanhar seus maridos que partiram. Este comportamento é aceito ali como um ato de heroísmo. (Esperança à beira do abismo - A problemática do suicídio. Disponível em: http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo. Acesso em: 30 Abr, 2018)

2. Suicídio pessoal. Praticado por iniciativa individual, sem a influência de tradição cultural. As motivações para este tipo de suicídio são variadas e muitas vezes não é possível apontar causas aparentes. Contudo, o suicídio é considerado uma fuga radical e permanente dos problemas da vida, tais como dificuldades financeiras, desilusões amorosas, sentimentos de culpa, depressão, neuroses, desequilíbrios mentais e espirituais, e outros. Tais pessoas, desprovidas de fé e de esperança, em um ato de desespero atentam contra a própria vida. Dados oficiais indicam que 32 brasileiros cometem suicídio a cada dia. Esse índice é superior as mortes causadas pela AIDS e pela maior parte dos tipos de câncer.
Já o suicídio pessoal, não está ligado a nenhum fator cultural ou tradicional. A decisão é de foro intimo. Algumas pessoas se suicidam por problema de depressão, outras por uma questão de fuga de problemas que julgam impossíveis se resolverem, por se sentirem traídas e rejeitadas, querendo chamar a atenção, outras ainda por vingança, por medo, dentre outros fatores e motivações.” (Esperança à beira do abismo - A problemática do suicídio. Disponível em:http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo. Acesso em: 30 Abr, 2018)

3. "Suicídio" sacrificial. Também conhecido como "morte em prol dos outros". Trata-se da tentativa altruísta de alguém salvar a vida alheia em detrimento da sua própria. Neste caso enquadra-se o bombeiro, que ao entrar no fogo, acaba morrendo como resultado de sua ação ou o salva-vidas que se afoga ao entrar na água para salvar o outro. Também o profissional ou voluntário que perde a vida combatendo o crime ou socorrendo as vítimas de acidentes e de emergências. Nessas circunstâncias, a morte de quem arrisca a vida em favor do próximo não é suicídio, mas um ato de amor. Cristo disse que ninguém tem maior amor do que este: "de dar alguém a sua vida pelos seus amigos" (Jo 15.13). O próprio Senhor entregou a vida dEle por nós por meio de um sacrifício amoroso (Jo 10.15).
O suicídio sacrificial pode ser justificado nos casos em que as pessoas amam mais os outros do que a si mesmas. Geisler (1988) fundamenta essa postura por meio de textos bíblicos do Novo Testamento tais como o momento em que Jesus comenta sobre a sua própria vida “ninguém a tira de mim, mas eu a dou livremente” (João: 10: 18, Bíblia de Jerusalém), ou quando prescreve “Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (João: 15: 13, Bíblia de Jerusalém). Assim, a morte voluntária torna-se um ato moralmente correto, quando o sacrifício da própria vida objetiva a salvação de outras vidas. Entretanto, para Fairbairn (1999), a morte por sacrifício ou em prol do outro não seria concebida como suicídio, já que a morte não é a intenção final, mas um meio para atingir outro objetivo.” (Thiago Antonio Avellar de Aquino. Tese de Doutorado; ATITUDES E INTENÇÕES DE COMETER O SUICÍDIO: SEUS CORRELATOS EXISTENCIAIS E NORMATIVOS. Disponível em: http://vvgouveia.net/en/images/Teses/Aquino_T._A._A._2009.pdf.pdf. Acesso em: 30 Abr, 2018.)

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“O suicídio de Abimeleque. A história de Abimeleque, que viveu nos inícios do século XIII a.C, ilustra muito bem a natureza ilusória, egoísta e perversa do suicídio. Filho bastardo de Gideão, insurge-se logo após a morte do pai. Já em Ofra, com a ajuda de uns homens levianos e maus, mata traiçoeiramente seus irmãos (Jz 9.5). O único a escapar foi Jotão que, para denunciar o cruel assassino, profere um lindíssimo apólogo. Em seguida, Abimeleque sai a arrebanhar os israelitas, a fim de fazer-se rei daquelas terras. Não demorou muito e, agora, erguia-se como um dos maiores vilões das crónicas hebreias.
Apesar de alguns sucessos iniciais, seus empreendimentos começam a malograr. Pouco a pouco, vai perdendo o apoio do povo que, alertado pela fábula de Jotão, revolta-se e expõe-lhe a tirania. Assim, vê-se obrigado a travar algumas batalhas desgastantes e renhidas que, dia a dia, vão desprotegendo-o. Ao sitiar a cidade de Tebes, que ficava na região de Manassés, ‘certa mulher lançou uma pedra superior de moinho sobre a cabeça de Abimeleque e lhe quebrou o crânio’ (Jz 9.53). Gravemente ferido, mas ainda orgulhoso e soberbo, ordena ao escudeiro: ‘Desembainha a tua espada e mata-me, para que não se diga de mim: Mulher o matou’. O seu companheiro de guerra não lhe questiona a ordem nem levanta questão ética alguma. Antes, ‘o moço o atravessou, e ele morreu’ (Jz 9.54). Com sua morte, a nação de Israel é novamente pacificada.
Na conclusão da história, somos obrigados a perguntar: Por que Abimeleque requereu a eutanásia [ou suicídio]? O motivo ele mesmo o declara: ‘Para que não se diga: Mulher o matou’. Ele não procurou fugir à dor, mas escapar à vergonha. Não matara ele tantos homens? Por que morrer, agora, às mãos de uma mulher? Portanto, a morte ser-lhe-ia boa e até suave não por que o livraria da dor, mas por que o libertaria da ignomínia. Parte dos que defendem a eutanásia não temem propriamente os desconfortos e as aflições de uma morte lenta e excruciante; o que mais os assusta é depender dos que, até então, deles dependiam” (ANDRADE, Claudionor de. As Novas Fronteiras da Ética Cristã. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2017, pp.114,15).

III. O POSICIONAMENTO CRISTÃO PARA O SUICÍDIO

A posição teológica e a ética do cristão são desfavoráveis à prática do suicídio por afrontar a soberania divina.

1. O posicionamento teológico. O cristão se posiciona contra o suicídio fundamentado no sexto mandamento do Decálogo: "Não matarás" (Êx 20.13). O princípio que proíbe o homem de assassinar o outro, também o proíbe de "assassinar" a si mesmo. A vida humana é uma dádiva divina e, portanto, pertence a Deus (SI 100.3). O Criador é quem determina o início e o término da vida, não a criatura (Ec 3.2). É Deus quem estabelece quando e como a vida deve cessar, seja por doença, velhice ou acidente. Por conseguinte, o fim da vida está sob a presciência e soberania divina.
“Sabei que o SENHOR é Deus; foi ele que nos fez, de não nós a si mesmos; somos povo seu e ovelhas do seu pasto” (Sl 100.3).Considerando que não somos de nós mesmos, mas de Deus, por termos sido criados por Ele, a iniciativa de uma pessoa de tirar a própria via significa que ela está-se colocando acima de Deus e agindo com autoridade maior que a do Senhor, o autor da vida. O homem foi criado a imagem e semelhança de Deus; destruiu o próprio corpo é desonrar o Criador. Paulo disse: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1Co 6.19). Deus é o doador da vida, presente e futura. (Ver Gn 1.26-27; Sl 8.5; 24.1; Jo 1.3; 3.16; 10.10;11.25-26). É o Senhor que tem estabelecido as normas de conduta para a nossa vida presente e para toda a eternidade.” (Esperança à beira do abismo - A problemática do suicídio. Disponível em: http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo. Acesso em: 30 Abr, 2018)

2. O posicionamento ético. A posição da Ética Cristã é contrária ao suicídio pelos seguintes e principais motivos:
a) o suicídio implica banalizar a vida e afrontar a soberania divina;
b) o suicida viola o mandamento de amar "o próximo como a si mesmo";
c) o suicídio é um ato egoísta de quem pensa em aliviar seu sofrimento sem se importar com os outros;
d) suicidar-se denota inversão dos valores da vida e falta de confiança em Deus;
e) o suicídio é um gesto de ingratidão que interrompe o ciclo e a missão da vida outorgada por Deus. Mercê dessa posição a igreja precisa ajudar as pessoas a não sucumbirem diante desse mal.
A ética Cristã não justifica o suicídio quando este ocorrer para si mesmo. Segundo pessoas que já tentaram o suicídio, a ação suicida ocorrer com o objetivo de obter uma válvula de escape de algum problema. Entende-se que é um uso perverso contra si mesmo, pois o objeto perdeu o interesse por si mesmo, sentindo ódio de si de forma irracional. Quando a pessoa tem interesse em si mesmo, esta preserva sua vida. A ética Cristã tem sua base no contexto de irracionalidade do suicídio, onde entende-se que, embora alguns desejem tirar a própria vida, há individuo que não determina se suicidar. Pois o suicido tem por fundamento obter alívio de certo(s) problema(s). Agostinho entendeu que o suicido é um fracasso de coragem. Pois este é o desejo de não existir mais. Já que este é um problema psicológico e moral e não filosófico. É visto nesse ângulo, pois a ética cristã compreende que, o suicida busca uma saída de forma fácil, já que este não tem forças para enfrentar o problema. Nos fazendo perceber que não existe suicídio egoísta, pois o verdadeiro amor próprio jamais irá eliminar o próprio-eu que ama.” (Claudia Souzaq, A ÉTICA CRISTÃ E O SUICIDIO. Disponível em:http://eueabibliaponderandoosfatos.blogspot.com.br/2014/10/a-etica-crista-e-o-suicidio.html. Acesso em: 30 Abr, 2018).
Rus Walton, pesquisador cristão e ex-secretário do Desenvolvimento do governo de Ronald Regan, não considera o suicídio um problema de patologia. Ou seja, não se trata de um problema da mente, mas, sim, de enfermidade da alma: “Por que seríeis ainda castigados, se mais vos rebelaríeis? Toda a cabeça está enferma e todo o coração fraco. Desde a planta do pé até a cabeça não há nele coisa as, senão feridas e inchaços e chagas podres não espremidas, nem ligadas, nem amolecidas com óleo” (Is 1.5-6). Essa enfermidade Jesus Cristo pode curar. O pecado e a fonte das inclinações suicidas. Quando a alma está sem Cristo, a mente e corrupta, perdida. As pessoas sem Cristo estão envolvidas em caminhos que parecem direitos, mas que, por fim, conduzem a morte.” (Esperança à beira do abismo - A problemática do suicídio. Disponível em: http://www.metodista.org.br/esperanca-a-beira-do-abismo. Acesso em: 30 Abr, 2018)

SUBSÍDIO DIDÁTICO

Professor (a), exponha o aspecto teológico e ético das implicações do suicídio deixando claro que não é a vontade do Pai que tal mal suceda à pessoa e sua família. Como igreja de Deus, somos convocados a militar pela vida. Levar esperança às pessoas angustiadas é a missão do seguidor de Jesus. Deixe claro que vivemos num mundo onde as pessoas estão cada vez mais vazias: só Cristo pode preencher esse vazio. Proclamemos a salvação de Jesus Cristo.

CONCLUSÃO

O aumento do suicídio é resultado da ideologia que enaltece a criatura em lugar do Criador. Quando o homem evoca autonomia sobre o próprio corpo e a vida, desprezando e afrontando a soberania divina, graves e funestas consequências ocorrem. Ávida só tem sentido quando está sob o controle irrestrito de seu Criador (Is 41.13).
Desde a queda da humanidade toda sorte de pecado tem dominado a alma humana, o suicídio não é diferente, sempre esteve presente. Mas há uma classe de pessoas que estão suscetíveis a esta tragédia que ninguém lembra: os pastores - o suicídio de pastores, líderes e filhos de líderes cresce e preocupa. “Pastores têm uma tendência à solidão e a fazer tudo sozinhos. Muitos trabalham baseados na identidade de servo e não de filho. Não sabem ou não gostam de delegar para outros as tarefas que não são suas prioridades. Têm dificuldade para dizer não” (Pr. Gedimar de Araújo). “O que está acontecendo com os que estão na função de cuidado, mas não conseguem administrar suas próprias demandas? Por que pessoas que já ajudaram a tantos, desistem da própria vida? De acordo com o Instituto Schaeffer, “70% dos pastores lutam constantemente contra a depressão, 71% se dizem esgotados, 80% acreditam que o ministério pastoral afetou negativamente suas famílias e 70% dizem não ter um amigo próximo”. [...]A causa mais comum noticiada para o suicídio de pastores e líderes, é a depressão associada a esgotamento físico e emocional, traições ministeriais, baixos salários e isolamento por falta de amigos.” (SEPAL). Ore por seu pastor!
 “XXVII. É bom retribuir a Deus o que dado por ele, mas quando isso é exigido de nós como devolvido de maneira devida; no entanto, não quando nem é exigido nem devolvido da maneira devida. Admitimos que a morte é às vezes melhor que a vida; porém infligida por outros, não buscada por nós mesmos. A morte pode ser licitamente desejada, porém não buscada. Assim como a vida é recebida só pela vontade divina, assim também não deve ser entregue a não ser por sua ordem. É bravo desprezar aquele terribilíssimo mensageiro (to phoberotaton) de Deus; porém, precipitar-se sobre ele voluntariamente é temerário e insano (o que Aristóteles, Nichomachaen Ethics 3.8 [Loeb, 19:163-171]), ensina que não e bravura, mas covardia). E também o amor pelo país, a segurança de outros e o anelo pela imortalidade, que podem impelir à brava sujeição à morte enviada contra nós, não devem ter a mesma influência em levar-nos a convidá-la quando não enviada.
XXVIII. Uma coisa é suportar a morte, deixar-se matar; sim, inclusive apresentar-se a ela bravamente ante o chamado de Deus. Outra coisa é matar-se. O primeiro caso, em algumas circunstâncias, é lícito, e Cristo, os mártires e os heróis fizeram algo semelhante; porém não igualmente o segundo caso.
XXIX. "Dar o próprio corpo para ser queimado", no dizer de Paulo (1Co 13.3), não é um ato temerário e destituído de valor, pela qual alguém voluntaria e desnecessariamente se expõe à morte em prol da causa de Deus. Antes, é um ato necessário e santo, pelo qual ele enfrenta o martírio atendendo ao chamado de Deus e não recusa tal chamado, ou mentindo, ou negando a verdade pelo amor da família ou do mundo, quando lhe cabe por sorte ser levado aos tribunais dos pagãos pelos inimigos do evangelho”. (Autor: François Turretini (1623-1687) Fonte: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, Livro II, Ed. Cultura Cristã, págs. 153-156. Via: Blog 2Timóteo 3.16).

“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário