sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

LIÇÃO 11: A TEOLOGIA DE ELIÚ: o sofrimento é uma correção divina?

 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

   INTRODUÇÃO

Veremos a teologia de Eliú exposta em quatro grandes discursos teológicos (Jó 32 – 37). Esses discursos se contrapõem ao que Jó e seus amigos proferiram. Para Eliú, os amigos de Jó falharam na exposição de suas ideias ao patriarca. Este, por outro lado, se equivocar ao apresentar o seu conceito de Deus para fundamentar sua defesa. Assim, mostraremos que Eliú revela um Deus soberano que age segundo o seu conselho e não está obrigado a dar respostas ao homem, além de não haver qualquer injustiça em suas ações, pois, segundo o jovem amigo de Jó, o sofrimento é uma ação pedagógica de Deus para corrigir o homem. – Eliú aparece no livro de Jó como um jovem irado. Os seus discursos teológicos, em um total de quatro, estendem-se do capítulo 32 ao 37. Trata-se de um longo texto em que Eliú expõe meticulosamente toda a sua argumentação. Ele gastou muita saliva para contra-argumentar o que Jó dissera. – A convicção da maioria dos estudiosos é que os quatro discursos de Eliú são um acréscimo posterior ao livro de Jó. Eliú não é mencionado no prólogo. Embora se pudesse argumentar que isso não é nada extraordinário, visto que foi uma grande vantagem dramática do autor ter um novo interlocutor aparecendo no final dos ciclos de discursos, a ausência de Eliú do epílogo é surpreendente. Os discursos de Eliú também retardam a resposta de Javé a Jó, que poderia ser esperada logo após o cap. 31; quando de fato Javé responde a Jó (caps. 38ss), ele fala com Jó como se nada tivesse interrompido o texto.

   I. O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS

1. Deus é soberano (33.14,15). Nesse primeiro discurso, Eliú destaca a queixa de Jó porque Deus não lhe respondera. Para o jovem amigo do patriarca, este não leva em conta a majestade divina que distingue o Criador de suas criaturas. Nesse sentido, Jó havia ignorado que Deus é infinitamente maior do que o homem e não precisa explicá-lo acerca suas ações nem de seu silêncio.

2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus. Todavia, mesmo sendo um ser transcendente, Deus não deixa de se revelar ao homem quando julga necessário. Por isso, Eliú não aceita o argumento de Jó sobre o silêncio de Deus, pois Ele fala ao homem de várias maneiras, incluindo sonhos e visões (Jó 33.14,15). De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio do Altíssimo, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo. O jovem acredita que mesmo o patriarca considerando-se moralmente puro, padece do pecado de orgulho (Jó 33.17). Na visão de Eliú, a revelação de Deus tem o propósito de livrar o homem da soberba que o conduziria à morte (Jó 33.17,18).

3. O mistério da redenção. Além de sonhos e visões, Eliú também destaca que Deus usa a enfermidade como um dos canais de comunicação entre Deus e o homem (Jó 33.19-22). Por causa dela, Ele pode enviar um anjo para anunciar a Jó o seu dever (Jó 33.23), dizer o que ele deve fazer e, também, interceder em favor da saúde do patriarca. Dessa forma, esse mensageiro anuncia o que é justo e bom a fim de recuperar o estado de justiça que Jó desfrutava antes da enfermidade.

As funções que são atribuídas a esse mensageiro-mediador fazem com que os intérpretes bíblicos vejam nesse ser celeste uma referência ao anjo do Senhor, uma teofania do Senhor Jesus Cristo (Gn 16.9; 22.11; Êx 3.2; Jz 6.11). Não há dúvidas de que esse mediador é a mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16.19) e o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19.25). Nesse sentido, conforme podemos atestar no livro, o ministério desse mensageiro é um ato decorrente inteiramente da graça de Deus em favor de Jó para mediar sua causa e resgatá-lo (33.24). 

Os amigos de Jó haviam argumentado que seu sofrimento era prova de que Deus o estava castigando por seus pecados, mas Eliú argumenta que, por vezes, Deus permite que soframos a fim de evitar que pequemos. Em outras palavras, o sofrimento pode ser preventivo e não punitivo (ver a experiencia de Paulo relatada em 2 Co 12:7-10). Deus faz todo o possível para nos guardar do pecado e da cova da morte – o que comprova sua graça e bondade para conosco (Jo 33:24). – Eliú vai ilustrar a sua interpretação do sofrimento usando o exemplo dos pesadelos. Eles são uma forma de Deus falar com o homem, embora este nem sempre reconheça isso (v. 14). Nos sonhos, ele às vezes aterroriza o homem com advertências para afastá-lo de obras más e livrá-lo do orgulho (v. 17). Essa forma de sofrimento é usada por Deus para evitar sofrimento maior – a possibilidade de cair na cova, isto é, a morte (v. 18). – Eliú afirma que o propósito de Deus com a disciplina é salvar as pessoas da morte (Tg 5:19, 20), quebrando seu orgulho e trazendo-as de volta a uma posição de obediência (Jo 33:17, 18). Deus procura guardá-las da cova (v. 18), mas os pecadores rebeldes vão se aproximando da cova (v. 22) e, em seguida, descem a cova (v. 24) e entram na cova (v. 28). Quando é quase tarde demais, o Mediador as traz de volta da cova (v. 30) e as resgata. "Eis que tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, para reconduzir da cova a sua alma e o alumiar com a luz dos viventes" (vv. 29, 30). Deus "não [quer] que nenhum pereça" (2 Pe 3:9).

Nos tempos bíblicos, por vezes, Deus falava com seu povo por meio de sonhos e visões, enquanto hoje seu Espirito nos dirige principalmente por meio de sua Palavra (Hb 1:1, 2). Se os pecadores têm visões ou sonhos assustadores, pode acontecer de ficarem impressionados o suficiente para não cometerem os pecados que planejavam. Os sonhos do próprio Jó eram aterrorizantes (Jo 7:13, 14), e Elifaz teve uma visão noturna inesquecível (4:12-21). Deus envia sonhos e visões a fim de "abrir os ouvidos" dos homens e levá-los a escutar a Palavra de Deus e lhe obedecer. Caso não se humilhem, podem descer à cova da morte. – Nem todos os sonhos possuem significados ocultos e nem todos eles são mensagens especiais de Deus. Não são poucos os pesadelos causados por um jantar um tanto farto demais! As pessoas que planejam a vida de acordo com o que descobrem em seus sonhos não estão procurando orientação, mas sim confusão. Deus pode usar os sonhos para abalar a segurança de um pecador orgulhoso, mas essa não é sua abordagem habitual nos dias de hoje.

Tudo indica que esse anjo intercessor pode ser o Anjo do Senhor, o Senhor Jesus Cristo, o Mediador que entregou sua vida como resgate pelos pecadores (1 Tm 2:5; Mc 10:45). O Filho de Deus visitou a Terra como Anjo do Senhor em várias ocasiões no Antigo Testamento a fim de transmitir mensagens especiais e de realizar tarefas importantes (Gn 16:9; 22:11; Ex 3:2; Jz 6:11). Porém, Eliú não considerou esse Anjo apenas um Mediador entre Deus e os homens, mas também o Provedor do resgate para os pecadores. – Trata-se do "mediador" celestial que Jó havia pedido ao longo de toda a discussão! Jó queria um "árbitro" que o reunisse com Deus para um julgamento (Jó 9:33), uma "testemunha" celestial que defendesse sua causa diante de Deus (16:19) e um "redentor" que o justificasse mesmo depois de sua morte (19:25). O ministério desse anjo é um ato decorrente inteiramente da graça de Deus (33:24). "Redime-o, para que não desça a cova; achei resgate" (v. 24). Uma descrição que se parece muito com nosso Senhor Jesus Cristo, que é tanto nosso Mediador quanto nosso Resgate (1 Tm 2:5, 6).

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Inicie a aula de hoje fazendo uma reflexão sobre a soberania de Deus e o orgulho humano. Uma das questões mais difíceis para o ser humano é aceitar algo que saia do seu domínio. Muito sofrimento hoje tem como causa a não aceitação de determinada realidade. Diante dela, o desespero passa a dominar, o medo passa a ser constante, o grau de ansiedade e estresse aumenta. Entretanto, quando olhamos para a Bíblia percebemos que homens e mulheres puderam reconhecer a voz de Deus de dentro do sofrimento. É por isso que estamos estudando o Livro de Jó, pois esse patriarca experimentou a Deus na “escola do sofrimento”. Deixe claro para a classe que quando isso acontece, crescemos em maturidade e espiritualidade. Portanto, estimule os alunos a perguntarem o que Deus quer falar conosco na “escola do sofrimento”.

  II. O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS

1. A justiça de Deus demonstrada. Quando defende a justiça de Deus, Eliú faz coro com seus amigos na acusação contra Jó. Em sua perspectiva, os argumentos de Jó não passavam de insolência. Como pode o Todo-Poderoso agir com injustiça conforme Jó deixou subtender? Deus jamais age injustamente, pois isso contrariaria sua própria natureza (Jó 34.10,12).

2. O caráter justo de Deus. Para não haver dúvida, Eliú passa a descrever o caráter justo de Deus: (1) Ele age com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11); (2) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó 34.13); (3) como o provedor da vida humana, Ele tem todo o poder de manter ou não a humanidade (Jó 34.14,15); (4) o Todo-Poderoso não faz acepção de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó 34.16-20); (5) Deus é onisciente e como tal conhece os passos e as intenções de todos os homens sem precisar inquiri-los em juízo (Jó 34.21-25); (6) Ele é justo para punir os maus (Jó 34.25-30).

3. A defesa da soberania de Deus. Atente para a seguinte pergunta: “Será que Deus deve recompensá-lo segundo o que você quer ou não quer?” (Jó 34.33 – NAA). Eliú encerra o capítulo mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade, não tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Sendo soberano, Ele não está sujeito a qualquer julgamento humano. Por todo o livro de Jó o autor destaca a soberania divina. Um exemplo disso está claro no uso da palavra “Todo-poderoso” que ocorre 31 vezes. Para Eliú, portanto, por ser Soberano, Deus jamais age com injustiça como Jó dera a entender.

Todavia, é preciso destacar duas coisas sobre fala de Eliú. Primeiramente, ele, assim como seus amigos, erra por partir do princípio de que Jó havia cometido pecado. Em segundo lugar, Eliú exalta apenas a justiça de Deus e nada diz acerca de sua misericórdia. Para ele, o Altíssimo havia posto sua justiça soberana acima do seu amor, o que é um erro crasso. Deus, sem dúvida alguma, é justo; mas grandiosamente amoroso e misericordioso.

Ao lermos os discursos de Eliú, temos a impressão de que ele não estava crescendo, mas sim se enchendo de soberba. Também nos parece que seus ouvintes divagavam, pois ele os exortou a ouvir com atenção (Jó 33:1, 31, 33; 34:2, 10, 16). Nos últimos dois terços de seu discurso, Eliú explicou e defendeu a justiça de Deus (Jó 34 - 35) e a grandeza de Deus (Jó 36 - 37). – Deus é Justo (Jó 34-35): Eliú havia prometido não usar de lisonja (Jó 32:21), mas chegou perto de fazê-lo em Jó 34:2, quando se referiu a seus ouvintes como "sábios" e "instruídos". Na verdade, estava lisonjeando a si mesmo, pois, se esses "sábios" e "instruídos" estavam dispostos a ouvi-lo, deviam considerá-lo ainda mais instruído e sábio do que eles! Eliú citou Jó (v. 3; 12:11) e instou seus ouvintes a usarem de discernimento ao "provar" suas palavras, de modo a conhecer "o que é bom" (34:4). Eliú comparou seu discurso com a degustação de uma refeição saborosa e nutritiva. Falou de duas das queixas de Jó que deveriam ser discutidas: "Deus é injusto" (vv. 5, 6) e "Não há proveito algum em servir a Deus" (vv. 7-9). Respondeu a primeira queixa nos versículos 10 a 37 e a segunda em Jó 35. "Deus é injusto" (34:5, 6, 10-37). A injustiça de Deus é um dos principais temas dos discursos de Jó. A seu ver, estava sendo tratado como um pecador, e, no entanto, Deus não havia "comparecido ao tribunal" e dito a Jó o que ele havia feito de errado (ver 9:2, 17-20; 19:6, 7; 27:2). Eliú recordou que Jó havia se declarado inocente, dizendo que lhe havia sido negada a justiça (34:5; 10:7; 6:29) e que Deus estava lançando flechas contra ele (34:6; 6:4). – Eliú apresentou três argumentos para provar que, em Deus, não há injustiça alguma. Em primeiro lugar, se Deus é injusto, então não é Deus (34:10-15). "Longe de Deus o praticar ele a perversidade, e do Todo-Poderoso o cometer injustiça" (v. 10). "Na verdade, Deus não procede maliciosamente; nem o Todo-Poderoso perverte o juízo" (v. 12). Abraão perguntou: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gn 18:25), e a resposta óbvia é sim!

Eliú enfatizou que Deus é soberano e, como tal, não pode ser acusado por lei alguma nem julgado em qualquer tribunal que seja. É impossível o rei ser injusto. Deus não foi nomeado para seu trono e, portanto, não pode ser deposto dele (Jó 34:13). Afirmar que Deus é injusto é dizer que ele não é Deus e, portanto, não tem direito de estar assentado em seu trono. Porém, Deus controla até mesmo nossa respiração e pode nos tirar a vida num instante (vv. 14, 1 5; At 1 7:25, 28). "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3:22). – O Livro de Jó exalta a soberania de Deus. Desde o primeiro capítulo, fica evidente que Deus está no controle, pois diz até mesmo a Satanás o que ele pode ou não fazer. Temos a impressão de que, ao longo da discussão, Deus está ausente, mas, na verdade, sabe muito bem como Jó está se sentido e o que Jó e seus amigos estão dizendo. Deus é chamado de "Todo-Poderoso" trinta e uma vezes no Livro de Jó. Eliú estava absolutamente certo: Deus é soberano e não pode cometer injustiça alguma.

Eliú cometeu o erro crasso de destacar e enfatizar apenas um atributo divino - a justiça de Deus -, quando, na verdade, Deus também é amoroso e bondoso (Bildade cometera o mesmo erro em seus discursos). Em sua sabedoria, Deus criou um plano de redenção que satisfaz tanto sua justiça quanto seu amor (Rm 3:21-31). Por causa da cruz, Deus pode redimir os pecadores e, ainda assim, exaltar a própria retidão e guardar sua santa lei. – De acordo com o terceiro argumento de Eliú, para ser injusto, Deus não poderia ver o que se passava no mundo (Jó 34:21-30). Mas Deus é onisciente e vê todas as coisas! Um juiz humano, com suas limitações, ouve uma causa e toma a melhor decisão possível e, por vezes, comete erros. Deus, por sua vez, vê cada passo que damos, e não temos onde nos esconder dele (SI 139:7-12). Jó queria que Deus se encontrasse com ele no tribunal a fim de poder apresentar sua causa, mas o que Jó poderia dizer que Deus já não soubesse? "Pois Deus não precisa observar por muito tempo o homem antes de o fazer ir a juízo perante ele" (Jó 34:23). Ao contrário dos oficiais humanos, Deus não tem obrigação de realizar uma investigação nem de juntar provas. Ele conhece todas as coisas e pode julgar com sabedoria perfeita.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

A teologia da prova. Adiantando-se em seu discurso, exclama Eliú: ‘Pai meu! Provado seja Jó até ao fim’ (Jó 34.36a). Recorramos ao hebraico: Avi ybahen Yôb ad-netsah. O vocábulo ybahen comporta os seguintes sinônimos: provar, refinar como ouro, fundir como metal. Por conseguinte, deveria Jó, como o mais precioso dos metais, ser intensamente provado até que todas as impurezas e imperfeições lhe fossem tiradas. Observe que Eliú roga a Deus seja o patriarca provado até o fim. Se Jó tem de ser acrisolado, que lhe seja completo o crisol; até ao fim: ad-netsah. A provação haveria de perdurar enquanto fosse necessária. Não fora Jó suficientemente provado? Entretanto, teria ele de suportar toda a ardência daquele cadinho até que viesse a entender a soberania de Deus. Doutra forma, jamais chegaria à estatura de perfeito varão (Jó 34.36b)” (ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p.168).

  III. O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS

1. O caráter pedagógico do sofrimento (36.7-15). Há uma diferença entre o pensamento teológico de Eliú e o de seus amigos. Elifaz, Bildade e Zofar acreditavam que o sofrimento de Jó era por causa de um pecado cometido por ele e sua recusa em reconhecê-lo. Eliú também crê dessa forma, mas vai além. Embora compreenda que, durante sua provação, Jó se comportou de forma pecaminosa, Eliú introduz a ideia de que o sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó 36.15). O caráter pedagógico do sofrimento está na capacidade de nos fazer refletir e voltar para Deus. Dessa forma, os justos aprendem com o sofrimento.

2. Adorando a Deus na tormenta. No capítulo 36 e versículo 26, Eliú afirma que “Deus é grande, e nós o não compreendemos”. Para ilustrar o argumento da grandeza de Deus, ele faz uma explanação sobre a ação de Deus nas estações do ano: Outono, Inverno, Primavera e Verão. O argumento de Eliú tem por objetivo demonstrar a grandeza de Deus sobre a criação e como esse fato deve fazer com que Jó o reconheça como grande e o louve como tal (Jó 36.24-25). A fala de Eliú põe em destaque o argumento contraditório de Jó, que por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por outro murmurava contra Ele. Nesse aspecto, Eliú acerta em mostrar que a adoração e a murmuração não podem coexistir, são atitudes excludentes.

Jó 37.6-13 ilustra de forma poética o pensamento do orador. É uma metáfora da situação do patriarca, que no meio da tormenta, em todo o seu impacto e estrondo, pode contemplar o caráter pedagógico do amor de Deus. 

Eliú instou Jó a ter uma nova visão da grandeza de Deus e a começar a louvá-lo (vv. 22-25). Deus quer nos ensinar por meio de nosso sofrimento (v. 22), e uma evidência de que estamos aprendendo nossas lições é adorar e agradecer a Deus até pelas provações. "Lembra-te de lhe magnificares as obras [de Deus] que os homens celebram" (v. 24). Assim como a oração, o louvor possui poder transformador.

O imenso poder de Deus na natureza (36:26 - 37:24). "Eis que Deus é grande, e não o podemos compreender" (36:26). Esse é o tema da última parte do discurso de Eliú, e ele a ilustra com obras de Deus na natureza - mais especificamente, com o controle de Deus sobre seu mundo durante as estações do ano. (1) Outono (36:27 - 37:5). No Oriente, depois do calor da seca e do verão, tanto a terra quanto as pessoas recebem com alegria as chuvas de outono. É interessante observar a percepção de Eliú com relação ao "ciclo da água" na natureza (evaporação, condensação, precipitação) e a necessidade de se ter eletricidade (relâmpagos) para manter o "sistema" funcionando. – Eliú descreve a tempestade com a mente de um cientista, mas com o coração de um poeta. Começa com a formação das nuvens (36:26-29), passando a liberação de energia pelos relâmpagos (vv. 30-32) e, em seguida, ao som do trovão (36:33 - 37:5). Para Eliú, o relâmpago é a arma de Deus (36:32), e o trovão e sua voz (37:2, 4, 5). No Oriente, pode-se ver uma tempestade se formando a vários quilômetros de distância e assistir maravilhado a sua chegada. Qual foi a reação de Eliú a essa demonstração dramática da tempestade? Em primeiro lugar, a tempestade o fez lembrar da soberania e bondade de Deus. "Pois por estas coisas julga os povos e lhes dá mantimento em abundância" (36:31). Além disso, despertou nele grande admiração pelo imenso poder de Deus (37:1). Davi relatou uma experiência semelhante no Salmo 29. (2) Inverno (vv. 6-10). A certa altura, as chuvas de outono se transformam no gelo e na neve do inverno. Os trabalhadores devem parar com seu serviço, e os animais selvagens devem buscar o abrigo de suas tocas. Deus sopra sobre as águas, e elas se congelam. O que o homem do tempo chama de "fenômeno meteorológico", Eliú chama de obra miraculosa do Deus Todo-Poderoso (3) Primavera (w. 11-13). A seu tempo, os ventos mais quentes começam a soprar, a neve e o gelo derretem e as nuvens de chuva voltam a aparecer. Eliú sabia que o vento exerce um papel importante nas condições meteorológicas do mundo. Ninguém consegue prever com precisão o que o vento fará (Jó 3:8), mas Deus está inteiramente no controle (Sl 148:8). O "ciclo da água" funciona de modo perfeito: as nuvens estão cheias de água, os relâmpagos lampejam e as chuvas caem. Em certas ocasiões, Deus envia tempestades para disciplinar (Jo 37:13; Gn 6 - 8; Ex 9:13-26; 1 Sm 12:1 6-19); mas, na maioria das vezes, a chuva é uma dádiva de seu amor e misericórdia (Jo 37:13). (4) Verão (vv. 14-18). Agora se vê o "equilíbrio das nuvens" (v. 1 6), e tudo está quieto. O sol de verão aquece o ar, o vento sul ("siroco") sopra do deserto e "[aquece] as vestes" das pessoas (v. 1 7). O céu é como um espelho de metal polido, e ninguém tem vontade de fazer outra coisa senão descansar. No entanto, Eliú estava fazendo muito mais do que dar uma palestra científica sobre as quatro estações. Seu desejo era que Jó refletisse sobre a grandeza de Deus e as maravilhas da natureza e percebesse quão pouco sabia, de fato, sobre Deus e sua operação neste mundo. Eliú fez a Jó quatro perguntas retóricas - sobre as nuvens, o relâmpago, o vento e os céus sem chuva. "Você pode explicar essas coisas?", perguntou. "É capaz de controlá-las?" – Com isso, o orador chegou a sua arremetida final: "Se não é capaz de explicar as coisas do dia-a-dia na natureza, como poderá preparar um pleito para se defender diante de Deus?" Em seguida, advertiu Jó de que desafiar a Deus poderia levá-lo a ser destruído pelo julgamento divino (v. 20).

SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ

“Depois de meditar longamente sobre o propósito do sofrimento do justo, declara H. Dieterlen: ‘Tudo depende do modo por que se sofre. Mas Deus sempre tem um pensamento de amor nas tristezas que nos envia’. Afinal, como enfatiza o apóstolo, todas as coisas concorrem juntamente para o bem daqueles que, sinceramente, amam a Deus.

A pedagogia da prova. O Senhor conduzia a Jó através das mais difíceis e inimagináveis provas, a fim de que ele viesse a tornar-se um instrumento ainda mais valioso e útil para o seu Reino. Quão maravilhosa é a pedagogia do sofrimento! Se incrédulos, ensina-nos a crer. Se intempestivos, disciplina-nos em um amor paciente e temperante. Se indiferentes, leva-nos a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que se alegram. Sim, Deus educava a Jó por intermédio do sofrimento. E o mesmo está Ele fazendo com muitos neste instante. Por isto, não se desespere! Este é o modo pelo qual o Senhor educa seus filhos” (ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 168).

  CONCLUSÃO

Vimos nessa lição três aspectos da teologia de Eliú. Primeiramente, o jovem amigo defende o direito de Deus ficar em silêncio mesmo quando achamos que ele deve falar. Acredita que Jó não consegue escutar a Deus devido o seu orgulho. Entretanto, o equívoco de Eliú está no fato de associar o sofrimento de Jó ao pecado. Segundo, ele destaca que Deus tem todo o direito de ser soberano e como tal agir com justiça. Todavia, ele se equivoca em colocar essa soberania acima de seu amor, pois, primeiramente, Deus é amor. E, finalmente, Eliú vê no sofrimento um papel pedagógico. – As palavras finais de Eliú nos lembram de que, mesmo não sendo capazes de entender inteiramente a Deus, sabemos que ele é grande e justo e que não aflige os seres humanos sem ter algum propósito. Qual deve ser nossa resposta? Devemos temê-lo! Jó havia chegado a mesma conclusão depois de refletir sobre as obras de Deus no mundo (Jo 28:24-28). – É possível que, enquanto Eliú falava, uma tempestade ia se formando em algum lugar distante e, quando finalmente terminou seu discurso, essa tempestade chegou - e Deus estava dentro dela! – As súplicas de Jó seriam atendidas, e ele teria um encontro pessoal com Deus. Será que ele estava preparado? Será que nós estamos preparados?

REFERÊNCIAS

BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento - Jó. p. 750, São Paulo: Vida, 2009.

GONÇALVES, José. A fragilidade humana e a soberania divina: o sofrimento e a restauração de Jó. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.

HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 43.  Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

LIÇÕES BÍBLICAS. 4º Trimestre 2020 - Lição 11. Rio de Janeiro: CPAD, 06, dez. 2020.

WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. III, Poéticos, p. 72-76. Santo André: Geográfica, 2010.

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