SUBSÍDIO I
A PARÁBOLA
A parábola é uma “narração
alegórica que encerra uma doutrina moral” e tem como
propósito facilitar a compreensão de uma mensagem através do compartilhamento
de uma história, fixando assim conceitos essenciais em nossa mente, e isto é
possível, uma vez que a parábola contém sempre uma lição central. Para Champlin
‘parábola’ “indica, literalmente, comparação, e é comumente usada para indicar
uma história breve, um exemplo esclarecedor, que ilustra uma verdade qualquer”2.
Assim, a parábola é uma história que objetiva que algo seja claramente
compreendido a partir de uma ilustração com base na situação vivencial da vida
comum.
A parábola é diferente de uma
fábula e de um mito. Sobre a diferença existente entre a parábola e a fábula,
Champlin destaca que “a fábula é uma forma de história ilustrativa fictícia e
que ensina através da fantasia, mediante a apresentação de animais que falam ou
de objetos animados. A parábola nem sempre lança mão de histórias verídicas,
mas admite a probabilidade, ensinando mediante ocorrências imaginárias, mas que
jamais fogem à realidade das coisas”3. Em relação à diferença
entre a parábola e o mito é necessário verificar que este “narra uma história
como se fosse verdadeira, mas não adiciona nem a probabilidade e nem a verdade.
A parábola não tenta contar uma história que deve ser aceita como história real
e, sim, um tipo de narrativa que nem sempre sucedeu realmente”.4
Para Cope, a “parábola é
justaposição, isto é, colocação de uma coisa ao lado de outra com a finalidade
de comparação e ilustração; indicação de casos paralelos ou análogos; é o caso
do argumento da analogia. [...] Aristóteles distingue parábola em geral da
fábula dizendo que a primeira descreve relações humanas, com o que as parábolas
do N.T. concordam; inventa casos análogos que não são históricos, mas sempre
verossímeis, isto é, sempre prováveis e correspondendo ao que de fato ocorre na
vida real”.5
É comum limitarmos o significado
e alcance das parábolas somente no Novo Testamento, porém, sua verificação é
ampla na história antiga e também está presente no Antigo Testamento. Apesar de
Cristo ter se utilizado de parábolas para transmitir sua mensagem de forma
simples e clara, fato este marcante inclusive no seu ministério terreno, não
foi ele o criador desse recurso. As parábolas são verificadas entre os povos
orientais da antiguidade, e, na literatura judaica eram usadas de maneira
abundante na literatura dos rabinos com o objetivo de explicar verdades e
doutrinas. O modo de vida agrário era o ambiente inspirador para o uso da
parábola para atingir o objetivo de compartilhar uma mensagem. “Os escritos
rabínicos estão cheios de histórias, alegóricas ou parabólicas quanto ao
caráter, com a intenção de deixar claro algum ponto do ensino ou ilustrar
alguma passagem na Bíblia Hebraica”.6 As parábolas estão
presentes nos textos do Antigo Testamento devido ao fato de serem os hebreus
exímios contadores de histórias, ou seja, era natural a presença das parábolas
na cultura literária dos hebreus.
No que diz respeito ao uso de
parábolas por outros povos na história, Charles Salmond destaca que “a
utilização desse tipo de linguagem exercia atração especial sobre os povos
orientais, para quem a imaginação era mais rápida e também mais ativa que a
faculdade lógica. A grande família das nações conhecidas como semitas, aos
quais pertencem os hebreus, junto com os árabes, os sírios, os babilônios e
outras raças notáveis já demonstraram a especial tendência à imaginação, como
também um gosto particular por ela”.7 A palavra hebraica mashal tem o
significado de provérbio, analogia e parábola, e apesar de ser aplicada de
forma variada e abrangente, a ideia essencial de seu significado faz referência
a produção textual na forma de parábola.
Texto extraído da
obra: As Parábolas
de Jesus: As
verdades e princípios divinos para uma vida abundante. 1. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Quando estudamos as
parábolas de Jesus, com os corações abertos e dispostos a aprender como discípulos verdadeiros, em busca de
sabedoria e entendimento das verdades espirituais profundas, nos deparamos com as sábias lições que Ele nos
deixou para sermos bem-sucedidos em nossa vida aqui no mundo. Estudar este
conteúdo, como disse Jesus aos seus primeiros discípulos, é um privilégio:
“Bem-aventurados são os olhos que veem o que vós vedes, pois vos digo que
muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram; e ouvir o
que ouvis e não o ouviram” (Lc 10.23,24). Assim, as parábolas do Senhor possuem
preciosas promessas de bênçãos para todos quantos acolhem sua mensagem e se dispõem a compreender as verdades que elas
ensinam.
Jesus falava por parábolas para explicar verdades
complexas de uma forma simples. Era sua maneira predileta de ensinar verdades e
mistérios profundos (Mt 13.34-35), e para responder as perguntas e dúvidas.
Usar parábolas era um método de ensino muito comum no tempo de Jesus. Ele
falava por parábolas para cumprir a profecia de Salmos 78.2, e não dizia nada a
eles sem ser por meio de parábolas. Qual é a importância de estudarmos este
assunto? Ora, Jesus explicou aos seus discípulos que quem conhece a Deus
receberá mais conhecimento, mas quem não conhece a Deus perderá até o pouco de
conhecimento que tem (Mt 13.11-12). As parábolas de Jesus eram simples, mas
quem não amava Jesus não as entendia. Deus estava humilhando quem se achava
sábio, mas rejeitava Jesus (1Co 1.20-21).
“Nosso
Senhor Jesus compreendia que a verdade não é uma doce música para todos os
ouvidos. Na verdade, há aqueles que não têm nenhum interesse ou estima pelas
coisas profundas de Deus. Por que, então, Ele falava em parábolas? Para aqueles
com uma verdadeira fome de Deus, a parábola é um veículo tanto eficaz quanto
memorável para a transmissão das verdades divinas. As parábolas de Nosso Senhor
contêm grandes volumes de verdade em poucas palavras-- e Suas parábolas, ricas
em imagens, não são facilmente esquecidas. Assim, então, uma parábola é uma
bênção para aqueles com ouvidos dispostos. Entretanto, para aqueles com
corações endurecidos e ouvidos lentos para ouvir, uma parábola é também uma
declaração de julgamento.” (Why did Jesus teach in parables?
Disponível em: https://www.gotquestions.org/Jesus-parables.html. Acesso em: 28 Set, 2018).
I. O QUE É
PARÁBOLA
1.
Conceito. Parábola, no hebraico mashal, dependendo do contexto, refere-se a um
dito profético, um provérbio, uma analogia, um enigma, um discurso, um poema,
um conto, um símile. Essa palavra ocorre aproximadamente quarenta vezes no
Antigo Testamento, sendo normalmente traduzida como “provérbio”. A palavra
grega traduzida como parábola, em o Novo Testamento, é parabolé, “por ao lado
de”, com o sentido de “comparar” como ilustração de alguma verdade ou ensino.
Nesse sentido, torna-se um instrumento didático. Ela é usada cinquenta vezes no
Novo Testamento, sendo duas para indicar uma fala figurativa (Hb 9.9; 11.19) e
quarenta e oito vezes traduzida no singular ou no plural, sempre se referindo
às histórias de Jesus. Em síntese, parábola significa, literalmente, “comparação”,
e como tal, comumente utilizada para indicar uma história breve, um exemplo
esclarecedor para ilustrar uma verdade.
As Parábolas como temos conhecimento é um gênero
literário de uso muito comum no judaísmo e na literatura rabínica, na
explicação da doutrina. Vincent Cheung em ‘As Parábolas de Jesus’, diz: “A palavra grega para parábola é parabole – ela é uma palavra grega
composta que significa “colocar de lado”. No uso bíblico, uma parábola compara
ou contrasta uma realidade natural com uma verdade espiritual. E assim, quando
lendo os Evangelhos, algumas vezes você verá Jesus dizendo tais coisas como: “O
Reino dos céus é como...” (Mateus 13:24), ou “Com que se parece o Reino de
Deus? Com que o compararei?” (Lucas 13:18)”. (CHEUNG, 2003). O
Dicionário online Priberam define: “(latim
parabola, -ae, do grego parabolé, -és, comparação, analogia, discurso
alegórico, movimento paralelo, parábola). substantivo feminino 1. Narração
alegórica que envolve algum preceito de moral, alguma verdade importante”.
(PRIBERAM).
De acordo com o dicionário bíblico universal, Bucklan & Williams (2007,
p.446):
“Parábola é
uma narrativa imaginária ou verdadeira que se apresenta com o fim de ensinar
uma verdade. Difere do provérbio porque sua apresentação não é tão concentrada
como a daquele; contém mais pormenores, exigindo menor esforço mental para ser
compreendida. Difere da alegoria, porque esta personifica atributos e as
próprias qualidades, ao passo que a parábola nos faz ver as pessoas na sua
maneira de proceder e viver, também difere da fábula, visto que a parábola se
limita ao que é humano e possível.”
2.
Distinção entre a parábola e outras figuras de linguagem. A Bíblia Sagrada emprega várias
figuras de linguagem que são necessárias para ilustrar verdades divinas e
profundas. Algumas delas são o símile, o provérbio, a metáfora, a alegoria, a
fábula e o tipo, e é importante não confundi-las com a parábola. É oportuno
destacar que a parábola também não é um mito, tendo em vista que ele narra uma
história como se fosse verdadeira, mas não adiciona nem a probabilidade e nem a
verdade. Já a parábola ilustra verdades por meio de símbolos: “o campo é o
mundo”, “o inimigo é o Diabo”, “a boa semente são os filhos do reino”, etc.
Neste subtópico é importante diferenciarmos a
parábola do mito, isso por algumas acusações de que determinadas parábolas não
passam de mito. Como já explicado no subtópico 1, parábola é uma narrativa
curta, um discurso que faz entender outro. “É uma espécie de alegoria apresentada sob forma de uma narração,
relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com o objetivo de
declarar ou ilustrar uma ou várias verdades”.(DICIONÁRIO INFORMAL). Já o mito, é uma “representação fantasiosa, espontaneamente
delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma
explicação aos fenômenos da natureza e da vida” (*).Segundo George Eldon
Ladd (2003, p.126) “uma parábola é uma
estória extraída da vida diária, com a finalidade de comunicar uma verdade de
cunho moral ou religioso”. Logo, as parábolas são recursos que quando
empregados no ensino de Jesus, deve-se ter em consideração todo o contexto
histórico empregado no processo narrativo para sua compreensão correta”.
3.
Aplicação de uma parábola. Ao se dirigir aos discípulos e aos fariseus, seus adversários, Jesus
adotou o método de ensino por parábolas com a finalidade de convencer aqueles e
condenar estes. Em Mateus 13.10, os discípulos perguntaram a Jesus o porquê de
Ele falar por parábolas. Jesus usava esse método em razão da diversidade de
caráter, de nível espiritual e de percepção moral de seus ouvintes (Mt 13.13).
Em Marcos 4.10-12, ao ser inquirido sobre o uso de parábolas, Jesus respondeu
que as usava nos seus ensinamentos por duas razões distintas: para ilustrar a
verdade para aqueles que estavam dispostos a recebê-la, e para obscurecer a
verdade daqueles que a odiavam. Assim, para que a parábola seja explicada e
aplicada, primeiramente é indispensável examinar sua relação com o que a precede
e a segue, e descobrir, com base nisso, antes de qualquer outra coisa, a sua
ideia principal.
Em ‘As
Parábolas de Jesus’, Vincent Cheung afirma que o uso do ensino por
parábolas não tinha como fim ‘aclarar’ o entendimento de verdades espirituais,
haja visto que os próprios discípulos, aqueles que deveriam ser iluminados
pelos ensinamentos de Cristo, eles mesmos não entenderam nem mesmo a parábola
fundacional até que Jesus a explicasse para eles. Após contar à sua audiência a
parábola do semeador em Marcos 4.2-9, seus discípulos chegaram até ele no
versículo 10, pedindo a interpretação: “Quando
ele ficou sozinho, os Doze e os outros que estavam ao seu redor
lhe fizeram perguntas acerca das parábolas”.
Até mesmo seus discípulos mais íntimos, incluindo os Doze, não entenderam a
parábola. Em João 16:29-30, os próprios discípulos declaram que era mais fácil
entender o que Jesus estava dizendo quando ele falava “claramente” do que
quando usando “figuras [de linguagem]”. O autor afirma que provérbios, parábolas,
e figuras de linguagem não tornam necessariamente as verdades espirituais mais
fáceis de entender; antes, elas frequentemente obscurecem as verdades
espirituais até que as explicações sejam dadas em discurso claro.
Os discípulos obviamente preferiam a linguagem direta e
não-metafórica. Nesse sentido, Jesus utilizou este método para obscurecer a
verdade daqueles que a odiavam:
“Então, o
próprio Jesus admitiu que o uso das parábolas evitaria que muitas pessoas
entendessem seus ensinos, e que essa era a sua própria intenção: Ele respondeu:
“A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino dos céus, mas a eles
não... Por essa razão eu lhes falo por parábolas: ‘Porque vendo, eles não veem
e, ouvindo, não ouvem nem entendem’. Neles se cumpre a profecia de Isaías:
‘Ainda que estejam sempre ouvindo, vocês nunca entenderão; ainda que estejam
sempre vendo, jamais perceberão’” (Mateus 13:11, 13-14). Jesus usou parábolas
principalmente, não para tornar as verdades espirituais mais fáceis de
entender; antes, o próprio oposto era verdade, de forma que pelo menos uma das
razões pelas quais ele usou parábolas foi para obscurecer o significado de seus
ensinos.” (CHEUNG, 2003)
SUBSÍDIO ETIMOLÓGICO
“Entre as formas literárias encontradas na Bíblia, a
mais conhecida, talvez, seja a parábola. O fato é especialmente verdade em se
tratando das parábolas de Jesus, tais como a do bom samaritano, do filho
pródigo, das dez virgens e do semeador. Porém, definir exatamente o que é uma
parábola no Antigo Testamento (mashal) ou no Novo (parabole) é difícil. Em
ambos os casos, os termos podem referir-se a um provérbio (1 Sm 24.13; Ez
18.2,3; Lc 4.23; 6.39); uma sátira (Sl 44.11; 69.11; Is 14.3,4; Hc 2.4); uma
charada (Sl 49.4; 78.2; Pv 1.6); um dito simbólico (Mc 7.14,17; Lc 5.36,38); um
símile extensa ou similitude (Mt 13.33; Mc 4.30,32; Lc 15.8-10); uma parábola
histórica (Mt 25.1-13; Lc 14.16,24; 15.11-32; 16.1-8); um exemplo de parábola
(Mt 18.23-25; Lc 10.29-37; 12.16-21; 16.19-31); e, até mesmo, uma alegoria (Jz
9.7-20; Ez 16.1-5; 17.2-10; 20.49–21.5; Mc 4.3- 9,13-20; 12.1-11). Esses dois
termos bíblicos possuem vasta extensão de significados, mas o sentido básico de
cada um é a comparação entre duas coisas diferentes. Algo parecido com algo que
não é” (STEIN, Robert H. Guia Básico de
Interpretação da Bíblia. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1999, p.143).
II. CONTEXTO
SOCIAL E LITERÁRIO
1.
Galileia no tempo de Jesus. A Galileia compreendia todo o território ao Norte de Samaria até ao
Monte Líbano, estendendo-se de leste a oeste, entre o Mar da Galileia e o Mar
Mediterrâneo e Fenícia. Situava-se nas grandes rotas comerciais que cruzavam o
Oriente Próximo, e muitos estrangeiros atravessavam a área. A conservação de
peixes pela salgadura e sua exportação para todos os lugares do Império Romano
era a principal indústria. Era uma região muito mais próspera que a Judeia e
abrigava uma grande população. Importante para a região era o mar da Galileia,
um extenso lago de água doce, localizado ao norte da Palestina, também
conhecido como mar de Tiberíades ou lago de Genesaré (Mt 4.18; Lc 5.1). Esse
lago, que ficava cerca de 96 quilômetros ao norte de Jerusalém, ajudava a
determinar o tipo de vida que se levava em toda a região ao derredor. As
ocupações dos habitantes incluíam a agricultura, a fruticultura, a pecuária, o
tingimento de tecidos, o curtume, a pesca e a fabricação de embarcações. Na
Galileia, Jesus reforçou seu ensino com parábolas memoráveis, ilustrando o amor
de Deus pelos pecadores, a necessidade de confiança na misericórdia de Deus, o
amor que devemos ter uns aos outros, a maneira como a Palavra de Deus vem e o
Reino de Deus cresce, a responsabilidade de o discípulo desenvolver seus dons e
o julgamento daqueles que rejeitam o evangelho (Mt 4.23; 13.1-52).
Galiléia vem do hebraico גָּלִיל Galil, empregada
desde o Antigo Testamento, que significa círculo ou distrito. O historiador
Flávio Josefo desde o primeiro século já descrevia a Galiléia em seus escritos.
Seu texto nos oferece uma boa oportunidade de conhecer melhor os aspectos
físicos e limites territoriais da Galiléia.
“Nos tempos
do Novo Testamento, Israel era dividido em três regiões principais. No centro
estava Samaria, habitada por um povo miscigenado (de raça mista) e sincretista
(de religião misturada), odiado pelos judeus. No sul estava a Judeia, região
nobre, onde ficava o templo, o sinédrio, os principais mestres da lei, as
melhores faculdades, as pessoas mais ricas e influentes. Ali estava Jerusalém,
onde aconteciam as concorridas festas judaicas, e outras influentes cidades
como Jericó, Hebrom e Cesareia. No norte estava a Galileia, região dos pobres,
iletrados, menos privilegiados, simples pescadores, trabalhadores braçais,
gente desprezada e menosprezada, marginalizada e motivo de chacota para os
importantes habitantes do sul. É por isto que quando alguém mencionou que Jesus
era da Galileia os líderes religiosos logo retrucaram: “Da Galileia não se
levanta profeta”. Natanael também questionou: “De Nazaré pode sair alguma coisa
boa?” (Jo 1.46)” (Opção Galiléia – Parte I. Disponível em:http://ultimato.com.br/sites/paralelo10/2010/04/opcao-galileia/. Acesso em: 28 Set, 2018)
2.
Jerusalém no tempo de Jesus. Jerusalém é uma das mais antigas cidades do mundo. É a mais sagrada
cidade da Palestina e tem existido como cidade e como capital, além de lugar
sagrado, há mais de três mil anos. À época de Jesus, Jerusalém contava com uma
superpopulação, sendo que a maioria das pessoas estava desesperada em
decorrência da opressão do Império Romano, da miséria, da opressão aos pequenos
produtores que estavam praticamente falidos, tendo de pagar elevados impostos a
Roma. Nessa época, grande parte da população dependia de esmolas do Templo.
Enquanto o povo comum estava vivendo em situação de extrema pobreza, padecendo
por terríveis privações, os grandes produtores, os grandes comerciantes e as
famílias mais abastadas estavam satisfeitas com o sistema vigente controlado
pelo governo de Roma. Diante desse contexto, o povo judeu aguardava com
ansiedade o Messias que viria em glória, conforme profetizado por Zacarias (Zc
14.4).
Jerusalém significa em hebraico, habitação de paz.
Seu nome é mencionado pela primeira vez nas escrituras em Josué 10.3, onde é
relatada a conquista de Jerusalém, quando Josué derrotou uma coligação de cinco
reis, entre eles o rei Adoni-Zedeque, rei de Jerusalém (Js 10.1-27).
Entretanto, em Gênesis 14.18, encontramos uma referência sobre a cidade, que
aparece com o nome de Salém. De acordo com a tradição, assim era chamada a
capital judaica.
3.
Contexto literário: os Evangelhos. Os quatro primeiros livros do cânon do Novo
Testamento, chamados de Evangelhos, são os registros escritos das primeiras
pregações das Boas Novas a respeito de Cristo. Eles constituem um tipo distinto
de literatura. Não são biografias completas, pois não tentam narrar todos os
fatos da carreira de Jesus; nem são apenas histórias; nem são sermões, embora
incluam pregações e discursos; também não são apenas relatos de notícias. Os
três primeiros Evangelhos – Mateus, Marcos e Lucas – são chamados sinóticos,
termo que vem do grego synoptikos, que significa “ver junto”, “ver da mesma
perspectiva”, “vistos de um ponto de vista comum”. Os Sinóticos apresentam a
vida, os ensinamentos e a significação de Jesus do mesmo ponto de vista, em
contraste com o Evangelho de João, o qual se limita quase inteiramente ao que
Jesus disse e fez na área de Jerusalém.
Os Evangelhos nos dão um retrato completo de quem
Jesus era e realizou, Trazem relatos da vida de Jesus, escritos pelos apóstolos
ou pessoas próximas. Cada um dos Evangelhos apresentam a história de Jesus de
uma perspectiva um pouco diferente. Cada evangelista escreveu aquilo que
julgava ser importante para o seu público. Quanto aos autores, somente João e
Mateus foram apóstolos de Jesus. Marcos era discípulo de Paulo e Lucas, autor
também de Atos, era um médico, amigo de Paulo que escreveu seu evangelho e Atos
para um senhor chamado Teófilo. Hoje tem-se descoberto outros escritos aos
quais chamaram de ‘evangelhos’, no entanto, apenas estes que estão em nossas
bíblias são canônicos, isto é, aceitos pela cristandade como inspirados. Estes
escritos apócrifos foram compostos bem mais tarde e refletem doutrinas
particulares, nem sempre conforme a tradição.
“Evangelho
significa “boa notícia”. O propósito dos quatro evangelhos e contar a boa
notícia sobre Jesus, o Salvador do mundo (Marcos 1:1). Como cada um foi escrito
por uma pessoa diferente, cada evangelho apresenta Jesus de uma perspectiva
diferente, mas sem contradizer uns aos outros. Todos os evangelhos relatam a
morte e ressurreição de Jesus.” (O que são os evangelhos? Por
que existem quatro? Disponível em:https://www.respostas.com.br/os-quatro-evangelhos/.
Acesso em: 29 Set, 2018)
SUBSÍDIO SOCIOLÓGICO
“A Galileia era um região muito mais próspera que a
Judeia e abrigava uma grande população. Os galileus eram menosprezados pelos
líderes religiosos de Jerusalém. Muitos não eram de descendência judaica, pois
seus antepassados foram violentamente convertidos por Alexandre Janeu. Os
galileus estavam mais estreitamente em contato com a realidade diária do
Império Romano, visto que a Galileia situava-se nas grandes rotas comerciais
que cruzavam o Oriente Próximo, e muitos estrangeiros atravessavam a região”
(DOWLEY, Tim. Pequeno Atlas Bíblico.
1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 73).
III. COMO
LER UMA PARÁBOLA
1.
Entendendo a narrativa como a síntese das experiências cotidianas. Uma das questões mais
importantes ao ler uma parábola é procurar entender os elementos culturais
operados em cada uma delas, pois apesar de elas serem uma síntese das
experiências humanas, são histórias contadas a partir de outra cultura e tempo.
Torna-se impossível entender as parábolas sem vinculá-las ao seu contexto
social, pois elas se referem às experiências de pessoas que viveram na época de
Jesus. Para tanto, torna-se necessário identificar a conexão com as estruturas
daquela sociedade. Quase um terço dos ensinamentos de Jesus foi realizado
através de parábolas. Ele contou parábolas sobre a natureza (Mt 13.24-30),
trabalho e salário (Lc 17.7-10), e até sobre casamentos e festas (Mt 25.1-13).
Jesus não falava de forma genérica acerca da busca de Deus pelo perdido, mas
sempre através de histórias de experiências cotidianas, tais como a história
sobre uma mulher que perdera uma de suas dez moedas de prata, e que não
descansou até encontrá-la (Lc 15.8-10).
A interpretação adequada
de uma parábola é de extrema importância, pois somente depois de entendida é
que ela poderá ser aplicada em nossas vidas. A hermenêutica, com seus métodos,
contribui grandemente nesse processo e por isso não devemos negligenciá-los
durante esse processo interpretativo. Grant Osborne (2009, p. 386) nos diz a
respeito: “Sem uma interpretação perde-se o poder da parábola, porque toda
parábola deve ser compreendida antes de ser aplicada. Seu “poder evocativo” é
melhor discernido quando se entende o que Jesus pretendeu; isto é, de acordo
com o pano de fundo do século I e com o contexto do próprio Evangelho. De
qualquer modo, não devemos reduzir a parábola a uma simples análise palavra por
palavra. É preciso preservá-la para que sua capacidade de surpreender e comover
o ouvinte não se perca.” (AprendizemTeologia)
As parábolas constituem aproximadamente 35% dos
ensinos de Jesus nos Evangelhos Sinóticos. Algumas premissas são fundamentais e
servem como um guia, ao nos dedicarmos à tarefa de compreender e interpretar as
parábolas. Para tanto, é importante considerar o contexto, levando em
consideração a audiência, a ocasião e o objetivo específico a qual foi
aplicada. Depois, é preciso procurar a verdade central, deixando os apêndices
de lado, como exemplo, a parábola do Rico Insensato em Lucas 12.13-21, onde
Jesus deseja falar dos perigos da ganância e avareza. Ainda, é necessário fazer
uma aplicação pessoal.
2.
Procurar as declarações explícitas e implícitas do agir de Deus no contexto
literário. Tendo a parábola o objetivo de transmitir uma mensagem e, no caso
específico, tal comunicação procede de Deus, é imperioso que o leitor procure
as declarações explícitas e implícitas do agir de Deus em tal contexto
literário. Somente após esse exercício é possível pensar na aplicação da
parábola.
Certas parábolas têm
reviravoltas chocantes e inesperadas que nos ajuda a entender o ponto de vista
que Jesus estava tentando transmitir. Embora uma leitura cuidadosa geralmente
exponha os detalhes especiais, às vezes esses detalhes são difíceis de pegar,
devido às diferenças culturais e nossa pouca familiaridade com as parábolas. Um
exemplo de um detalhe importante e surpreendente é encontrada na parábola do
servo impiedoso. Mt 18. 23-35. O detalhe surpresa desta parábola é a diferença
entre os montantes de dinheiro perdoados pelo rei e pelo servo (milhares de
reais em comparação com milhões de reais), o que mostra a grande magnitude do
perdão de Deus e como isso deve nos levar a perdoar os outros.
3.
Identificar a aplicação prática da parábola. Uma vez que a maneira predileta
de Jesus ensinar era através de parábolas, tais textos contêm lições profundas
e de aplicação prática no campo da ética e da vida espiritual das pessoas. Por
meio de suas parábolas Jesus levou aos seus ouvintes a mensagem de salvação,
conclamando-os a se arrependerem e a crerem. Aos crentes, desafiava-os a
colocarem a fé em prática, exortando seus seguidores à vigilância. Quando seus
discípulos tinham dificuldade para entenderas parábolas, Jesus as interpretava
(Mc 4.13-20). Assim, uma boa maneira de identificar a aplicação prática de uma
parábola é fazer as seguintes perguntas: Para quem a parábola foi contada? Por
que a parábola foi contada? Qual é a moral da parábola? Existe algum ponto
culminante na parábola? Alguma interpretação é dada na passagem para a
parábola?.
“Jesus
ensinava com parábolas com dois propósitos principais: para explicar a verdade
para alguns (ver Lucas 10:36-37) e para manter a verdade escondida dos outros
(ver Marcos 4. 10-12 abaixo). Para aqueles ansiosos para seguir a Deus, as
parábolas eram ilustrações memoráveis de um princípio de reino. Para aqueles
que se opõem aos planos de Deus, o significado das parábolas estaria escondido
em uma forma de julgamento”. (Filhos de Ezequiel). “É necessário, então, mais cuidado durante o
processo interpretativo de uma parábola. O leitor na busca de uma compreensão
mais adequada e real do ensino de Jesus deve estar disposto a buscar os pontos
de referências e reconstruir todo o cenário original em que a parábola foi
apresentada por Cristo aos seus ouvintes. O nosso contexto por se encontrar tão
distante do original atrapalha a nossa compreensão da reação do público e uma
reconstrução do cenário para os nossos dias seria de uma grande ajuda para um
melhor entendimento” (AprendizemTeologia).
SUBSÍDIO HERMENÊUTICO
“Parábola, do grego parabolé, significa ‘colocar ao
lado de’, e leva a ideia de colocar uma coisa ao lado de outra com o objetivo
de comparar. A parábola envolve uma contradição aparente apresentada em forma
de narração, relatando fatos naturais ou acontecimentos possíveis, sempre com
objetivo de declarar ou ilustrar uma ou várias verdades importantes” (BENTHO,
Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e
Descomplicada. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, p.321).
CONCLUSÃO
Não há como perceber,
nem entrar, no Reino de Deus, sem ter nascido de novo (Jo 3.3-8), por isso, a
salvação da alma é parte integrante das parábolas. Você já renasceu? Já se
arrependeu dos seus pecados e confiou em Jesus Cristo e em seu sacrifício pelos
seus pecados? Você conhece o Rei deste Reino? Seu coração já se prostra diante
deste Rei? Ou vive em rebeldia contra Ele ainda? Os verdadeiros súditos
reconhecem a soberania do Rei e submetem-se a ela.
O Mestre Jesus não deixou nenhum escrito de sua
própria autoria, todo o seu ensino foi registrado pelos evangelistas e grande
parte dele foi dado por meio de parábolas. Não podemos esquecer que a intenção
das parábolas é transmitir uma verdade eterna, então, usam elementos diários de
tal forma que ainda hoje, podem ser facilmente entendidas por todos. Permanece
ainda, a verdade de que sua compreensão só é possível mediante a iluminação do
Espírito Santo, por que as coisas de Deus só são perfeitamente compreendidas
por quem é espiritual. As perguntas do comentarista são pertinentes. Se você
não sabe como ter a certeza de que nasceu de novo, faça este exame rápido:
- Ouve a palavra de Deus? - João 8.47;
- Crê no Filho de Deus? - 1João 5.1;
- Ama a Jesus Cristo? - João 8.42; João 14.23; 1João 5.3;
- Ama os irmãos? - 1João 4.7, 5.1; João 13.35;
- É um pacificador? Isaías 57.21; Gl 5.17;
- Conserva-se a si mesmo? - 1João 5.18; 1Pd 1.5;
- Pratica a justiça: - 1João 2.29; Rm 8.3-4;
- Não vive na prática de pecado? - 1João 3.9; João 3.6 e Rm 7.20.
- É corrigido? - Hb 12.5-8.
- Vence o mundo? - I João 5:4Você já nasceu de novo? Examine-se à luz da
Palavra de Deus. "Aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de
Deus." João 3:3
“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a
tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome
sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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