sábado, 6 de fevereiro de 2021

LIÇÃO 6: SANTIFICAÇÃO: comprometidos com a ética do Espírito

 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

INTRODUÇÃO

Deus é absolutamente santo; Sua santidade é infinita e inigualável; Ele é santo em si mesmo, em sua essência e natureza (Ap 15.4). Sua vontade é que os crentes reflitam esse caráter de santificação no seu modo de vida. Vamos estudar, então, o que é ser santo e a necessidade de se ter uma vida santa. – A santificação é uma doutrina importante para a vida cristã porque ela surge a partir da revelação de um Deus que é santo em si mesmo, em essência e natureza, em grau infinito. Sendo Deus santo, exige santidade de todos nós. É dever nosso conhecer o verdadeiro significado da palavra “santificação” e seus cognatos como, “santidade, ser santo, santificado”. O que significa todo esse conjunto de palavras? São termos de uso comum entre nós, mas há ainda muitos que confundem santificação com legalismo e práticas exteriores; outros esperam ser santificados por meios de recursos próprios, esquecendo que se trata de uma obra da livre graça de Deus.

I. A SANTIFICAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO

A santidade de Deus se originou nEle mesmo; ela é a plenitude gloriosa de sua excelência moral. Essa verdade é revelada desde o Antigo Testamento. Deus exige santidade de seu povo porque Ele é santo. Os antigos hebreus levavam a santidade a sério.

1. A santificação. A ideia predominante de santificação ou santidade no Antigo Testamento é de separação tanto de pessoas como de lugares e coisas para o serviço sagrado. Separar daquilo que é comum ou imundo: “para fazer diferença entre o santo e o profano e entre o imundo e o limpo” (Lv 10.10). O profano é alguém que se mostra indiferente no que diz respeito ao sagrado (Ez 22.26). O verbo hebraico qadash, “ser santo, ser santificado, santificar, ser posto à parte”, é o mais usado no Antigo Testamento, aparece 830 vezes, incluindo os seus derivados, e cuja ideia central é separar do uso comum para o serviço de Deus, consagrar (1 Sm 7.1).

2. A consagração. O termo “consagrar” significa investidura de funções sagradas, em outras palavras, é dedicar-se ao serviço de Deus, e isso pode ser pessoas, coisas ou possessões (Lv 27.28,29). Consagração e santificação são termos distintos, mas podem significar a mesma coisa dependendo do contexto: “que façam vestes a Arão para santificá-lo” (Êx 28.3) ou: “que façam vestes para Arão para consagrá-lo” (Nova Almeida Atualizada). O verbo hebraico para “consagrar” é o mesmo para “santificar, ser santo”. Trata-se de uma exigência justa e necessária para os sacerdotes levitas (Êx 30.30) e para o tabernáculo com todos os seus utensílios, pois se baseiam na santidade de um Deus santo: “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos” (Is 6.3).

3. A purificação. O termo tahor, “puro, limpo”, derivado do verbo taher, “ser limpo, puro”, e qadosh, “santo”, do verbo qadash, pertencem ao mesmo campo semântico. Ambos se aplicam à santidade de Deus (Is 6.3; Hc 1.13) como também às pessoas que se aproximam dEle e se purificam de toda sorte de pecado e idolatria (Sl 51.10; Ez 36.25). O termo grego equivalente a taher na Septuaginta é katharizo, “tornar limpo, limpar, purificar” e a qadash é hagiazo, “santificar, consagrar”. O adjetivo hagíos, “santo”, traduz 20 palavras hebraicas do Antigo Testamento como qadash, qadosh, qodesh, entre outras. São termos frequentes e importantes no Novo Testamento.

A santificação no Antigo Testamento foi a vontade manifesta de Deus para os israelitas; eles tinham o dever de levar uma vida santificada, separada da maneira de viver dos povos à sua volta (ver Êx 19.6 nota; Lv 11.44 nota; 19.2 nota; 2Cr 29.5). De igual modo a santificação é um requisito para todo crente em Cristo. As Escrituras declaram que sem santificação ninguém verá o Senhor (Hb 12.14). – Os filhos de Deus são santificados mediante a fé (At 26.18), pela união com Cristo na sua morte e ressurreição (Jo 15.4-10; Rm 6.1-11; 1 Co 130), pelo sangue de Cristo (1Jo 1.7-9), pela Palavra (Jo 17.17) e pelo poder regenerador e santificador. – Há pelo menos seis palavras derivadas da raiz do verbo hebraico qa¯dash, “santificar, ser santo, ser santificado, consagrar, ser consagrado, dedicar, preparar”. 89 A ideia central dessa palavra é “separar do uso comum”, mas, segundo o Dicionário Vine, o termo “no babilônico antigo, qada¯ su quer dizer ‘brilhar’”. 90 Essa é uma sugestão de alguns pesquisadores com base na combinação de yqd, “queimar”, e de ’¯esh, “fogo”, que formam qa¯ dash. O que de fato acontece é que o verbo cognato acádico, língua da antiga Mesopotâmia, falada na Babilônia no período dos patriarcas, seria uma provável combinação de “queimar no fogo”, como referência à oferta queimada, ou “brilho, brilhante”. Parece haver resquícios disso no Antigo Testamento “terrível em feitos gloriosos” (Êx 15.11). A Septuaginta emprega uma só vez a palavra grega doxa, “glória, brilho, esplendor”, para traduzir o termo hebraico qo¯ desh: “dignidade de sua glória” (Jr 23.9 LXX). A santificação é o ato, o estado e o processo de se tornar santo realizado na vida do salvo pela ação do Espírito Santo. O termo “santificação” e seus derivados trazem a ideia de “separado do uso comum, tratado com cuidado especial, consagrado”. Os termos “santificação, santidade” representam qualidades morais e espirituais que comunicam ideia de posição ou relação existente entre Deus e a pessoa ou coisa consagrada a ele. Os termos qa¯ do¯ sh, “santo”, do verbo qa¯ dash, e taho¯ r, “puro, limpo”, derivado do verbo taher, “ser limpo, puro”, pertencem ao mesmo campo semântico: “para que vocês façam diferença entre o santo e o profano e entre o impuro e o puro” (Lv 10.10). Há nesse paralelismo um par de antônimos, qo¯ desh/h.¯ol, “santo/profano”, e tame’/taho¯r, “impuro, imundo/puro, limpo”, que mostra o significado de “santo”. O profano é alguém que se mostra indiferente no que diz respeito ao sagrado (Ez 22.26; 44.23). Os objetos, as pessoas e os lugares consagrados a Deus eram santos como os instrumentos e os utensílios do tabernáculo, ou do templo, posteriormente, as ofertas e os sacrifícios no altar, o sangue de animais para o sacrifício e também os sacerdotes no tabernáculo. Deus é a fonte da santidade: “Ninguém é santo como o SENHOR” (1 Sm 2.2).

O uso mais comum do termo taher e seus derivados é nos rituais de purificação, principalmente no ministério dos sacerdotes, mas, às vezes, aparece como sinônimo de perdão divino e santificação (Sl 51.7, 10). Raramente o termo se aplica a Deus (Sl 51.4; Hc 1.13). Deus é quem purifica os pecadores e há diversas promessas nesse sentido no profeta Ezequiel (Ez 36.25, 33). O termo grego equivalente a taher na Septuaginta é katharizo¯, “tornar limpo, limpar, purificar”, e para qa¯dash é hagiazo¯, “santificar, consagrar”. O adjetivo hagíos, “santo”, traduz 20 palavras hebraicas do Antigo Testamento como qa¯ dash, qa¯ do¯ sh, qo¯ desh, entre outras. São termos frequentes e importantes no Novo Testamento.

Consagração e santificação são termos distintos, mas podem significar a mesma coisa dependendo do contexto: “que façam vestes para Arão para consagrá-lo” (Êx 28.3). O verbo hebraico para “consagrar” é o mesmo para “santificar, ser santo”. A consagração tem vínculo com a santificação. O termo “consagrar”, significa investir de funções sagradas, em outras palavras, é dedicar-se ao serviço de Deus, isso pode ser pessoas, coisas ou possessões (Lv 27.28, 29; Ez 44.29). Trata-se de uma exigência justa e necessária para os sacerdotes levitas (Êx 30.30) e para com todos os seus utensílios, pois se baseiam na santidade de um Deus santo: “Santo, Santo, Santo é o SENHOR dos Exércitos” (Is 6.3). A santificação distingue a lei de Moisés dos demais códigos de lei da antiguidade: “O sistema mosaico é o código de lei que se destaca diante dos códigos da antiguidade por diversas razões. Entre elas, estão a fonte de autoridade, o próprio Deus; Moisés é o mediador, pois os demais códigos da época eram ditados pelos reis; e, finalmente, a lei de Moisés é o único código que exige santidade do povo”.

A lei e os profetas deram especial atenção ao assunto. A santidade de Deus é singular por causa de sua majestade infinita, também em virtude de tratar-se de um Ser totalmente distinto e separado, em pureza, de suas criaturas (Sl 99.1-5). Essa santidade é a plenitude gloriosa da excelência moral de Deus, que existe nele e que se originou nele e não foi derivada de ninguém: “O SENHOR Deus jurou pela sua santidade” (Am 4.2). Essa santidade é absoluta; Deus é santo em seu caráter e essência.

O incrédulo não tem esse discernimento entre o sagrado e o comum, essa era a situação dos sacerdotes por ocasião da apostasia generalizada do Reino de Judá nos anos que precederam a destruição de Jerusalém: “Os seus sacerdotes transgridem a minha lei e profanam as minhas coisas santas. Não fazem distinção entre o santo e o profano e não ensinam a diferença entre o puro e o impuro” (Ez 22.26). O profano é aquele que trata o sagrado como se fosse comum. É a vontade de Deus que todos aprendam a separar o certo do errado, Deus espera que os líderes ensinem essa verdade: “Os sacerdotes ensinarão o meu povo a distinguir entre o santo e o profano e lhe darão entendimento quanto à diferença entre o impuro e o puro” (Ez 44.23). Ser santificado é ser separado de tudo aquilo que é comum ou pecaminoso. Um Deus santo exige santidade de seu povo: “Santos sereis, porque eu, o SENHOR, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.2). Isso é reiterado mais adiante (Lv 11.44; 20.7, 26).

Para os primitivos cananeus, o termo era usado como devoção aos deuses sem o sentido ético especial e nem de pureza. O culto de Baal como de outros deuses e deusas era orgíaco, por isso é chamado de “prostituição cultual” (Jz 8.33; Os 4.13, 14). Muitos estudiosos usam a expressão “prostituição sagrada”, o que na cultura cristã parece um contra senso, pois, se é prostituição, não pode ser sagrada. É que a ideia dos cananeus para “sagrado” é de dedicação. Os termos qa¯ de¯ sh e qede¯ shâ aparecem no Antigo Testamento para se referir à prostituição cultual no paganismo como “prostituto e prostituta cultual, sodomita, rameira”, isso devido à licenciosidade da adoração aos deuses cananeus (Dt 23.17; 1 Rs 14.24; 15.12). Os sacerdotes e as sacerdotisas no sistema religioso cananeu eram consagrados a Baal e aos demais deuses dos povos vizinhos de Israel.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Reflita com a classe o que conversamos na interação acima. A santidade revela a plenitude gloriosa da excelência moral de Deus e, por isso, ela é elevada. O fracasso de muitos em vivê-la não altera em nada o santo ideal de Deus para o homem, que é a sua imagem e semelhança. Nesse sentido, mostre a beleza da santidade, o valor elevado de representar o Reino de Deus com coerência e sinceridade de coração.

O ideal santo está em Deus, não no homem. Ainda temos o Espírito Santo como a fonte de toda a santidade, que nos ajuda a manifestar o caráter de Cristo. Apresente esse santo ideal a sua classe, e ore com ela, a fim de que o Santo Espírito esclareça o padrão bíblico de uma vida santa.

  II. A SANTIFICAÇÃO NO NOVO TESTAMENTO

Santificação, santidade e seus cognatos são termos comuns ao Antigo e ao Novo Testamento e trazem o mesmo conceito. Na nova aliança, santificação é a semelhança do caráter de Cristo e o efeito real da salvação na vida cristã.

1. Uma obra da Trindade. O Novo Testamento torna explícito o que antes estava implícito no Antigo, e isso diz respeito também à obra salvífica do Deus trino. A fé cristã confessa a existência de um único Deus, que subsiste eternamente em três Pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, iguais em poder, glória e majestade (Mt 28.19). De modo que a obra da santificação, um atributo divino, é realizada pela unidade na trindade como pela trindade na unidade (1 Co 6.11; 1 Ts 5.23; 2 Ts 2.13). São as três Pessoas atuando na obra da redenção (1 Pe 1.2)

2. Natureza da santificação. Não há no Novo Testamento ritual de purificação cerimonial ou legal de santificação, diferentemente da realidade do sistema mosaico. A santificação pode ocorrer de maneira instantânea, isso quando o pecador recebe a salvação em Jesus pela fé (1 Co 1.30). Ela é chamada teologicamente de santificação posicional referente à mudança da posição de pecador para santificado (1 Co 1.2). Isso é obra do Espírito Santo que passa a habitar no interior do crente (1 Co 3.16; 2 Tm 1.14).

3. Uma necessidade. A nova vida em Cristo é o novo nascimento (Jo 3.3). Ao nascer, a criança continua o seu crescimento físico e mental, e isso se aplica também à vida espiritual (Hb 5.12,13; 1 Pe 2.2). Apesar de a santificação ser instantânea, ela é ao mesmo tempo progressiva (Pv 4.18; 2 Co 3.18). A salvação em Cristo é acompanhada da santificação, e seu agente ativo é o Espírito Santo. A vida cristã é uma carreira (Gl 5.7; Fp 3.13,14). Assim, é a santificação progressiva que nos torna mais semelhantes a Cristo. Não se trata de um tema secundário, pois sem ela “ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).

No Novo Testamento, a santificação não é descrita como um processo lento, de abandonar o pecado pouco a pouco. Pelo contrário, é apresentada como um ato definitivo mediante o qual, o crente, pela graça, é liberto da escravidão de Satanás e rompe totalmente com o pecado a fim de viver para Deus (Rm 6.18; 2Co 5.17; Ef 2.4,6; Cl 3.1-3). Ao mesmo tempo, no entanto, a santificação é descrita como um processo vitalício mediante o qual continuamos a mortificar os desejos pecaminosos da carne (Rm 8.1-17), somos progressivamente transformados pelo Espírito à semelhança de Cristo (2Co 3.18) crescemos na graça (2Pe 3.18), e devotamos maior amor a Deus e ao próximo (Mt 22.37-39; 1Jo 4.10-12, 17-21). – Desta forma, na nova aliança, santificação é a semelhança do caráter de Cristo e o efeito real da salvação na vida cristã. Não há no Novo Testamento ritual de purificação cerimonial ou legal de santificação. A esfera de santidade ou santificação é profética e não cultural, não tem vínculo com coisas, locais ou ritos, trata-se de algo produzido pelo Espírito Santo.

Como no Antigo Testamento, Deus é descrito reiteradas vezes no Novo Testamento como Santo: “Pai santo, guarda-os em teu nome” (Jo 17.11). A tríplice doxologia de Isaías 6.3 reaparece em Apocalipse: “E os quatro seres viventes, tendo cada um deles, respectivamente, seis asas, estavam cheios de olhos, ao redor e por dentro. Não tinham descanso, nem de dia nem de noite, proclamando: Santo, santo, santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, aquele que era, que é e que há de vir” (Ap 4.8). A revelação da santidade absoluta de Deus reivindicada em Levítico 11.44; 19.2; 20.7, 26 reaparece em 1 Pedro 1.15.

O mesmo é dito sobre o Senhor Jesus (At 3.14; Ap 3.7; 15.4). “Vocês negaram o Santo e o Justo e pediram que fosse solto um assassino” (At 3.14); “Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá” (Ap 3.7); “Mas vocês têm a unção que vem do Santo e todos têm conhecimento” (1 Jo 2.20).

Há um paralelismo sinônimo entre o cântico de vitória dos salvos por Jesus Cristo em Apocalipse 15 e o cântico de Moisés e dos filhos de Israel em Êxodo 15. De um lado, a vitória sobre o Faraó, e de outro, a vitória sobre as nações.

E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo. Por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos (Ap 15.3, 4).

O poema começa com Moisés e culmina com o Cordeiro. Cada verso é extraído do Antigo Testamento, vocabulário e estrutura. Deus é louvado pelas suas obras, justiça e fidelidade, e a santidade absoluta. Compare: “Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo” com o poema de Moisés: “Ó Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas maravilhas?” (Êx 15.11). A glória e a santidade do grande Deus Javé de Israel é a mesma de Jesus. O cântico dos salvos é o reconhecimento universal do senhorio de Jesus (Fp 2.8-11).

O Espírito Santo é santo a começar pelo nome, Ele é Santo e Santificador. O Espírito está do mesmo nível do Pai e do Filho, de modo que a sua santidade é a mesma do Pai e do Filho: “Essa santidade do Espírito é única e real, absoluta e perfeita; não se trata, pois, de uma santidade cerimonial, mas de algo inerente à sua natureza”. As três pessoas da Trindade atuam na santificação dos fiéis (Rm 15.16; 1 Co 6.11; 2 Ts 2.13; 1 Pe 1.2). Só pode santificar alguém quem possui santidade por si mesmo sem interferência externa.

SUBSÍDIO APOLOGÉTICO

“Os cristãos também estão familiarizados com o conceito de santidade. Quando ensinou os discípulos a orar, o Senhor Jesus disse que deveriam começar com as palavras: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome (Mt 6.9). A palavra ‘santificado’ é antiga variante da palavra ‘santo’. A primeira e mais importante coisa que os crentes têm de fazer é deliberadamente separar o nome de Deus como algo especial. Deus tem de ser o valor supremo dos crentes, os quais devem lembrar-se desse fato quando se dirigem a Ele. (É, então, muito triste quando esse conceito, fundamental para a expressão da vida cristã, se perde em uma oração formal, murmurada sem pensar pela congregação eclesiástica).

[…] Não precisamos pensar muito para perceber que, aos olhos de muitas pessoas, Deus perdeu sua glória e valor. A santidade degenerou-se em um conceito exclusivamente negativo. Longe de pensar-se na santidade de Deus como algo glorioso, elas associam a santidade com a monotonia e ausência de vida e cor – o oposto da glória” (LENNOX, John C. Contra a Correnteza: A inspiração de Daniel para uma época de Relativismo. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.49-50).

III. A SANTIFICAÇÃO APLICADA AO CRENTE

O Espírito Santo é a fonte de santidade, e o Senhor, o seu padrão. Todos os crentes desejam se parecer com Jesus e viver de maneira a agradar a Deus. A santificação do crente é obra do Deus trino.

  1. A comunidade de Jesus. As epístolas do Novo Testamento visam fortalecer as igrejas e exortá-las à uma vida santa diante de Deus e da sociedade.  O texto (1 Pe 1.13-16) não é diferente. O status de Israel como propriedade peculiar de Deus, “reino de sacerdotes e nação santa” (Êx 19.6), é revigorado na igreja (1 Pe 2.9). O ensino petrino mostra que o estilo de vida dos crentes revela o caráter de Cristo. Aqueles irmãos que vieram do paganismo são agora norteados pelo Espírito Santo, que vive neles e, por isso, renunciaram às práticas dos gentios.

   2. Uma vida santificada. Somos santificados pela Palavra (Jo 17.17), pelo sangue (Hb 9.12) e pelo Espírito (1 Pe 1.2). Podemos afirmar com Donald Gee que a “santificação é a semelhança do caráter de Cristo; é o efeito real da salvação através do qual a própria vida de Cristo permanece para sempre na vida e no caráter do crente”. Isto está muito longe de violência doméstica, mentiras, palavrões, intrigas e mexericos. Uma vida de santidade e cheia do Espírito mantém distância dessas coisas: “se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Rm 8.9). Deus é santo e por isso exige santidade de seu povo: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo” (vv. 15,16).

   3. O que é ética? A ética é o estudo da conduta. O termo vem da palavra grega ēthos, “hábito, costume”, que aparece somente uma vez no Novo Testamento, no plural, em um provérbio popular usado pelo apóstolo Paulo: “As más conversações corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). A ética cristã é um estudo sistemático sobre os princípios e as práticas do que é certo e errado à luz das Escrituras Sagradas. Trata-se da parte da teologia que estuda o padrão de conduta conforme a vontade de Deus (Rm 12.1,2). O fruto do Espírito tem implicações éticas, e tal prática precisa ser treinada e se tornar hábito. Isso agrada a Deus e as pessoas, e por meio de nossa conduta até os incrédulos glorificam a Deus (Mt 5.16).

A santificação pode significar uma outra experiência específica e decisiva, à parte da salvação inicial. O crente pode receber de Deus uma clara revelação da sua santidade, bem como a convicção de que Deus o está chamando para separar-se ainda mais do pecado e do mundo e a andar ainda mais perto dEle (2Co 6.16-18). Com essa certeza, o crente se apresenta a Deus como sacrifício vivo e santo e recebe da parte do Espírito Santo graça, pureza, poder e vitória para viver uma vida santa e agradável a Deus (Rm 12.1,2; 6.19-22). – A santificação do crente, do irmão e da irmã, significa que o Deus Trino torna a pessoa santa, ela é santificada, todos os que aceitaram a Cristo são os santos. É nesses termos que o apóstolo Paulo se dirige aos crentes: “A todos os amados de Deus que estão em Roma, chamados para ser santos” (Rm 1.7); “à igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos, com todos os que em todos os lugares invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1 Co 1.2) e fraseologia similar na introdução da maioria de suas epístolas. Todo aquele que se converte a Cristo é santo, homens e mulheres de todos os lugares.

O conceito bíblico de “santo” destoa do pensamento dos católicos romanos que pensam se tratar de alguém especial acima das outras pessoas para interceder por elas. Essas pessoas, às vezes, nos consideram arrogantes porque afirmamos que fomos santificados. Deus nos chamou para a santificação e essa é a sua vontade: “Pois a vontade de Deus é a santificação de vocês” (1 Ts 4.3). Isso não é mérito nosso, assim como a salvação é pela graça de Deus (Ef 2.8-10) do mesmo modo tudo o que a acompanha é nos dados pela graça, como justificação e santificação. Não há salvação sem santificação (Hb 12.14). A graça salvadora também é santificadora ela vem do Pai (2 Co 1.12; 1 Tm 1.2); do Filho (Jo 1.16; Gl 1.16) e do Espírito Santo (Zc 12.10; Hb 10.29). A salvação em Cristo é acompanhada da santificação, e seu agente ativo é o Espírito que habita no interior do crente (1 Co 3.16; 2 Tm 1.14).

Na nova aliança, santificação é a semelhança do caráter de Cristo e o efeito real da salvação na vida cristã. Santificar todas as pessoas que se convertem a Cristo é especialidade do Espírito Santo. Essa santificação é instantânea, mas é ao mesmo tempo progressiva, pois esse processo continua na vida do crente. É desejo de todo cristão se parecer com Jesus e ter uma vida santa como Jesus teve. Pela sua infinita graça, Deus concede vida santa a todos os pecadores, desde que eles se arrependam e confessem o nome de Jesus (Rm 10.9, 10). Assim Deus disponibilizou três meios para a santificação – o sangue de Jesus (Hb 13.12), o Espírito Santo (2 Ts 2.13) e a Palavra de Deus (Jo 17.17; Ef 5.26).

O conceito de santidade ou santificação é o mesmo no Antigo e no Novo Testamento. Uma diferença significativa é que não há na nova aliança rituais de purificação e nem a ideia de santificação legal ou cerimonial. A santificação é interior e vem do Espírito Santo. Ela se manifesta de três modos pelos quais o Espírito age na vida cristã: santificação posicional, santificação real ou progressiva e a santificação futura.

Santificação posicional ou passada A santificação posicional é também conhecida como santificação passada, ou ainda, santificação instantânea. É uma obra do Espírito que nos posiciona como separados para Deus quando aceitamos a Cristo como Salvador. Trata-se de uma mudança moral que ocorre no momento da regeneração (Tt 3.5), de pecador para santificado em Cristo. A iniciativa e a execução dessa santificação são unicamente de Deus (At 26.18; 1 Co 1.2). O catolicismo romano aplica o termo “santo” a certas pessoas que foram canonizadas, mas isso não é bíblico. Todos nós, os salvos em Jesus, somos santos; é assim que somos reconhecidos no Novo Testamento (At 9.13, 32, 41) e é dessa maneira que o apóstolo Paulo se dirige aos crentes nas suas epístolas (Rm 1.7). A base dessa santificação é o sacrifício de Jesus (Hb 10.10, 14). Essa santificação é instantânea, mas é também o começo de uma vida progressiva de santificação.

Santificação real ou progressiva – Essa santificação é chamada progressiva porque nela o crente cresce em vitória sobre o pecado e em Cristo. O nosso crescimento espiritual começa com a santificação posicional no momento em que recebemos o Senhor Jesus como salvador e isso continua durante toda a nossa vida em direção à maturidade cristã (Fp 3.12, 13). Diferente da santificação posicional, que é obra exclusiva de Deus, a santificação progressiva “envolve uma parceria com Deus”. – Quem nasceu de novo foi transformado pelo poder de Deus, seu estilo de vida agora é outro, de modo que a santificação não pode ficar estagnada: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado, porque nele permanece a semente divina; esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1 Jo 3.9). A santificação real é progressiva e se desenvolve no nosso dia a dia (Pv 4.18). A cada dia avançamos em santidade (2 Co 3.18), lembrando que jamais chegaremos à santidade plena enquanto estivermos vivos (Ef 4.13). Todos nós precisamos de crescimento espiritual (2 Pe 3.18). O apóstolo Pedro exorta à santificação (1 Pe 1.15,16). Essa santificação é possível porque somos nascidos de Deus (1 Jo 4.7; 5.1) e o Espírito Santo está em nós e habita em nós (Jo 14.17; 2 Tm 1.14). Isso não significa que os crentes santificados se tornam perfeitos, não é isso (Ec 7.20; 1 Rs 8.46), mas nos tornamos irrepreensíveis diante de Deus, num estilo de vida de que Deus se agrada (Rm 12.1, 2; 1 Ts 5.23). Observe que havia crentes carnais na igreja de Corinto (1 Co 3.3) e, mesmo assim, eles eram “santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santos” (1 Co 1.2). – O papel do crente na santificação é passivo, sim, porque dependemos de Deus (Fp 2.12, 13), pois sem o Espírito não há santificação, e, ao mesmo tempo, ativo, isso porque nos esforçamos para obedecer a Deus (Rm 12.1,2; 2 Co 6.14; 7.1; 1 Ts 4.3; Hb 12.14). É claro que o progresso da santificação não pode acontecer sem a atuação do Espírito Santo. Nada podemos fazer sem a ajuda divina, mas temos os recursos espirituais para o desenvolvimento da santificação. A leitura da Bíblia e a meditação, a oração, a adoração, o testemunho, o autodomínio, tudo isso faz parte da vida cristã. Somos nós que devemos nos esforçar para o crescimento espiritual (Ef 4.1-3; 1 Ts 5.11). Deus já fez a sua parte.

A santificação futura ou glorificação – Essa é a santificação perfectiva, quando o Senhor Jesus nos transformar de modo que sejamos semelhantes a Ele na sua vinda (1 Ts 5.23). Essa santificação é chamada também de “glorificação” (Rm 8.29, 30; Fp 3.21). Na ressurreição seremos completos, e isso é extensivo à santificação, quando o Senhor Jesus declarar “que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso” (Fp 3.21). É nessa ocasião que veremos a Deus como ele é (1 Jo 3.2). Essa é a nossa esperança.

Ética – Não confundir ética com santificação. A ética é o estudo da conduta. É geralmente definida como um código moral ou série de práticas que se consideram moralmente aceitáveis. O termo vem da palavra grega e¯ thos, “hábito, costume”, que aparece somente uma vez no Novo Testamento, no plural, em um provérbio popular usado pelo apóstolo Paulo: “As más companhias corrompem os bons costumes” (1 Co 15.33). A ideia original de e¯ thos era de “morada, estábulo, lugares habituais”, e isso sugere que a ética diz respeito ao “modo de vida” como uma estabilidade segura, conduta ética, moral. Não confundir com outro termo grego parecido, ethos. A ética do Espírito é diferente da ética legalista. O legalismo é diferente de legalidade. A legalidade significa estar conforme à lei, refere-se à prática legal. O legalismo é a dependência da lei como condição para a salvação, a escravidão excessiva à letra da lei. Para o legalista prevalece a letra da lei e não o espírito da lei, vale o amor ao dever, uma observância fanática dos preceitos legais. Não é isso que acontece com o irmão ou irmã que anda no Espírito em cujas vidas o fruto do Espírito manifesta o caráter de Cristo.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“É impossível e não há base bíblica para se crer que um avivamento que só recebe o Espírito Santo como inspirador da Palavra ou da ação, e não da santificação pessoal também, continue no seu poder. ‘Entristecer’ o Espírito de Deus por falta de santificação (Ef 4.30) com certeza termina também na ‘extinção’ do Espírito de Deus na sua manifestação (1 Ts 5.19). O plano divinamente equilibrado revelado no Novo Testamento é onde o Espírito Santo se assemelha na origem tanto do fruto como do dom; e para as duas abençoadas fases da nossa redenção Ele é bem-vindo e obedecido.

[…] [Também] existe o erro de que receber o batismo com o Espírito Santo torna o crente sem pecado, perfeito ou algo parecido com isso. A verdade bíblica é a de que, em seguida ao batismo com o Espírito, haja uma grande ‘porcentagem’ de santificação pessoal ainda necessária no crente, e isso se processa à medida que os filhos de Deus agora continuem a ‘andar em Espírito’ (Gl 3.2,3; 5.16-25). É inútil pensar que qualquer ‘benção’ ou ‘experiência’ possa substituir um ‘andar’ contínuo no Espírito – por mais útil que tal bênção possa muitas vezes ser” (GEE, Donald. Como Receber o Batismo no Espírito Santo: Vivendo e testemunhando com poder. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp.60,61).

CONCLUSÃO

Sobre a santificação precisamos saber o significado, a sua importância e a sua necessidade. Isso evita confundir a santificação com regras externas típicas de religiões legalistas. A santificação é a marca de uma vida na plenitude do Espírito. – Os cristãos são desafiados a levar vidas santas e servir fielmente ao Senhor por causa da obra extraordinária que Ele fez por nós na cruz e porque nosso tempo nesta terra é muito curto. Há três motivos pelos quais devemos ser santos. Deus é santo (v. 15,16); Deus nos conhece e julga cada um de maneira justa (v. 17); e somos remidos pelo sangue de Jesus (v. 18,19).

REFERÊNCIAS

LIÇÕES BÍBLICAS. 1º Trimestre 2020 - Lição 6. Rio de Janeiro: CPAD, 06, fev. 2021.

SOARES, Esequias. O verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

RADMACHER, Earl D.; ALLEN, Ronald B.; HOUSE, H. Wayne. O novo comentário bíblico Novo testamento. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010. p. 691

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.

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