sábado, 20 de janeiro de 2018

LIÇÃO 3: A SUPERIORIDADE DE JESUS EM RELAÇÃO A MOISÉS

 
SUBSÍDIO I

1. Recapitulando a lição anterior. iPrezado professor, prezada professora, sempre é importante situar o aluno no assunto novo que será introduzido. A melhor maneira de fazer isso é a partir de um processo de recordação do conteúdo dado até aqui.
Lembre-os dos destinatários da carta, ou seja, uma igreja que está certamente desanimando na fé, bem como do propósito dela: animar os crentes hebreus em perseverar na doutrina de Cristo. O aluno tem que ter sempre em mente o propósito e para quem a carta foi originalmente escrita. Esse processo é muito importante para a compreensão inteira do conteúdo da carta.
Assim, mostre que na aula passada, dando continuidade a esse propósito, vimos que a igreja é instada a ser perseverante em Cristo, porque Ele, em primeiro lugar, foi quem anunciou uma tão grande salvação (Tópico 1): anunciada pelo Senhor, depois, proclamada pelos apóstolos – “pelos que a ouviram” – e também confirmada pelo Espírito Santo com sinais, milagres, maravilhas e distribuições dos dons concedidos à Igreja. Em segundo, mostre que no Tópico 2 vimos a necessidade dessa tão grandiosa salvação revelada por meio do processo de humanização (“encarnação”) de nosso Senhor, de seu sofrimento e padecimento, bem como de sua glorificação. Por fim, vimos a eficácia desse plano da salvação no Tópico 3, pois nosso Senhor venceu o Diabo, venceu a morte e venceu a tentação, por isso, Ele nos socorre quando somos tentados.
Deixe claro que o autor de Hebreus está com a mente voltada para a importância da pessoa de Jesus Cristo. Recorde ao aluno que o argumento do escritor tem Cristo como centro desde o capítulo um (Cristo maior que os profetas [vv.1-4] e os anjos [vv.5-14]) até o capítulo dois (Cristo é quem anunciou a tão grande salvação [vv.1-18]); e continua assim no capítulo três, agora, tendo como destaque a supremacia de Cristo em relação ao legislador de Israel, Moisés.

2. Um ponto importante para ser enfatizado. Quando de sua preparação da aula, após estudar o Tópico 1 – em que o objetivo do comentarista é mostrar a tarefa de Cristo (em relação a vocação, missão e mediação) como ação superior a de Moisés – e o Tópico 2 – em que o comentário da revista preocupasse em destacar a autoridade de Cristo (que diferente de Moisés: era o Construtor, não só administrador; era o Filho, não servo; e estabeleceu uma igreja viva, não um tabernáculo) –, e antes de passar para o Tópico 3, leia e reflita sobre o seguinte texto: “O livro de Hebreus considera a possibilidade de permanecer firme na fé ou de abandoná-la como uma escolha real, que deve ser feita por cada um dos leitores; o autor ilustra as consequências da segunda opção referindo-se à destruição dos hebreus rebeldes no deserto após sua gloriosa libertação do Egito” (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento, CPAD, p.1559). Esse texto o ajudará a refletir sobre a importância do terceiro tópico que versará sobre a singularidade da mensagem de Jesus e o perigo de que os crentes correm quando a ouvem, mas não atende; veem, mas não creem; começam, mas não terminam. O autor deixa claro que a possibilidade de acontecer com os crentes da presente dispensação a mesma coisa que aconteceu com o povo da dispensação anterior é real: “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (Hb 3.12,13).

3. Para embasar melhor este argumento, leia esse trecho do livro do comentarista da lição. “O termo grego apostenai (apartar),usado aqui em Hb 3.12 é o infinitivo aoristo do verbo aphistemi, que ocorre quatorze vezes no Novo Testamento grego, significando: cair, deixar, afastar.ii É desse verbo que se origina a palavra apostasia. A apostasia é definida “como a rejeição deliberada de Cristo e de seus ensinamentos por parte de um cristão (Hb 10.26-29; Jo 15.22)”. iii(Veja um estudo completo dessa palavra no Apêndice). A Bíblia de Estudo Harper Collinsdestaca que “a admoestação para ser cuidadoso (ver também 12.25) é comum no NT. Para o perigo de desviar-se, ou apostatar, veja Nm 14.9, que trata da geração do deserto, e Mt 24.10-12. Um jogo de palavras gregas ligando o desviar-se (apostenai) e o coração incrédulo (apistias)”.iv  Como ficará demonstrado posteriormente, há uma relação da queda da fé aqui retratada com aquela sobre a qual o autor voltará a tratar no capítulo 6.4-6 (veja apêndice no final deste livro). Adam Clarke observa oportunamente que a nossa participação na glória depende de nossa firmeza na fé até o final de nossa carreira cristã.  Jesus alertou que de dentro do coração do homem é que procedem as coisas más. “Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt 15.19). É por isso que os cristãos necessitam de vigilância e estimular uns aos outros.”
“Antes, exortai-vos uns aos outros todos os dias, durante o tempo que se chama Hoje, para que nenhum de vós se endureça pelo engano do pecado” (v.13).O sentido do texto aqui é o de que os cristãos não permitam que seus corações sejam seduzidos pelo pecado. O autor usa o termo grego parakaleo, isto é, chamar à parte para consolar, para se referir à necessidade do encorajamento contínuo. William Barclay observa que este mesmo termo era usado por um militar para estimular as suas tropas.vi  Joseph Benson observa que alguns passos devem ser tomados para se por em prática as palavras do autor de hebreus:

(1) Uma profunda preocupação com a salvação de cada um e o crescimento na graça; (2) Sabedoria e entendimento nas coisas divinas; (3) Cuidado para que somente palavras de verdade e sobriedade sejam ditas, porque somente essas palavras serão recebidas como tendo autoridade e alcançarão os fins desejados; (4) Evitar aquelas expressões rudes e severas que expressam indelicadeza; em vez disso usar palavras brandura, compaixão, ternura e amor. Pelo menos para aqueles que estão dispostos a reconhecer a vontade de Deus; (5) Evitar falar com leviandade e sempre falar com seriedade; (6) Prestar atenção ao tempo, lugar, pessoas e ocasiões; (7) Ser exemplos para as pessoas exortadas; (8) Devemos ser incansáveis nesse dever  e exortar um ao outro diariamente. Não somente em reuniões feitas para isso, mas em todo e qualquer lugar, sempre que estivermos em companhia um do outro.vii

Essas exortações se tornam relevantes porque para o autor o cristão se tornou um participante de Cristo” (Trecho extraído da obra “Ânimo, Esperança e Fé em Tempos de Apostasia:Um estudo na carta aos Hebreus versículo por versículo”, editada pela CPAD.).

SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Os crentes hebreus tinham Moisés na mais alta estima, por considerarem ter sido ele um fiel servo de Deus, e mediador de uma sublime aliança. Em resposta a esse postulado, o autor da Epístola aos Hebreus destaca que Cristo é superior a Moisés, pois aquele foi o edificador da Casa, enquanto que este foi apenas um servo. Na lição de hoje, a partir de elementos comparativos, destacaremos o papel desses dois personagens, ressaltando Cristo, como servo de uma aliança superior.
                                                                                                       
1. O APOSTOLADO DE CRISTO

O autor da Epístola aos Hebreus se dirige aos “irmãos santos”, considerando que esses foram santificados por Cristo (Hb. 3.1). Essa referência mostra que eles se encontravam em uma condição privilegiada, tendo se tornado participantes (gr. metachoi) de uma vocação celestial (Hb. 6.4; 12.8). Jesus é o enviado de Deus, a fim de realizar uma obra sublime, superior àquela desenvolvida por Moisés. Isso porque Deus nos falou, nesses últimos dias, através do Seu Filho (Hb. 1.2). Por esse motivo, somos advertidos a confessar que Cristo é o Senhor, apóstolo e sacerdote de Deus. Jesus é alguém que se identifica conosco, que conhece nossas limitações, Ele sabe o que é padecer (Is. 53). É o enviado de Deus não apenas para proclamar a verdade, mas também para manifestá-la (Hb. 1.2,3). Ele veio para estabelecer uma casa, na qual constituiu filhos, irmãos e irmãs, na edificação de uma família (Hb. 3.6). Por causa dessa realidade, somos advertidos a manter nossa confissão (gr. homologia), colocando nossa confiança nEle, a fim de que possamos desfrutar da segurança eterna. Não apenas em condições favoráveis, mas também em situações difíceis, semelhantes àquelas que passavam os crentes hebreus. Os cristãos devem professar o senhorio de Cristo em suas vidas, e saber que isso não lhes garantirá qualquer benefício, na verdade, em alguns contextos, identificar-se como cristão pode trazer muito problemas. Mas é o que devemos fazer, para não sermos envergonhados na eternidade (Mt. 10.32-29).

2. MOISÉS E JESUS, MISSÕES COMPARADAS

É inegável o papel que Moisés exerceu na fé judaica, sendo respeitado por ter comunicado a palavra de Deus ao povo. O pressuposto era o de que os anjos haviam declarado a Lei, e Moisés a entregou lealmente ao povo (Hb. 3.2,5). Mas Jesus obteve maior glória que Moisés, pois este foi um servo temporário, enquanto Cristo é o Filho eternamente. Moisés não passou de uma testemunha que testificou das coisas que iriam acontecer posteriormente, enquanto que Cristo é a própria revelação (Hb. 1.1,3). Moisés foi um mordomo na casa, mas Cristo era o próprio dono. Por isso Moisés tinha apenas parte na casa, Cristo, por sua vez, foi o Construtor (Hb. 3.6). Moisés foi um servo fiel e amoroso a Deus, mas Cristo era e é Deus eternamente. Sendo assim, desconsiderar Cristo e retornar para Moisés representava, no contexto da Epístola aos Hebreus, bem como na aos Gálatas (Gl. 1.7-9), voltar do Maior para o menor, abandonar o eterno em favor do temporário. Por analogia, seria como sair do Ensino Médio e retornar para o Ensino Fundamental. Portanto, os crentes hebreus deveriam lembrar que deixar Cristo seria abandonar a casa de Deus, e perder a segurança que Ele mesmo proveu. Não é difícil encontrar nestes dias, em alguns arraiais evangélicos, líderes que querem substituir a graça de Cristo pelo legalismo judaico. Existem até aqueles que querem transformar a igreja em verdadeiras comunidades judaicas, restaurando rudimentos antigos, que não fazem sentido, nem têm respaldo bíblico, à luz do evangelho de Jesus.

3. UMA ADVERTÊNCIA À PERSEVERANÇA

O autor da Epístola aos Hebreus adverte os crentes para que atentem para o passado de Israel, que endureceu seu coração diante da palavra de Deus (Hb. 3.7). Os cristãos, naqueles tempos difíceis, bem como nos dias atuais, devem manter a confiança em Deus até o fim (Hb. 3.14). O perigo da apostasia ronda os arraiais cristãos, e não poucos, por causa da perseguição, abandonam a fé. Com base no Sl. 95, o autor mostra o juízo que sobreveio a uma geração porque não creu na Palavra de Deus. Em Ex. 17 e Nm 20, os israelitas esqueceram e se rebelaram contra o Senhor, trazendo sobre eles mesmos as penalidades da transgressão. Essa mensagem é bastante contundente ainda hoje, considerando que muitos não estão levando a sério a Palavra de Deus. Há pessoas que aderem com facilidade a determinados modelos evangélicos, sobretudo aqueles que prometem prosperidade material, mas se distanciam do convívio cristão, tão logo passam pela primeira provação. No cristianismo não é importante apenas começar bem, é preciso também terminar bem. De nada adiante começar pelo Espírito, mas finda na carne. A fé cristã deve estar alicerçada na Palavra de Deus, e não em nossos sentimentos enganadores, muito menos em milagres, que ao invés de fortalecerem a confiança, podem nos tornar dependentes deles. Os israelitas viram muitos sinais durante a peregrinação pelo deserto, mas esses não foram suficientes para mantê-los firmes na Palavra.

CONCLUSÃO

A palavra de Deus deve ser ouvida constantemente, não podemos incorrer no risco de nos afastar dessa grandiosa salvação. Se por um lado, podemos desfrutar positivamente do livramento que nos foi dado pelo Senhor, por outro, negativamente, poderemos trazer condenação sobre nós, caso venhamos a desistir da caminhada. Portanto, quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas, e “se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como na provação” (Hb. 3.15).
 
Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog subsidioebd
COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

O autor dá início ao capítulo três fazendo um contraste entre Moisés e Cristo. Ele estava consciente da grande estima que seus compatriotas tinham pela figura do grande legislador hebreu, Moisés. Em nenhum momento desse contraste o autor deprecia a pessoa de Moisés, mas sempre o coloca como um homem fiel a Deus na execução de sua obra. Entretanto, mesmo tendo assumido a grande missão de conduzir o povo rumo à Terra Prometida, Moisés não poderia se equiparar a Jesus, o Autor da nossa fé. O contraste entre Moisés e Cristo é bem definido: Moisés é visto como um administrador da casa, Jesus como Edificador; Moisés é retratado como servo, Jesus como Filho; Moisés foi enviado em uma missão terrena, Jesus numa missão celestial, eterna. 
Como já exposto nas lições anteriores, os crentes hebreus estavam enfrentando um esfriamento na fé e pensando em abandonar a fé voltando ao judaísmo. Numa época  de intensa perseguição e dificuldade para os cristãos “… Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a igreja em Jerusalém; e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria” (At 8.1).

“[...] No capítulo 1 de Hebreus, o autor afirmou que Jesus é superior tanto aos outros profetas de Deus como aos anjos. Ele continua sua afirmação no capítulo três, observando que Jesus é superior até mesmo a Moisés! Os judeus tinham muito respeito por Moisés, porque ele recebeu a velha lei de Deus e o escritor de Hebreus reconhece sua fidelidade. Mas Jesus é superior até mesmo a Moisés, do mesmo modo que o construtor de uma casa tem mais honra do que a casa que ele constrói (3:3), assim como o filho do dono da casa é superior a um servo daquela casa (3:1-6). De fato, é sua casa! O escritor fala da igreja (3:6- “qual casa somos nós”; veja também 1 Timóteo 3:15). Mais tarde, no livro, o escritor estenderá este argumento da superioridade de Jesus, observando que sua aliança é também superior àquela dada através de Moisés (capítulos 9 e 10). (DVORAK. Allen, O Livro de Hebreus. ©1996. Estudo Textual: Hebreus 3:1-4:16 Um Descanso Permanece. Disponível em:https://www.estudosdabiblia.net/hebreus.htm#Hebreus 2:1-18. Acesso em 10 jan, 2018)

Pelo que, santos irmãos, participantes da vocação celestial, considerai o Apóstolo e Sumo Sacerdote da nossa confissão, Jesus” (3.1). O autor utiliza um ‘Imperativo Afirmativo’ – ‘Considerai’, (“julgar; caracterizar determinada coisa”; “fazer julgamentos”; “Não desprezar; ter em conta”; “Respeitar; demonstrar respeito por”), para exortar  aqueles crentes para que fixem-se em Jesus; olhem para Jesus. Jesus Cristo é o alvo a ser alcançado, não deveriam olhar para trás. Jesus é superior à Moisés, é o Apóstolo, o enviado e pontífice da fé que professamos; Ele é o Sumo Sacerdote, Aquele que faz expiação por nós, que intercede diante de Deus em nosso favor. Julguem, não desprezem, demonstrem respeito por Aquele que cumprirá o nosso chamado “celestial”. Ele nos conduzirá para a glória (Hb 2.10).

I. UMA TAREFA SUPERIOR
                                
1. Uma vocação superior. O autor introduz a seção vv.1-6 tomando como ponto de partida o que havia dito anteriormente — Jesus era o autor e mediador da nossa salvação (Hb 2.14-18). Tomando por base esse conhecimento, seus leitores, a quem ele chama afetuosamente de irmãos santos, deveriam ficar atentos ao que seria dito agora (Hb 3.1). Eles não eram apenas um povo nômade pelo deserto escaldante à procura da Terra Prometida, mas herdeiros de uma vocação celestial. Eles deveriam se lembrar de quem os fez aptos e idôneos dessa vocação. Nesse aspecto, os leitores de Hebreus não deveriam ter dúvida alguma de que Jesus, como Aquele que os conduzia ao destino eterno, era em tudo superior a Moisés, a quem coube a missão de conduzir o povo à Canaã terrena.

Moisés foi o líder durante toda a peregrinação de Israel no deserto por 40 anos. Nos relatos de Êxodo e Deuteronômio podemos ver a dureza de coração e a incredulidade do povo de Israel, que mesmo experimentado portentosas demonstrações de poder de Yahweh, quando graciosamente foram libertos sob Moisés, com sinais e prodígios (pragas e abertura do Mar Vermelho), não hesitavam em olhar para traz e pecar contra Deus. Moisés liderou esse povo de ‘dura cerviz’ ao Monte Sinai onde Deus lhes deu a Lei com grandes demonstrações de poder (fogo, trovões, sonido), e do Sinai, levou-os à entrada da terra prometida. O autor da carta aos Hebreus destaca a fidelidade de Moisés na condução do povo bem como para com Deus, mas como servo. Agora, ele nos faz ver que Cristo é superior a Moisés, porque ele é Filho, o Filho de Deus, o Criador de todas as coisas. O Novo Testamento está recheado de referências falando sobre que Cristo é efetivamente Filho de Deus. Aliás, ele é o Filho Unigênito de Deus em essência, porque não foi gerado por um homem, mas pelo Espírito Santo de Deus.

DA ESPERANÇA ATÉ O FIM. O evangelho nos ensina que somos salvo em esperança, e isso nos faz olhar para o futuro e com plena fé ter a certeza que Cristo nos levará para si mesmo (João 14:2-3). O segredo não está em simplesmente levantar a mão aceitando a Cristo como Salvador, mas sim, em tê-lo aceito como Senhor, porque quem aceita a Cristo como Senhor, não faz mais a sua própria vontade, mas a vontade soberana de Deus.” (COMENTÁRIO DO NOVO TESTAMENTO Versículo Por Versículo, Hebreus 3.6. Disponível em: http://comentarionovotestamento.blogspot.com.br/2017/03/hebreus-36.html. Acesso em 6 jan, 2018)

2. Uma missão superior. O autor pela primeira vez usa a palavra apóstolo em relação a Jesus (Hb 3.1). A palavra apóstolo se refere a alguém que é comissionado como um representante autorizado. Não havia dúvida de que Moisés havia sido um enviado de Deus em uma missão, todavia, ele não foi o "apóstolo da grande salvação". A missão de Moisés foi tirar o povo de dentro do Egito e conduzi-lo à Terra Prometida, mas a missão de Jesus é a de conduzir a Igreja à Canaã celestial. A missão mosaica era daqui, a Canaã terrena; a missão de Jesus possuía uma vocação celestial. Cristo não foi apenas um enviado em uma missão, mas acima de tudo, o apóstolo da nossa confissão, alguém com autoridade na missão de nos conduzir ao destino eterno.

O capítulo três começa chamando nossa atenção para os papéis de Jesus como Apóstolo e Sumo Sacerdote. Apóstolo é uma palavra grega que significa aquele que é enviado, mensageiro ou embaixador. Aquele que representa a quem o enviou. Este título é aplicado a Cristo somente neste lugar no Novo Testamento, e enfatiza o fiel cumprimento da missão que o Pai lhe deu (veja o versículo 2; 10.5-16; Jo 6.38). O capítulo 4 termina encorajando o cristão a conservar-se firme na sua confissão e apelar para seu Sumo Sacerdote, por auxílio no tempo da necessidade (4:14-16).

Com referência a Nm 12.7Moisés e Cristo são comparados quanto à finalidade e contrastados quanto à honra. Embora privilegiado para falar face a face com Deus e ver a sua forma (Nm 12.8), Moisés era apenas um     ‘servo’ na casa de Deus (v. 5). Cristo, porém, como agente da Criação (1.2,10), merece a honra como o Construtor divino de todas as coisas e ‘como Filho, em sua casa’ (v. 6).” (Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. Nota textual Hebreus 3.2-6. Pág. 1466.)

Assim, é garantida nossa chegada à Canaã Celestial, pois Cristo não foi apenas o enviado com uma missão, mas o enviado para a religião cristã! ‘Confissão’ em 3.1 é uma metonímia, a coisa professada, isto é, Jesus a quem professamos. Hebreus 4.14 tem um uso semelhante da palavra, porque os leitores são ordenados a conservarem firme a sua confissão, mais uma vez com referência a Jesus como Sumo Sacerdote.


3. Uma mediação superior. Depois de afirmar que Jesus era "o apóstolo", o autor também diz que Ele é o "sumo sacerdote da nossa confissão". Jesus era superior a Moisés, não apenas em relação à missão, mas também em relação à função que exercia. O autor fará um contraste mais detalhado entre o sacerdócio de Cristo e o araônico mais adiante, mas aqui os crentes deveriam ter em mente que a mediação de Jesus era em tudo superior ao sistema mosaico e levítico. Cristo era o mediador da nossa confissão. A palavra "confissão" traduz o termo original homoiogia, que tem o sentido primeiro de "concordância". Quando confessamos Jesus como Salvador, concordamos que Ele em tudo tem a primazia. Ele é o Senhor. Ele é maior do que tudo e do que todos; Ele, e somente Ele, é a razão do nosso viver.

O autor chama a Cristo de Sumo Sacerdote e o compara ao sumo sacerdote judeu, por ter se oferecido a si mesmo como o sacrifício pelos pecados (Hb 9.7, 11, 12). Cristo é Sumo Sacerdote de acordo com a ordem de Melquisedeque, (Cap. 5 e 6), e no capítulo 7, o autor explica por que Jesus não pertence à ordem Aarônica e sim à ordem segundo Melquisedeque. O Antigo Testamento esclarece o ofício de um sumo sacerdote como representante dos homens, entrando na presença do Senhor para oferecer sangue em benefício dos pecadores.

“De conformidade com o propósito do escritor de Hebreus, Jesus é apresentado como um sumo sacerdote superior aos sacerdotes levitas. Os sumos sacerdotes do Velho Testamento, oferecendo sangue pelos pecados do povo, eram, eles mesmos, realmente pecadores (Hb 5.1-3; 7.26-27). Antes que o sumo sacerdote pudesse fazer intercessão pelo povo no Dia da Expiação, ele tinha que oferecer um novilho pelos seus próprios pecados. Jesus, contudo, ainda que tentado, era sem pecado (Hb 2.18;4.15;7.26). Ainda mais, Jesus não fica impedido pela morte em seu serviço como sumo sacerdote. Os sacerdotes do Velho Testamento, sendo homens, morriam e o serviço de sumo sacerdote era passado ao próximo homem apontado pelo mandamento da Lei de Moisés. Jesus vive para sempre e é assim capaz de continuar com seu serviço sacerdotal tanto tempo quanto for necessário (Hb 7.23-25). Até mesmo o local do seu serviço é superior, sendo um tabernáculo celestial em vez de um físico. Jesus pode entrar na presença de Deus sem uma nuvem de incenso para protegê-lo porque ele não tem pecado. Obviamente, o serviço sacerdotal de Jesus é superior em outro ponto importantíssimo. Jesus não ofereceu diante de Deus o sangue de um animal, um sacrifício inadequado para o perdão (Hb 10.4). Em vez disso, ele ofereceu seu próprio sangue, assim tornando-se tanto o sacerdote como o sacrifício (Hb 9.11-12, 28)! Pelo fato de seu sacrifício ter sido adequado para o perdão dos pecados, precisou ser feito somente uma vez, em contraste com os sacrifícios dos sacerdotes do Velho Testamento, que eram oferecidos ano após ano (Hb 9.12,24-28;10.10-14). No tabernáculo e no templo do Velho Testamento, somente o sumo sacerdote podia entrar no Santo dos Santos, uma vez por ano, sempre com sangue como oferenda pelo pecado. Agora, contudo, o caminho para o Santo dos Santos celestial está aberto por causa da obra sacrifical de Jesus. Deus mostrou o significado da morte de Jesus rasgando o véu que separava o Santo dos Santos do Santo Lugar quando Jesus morreu (Mt 27.51). O privilégio de entrar e habitar na presença de Deus no céu está disponível a todos através do sangue de Jesus Cristo (Hb 10.19-22). Assim como Jesus em sua pureza entrou na presença de Deus, também podemos entrar na presença de Deus purificados pelo sangue de Jesus Cristo. Deus seja louvado por esta maravilhosa esperança!”    (DVORAK. Allen, Jesus: Perfeito Sumo Sacerdote. Disponível em: https://www.estudosdabiblia.net/d48.htm. Acesso em 6 jan, 2018)

SUBSÍDIO DIDÁTICO
                               
Prezado(a) professor(a), inicie a aula desta semana fazendo as seguintes perguntas:
a) O que Moisés representou para o povo de Israel?
b) Qual foi o papel de Moisés no estabelecimento da Antiga Aliança de Deus com o seu povo?
c) Por que Moisés é uma autoridade respeitada na história de Israel?
Ouça as respostas dos alunos e em seguida faça um resumo abordando as respostas das três perguntas a fim de amarrar as informações. A ideia dessa atividade é familiarizar a classe com Moisés a fim de, a partir da importância dele para o povo judeu, destacar a magnitude de Jesus Cristo como o mediador da Nova Aliança.

II. UMA AUTORIDADE SUPERIOR

1. Construtor, não apenas administrador. O autor destaca que tanto Moisés como Jesus foram fiéis na "casa de Deus" (Hb 3.2). Eles foram fiéis na missão que lhes foram confiada. Isso mostra o apreço que o autor possuía pelo legislador hebreu. Todavia, ao se referir a Jesus, o autor usa a palavra grega aksioô, traduzida como "digno", "valor", "mérito". Duas coisas precisam ser destacadas no uso desse vocábulo pelo autor. Primeiramente ele quer mostrar que o mérito de Jesus era maior do que o de Moisés. Nosso Senhor era o construtor do edifício, da casa de Deus, e não apenas o mordomo, como fora Moisés. Os crentes precisavam enxergar isso e, assim, valorizarem mais a sua salvação. Por outro lado, ao usar o pretérito perfeito (tempo verbal grego), ele demonstra que a glória de Moisés era desvanecente, enquanto a de Jesus era permanente.

A comparação é ressaltada pela declaração de que aquele que estabeleceu a casa é maior do que a própria casa. Há duas interpretações para quem seja o ‘construtor’. A primeira afirma que é Jesus, já que Ele está sendo comparado à Moisés, neste caso, a comparação é entre Jesus, o edificador da casa, e Moisés, a casa que Ele edificou. Uma segunda interpretação identifica Deus como o edificador, o que é apoiado pelo v. 4.

A implicação necessária é que Jesus é o construtor da casa e, portanto, que ele é divino (v. 4). Este texto indica tanto a identidade de Cristo como Deus (‘que a estabeleceu’) quanto a sua distinção pessoal do Pai (v. 6)”. (Bíblia de Estudo de Genebra. São Paulo e Barueri, Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. Nota textual Hebreus 3.2-6. Pág. 1466.)

Talvez haja aqui a ideia de Jesus Cristo como Fundador da Sua casa, a igreja. Ainda que, não é o caso fazermos nenhuma distinção entre o Pai e o Filho aqui, porque é Deus quem funda Sua própria casa, mas o faz através do Seu Filho.

Deve ser notado que a combinação de glória e honra neste versículo corresponde não somente à citação do Salmo 8 em 2.7, como também ao louvor ao Cordeiro pelos seres viventes em Apocalipse 5.12-13 (cf. também Ap 4.9, 11; 7.12). Mesmo assim, no presente versículo “glória” é aplicada às pessoas e “honra” à casa e ao edificador, presumivelmente porque “glória” seria uma ideia menos apropriada a aplicar a uma construção ou ao seu construto.” (GUTHRIE, Donald.Hebreus introdução e comentário – Ed Vida Nova e Mundo Cristão. Disponível em: https://teologiaediscernimento.files.wordpress.com/2014/08/hebreus-introduc3a7c3a3o-e-comentc3a1rio-donald-guthrie.pdf. Acesso em 6 jan, 2018)

2. Filho, não apenas servo. O autor sabe da grande estima que Moisés possuía dentro da comunidade judaico-cristã e por isso é extremamente cuidadoso no uso das palavras. “E, na verdade, Moisés foi fiel em toda a sua casa, como servo, para testemunho das coisas que se haviam de anunciar; mas Cristo, como Filho, sobre a sua própria casa; a qual casa somos nós, se tão somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim” (Hb 3.5,6). Em vez de usar o termo doulos (servo), vocábulo usado para se referir a um escravo ou serviçal, ele usa outro vocábulo, therápôn. Essa palavra só aparece aqui no Novo Testamento e é traduzida como servo ou ministro. A ideia expressa é de um serviço que é prestado de forma voluntária entre duas pessoas que se relacionam bem. Assim era Moisés com o seu Deus. Mas o autor deixa claro que esse relacionamento de Moisés com Deus não podia se equiparar ao de Deus com o seu Filho, Jesus.

Outra linha de argumento agora é introduzida para reforçar a posição superior de Cristo sobre Moisés — a diferença entre um Filho e um servo.33 Mais uma vez, a fidelidade de Moisés é enfatizada de uma maneira que sugere nada mais de que um servo. A palavra traduzida “servo” aqui não é o teimo usual doulos que é usado noutras partes do Novo Testamento, mas, sim, therapôn que ocorre somente aqui. Refere-se a um “serviço pessoal prestado gratuitamente. É uma palavra de mais ternura do que doulos e não subentende as implicações de servilidade desta última palavra. Mesmo assim, o assistente pessoal não pode compartilhar da mesma categoria do Filho. No caso de Moisés, o servo tinha uma tarefa importante a realizar, para dar testemunho do que havia de se seguir. Noutras palavras, aquilo que Moisés representa na história judaica não é completo em si mesmo. Apontava para o futuro, para uma revelação mais plena de Deus num tempo posterior, i.é, diz respeito a coisas que haviam de ser anunciadas, expressão esta que deve indicar o tempo de Cristo. A missão do servo, por mais grandiosa que fosse, prepara o caminho para a missão muito maior do Filho.
A fidelidade de Cristo é repetida para ressaltar sua superioridade à de Moisés, em virtude da Sua Filiação. Como Filho ecoa o tema principal da parte inicial da Epístola. O escritor está impressionado pelo pensamento de que nosso Sumo Sacerdote não é outro senão o Filho de Deus. Isto ficará evidente em vários momentos no desenvolvimento da sua discussão. Para ele, a Filiação de Jesus acrescenta dignidade incomparável ao ofício sumo-sacerdotal. (GUTHRIE, Donald. A Carta aos Hebreus - Introdução e Comentário por - Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão. Disponível em:https://teologiaediscernimento.files.wordpress.com/2014/08/hebreus-introduc3a7c3a3o-e-comentc3a1rio-donald-guthrie.pdf. Acesso em 6 jan, 2018).

3. Uma igreja, não apenas tabernáculo. Alguns autores entendem que a expressão “casa de Deus” usada em relação a Moisés pode se referir ao tabernáculo como centro do culto mosaico no deserto, enquanto outros veem como uma referência à antiga congregação do povo de Deus do êxodo. Em todo caso, a ideia gira em torno do povo de Deus que adora na Antiga Aliança. Moisés foi um ministro de Deus no culto da congregação do deserto. Mas Jesus, como Filho é o ministro da Igreja, o povo de Deus na Nova Aliança, “a qual casa somos nós” (Hb 3.6).

Enquanto ainda pensa na casa de Deus, fica sendo mais específico e identifica seus leitores com a casa, mas estabelece uma condição ao assim fazer: se guardamos firme até ao fim a ousadia e a exultação da esperança. As declarações condicionais nesta Epístola são significantes. O escritor deseja tomar claro que somente aqueles que são coerentes com aquilo que professam têm qualquer direito de fazer parte da “casa”. A palavra traduzida “ousadia” ou “confiança” (parrèsia) é outra ideia característica nesta Epístola. Aqui a implicação é que temos uma certeza sólida à qual podemos apegar-nos. A palavra neotestamentária para “esperança” é muito mais enfática do que o uso normal em português, onde quase não significa mais do que um piedoso desejo que talvez não tenha base real nos fatos. Tal tipo de esperança dificilmente forneceria uma base satisfatória para a exultação. Ninguém vai exultar numa coisa que não tem certeza de que irá acontecer. O escritor está suficientemente convicto da certeza da esperança cristã para usar uma expressão enfática (tokauchéma, jactância exultante) para descrever a atitude do cristão para com ela. Vale notar que a ousadia da qual aqui se fala é referida outra vez no fim da discussão teológica e no começo da aplicação (cf. 10.19). A mesma ideia de “guardar firme” que é usada aqui ocorre lá na forma de uma exortação. (GUTHRIE, Donald. A Carta aos Hebreus - Introdução e Comentário por - Sociedade Religiosa Edições Vida Nova e Associação Religiosa Editora Mundo Cristão. Disponível em: https://teologiaediscernimento.files.wordpress.com/2014/08/hebreus-introduc3a7c3a3o-e-comentc3a1rio-donald-guthrie.pdf. Acesso em 6 jan, 2018).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“[...] Pedro apresenta Jesus como o Profeta semelhante a Moisés (vv.22,23). Moisés havia declarado: ‘O SENHOR, teu Deus, te despertará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis’ (Dt 18.15). Seria natural dizer que Josué cumpriu essa profecia. Josué, o seguidor de Moisés, realmente veio depois deste e foi um grande libertador de seu tempo. Surgiu, porém, outro Josué (na língua hebraica, os nomes Josué e Jesus são idênticos). Os cristãos primitivos reconheciam Jesus como o derradeiro cumprimento da profecia de Moisés.
No final do capítulo (vv.25,26), Pedro lembra aos ouvintes a aliança com Abraão, muito importante para se entender a obra de Cristo: ‘Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez em nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades’. Claro está que, agora, é Jesus quem traz a bênção prometida e cumpre a aliança com Abraão – e não apenas a Lei dada por meio de Moisés” (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp.307,08).

III. UM DISCURSO SUPERIOR

1. O perigo de ouvir, mas não atender. Seguindo a redação da Septuaginta (tradução grega da Bíblia Hebraica), o autor cita o Salmo 95.7-11 para trazer uma série de advertências. Se o povo de Deus no Antigo Pacto precisou ser exortado, maior exortação precisava os que tinham maiores promessas. Primeiramente havia o perigo de ouvir e não atender (Hb 3.7,8). No passado, o povo de Deus tinha ouvido a mensagem divina; entendido, mas não atendido! O mesmo erro estava se repetindo. O Espírito Santo, falando profeticamente pela boca do salmista, advertia os o leitores para que seus corações não se endurecessem. É um apelo atual, porque o povo de Deus muitas vezes demonstra ser tardio para ouvir.

O autor agora cita o Salmo 95.7-11 e passa a usar numerosas citações e alusões breves a fim de permanecer dentro do alvo de sua exposição e advertir para ‘não endurecer o coração’. o Salmo 95.7 diz: “pois ele é o nosso Deus, e nós somos o povo do seu pastoreio, o rebanho que ele conduz” que se enquadra bem no conceito cristão da igreja como o rebanho de Deus. Mas a exortação subsequente contra a imitação do exemplo dos israelitas introduz uma nota severa de advertência.

2. O perigo de ver, mas não crer. "[...] E viram, por quarenta anos, as minhas obras" (Hb 3.9). Erra quem pensa que só acredita quem vê. Parece que quem muito vê, menos acredita. Acaba ficando acostumado com o sobrenatural. Para algumas pessoas o sobrenatural se "naturaliza". É exatamente isso que aconteceu no deserto e era especificamente isso que acontecera com a comunidade dos primeiros leitores de Hebreus. Tanto Moisés como Jesus foram poderosos em obras, mas isso não era suficiente para segurar os crentes. É preocupante quando o cristão se acostuma com o sobrenatural e nada mais parece impactá-lo ou sensibilizá-lo.

No texto de 3.9 temos uma descrição da desobediência de Israel para lembra-nos contra a doção de uma atitude fixa de desobediência a Deus.

Estas foram duas ocasiões clássicas que se destacam na história de Israel como ocorrências de rebelião contra Deus. A palavra usada para rebelião (parapikrasmos) ocorre no Novo Testamento somente aqui e no v. 15, e vem da raiz pikros (“amargo”); pode ter sido sugerida pelo incidente em Meribá, onde a água foi achada amarga. Parece ter sua origem na própria Septuaginta, para expressar de modo deliberado a provocação contra Deus. Deve ser distinguida da palavra paralela em SI 95.10 (ARA desgostado), que significa “ter nojo de, aborrecer,” MM).” (GUTHRIE, Donald.Hebreus introdução e comentário – Ed Vida Nova e Mundo Cristão. Disponível em:https://teologiaediscernimento.files.wordpress.com/2014/08/hebreus-introduc3a7c3a3o-e-comentc3a1rio-donald-guthrie.pdf. Acesso em 6 jan, 2018)

E o Senhor disse a Moisés: ‘Até quando este povo me tratará com pouco caso? Até quando se recusará a crer em mim, apesar de todos os sinais que realizei entre eles? Eu os ferirei com praga e os destruirei…” (Nm 14.11-12). Deus estava realizando no meio dos israelitas diversos sinais miraculosos, desde que os tirou do Egito, e, mesmo assim, eles duvidaram do poder de Deus de conduzi-los à Canaã. Em consequência da incredulidade, infidelidade e desobediência do povo, Deus fez com que eles levassem 40 anos para atravessar o deserto, até que aquela geração que saiu do Egito perecesse. Por causa da sua incredulidade, apenas dois entraram na Terra Prometida: Calebe e Josué. Isso nos serve de lição: Não devemos duvidar da fidelidade e do poder de Deus.

3. O perigo de começar, mas não terminar. "Estes sempre erram em seu coração e não conheceram os meus caminhos" (Hb 3.10b). Com essas palavras o autor mostra o perigo de começar, mas não chegar; de andar, mas se desviar. Alguns do antigo povo de Deus haviam começado bem, mas terminado mal. Muitos caíram pelo caminho, desistiram da estrada. O mesmo risco estava ocorrendo com os cristãos neotestamentários — haviam começado bem, mas corriam o risco de caírem e perderem a fé. Esse alerta é para nós hoje! Como está a tua fé?

A ignorância dos caminhos de Deus naturalmente leva as pessoas a desviar-se deles. O inverso também é verdade, quando em um estado endurecido de mente torna-se impenetrável à voz de Deus e leva à ignorância cada vez maior dos Seus caminhos, não porque Deus não os faça conhecidos, mas, sim, porque a mente endurecida não tem disposição alguma para escutar. O que era verdadeiro para os israelitas é um comentário sobre todos aqueles que resistem às reivindicações de Deus. O verdadeiro cristianismo é demonstrado pela perseverança, pela confiança contínua em Cristo e pela lealdade para com aquele que é a nossa esperança (cf. Cl 1.27). Não é aquele que diz que pertence à casa de Deus que é verdadeiramente salvo, mas sim aquele que permanece crendo até o fim.

SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO

“SE OUVIRDES HOJE A SUA VOZ Citando Salmos 95.7-11, o escritor se refere à desobediência de Israel no deserto, depois do êxodo do Egito, como advertência aos crentes sob o novo concerto. Porque os israelitas deixaram de resistir ao pecado e de permanecer leais a Deus, foram impedidos de entrar na Terra Prometida (ver Nm 14.29-43; Sl 95.7-10). Semelhantemente, os crentes do Novo Testamento devem reconhecer que eles, também, podem ficar fora do repouso divino, se forem desobedientes e deixarem que seus corações se endureçam.

NÃO ENDUREÇAIS O VOSSO CORAÇÃO

O Espírito Santo fala conosco a respeito do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8-11; Rm 8.11-14; Gl 5.16- 25). Se formos indiferentes à sua voz, nossos corações se tornarão cada vez mais duros e rebeldes a ponto de se tornarem insensíveis à Palavra de Deus ou aos apelos do Espírito Santo (v.7). A verdade e o viver em retidão já não serão prioridades nossas. Cada vez mais, buscaremos prazer nos caminhos do mundo e não nos caminhos de Deus (v.10). O Espírito Santo nos adverte que Deus não continuará a insistir conosco indefinidamente se endurecermos os nossos corações por rebeldia (vv.7-11; Gn 6.3). Existe um ponto do qual não há retorno (vv.10,11; 6.6; 10.26)” (Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1995, p.1902).

CONCLUSÃO

Ao mostrar a superioridade de Jesus sobre Moisés, o autor da Carta aos Hebreus não tencionava exaltar o primeiro e desprezar o segundo, mas pôr em relevo a obra do Calvário, bem como esclarecer como os crentes devem valorizá-la. Ora, se Moisés que não era divino, que não se deu sacrificalmente em lugar de ninguém, merecia ser ouvido, então por que Jesus, o Filho do Deus bendito, Senhor da Igreja e superior aos anjos, não merecia reconhecimento ainda maior?

Para concluir, quero ir um pouco mais longe do que o fechamento do comentarista. Gostaria de refletir em Números 20, a partir do versículo 8, e aplicar as lições do deserto de Zim, para entendermos ainda melhor a superioridade de Cristo em relação à Moisés. Depois de muitas lutas e sofrimentos, Moisés não pôde entrar na terra prometida, e o motivo foi a sua desobediência e, pasmem, sua falta de fé (Nm 20.12; Dt 32.51). A ordem era falar à rocha e não feri-la. Aquela rocha era um símbolo de Jesus; no sermão da montanha, Jesus é a rocha sobre a qual o homem prudente edifica sua casa (Mt 7.24-25). Moisés acabou extrapolando sua autoridade e tomou para ele a glória da água da rocha, porque ele disse ao povo: “Porventura tiraremos água desta rocha para vós?” Com esta expressão egoísta (“tiraremos”), e uma dúvida (“porventura”), temos uma ausência total da glória devida a Deus! Por tudo isto, o Filho é superior ao servo – apesar de ferido, injuriado, injustiçado, deu-se sacrificialmente em lugar do povo...

“... corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus ...” (Hebreus 12.1-2)

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br





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