sábado, 30 de março de 2019

LIÇÃO 13: ORANDO SEM CESSAR



SUBSÍDIO I

O QUE APRENDEMOS COM OS PRIMEIROS CRISTÃOS
     PARA LIDAR COM A BATALHA ESPIRITUAL

Declaração de Fé das Assembleias de Deus define oração como “o ato consciente, pelo qual a pessoa dirige-se a Deus para se comunicar com Ele e buscar a sua ajuda por meio de palavra ou pensamento”. Embora a maneira de orar dos primeiros cristãos possa se distanciar da tradição brasileira pentecostal, podemos aprender com eles para aperfeiçoar nossa comunicação com Deus e nos preparar para enfrentar as dificuldades e os ataques malignos do dia a dia.
Quanto aos modelos berakah e hodayah, Paul Bradshaw considera que atualmente os cristãos se afastaram desses modelos bíblicos e sugere que nos sirvam de reflexão sobre como estamos orando. Relembrando o que Deus tem feito, estaremos interpretando nossa experiência humana em termos religiosos; estaremos fazendo nossa confissão de fé; estaremos proclamando o evangelho ao mundo; estaremos nos aproximando também da natureza do relacionamento santo com Deus, sempre tendo em mente que a oração não é algo para nosso próprio benefício, mas para que o nome do Senhor seja glorificado.
A prática espiritual dos pais e das mães do deserto pode ser resumida em fugir, estar em silêncio e orar. São três verbos que se aplicam à maneira como devemos agir diante da batalha contra o maligno: fugir da tentação e do diabo, estar em silêncio para meditar na Palavra de Deus e discernir a vontade de Deus e orar. Para os pais e as mães do deserto, a batalha espiritual era contra o conformismo com o padrão de vida mundano, por isso eles se afastaram da sociedade.
A vida espiritual começa na igreja, não no indivíduo. Por isso, a necessidade do vínculo com a igreja para prestar contas da vida espiritual. Assim, o resultado da oração é uma maior intimidade com Deus que leva ao crescimento espiritual e deixa de ser algo individual para ser prestação de contas para com os outros.

Texto extraído da obra “Batalha Espiritual”, editada pela CPAD 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

As armas espirituais são indispensáveis na batalha que temos que enfrentar. A oração, enquanto fundamento para a luta, também é muito importante. Na aula de hoje, a última deste trimestre, iremos estudar a respeito da oração, e seu valor para a vida cristã. Inicialmente, destacaremos, com base em Mt. 6.5-13, os fundamentos cristãos para a oração, com base na análise do texto grego. Em seguida, faremos a interpretação e aplicação desse texto.

I. ANÁLISE TEXTUAL
                                                                 
A oração sempre fez parte da religiosidade judaica, os fariseus do tempo de Jesus consideravam-na necessária, mas se equivocavam em relação ao modo. Esses eram os hupokritai, que apreciavam orar em pé, que pretendiam ser admirados pelas pessoas, como se fossem atores em um teatro. Eles são censurados pelo Mestre por quererem plateia (v. 5). A oração pública tem seu valor, mas não substitui a oração privada, no lugar secreto. Essa é a oração direcionada ao Pai, pois Ele é Aquele que recompensa. A oração, ainda que seja em oculto – en tô kruptô, terá recompensa do Pai, que responderá (v. 6). Ao orar, devemos fechar a porta, e não fazer como hoi hupokritai, que optam por ficarem “batendo na mesma tecla” (v. 7). Os seguidores de Jesus devem ser diferentes: me oun homoiôthete. Com essa expressão, o Senhor adverte para não se parecer com os gentios (v. 8). Deus é Pater hêmôn, não apenas meu ou teu, mas hêmon, e que é maior do que nós, pois está em tois ouranois. É assim que Jesus ensina Seus discípulos a orarem, e mais que: hagiasthetô to onoma sou, que Teu nome seja santificado (v. 9). A oração ensinada por Jesus orienta a clamar:  elthetô hê basileía sou, venha o Teu reino. Ele já reina nos corações e vidas daqueles que creem. Os súditos do reino se submetem ao senhorio de Cristo. A thelema - vontade de Deus é que todos se dobrem diante desse reino, mas isso não pode ser feito por meio da força. Oramos para que a vontade de Deus seja feita na terra, assim como acontece no céu. (v. 10). Até aquele dia, quando finalmente o reino de Deus será pleno, quando Cristo retornar em glória (Ap. 20.1-10). Devemos orar também pelas nossas necessidades, especialmente pelo pão nosso.Temos necessidades, e essas são supridas pelo Senhor, que nos favorece σήμερον. Nesses tempos de consumismo, existem muitos desejos, mas precisamos aprender a pedir pelo sustento (v. 11). Temos carência também do perdão divino, por isso devemos pedir: aphes hemin ta afelimata hemôn, perdoa as nossas dívidas. O relacionamento com o Pai é o que há de mais importante, pedir perdão é uma necessidade que não pode ser desconsiderada. E um dos fundamentos para fazê-lo é: hos kai hemeis afiemen tois afeiletais hemon, assim como nós perdoamos aos nossos deveredores (v. 12). Somos devedores a Deus, assim como certamente outros nos devem, formos alcançados pela graça, devemos agir de igual modo. É necessário também lembrar do perigo da tentação, por isso precisamos orar: kai me eisenegkes hemas eis peirasmós. E por fim, precisamos reconhecer na oração que é de Deus: he basileía kai he dunamis kai he doxa eis tous aiônas aiônas amén. Ao invés de querer aparecer, como faziam os religiosos, que pareciam que estavam em um palco, diante de uma plateia, em um espetáculo, devemos dar a Deus a glória (v. 13).

II. INTERPRETAÇÃO TEXTUAL

Em resposta ao pedido dos discípulos, Jesus passa, então, a ensinar-lhes a orar (Mt. 6.9; Lc. 11.2). As instruções do Senhor dizem respeito às atitudes: 1) com sinceridade (Mt. 6.1,5,6), não como os fariseus (Mt. 23.14; Lc. 18.10-14); 2) com confiança (Mt. Lc. 11.9-13; Mt. 21.22); 3) com persistência (Lc. 11.5-8), mas 4) com brevidade, sem apelar para vãs repetições (Mt. 6.7). Ainda que possamos orar no templo, enquanto casa de oração (Mt. 21.13; Mc. 11.17; Lc. 19.46; At. 3.1), não estamos restritos a um lugar específico, pois Deus é Espírito e importa que os adoradores que Ele mesmo busca façam-no em espírito e em verdade (Jo. 4.19-24). Um dos elementos fundamentais à oração é que essa seja feita com fé, pois aqueles que se achegam a Deus precisam acreditar que Ele é galardoador dos que O buscam (Hb. 11.6). As palavras de Jesus também devam permanecer em nós, pois, diz Ele em Jo. 15.7, “se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito”. É preciso fazer uma ressalva, que esse “tudo” é relativo, isto é, não podemos pedir mal, para esbanjar em deleites carnais (Tg. 4.2,3). E assim, quando as palavras de Jesus, verdadeiramente, estiverem em nós, oraremos segundo a Sua vontade, e Ele nos ouvirá (I Jo. 5.14; Jo. 15.7). A oração instrutiva de Jesus quebra um paradigma em relação à fé judaica porque chama Deus de “Paizinho” (Aba), ressaltando o relacionamento íntimo que podemos ter com Ele. Mas Deus não é apenas meu Pai, Ele é “nosso” Pai. Em Cristo fomos feitos filhos de Deus, de modo que hoje podemos, todos aqueles que crêem, se direcionar a Ele como Pai (Jo. 1.12). Esse Pai amoroso, revelado na Parábola do Filho Pródigo (Lc. 16), está acima dos homens, Ele é Deus acima de todos, por isso, está “nos céus” (Is. 66.1), é o Criador, não pode ser confundido com a criatura. Todos devem reconhecer que Ele é Santo, o nome dEle, na verdade, é Santo, e digno de louvor e adoração (II Sm. 22.5; Ez. 36.20). Ele é soberano, por isso, oramos para que venha o reino dEle, que Sua “vontade seja feita na terra como no céu”. Jesus veio para anunciar o Reino de Deus (ou dos céus) (Lc. 4.43), e esse já está no meio de nós (Mt. 22.1; Lc. 14.16), pois Cristo já reina entre os seus súditos (Mt. 13.44, 45, 46), mas ainda virá o dia no qual esse reino será pleno (Ap. 21.2-4), naquele dia, a vontade de Deus prevalecerá, na terra como já acontece no céu. Essa é a bendita esperança da igreja, e principalmente, de Israel, quando o trono de Deus será estabelecido na terra e Jesus será reconhecido como o Rei dos reis e Senhor dos senhores. Enquanto vivemos debaixo dessa esperança, dependemos de Deus e rogamos que Ele nos dê o alimento diário, ainda que saibamos que o Pai sabe o que temos necessidade, antes mesmo que peçamos (Mt. 6.8), oramos, pois Ele se compraz em responder as orações. O cristão não deve pedir riqueza, muito menos pobreza (Pv. 30.8,9), mas tão somente o necessário, não para entesourar, ou para viver ansiosamente (Mt. 6.19-31), antes dependendo do Senhor, que nos dá o que precisamos (Mt. 6.32-34). Devemos lembrar do material, mas também do espiritual, pois somos pecadores. Durante a oração precisamos reconhecer diante de Deus os nossos pecados, e pedir que Ele nos perdoe, mas precisamos perdoar aqueles que nos ofenderam (Mt. 6.14,15; 11.25; 18.21,22, 35), muito mais do que sete vezes (Mt. 18.21,22). O pecado não deva ser uma prática comum na vida cristã, por isso, é preciso orar para que não caiamos em tentação, cientes que não somos tentados por Deus, e sim pela nossa concupiscência (Tg. 1.13-14) e que nenhuma tentação nos sobrevém de sorte que não a possamos suportar (I Co. 10.13; II Pe. 2.9). Além de orar para que não cedamos à tentação, devemos pedir também que o Senhor nos livre do mal, isto é, do Maligno (Jo. 17.15). Orar somente não é suficiente, faz-se necessário resisti-lo (Tg. 4.7), pois Satanás “anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (I Pe. 5.8). Estejamos, pois, firmes, fortalecidos com toda armadura de Deus (Ef. 6.14-18) para que não sejamos vencidos pelo príncipe das trevas (Ef. 6.10-12), nem por homens perversos e maus (II Ts. 3.1-2), e muito menos pelos cuidados deste mundo e pela sedução das riquezas (Mt. 13.22).

III. APLICAÇÃO TEXTUAL

Vivemos em um mundo repleto de atividades, uma se sobrepõe à outra. O corre-corre da vida impossibilita o crente a buscar a Deus em oração. Mas não era assim no princípio, no Gênesis está revelado que o ser humano desfrutava de amizade com Deus. Depois da Queda, o sentimento de autossuficiência passou a ter prioridade na conduta humana. A agitação da modernidade também favorece a ausência de oração. Nos dias atuais, dominados pela tecnologia, as pessoas estão deixando de orar. O fazer está se sobrepondo à oração. É evidente que precisamos agir, mas toda ação do crente pressupõe oração. Lutero costumava dizer que deveríamos trabalhar como se todo trabalho dependesse de nós e orar como se tudo dependesse de Deus. Nesse contexto do fazer, os cristãos estão deixando de separar momentos especiais para a oração: de madrugada, antes das refeições, ou antes de dormir (Sl. 63.1). A materialismo filosófico e o liberalismo teológico contribuíram para essa “apostasia na oração”, pois fomos instruídos, por esses pensamentos, a depender exclusivamente do poderio humano. Essa lógica leva à apostasia, e, na verdade, toda aposta se inicia pela falta de oração. A oração não pode ser um apêndice na vida cristã, ela precisa ter prioridade, a hora silenciosa para a oração e meditação na palavra deva ter primazia na agenda do cristão. A oração é o meio pelo qual desenvolvemos nosso relacionamento com Deus. Ela é uma disciplina cristã, por isso, precisa de treinamento contínuo, tal como a de um atleta (I Co. 9.25). É importante que o cristão tenha um tempo reservado para a oração, ainda que esse seja inicialmente de apenas 15 minutos diariamente, e deva ser persistente em tal prática. Esse é o momento de trocar as nossas forças pelas forças de Deus (Is. 40.31). O ideal é que o crente associe a oração à leitura da palavra (I Sm. 3.21), meditando em algum texto da Escritura, pedindo ao Senhor que se revele por meio dela. Esse é um período para digerir a Palavra de Deus, deixando que ela seja alimento (Jr. 15.16). Alguns cristãos adotam a prática de fazer anotações: data, passagem lida, aplicações e o motivo da oração. Outra opção é a utilização de um livro devocional diário, com textos bíblicos e meditações aplicativas, sem esquecer da oração. A relevância da oração não está naquilo que iremos receber da parte de Deus, mas no fato de estarmos na presença dEle. Jesus nos dá esse exemplo maior, pois Ele, enquanto homem, nos ensinou a depender do Pai e a buscar desenvolver nosso relacionamento com Ele (Mt. 1.35-39). O encontro de Jesus com os discípulos, no caminho de Emaús, revela a importância do relacionamento com Deus (Lc. 24.13-16). Na jornada cristã, precisamos da companhia de Cristo, Ele é Aquele que nos livra das inquietações do cotidiano (Hb. 4.16; Fp. 4.6,7) Jesus é o fundamento da oração cristã, na verdade, podemos nos achegar ao Pai com confiança porque Ele é o mediador, Seu sacrifício perfeito nos oportuniza o acesso a Deus em oração (Ex. 30.7-10), por meio da Sua graça (Hb. 4.14-16), e auxílio bem presente (Rm. 8.34; I Jo. 2.1-2). A confiança se concretiza através da sinceridade, por isso, devemos orar cientes de que Deus pode nos socorrer (Sl. 139.1; I Cr. 28.9), perdoar os pecados, contanto que quebrantemos nossos corações perante Ele (Sl. 51.10,17), que não sejamos hipócritas tal como o publicano (Lc. 18.13). Na oração também podemos apresentar nossas queixas perante o Senhor (Sl. 44.23-24). A esse respeito, disse um pensador judeu: “o judeu pode amar a Deus ou lutar com Ele, mas não pode ignorá-lo”. Não tenhamos receio de apresentar nossas angústias diante de Deus, esses também são modos de oração, experimentados por homens de Deus, tal como Abraão (Gn. 18.23-33) e Moisés (Ex. 32.12,14). Mas a oração é também uma oportunidade para a rendição, isto é, de acatarmos a vontade soberana de Deus para as nossas vidas. Alguns crentes não oram porque têm receio de se dobrarem à vontade de Deus (Jo. 4.34; Rm. 12.1-3). É por meio da oração que nos achegamos em gratidão por tudo que o Senhor nos tem feito (ou deixado de fazer). Deus sabe sempre o que é melhor para cada cristão, por isso, enquanto a resposta não vem, devemos confiar nEle (Sl. 100.4), agradecer pela Sua providência (Ef. 5.20) e reconhecer a Sua soberania (Sl. 113.1-3).

CONCLUSÃO

A oração é fundamental na vida de todo crente. Não apenas para recebermos as bênçãos de Deus. A importância central da oração repousa na oportunidade de desenvolvermos um relacionamento contínuo com nosso Pai Celestial. Enquanto oramos, independentemente do modo como Ele responde, devemos confiar em Suas promessas (Fp. 4.6,7), que é o antídoto contra toda ansiedade (Sl. 4.8) e a certeza da Sua presença diante das adversidades (Fp. 4.9).


José Roberto A. Barbosa
Disponível no Blog subsidioebd.blogspot.com

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

A oração do Pai Nosso, conhecida também como a Oração Dominical, do latim Dominus, "Senhor", portanto a oração do Senhor, é um dos textos mais conhecidos da Bíblia. Pessoas de dotas as idades e dos diversos ramos do cristianismo conhecem pelo menos as primeiras palavras dessa oração. Muitos livros, poesias e hinos sobre tema já foram produzidos ao longo da história. Lutero escreveu um comentário sobre o "Pai Nosso", juntamente com os Dez Mandamentos e o Credo do Apóstolo, no seu Catecismo Menor em 1529. Isso, por si só, mostra a importância dessa oração no cristianismo.
No texto base desta lição encontramos os discípulos pedindo que Jesus os ensinasse a orar de modo que Deus se agradasse. Como escreveu o comentarista, muitas matizes da fé cristã ensinam e incentivam a recitação dos versos 9 a 13 como uma forma de oração. Muitas pessoas têm memorizado a Oração dos Discípulos, para que eles possam recitá-la frequntemente, mas, não importa quão bela ela seja, ela não foi dada para este propósito. De fato, após Jesus a dar, ninguém no Novo Testamento a recitou –– nem mesmo o próprio Jesus (confira João 17). Os discípulos não pediram para Jesus ensiná-los uma oração, mas para ensiná-los como orar (Lc 11.1). A resposta de Jesus foi: “Portanto, vós orareis assim” (v. 9). Estes versos apresentam um padrão geral para todas as orações, e embora ela não seja recitada, seus princípios estão evidentes em todas as orações do Novo Testamento. Arthur W Pink, em seu livro ‘A Oração do Senhor’ (Fonte: Providence Baptist Ministries, disponível em: http://www.pbministries.org), afirma que este dilema perdura a muito tempo, “se a Oração do Senhor deve ser considerada como uma forma a ser usada ou um padrão a ser imitado. A resposta certa para esta questão é que ela deve ser considerada como ambas as coisas. Em Mateus, ela é manifestamente apresentada como um exemplo ou padrão do tipo de oração que deve ser oferecida sob a nova economia. “Portanto, vós orareis assim”. Devemos orar “com aquela reverência, humildade, seriedade, confiança em Deus, interesse pela Sua glória, amor pela humanidade, submissão, moderação nas coisas temporais, e zelo pelas coisas espirituais que ela inculca” (Thomas Scott). Mas, em Lucas 11:2, encontramos nosso Senhor ensinando isto: “Quando orardes, dizei: ...”, ou seja, devemos usar Suas palavras como uma fórmula. Então, é o dever dos discípulos de Cristo, em sua oração, tanto usar a Oração do Senhor continuamente como um padrão quanto, às vezes, como uma forma.” A oração é a linguagem da dependência; quem não ora, está se esforçando para viver independentemente de Deus: esta foi a primeira maldição, e continua a ser a grande maldição da humanidade.

I. A ORAÇÃO
                                                                                                                                   
A oração é a alma do cristianismo e expressa a nossa total dependência de Deus. Ela é tão antiga quanto à humanidade, e o próprio Jesus se dedicava à oração particular e secreta. Sendo Ele Deus, vivia em oração contínua. Que exemplo! O que não diremos nós, com respeito à oração?
A oração é uma conversa com Deus; não é um monólogo, Ele responde às nossas orações de várias maneiras. Quando oramos, estamos iniciando uma conversa com Deus, para falar com Ele sobre o que está passando e ouvir o que Ele tem a dizer. A oração era parte constante na vida de Jesus, mesmo sendo ele Deus - “Eu e o Pai somos um”, disse Jesus aos judeus no Pórtico de Salomão (Jo 10.30). E apesar desta completa intimidade com o Pai, Jesus era um homem de oração: “Durante a sua vida aqui na terra, Cristo, em alta voz e com lágrimas, fez orações e súplicas a Deus, que o podia salvar da morte. E as suas orações foram atendidas porque ele era dedicado a Deus” (Hb 5.7).

1. Definição. A Declaração de Fé das Assembleias de Deus define oração como "o ato consciente, pelo qual a pessoa dirige-se a Deus para se comunicar com Ele e buscar a sua ajuda por meio de palavra ou pensamento". A oração é central para a vida cristã. A fé cristã não prescreve local, dia da semana, horário ou postura de pé, sentado ou ajoelhado para fazer orações. O ensino cristão é: “Orai sem cessar" (1 Ts 5.17). Não há problema para quem deseja orar em pé (1 Sm 1.9,10), prostrado em terra (Ne 8.6), de joelhos (1 Rs 8.54). A postura física não importa; o importante é a posição espiritual diante de Deus, é orar com sinceridade e estar em comunhão com o Senhor Jesus.
Não há o que acrescentar aqui quanto à definição. A oração é uma conversa. Deus responde às nossas orações de várias maneiras. Quando oramos, estamos iniciando uma conversa com Deus, para falar com Ele sobre o que está passando e ouvir o que Ele tem a dizer. “Se você quiser saber o conceito que um povo tem de Deus, preste atenção nas suas orações e nos seus cânticos. Pois é impossível ter um conceito correto de Deus revelado nas Escrituras e orar, cantar e adorar de maneira errada. Como sabemos, a teologia precede a ética, ou seja, o nosso comportamento, os nossos valores e prioridades são reflexos ou expressões do conceito que temos de Deus e da vida. Portanto, quanto mais conhecermos pelas Escrituras o Deus que se revelou na Pessoa de Jesus Cristo, quanto mais conhecermos o seu ser, os seus atributos, isto determinará a nossa maneira de orar, cantar e adorar a Deus.” (Paulo Cesar Bornelli). A Bíblia diz que o Espírito Santo intercede por nós (ora por nós), porque ainda não sabemos orar como convém (Rm 8.26).

2. Exemplos bíblicos. A Bíblia mostra a oração desde que Sete, filho de Adão e Eva, nasceu: "Então, se começou a invocar o nome do SENHOR" (Gn 4.26). Essa prática continuou na vida dos patriarcas do Gênesis, Abraão, Isaque e Jacó (Gn 20.17; 25.21; 32.9-12). A oração estava presente na vida de Moisés, dos profetas Samuel e Elias, entre outros, e dos reis piedosos como Ezequias (Êx 8.30; 1 Sm 8.6; 1 Rs 17.19-22; 2 Rs 19.15).
Interessante notar que este filho do primeiro casal recebeu um nome bem adequado. Sete significa “designado ou colocado”, o que indicava a misericórdia de Deus. Deus agraciou o primeiro casal com um filho que preservaria a fé no único Deus verdadeiro. Sua descendência logo começou na adoração - Foi uma experiência para nunca mais ser esquecida, quando, sob o estímulo de Enos, os homens começaram a invocar o nome de YWHW, o Deus da aliança. Enos, que se destacou na linhagem de Sete, foi o originador da oração pública e da adoração espiritual. Nela se usava o inefável nome do Deus eterno. Através dos descendentes de Sete havia uma esperança para dias melhores. É inadequado falarmos da vida de oração destes grandes homens de Deus, aliás, eles foram grandes justamente por que a oração fazia parte de suas vidas,já que orar é falar com Deus, é declarar lealdade a uma realidade espiritual que está acima e além do terreno humano, do auto esforço e do controle. Veja que Elias foi um homem poderoso na oração (1Rs 18.41-46).

3. Jesus e a prática da oração. Os Evangelhos relatam que Jesus orava em secreto continuamente e chegam a registrar algumas orações, como aquela feita no jardim de Getsêmani e também aquela em favor dos discípulos em João 17. Todos os Evangelhos mostram a oração individual do Senhor (Mt 14.23; Mc 1.35; Lc 6.12). Mesmo sendo Deus, Jesus estava também na condição humana e, como tal, buscava a dependência do Pai. Jesus é o maior exemplo de oração para os cristãos.
Qualquer leitura dos Evangelhos deixa muito clara a prática constante de oração na vida de Jesus. Algumas coisas que os apóstolos fizeram e falaram mostram como eles perceberam estes hábitos de oração. Eles pediram que Jesus lhes ensinasse sobre a oração, porque tinham observado o exemplo dele (Lc 11.1). A facilidade de Judas em encontrar Jesus mostra que os discípulos bem conheciam a prática dele de se isolar para falar com o Pai (Jo 18.1-2). Jesus Cristo, a pessoa que mais entendia o valor da comunhão com o Pai, constantemente procurava conversar com ele. Podemos aprender muito do exemplo de oração na vida de Jesus. “Não se diz que Jesus orava naqueles horários rígidos de oração, pela manhã, ao meio-dia e à tarde (Sl 55.17; Dn 6.10). Ele orava mais durante a noite do que durante o dia, mais nas montanhas do que em outro lugar. Uma coisa é certa: as orações do Senhor não eram rotineiras e cheias de vãs repetições. Influenciado pela vida de oração de Jesus, um dos discípulos lhe disse: “Senhor, ensina-nos a orar, como João ensinou os discípulos dele” (Lc 11.1). Foi nessa ocasião que Jesus ofereceu o modelo universal da oração dominical e discorreu sobre a perseverança na oração e sobre a boa vontade de Deus em nos ouvir e responder (Lc 11.2-13). Há uma relação das orações de Jesus com os acontecimentos anteriores ou posteriores que o envolviam, como se pode ver nos textos que as seguem ou antecedem.” (ULTIMATOONLINE).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“A oração é a expressão mais íntima da vida cristã, o ponto alto de toda experiência religiosa genuinamente espiritual. Por que,então, permanece tão negligenciada?
Vivemos numa época em que os indivíduos evitam a intimidade e os relacionamentos pessoais. O receio de expor seus sentimentos e desenvolver amizades profundas afeta tanto as relações espirituais como as sociais, erguendo barreiras dentro da própria família e dividindo comunidades. Inconscientes de que esse modismo entrou na igreja e por ele influenciados, alguns cristãos sentem-se nada confortáveis quando se chegam próximos demais a Deus. O resultado imediato é a falta de oração — não querem intimidade. Além disso, também estamos muito ocupados. Vivemos para realizar, e não para ser. Admiramos a vida ativa mais do que o caráter e os relacionamentos. O sucesso é medido por nossas realizações; portanto, corremos, corremos — tentando fazer tudo quanto podemos em nossas horas ativas. Mais preocupados em fazer do que em ser, recusamo-nos a aceitar a realidade bíblica de que as realizações humanas são temporárias e fugazes. Somente a obra do Espírito Santo é permanente e eterna. A falta de oração nos impede de alcançar aquilo que tão desesperadamente ansiamos. A falta de oração, na verdade, é impiedade” (BRANDT, Robert L. Teologia Bíblica da Oração: O Espírito nos Ajuda a Orar. 6.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 17).

II. A ORAÇÃO NO SERMÃO DO MONTE

O Senhor Jesus falou sobre o assunto no Sermão do Monte para corrigir as distorções existentes na época sobre a oração. É necessário reconhecer, nas palavras dos vv. 5-8, o que Jesus estava ensinando, qual prática tinha a aprovação de Deus e o que era reprovado.
1. Oração nas praças e nas sinagogas (v.5). Jesus não estava proibindo orar nas ruas, praças ou nas sinagogas. É que líderes religiosos da época procuravam as esquinas e os locais movimentados, onde levantavam as mãos para cima na presença das pessoas, para mostrar a elas uma imagem de alguém piedoso e temente a Deus. Eram exibições para serem elogiadas pelo público; por isso, Jesus disse: "Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão" (v.5b). São essas práticas exibicionistas que Jesus proibiu aos seus discípulos, e não as orações em público ou nas igrejas. Ele mesmo ensinava, pregava e curava nas sinagogas (Mt 4.23). Estava orando quando o Espírito Santo desceu sobre Ele no batismo: "Sendo batizado também Jesus, orando ele, o céu se abriu" (Lc 3.21). Ele também orou em público por ocasião da ressurreição de Lázaro (Jo 11.41-44).
Aqui não é uma proibição a oramos em público, mas é uma desaprovação à atitude dos fariseus em quererem parecer piedosos, faziam isso para aparecer. tu, porém -- O discípulo deve ter outra atitude. Não deve imitar os outros, mas deve seu comportamento ter algo nitidamente pessoal. Também aprendemos aqui que Deus quer que cada pessoa tenha com ele um contato pessoal e exclusivo. Por isso, a recomendação de sair da agitação, do meio das pessoas e ir a um lugar calmo e sossegado, sem ninguém ao redor parar orar, onde é possível falar com Deus sem interrupção ou perturbações. Esta é a recomendação de Jesus.

2. Oração em secreto (v.6). Jesus proíbe a ostentação e a hipocrisia. Não há como alguém se mostrar estando no próprio aposento, sozinho em oração, onde ninguém está vendo. Isso, no entanto, não significa que a oração só pode ser aceita se for secreta. Mas significa que Deus, que é onisciente e onipresente e conhece o nosso coração, nos recompensa. Ou seja, as nossas petições e súplicas são atendidas (Fp 4 .6). A oração num lugar secreto em uma das dependências da residência, sem a comunhão com Deus, tampouco lema aprovação do Senhor.
fecha a porta -- Oração é momento de intimidade com Deus. secreto -- a oração individual é diferente da pública. Não é para expor algo ao público, mas para se expor diante de Deus. É desnudamento. É jogo da verdade. É momento de confissão de pecados. É momento de falar e ouvir. “O Messias estava se referindo a intenção do coração, onde existe uma clara diferença em orar para os homens e orar para Deus, como alguém que sabe que é pecador e necessita desesperadamente da Graça do Senhor ou aquele que confia na sua própria “santidade”. “quando orares, não sejas como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas, e às esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens”. (Mt 6.5). Cristo chama isso de hipocrisia, porque não é verdadeiro, não é raro encontrar por aí orações de “línguas” ou não, extremamente “forçadas”, para que a pessoa “pareça” mais santa.” (BIBLIACOMENTADA)

3. As vãs repetições (v.7). Jesus nus instrui com essas palavras: "Orando, mio useis de vãs repetições, como os gentios, que pensam que, por muito falarem, serão ouvidos". Isso dá a entender que havia judeus que oravam como os gentios, ou seja, os pagãos (1 Rs 18.26; At 19.34). Há religiosos que levam horas orando e repetindo palavras sagradas, pois acreditam que isso aumenta o seu crédito no céu. O termo grego usado para "vãs repetições" é battalogéo, "repetir palavras sem sentido". A eficácia da oração não está na sua extensão nem nas repetições das palavras, pois oração é também comunhão com Deus. A oração do Pai Nosso é usada na adoração coletiva desde muito cedo na história e continua ainda hoje em muitas igrejas [...].
Oração deve ser derramamento do espírito, não uma reza (conjunto repetido de palavras). Os pagãos repetiam os nomes dos seus deuses, para ver se ouviam... Jesus está nos advertindo de que repetir frases sem valor em nossas orações não as ajudará a serem ouvidas por Deus. Nosso Pai Celestial não se preocupa com a contagem de palavras, expressões poéticas ou mantras; Ele deseja a "verdade no íntimo" (Salmo 51.6). Orar é derramar a alma, nesse ‘derramar’ não cabem palavras sem sentido. Nossas orações devem ser mais como a breve e simples oração de Elias no Monte Carmelo e menos como as orações prolongadas e repetitivas dos profetas de Baal (1Rs 18.25-39). Se você entender e seguir o padrão de Cristo para a oração, você pode estar seguro que estará orando como Ele instruiu, e que, seja o que for que você peça em Seu nome, Ele fará, “para que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14.13).

4. Entendendo o ensino de Jesus. O Mestre não está condenando a oração longa ou repetitiva, mas as "vãs repetições". 0 próprio Jesus, no Getsêmani, repetiu as mesmas palavras três vezes na oração (Mt 26.39,44). Jesus passou a noite orando no monte para escolher os doze apóstolos; com certeza, essa oração não foi curta (Lc 6.12). Além disso, Ele nos ensina a orar sem nunca desanimar (Lc 18.1). A oração do Pai Nosso é usada na adoração coletiva desde muito cedo na história e continua ainda hoje em muitas igrejas nos diversos ramos do cristianismo.
Há coisas em nossa vida que apresentamos em oração ao Senhor, uma, duas, três vezes, isso não configura repetição no sentido do texto em estudo, mas sim, perseverança. Sua oração era um padrão geral para todas as orações, e embora ela não seja recitada, seus princípios estão evidentes em todas as orações do Novo Testamento. A oração modelo de Cristo nos ensina a pedir seis coisas a Deus:
(1) que Seu nome seja honrado,
(2) que Ele traga o Seu reino à terra,
(3) que Ele faça Sua vontade,
(4) que Ele proveja nossas necessidades diárias,
(5) que Ele perdoe os nossos pecados, e
(6) que Ele nos proteja de tentação.
Cada uma dessas contribui para o objetivo último de toda oração, que é trazer glória a Deus. As últimas três são os meios pelos quais as três primeiras são alcançadas. À medida que Deus providencia o nosso pão diário, perdoa os nossos pecados e nos protege quando somos tentados, Ele é exaltado em Seu nome, glória e vontade.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Embora seja Deus, enquanto esteve aqui na Terra Jesus não era somente Deus — era o Deus-Homem. Na posição de Deus, Ele não precisava orar (exceto para manter aquela comunhão e companheirismo próprio da Deidade). Mas, na qualidade de homem, estando revestido de um corpo humano, sendo descendente legítimo de Abraão, a oração era tão essencial a Ele como o fora a Abraão e seus descendentes.
A oração destacou-se em cada aspecto e fase de sua vida e ministério. A Bíblia cita numerosos exemplos de oração durante o curto período de três anos e meio do ministério de Jesus. Há evidências de que a oração era a própria respiração da vida de Jesus, tal como acontecia com Moisés. Jesus vivia uma vida disciplinada. Os Evangelhos registraram determinados hábitos que Ele fazia questão de cultivar. Um deles era frequentar regularmente a sinagoga aos sábados, o que, naturalmente, incluía um período de oração (Mt 21.13). Não é errado pensar que Jesus tinha ido diariamente à sinagoga ou ao Templo — dependendo do lugar onde Ele estivesse — para dedicar-se à oração” (BRANDT, Robert L. Teologia Bíblica da Oração: O Espírito nos Ajuda a Orar. 6.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp. 166,167).

III. O PAI NOSSO

Jesus repetia os seus ensinos em ocasiões e locais diferentes. Esses discursos são registrados, às vezes, por mais de um evangelista, e assim surgem algumas modificações. Um exemplo disso é a oração do Pai Nosso, em Mateus e em Lucas. São duas situações e locais diferentes. Sua importância está no fato de ser uma oração modelo. Podemos dividi-la em três partes: sobre o Deus que adoramos, sobre as nossas necessidades e sobre os nossos perigos.
Há duas formas do Pai Nosso no Novo Testamento, a versão de Lucas é mais breve do que a que encontramos em Mateus 6. Neste caso, não há uma repetição do ensino, mas duas narrativas de um mesmo evento. Lembrando que Mateus escreveu para um público judeu e Lucas para um público gentio.

1. O nosso Deus. O Pai Nosso é uma oração modelo, e isso pode ser visto na linguagem usada por Jesus: "Vós orareis assim" (v.9), e não o que devemos orar. Ele continua: "Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome". Essa forma de se dirigir a Deus é peculiar ao Novo Testamento, pois os justos do Antigo Testamento nunca a usaram. Deus, o Criador, é o nosso Pai. A liberdade que temos de nos aproximar dEle e chamá-lo de "Pai" ou, de maneira mais íntima, de “Aba, Pai", expressão aramaica que significa "papai", é um dos grandes privilégios dos cristãos (Rm 8.15; Gl 4.4-6). Essa bênção foi mediada por Jesus. Santificar o nome não significa tornar seu nome santo, pois ele já é santo em sua essência e natureza, mas é o nosso dever reconhecê-lo como tal.
Orareis assim não significa usar as mesmas palavras, mas sim seguir esse modelo de oração. As pessoas geralmente reduzem essa oração a uma recitação vazia — justamente o que o Senhor disse para não fazermos (Mt 6.7). A oração aqui é composta por seis pedidos. Os três primeiros são para que venha o Reino (Mt 6.9,10), e os três últimos para que Deus supra as necessidades de Seu povo até que o Reino seja plenamente estabelecido (Mt 6.11-13). Notemos, ainda, que as palavras “Santificado seja o teu nome” não são palavras de adoração ao Pai. O verbo aqui está no modo imperativo e quer dizer que o “teu nome seja santificado!” Isso nos traz à mente a profecia em Ezequiel 36.25-32, em que o profeta diz que Israel profanou o nome de Deus entre as nações. Um dia Deus reunirá Seu povo dentre as nações, irá purificá-lo e, assim, vindicará santidade ao Seu santo nome. A santificação do nome do Pai significa a chegada do Reino de Deus. O termo Abba é aramaico, a língua falada por Jesus, significa ‘papai’ ou ‘paizinho querido’ – “E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: "Aba, Pai"” (Gl 4.6) – assim, chamar Deus de papai é algo muito sério, pelo menos foi para Jesus. Quando Deus é chamado de pai ele é honrado como criador , ou seja, tinha-se a consciência de que Ele é o Senhor que merece obediência e o Pai que é misericordioso. Chamar Deus de Abbá é para quem vive o cotidiano com Ele, é para quem está compromissado com a Cruz ensanguntada!

2. As nossas necessidades. O termo "pão" em "o pão nosso de cada dia dá-nos hoje" (v.11) inclui tudo aquilo de que o nosso corpo necessita. Mas só hoje? E o futuro? Jesus nos ensina a sermos moderados em nossos desejos e pedidos (Pv 30.8,9). Isso remete também à confiança na provisão de Deus para a nossa vida (Mt 6.25-34). O perdão é outro ponto importante: "Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores" (v.12). Já não fomos perdoados e já não somos filhos de Deus? É verdade, mas estamos sempre expostos ao pecado (1 Jo 1.8,9). Todavia, precisamos também perdoar aos que nos fazem o mal (Mt 18.32-35).
A partir do verso 11, voltamos agora a nossa atenção para aquelas petições que interessam mais imediatamente a nós mesmos. O pão nosso de cada dia é uma lembrança do maná que Deus enviava diariamente para alimentar o povo de Israel no deserto. Esta petição pelo suprimento de necessidades corporais. “Matthew Henry assinalou perspicazmente que o motivo para esta petição pelo suprimento de nossas necessidades físicas encabeçar as quatro últimas petições é que “nosso [bem-estar] natural é necessário [para] nosso bem-estar espiritual neste mundo”. Em outras palavras, Deus nos concede as coisas físicas desta vida como auxílios ao cumprimento de nossos deveres espirituais. E, visto que são dados por Ele, eles devem ser empregados em Seu serviço. Que consideração graciosa Deus mostra para com a nossa fraqueza: somos incapazes e inaptos para cumprir nossos mais elevados deveres, se privados das coisas necessárias para o sustento da nossa existência corporal. Podemos também inferir corretamente que esta petição vem primeiro a fim de promover o crescimento e o fortalecimento constantes da nossa fé. Percebendo a bondade e fidelidade de Deus em suprir nossas necessidades físicas diárias, somos encorajados e estimulados a pedir bênçãos mais elevadas (cf. At 17:25-28).
O pedido de perdão, que é explicado em Mateus 6.14,15, não se refere a como as pessoas são justificadas (compare com Rm 3.21-26; Ef 2.8-10), mas sobre como alguém que foi justificado deve andar todos os dias com Deus. Não se trata de um perdão posicional, forense (legal), mas de um preceito para preservar a comunhão familiar (1Jo 1.9). Então, devemos compreender que o perdão posicional foi adquirido no momento que passamos a fazer parte da família de Deus, e ao longo da nossa caminhada nessa família, necessitamos confessar sempre e rogar pelo perdão a fim de preservarmos a comunhão. Nossos pecados são vistos aqui, assim como em Lucas 11:4, sob a noção de dívidas, ou seja, obrigações não cumpridas ou fracassos em prestar a Deus o que Lhe é legitimamente devido. Paulo diz: “De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne” (Rm 8:12), declarando assim o lado negativo. Mas, positivamente, somos devedores a Deus, para viver para Ele.

3. O livramento dos perigos. Essa petição no Pai Nosso: “Não nos induzas à tentação, mas livra-nos do mal (v.13) se refere aos perigos diários a que estamos expostos num mundo sedutor e corrompido (Fp 2.15). É verdade que Deus não tenta as criaturas humanas (Tg 1.13), mas devemos pedir a Deus que não permita que voluntariamente venhamos a nos deparar com a tentação. A oração termina com a doxologia: "porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre" (v.13b), para ser um resumo de um trecho da oração de Davi (1 Cr 29.11-13). A expressão reflete o espírito das Escrituras Sagradas.
A doxologia no final da oração vem de 1 Crónicas 29.11: “Tua é, Senhor, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade; porque teu é tudo quanto há nos céus e na terra; teu é, Senhor, o reino, e tu te exaltaste por cabeça sobre todo.”; alguns manuscritos antigos das Escrituras a omitem. “É importante entender que a palavra tentar possui um duplo significado na Escritura, embora nem sempre seja fácil determinar qual dos dois se aplica em uma passagem particular: (1) testar (a força de), por à prova; e (2) incitar a fazer o mal. Quando se diz que “Deus tentou a Abraão” (Gn 22:1), significa que Ele o provou, colocando à prova a sua fé e fidelidade. Mas, quando lemos que Satanás tentou a Cristo, significa que Satanás procurou produzir a Sua queda, embora fosse moralmente impossível. Tentar é fazer prova de uma pessoa, a fim de descobrir o que ela é e o que fará. Podemos tentar a Deus em um sentido legítimo e bom, pondo-O à prova em um sentido de dever, como quando aguardamos o cumprimento da Sua promessa em Malaquias 3:10. Mas, como está registrado para a nossa admoestação no Salmo 78:41, Israel tentou a Deus em um sentido de pecado, agindo de tal modo que provocasse o Seu descontentamento.” (MONERGISMO). Ao oramos “Não nos induzas à tentação”, estamos reconhecendo a soberania de Deus, que todas as criaturas estão à disposição soberana do seu Criador; Ele tem o mesmo controle absoluto sobre o mal que sobre o bem; Estamos clamando para que Deus nos ajude a enfrentar a tentação diária do pecado. Em Tiago 1.13,14, fica bem claro que Deus não nos tenta com o mal, mas, ao contrário, nós é que somos tentados pelas nossas próprias concupiscências. No entanto, Deus nos testa para nos dar a oportunidade de provarmos nossa fidelidade a Ele. O desejo de Deus jamais foi induzir-nos a fazer o mal. Sendo assim, se resistirmos ao diabo, temos a promessa de que ele fugirá de nós.
 Livra-nos dos mal” - “Somos ensinados a orar por livramento de todos os tipos, graus e ocasiões do mal; da malícia, poder e sutileza dos poderes das trevas; deste mundo mau e todos os seus engodos, laços, índoles e enganos; do mal de nossos próprios corações, para que seja refreado, subjugado e finalmente extirpado; e do mal do sofrimento...” (Thomas Scott). Esta petição, então, expressa um desejo de sermos livrados de tudo o que seja realmente prejudicial a nós, e especialmente do pecado, o qual não tem bem algum em si mesmo.


SUBSÍDIO BIBLIOLÓGICO

“Lucas 11.1-4 Essa passagem transmite uma mensagem muito simples. [...] A oração é a expressão do nosso relacionamento familiar com Deus. E as respostas às orações não dependem de alguém ter ou não cometido um erro ao recitar as palavras adequadas. Na verdade, as respostas à oração representam um transbordamento daquele permanente amor que Deus tem por nós, seus filhos.
Essa grande realidade nos dá a chave para entendermos aquilo que chamamos de Oração do Senhor (11.2-4).
• Pai. Nós nos aproximamos de Deus como de um Pai, profundamente conscientes de seu amor e compromisso conosco, e o respeitamos e amamos.
• Santificado seja o teu nome. Exaltamos a Deus e o louvamos pelo que Ele é” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp.167-68).

CONCLUSÃO

Diante do exposto, concluímos que a oração deve ser uma prática contínua, e não ser recebida como um mandamento, mas como uma necessidade que temos da dependência de Deus. Note que Jesus não está mandando ninguém orar no discurso do Sermão do Monte. Ele disse: "quando orares" (v. 5); isso revela que a oração já era hábito do povo israelita, costume preservado desde o Antigo Testamento (Sl 55.17; Dn 6.10). Jesus estava corrigindo as distorções existentes.
“A falta de oração demonstra a falta de fé e a falta de confiança na Palavra de Deus. Nós oramos para demonstrar nossa fé em Deus, que Ele fará assim como prometeu em Sua Palavra, e que abençoará nossas vidas abundantemente mais do que podemos pedir ou esperar (Efésios 3:20). A oração é nosso primeiro meio de ver a obra de Deus na vida de outros. Por ser nosso meio de nos “ligarmos” ao poder de Deus como se nos ligássemos em uma tomada, é nosso meio de derrotar nosso inimigo e seu exército (Satanás e seu exército) que, por nós mesmos, não teríamos forças para vencer. Por isto, que Deus nos encontre sempre perante Seu trono, pois temos um Sumo Sacerdote no céu que pode se identificar com tudo o que passamos (Hebreus 4:15-16). Temos Sua promessa de que “A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos” (Tiago 5:16-18). Que Deus possa glorificar Seu nome em nossas vidas conforme creiamos Nele de forma suficiente para que venhamos sempre a Ele em oração”.(Why pray?, disponível em: https://www.gotquestions.org/why-pray.html. Acesso em: 24 Mar, 2019).

Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)




Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br


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