sexta-feira, 19 de julho de 2019

LIÇÃO 3: A MORDOMIA DA ALMA E DO ESPÍRITO



SUBSÍDIO I

A MORDOMIA DA ALMA E DO ESPÍRITO

O materialista, enganado pela falsa “Teoria da Evolução”, acredita que o homem surgiu “por acaso” e “evoluiu por acaso” e admite que o ser humano apenas tem um corpo com uma mente inteligente, mas não tem alma nem espírito. Para o materialista, a única coisa que se pode provar existente é a matéria, energias físicas e processos físicos. Os materialistas veem a Bíblia como um livro cheio de mitos, estórias e invencionices religiosas. Não acreditam em nada de ordem espiritual. Enquadram-se na categoria de “ímpios” a que se referiu o salmista em sua soberba perante o transcendente. “Por causa do seu orgulho, o ímpio não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus” (Sl 10.4; 53.1).
Ao negar a existência de Deus, o Criador, o materialista nega a existência da alma e do espírito humano. Como só acredita na existência da matéria, para ele o corpo é matéria, o único elemento da constituição do homem. Certamente, quando estiverem diante de Deus no Juízo Final, todos terão a mais terrível decepção e o mais cruel dos arrependimentos, pois não terão mais oportunidade de reconhecer sua soberba. Imaginemos os médicos, os biólogos, os químicos, que estudam a vida e os seres vivos e admitem que o corpo, com sua organização e complexidade, pode ser resultado de um processo aleatório. Preferem ignorar que o acaso nunca produziu nem produz nada que seja organizado e complexo. 
No entanto, para nós, os crentes em Deus, sua Palavra revela-nos a origem de todas as coisas, do Universo, dos seres vivos, da vida e do homem. De acordo com a Palavra de Deus, o ser humano é formado de três partes: “espírito, e alma, e corpo” (1 Ts 5.23). Nessa tricotomia, a parte material, tangível, é o corpo, com sua estrutura extraordinária e complexa chamado de “homem exterior” (ver 2 Co 4.16). A parte interior, intangível, é formada do espírito e da alma, que integram o homem juntamente com o corpo (1 Ts 5.23). 
Assim como vimos no capítulo anterior, no qual falamos sobre a mordomia do corpo, estudaremos a mordomia da alma e do espírito humano neste capítulo, buscando entender o que nos ensina e exorta a Palavra de Deus sobre como tratar do “homem interior” (Rm 7.22; Ef 3.16). Veremos que, se cuidar da mordomia do corpo é difícil em termos espirituais, desenvolver a mordomia da alma e do espírito humano é algo muito mais complexo, pois envolve a fonte dos pensamentos e ideias humanas, que influem e têm reflexos diretos na vida espiritual. Um problema no corpo, de ordem natural ou orgânica, pode ser resolvido com terapias humanas, mas os problemas da alma e do espírito humano exigem soluções de ordem espiritual, que transcendem à visão natural do homem. 
A formação da parte interior do ser, da alma e do espírito foi feita por Deus. Diz a Bíblia: “[...] e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”. Como foi esse processo? Que fôlego foi esse? De que se constituiu em sua plenitude? Dali surgiu a alma somente ou a alma e o espírito? São a mesma coisa ou são entes distintos? E mais que isso: como se propaga a alma? Não é difícil entender como o corpo humano é gerado no ventre da mãe, sobretudo hoje com os recursos da ultrassonografia moderna. Mas como a alma é “gerada”? Como se multiplica? E o espírito? Ele difere da alma ou é sinônimo dela? Como a alma “entra” no embrião? 
O cristão não é obrigado a conhecer todos os detalhes acerca da alma, sua origem, formação e natureza, mas a mordomia da alma e do espírito do homem necessita, antes de tudo, da fé em Deus e da presença dEle em sua vida, de sua entrega incondicional a Cristo Jesus como seu Salvador, bem como a ação poderosa do Espírito Santo agindo na sua mente e pensamentos. São soluções sobrenaturais, que dependem da fé em Deus e em sua Palavra. Meditaremos, assim, nesse importante tema de natureza bíblica e espiritual. 

Texto extraído da obra “Tempos, bens e talentos”, editada pela CPAD 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

QUE É O HOMEM?

O homem tem sido a principal causa da indagação dos patriarcas, filósofos e pensadores em todos os lugares e em todos os tempos. Para encontrar a resposta a este mistério, que é o homem, precisamos ir da filosofia para a Bíblia Sagrada.
O patriarca Jó parece ter sido o primeiro dos homens mencionados na Bíblia a interrogar acerca do homem. Foi ele quem perguntou a Deus: “Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado, e cada manhã o visites, e cada momento o ponhas a prova?”. Depois foi a vez de o salmista indagar: “Que é o homem, que dele te lembres?” e “Senhor, que é o homem para que dele tomes conhecimento? E o filho do homem para que o estimes?
Conta-se que Scheleiermacher, filósofo e teólogo alemão, estava, tarde da noite, sentado num jardim quando um guarda noturno o abordou perguntando: “Quem é o senhor?” “Ótima pergunta. Eu gostaria de saber”, respondeu o filósofo. “O Pensador”, obra escultural do artista francês Augusto Rhodin, configura o homem em pertinaz busca da resposta às perguntas: “Quem sou eu?” “De onde vim?” “Por que estou aqui?” “Para onde vou?”.

O Que Diz a Filosofia. O que alguns filósofos ensinam sobre o homem, nem sempre se harmoniza com a Bíblia. Por exemplo:
- Platão disse que o homem é um bípede sem penas.
- Nietzsche disse que o homem é mais macaco do que qualquer macaco.
- Aristóteles disse que o homem é um animal sociável.
- Molièere ensinou que o homem é um animal vicioso.
- William Hazlitt disse que o homem é o único animal que ri e chora.

O homem como um ser transitório. Alguém definiu a transitoriedade da vida humana nas seguintes palavras: “O homem é um embrulho postal que a parteira despachou ao coveiro”. A Bíblia também fala do homem físico natural como um ser cuja existência física está limitada aos poucos anos que Deus lhe deu aqui na terra.
As Escrituras apresentam a vida terrena do homem como: uma sombra, os dias de um jornaleiro, uma lançadeira, um mensageiro rápido, a extensão de apenas um palmo, a urdidura de um tecelão, um vapor passageiro.

O homem como ser físico. O físico é o aspecto pelo qual o homem é melhor conhecido. Por ele o branco se distingue do negro, o grande do pequeno, o obeso do magro e o belo do feio. Mas o homem é muito mais que um amontoado de agentes químicos. Ele é muito mais que carne e osso.
O homem é um ser espiritual, pois Deus o fez alma vivente. Ele é não só um ser transitório, isto é, de existência física limitada. O homem é um ser que Deus ao criá-lo, destinou-o à eternidade.

O ESPÍRITO DO HOMEM

Em geral os escritores bíblicos, especialmente os do Antigo Testamento, não se preocuparam em distinguir o espírito da alma ou vice-versa. A distinção entre espírito e alma, hoje conhecida, é decorrente da revelação progressiva de Deus no Novo Testamento.

O espírito humano é obra do Criador. Números 15.22 e 27.16 dizem que Deus é o Criador do espírito humano, e que Deus o fez de forma individual. Ele está na parte interior da natureza do homem, e é capaz de renovação e de desenvolvimento.
O espírito é a sede da imagem de Deus no homem, imagem perdida com a queda, mas que pode ser reestabelecida por Jesus Cristo. O espírito é âmago e a fonte da vida humana, enquanto que a alma possui essa vida e lhe dá expressão por meio do corpo.
Assim o espírito é a alma encarnada, ou um espírito humano que recebe expressão mediante o corpo. A alma sobrevive à morte porque o espírito a dota de capacidade; por isso a alma e o espírito são inseparáveis.

O espírito distingue o homem. O espírito humano distingue o homem das demais coisas criadas. Por exemplo, os irracionais possuem vida comum, mas não possuem espírito como o homem tem.
O espírito é canal através do qual o homem pode conhecer a Deus e as coisas inerentes ao seu domínio. O espírito do homem quando se torna morada do Espírito Santo, torna-se centro de adoração, de oração, cântico, benção e de serviço.

O espírito identifica a natureza do homem. O espírito humano, representando a natureza suprema do homem, rege a qualidade de seu caráter. Por exemplo, se o homem permitir que seu orgulho o domine, ele tem um “espírito altivo”.
Conforme as influências respectivas que o dominem, o homem pode ter um espírito perverso, rebelde, impaciente, perturbado, contrito e humilde, de escravidão, de inveja. Assim é que o homem deve guardar o seu espírito, dominar o seu espírito, e confiar em Deus para transformar o seu espírito.
Quando as paixões más dominam a alma da pessoa, o espírito é destronado. Isto é, o homem torna-se vítima dos seus maus sentimentos e apetites naturais. A este homem a Bíblia chama de “carnal”.
O espírito já não domina mais, e essa condição é descrita na Bíblia como um estado de morte. Desse jeito há necessidade de um espírito novo. Somente Deus, que originalmente deu vida ao homem, poderá soprar novamente na alma do homem, influindo nova vida espiritual nela.
A este ato a Bíblia chama “regeneração”. Quando assim acontece, o espírito do homem novamente ocupa lugar de destaque em busca da perfeição estabelecida por Deus, e o homem chega a ser “espiritual”.

A ALMA DO HOMEM

A filosofia grega dedicou muita atenção ao problema da alma, conseguindo com isso exercer grande influência na teologia e no pensamento cristão.
A Natureza, a origem e a continuada existência da alma fizeram-se tema de discussão em todos os círculos filosóficos de então. Platão, por exemplo, cria na preexistência e transmigração da alma.

O que é a alma? A alma é uma entidade espiritual, incorpórea, que pode existir dentro do corpo e fora dele. A alma é um espírito que habita um corpo, ou nele tem estado, como as almas dos que tinham sido mortos por causa da Palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo.
Os teólogos apresentam duas ideias acerca da alma, e consequentemente a respeito da natureza do homem e dos animais. São elas a interpretação tricotomista e a interpretação dicotomista.

A interpretação tricotomista. Segundo a interpretação tricotomista o homem compõe-se de três partes, ou elementos essenciais, que vêm a ser o espírito, a alma e o corpo. O corpo é a matéria da sua constituição; a alma, em hebraico nephesh e em grego psyche, é o princípio da vida animal que o homem possui em comum com os irracionais.
A ela pertencem o entendimento, a emoção e a sensibilidade, que terminam com a morte. O espírito, em hebraico ruah e em grego pneuma, é o princípio do homem racional e da vida imortal. Possui razão, vontade e consciência, e se estende à eternidade após a morte do corpo.

A interpretação Dicotomista. De acordo com a interpretação dicotomista, existem apenas dois elementos essenciais na constituição do homem: o corpo, formado do pó, e a alma, que é o princípio da vida tanto humana como animal. Contêm duas substâncias: uma é a alma que sente e recorda, e a outra é o espírito que tem consciência e possui o conhecimento de Deus.
Os dicotomistas assemelham a vida do homem à do bruto, diferindo a do homem apenas por ser de ordem superior. Assim sendo, o espírito não é uma entidade distinta da alma, mas um aspecto ou desdobramento desta.
O que a Bíblia ensina sobre o assunto. Em geral os escritores bíblicos, de uma forma especial os do Antigo Testamento, não fazem distinção precisa entre psyche, alma animal, que é a parte inferior do ser humano, e pneuma, espírito ou alma racional, parte superior do homem.  Por isso é comum o uso de ambos os vocábulos como designando uma mesma coisa. Ordinariamente, os escritores sagrados referem-se ao homem como sendo um composto de corpo e alma, ou corpo e espírito, e não de corpo, alma e espírito, a não ser no Novo Testamento.
Escreve Scofield: Sendo o homem ‘espírito’, é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele; sendo ‘alma’, ele tem conhecimento de si próprio; sendo ‘corpo’, tem através dos sentidos, conhecimento do mundo”. O corpo é tabernáculo da alma, a alma a sede da personalidade, e o espírito o canal de comunhão com Deus.

Extraído da Obra: Encontro Didático Para Professores da EBD da IEADTC

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Para ser mordomo da alma e do espírito, o homem necessita, antes de tudo, da fé em Deus, da entrega incondicional a Cristo Jesus e da ação poderosa do Espírito Santo na sua mente, pensamento e maneira de viver diante do Criador. Para isso é preciso ser "nova criatura" (1 Co 5.17)! Assim, além de conservar o corpo, precisamos conservar a alma e o espírito. É o que veremos nesta lição.
Embasado em textos como 1Ts 5.23 e Hb 4.12, entendemos que o homem é um ser  tri-partido. O termo tricotomia significa “aquilo que é dividido em três” ou “que se divide em três tomos”. Assim, em relação ao homem, refere-se às três partes do seu ser: corpo, alma e espírito. Há divergência neste ponto entre alguns teólogos. Há aqueles que entendem o homem como apenas um ser dicótomo, ou seja, que se divide em duas partes: corpo e alma/espírito. Os defensores da dicotomia do homem unem alma e espírito como sendo uma e a mesma coisa. Entretanto, parece-nos mais aceitável o ponto de vista da tricotomia. Esse conceito da tricotomia crê que o homem é uma triunidade composta e inseparável. Só a morte física é capaz de separar as partes: o corpo de sua parte imaterial. A alma se expressa por meio do corpo e abriga três faculdades principais: o intelecto, a vontade e o sentimento. Nos salmos de Davi, observamos o quanto somos inconstantes. Alguns dias anelamos imensamente pela presença de Deus; outros, sequer reservamos um instante a sós com Ele. Alegrias e tristezas, abatimento e vigor, dúvidas e certezas, se intercalam frequentemente. Como Pedro, num momento caminhamos sobre o mar, em outro quase nos afogamos. Às vezes, no mesmo dia, alternamos pelo menos três vezes nossos desejos. É impressionante como nossas prioridades são invertidas em tão curto espaço de tempo, o que era imprescindível torna-se dispensável. Este elemento tão instável necessita de que suas faculdades estejam submetidas a Deus, para que nada, nem ninguém nos possa separar do amor de Deus e permitir que percamos a vida eterna. O espírito é a parte mais profunda e íntima do ser humano. Scofield comentou nas notas de sua Bíblia que “sendo o homem espírito é capaz de ter conhecimento de Deus e comunhão com ele. Sendo alma, tem conhecimento de si próprio. Sendo corpo, tem, através dos sentidos, conhecimento do mundo”. Nesta lição, estudaremos as relações do espírito, as suas faculdades e como administrar o próprio espírito para o cumprimento de suas funções naturais, conforme Deus estabeleceu. – Dito isto, convido-o a pensar maduramente a fé cristã!

I. CONCEITOS ALMA E ESPÍRITO

1.O significado de alma. No Antigo Testamento, a palavra "alma" é nephesh. No Novo, o termo usado é psiquê, que tem o sentido de "alma" e de "vida", e encontra-se ligado à palavra psíquicos, que significa "pertencente a esta vida". Ela é "a base das experiências conscientes", equivalendo, portanto, à própria vida, à personalidade ou à pessoa mesmo (cf. 2 Co 1.23). Assim, o texto bíblico de Levítico 17.10-15 revela uma diversidade de sentidos para a palavra "alma": A pessoa física (v.10), a vida de um animal (v.11), a vida de uma pessoa (v.11). Do ponto de vista teológico, a alma é a sede das emoções e dos sentimentos, conforme Jesus expressou num contexto de angústia: "A minha alma está profundamente triste até a morte" (Mc 14.34).
A alma é a identidade individual de uma pessoa. A alma é também a vida da pessoa. Cada pessoa é uma alma, com uma personalidade única. Quando Deus deu vida ao homem, ele se tornou um ser vivente (Gn 2.7). Em hebraico “ser vivente” é “alma vivente”. A alma é a vida individual de cada pessoa, sua experiência pessoal da vida. A alma define quem a pessoa é (Sl 103.1). A alma é a parte que sente emoções, raciocina e tem vontade, interpretando a experiência física do corpo. A alma é a parte não mecânica da pessoa. A criatividade, a inteligência, as emoções, as decisões – tudo que torna a vida mais que um conjunto de processos automáticos é função da alma. A alma é o elo entre o corpo e o espírito. Está ligada à parte física da vida e à parte que não é física. O espírito é a parte que tem comunhão com Deus e a alma é a parte que torna essa experiência pessoal, individual. A alma interpreta e aplica a comunhão com Deus na vida física diária. Da mesma forma, a interpretação da alma da experiência física pode afetar a comunhão com Deus”. (RESPOSTAS)
2. A origem da alma. A alma está unida ao espírito, e, por isso, é humanamente impossível separá-los. Só a Palavra de Deus pode fazê-lo (Hb 4.12). Assim, tanto a alma quanto o espírito constituem a parte imaterial do ser humano. Em relação à origem da alma, há pelo menos três teorias que tentam explicá-la: a teoria da preexistência, do criacionismo e da participação.
2.1. Teoria da preexistência. Segundo essa teoria, as almas existem nas diversas esferas do mundo espiritual e entram no corpo gerado, num processo denominado "reencarnação". O objetivo desse processo é levar a pessoa a sofrer pelos "pecados cometidos em pretensas existências anteriores". Esse é um dos pontos fundamentais do Espiritismo. Entretanto, não há fundamento bíblico para essa teoria. A Bíblia revela que o "pecado original" passou a todos os homens (Rm 5.12) e que vigora até os dias atuais, pois “não há homem que não peque" (Ec 7.20). Porém, o sangue de Cristo purifica o pecador (1 3o 1.7), quando este se arrepende, confessa o seu pecado e o deixa (Pv 28.13).
2.2. Criacionismo. Segundo esta teoria, baseada no pensamento filosófico grego, Deus dedica-se à criação de almas diariamente, para que habitem nos corpos que forem sendo concebidos. É um ponto de vista que carece de fundamentos bíblicos.
2.5. Teoria participativa. A teoria expressa que Deus dá a vida a toda pessoa gerada de acordo com as leis da reprodução biológica geradas por Ele. Assim, homem e mulher geram um novo ser com a cooperação divina (At 17.28; Hb 1.3). É uma visão que tem base na Bíblia e que está harmonizada com a Palavra a Deus: "Fala o SENHOR, o que estende o céu, e que funda a terra, e que forma o espírito do homem dentro dele" (Zc 12.1b). Todavia, como Deus age na criação de cada alma e espírito dentro do ser humano é um dos muitos mistérios da fé pela qual devemos curvar-nos humildemente diante de sua magnitude. 
 Três teorias disputaram a opinião da igreja desde os primeiros séculos do cristianismo, com respeito à origem da alma:
1)  PRE-EXISTENCIALISMO: Orígenes (séc. III) foi seu principal expoente. Esta teoria ensina que as almas dos homens tiveram uma existência anterior à criação dos próprios homens. Alguns acontecimentos nesse período pré-temporal determinaram a condição em que atualmente se encontram essas almas. Houve uma espécie de queda pré-temporal. Orígenes considerou que a existência material presente no homem, com todas as suas desigualdades e irregularidades físicas e morais, é um castigo pelos pecados cometidos em uma existência anterior. O pecado, portanto, teve entrada no mundo dos homens num estado pré-temporal, e isso fez com que o homem já entrasse no mundo numa condição de pecado.
Objeções:
a) É uma teoria sem base escriturística. Algumas de suas formas refletem uma base filosófica pagã que aceita um dualismo, matéria-espírito, tornando um castigo para a alma o fato dela ser unida ao corpo.
b) Faz com que o corpo seja meramente acidental. A princípio, a alma existia sem o corpo. O homem estava completo sem o corpo. Isto apaga a distinção entre o homem e os anjos.
c) Destrói a unidade da raça humana, porque aceita que as almas individuais existiram muito tempo antes de entrarem na vida presente. Não constituem uma raça.
d) Não tem apoio na consciência humana. O homem não tem uma consciência de uma existência prévia, ou que o corpo seja uma espécie de prisão para a alma.
2) TRADUCIANISMO (ou PROPAGAÇÃO)
Segundo o traducianismo, as almas dos homens se propagam juntamente com os corpos, mediante uma geração ordinária, transmitida dos pais aos filhos. Entre os Reformados, há alguns que defendem a ideia traducianista. W.G.T. Shedd é o principal expoente dessa corrente.
a) Argumentos a favor do Traducianismo
Os traducianistas apresentam vários argumentos em favor de sua teoria:
A Escritura parece favorecer a apresentação do traducianismo
A Bíblia ensina que o homem é uma espécie, e a ideia de espécie implica numa propagação da totalidade do indivíduo, e não de uma parte apenas, ou seja, o corpo, como ensina o criacionismo.
Gn 1.26, 27; 5.2 ensinam que o homem e mulher são denominados homem. A palavra Adão não denota simplesmente o nome de um homem, mas da espécie. Quando Deus criou Adão, ele não criou o indivíduo, mas a espécie.
A criação da alma de Eva esteve incluída na de Adão, pois dele ela foi formada (2 Co 11.8; Gn 2.21-23). A mulher num todo, e não somente o seu corpo, foi derivada de Adão. Alma e corpo são propagados. Deus criou a natureza humana em Adão, e depois essa natureza humana foi transformada em milhões de indivíduos por propagação sexual. A criação do Adão (natureza humana) foi terminada e completada no sexto dia. Após isso, há somente a propagação da raça.
Gn 2.2 diz que Deus cessou o trabalho da criação depois de haver feito o homem. Deus soprou somente uma vez nas narinas do homem, e depois o tornou fecundo para a propagação da espécie (Gn 1.28; 2.7). Observe o uso da palavra carne quando denota natureza humana (corpo e alma), e não apenas corpo (Jo 3.6; 1.14; Rm 1.3).
Estes textos parecem favorecer a posição traducianista, isto é, eles ensinam que o indivíduo é propagado como um todo (consistindo de corpo e alma), e não somente em parte como ensina o criacionismo.
Pelas leis naturais da vida vegetal e animal
O crescimento nesses remos não é por um crescente de criação imediata, mas por meio de derivação natural de novos indivíduos procedentes de um tronco paterno (observe-se o Sl 104.30).
As leis genéticas favorecem o Traducianismo
A herança das peculiaridades mentais e tendências familiares são notáveis, traços físicos e mentais que não são explicáveis nem pela educação, nem pelo exemplo.
O Traducianismo oferece mais base para explicar a depravação moral e espiritual porque este assunto é mais um assunto da alma do que do corpo.
Para justificar seus argumentos, os traducianistas se juntam ao realismo para explicar o pecado original.
b) Objeções ao Traducianismo
Contra o traducianismo há varias objeções:
Ele é contrario à doutrina filosófica da simplicidade da alma.
A alma é uma substancia espiritual pura que não admite divisão. A propagação da alma implicaria na divisão da alma, já que a criança recebe a sua alma dos pais. O problema maior é: de quem procede a alma da criança? da mãe ou do pai? Ou ela vem de ambos? Se é assim, não seria uma alma composta?
A fim de evitar essa dificuldade supramencionada, os traducianistas têm que recorrer a uma dessas três teorias a serem mencionadas: Primeiro, que a alma da criança tem uma existência prévia, uma espécie de pré-existencialismo. Segundo, que a alma está potencialmente presente no sêmen do homem ou da mulher, ou em ambos, e isso é materialismo. Terceiro, que a alma é produzida, isto é, ela é criada de algum modo, pelos pais, e isto os torna, de algum modo, criadores.
Os traducianistas dizem que, após a criação original, Deus somente obra mediatamente.
Após os seis dias da criação, Sua obra criadora cessou, por isso Deus não pode mais criar almas. Mas a pergunta a ser levantada é esta: Onde fica, então, a regeneração, que não é efetuada através de causas secundarias? Ela é uma nova criação!
Geralmente o traducianismo se une ao realismo para explicar o pecado da raça, isto é, a culpa do homem.
Fazendo isso, o traducianismo afirma a unidade numérica da substância de todas as almas humanas, o que é uma posição insustentável. Além disso, o traducianismo falha em explicar a culpa individual de cada homem nos outros pecados de Adão, e nos pecados dos outros antepassados.
O traducianismo tem dificuldades insuperáveis na Cristologia.
Se em Adão a natureza pecou como um todo, e que o pecado foi de cada parte da natureza, então, a conclusão é que a natureza humana de Cristo foi também pecaminosa e culpada, pois ela fazia parte da raça criada numericamente uma e a mesma em Adão.
3) CRIACIONISMO
Esta teoria considera que cada alma é uma criação imediata de Deus, possuindo sua origem num ato criativo direto de Deus, no qual o tempo não pode ser precisamente determinado.
Supostamente, a alma é criada pura, pois Deus não poderia tê-la criado impura, e ela é unida a um corpo depravado. Não deve ser crido que a alma é criada separadamente do corpo e que ela se torna poluída em contato com o corpo, o que tornaria o pecado algo simplesmente físico. Deve ser crido que a alma é criada pura, mas que Deus imputa a culpa de Adão a ela e, então, se torna corrupta também. A alma, que é produto de um ato criador direto de Deus, já está pré-formada na vida psíquica do feto.
a) Argumentos a favor do Criacionismo
Ele é mais consistente com as apresentações dominantes da Escritura que o traducianismo.
O relato original da criação assinala uma distinção clara entre a criação do corpo e da alma. O corpo foi tomado da terra e a alma vem diretamente de Deus. Em toda a Bíblia, esta distinção se conserva, onde a alma e o corpo não são somente substâncias diferentes, mas têm origens diferentes (veja Ec 12.7; Is 42.5; Zc 12.1; Hb 12.9; Nm 16.22). Sobre o texto de Hebreus, Delitzsch, um notável traducianista, disse: “Dificilmente pode se encontrar um texto que dê prova mais clássica a favor do criacionismo!” O criacionismo é muito mais consistente com a natureza da alma humana do que o traducianismo. A natureza individual da alma humana é perfeitamente reconhecida pelo criacionismo. A teoria traducianista, por sua vez, implica numa separação e divisão da essência da alma.
Evita os tropeços do traducianismo na Cristologia, e faz mais justiça à pessoa de Cristo na Escritura.
Cristo foi verdadeiramente homem, com verdadeira natureza humana, um corpo verdadeiro e uma alma racional. Nasceu da mulher, foi feito semelhante a nós e, não obstante, sem pecado. Diferentemente dos outros homens, não participou da culpa e corrupção da transgressão de Adão, pois Deus não lhe imputou culpa. Isso foi possível porque Ele não participou da mesma essência numérica dos que pecaram em Adão.
b) Objeções ao Criacionismo
A objeção mais séria é a seguinte: a alma sendo depravada, ou possuindo tendências depravadas, torna Deus o autor direto do mal.
Se a alma foi criada pura, torna Deus o autor indireto do mal, pois Deus a coloca num corpo que fatalmente a corromperá.
Este argumento é considerado pelos traducianistas como fatal para o criacionismo. Claro que este é um tropeço a ser evitado. Para o criacionismo, o pecado original não é um problema simplesmente de herança. Os descendentes de Adão são pecadores, não como resultado de haverem sido postos em contato com um corpo pecador, mas em virtude do fato de Deus imputar-lhes a desobediência original de Adão. Então, a justiça original é tirada, e a corrupção do pecado, naturalmente, se desenvolve.
O criacionismo considera os pais terrenos como gerando somente o corpo de seus filhos, o que certamente não é a parte mais importante da criança, e, portanto, não explica os reaparecimentos de tendências mentais e morais dos pais nos filhos.
Até onde tenha a ver com as semelhanças mentais e morais dos pais e filhos, não necessariamente precisam ser explicadas unicamente com base na herança. Nosso conhecimento da alma é tão imperfeito para falar com absoluta segurança sobre esse ponto. Mas esta semelhança, em parte, é explicada pelo exemplo dos pais, em parte pela influência do corpo sobre a alma e, em parte, pelo fato de que Deus não cria todas as almas iguais, mas que cria em cada caso particular uma alma adaptada ao corpo com o qual se unirá, e adaptada também às complexas relações nos quais terá que ser introduzida.
O criacionismo não está em harmonia com a relação atual de Deus com o mundo e com sua maneira de trabalhar nele, visto que ensina uma atividade criadora de Deus e, deste modo, ignora que Deus não mais obra diretamente, mas somente por meio de agência secundária.
4) PONDERAÇÕES FINAIS
a) Deve-se ter prudência ao falar deste assunto
Precisamos admitir que os argumentos de ambas as partes, traducianismo e criacionismo, são equilibrados. A Escritura não faz uma afirmação direta a respeito da origem da alma no homem em particular, exceto no caso de Adão. As poucas passagens da Bíblia que tratam do assunto, só podem ser consideradas conclusivas por cada parte, já que algumas delas são usadas pelas duas partes. Alguns teólogos são de opinião de que há verdades em ambas as teorias.
b) Alguma forma de criacionismo merece preferência
Pelas seguintes razões:
Não encontra dificuldade filosófica insuperável com a qual o traducianismo sofre.
Evita os erros cristológicos que envolve o traducianismo.
Está mais em harmonia com a nossa ideia de pacto.
Ao mesmo tempo, estamos convencidos que a atividade criadora de Deus, ao formar as almas humanas, deve ser concebida como muito estreitamente ligada ao processo natural de geração dos indivíduos.
O criacionismo não evita todas as dificuldades, mas é uma garantia contra os seguintes erros: a) que a alma é divisível; b) que todos os homens são meramente a mesma substância; c) e que Cristo tomou aquela mesma natureza numérica que caiu em Adão” (Heber Carlos de Campos. Trecho extraído de Antropologia Bíblica: Estudo da Doutrina do Homem e do Pecado).
3. Conceituação de espírito. Segundo o Novo Testamento, a palavra que se refere a "espírito" é pneuma. O termo pode se referir a parte imaterial da personalidade humana (cf. 1Co 7.1,34), o próprio ser da pessoa (1 Co 16.18; 2Tm 4.22) e, mais especificamente, a fonte do discernimento (Mc 2.8), das emoções (3o 11.33) e da vontade (At 19.11) de uma pessoa. Assim, o espírito humano regenerado, submetido a Cristo, torna-se sensível ao Espírito Santo e é capaz de manifestar o fruto do Espírito, as virtudes do Reino de Deus (Gl 6.1; cf. Mt 5 - 7). Nesse sentido, em termos espirituais, só há dois tipos de crentes: os espirituais e os carnais (Rm 8.1). Os crentes espirituais caracterizam-se pelo seu "espírito" dominado pelo Espírito Santo (Gl 5.16-18,22-25). Os carnais vivem de acordo com a natureza carnal que não foi submetida nem transformada por Cristo (Gl 5.19-21). 
O espírito é a parte de nós que pode reconhecer e ter comunhão com Deus. O espírito é também o que nos dá vida. O espírito interage com forças espirituais. Todas as pessoas têm espírito. O espírito é a força que dá vida. Em hebraico a palavra para espírito também significa vento ou sopro. Quando Deus soprou vida no homem, significa que lhe deu um espírito (Gn 2.7). A partir daí o homem se tornou uma criatura viva. O espírito vem de Deus e nos permite ter contato com Deus. Deus é espírito e só podemos nos unir a Deus através do espírito (João 4:24). Isso acontece quando nosso espírito se une ao Espírito Santo de Deus. Todos que aceitam Jesus como salvador estão unidos ao Espírito Santo (At 2.38)”. (RESPOSTAS).
Soa estranho a afirmação ‘Os crentes espirituais caracterizam-se pelo seu “espírito” dominado pelo Espírito Santo’, isso por que, todos os cristãos têm a presença do Espírito Santo que habita neles (Rm 8.9; 1Co 6.19-20) como a força individual para viver de maneira a agradar a Deus, assim, todo o nosso ser deve ser rendido ao Espírito Santo, não apenas nosso espírito, como na afirmativa. Em Gálatas 5.16, a forma do verbo grego traduzido por "andai" indica uma ação contínua, ou um estilo de vida habitual. Andar também implica progresso; quando um cristão se submete ao controle do Espírito - ou seja, responde em obediência aos verdadeiros mandamentos da Escritura. A carne (nossa natureza decaída) opõe-se à obra do Espírito e leva o cristão a comportar-se de maneira pecaminosa, o que, caso contrário, ele não seria forçado. O crente deve fazer a sua escolha: ou vivemos pelo poder do Espírito Santo que resulta em comportamento justo e atitudes espirituais, ou pela lei, a qual pode produzir somente comportamento e atitudes injustas (vs. 19-21). Cf. 1Co 15.56. Devemos purificar-nos “de tudo que contamina o corpo e o espírito, aperfeiçoando a santidade no temor de Deus” (2Co 7.1).


SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

Para a exposição deste primeiro tópico, sugerimos a leitura das páginas 242-260 da obra “Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal”, editada pela CPAD. O assunto em estudo é altamente teológico, por isso, consultar uma boa Teologia Sistemática será de ajuda inestimável a fim de apresentar com maior segurança um assunto complexo. Tenha atenção com o termo “tricotomia” (ponto a ser desenvolvido no tópico 2). Neste primeiro tópico você deve deixar claro o significado do termo “alma”, as teorias acerca de sua origem e a conceituação do termo “espírito”. Boa aula!
II. A MORDOMIA DA ALMA: “O HOMEM INTERIOR”

1. A tricotomia do homem. Afirmamos que o ser humano é um ser tricotômico. Ou seja. Deus o constitui de três partes conforme revela-nos a sua Palavra: "e todo vosso espírito, e alma, e corpo" (1 Ts 5.23). O corpo, a parte material, refere-se ao "homem exterior" (2 Co 4.16). Já o conjunto imaterial formado pela alma e pelo espírito, que é envolvido pelo corpo, a Bíblia denomina-o de "o homem interior", conforme as palavras do apóstolo Paulo: "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus" (Rm 7.22; cf. 2 Co 4.16). 
Deus nos constituiu um ser tri-partido, esta é Sua ‘assinatura’ em nós. Composto de 3 partes em um único indivíduo, onde cada um dos elementos que nos constitui possui uma função, mas juntos todos trabalham por um propósito único: Adorar a Deus e preparar-nos para morar com Ele para todo o sempre. O novo ser interior, do cristão justificado, não mais compactua com o pecado, mas alegremente concorda com a lei de Deus contra o pecado (Sl 1.2; 119.14,47,77,105,140; cf. 2Co 4.16; Ef 3.16). A alma de cada cristão, ou seja, a nova criatura — é sua parte eterna (cf. Lc 4.24; Cl 3.10), e se renova em um processo de crescimento e amadurecimento que está ocorrendo constantemente. Enquanto o corpo físico está se decompondo, o ser interior do cristão continua a crescer e a amadurecer à semelhança a Cristo (Ef 3.16-20).
2. A mordomia da alma. A Bíblia declara que a alma do homem, assim como o espírito e o corpo, deve ser conservada irrepreensível para a vinda do Senhor Jesus Cristo. Essa é a essência da mordomia da alma. Cada crente deve mantê-la íntegra e irrepreensível. Alguns aspectos, porém, devem ser considerados na mordomia da alma. 
Parte Imaterial, espiritual e eterna do homem (Gn 5.1,3; Sl 51.5; At 17.26), responsável pelas nossas emoções e vontades;
2.1. A Necessidade da alma. Essa necessidade inclui a emoção e pode ser satisfeita no relacionamento com Deus. A alma precisa de refrigério espiritual e da presença divina (Sl 23.1-3). No salmo 42, o salmista expressa sinceramente a necessidade de sua alma: "Como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (vv.1,2). Quanta necessidade a alma tem por Deus?! A Bíblia revela que o Espírito Santo preenche essa necessidade e produz em nós o "fruto do Espírito" (Gl 5.22-24). 
Alienada da filiação divina a humanidade sofre a perda do possuir na dimensão espiritual, e tenta através da impossibilidade materialista, compensar os efeitos nocivos e destrutivos da perda desconhecida do elo da vida. Não se da conta de que ansiedades existenciais refletem carências da alma, e que privações da alma não podem ser resolvidas com recursos ou soluções materiais. Necessidades do corpo é que podem e precisam ser satisfeitas com recursos naturais, preservadores e mantenedores do equilíbrio da vida orgânica. Necessidades da alma só podem ser preenchidas em Deus. Se elegermos nosso corpo como centro referencial de nossa existência, não encontraremos respostas para nossas ansiedades, nem sentido para a vida. O centro referencial de nossa existência é a nossa alma, o nosso ser eterno que não reflete em espelhos, mas se faz visível através dos gemidos de nossas angústias, e em nosso pranto interior.” (ULTIMATO)
2.2. A santificação da alma. É uma necessidade da alma o "viver santo", sem o qual ninguém verá a Deus (Hb 12.14). O ser humano é salvo pela "graça de Deus", e isso é dom divino (Ef 2.8,9). Mas ele precisa também arrepender-se de seus pecados, confessar a Cristo como Senhor e santificar-se integralmente em Deus, conforme o apóstolo Paulo ensina: "Abstende-vos de toda aparência do mal. E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (1Ts 5.22,23). 
Tendo concluído todas as exortações iniciadas em 1Ts 4.1 e, especificamente, as dos versículos 16-22, a bênção final de Paulo reconheceu a fonte para obedecê-las e cumpri-las todas. Não é possível ser santificado em todas essas maneiras com a força humana (Zc 4.6; 1Co 2.4-5; Ef 3.20-21; Cl 1.29). Não podemos buscar a santidade com nossas próprias forças, sem o auxílio do Espírito Santo. Somente o próprio Deus pode separar-nos do pecado para a santidade "em tudo" - espírito, alma e corpo. Essa referência abrangente torna a expressão "em tudo" mais enfática. Devemos entender que não pode haver divisão do ser do homem no processo da santificação, todo o seu ser é ou não santificado. Ao usar corpo e alma, Paulo não estava indicando que a parte imaterial do homem podia ser dividida em duas substâncias. As duas palavras são empregadas como sinônimas ao longo da Escritura (Hb 6.19; 10.39; 1 Pe 2.11; 2Pe 2.8). Não pode haver divisão dessas realidades; em vez disso, elas são usadas como outras passagens usam diversos termos para ênfase (Dt 6.5; Mt 22.37; Mc 12.30; Lc 10.27).
2.3. A santificação dos pensamentos. Vimos que a alma é "a sede das emoções, dos sentimentos e dos pensamentos", logo, sua mordomia deve zelar por tudo o que preenche o pensamento do crente, conforme ensina o apóstolo Paulo (Fp 4.8). Nesse contexto, devemos atentar para a advertência de Jesus em relação ao coração do homem (isto é, sua interioridade): "Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias" (Mt 15.19). Portanto, não podemos pensar só no que "não fazer", mas também no que "não pensar". Toda ação ou reação humana precede o pensamento, o sentimento e a emoção. 
A nossa santificação exige a determinação de fazer o que é certo, independente das influências negativas que nos cercam (4:1). Há um vínculo óbvio entre o pensamento e o procedimento. No mundo, as pessoas fazem a vontade dos seus próprios pensamentos carnais e egoístas (Efésios 2:3). O pecado e a maldade procedem de um coração corrupto e podre (Mateus 15:19). Não é assim que devemos agir. Pessoas santificadas tomam a decisão de mudar os seus pensamentos (Efésios 4:17). Apesar da ênfase sensual, material e terrestre da maioria das pessoas – até de muitos religiosos – nós precisamos olhar para cima e pensar nas coisas lá do alto (Colossenses 3:1-6). É lamentável observar a ênfase terrestre e mundana de muitos dos apelos feitos hoje, usando o nome do Senhor. Jesus Cristo não é uma máquina de vendas que recebe uma ficha (oração) e entrega um pedido (bênção material). Ele é o Senhor santo e puro, e ele nos chama a olharmos para os céus para sermos um povo santificado.  Três versículos bíblicos são especialmente úteis na nossa busca de santidade no pensamento e, consequentemente, no procedimento. Reflita bem nestas mensagens:
1. “Lava o teu coração da malícia, ó Jerusalém, para que sejas salva! Até quando hospedarás contigo os maus pensamentos?” (Jeremias 4:14). Para se livrar da malícia e alcançar a salvação, é imprescindível uma limpeza do coração, tirando toda a maldade. A figura de hospedar os maus pensamentos bem ilustra o problema que precisamos resolver. Quando deixamos um quarto no coração vazio e preparado para a permanência dos maus pensamentos, nunca ficaremos livres da maldade. Precisamos fazer uma limpeza total!
2. Paulo explicou que a batalha do cristão é espiritual, e não carnal. O propósito dela é levar “cativo todo pensamento à obediência de Cristo” (2 Coríntios 10:5). O maior desafio do discipulado é aprender pensar como Deus, submetendo todos os nossos pensamentos à vontade dele. Não é um exercício de raciocínio onde procuramos compreender e analisar os propósitos e as razões de Deus para aceitar e obedecer o que faz sentido para nós. É um exercício de vontade onde submetemos a nossa vontade à dele em absolutamente tudo.
3. “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Filipenses 4:8). Este versículo não descreve a maioria das cenas nas novelas que passam na televisão. Muitas coisas na Internet não se encaixam aqui. O conteúdo de muitas músicas, revistas e conversas do dia-a-dia não passa neste teste. O que deve ocupar o nosso pensamento são as coisas boas que demonstram a grandeza e a santidade do Senhor”.(Dennis Allan, em https://www.estudosdabiblia.net/200441.htm)

SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO

“Textos bíblicos que parecem apoiar o tricotomismo incluem 1 Tessalonicenses 5.23, onde Paulo pronuncia a bênção: ‘E todo o vosso espírito, e alma, e corpo seja plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo’. Em 1 Coríntios 2.14 – 3.4, Paulo refere-se aos seres humanos como sarkikos (literalmente: ‘carnal’ 3.1,3), psuchikos (literalmente: ‘segundo a alma’, 2.14) e pneumatikos (literalmente: ‘espiritual’, 2.15). Esses dois textos parecem demonstrar de forma ostensiva três componentes elementares. Vários outros textos parecem distinguir alma e espírito (1 Co 15.44; Hb 4.12)” (HORTON, M. Horton (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.248).

III. MORDOMIA DO ESPÍRITO

1. Andando em Espírito. Na mordomia do espírito, o crente deve procurar andar em Espírito, ou seja, na submissão ao Espírito Santo. Diz o texto bíblico: “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne" (GL 4.16). Andar em Espírito é viver em obediência à direção do Espírito Santo em todas as áreas da vida. Há uma Luta interior entre a carne e o Espírito (Gl 4.17), mas uma vez guiados pelo Espírito Santo não estamos sob a escravidão da carne (GL 4.18). Portanto, "se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito" (Gl 5.25). 
Os Cristãos têm o Espírito de Cristo e a esperança da glória dentro deles (Colossenses 1:27). Aqueles que andam no Espírito demonstram sua santidade diariamente, em cada momento. Isso acontece quando o Cristão conscientemente escolhe por fé depender do Espírito Santo para guiar cada pensamento, palavra e ação (Romanos 6:11-14). A falha de depender da direção do Espírito Santo resulta em um Cristão que não está vivendo de acordo com a missão e posição que salvação providencia (João 3:3; Efésios 4:1; Filipenses 1:27). Podemos saber se estamos andando no Espírito se as nossas vidas demonstram o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (Gálatas 5:22-23). Estar cheio (andar) do Espírito é o mesmo que permitir que a Palavra de Cristo (a Bíblia) habite em nós ricamente (Colossenses 3:16). O resultado é gratidão, cânticos de louvor e gozo (Efésios 5:18-20; Colossenses 3:16). Os Filhos de Deus serão guiados pelo Espírito de Deus (Romanos 8:14). Quando os Cristãos escolhem não andar no Espírito, assim pecando e o entristecendo, Deus já providenciou uma forma de restauração através da confissão do pecado (Efésios 4:30; 1 João 1:9). “Andar no Espírito” é seguir a liderança do Espírito. É essencialmente “andar com” o Espírito, permitindo-lhe que guie seus caminhos e conforme a sua mente. Em resumo, do mesmo modo que temos recebido a Cristo através da fé, por fé Ele nos pede que andemos com Ele, até que sejamos levados ao céu e escutemos “Muito bem!” (Colossenses 2:5; Mateus 25:23)”. (GOTQUESTIONS.ORG)
2. Frutificando no Espírito. Quando o crente produz frutos dignos da vida cristã, ele glorifica a Deus. Nosso Senhor chamou-nos a dar "fruto" e escolheu--nos para permanecer dando fruto (Jo 15.9,16). Frutificar no Reino de Deus é testemunhar Cristo com sua vida, por meio de boas obras de amor que mostram o caráter de Deus em você (Jo 15.16; Mt5.16; G15.22). 
Muitas passagens do Novo Testamento ensinam que os seguidores de Cristo precisam remover o mal de suas vidas. Temos que crucificar a carne "... com as suas paixões e concupiscências" (Gálatas 5:24). Algumas vezes, as pessoas não entendem tais instruções e pensam que a vida de um cristão é vazia, despojada de todo o prazer. Mas Deus não tem intenção de deixar um vazio, de tornar nossas vidas vácuos sem significado. Quando ele nos diz que precisamos remover o pecado, ele também nos mostra outras coisas ­ que são muito melhores ­ para encher nossas vidas e fazê-las mais ricas. Por exemplo, quando Paulo disse a Timóteo: “Foge, outrossim, das paixões da mocidade”, ele imediatamente acrescentou esta instrução positiva para encher o vazio: "Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor" (2 Timóteo 2:22). Ele tinha que remover o mal, mas imediatamente lhe foi dito que pusesse o bem no seu lugar. Gálatas 5 torna esta distinção muito clara. Precisamos crucificar a carne, removendo suas obras de nossas vidas (versículos 19-21). Mas Paulo não parou aí. Ele continua essa lista de obras proibidas com uma descrição do "fruto do Espírito" (versículos 22-23). Aqueles que vivem no Espírito devem andar no Espírito. Devemos desenvolver cada uma destas qualidades como uma parte de nossa personalidade. O fruto do Espírito tem que ser produzido na vida de cada seguidor de Cristo. Consideremos as nove características do fruto do Espírito, para ajudar-nos a desenvolver estas atitudes quando procuramos viver e andar no Espírito” (ESTUDOSDABIBLIA).
O Fruto do Espírito constitui-se de atitudes piedosas que caracterizam a vida somente daqueles que pertencem a Deus pela fé em Cristo e possuem o Espírito de Deus. O Espírito produz o fruto que consiste de nove características ou atitudes as quais estão, de modo insolúvel, ligadas umas às outras e são ordenadas aos cristãos ao longo de todo o Novo Testamento:
● amor. Uma das diversas palavras gregas para amor, ágape, é o amor voluntário, referindo-se não à afeição emocional, atração física, ou laço familiar, mas ao respeito, devoção e afeição que conduz ao serviço voluntário e altruísta (Jo 15.13; Rm 5.8);
● alegria. Uma felicidade baseada nas promessas divinas imutáveis e por aquele que sabe que tudo está bem entre ele mesmo e o Senhor (1Pe 1.8). A alegria não é resultado de circunstâncias favoráveis, e ocorre mesmo quando as circunstâncias são as mais dolorosas e difíceis (Jo 16.20-22). A alegria é um dom de Deus, e como tal, os cristãos não devem produzi-la, mas deleitar-se na bênção que já possuem (Rm 14.17; Fp 4.4);
● paz. A calma interior que resulta da confiança no relacionamento da proteção entre uma pessoa e Cristo. A forma verbal indica união e é refletida na expressão "ter tudo isso ao mesmo tempo". Como a alegria, a paz não está relacionada com as circunstâncias da pessoa (Jo 14.27; Rm 8.28; Fp 4.6-7,9);
● longanimidade. A paciência relacionada à habilidade de suportar as injustiças infligidas por outros e a disposição de aceitar as situações irritantes e dolorosas (Ef 4.2; Cl 1.12; ITm 1.15-16);
● benignidade. Terna preocupação pelos outros, refletida no desejo de tratar os outros com gentileza, exatamente como o Senhor trata a todos os cristãos (Mt 11.28-29; 19.13-14; 2Tm 2.24);
● bondade. A excelência moral e espiritual manifestada na efetiva bondade (Rm 5.7). É ordenado que os cristãos exemplifiquem a bondade (Gl 6.10; 2Ts 1.11);
● fidelidade. Lealdade e confiabilidade (Lm 3.22; Fp 2.7-9; ITs 5.24; Ap 2.10).

SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ

“Primeiro as coisas mais importantes
A intimidade da sala de estar que Maria teve com Jesus nunca resultará da agitação da cozinha de Marta. Agitação, por si só, causa distração. Vemos em Lucas 10.38 uma mulher com a virtude da hospitalidade. Marta abriu sua casa para Jesus, mas isso não significa que ela automaticamente tenha aberto seu coração. Em sua ânsia de servir a Jesus, ela quase perdeu a oportunidade de conhecê-lo.
Lucas nos diz que ‘Marta, porém, andava distraída em muitos serviços’. Em sua mente, ela se preocupava em fazer o melhor. Tinha que fazer o máximo por Jesus.
Podemos ser pegas pela mesma cilada de desempenho, sentido que devemos provar nosso amor a Deus através de grandes feitos. Então, nos apressamos em deixar a intimidade da sala de estar para nos ocupar por Ele na cozinha – realizando grandes ministérios e projetos maravilhosos, no esforço de divulgar as Boas Novas. Fazemos todo o nosso trabalho em seu nome. Nós o chamamos ‘Senhor, Senhor’. Mas, no fim, será que Ele nos reconhecerá? Nós o conheceremos?
O reino de Deus, como você vê, é um paradoxo. Enquanto o mundo aplaude as grandes façanhas. Deus deseja comunhão. O mundo clama ‘Faça mais! Seja tudo o que puder!’, mas nosso Pai sussurra: ‘Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus’. Ele não procura tanto por trabalhadores como procura por filhos e filhas – um povo no qual possa fluir” (WEAVER, Joanna A. Como ter o coração de Maria no mundo de Marta: Fortalecendo a comunhão com Deus em uma vida atarefada. Rio de Janeiro: CPAD, pp.9,10).

CONCLUSÃO

A mordomia da alma e do espírito, juntamente com a do corpo, completa a conservação integral do crente (1 Ts 5-23). Zelar pela nossa interioridade e exterioridade diante de Deus é reconhecer que o Pai quer dominar tudo em nós e não somente partes de nossa vida. Por isso, sinta-se encorajado a expressar Cristo como seu Salvador. Esteja nele! Seja santo! Para isso Deus nos chamou. 
Como já explicado acima, não é possível ser santificado em todas essas maneiras com a força humana (Zc 4.6; 1Co 2.4-5; Ef 3.20-21; Cl 1.29). Somente o "próprio” Deus (Rm 15.33; 16.20; Fp 4.9; Hb 13.20) pode separar-nos do pecado para a santidade "em tudo", espírito, alma e corpo. É Ele que nos impulsiona a querer e a efetuar (Fp 2.13), dá-nos tanto o desejo como a habilidade. A palavra "querer" no grego é thelo que significa intento e inclinação. Deus nos dá desejos santos, agradáveis a Ele. Como? Em primeiro lugar, Ele nos dá uma santa insatisfação para com a nossa natureza carnal e corrompida. Foi isso que fez Paulo dizer em Romanos 7.14: "Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?". Em segundo lugar, Ele nos dá um desejo pelas coisas santas e puras. Isso vemos na biografia dos santos do passado e percebemos o quanto estamos longe desta dedicação a Deus. Em terceiro lugar, Deus nos dá o desejo de Lhe agradar, de causar-Lhe satisfação e isso resulta em um proceder santo. No entanto, a santidade exige esforço, não é algo fácil, pois significa ter disciplina, seguir a Jesus, ser obediente à Palavra, exercitar os dons e avaliar as consequências do pecado. Mas um temor saudável a Deus nos motivará a buscar esta santidade que Ele requer de nós.

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

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