COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Veremos a teologia
de Eliú exposta em quatro grandes discursos teológicos (Jó 32 – 37). Esses
discursos se contrapõem ao que Jó e seus amigos proferiram. Para Eliú, os
amigos de Jó falharam na exposição de suas ideias ao patriarca. Este, por outro
lado, se equivocar ao apresentar o seu conceito de Deus para fundamentar sua
defesa. Assim, mostraremos que Eliú revela um Deus soberano que age segundo o seu
conselho e não está obrigado a dar respostas ao homem, além de não haver
qualquer injustiça em suas ações, pois, segundo o jovem amigo de Jó, o
sofrimento é uma ação pedagógica de Deus para corrigir o homem. – Eliú aparece no livro de Jó como um jovem irado. Os seus
discursos teológicos, em um total de quatro, estendem-se do capítulo 32 ao 37.
Trata-se de um longo texto em que Eliú expõe meticulosamente toda a sua
argumentação. Ele gastou muita saliva para contra-argumentar o que Jó dissera. –
A convicção da maioria dos estudiosos é que os quatro
discursos de Eliú são um acréscimo posterior ao livro de Jó. Eliú não é mencionado
no prólogo. Embora se pudesse argumentar que isso não é nada extraordinário, visto
que foi uma grande vantagem dramática do autor ter um novo interlocutor aparecendo
no final dos ciclos de discursos, a ausência de Eliú do epílogo é
surpreendente. Os discursos de Eliú também retardam a resposta de Javé a Jó,
que poderia ser esperada logo após o cap. 31; quando de fato Javé responde a Jó
(caps. 38ss), ele fala com Jó como se nada tivesse interrompido o texto.
I. O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR
DEUS
1. Deus é soberano
(33.14,15). Nesse primeiro discurso, Eliú
destaca a queixa de Jó porque Deus não lhe respondera. Para o jovem amigo do
patriarca, este não leva em conta a majestade divina que distingue o Criador de
suas criaturas. Nesse sentido, Jó havia ignorado que Deus é infinitamente maior
do que o homem e não precisa explicá-lo acerca suas ações nem de seu silêncio.
2. O orgulho do homem priva-o de
ouvir Deus. Todavia, mesmo sendo um ser
transcendente, Deus não deixa de se revelar ao homem quando julga necessário.
Por isso, Eliú não aceita o argumento de Jó sobre o silêncio de Deus, pois Ele
fala ao homem de várias maneiras, incluindo sonhos e visões (Jó 33.14,15). De
acordo com Eliú, o problema não é o silêncio do Altíssimo, mas o orgulho humano
que não lhe permite escutá-lo. O jovem acredita que mesmo o patriarca
considerando-se moralmente puro, padece do pecado de orgulho (Jó 33.17). Na
visão de Eliú, a revelação de Deus tem o propósito de livrar o homem da soberba
que o conduziria à morte (Jó 33.17,18).
3. O mistério da redenção. Além de sonhos e visões, Eliú também destaca que Deus usa a enfermidade
como um dos canais de comunicação entre Deus e o homem (Jó 33.19-22). Por causa
dela, Ele pode enviar um anjo para anunciar a Jó o seu dever (Jó 33.23), dizer
o que ele deve fazer e, também, interceder em favor da saúde do patriarca.
Dessa forma, esse mensageiro anuncia o que é justo e bom a fim de recuperar o
estado de justiça que Jó desfrutava antes da enfermidade.
As funções que são atribuídas a
esse mensageiro-mediador fazem com que os intérpretes bíblicos vejam nesse ser
celeste uma referência ao anjo do Senhor, uma teofania do Senhor Jesus Cristo
(Gn 16.9; 22.11; Êx 3.2; Jz 6.11). Não há dúvidas de que esse mediador é a
mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16.19) e
o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19.25). Nesse sentido,
conforme podemos atestar no livro, o ministério desse mensageiro é um ato
decorrente inteiramente da graça de Deus em favor de Jó para mediar sua causa e
resgatá-lo (33.24).
Os amigos
de Jó haviam argumentado que seu sofrimento era prova de que Deus o estava
castigando por seus pecados, mas Eliú argumenta que, por vezes, Deus permite
que soframos a fim de evitar que pequemos. Em outras palavras, o sofrimento
pode ser preventivo e não punitivo (ver a experiencia de Paulo relatada em 2 Co
12:7-10). Deus faz todo o possível para nos guardar do pecado e da cova da
morte – o que comprova sua graça e bondade para conosco (Jo 33:24). – Eliú
vai ilustrar a sua interpretação do sofrimento usando o exemplo dos pesadelos.
Eles são uma forma de Deus falar com o homem, embora este nem sempre reconheça
isso (v. 14). Nos sonhos, ele às vezes aterroriza o homem com advertências para
afastá-lo de obras más e livrá-lo do orgulho (v. 17). Essa
forma de sofrimento é usada por Deus para evitar sofrimento maior – a possibilidade
de cair na cova, isto é, a morte (v. 18). – Eliú afirma que o propósito de Deus com a disciplina é salvar as
pessoas da morte (Tg 5:19, 20), quebrando seu orgulho e trazendo-as de volta a
uma posição de obediência (Jo 33:17, 18). Deus procura guardá-las da cova (v.
18), mas os pecadores rebeldes vão se aproximando da cova (v. 22) e, em
seguida, descem a cova (v. 24) e entram na cova (v. 28). Quando é quase tarde
demais, o Mediador as traz de volta da cova (v. 30) e as resgata. "Eis que
tudo isto é obra de Deus, duas e três vezes para com o homem, para reconduzir
da cova a sua alma e o alumiar com a luz dos viventes" (vv. 29, 30). Deus "não
[quer] que nenhum pereça" (2 Pe 3:9).
Nos
tempos bíblicos, por vezes, Deus falava com seu povo por meio de sonhos e visões,
enquanto hoje seu Espirito nos dirige principalmente por meio de sua Palavra
(Hb 1:1, 2). Se os pecadores têm visões ou sonhos assustadores, pode acontecer
de ficarem impressionados o suficiente para não cometerem os pecados que
planejavam. Os sonhos do próprio Jó eram aterrorizantes (Jo 7:13, 14), e Elifaz
teve uma visão noturna inesquecível (4:12-21). Deus envia sonhos e visões a fim
de "abrir os ouvidos" dos homens e levá-los a escutar a Palavra de
Deus e lhe obedecer. Caso não se humilhem, podem descer à cova da morte. – Nem
todos os sonhos possuem significados ocultos e nem todos eles são mensagens especiais
de Deus. Não são poucos os pesadelos causados por um jantar um tanto farto demais!
As pessoas que planejam a vida de acordo com o que descobrem em seus sonhos não
estão procurando orientação, mas sim confusão. Deus pode usar os sonhos para
abalar a segurança de um pecador orgulhoso, mas essa não é sua abordagem
habitual nos dias de hoje.
Tudo
indica que esse anjo intercessor pode ser o Anjo do Senhor, o Senhor Jesus Cristo,
o Mediador que entregou sua vida como resgate pelos pecadores (1 Tm 2:5; Mc
10:45). O Filho de Deus visitou a Terra como Anjo do Senhor em várias ocasiões no
Antigo Testamento a fim de transmitir mensagens especiais e de realizar tarefas
importantes (Gn 16:9; 22:11; Ex 3:2; Jz 6:11). Porém, Eliú não considerou esse
Anjo apenas um Mediador entre Deus e os homens, mas também o Provedor do
resgate para os pecadores. – Trata-se do "mediador" celestial que Jó havia
pedido ao longo de toda a discussão! Jó queria um "árbitro" que o
reunisse com Deus para um julgamento (Jó 9:33), uma "testemunha" celestial
que defendesse sua causa diante de Deus (16:19) e um "redentor" que o
justificasse mesmo depois de sua morte (19:25). O ministério desse anjo é um
ato decorrente inteiramente da graça de Deus (33:24). "Redime-o, para que não
desça a cova; achei resgate" (v. 24). Uma descrição que se parece muito
com nosso Senhor Jesus Cristo, que é tanto nosso Mediador quanto nosso Resgate
(1 Tm 2:5, 6).
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
Inicie a aula de hoje
fazendo uma reflexão sobre a soberania de Deus e o orgulho humano. Uma das
questões mais difíceis para o ser humano é aceitar algo que saia do seu
domínio. Muito sofrimento hoje tem como causa a não aceitação de determinada
realidade. Diante dela, o desespero passa a dominar, o medo passa a ser
constante, o grau de ansiedade e estresse aumenta. Entretanto, quando olhamos
para a Bíblia percebemos que homens e mulheres puderam reconhecer a voz de Deus
de dentro do sofrimento. É por isso que estamos estudando o Livro de Jó, pois
esse patriarca experimentou a Deus na “escola do sofrimento”. Deixe claro para
a classe que quando isso acontece, crescemos em maturidade e espiritualidade.
Portanto, estimule os alunos a perguntarem o que Deus quer falar conosco na
“escola do sofrimento”.
II. O SOFRIMENTO
COMO MEIO DE REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS
1. A justiça de Deus
demonstrada. Quando defende a justiça de
Deus, Eliú faz coro com seus amigos na acusação contra Jó. Em sua perspectiva,
os argumentos de Jó não passavam de insolência. Como pode o Todo-Poderoso agir
com injustiça conforme Jó deixou subtender? Deus jamais age injustamente, pois
isso contrariaria sua própria natureza (Jó 34.10,12).
2. O caráter justo de
Deus. Para não haver dúvida, Eliú passa a descrever o
caráter justo de Deus: (1) Ele age com justiça quando retribui ao
homem o que ele merece (Jó 34.11); (2) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que
não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó 34.13); (3) como o provedor da vida humana, Ele tem todo
o poder de manter ou não a humanidade (Jó 34.14,15); (4) o Todo-Poderoso não faz acepção
de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó 34.16-20); (5) Deus é onisciente e como tal
conhece os passos e as intenções de todos os homens sem precisar inquiri-los em
juízo (Jó 34.21-25); (6) Ele é justo para punir os maus (Jó 34.25-30).
3. A defesa da soberania de
Deus. Atente para a seguinte pergunta: “Será que Deus
deve recompensá-lo segundo o que você quer ou não quer?” (Jó 34.33 – NAA). Eliú
encerra o capítulo mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade,
não tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Sendo soberano, Ele não
está sujeito a qualquer julgamento humano. Por todo o livro de Jó o autor
destaca a soberania divina. Um exemplo disso está claro no uso da palavra
“Todo-poderoso” que ocorre 31 vezes. Para Eliú, portanto, por ser Soberano,
Deus jamais age com injustiça como Jó dera a entender.
Todavia, é preciso destacar duas
coisas sobre fala de Eliú. Primeiramente, ele, assim como seus amigos, erra por
partir do princípio de que Jó havia cometido pecado. Em segundo lugar, Eliú
exalta apenas a justiça de Deus e nada diz acerca de sua misericórdia. Para
ele, o Altíssimo havia posto sua justiça soberana acima do seu amor, o que é um
erro crasso. Deus, sem dúvida alguma, é justo; mas grandiosamente amoroso e
misericordioso.
Ao
lermos os discursos de Eliú, temos a impressão de que ele não estava crescendo,
mas sim se enchendo de soberba. Também nos parece que seus ouvintes divagavam, pois
ele os exortou a ouvir com atenção (Jó 33:1, 31, 33; 34:2, 10, 16). Nos últimos
dois terços de seu discurso, Eliú explicou e defendeu a justiça de Deus (Jó 34
- 35) e a grandeza de Deus (Jó 36 - 37). – Deus é Justo (Jó 34-35): Eliú
havia prometido não usar de lisonja (Jó 32:21), mas chegou perto de fazê-lo em Jó
34:2, quando se referiu a seus ouvintes como "sábios" e "instruídos".
Na verdade, estava lisonjeando a si mesmo, pois, se esses "sábios" e
"instruídos" estavam dispostos a ouvi-lo, deviam considerá-lo ainda
mais instruído e sábio do que eles! Eliú citou Jó (v. 3; 12:11) e instou seus
ouvintes a usarem de discernimento ao "provar" suas palavras, de modo
a conhecer "o que é bom" (34:4). Eliú comparou seu discurso com a degustação
de uma refeição saborosa e nutritiva. Falou de duas das queixas de Jó que
deveriam ser discutidas: "Deus é injusto" (vv. 5, 6) e "Não há
proveito algum em servir a Deus" (vv. 7-9). Respondeu a primeira queixa nos
versículos 10 a 37 e a segunda em Jó 35. "Deus é injusto" (34:5,
6, 10-37). A injustiça de Deus é um dos principais temas dos discursos de Jó.
A seu ver, estava sendo tratado como um pecador, e, no entanto, Deus não havia
"comparecido ao tribunal" e dito a Jó o que ele havia feito de errado
(ver 9:2, 17-20; 19:6, 7; 27:2). Eliú recordou que Jó havia se declarado
inocente, dizendo que lhe havia sido negada a justiça (34:5; 10:7; 6:29) e que
Deus estava lançando flechas contra ele (34:6; 6:4). – Eliú apresentou três
argumentos para provar que, em Deus, não há injustiça alguma. Em primeiro
lugar, se Deus é injusto, então não é Deus (34:10-15). "Longe de Deus o praticar
ele a perversidade, e do Todo-Poderoso o cometer injustiça" (v. 10).
"Na verdade, Deus não procede maliciosamente; nem o Todo-Poderoso perverte
o juízo" (v. 12). Abraão perguntou: "Não fará justiça o Juiz de toda
a terra?" (Gn 18:25), e a resposta óbvia é sim!
Eliú
enfatizou que Deus é soberano e, como tal, não pode ser acusado por lei
alguma nem julgado em qualquer tribunal que seja. É impossível o rei ser
injusto. Deus não foi nomeado para seu trono e, portanto, não pode ser deposto
dele (Jó 34:13). Afirmar que Deus é injusto é dizer que ele não é Deus e,
portanto, não tem direito de estar assentado em seu trono. Porém, Deus controla
até mesmo nossa respiração e pode nos tirar a vida num instante (vv. 14, 1 5;
At 1 7:25, 28). "As misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos,
porque as suas misericórdias não têm fim" (Lm 3:22). – O Livro de Jó
exalta a soberania de Deus. Desde o primeiro capítulo, fica evidente que Deus está
no controle, pois diz até mesmo a Satanás o que ele pode ou não fazer. Temos a impressão
de que, ao longo da discussão, Deus está ausente, mas, na verdade, sabe muito
bem como Jó está se sentido e o que Jó e seus amigos estão dizendo. Deus é chamado de "Todo-Poderoso" trinta e uma vezes no Livro de Jó. Eliú
estava absolutamente certo: Deus é soberano e não pode cometer injustiça alguma.
Eliú
cometeu o erro crasso de destacar e enfatizar apenas um atributo divino - a justiça
de Deus -, quando, na verdade, Deus também é amoroso e bondoso (Bildade
cometera o mesmo erro em seus discursos). Em sua sabedoria, Deus criou um plano
de redenção que satisfaz tanto sua justiça quanto seu amor (Rm 3:21-31). Por
causa da cruz, Deus pode redimir os pecadores e, ainda assim, exaltar a própria
retidão e guardar sua santa lei. – De acordo com o terceiro argumento de Eliú,
para ser injusto, Deus não poderia ver o que se passava no mundo (Jó 34:21-30).
Mas Deus é onisciente e vê todas as coisas! Um juiz humano, com suas limitações,
ouve uma causa e toma a melhor decisão possível e, por vezes, comete erros.
Deus, por sua vez, vê cada passo que damos, e não temos onde nos esconder dele
(SI 139:7-12). Jó queria que Deus se encontrasse com ele no tribunal a fim de
poder apresentar sua causa, mas o que Jó poderia dizer que Deus já não
soubesse? "Pois Deus não precisa observar por muito tempo o homem antes de
o fazer ir a juízo perante ele" (Jó 34:23). Ao contrário dos oficiais
humanos, Deus não tem obrigação de realizar uma investigação nem de juntar provas.
Ele conhece todas as coisas e pode julgar com sabedoria perfeita.
SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO
“A teologia da prova.
Adiantando-se em seu discurso, exclama Eliú: ‘Pai meu! Provado seja Jó até ao
fim’ (Jó 34.36a). Recorramos ao hebraico: Avi ybahen Yôb ad-netsah. O vocábulo
ybahen comporta os seguintes sinônimos: provar, refinar como ouro, fundir como
metal. Por conseguinte, deveria Jó, como o mais precioso dos metais, ser
intensamente provado até que todas as impurezas e imperfeições lhe fossem
tiradas. Observe que Eliú roga a Deus seja o patriarca provado até o fim. Se Jó
tem de ser acrisolado, que lhe seja completo o crisol; até ao fim: ad-netsah. A
provação haveria de perdurar enquanto fosse necessária. Não fora Jó
suficientemente provado? Entretanto, teria ele de suportar toda a ardência
daquele cadinho até que viesse a entender a soberania de Deus. Doutra forma,
jamais chegaria à estatura de perfeito varão (Jó 34.36b)” (ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento
do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p.168).
III. O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO
PEDAGÓGICO DE DEUS
1. O caráter pedagógico do
sofrimento (36.7-15). Há uma diferença entre o
pensamento teológico de Eliú e o de seus amigos. Elifaz, Bildade e Zofar
acreditavam que o sofrimento de Jó era por causa de um pecado cometido por ele
e sua recusa em reconhecê-lo. Eliú também crê dessa forma, mas vai além. Embora
compreenda que, durante sua provação, Jó se comportou de forma pecaminosa, Eliú
introduz a ideia de que o sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó 36.15). O
caráter pedagógico do sofrimento está na capacidade de nos fazer refletir e
voltar para Deus. Dessa forma, os justos aprendem com o sofrimento.
2. Adorando a Deus na tormenta. No capítulo 36 e versículo 26, Eliú afirma que “Deus é grande, e nós o
não compreendemos”. Para ilustrar o argumento da grandeza de Deus, ele faz uma
explanação sobre a ação de Deus nas estações do ano: Outono, Inverno, Primavera
e Verão. O argumento de Eliú tem por objetivo demonstrar a grandeza de Deus
sobre a criação e como esse fato deve fazer com que Jó o reconheça como grande
e o louve como tal (Jó 36.24-25). A fala de Eliú põe em destaque o argumento
contraditório de Jó, que por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por
outro murmurava contra Ele. Nesse aspecto, Eliú acerta em mostrar que a
adoração e a murmuração não podem coexistir, são atitudes excludentes.
Jó 37.6-13 ilustra de forma
poética o pensamento do orador. É uma metáfora da situação do patriarca, que no
meio da tormenta, em todo o seu impacto e estrondo, pode contemplar o caráter
pedagógico do amor de Deus.
Eliú
instou Jó a ter uma nova visão da grandeza de Deus e a começar a louvá-lo (vv.
22-25). Deus quer nos ensinar por meio de nosso sofrimento (v. 22), e uma evidência
de que estamos aprendendo nossas lições é adorar e agradecer a Deus até pelas provações.
"Lembra-te de lhe magnificares as obras [de Deus] que os homens celebram"
(v. 24). Assim como a oração, o louvor possui poder transformador.
O imenso poder de Deus na natureza (36:26 - 37:24). "Eis que Deus é grande, e não o podemos compreender" (36:26). Esse é o tema da última parte do discurso de Eliú, e ele a ilustra com obras de Deus na natureza - mais especificamente, com o controle de Deus sobre seu mundo durante as estações do ano. (1) Outono (36:27 - 37:5). No Oriente, depois do calor da seca e do verão, tanto a terra quanto as pessoas recebem com alegria as chuvas de outono. É interessante observar a percepção de Eliú com relação ao "ciclo da água" na natureza (evaporação, condensação, precipitação) e a necessidade de se ter eletricidade (relâmpagos) para manter o "sistema" funcionando. – Eliú descreve a tempestade com a mente de um cientista, mas com o coração de um poeta. Começa com a formação das nuvens (36:26-29), passando a liberação de energia pelos relâmpagos (vv. 30-32) e, em seguida, ao som do trovão (36:33 - 37:5). Para Eliú, o relâmpago é a arma de Deus (36:32), e o trovão e sua voz (37:2, 4, 5). No Oriente, pode-se ver uma tempestade se formando a vários quilômetros de distância e assistir maravilhado a sua chegada. Qual foi a reação de Eliú a essa demonstração dramática da tempestade? Em primeiro lugar, a tempestade o fez lembrar da soberania e bondade de Deus. "Pois por estas coisas julga os povos e lhes dá mantimento em abundância" (36:31). Além disso, despertou nele grande admiração pelo imenso poder de Deus (37:1). Davi relatou uma experiência semelhante no Salmo 29. (2) Inverno (vv. 6-10). A certa altura, as chuvas de outono se transformam no gelo e na neve do inverno. Os trabalhadores devem parar com seu serviço, e os animais selvagens devem buscar o abrigo de suas tocas. Deus sopra sobre as águas, e elas se congelam. O que o homem do tempo chama de "fenômeno meteorológico", Eliú chama de obra miraculosa do Deus Todo-Poderoso (3) Primavera (w. 11-13). A seu tempo, os ventos mais quentes começam a soprar, a neve e o gelo derretem e as nuvens de chuva voltam a aparecer. Eliú sabia que o vento exerce um papel importante nas condições meteorológicas do mundo. Ninguém consegue prever com precisão o que o vento fará (Jó 3:8), mas Deus está inteiramente no controle (Sl 148:8). O "ciclo da água" funciona de modo perfeito: as nuvens estão cheias de água, os relâmpagos lampejam e as chuvas caem. Em certas ocasiões, Deus envia tempestades para disciplinar (Jo 37:13; Gn 6 - 8; Ex 9:13-26; 1 Sm 12:1 6-19); mas, na maioria das vezes, a chuva é uma dádiva de seu amor e misericórdia (Jo 37:13). (4) Verão (vv. 14-18). Agora se vê o "equilíbrio das nuvens" (v. 1 6), e tudo está quieto. O sol de verão aquece o ar, o vento sul ("siroco") sopra do deserto e "[aquece] as vestes" das pessoas (v. 1 7). O céu é como um espelho de metal polido, e ninguém tem vontade de fazer outra coisa senão descansar. No entanto, Eliú estava fazendo muito mais do que dar uma palestra científica sobre as quatro estações. Seu desejo era que Jó refletisse sobre a grandeza de Deus e as maravilhas da natureza e percebesse quão pouco sabia, de fato, sobre Deus e sua operação neste mundo. Eliú fez a Jó quatro perguntas retóricas - sobre as nuvens, o relâmpago, o vento e os céus sem chuva. "Você pode explicar essas coisas?", perguntou. "É capaz de controlá-las?" – Com isso, o orador chegou a sua arremetida final: "Se não é capaz de explicar as coisas do dia-a-dia na natureza, como poderá preparar um pleito para se defender diante de Deus?" Em seguida, advertiu Jó de que desafiar a Deus poderia levá-lo a ser destruído pelo julgamento divino (v. 20).
SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ
“Depois de meditar longamente sobre o propósito do
sofrimento do justo, declara H. Dieterlen: ‘Tudo depende do modo por que se
sofre. Mas Deus sempre tem um pensamento de amor nas tristezas que nos envia’.
Afinal, como enfatiza o apóstolo, todas as coisas concorrem juntamente para o
bem daqueles que, sinceramente, amam a Deus.
A pedagogia da prova. O Senhor conduzia a Jó através das mais difíceis e inimagináveis provas,
a fim de que ele viesse a tornar-se um instrumento ainda mais valioso e útil
para o seu Reino. Quão maravilhosa é a pedagogia do sofrimento! Se incrédulos,
ensina-nos a crer. Se intempestivos, disciplina-nos em um amor paciente e
temperante. Se indiferentes, leva-nos a chorar com os que choram e a alegrar-se
com os que se alegram. Sim, Deus educava a Jó por intermédio do sofrimento. E o
mesmo está Ele fazendo com muitos neste instante. Por isto, não se desespere! Este é o
modo pelo qual o Senhor educa seus filhos” (ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o
seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 168).
CONCLUSÃO
Vimos nessa lição
três aspectos da teologia de Eliú. Primeiramente, o jovem amigo defende o
direito de Deus ficar em silêncio mesmo quando achamos que ele deve falar.
Acredita que Jó não consegue escutar a Deus devido o seu orgulho. Entretanto, o
equívoco de Eliú está no fato de associar o sofrimento de Jó ao pecado.
Segundo, ele destaca que Deus tem todo o direito de ser soberano e como tal
agir com justiça. Todavia, ele se equivoca em colocar essa soberania acima de
seu amor, pois, primeiramente, Deus é amor. E, finalmente, Eliú vê no
sofrimento um papel pedagógico. – As
palavras finais de Eliú nos lembram de que, mesmo não sendo capazes de entender
inteiramente a Deus, sabemos que ele é grande e justo e que não aflige os seres
humanos sem ter algum propósito. Qual deve ser nossa resposta? Devemos temê-lo!
Jó havia chegado a mesma conclusão depois de refletir sobre as obras de Deus no
mundo (Jo 28:24-28). – É possível que, enquanto Eliú falava, uma tempestade ia
se formando em algum lugar distante e, quando finalmente terminou seu discurso,
essa tempestade chegou - e Deus estava dentro dela! – As súplicas de Jó seriam
atendidas, e ele teria um encontro pessoal com Deus. Será que ele estava
preparado? Será que nós estamos preparados?
REFERÊNCIAS
BRUCE, F. F. Comentário
Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento - Jó. p. 750, São Paulo: Vida, 2009.
GONÇALVES, José. A
fragilidade humana e a soberania divina: o sofrimento e a restauração de
Jó. Rio de Janeiro: CPAD, 2020.
HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Antigo Testamento: Jó p. 43.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010.
LIÇÕES BÍBLICAS.
4º Trimestre 2020 - Lição 11. Rio de Janeiro: CPAD, 06, dez. 2020.
WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, v. III, Poéticos, p. 72-76. Santo André: Geográfica, 2010.
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