sábado, 10 de março de 2018

LIÇÃO 10: DÁDIVA, PRIVILÉGIOS E RESPONSABILIDADES NA NOVA ALIANÇA



SUBSÍDIO I

INTRODUÇÃO

A Antiga Aliança nos agracia com dádivas e privilégios, mas exige também que tenhamos responsabilidades. Na lição de hoje, nos voltaremos para esse aspecto, comparando ainda a Antiga com a Nova Aliança. Inicialmente, reforçaremos as limitações dos sacrifícios da Antiga Aliança, em seguida, ressaltaremos que o sacrifício de Jesus é suficiente para salvar o pecador, e por fim, que a nova aliança nos coloca diante de responsabilidades, a principal delas, a de viver para Deus, e para os outros, na prática da comunhão.
                                                                                                       
1. AS LIMITAÇÕES DOS SACRIFÍCIOS DA ANTIGA ALIANÇA

Os sacrifícios da Antiga Aliança eram limitados, isso porque aqueles não passavam de “sombra dos bens futuros” (Hb. 10.1). Jesus é a realidade daquilo que era para os sacerdotes levitas apenas sombras, “não era a imagem exata das coisas”. A Antiga Aliança serviu para preparar os corações dos homens para a realidade. Os próprios rituais de sacrifício na Antiga Aliança não cumpriam com eficácia a condição da consciência do pecado. Por isso, precisavam ser repetidos continuamente, porque era “impossível que o sangue dos touros e os bodes tire pecados” (Hb. 10.4). Eles eram apenas temporários, e apontavam para um sacrifício perfeito, que seria realizado no futuro, pelo Senhor e Salvador Jesus Cristo. O autor da Epístola recorre ao Salmo 40, a fim de ressaltar a obediência do filho de Deus, como condição para tal salvação. Nesse contexto, confiar na Antiga Aliança seria perpetuar a condição de pecado, bem como uma consciência angustiada pela culpa. De modo que Cristo não apenas retira o pecado, mas também favorece o pecador, dando-lhe uma mente tranquila, por causa do perdão conferido.

2. O SACRIFÍCIO DE CRISTO: irrepetível e suficiente

Não é mais necessária a repetição de sacrifícios, seguindo os moldes da Antiga Aliança, pois a oblação de Jesus foi “feita uma vez” (Hb. 10.10). Esse sacrifício, em virtude da sua perfeição, é capaz de justificar o pecador, e não precisa mais ser continuado “cada dia” (Hb. 10.11). Jesus ofereceu “um único sacrifício”, que é eternamente eficaz (Hb. 10.12), enquanto que o sumo-sacerdote levítico adentrava aos Santos dos santos, uma vez por ano, por ocasião da expiação. Cristo está agora “assentado para sempre à destra de Deus” (Hb. 10.12), e por esse motivo, chegará o dia em que Ele será adorado por todos, até que “seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés” (Hb. 10.13). E por causa desse sacrifício, podemos ter segurança de que somos alcançados pela graça de Deus. E mais que isso, que “nenhuma condenação há para aqueles que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8.35). Isso nos coloca debaixo de outra condição, pois por meio do sacrifício de Cristo, desfrutamos de uma Nova Aliança, anteriormente profetizada por Jeremias, ao declarar que chegaria o dia no qual Deus faria uma nova aliança com o ser humano (Jr. 31.33). Como essa é uma nova realidade, os sacrifícios levíticos se tornaram obsoletos, e não faz sentido mais retornar a eles (Hb. 10.18).

3. DÁDIVAS E RESPONSABILIDADES DA NOVA ALIANÇA

Por causa da perfeição e suficiência do sacrifício de Cristo, o cristão pode agora ter “ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus” (Hb. 10.19). O termo ousadia nada tem a ver com irreverência, trata-se de uma concessão nos dada graciosamente por Deus, através do sangue de Jesus, para que possamos nos aproximar dEle. Essa aproximação é referida pelo autor da Epístola como um “novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela sua carne” (Hb. 10.20). Jesus é o próprio Caminho, bem como a Verdade e a Vida, ninguém vai ao Pai, a não ser por intermédio dEle (Jo. 14.6). Esse é um Caminho Vivo porque Ele não é um sacrifício morto, antes ressuscitou de entre os mortos, estando vivo para sempre. E por causa dele, podemos nos achegar com “verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo o coração purificado da má consciência” (Hb. 10.20). Isso tem a ver com o sacerdócio dos crentes, pois agora podemos adentrar ao Santos dos santos, nos aproximando de Deus (Hb. 10.21,22). E porque Deus é fiel, podemos também reter a “confiança da nossa esperança, porque fiel é o que nos prometeu” (Hb. 10.23).

CONCLUSÃO

Como resultado da condição que nos foi dada pela Nova Aliança, devemos considerar “uns aos outros, para nos estimularmos à caridade e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros, e tanto mais quanto vedes que se vai aproximando aquele Dia” (Hb. 10.24,25). A igreja, ainda que seja imperfeita, é o contexto no qual cultivamos a koinonia, e exercitamos o genuíno amor cristão, demonstrado por meio do sacrifício.
 
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

O autor sagrado está próximo de concluir a sua argumentação acerca do sacerdócio e do sacrifício de Cristo. A seção de Hebreus 10.1-18 é reservada por ele para lembrar, reforçar e concluir os argumentos anteriormente expostos sobre a singularidade e a eficiência da obra expiatória de Jesus Cristo. Tendo feito isso, ele destaca inúmeros privilégios desfrutados pelos crentes que só se tornaram possíveis graças à superioridade da Nova Aliança. O acesso direto à presença de Deus, graças à mediação de Cristo, constitui o maior deles. Mas ao mesmo tempo em que destaca as bênçãos da nova vida em Cristo, o autor também chama a atenção para as responsabilidades que derivam dela.
Do que precisa o pecador? Ele precisa ser perdoado e purificado da culpa por seus pecados. Mas o perdão requer um sacrifício que seja capaz de satisfazer as exigências da justiça. A lei de Moisés não podia prover um sacrifício como esse. Sob aquela lei, o sangue dos animais era oferecido a Deus, mas o autor de Hebreus observa que tal sangue “não podia tirar meus pecados” (10.4,11). Matthew Henry (1662-1714) comentando Hb 10.25, escreve: “Havendo terminado a primeira parte da epístola, o apóstolo aplica a doutrina a propósitos práticos. Como os crentes tinham o caminho aberto à presença de Deus, então lhes convinha usar este privilégio. O caminho e os meios pelos quais os cristãos desfrutam destes privilégios passa pelo sangue de Jesus, pelo mérito desse sangue que Ele ofereceu como sacrifício expiatório. O acordo da santidade infinita com a misericórdia que perdoa não foi entendido claramente até que a natureza humana de Cristo, o Filho de Deus, foi ferida e moída pelas nossas iniquidades. Nosso caminho ao céu passa pelo Salvador crucificado; sua morte é para nós o caminho de vida e para os que creem nisto, Ele é precioso”. A repetição constante dos sacrifícios era uma lembrança contínua de que não eram adequados à remissão de pecados (10.1-3). Contudo, esses sacrifícios de animais eram “sombras” do sacrifício perfeito que seria oferecido por Jesus (10.1). 

I. A DÁDIVA DA NOVA ALIANÇA
                                           
1. Uma única oferta. O Antigo Testamento põe em destaque as centenas de sacrifícios que eram realizados ano após ano no culto judaico. A quantidade de animais mortos nessas celebrações impressionava. Especialistas em cultura judaica, e na língua hebraica, afirmam que houve situações nas quais os filhos de Arão se gabavam de ficar cobertos de sangue sacrifical até os tornozelos. Em História dos Hebreus (CPAD), no livro “Guerras Judaicas”, o historiador Flávio Josefo fala em centenas de milhares desses sacrifícios. Para o autor de Hebreus, esses sacrifícios não passavam de uma sombra da qual Cristo era a realidade (Hb 10.1). Cristo, com uma única oferta, realizou a obra da redenção (Hb 10.14).
Deus não se alegrava com os sacrifícios oferecidos sob a lei de Moisés, no sentido em que eles eram inadequados para pagar a pena pelos pecados cometidos. Jesus, contudo, veio a este mundo e foi totalmente obediente ao Pai (10.9). Como resultado, ele foi capaz de oferecer a si mesmo, isto é, uma vida imaculada pelo pecado, como um sacrifício perfeito. Diferente dos sacrifícios do Velho Testamento, Jesus ofereceu a si mesmo uma única vez, porque seu sacrifício garantia a remissão dos pecados (10.10-12,14,18). Sob a lei de Moisés, somente ao sumo sacerdote era permitido entrar na parte do tabernáculo conhecida como o Santo dos Santos, e ele tinha que ser cerimonialmente purificado antes que pudesse entrar na presença de Deus ali. O sacrifício de Jesus tornou possível para nós nos aproximarmos de Deus, e finalmente entrar ousadamente no próprio céu, purificados pelo sangue de Jesus Cristo de todos os nossos pecados (10.19-22; veja 9.24-26). É importante que nos encorajemos uns aos outros para permanecermos firmes em nossa esperança de entrar na presença de Deus no céu. O Senhor deseja que os cristãos se reúnam regularmente de modo a encorajar uns aos outros ao amor e às boas obras. O escritor de Hebreus observa que alguns cristãos tinham parado de se reunir com os outros santos (10.23-25). Se nós, que fomos santificados pelo sangue de Jesus através de nossa obediência ao evangelho, mais tarde rejeitarmos seu sacrifício e retornarmos ao mundo ou mesmo à lei de Moisés, o que mais ficará como sacrifício pelo pecado? Absolutamente nada! Quando os israelitas rejeitavam a lei de Moisés, o castigo era certo (10.28). O que fará Deus com aqueles que rejeitam o sacrifício perfeito de Jesus, seu Filho unigênito? O castigo será ainda mais certo e horrível (10.26-31). Temos que permanecer fiéis até o fim, apesar da perseguição e tribulação. Os cristãos que receberam primeiro esta epístola tinham sofrido no passado; o escritor inspirado encoraja-os a não desistir para que possam receber a promessa (10.32-36). Mais uma vez ele afirma não somente que é possível afastar-se de Cristo, mas também que essa pessoa será perdida (10.39).

2. Um único ofertante. A oferta foi única, o ofertante também (Hb 10.12). Aqui, como já havia feito anteriormente, o autor destaca o ofício de Cristo como sacerdote e rei. Este é o diferencial entre o sistema sacerdotal do leviticalismo e o do cristianismo. À semelhança de Melquisedeque, Cristo não apenas oficia como sacerdote, mas também governa como rei. Depois de fazer a purificação do pecado com seu próprio sangue, Ele, agora como rei, assentou-se à direita de Deus (Hb 1.3).
Se os leitores judeus deste livro estavam em perigo de que voltassem para sistema judeu antigo, seria dizer que o sacrifício de Cristo não era suficiente para perdoar seus pecados. Acrescentar algo a seu sacrifício ou tirar algo dele é negar sua validez. Qualquer sistema que pretenda ganhar a aprovação de Deus mediante boas obras essencialmente rechaça o significado da morte de Cristo e nega a obra do Espírito Santo. Esteja preparado no caso de alguém lhe diz que o sacrifício de Cristo é incompleto ou que se necessita algo mais para que você possa ser aceito diante de Deus. Quando acreditam em Cristo, O nos justifica ante Deus. Nossa relação de amor nos conduz a segui-lo em obediência a sua vontade e em serviço. O se agrada de nosso serviço, mas não podemos ser salvos pelas boas obras. Cristo cumpriu todos desígnios divinos no intuito de salvar o homem da perdição eterna. Sua morte foi prova inconteste da sua total resignação, obediência e submissão à vontade de Deus. Ele afirmou: “Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade”. Trata-se de uma lição de valor espiritual inigualável para todos nós: Jesus, sendo Deus, voluntariamente despojou-se de sua glória, e apresentou-se ao Pai na disposição irrestrita de cumprir cabalmente o plano divino de redenção da humanidade (ver Fp 2.5-8).

3. Uma única vez. Uma única oferta feita uma única vez por um único sumo sacerdote (Hb 10.10)! Um dos pontos mais destacados na epístola pelo autor de Hebreus foi o caráter único do sacrifício de Cristo. Enquanto os sacrifícios da Antiga Aliança necessitavam ser frequentemente repetidos, o sacrifício de Cristo foi feito uma única vez em favor de todos os homens. Esse fato demonstra inequivocamente, que por um lado, os sacrifícios de animais eram imperfeitos e jamais poderiam aperfeiçoar alguém; e que por outro, deixa claro que somente o sangue de Cristo pode satisfazer a justiça de Deus.
Oblações eram ofertas incruentas (sem sangue), inanimadas, oferecidas a Deus tais como: vinho, azeite, flor de farinha, etc. Se de um lado, Cristo ofereceu seu próprio sangue como holocausto em nosso favor, por outro, Ele foi aceito como oferta de cheiro suave a Deus, “feita uma vez”, de modo que, em Cristo, somos aceitos por Deus. Matthew Henry (1662-1714) comentando Hb 10.10, diz: “Tendo mostrado que o tabernáculo e as ordenanças da aliança do Sinai eram somente emblemas e tipos do Evangelho, o apóstolo conclui que os sacrifícios que os sumos sacerdotes ofereciam continuamente não podiam aperfeiçoar os adoradores Enquanto ao perdão e a purificação de suas consciências, mas quando "Deus manifestado em carne" se fez sacrifício, e o resgate foi sua morte no madeiro maldito, então, por ser de infinito valor quem sofreu, seus sofrimentos voluntários foram de infinito valor. O sacrifício expiatório deve ser capaz de consentimento, e deve ser colocado pela própria vontade no lugar do pecador: Cristo fez assim. A fonte de tudo isso que Cristo tem feito por seu povo é a soberana vontade e graça de Deus. a justiça introduzida e o sacrifício oferecido uma só vez por Cristo são de poder eterno, e sua salvação nunca será eliminada. São de poder para fazer perfeitos a todos os que vão até Ele; eles obtêm do sangue expiatório a força e os motivos para obedecer e para o consolo interior”. Deus não se alegrava com os sacrifícios oferecidos sob a lei de Moisés, no sentido em que eles eram inadequados para pagar a pena pelos pecados cometidos. Jesus, contudo, veio a este mundo e foi totalmente obediente ao Pai (10.9). Como resultado, ele foi capaz de oferecer a si mesmo, isto é, uma vida imaculada pelo pecado, como um sacrifício perfeito. Diferente dos sacrifícios do Velho Testamento, Jesus ofereceu a si mesmo uma única vez, porque seu sacrifício garantia a remissão dos pecados (10.10-12,14,18).

SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO
                               
 “Quando as pessoas se reuniam para a oferta de sacrifícios no Dia da Expiação, elas eram lembradas dos seus pecados, e sem dúvida se sentiam culpadas novamente. O que elas mais precisavam era do perdão — o perdão permanente e poderoso que destrói o pecado, o perdão que temos em Cristo. Quando confessamos um pecado a Ele, não precisamos pensar nesse pecado nunca mais.
Os sacrifícios de animais não podiam remover os pecados; eles forneciam apenas uma forma temporária de lidar com o pecado até que Jesus viesse para lidar com o pecado de forma permanente. Como, então, as pessoas eram perdoadas nos tempos do Antigo Testamento? Pelo fato de os crentes do Antigo Testamento seguirem o mandamento de Deus sobre a oferta de sacrifícios, Deus lhes perdoava quando realizavam seus sacrifícios movidos pela fé. Mas essa prática aguardava, com expectativa, o sacrifício perfeito de Cristo. O modo de Cristo é superior à maneira do Antigo Testamento porque o mundo antigo apenas apontava para a obra excelente que Cristo faria para remover os pecados” (Bíblia de Estudo Cronológica Aplicação Pessoal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2015, p. 1798).

II. OS PRIVILÉGIOS DA NOVA ALIANÇA

1. Regeneração. No capítulo oito o autor já havia contrastado a Antiga Aliança com a Nova, levando em conta o seu aspecto cerimonial e ritual. Os inúmeros sacrifícios e rituais jamais puderam produzir mudança interna. A santificação no Antigo Pacto se dava mais no aspecto cerimonial. Todavia, a grandeza da Nova Aliança está na mudança interna que ela produz, isto é, no coração (Hb 10.16). O apóstolo Paulo disse o mesmo com outras palavras (Rm 2.29).
Regeneração é o ato realizado só por Deus, no qual ele renova o coração humano, fazendo-o reviver depois de estar morto. Na regeneração, Deus age no âmago, no ponto mais fundamental da pessoa humana. Isso significa que não há preparação nem disposição precedente da parte do pecador que solicite ou contribua para a nova vida que lhe é dada por Deus. A regeneração é o dom da graça de Deus; é a obra imediata, sobrenatural do Espírito Santo, realizada em nós. Seu efeito é fazer com que nós, da morte espiritual, passemos à vida espiritual. Muda a disposição de nossa alma, inclinando nosso coração para Deus. O fruto da regeneração é a fé. A regeneração antecede a fé. Sobre Deus escrevendo sua Lei no coração do homem veja Jr 31.33-34 (cf. Hb 8.8-12). Na época da monarquia de Israel (1030-587) a relação entre Deus e o povo passou a ser vista como um pacto de mútuo amor e fidelidade. Mas não como um pacto entre duas partes iguais, pois a iniciativa cabe unicamente a Deus. É ele quem escolhe gratuitamente Israel como seu povo. Em virtude desta eleição e aliança, Israel contrai obrigações.

2. Adoração. O autor sacro já havia destacado que a adoração na Antiga Aliança era imperfeita porque poucos tinham acesso à presença de Deus. O povo era representado pelos sacerdotes e, uma vez no ano, pelo sumo sacerdote. Não era uma adoração em espírito e em verdade (Jo 4.23). Todavia, o autor revela que esse fato mudou. No Novo Concerto o próprio crente tem acesso ao lugar mais íntimo do santuário por intermédio de Cristo Jesus, o perfeito sumo sacerdote (Hb 10.19). A única atitude necessária destacada pelo autor é a de chegarmos a Deus “com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado com água limpa” (Hb 10.22).
O Lugar Santíssimo do templo ficava oculto da vista por um véu (10.20). Só o sumo sacerdote podia entrar nessa habitação Santa, e o fazia uma só vez ao ano no dia da expiação, quando oferecia sacrifícios pelos pecados da nação. Mas a morte de Cristo rasgou o véu, e todos os crentes podem entrar na presença de Deus em todo momento (veja-se também 6.19,20). Como escreve o Prof Luiz Henrique: “É com base em tudo quanto foi dito acerca do Sumo Sacerdote e Sua oferta eficaz que a declaração no presente versículo pode ser feita. Tendo... intrepidez é declarado como um fato. Tendo em vista tudo quanto Cristo já fez e agora é, não há razão porque todos os crentes não possam aproximar-se com confiança. No curso da sua exposição acerca do Sumo Sacerdote, o escritor lembrou os leitores da sua confiança em Cristo (3.6; 4.16). A palavra aqui traduzida intrepidez (parrèsia) é a palavra para a “confiança” que o Novo Testamento geralmente relaciona com a liberdade do homem por causa do seu novo relacionamento com Deus. Esta confiança aqui é especificamente relacionada com a abordagem a Deus, com a entrada no Santo dos Santos, entendido como símbolo da presença de Deus. É um quadro de todos os crentes, que agora têm um convite para entrarem no Santo dos Santos, já não reservado para o sacerdócio. Está escrito que a via de aproximação é pelo sangue de Jesus, que aqui resume tudo quanto Jesus fez por nós ao oferecer-Se a Si mesmo. O Santo dos Santos já não está mais separado para a realização contínua dos sacrifícios. Está totalmente aberto por causa da oferta perfeita já feita. Deve ser notado, porém, que o acesso está disponível somente àqueles que são classificados como irmãos, àqueles que, segundo 3.1: “participam da vocação celestial.” É importante notar que aqueles que descobrem uma nova abordagem a Deus mediante Jesus Cristo também descobrem um novo relacionamento uns com os outros”. Donald Guthrie em Introdução e Comentário à Carta aos Hebreus (VIDA), comenta Hb 10.22 assim: “É aqui que chegamos à exortação principal nesta Epístola. É expressa em três etapas: aproximemo-nos (v. 22), guardemos firme (v. 23) e consideremo-nos também uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras (v. 24). A primeira exortação refere-se à devoção pessoal, a segunda à consistência, e a terceira às obrigações sociais. Esta não é a primeira vez que os leitores são exortados a aproximar-se, porque uma declaração semelhante é feita em 4.16 antes da discussão sobre a obra sumo-sacerdotal de Jesus ter começado. A repetição da mesma idéia visa a ênfase. Tendo em vista tudo quanto foi dito na passagem interveniente, há tanto mais razão para exortar os adoradores a se aproximarem. Quatro condições de aproximação são definidas neste versículo: (i) Com sincero coração. Se o adjetivo for entendido no mesmo sentido que em 8.2, refere-se àquilo que é real em contraste com aquilo que é apenas aparente. Não pode haver fingimento de uma devoção que não é verídica. A expressão, segundo parece, refere-se à realidade da aproximação a Deus feita pelo adorador. (ii) Em (en) plena certeza da fé. Alguma ênfase já tem sido dada à fé nesta Epístola, e haverá mais no capítulo 11. Esta plena certeza é importante, porque já não há razão alguma para duvidar que o acesso será obtido. O escritor não somente é claro quanto à possibilidade da plena certeza, como também toma por certo que ela está presente em todos os adoradores que fazem uso do “novo caminho.” O uso da preposição (en) realmente sugere que esta certeza da fé é a esfera ou ambiente em que a aproximação deve ser feita. (iii) Tendo os corações purificados de má consciência. Sem dúvida, a metáfora da aspersão (aqui purificação) é derivada do culto ritual levítico, onde é mencionado o sangue aspergido sobre o povo como ratificação da antiga aliança (Êx 24.8) e na ocasião da consagração de Arão e dos seus filhos (Êx 29.21). Não há menção específica ali, como há aqui, da purificação da consciência. Mas o meio totalmente mais eficaz de purificação, que os cristãos possuem, relaciona-se diretamente com a consciência. É mais do que um ato ritual; é uma condição moral. (iv) E lavado o corpo com água pura. Parece tratar-se de uma alusão ao batismo cristão, embora este ponto de vista não esteja sem dificuldades. Se for correta, exigiria algum rito iniciatório de natureza pública antes de alguém poder aproximar-se. Mas visto que as demais condições não são externas, parece estranho que a quarta condição o seja. A lavagem do corpo talvez ache alguma explicação em Efésios 5.26 onde está escrito que Cristo purificou a igreja “por meio da lavagem de água pela palavra,” que é mais intelegivelmente interpretado num sentido espiritual. O uso do adjetivo “pura” também pareceria sugerir um significado simbólico. A diferença entre (iii) e (iv) seria, portanto, entre a pureza das atitudes internas e a dos atos manifestos”. (A carta aos Hebreus - Introdução e Comentário por Donald Guthrie - Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão)

3. Comunhão. O conceito de Igreja como Corpo vivo de Cristo aparece no pensamento do autor de Hebreus. Embora o antigo povo formasse uma “congregação no deserto”, ele não era uma igreja no sentido neotestamentário. A existência da Igreja só se tornou possível depois do Calvário. Como Igreja, os cristãos podem desfrutar da perfeita comunhão com Cristo e uns com os outros. Sem comunhão, sem congregação, não há igreja. Ninguém consegue ser crente isolado ou sozinho. Por isso, o “congregar” é importantíssimo para a saúde espiritual do crente (Hb 10.24,25).
O que a maioria das pessoas conhece como a Igreja, a Bíblia descreve como mistério. Em Efésios 3.9-10, Paulo escreve a respeito “deste mistério que, durante as épocas passadas, foi mantido oculto em Deus, que criou todas as coisas. Alguns daqueles crentes hebreus estavam voltando para o judaísmo, deixando assim a sua própria congregação. Outros haviam se desviado totalmente, voltando-se para o mundo. E não satisfeitos, começaram a ridiculizar o Filho de Deus, expondo sua obra redentora ao vitupério, conforme fica subentendido nos versículos que se seguem. Parece-nos que tal fracasso em suas vidas foi desencadeado por um lento processo, começando pela “negligência” (5.11). O isolamento da igreja e da comunidade traz prejuízo tanto para o cristão como para a igreja, que fica privada da presença de um de seus filhos. Evidentemente, é importante que não deixemos a congregação a que pertencemos, seja ela grande ou pequena, rica ou pobre, próxima ou distante. Ali foi o lugar escolhido por Deus para que glorifiquemos o seu nome e exerçamos nossas pequenas ou grandes atividades (cf. Dt 12.5-7)

SUBSÍDIO DIDÁTICO

Reproduza o esquema abaixo no quadro. Depois inicie a explicação do segundo tópico da lição fazendo a seguinte indagação: “Quais os privilégios da Nova Aliança?” Ouça os alunos com atenção e incentive a participação de todos. Em seguida utilize o quadro para mostrar aos alunos alguns dos muitos privilégios alcançados pela Nova Aliança

III. AS RESPONSABILIDADES DA NOVA ALIANÇA

1. Vigilância. O autor volta às exortações feitas nos capítulos dois e seis. Não há dúvida de que ele acreditava que um cristão genuíno pode decair da graça, senão, não teria sentido algum seu duro tom exortativo. Primeiramente, ele aconselha o crente a se firmar na fé (Hb 10.23). O autor já havia usado a palavra “reter” (gr. katecheo) duas outras vezes (Hb 3.6,14). Essa palavra é usada em Lucas 8.15 (ARA) para os que “retêm a palavra” a fim de não se desviarem dela. Esse apego era justificado segundo a pergunta retórica do autor: “Quanto maior castigo cuidais vós será julgado merecedor aquele que pisar o Filho de Deus, e tiver por profano o sangue da aliança com que foi santificado, e fizer agravo ao Espírito da graça?” (Hb 10.29). Há um preço alto quando nos falta a vigilância.
Severino Pedro da Silva em Série Comentário Bíblico – Hebreus – As coisas novas e grandes que Deus preparou para você (CPAD), escreve: “A nossa confiança em reter firme a nossa confissão de fé em Deus e no sacrifício expiatório de Cristo repousa no fato de que aquEle que nos prometeu a entrada em seu Reino eterno "... é fiel”. Portanto, esta “... esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5). A verdadeira esperança cristã é a vida eterna que alcançará todo aquele que nela perseverar. Porém, na presente era, já temos "... a promessa da vida presente e da que há de vir” (I Tm 4.8). Em outras palavras, “... quem ouve a minha palavra [disse Jesus] e crê naquele que me enviou tem a vida eterna...” (Jo 5.24). Esta é a promessa da “vida presente” (que pode ser material e espiritual), confirmada na extensão da vida humana até a sua chegada final, por meio da perseverança, conforme está escrito: “aquele que perseverar até ao fim será salvo” (Mt 24.13).

2. Confiança. Com o objetivo de animar a fé dos crentes, o autor faz menção ao histórico da vida deles. Eles haviam experimentado sofrimento, abandono e até mesmo a espoliação; contudo, permaneceram firmes. O que estava, portanto, acontecendo agora? Aquela mesma confiança que haviam tido no passado deveria continuar como um sólido fundamento (Hb 10.35). Quando o cristão perde a capacidade de confiar, ele perde a motivação pelas coisas celestiais. O céu é para quem tem esperança!
O escritor anima a seus leitores a não abandonar a fé em tempos de perseguição, a não ser a demonstrar mediante a paciência que essa fé é verdadeira. A fé significa depender do que Cristo tem feito por nós no passado, mas também significa esperar o que fará em nosso favor no presente e no futuro (vejam-se Rm 8:12-25; Gl 3:10-13).(Comentário Biblia del Diario Vivir - Editora: THOMAS NELSON). Severino Pedro da Silva em obra já citada, escreve: “Desde a Igreja Primitiva e nos séculos que se seguiram, muitos cristãos perderam tudo o que possuíam por causa de sua fé. Porém, seus olhos estavam fixados numa recompensa maior e mais valiosa, porque não era terrena, e sim, eterna. O próprio Deus é a recompensa grandiosa de seu povo; foi assim que Ele se apresentou a Abraão, quando este temeu a perda de seus bens por causa de sua fé. “Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, o teu grandíssimo galardão” (Gn 15.1). Cristo e a sua glória, bem como as suas riquezas, é uma recompensa sem igual, que ultrapassa todos os limites passageiros dos bens desta vida, não podendo ser expressada pela linguagem humana. “... como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam” (I Co 2.9).”

3. Perseverança. O autor conclui o capítulo mostrando que na jornada cristã o crente precisa de paciência (Hb 10.36). A palavra grega hypomoné ocorre 32 vezes em o Novo Testamento com o sentido de “paciência” e “perseverança”. Essa palavra aparece também em Lucas 8.15, referindo-se ao crente que produz fruto com perseverança. O discipulado cristão, bem como a produção de frutos, demanda tempo. E para alcançar as promessas de Deus é preciso perseverar até o fim.
O autor de Hebreus faz uma citação do profeta Habacuque, quando Deus exortou seu povo quanto à paciência, dizendo que seu juízo sobre os caldeus dar-se-ia no tempo determinado (Hc 2.3). Esta promessa divina é de igual modo aplicada com respeito a estes cristãos hebreus, quando o apóstolo Paulo nos diz que num futuro mui breve Deus cumpriria sua promessa de vingança para com seus inimigos e de recompensa para seus santos (cf. 2Ts 1.610). A vinda de Jesus terminaria com todo e qualquer sofrimento humano. Restava, portanto, para eles e para nós, um pouco de paciência até que Jesus volte, conforme fica demonstrado nos versículos seguintes. Todavia, a necessidade de paciência não deve somente envolver a esperança da vinda de nosso Senhor, mas ela deve estar presente em outros sofrimentos que acompanham a vida humana (cf. Tg 5.11).
SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“O autor de Hebreus faz uma série de exortações e uma delas é: ‘Retenhamos firmes a confissão da nossa esperança’ (Hb 10.23). O autor retorna à sua preocupação pelos leitores, que estão em perigo de se afastar de sua fé e da confissão da esperança em Cristo (cf. 2.1-3; 3.12-14; 4.1; 6.4-6; 10.26-31). ‘Reter firme’ significa literalmente não se desviar nem para um lado nem para o outro’, e deste modo significa estar ‘firme’, ‘estável’, ‘inabalável’. Para os leitores, reter firme sua ‘esperança’ em Cristo como judeus convertidos incluía permanecerem firmes em sua fé, crendo que Jesus Cristo é o seu sacrifício pelo pecado e o seu sumo sacerdote diante de Deus. A ‘esperança’, porém, é mais abrangente do que a ‘fé’, porque inclui as promessas específicas de Deus sobre o futuro. O incentivo mais forte possível para continuarem em direção à esperança é o caráter fidedigno de Deus: ‘Porque fiel é o que prometeu’. Nossa esperança é baseada na promessa infalível de Deus; porque não apreciamos e confessamos isto confiante e ousadamente.
Outra exortação importante é: ‘Consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos à caridade [ou ao amor] e às boas obras’ (Hb 10.24). Este verso enfoca o ‘amor’ (Hb 10.24,25), que completa a tríade com a fé (Hb 10.22) e a esperança (Hb 10.23). Os cristãos devem encorajar-se mutuamente e estimularem-se uns aos outros (‘incitar’, ‘provocar’) às expressões práticas do amor. O objetivo desta ação é o aumento e o aprofundamento do ‘amor e das boas obras’ em meio aos crentes. O amor deve ter ‘um resultado prático’ e ‘uma expressão tangível’” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Ed.) Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 1602).

CONCLUSÃO

Chegamos ao final de mais uma lição. Observamos que o autor, neste capítulo, praticamente exauriu o assunto em torno do sacerdócio de Cristo. A comparação detalhada que ele fez entre os dois pactos, a Antiga e a Nova Aliança, serviu para mostrar a superioridade desta última. Cristo tornou possível o que na Antiga Aliança era apenas uma promessa. Todavia, o cristão não deve se acomodar nem tampouco negligenciar a Nova Aliança, abusando do poder da graça de Deus. Em vez disso, ele deve demonstrar vigilância e perseverança no caminhar com Cristo.
Jesus é o nosso misericordioso e fiel sumo sacerdote (Hb 2.17). Com exceção do pecado, Ele participou integralmente de nossa natureza e fragilidades humanas: fome, sede, cansaço (Mt 21.18; Mc 4.38; Jo 4.6; 19.28). Ele sofreu, chorou e angustiou-se (Mt 26.37; Lc 19.41; Hb 13.12). Era "homem de dores, experimentado nos trabalhos e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado" (Is 53.3). Ele em tudo foi tentado (Mt 4.1-10; Hb 2.18; 4.15). Qual a razão de tanto sofrimento? Hebreus 4.15 responde: "Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado" (cf. Hb 2.18). Eis o motivo pelo qual o Filho do Altíssimo aceitou tal fardo: socorrer o crente na tentação e nas vicissitudes. Clame ao Senhor! Ele conhece o teu padecer! A Antiga Aliança implicava mandamentos, estatutos e juízos, os quais não foram observados pelo povo escolhido. Era um concerto transitório, como indica o escritor: “Porque se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo” (v.7). Diante disso, JESUS  trouxe uma Nova Aliança, que se estabeleceu, não em atos exteriores, rituais, mas no interior do homem, no entendimento e no coração. Por isso, é um melhor concerto. Que o Senhor nos faça entender esse tema, e que o valorizemos em nossa vida cristã!

“...Ele é poderoso para salvar definitivamente aqueles que, por intermédio dele achegam-se a Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (Hebreus 7.25)


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

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