COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Nós somos apegados
à Palavra e buscamos a orientação do Espírito Santo para nos ajudar na
interpretação das Escrituras. Vamos estudar a relação dos pentecostais clássicos
e a leitura da Bíblia, a maneira como nós observamos as regras gramaticais e o
contexto histórico e literário para compreender melhor o texto sagrado. - O amor e o
compromisso com a Palavra de Deus são um dos legados deixados pelos nossos pais
na fé. Muitos pioneiros foram desfavoráveis a seminários e cursos formais de
teologia, no entanto, todos defenderam com todas as suas forças a leitura e o
estudo da Bíblia. O hábito da leitura diária da Bíblia é parte da cultura do
nosso povo. Ao crer nas Escrituras como a Palavra de Deus revelada, não resta
outro caminho ao cristão verdadeiro senão conhecer, guardar e amar este livro
em santa submissão e obediência. Observar suas instruções, histórias e
ordenanças com temor e reverência, afinal, é a carta de amor de Deus ao seu
povo.
I. A
AUTORIDADE DA BÍBLIA
Nós herdamos dos reformadores do
século 16 o conhecido Sola Scriptura, “somente as Escrituras”, um dos cinco
pilares da Reforma Protestante.
1. Sola Scriptura. Cada um dos cinco solae representa a chave de cada doutrina central dos
reformadores como Lutero, Zuínglio, entre outros. O brado de Sola Scriptura
significa que a Bíblia é a única regra de fé e prática para a vida cristã, e é
por meio dela que podemos conhecer a Deus e entender a sua vontade (2 Tm
3.14-17). Os católicos romanos têm a Bíblia e a Tradição; as testemunhas de
Jeová tem a Tradução do Novo Mundo, e mais a revista A Sentinela; os mórmons
têm a Bíblia e mais o Livro de Mórmon e outras publicações como fonte de
autoridade espiritual.
2. Nossos fundamentos. Os pentecostais ainda são vistos por alguns não pentecostais e
cessacionistas como um movimento que baseia suas crenças e práticas nas emoções
e ensina a crença no Cânon aberto. São interpretações equivocadas a nosso
respeito. Nós cremos que a revelação canônica se encerrou com os apóstolos do
Novo Testamento (1 Co 15.8). A nossa fonte de autoridade é unicamente a Bíblia,
conforme a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “A Bíblia é a nossa única
regra de fé e prática… não necessitamos de uma nova revelação extraordinária ou
pretensamente canônica” (2 Pe 1.19-21).
3. Não somos deístas. Deísmo é a doutrina que afirma a existência de Deus, mas que Ele está
muito longe de nós e não se envolve com os assuntos humanos. É como um
relojoeiro que dá corda a um relógio e esquece-se dele. Nós somos teístas, isto
é, cremos que Deus “não está longe de cada um de nós” (At 17.27), Ele está
interessado no ser humano (Hb 11.6). O fechamento do Cânon Sagrado não
significa que Deus abandonou suas criaturas e o seu povo. Nós cremos que Deus
continua a se comunicar com o seu povo por meio dos dons espirituais (At
2.14-21). Entretanto, essa revelação não se reveste de autoridade canônica para
a igreja. Deus se comunica conosco pela leitura de sua Palavra, pelos dons
espirituais, sonhos, visões e até pelas coisas simples do dia a dia (At
2.17,18).
A Bíblia é a única fonte de autoridade espiritual para as Assembleias
de Deus. Nós, assembleianos, não somos herdeiros diretos da Reforma, mas
professamos também os seus conhecidos cinco pilares: sola
Scriptura, sola fide, sola gratia, solus
Christus e soli Deo gloria”. Cada um dos cinco solae representa a
chave de cada doutrina central dos reformadores do século 16 e se relacionam,
contrapondo os ensinos da Igreja Católica. – A teologia das Assembleias de Deus
se harmoniza com os princípios básicos da Reforma. O pilar, sola
Scriptura, “somente as Escrituras”, significa que a Bíblia é a única
regra de fé e prática para a vida cristã e é por meio dela que podemos conhecer
a Deus e entender a sua vontade (2 Tm 3.14-17), e não as Escrituras e a Tradição
juntas.; Sola fide, “somente a fé”, a justificação dos
nossos pecados só é possível por meio da fé, e não a fé e mais as boas obras,
não existe nenhuma boa obra que possamos fazer para conquistá-la ou merecê-la
(Rm 3.28). Sola gratia, “somente a graça”, a salvação é
gratuita e oferecida por Deus por meio de Jesus Cristo e não depende de nós
mesmos, não a merecemos, mas Deus a concede porque ama a humanidade (Rm 3.24). Solus
Christus, “somente Cristo”, o Senhor Jesus Cristo é o único Salvador
do mundo, a salvação só é possível por meio dele, Jesus é o único que pode
interceder pela humanidade inteira, pois veio ao mundo e viveu sem pecado
algum, se entregou para que nossas iniquidades fossem perdoadas (Jo 14.6), e
não Cristo e a igreja, como no sistema católico. Soli Deo
gloria, “somente a Deus a glória”, Deus não divide a sua glória
(Is 42.8) e não glória a Deus e honra especial a Maria.
O nosso enfoque é sobre as Escrituras. O nosso Cremos, publicado no
expediente do jornal, Mensageiro da Paz, declara: “Cremos na inspiração
divina verbal e plenária da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé e
prática para a vida e o caráter cristão (2 Tm 3.14-17)”. Mas, os pentecostais
ainda são vistos por alguns não pentecostais e cessacionistas como um movimento
que baseia suas crenças e práticas nas emoções e que ensina a crença no Cânon
aberto. São interpretações equivocadas a nosso respeito. Quando foi criada a
Convenção Americana das Assembleias de Deus em 1914, os líderes perceberam que
havia a tentação de elevarem-se as revelações pessoais e outras manifestações místicas
ao mesmo nível. Assim, era necessário fazer certo esforço para manter o equilíbrio
entre os ensinos bíblicos e a experiência religiosa. Somos emocionais? É
verdade. Somos, sim, emotivos, pois Deus criou o ser humano, como afirma
Brumback: “não apenas como um ser físico, intelectual e espiritual, mas também,
como criatura emocional”. A emoção é um elemento inteiramente humano. A verdade
é que as emoções, como qualquer outra dimensão da vida humana devem ser
submetidas aos ensinos bíblicos.
Nós cremos que a revelação canônica se encerrou com os apóstolos
do Novo Testamento (1 Co 15.8). A nossa fonte de autoridade é unicamente a Bíblia,
conforme a Declaração de Fé das Assembleias de Deus: “A Bíblia é a
nossa única regra de fé e prática... não necessitamos de uma nova revelação
extraordinária ou pretensamente canônica” (2 Pe 1.1921). A autoridade divina da
Bíblia deriva de sua origem em Deus, e isso por si só encerra a suprema
autoridade das Escrituras como plena e total garantia de infalibilidade.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Este tópico apresenta a
autoridade das Escrituras. O comentarista menciona o termo latino Sola
Scriptura, que quer dizer “Somente as Escrituras”. Ao introduzir o presente
tópico, sugerimos que você faça um relato histórico a respeito da importância
do evento histórico que ajudou a estabelecer o princípio da Sola Scriptura: o
movimento da Reforma Protestante com Martinho Lutero. Cuidado com o tempo.
Procure fazer isso no máximo em 10 minutos. Para isso, sugerimos que pesquise a
obra “Deus e o Seu Povo”, editada pela CPAD. Nela há um capítulo todo especial
sobre o esse acontecimento histórico (p.121ss).
A ideia é que você mostre o
quanto devemos zelar para não perder a simplicidade das Escrituras. O contexto
do Movimento da Reforma mostra que quando se perde as raízes do cristianismo
apostólico, perde-se também a credibilidade, a verdadeira espiritualidade e o
temor a Deus. E essas raízes apostólicas encontram-se nas Escrituras Sagradas.
O Sola Scriptura é uma convocação para voltar a essas raízes.
II. ZELO PELA DOUTRINA
O zelo pela doutrina tem
ligações com a apologética cristã. Desde muito cedo na história, a igreja
percebeu que a Bíblia precisa ser interpretada para que os crentes conheçam
melhor o pensamento bíblico e a doutrina da igreja. Os credos e as confissões
de fé são documentos produzidos pelas igrejas com esse propósito.
1. Ensino ou instrução. A palavra “doutrina” vem do latim doctrina, que literalmente significa
“ensino” ou “instrução”. Mas o termo apresenta vários níveis de significado de
acordo com o seu contexto. Quando o texto sagrado expressa: “e perseveravam na
doutrina dos apóstolos” (At 2.42), isso significa que os discípulos permaneciam
seguindo o ensino dos apóstolos. Nesse caso, a palavra “doutrina” significa
ensino, instrução (Dt 32.2). Estamos nos referindo aos ensinos bíblicos.
2. O conteúdo da fé. A palavra doutrina se aplica também a um corpo básico e coerente do
ensino cristão, como os credos. Trata-se de um ensino sistemático sobre os
dados da revelação. A fonte do conteúdo doutrinário é a própria Palavra de Deus
auxiliada pela experiência cristã e com ajuda do intelecto humano (1 Tm 4.16; 2
Tm 3.16). Isso se faz por meio do ensino, da instrução. Quando o apóstolo Paulo
diz: “Traze estas coisas à memória” (v.14), ele está se referindo à sã
doutrina, contrapondo “os falatórios profanos” (v.16). Os credos e as
confissões de fé são dois tipos distintos de documentos eclesiásticos, mas com
o mesmo propósito, interpretar as Escrituras para sintetizar o ensino da
igreja. Os credos são genéricos e as confissões de fé são mais elaboradas e
específicas.
3. A nossa confissão de fé e a
Bíblia. A nossa confissão de fé não é de autoria
particular, pois expressa o pensamento e a vida da igreja. Esse documento é
submetido às Escrituras e estão em conformidade com elas. A nossa Declaração de
Fé ocupa extraordinária importância na vida da igreja como sumário doutrinário
da Bíblia e ajuda para sua compreensão, além de servir como proteção contra as
falsas doutrinas. Entretanto, a Palavra final é a Bíblia, a Declaração de Fé
expressa a doutrina oficial da Igreja. Há no Novo Testamento embriões de credos
e confissões de fé (Mt 16.16; Fp 2.8-11; 1 Tm 6.13) que foram desenvolvidos ao
longo da história da Igreja.
Pode-se dizer que o zelo pela doutrina era uma marca
distintiva de nossos pais: “Cuide de você mesmo e da doutrina. Continue nestes
deveres, porque, fazendo assim, você salvará tanto a si mesmo como aos que o
ouvem” (1 Tm 4.16). Há nessa passagem duas advertências ao jovem pastor Timóteo
e que vale para todos nós na atualidade: a) o cuidado pessoal, “tem cuidado de
ti mesmo” (ARC), o líder deve servir de exemplo para o rebanho, se dedicar à oração
e à leitura da Bíblia; b) o cuidado “da doutrina”, didaskalia, “ensino,
aquilo que é ensinado, doutrina”, aparece 15 vezes nas epístolas pastorais, ao
passo que o seu cognato, didache¯, de mesmo
significado, só aparece duas vezes nessas epístolas (2 Tm 4.2; Tt 1.9). Quatro
vezes o termo é qualificado pela palavra “sã” (1 Tm 1.10; 2 Tm 4.3; Tt 1.9;
2.1), o que significa aquela ortodoxia “relativamente fixa que as igrejas
tinham recebido e que era sua responsabilidade preservar contra as heresias”. De
modo que os nossos pioneiros entenderam muito bem o significado de “cuide de você
mesmo e da doutrina”, e isso eles fizeram com dedicação e esmero e nos deixaram
esse legado. Convém deixar claro que a expressão “fazendo assim, você salvará
tanto a si mesmo como aos que o ouvem” não significa que o ministério em si
mesmo, envolvendo muita dedicação, seja agente da salvação, só Cristo salva (Jo
14.6), e a salvação é pela graça mediante a fé (Ef 2.8, 9). Alguns expositores
do Novo Testamento argumentam que o verbo grego usado nessa passagem para “salvar”
é s¯oz¯o, que, além desse significado, quer dizer “libertar,
preservar, resgatar”, e nem sempre a ideia é soteriológica. Mas, os salvos
precisam perseverar até o fim e cada um cumprir o seu ministério (Mt 24.13; 2
Tm 4.5).
Os nossos primeiros missionários serviram em nosso país na evangelização
e no ensino da Palavra. O zelo deles pela doutrina contribuiu para a unidade
doutrinária das Assembleias de Deus. A espera entre o início das Assembleias de
Deus e as primeiras instituições de ensino teológico foi de cerca de 40 anos.
Nessas primeiras décadas, a prioridade deles era a evangelização e o discipulado.
Além disso, os grupos pentecostais das diversas partes dos Estados Unidos e
Europa não se viam como uma denominação, mas como o Movimento do Espírito,
Movimento Pentecostal. Os nossos pais jamais pretendiam fundar uma Assembleia
de Deus institucional, eles eram contra institucionalizar o movimento. Eles sabiam
o que estavam querendo e para onde estavam conduzindo a igreja. Todos eles
conheciam a Bíblia e eram muito apegados a ela. O conhecimento bíblico deles se
percebe pela qualidade teológica da letra dos hinos da Harpa
Cristã. Dificilmente você encontra ali um deslize doutrinário em
qualquer desses poemas.
O missionário Gunnar Vingren estudou teologia no Seminário Teológico
Sueco da Igreja Batista em Chicago entre 1904 e 1909. A CPAD publicou por ocasião
do Centenário das Assembleias de Deus a monografia de graduação de Gunnar
Vingren apresentada em Chicago em 1909, O Tabernáculo e Suas Lições. Os primeiros
educadores preocupavam-se com o crescimento espiritual dos santos e
incentivavam o estudo da Bíblia, porém, temiam que cursos formais de teologia
viessem intelectualizar demais a fé pentecostal.
O compromisso dos nossos pais com a Palavra, mesmo num período
de escassez de ensino teológico, evidencia-se no esforço dos missionários e dos
primeiros líderes em criar mecanismos para disponibilizar o ensino da Palavra a
todos os crentes. A princípio, o ensino era à distância.
Em 1919, os missionários Gunnar Vingren, Otto Nelson e outros,
em Belém do Pará, fundaram o jornal Boa Semente, com circulação
nacional, que veio a ser o órgão oficial das Assembleias de Deus, pois o
jornal, Voz da Verdade, já circulava desde 1917, mas não era
órgão oficial e deixou de existir. Havia, ainda, outro jornal, Som
Alegre, mas a 1ª. Assembleia Geral da Convenção Geral das
Assembleias de Deus no Brasil CGADB, realizada em Natal, em janeiro de 1930,
determinou que os dois jornais se fundissem num só. “O título escolhido foi Mensageiro
da Paz, cujo primeiro número saiu em 1º. De dezembro de 1930”. É atualmente
o órgão oficial da CGADB, e cada edição traz a síntese da Confissão de Fé, o
Cremos, os 16 artigos das Assembleias de Deus no Brasil. O Mensageiro
da Paz, durante anos, numa coluna especial, trazia um curso teológico
à distância. Não era muito, mas cumpria o papel de um instituto bíblico. A
principal agência de ensino bíblico que ajudou a suprir essa lacuna foi a
Escola Bíblica Dominical.
As primeiras lições até 1930 foram publicadas em forma de suplemento
no jornal, Boa Semente, e essa parte do periódico se chamava,
“Estudos Dominicais”, escritos pelo missionário Samuel Nyström, eram lições em
forma de esboços, preparadas para três meses. A partir de 1930, por decisões da
1ª. Assembleia Geral da CGADB, foram publicadas as Lições Bíblicas, inicialmente trimestrais,
mas logo passaram a ser semestrais, principalmente por causa das condições logísticas
da época em um país de dimensões continentais. Segundo a apresentação do volume
01 da Coleção Lições Bíblicas – 1934-1940: “Os primeiros
comentadores foram os missionários Samuel Nyström, Frida Vingren, e depois o
missionário Nils Kastberg”. Desde então essas lições são publicadas ininterruptamente
para ensino e edificação do povo de Deus.
O terceiro instrumento que os nossos pais usaram para suprir
a falta de seminários e institutos bíblicos são as conhecidas escolas bíblicas
de obreiros (EBO). A primeira Escola Bíblica, segundo o historiador das Assembleias
de Deus, Isael de Araújo, aconteceu no Rio de Janeiro em 1929, e os
palestrantes foram Gunnar Vingren e sua esposa Frida Vingren, que falaram sobre
“como ter um espírito excelente”, “A vida de Jesus”, “A igreja e os dons
espirituais” e “A segunda vinda de Cristo”. Essa primeira EBO foi ministrada
pelo casal missionário.
A formação teológica dos obreiros das Assembleias de Deus deve-se
fundamentalmente à divulgação do ensino teológico das Escolas Bíblicas de
Obreiros. Elas “desempenharam papel decisivo na estruturação teológica do
movimento pentecostal no Brasil”. Ainda hoje elas são realizadas nas principais
igrejas do Brasil. Sua duração é, geralmente, de 15 dias ou um mês, mas há
igrejas em que sua duração é de uma semana, e outras, de 10 dias. Eram convidados
pastores e educadores de outras localidades do país, ou do exterior, para
ministrar sobre matérias bíblicas: pentecostais, teologia, eclesiologia e ética
ministerial, como Samuel Nyström, J. P. Kolenda, Eurico Bergstén, N. Lawrence Olson,
João de Oliveira, Alcebíades Pereira de Vasconcelos, Estêvam Ângelo de Souza, Orlando
Boyer, Emílio Conde, Reginald Hoover entre outros. Todos eles eram mestres
respeitáveis e de reputação nacional. Eles foram responsáveis pela construção
do pensamento teológico das Assembleias de Deus. Hoje, mesmo com o atual
crescimento de escolas teológicas, as Escolas Bíblicas de Obreiros continuam disseminando
ensinos teológicos em todo o país. Muitos dos atuais educadores passaram por um
instituto bíblico. A erudição não anula o fervor do Espírito, para ser
intelectual pentecostal não há necessidade de “jubilar” o cérebro.
Desde muito cedo na história, a igreja percebeu que a Bíblia
precisa ser interpretada para que os crentes conheçam melhor o pensamento bíblico
e a doutrina da igreja. Os credos e as regras de fé são documentos produzidos
pelas igrejas com esse propósito. Os antigos credos gerais, como o Credo dos Apóstolos,
os Credos Nicenos, o Credo de Atanásio entre outros são um exemplo dessa realidade.
Os nossos pioneiros tinham consciência dessa realidade e se preocupavam com o
crescimento espiritual do rebanho. Todos eles encorajavam o povo à leitura da Bíblia,
eram apegados às Escrituras e dedicados ao ensino da Palavra, mas a forma de exercer
esse ministério se distinguia da maneira das igrejas tradicionais da época.
SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO
“Credo, confissão de fé, regra de
fé ou declaração de fé são interpretações autorizadas das Escrituras Sagradas
aceitas e reconhecidas por uma igreja ou denominação. Todas as igrejas ou
denominações no mundo possuem algum tipo de conjunto de crenças, seja ele
escrito ou não, não importando o nome dada aos ensinos norteiam a vida da
instituição cristã. A Bíblia é a Palavra de Deus e a única autoridade inerrante
para a nossa vida. Não é um credo, mas, sim, sua fonte primária. Na explicação
de Philip Schaff, ‘a Bíblia revela a verdade em forma popular de vida e fato; o
Credo declara a verdade em forma lógica de doutrina. A Bíblia é para ser crida
e obedecida; o Credo é para ser professado e ensinado’. Em outras palavras, a
Bíblia precisa ser interpretada e compreendida para uma adoração consciente a
Deus” (Declaração de Fé das
Assembleias de Deus. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, p. 15)
III. CUIDADO
QUANTO AO MODISMO
O nosso cuidado com a doutrina
deve ir além do combate aos modismos e servir para defender a nossa fé das
seitas e heresias, refutar os erros que se opõem aos ensinos bíblicos e
persuadir os contradizentes para que eles se convertam ao Evangelho.
1. Modismo. Essa palavra traz a ideia do que está na moda. Isso se aplica também no
campo teológico. São os ventos de doutrina que vêm e se vão (Ef 4.14), que tem
caráter efêmero, passageiro, “que para nada aproveitam”. Em outras palavras,
são inúteis e inaproveitáveis. Quem não se lembra do “dente de ouro”? Do dom da
unção “cai-cai”, do sopro santo, do G-12, a febre dos anjos e de outras
aberrações doutrinárias? Onde estão os seus promotores e expoentes? Não há como
combater esses abusos e essas práticas exóticas sem o conhecimento adequado da
Palavra de Deus (Tt 1.9).
2. “Procura apresentar-te a Deus
aprovado”. Essa qualificação vem do
Espírito de Deus. Apresentar-se a Deus aprovado significa estar disponível,
testado e aprovado por Deus e reconhecido pela igreja (2 Co 10.18). Desde muito
cedo na história do cristianismo que a igreja precisou enfrentar uma avalanche
de heresias e aberrações doutrinárias ensinadas pelos falsos mestres (1 Tm
1.4,6,7; 4.7; Tt 1.9). Os maus obreiros e os obreiros fraudulentos (2 Co 11.13;
Fp 3.2) serão desmascarados e reprovados (Mt 7.21-23).
3. “...como obreiro que não tem
de que se envergonhar. O termo “obreiro”, tanto em
grego quanto em português, vem de “obra, trabalho” e tem significado amplo no
Novo Testamento. No sentido literal, refere-se ao trabalhador do campo (Mt
20.1); no sentido metafórico, a todos os que se dedicam à obra de Deus (Mt
9.37,38) e de maneira geral aos apóstolos e demais oficiais da igreja (Lc 10.7;
1 Tm 5.18). A nossa Declaração de fé afirma: “O termo ‘obreiro’ é genérico e
usamos praticamente para todos os cargos e funções na Igreja”.
4. “...que maneja bem a palavra da verdade. O verbo grego para “manejar bem” é orthotoméo, literalmente, “cortar reto”, cuja ideia é cortar em linha reta. A ideia é “manter o curso correto”. É uma palavra rara, aparece uma só vez no Novo Testamento e duas vezes na Septuaginta (Pv 3.6; 11.5). O emprego paulino dessa palavra é metafórico, e muitas interpretações já foram apresentadas ao longo dos séculos. A preocupação de Paulo é com o ensino correto da Palavra de Deus, com base numa exegese sólida com a aplicação para a edificação espiritual da igreja. Isso significa também não fazer uso da Palavra no púlpito para atacar algum desafeto entre os irmãos por meio de indiretas. Púlpito não é lugar de desabafo.
O significado literal de “modismo”, segundo os dicionários
da língua portuguesa, é o que está na moda, e, dependendo do contexto, é aquilo
“que tem caráter efêmero, passageiro”. É nesse contexto o nosso cuidado, os
nossos pais tiveram e devemos manter a mesma vigilância doutrinária. Esses
modismos são provenientes de várias fontes: erros de interpretação de textos bíblicos,
experiências pessoais e revelações de origem estranha. Trata-se de distorção
doutrinária que está muito em voga na mídia evangélica e nos últimos anos vem
recebendo aceitação de muitos líderes desavisados. Vários modismos pentecostais
têm chegado ao país, como se fossem avivamentos bíblicos genuínos. É assim que se
houve falar de doutrinas e práticas religiosas estranhas como sendo o
avivamento esperado. Os principais modismos já saíram de moda e outros até já
desapareceram. Os mais conhecidos são o mapeamento espiritual, a maldição
hereditária, a ideia de “crentes endemoninhados”. Outro modismo que já está
fora de moda é o “cair no poder”, chamado “sopro santo”. Muita gente se reunia
nas igrejas e em grandes concentrações já predispostas para “cair no poder”,
com alguém para segurar na hora de cair para trás. Às vezes, o pregador soprava
ou jogava o paletó para o plenário e com isso muitos dos presentes caíam para
trás. Tivemos que lidar com esse abuso por um bom tempo.
O dente de ouro eram obturações de ouro que supostamente aconteciam
durante os cultos mediante a pregação e a ministração de alguém com uma “unção
específica”. Muitos iam para esses cultos previamente programados com lanternas
e espelhos, e se via muita gente de boca escancarada, e outros com lanternas e espelhos
procurando obturações de ouro. Tal modismo já desapareceu. A “unção do riso”
foi outra inovação, mas não durou muito tempo, é conhecida também como a “bênção
de Toronto, gargalhada sagrada ou unção de Isaque”. As pessoas se reuniam nos
cultos e começavam a dar gargalhas: “As manifestações relacionadas com este
movimento incluem gargalhadas, cair no Espírito, passar tempo no carpete (to do
carpet time) e emitir sons produzidos por animais tais como urrar como leão e
latir como cachorro”. O movimento G-12 com a regressão psicológica também foi
moda. Onde estão agora todos esses modismos? Alguns desapareceram, outros vão
se reinventando para não dizer, desaparecendo.
SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO
A Bíblia não apresenta modismos,
mas verdades atemporais e eternas, conforme nos mostra da Declaração de Fé das
Assembleias de Deus: “São dois os propósitos das Escrituras Sagradas: revelar o
próprio Deus e expressar a sua vontade à humanidade. Pelo primeiro, dentre
outras formas de revelação, Deus graciosamente revelou a si mesmo pela Palavra:
‘Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos
pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo filho’ (Hb
1.1). Pelo segundo propósito, Deus expressa claramente a sua vontade redentora
a todos e a cada um dos seres humanos sem nenhuma acepção de pessoas, por meio
da fé em Jesus Cristo: ‘Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé
como está escrito: Mas o justo viverá da fé’ (Rm 1.17). Assim sendo, o
Senhor Jesus Cristo é o centro das Escrituras. Ele mesmo disse: ‘São estas as
palavras que vos disse estando ainda convosco: convinha que se cumprisse tudo o
que de mim estava escrito na Lei de Moisés nos profetas, e nos Salmos’ (Lc
24.44). Tudo o que precisamos saber sobre Deus e a nossa redenção está
suficientemente revelado em sua Palavra. Ela é o manual de Deus para toda a
humanidade, e suas instruções visam, também, à felicidade humana e o bem-estar
espiritual e social de todos os seres humanos” (Declaração de Fé das Assembleias de Deus. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp.27-28).
CONCLUSÃO
Nós temos compromisso com a Palavra de Deus e cremos que ela é a única revelação de Deus escrita para a humanidade. Diante disso, fica claro que nenhuma outra literatura exerce autoridade sobre a nossa vida. – Ser comprometido com a Palavra é ir além da comunicação do evangelho, mas também batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos: “Amados, quando eu me empenhava para escrever-lhes a respeito da salvação que temos em comum, senti que era necessário corresponder-me com vocês, para exortá-los a lutar pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Jd 3). Assim, o nosso cuidado com a doutrina deve ir além do combate aos modismos e também servir para defender a nossa fé das seitas e heresias, refutar os erros que se opõem aos ensinos bíblicos e persuadir os contradizentes para que eles se convertam ao evangelho. Devemos fazer o melhor para Deus.
REFERÊNCIAS
LIÇÕES BÍBLICAS. 1º
Trimestre 2020 - Lição 8. Rio de Janeiro: CPAD, 21, fev. 2021.
SOARES, Esequias. O
verdadeiro pentecostalismo: a atualidade da doutrina bíblica sobre a
atuação do Espírito Santo. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
RADMACHER, Earl
D.; ALLEN, Ronald B.; HOUSE, H. Wayne. O novo comentário bíblico Novo
testamento. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2010. p. 691
STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
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