SUBSÍDIO I
O PERIGO DO DESVIO
ESPIRITUAL É REAL
Na lição passada, vimos que uma
das características da Carta aos Hebreus é seu apelo exortativo, ao ponto de os
principais comentaristas bíblicos concordarem de que não há em nenhum outro
documento essa característica de maneira tão intensa. Vimos também que sua
autoria é desconhecida, entretanto, considerar assim foi a melhor decisão
adotada, pois não há unanimidade quanto a identificação do autor já na tradição
apostólica – Clemente de Roma, Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano –
e, também, na hermenêutica dos reformadores – Martinho Lutero e João Calvino.
Porém, aprendemos que esse fato não depõe contra a autoridade inspirada deste
documento.
Estudamos também que a carta foi
endereçada a uma igreja de cristãos judeus, localizada provavelmente próxima de
Roma. Essa comunidade de cristãos dava indícios de desânimo e de
enfraquecimento espiritual. Logo, o propósito da carta é exortar e animar os
cristãos a não retrocederem na fé. Por isso, o escritor aos Hebreus inicia sua
carta fazendo menção da supremacia de Cristo em relação aos profetas e aos
anjos, duas imagens muito importantes para os judeus daquela época. Assim, a
revelação de Deus foi manifesta “nestes últimos dias” por intermédio de seu
Filho, Jesus Cristo, a plenitude da divindade. Diferente dos profetas, e dos
anjos, Ele morreu e ressuscitou para trazer salvação às nossas vidas. Por isso,
não podemos retroceder porque Ele não recuou. Nesse contexto, o autor aos
Hebreus faz a primeira exortação de advertência grave no capítulo dois.
O Perigo do Desvio Espiritual
Nesse segundo capítulo, o autor
mostra que toda transgressão e desobediência receberam justa retribuição na
Antiga Aliança (v.3). Por que não receberiam hoje? A transgressão e a
desobediência praticadas por cristãos atualmente não são dignas de correção
divina? Não é isso que o capítulo dois de Hebreus ensina.
Ali, o autor inicia com a
sentença objetiva de que é possível, sim, um cristão se desviar da “verdade” se
não atentar para ela de maneira intensa, “diligente” (ARC), “mais assiduamente”
(TB), “com mais firmeza” (ARA). A ideia aqui é a de que é preciso fazer esforço
para o cristão não desviar das “verdades ouvidas” (v.1). Ou seja, essas
“verdades ouvidas” referem-se “à revelação de Deus em seu Filho, sobre a
salvação (cf. 2.3a)”, ou seja, a doutrina da fé apostólica (ARRINGTON;
STRONSTAD, 2003, p.1549). Desviar dessas verdades é perder a espiritualidade. E
não se trata de não crentes, ou pessoas longe da fé. A carta é endereçada ao
grupo de cristãos judeus que tiveram um encontro com Cristo e foram confirmados
pela efusão dos dons do Espírito Santo (Hb 2.4).
Desviar agora é pior do que
antes
No Antigo Testamento, a Lei foi
dada no Sinai por intermédio dos “anjos” (v.2). Aqui, há um claro contraste
entre “Cristo” e “os anjos”. Ora, se no tempo da Lei, numa legislação
intermediada por anjos, que são menores que o nosso Senhor, o povo de Israel
sofreu severo juízo ao desviar-se da Lei de Deus; agora, no tempo em que foi
constituída a preciosa graça por quem é “a Luz do Mundo” e o “Autor da
maravilhosa salvação”, não há possibilidade de escapar de sua justa ira. O
autor aos Hebreus deixou claro que “o resultado de se desviar de Cristo é um
fim pior do que experimentado por aqueles que desobedeceram à lei de Moisés sob
a antiga aliança (vv.2,3; cf.10.28)” (ARRINGTON; STRONSTAD, 2003,
p.1550).
A Advertência de Hebreus é urgente
num tempo de “Graça Barata”
A expressão “graça barata” foi
usada pelo teólogo luterano Dietrich Bonhoeffer na introdução de seu importante
livro “Discipulado”. Com a expressão, Bonhoeffer está denunciando o cristão que
confia muito em sua “expressão verbal” a respeito da graça de Deus, mas a
despreza na vida prática. Graça sem arrependimento pelo pecado não é graça;
graça sem disciplina espiritual não é graça; graça sem mortificar a “carne” não
é graça; graça sem a disciplina da oração não é graça; graça sem compromisso
sério com a Palavra não é graça; graça sem a disciplina da santidade não é
graça; graça sem a compreensão de que a fé cristã tem limites morais bem
delimitados não é graça. É vã filosofia. É debilidade espiritual. É cinzas que
ainda não foram removidas.
Vivemos num tempo que para
alguns é como se fosse “pecado” afirmar que o crente pode desviar da fé.
Entretanto, trata-se de uma verdade bíblica e expositiva. Não é apenas um
versículo solto ou de uma citação secundária do escritor aos Hebreus, mas o
propósito da carta é visível do início ao fim da epístola: o caráter
admoestativo acerca da possibilidade do desvio espiritual.
Algumas aplicações a partir da
lição:
1. É perigoso não atentar “com firmeza” para a nossa salvação diante da vida cotidiana.
2. Conhecer a Deus e retroceder
depois é pior do que não conhecê-lo.
3. A vida cristã requer
disciplinas espirituais: oração; jejum; leitura da Palavra; exercício da
santidade.
4. Vida disciplinada não é legalismo, mas a predisposição em fazer a vontade de Deus. Há de se ter disciplina para o exercício de uma vida piedosa.
4. Vida disciplinada não é legalismo, mas a predisposição em fazer a vontade de Deus. Há de se ter disciplina para o exercício de uma vida piedosa.
5. Há limites bem estabelecidos
para a moralidade cristã a partir das Escrituras.
6. Há uma verdade objetiva no
capítulo 2 de Hebreus da qual não podemos desviar: atentar para tão grande
salvação.
Marcelo Oliveira de Oliveira
SUBSÍDIO II
INTRODUÇÃO
Os cristãos hebreus arriscavam-se, caso deixassem
de atentar para a grandiosa salvação, providenciada por Deus. Por isso,
conforme estudaremos na lição de hoje, fazia-se necessário persistir, mesmo
diante do sofrimento, tendo Jesus como Expoente. Isso porque, através do Seu
sacrifício, nos proveu a libertação, dando-nos, também, pelo Seu Espírito, a
capacidade para vencer as provações.
1. UMA TÃO GRANDE SALVAÇÃO
A salvação que nos foi favorecida em Cristo é
superior a atuação dos anjos, por isso não pode ser ignorada, ou mesmo
esquecida. Essa “tão grande salvação” não foi trazida por intermédio dos anjos,
como se acreditava ter ocorrido no judaísmo (Dt. 33.2; Gl. 3.19). A salvação
tem relação direta com sua mensagem, não se trata, portanto, apenas de uma experiência
subjetiva, distanciado do conteúdo bíblico. E essa mensagem foi declarada
inicial pelo Senhor, e se encontra registrada nos Evangelhos, mas que também
foi confirmada por aqueles que a ouviram, e pode ser conferida no texto
neotestamentário. O testemunho desses é confirmado pelo próprio Deus, que se
revelou nesses últimos dias através do Seu Filho (Hb. 1.1,2). Jesus é o Logos
que se fez carne, e por esse motivo, nenhuma revelação pode ser comparada a
Ele, pois nEle habita a plenitude da divindade, sendo Ele a Palavra Definitiva
de Deus à humanidade (Jo. 1.1,14; Cl. 2.9). Por esse motivo, aqueles que se
apartam dessa “grandiosa salvação” correm grave risco, pois se colocam debaixo
da justa retribuição divina. Nesses tempos de lassidão evangélica, que não leva
a sério a mensagem salvífica de Deus em Cristo, é preciso lembrar que há um
juízo para aqueles que desconsideram o evangelho.
2. ALCANÇADA
PELO SOFRIMENTO
Conforme ressaltamos anteriormente, os anjos eram
estimados naquela comunidade, por isso são abordados pelo autor, principalmente
para ressaltar a supremacia de Cristo sobre eles. A fim de mostrar essa
distinção e superioridade, o autor recorre a várias passagens do Antigo
Testamento, que apontam para a autoridade de Cristo. Com base no Sl. 8,
enfatiza não apenas que Jesus assumiu nossa humanidade, mas que também é o
Homem Ideal, o projeto inicial de Deus (Hb. 2.9). E digno de destaque, para
concretizar a salvação da humanidade, precisou adentrar pelo caminho do
sofrimento (Hb. 2.10). Devemos atentar para essa condição, sobretudo nos dias
atuais, nos quais os cristãos querem a glória, antes de carregarem a cruz.
Aqueles que são discípulos de Jesus devem saber que existe uma cruz a ser
carregada, e essa é uma demonstração de que nos identificamos com Ele (Mt.
16.24). O slogan evangélico “pare de sofrer” nada tem a ver com a mensagem
genuinamente cristã. O próprio Cristo disse: “no mundo tereis aflições” (Jo.
16.33), e Paulo declarou que: “todos aqueles que piamente querem viver em Cristo
Jesus padecerão perseguições” (II Tm. 3.12). O cristianismo sem sofrimento, que
não admite uma cruz, é um cristianismo sem Cristo.
3. NOSSO LIBERTADOR
Uma das principais necessidades do homem é a de um Libertador, ainda que
esse o busque onde não pode ser encontrado. Uma das maiores ilusões da
filosofia moderna é a política, pois promete aquilo que não pode oferecer à
humanidade. O grande mal que assola a sociedade é o pecado, com seu poder
destrutivo, além de corromper os relacionamentos humanos, ainda distancia o
pecador dAquele que o criou (Rm. 3.23). O salário desse é terrível, e o conduz
à angústia extrema, por não saber como lidar com a morte (Rm. 6.23). Esta
certamente era temida por alguns daqueles crentes hebreus, que estavam sendo
perseguidos, e não sabiam o que lhes aconteceria, depois que a morte os
alcançasse. Muitos cristãos, influenciados pela cultura moderna, também vivem
assustados diante da morte, desconsiderando que essa é uma inimiga vencida no
calvário (I Co. 15.54,55). Reconhecemos, no entanto, que essa vitória será
consumada em sua plenitude no futuro, por ocasião da vinda de Jesus para
ressuscitar e arrebatar os Seus (I Ts. 4.13-17). Enquanto esse dia não chega,
devemos permanecer firmes nas promessas divinas, não podemos vacilar diante das
perseguições. E temos motivos para perseverar, pois temos um Sacerdote que se
idêntica com nossos sofrimentos, “sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que
são tentados” (Hb. 2.18). A palavra peirazo, no grego do Novo Testamento, tanto
pode significar “tentação” quanto “provação”. Nessa passagem, é mais apropriado
considerar que Jesus foi provado, que sabe o que é ser testado, por isso se
identifica com nossas dores.
CONCLUSÃO
Jesus é superior aos anjos, a mensagem por Ele
anunciado, e confirmada pelos discípulos, é digna de crédito. Ela nos liberta
dos medos, especialmente da morte, pois Ele é a ressurreição e a vida (Jo.
11.24,25). A grandiosa salvação que nos foi favorecida, através do sacrifício
vicário de Cristo, é a garantia de que seremos alcançados por Sua misericórdia,
sendo Ele nosso Sacerdote. E mais, nos dará forças para prosseguir, e sermos
mais do que vencedores (Rm. 8.37).
Prof. Ev. José
Roberto A. Barbosa
Extraído do Blog
subsidioebd
COMENTÁRIO E
SUBSÍDIO III
INTRODUÇÃO
O autor dá início
à seção de Hebreus 2.1-18 com uma forte exortação. Era necessário por parte dos
crentes maior firmeza em relação as coisas espirituais. O que o autor observava
entre eles era certa letargia e negligência diante de um fato de tão grande importância
como é a salvação. Nesse aspecto a resposta devia ser dada por meio do retorno
às verdades anteriormente ouvidas e que haviam sido esquecidas. Isso era de
suma importância porque evitava que algum deles viesse a se desviar. De fato, o
vocábulo grego usado pelo autor – pararreo
–, traduzido como "desviar", significa originalmente "perder o
rumo". O termo era usado também em relação a um barco que acidentalmente
era desancorado e lançado à deriva em alto mar. No pensamento do autor só havia
uma maneira de manter-se no rumo certo: ancorando o barco no porto seguro,
Jesus.
O primeiro capítulo de Hebreus afirma, claramente, a
superioridade de Jesus sobre profetas e anjos. O capítulo 2 estabelece a
superioridade da mensagem de Cristo. Um contraponto com o que foi mostrado no
capítulo um onde a mensagem transmitida por anjos não podia ser tratada com
desdém e desprezo, o que dizer, então, da palavra do Senhor Jesus quando
rejeitada ou desprezada? A Tão Grande Salvação já foi referida em 1.14 e agora
vem uma advertência contra a negligência (2.1-4). A salvação é através do Filho
exaltado e ungido. Como assevera o Comentário Biblico Moody:
“[...] Por
esta razão relaciona-se com o Filho e também com a salvação que Ele concede. Às
verdades ouvidas. O Evangelho, que fornece um ponto fixo ao qual os crentes
podem recorrer. Só aqui existe um lugar seguro. Nada deve ter a permissão de
fazer que nos desviemos (pararyomen) desse ponto fixo de segurança. Nenhuma
calamidade, influência, força ou circunstância deveria ser tolerada se
enfraquece a nossa esperança de salvação. Um barco sem piloto lançado no meio
de um rio desvia-se do seu ponto de atracamento sendo levado para a margem
oposta pela correnteza que opera. Assim as correntezas da vida operam contra
nós se não nos apegar (mos). Esta é uma advertência dirigida especificamente
àqueles por causa de quem a epístola foi escrita, significando que a advertência
foi necessária.” Hebreus (Comentário Bíblico Moody). Disponível
em: http://www.ibanac.com/wp-content/uploads/2016/01/58Hebreus.pdf. Acesso em 6 jan, 2018
Destaca-se, ainda, que o escritor da carta faz
advertências aos seus leitores, como já vimos na lição 1, crentes que estavam
pensando em voltar ao judaísmo por causa da grande perseguição. Estas
advertências são duras e mostram que é possível para o crente ser condenado eternamente
em caso de negligência e abandono ao Senhor (2.1-4; 3.7-4.13; 5.11-6.20;
10.19-39; 12.25-29).
I. UMA SALVAÇÃO
GRANDIOSA
1. Testemunhada
pelo Senhor. O autor faz
um contraste entre as alianças do Sinai e do Calvário. Enquanto a Antiga
Aliança foi intermediada por anjos (v.2), a Nova Aliança tinha Jesus, o Filho
de Deus, como seu mediador. O autor, então, faz uma analogia entre as duas
Alianças para que o contraste entre ambas fique bem definido. Foi Jesus, o
Filho de Deus, e não os anjos, que anunciou essa tão grande salvação. Por serem
mediadores da Lei, os anjos despertavam grande estima e respeito dos judeus por
eles. Se uma Aliança firmada na Lei, mediada por anjos, imperfeita e
transitória, requeria obediência por parte dos crentes, muito mais a Nova
Aliança que é perfeita e eterna. Se quem não observava os princípios do Antigo
Pacto, quebrando os seus preceitos, era punido de forma dura, que castigo
merecia quem ultrajava a Nova Aliança, que em tudo era superior? (Lições
Bíblicas CPAD, 1º Trim 2018, Lição 2)
O autor da carta
defende a ideia da superioridade de Jesus sobre profetas e anjos usando uma
forma de argumento que aparecerá várias vezes. No Antigo Testamento, os que
foram desobedientes à Lei de Moisés entregue pelos anjos, foram justamente
punidos; assim, Jesus sendo superior aos anjos, é ainda mais certo que a
desobediência de sua lei será punida (veja 2.2-4). A Lei foi vindicada por
intermédio de severos juízos (Lv 10.1-7; Nm 16; Js 7).Tinha as suas penalidades
que eram fielmente cumpridas. Sendo este o caso, como escaparemos nós se
negligenciarmos esta salvação? Não é só o fato de rejeitar a mensagem do
Evangelho, mas inclusive, negligenciá-lo, não cuidar; não cuidar de nossa
salvação é “encará-la de modo leviano” (veja Mt 22.5); é não “dar-lhe o devido
valor” (veja 8.9). Quão mais severo será o castigo divino para estes?
Agora veja os
versículos 6 a 8.
O
escritor cita Salmo 8, uma passagem que observa que o homem foi criado um pouco
mais baixo do que os anjos. Este fato, provavelmente, levantou uma questão na
mente de seus leitores. Se Jesus é superior aos anjos, por que ele tomou a
forma de um homem, que foi feito inferior aos anjos? A resposta a esta pergunta
é encontrada no papel redentor que Jesus desempenha. O homem precisa de um
mediador entre Deus e si mesmo. Porque Jesus sofreu e foi tentado como são os
homens neste mundo, ele pode, portanto, ajudar os homens como um misericordioso
e fiel Sumo Sacerdote (2.17-18). O autor de Hebreus voltará ao assunto do sumo
sacerdócio de Jesus para uma extensa discussão, mais tarde neste livro. Neste
capítulo, contudo, ele afirma que Jesus tinha que se tornar como seus irmãos,
de modo a servir como Sumo Sacerdote. Ele tinha que tomar um corpo humano para
experimentar a morte por todos os homens. Através de sua morte e ressurreição,
ele derrotou Satanás, que tem o poder da morte (2.14). Ele tinha que se tornar
como os homens, isto é, partilhar da carne e do sangue (2.14), porque dá ajuda
aos homens, e não aos anjos (2.16). Deus seja louvado por termos um Sumo
Sacerdote que entende nossa situação! (DVORAK. Allen, O Livro de
Hebreus. ©1996. Estudo Textual: Hebreus 2.1-18 Jesus: Feito como seus Irmãos.
Disponível em:https://www.estudosdabiblia.net/hebreus.htm#Hebreus 2:1-18. Acesso em
6 jan, 2018)
Observe que o termo
‘salvação’ se aplica à doutrina, se Deus quer que todos os homens sejam salvos
através do Evangelho, assim também, quando essa mensagem é negligenciada, se
rejeita toda a salvação divina. Não há outro meio pelo qual importa sejamos
salvos “Porquanto ele é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que
Crê” (Rm 1.16).
2. Proclamada
pelos que a ouviram. Essa salvação grandiosa foi primeiramente anunciada pelo Senhor e,
posteriormente, por "aqueles que a ouviram" (Hb 2.3). Fica evidente
nesse texto que o autor não foi uma testemunha ocular dos feitos de Jesus, mas
recebera a Palavra por meio dos que a "ouviram". Mesmo não tendo
recebido a Palavra de Deus diretamente do Senhor, o autor não tem dúvida que a
mensagem apostólica era essencialmente a mesma Palavra de Deus. Esse fato
deveria fazer com que os crentes fossem mais diligentes na observância dos
preceitos neotestamentários. De fato, a palavra bebaioô, aqui traduzida como "confirmar", tem o sentido
de algo que transmite segurança e confiança. Em outras palavras, o que o Senhor
anunciou e que, posteriormente, foi proclamado por testemunhas oculares, deve
servir de fundamento da nossa fé.
O autor da carta agora
reforça o fato de que a mensagem que receberam é de fato a mensagem de Jesus,
ainda que não a tenham ouvido dos lábios do Messias, a quem a maioria jamais
chegou a conhecer, podiam ter a certeza de que a doutrina que lhes foi ensinada
por outros procedia de Cristo. O Comentário Bíblico Moody assevera:
“O próprio Deus
alia-se ao testemunho por meio de sinais (semeia), prodígios (terata) e
milagres (poderes, dynameis). Estas são as evidências confirmantes que de modo
nenhum não devem ser desconsideradas na avaliação do Evangelho. Estas
evidências foram ainda mais ampliadas pela concessão de distribuições aos
crentes por intermédio do Espírito Santo.” Hebreus (Comentário
Bíblico Moody). Disponível em: http://www.ibanac.com/wp-content/uploads/2016/01/58Hebreus.pdf. Acesso em 6 jan, 2018
Assim, é garantido que
Deus estava em Cristo e no Evangelho, motivo pelo qual a mensagem proclamada
pelos que a ouviram deve ser levada a sério. Negligenciar é incorrer na ameaça
de juízo. Desse fato, insisto, que não há outra maneira pela qual o homem seja
salvo.
3. Confirmada pelo
Espírito Santo. A mensagem, que
primeiramente fora anunciada pelo Senhor e testemunhada pelos que a ouviram,
foi instrumentalizada pelo Espírito Santo. Nesse aspecto, as traduções —
"distribuições feitas pelo Espírito Santo" ou "distribuições do
Espírito Santo" (Hb 2.4) — expressam bem o que o autor quis dizer. O Espírito
Santo é o agente por trás de cada milagre e sinal operados na história do povo
de Deus, tanto do passado quanto do presente. O autor quer chamar a atenção de
seu público leitor mais uma vez para a importância da mensagem recebida, ou
seja, ela fora também testemunhada de uma forma concreta e palpável pelo
Espírito Santo por intermédio da distribuição de seus muitos dons.
O autor tem um alto
conceito da atividade do Espírito, e esta primeira menção dEle será seguida por
várias outras declarações importantes (3.7; 6.4; 9.9,14; 10.15,29). No verso 4
lemos que "dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais,
prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a
sua vontade". ‘Sinais, prodígios e vários milagres’ são
termos usados no Novo Testamento para descrever os milagres especiais que Deus
usou para demonstrar a autoridade do Salvador (veja At 2.22), bem como para
atestar os ministérios dos apóstolos e de Estêvão (At 6.8; 14.3; Rm 15.19; 2Co
12.12). Ao longo da história, Deus vem manifestando o mesmo poder, para o bem
da humanidade, mas sobretudo para a salvação das pessoas.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
Hebreus 2.1-4
“Esta é a
primeira de sete passagens em Hebreus onde o autor combina uma urgente
exortação com uma solene advertência a fim de mover seus leitores a uma
confiança renovada, a uma esperança e fé perseverante em Cristo. Estas sete
advertências não são divagações, no entanto se relacionam diretamente com o
principal propósito do autor. A íntima conexão entre este parágrafo e a
interpretação em 1.5- 14 demonstra que a exposição bíblica do autor não era
propriamente um fim, mas originou-se de sua preocupação por seus leitores e sua
perigosa situação. O rico vocabulário e os dons do autor como orador são
novamente evidentes. A construção grega de 2.1-4 consiste em duas sentenças:
uma declaração direta (2.1), seguida por uma longa sentença explicativa
(2.2-4), que inclui uma pergunta retórica (‘como escaparemos nós?’) com uma
condição (‘se atentarmos para [ou negligenciarmos] uma tão grande salvação’,
2.3a). A expressão “Portanto” (2.1) liga este parágrafo ao esplendor e à
incomparável supremacia do Filho no capítulo 1. Pelo fato de o Filho ser
superior aos profetas e aos anjos, se o que Deus ‘nos falou pelo Filho’ (1.2)
for negligenciado, seremos muito mais culpáveis: ‘Portanto, convém-nos atentar,
com mais diligência, para as coisas que já temos ouvido, para que, em tempo
algum, nos desviemos delas” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p.1549)
II. UMA
SALVAÇÃO NECESSÁRIA
1. Por
intermédio da humanização do Redentor. Na seção vv.5-9, o autor toma o Salmo 8 como
pano de fundo de seu argumento (SI 8.4-6). Nesse aspecto, ele segue a
Septuaginta que usa o termo "anjo", em vez do texto massorético, que
traz a palavra "Deus". Na mentalidade judaica, da qual o autor
participa, o homem foi feito como coroa da criação e a ele foi confiado todo o
domínio. Todavia, devido à queda, esse domínio fora perdido. Na mente do autor
dessa Escritura, portanto, o Salmo 8 não pode se aplicar a Adão, nem tampouco a
raça pós-queda, mas a Jesus, o Messias, que por meio da cruz, veio restaurar a
humanidade caída.
O autor de Hebreus usa o salmo 8 como apoio do seu
grande argumento, dizendo: “Que é o homem, que dele te lembres? Ou o filho
do homem, que o visites? Fizeste-o, por um pouco, menor que os anjos, de glória
e de honra o coroaste. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora,
desde que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora,
porém, ainda não vemos todas as coisas a ele sujeitas” (Hb 2.6-8). Foi
Jesus quem cumpriu plenamente em Sua vida a mensagem do salmo 8, usado como
argumento pelo autor de Hebreus. Paulo diz: “A si mesmo se humilhou,
tornando-se obediente até a morte e morte de cruz”. Em uma boa
hermenêutica, não podemos deixar fora o texto de Filipenses 2.5-11, que trata
da humilhação e exaltação de Cristo.
O
escritor passa agora a lembrar seus leitores de que, apesar da posição de
dignidade dos anjos, não é a eles que o mundo vindouro será sujeitado. Isto,
também, visa ressaltar a superioridade do Filho, conforme demonstra a citação
do Salmo 8.4-6. O pensamento-chave é que Deus sujeitou, isto é, Ele tomou a
iniciativa. O sujeito da sentença não está presente no grego, mas claramente é
transportado do v. 4, conforme demonstra a palavra inicial Pois (gar); e deve,
portanto, ser Deus. O significado de o mundo que há de vir é questão de debate.
A expressão grega (hè oikoumenê hè mellousa) pode ser entendida de várias
maneiras, como, por exemplo, (i) a vida do porvir, (ii) a nova ordem inaugurada
por Jesus Cristo, isto é, o cumprimento da “era vindoura” tão esperada, que
agora veio no reino de Deus presente, ou (iii) o fim da era atual. (GUTHRIE,
Donald.Hebreus introdução e comentário – Ed Vida Nova e Mundo Cristão.
Disponível em:https://teologiaediscernimento.files.wordpress.com/2014/08/hebreus-introduc3a7c3a3o-e-comentc3a1rio-donald-guthrie.pdf. Acesso em 6 jan,
2018)
2. Por
meio do sofrimento do Redentor. Para um judeu do primeiro século era escandalosa a ideia de um
Messias sofredor. Como então assegurar que Jesus era superior aos anjos se Ele
morrera em uma cruz? O autor de Hebreus usa o versículo cinco do Salmo 8 para explicar
esse aparente paradoxo. Sim, argumenta ele, Jesus de fato foi feito um
"pouco" menor do que os anjos por causa da sua humanização. Os
intérpretes entendem que as palavras "pouco" e "pouco
tempo" (Hb 2.7,9) podem denotar posição ou tempo. Em outras palavras,
Jesus se tornou "menor" que os anjos enquanto vivia os limites da
condição humana e experimentou o sofrimento advindo desse estado de humilhação.
Todavia, foi por meio deste mesmo sofrimento de Cristo que os homens
tornaram-se livres.
O autor de Hebreus vê um cumprimento do Salmo 8 de
uma maneira que os judeus nunca previram. O mesmo Salmo é citado por Jesus (Mt
21.16) e Paulo (1 Co 15.27), ambos de uma maneira que indica que seu
cumprimento se acha no próprio Jesus.
Desde
os tempos do apóstolo Paulo, muitos consideravam a pregação sobre a morte de
Jesus uma loucura: “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se
perdem” (1Co 1.18, 23). Não é apenas nos dias de hoje que as pessoas se recusam
a aceitar que Jesus precisava morrer para salvar o mundo. A ideia de que Jesus
se sacrificou para substituir o pecador é rejeitada por muitos como algo
inconcebível, animalesco e desprovido de sentido. Eles argumentam, “Como
poderia Deus matar o seu próprio Filho inocente pelos pecados dos outros? Como
poderia isso ser aceitável diante de Deus? Que Deus é esse que se propõe a
aceitar tal troca?” Daí o esforço antigo e moderno por encontrar outros modos
de salvação, e outros significados para a morte de Jesus. (LIMA,
Leandro. A morte do Mediador. Disponível em: http://ipsantoamaro.com.br/artigos/a-morte-do-mediador.html. Acesso em 6 jan,
2018)
O mundo descrente rejeita o sofrimento e a morte que
Jesus teve que enfrentar. Mas às vistas de Deus, o curso de ação de Jesus foi
mais apropriado: “Sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados”.
3. Por
intermédio da glorificação do Redentor. Na mente do autor, Cristo não sofreu para ser
glorificado, mas Ele foi glorificado porque sofreu. Foi por intermédio do
sofrimento que Ele foi "coroado de glória e de honra, [...] para que, pela
graça de Deus, provasse a morte por todos" (Hb 2.9). Para os crentes que
viam no sofrimento algo incompatível com o viver cristão, e que, devido a isso
estavam desanimados, essas palavras serviam de ânimo e consolo.
O Autor da nossa gloriosa salvação é Jesus, coroado
de honra e de glória por causa do Seu sofrimento e morte em favor do Seu povo.
O resultado do sacrifício e da glorificação de Jesus é declarado assim:
“[...] para
que, pela graça de Deus, provasse a morte por todo homem. Posto que provar a
morte é sinônimo de padecer a morte, esta declaração constitui-se em enigma
para o intérprete, e muitas sugestões têm sido feitas. A questão é complicada
por um texto alternativo: chòris (à parte de Deus) ao invés de chariti (pela
graça de Deus), que é passível de várias interpretações.22 Aceitando “graça”
como o texto melhor atestado, a ênfase no provar da morte deve cair sobre seu
resultado, ou seja: “por todo homem.” É importante notar que a morte de Jesus
está relacionada como homem, não somente coletivamente, como também
individualmente. Embora o grego pudesse ser compreendido como sendo uma
referência a “tudo,” ou “todas as coisas,” o pensamento principal na presente
passagem é tão claramente pessoal que “todo homem” é o significado mais
provável.” (GUTHRIE, Donald.Hebreus introdução e comentário – Ed
Vida Nova e Mundo Cristão. Disponível em:https://teologiaediscernimento.files.wordpress.com/2014/08/hebreus-introduc3a7c3a3o-e-comentc3a1rio-donald-guthrie.pdf. Acesso em 6 jan,
2018)
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Jesus, superior aos
anjos em sua missão redentora (Hb 2.5-18)
Esta seção dá continuidade ao pensamento iniciado em
1.5-14 a respeito da superioridade do Filho em relação aos anjos, porém sob uma
perspectiva diferente. No capítulo 1 a ênfase estava na divindade da natureza
do Filho; aqui o enfoque está em sua humanidade e no sofrimento como
componentes necessários de sua missão redentora. Os anjos, por um lado, são
servos; sua missão para o homem como ‘espíritos ministradores’ é ‘servir a
favor daqueles que hão de herdar a salvação’ (1.14). O Filho, por outro lado, é
o Salvador; sua missão para o homem como ‘o Príncipe da salvação deles’ (2.10)
é ‘salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus’ (7.25). Entretanto,
como Salvador, a missão redentora do Filho envolvia tanto a humilhação como a
glória.
Como o homem perfeito, Jesus se tornou o verdadeiro
representante da raça humana e o cumprimento absoluto do Salmos 8. Somente Ele
poderia cumprir ‘o propósito declarado do Criador quando trouxe a raça humana à
existência. Mas, assim fazendo, Ele teve de se identificar plenamente com a
condição humana, incluindo o sofrimento humano (cf. Hb 4.15,16; 5.6), a fim de
‘abrir o caminho da salvação para a humanidade e agir eficazmente como o Sumo
Sacerdote de seu povo na presença de Deus. Isto significa que Ele não é apenas
aquEle em quem se cumpre a soberania destinada à humanidade, mas também aquEle
que, por causa do pecado humano, deve concretizar esta soberania por meio do
sofrimento e da morte. Portanto, o Filho, que já foi apresentado como superior
aos anjos, teve de ser feito ‘um pouco menor do que os anjos’ (2.7a) antes de
poder ser ‘coroado de glória e de honra’ (2.7b) como Senhor sobre todas as
coisas” (ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2004, pp. 1551,52).
III. UMA
SALVAÇÃO EFICAZ
1. Vitória sobre o Diabo. Na conclusão de seu
argumento o autor mostra os métodos e os resultados dessa grandiosa salvação.
Para que a salvação se efetivasse o Salvador precisava sofrer e morrer pelos
homens. Somente por meio da morte na cruz, o Diabo, arqui-inimigo dos homens, seria
derrotado (Hb 2.14). O autor usa o verbo grego catargeo para se referir à
derrota de Satanás. Esse verbo tem o sentido de "destronar" ou
"tornar inoperante". Por intermédio da cruz. Cristo destronou e
desarmou Satanás das armas que este possuía. Foi na cruz que Ele despojou os
principados e as potestades e nos garantiu a vitória (Cl 2.15).
A derrota de Satanás e
da morte testifica que a obra expiatória de Cristo foi eficaz. Mas não houve só
derrota; também houve libertação. Embora o medo possa escravizar, e o medo de
morrer há muito que persegue a humanidade, Cristo resolveu o problema com a Sua
própria morte e ressurreição. Ele morreu como homem. Ele participou da carne e
do sangue e assim morreu, mas pela Sua morte veio o livramento. Portanto, o
poder de Satanás foi tornado inoperante (katargeo), e Cristo fez uma expiação
pelo pecado inteiramente satisfatória diante de Deus (Is 53.11). Que grande
vitória é a dEle! E que grande vitória todos os crentes têm nEle! Satanás e a
morte estão derrotados e o temor da morte desapareceu! O homem que é livre em
Cristo é na realidade o mais livre de todos os homens. Hebreus (Comentário Bíblico
Moody. Disponível em:http://www.ibanac.com/wp-content/uploads/2016/01/58Hebreus.pdf. Acesso em 6 jan, 2018).
2. Vitória sobre a morte. Com a entrada do pecado no
mundo a morte passou a ser um inimigo temido. Essa arma poderosa era usada por
Satanás para manter os homens debaixo do jugo do medo (Hb 2.15). Todavia, ao
morrer na cruz por todos os homens, Jesus venceu a morte. Os homens continuam a
morrer, mas os que o recebem como Salvador tem a vida eterna, pois a morte não
tem mais domínio sobre eles.
A mais fantástica de
todas as afirmações cristãs é que Jesus Cristo ressuscitou dentre os mortos.
Ela força a nossa credulidade ao limite. Os seres humanos têm tentado da
maneira mais ingênua possível desafiar e negar a morte. Contudo, somente Cristo
afirmou tê-la conquistado, ou seja, tê-la derrotado em sua própria experiência
e destruído seu poder sobre os outros. Em nossos dias, ao menos no Ocidente,
ninguém exemplifica a angústia generalizada, e particularmente o medo da morte,
de maneira mais tragicômica que o cineasta Woody Allen. Ele considera a morte e
a decomposição com terror. Ela se tornou uma obsessão para ele. Na verdade ele
ainda consegue fazer piada sobre o assunto. “Não que eu tenha medo de morrer,
só não quero estar lá quando acontecer” — graceja. Ele chama a morte de algo
“absolutamente assombroso”. Jesus Cristo, porém, resgata seus discípulos desse
horror. Consideremos uma de suas grandes declarações que se iniciam com a
expressão “Eu sou”: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim,
ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente” (Jo
11.25-26). Esses versículos contêm uma dupla promessa de Jesus a seus
seguidores. Quem crê e vive nunca morrerá, porque Cristo é a sua vida, e a
morte lhe parecerá apenas um episódio trivial. Quem crê e morre, no entanto, viverá
outra vez, porque Cristo é a sua ressurreição. Assim, Cristo é tanto a vida
para aqueles que vivem como a ressurreição para aqueles que morrem. Ele
transforma tanto a vida como a morte. Conta-se que Henry Venn, evangélico
anglicano do século 18, quando foi informado de que estava morrendo, ficou tão
alegre que sua alegria o manteve vivo por duas semanas! Tal atitude destemida e
alegre diante da morte só é possível por causa da ressurreição de Jesus e de
sua vitória sobre a morte. (STOTT, John. A Bíblia Toda, O Ano Todo.
Editora Ultimato, 2007. Disponível em:http://ultimato.com.br/sites/john-stott/2013/03/27/a-vitoria-sobre-a-morte/. Acesso em 6 jan, 2018).
3. Vitória sobre a tentação. Pela
primeira vez na epístola o autor usa a denominação "sumo sacerdote"
em relação a Jesus (Hb 2.17). O tema do sacerdócio de Cristo será explorado
pelo autor com maior profundidade em passagens posteriores (Hb 3.1; 4.14-16; 5.1-10;
6.20; 7.14-19,26-28; 8.1-6; 9.11-28; 10.1-39). Todavia, aqui o seu uso é
justificado no contexto da identificação de Jesus com seus "irmãos",
os salvos. Esse sumo sacerdote é misericordioso e fiel. Por ter assumido a
natureza humana, e se identificado com os homens nos seus limites, Ele sabe o
que é ser tentado e por essa razão está pronto a ajudá-los.
Aqui está a primeira
menção do assunto que ocupa o lugar central no argumento da epístola – o
ministério de Cristo como sumo sacerdote. Nesse ofício a humanidade de Jesus
está novamente à vista, mas aqui só se deu uma pista quanto ao significado
completo de Cristo como sumo sacerdote. Por enquanto Ele ministra e socorre os
homens tomando-os pela mão. Isto Ele pode fazer como o Irmão mais velho e como o
capitão de sua salvação. Duas palavras indicam a qualidade auxiliadora da
função do sumo sacerdócio. São misericordioso (eleemon) e fiel (pistos). Para
com os homens Cristo é misericordioso e para com Deus Ele é fiel. Na verdade, a
misericórdia e a verdade encontraram-se nEle. Sua fidelidade percebe-se em Sua
firmeza na tentação, a qual foi parte do Seu sofrimento. Agora Ele é capaz de
vir ajudar todos os que são tentados porque Ele passou pelos mesmos testes e
emergiu vitorioso, e como Homem Ele conhece nossas necessidades. Propiciação
pelos nossos pecados. (Hebreus (Comentário Bíblico Moody). Disponível
em:http://www.ibanac.com/wp-content/uploads/2016/01/58Hebreus.pdf. Acesso em 6 jan, 2018)
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“[...] Pela graça de Deus, Jesus provou a morte por
todos os homens (Hb 2.9). Três verdades importantes estão sucintamente
incorporadas aqui:
1. A morte de Jesus na cruz, para realizar a
salvação, foi um ato da graça de Deus.
2. Sua morte foi em favor de (byper) cada pecador;
um claro ensino de Hebreus é que sua morte foi uma expiação substitutiva pelo
nosso pecado (cf. 5.1; 7.27).
Sua morte não foi uma ‘expiação limitada’ — isto é,
para algumas pessoas seletas, como alguns reivindicam — mas Ele provou
temporariamente a morte por todos os homens. Sua morte é de proveito para todo
aquele que por fé se submete a Ele como Senhor e Cristo.
Para os judeus daqueles dias, ‘a ideia de um Messias
em sofrimento era detestável e a reivindicação cristã de que isto convinha,
deveria ser vista contra este panorama. Qualquer que seja a razão para a cruz,
não há dúvida alguma de que tais fatos revelam a natureza de Deus. É neste
sentido que ‘convinha’ que as coisas ocorressem como de fato ocorreram”
(ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger (Ed.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2004, p. 1553).
CONCLUSÃO
Por meio da sua humanização e humilhação Jesus se tornou o
legítimo Sumo Sacerdote representante da humanidade. Os anjos de fato são seres
especiais a serviço de Deus, entretanto, Jesus não veio socorrê-los, mas buscar
a descendência de Abraão, os crentes. Por intermédio de seu sofrimento e morte.
Ele pode dar vida aos que estão mortos.
O autor de Hebreus
declara que Jesus também é um sumo sacerdote (Hb 2.17; 3.1; 4.14). O profeta
Zacarias predisse que Jesus seria um sacerdote em seu trono, isto é, Jesus seria
tanto sacerdote quanto rei ao mesmo tempo (Zc 6.12-13). Jesus nasceu judeu,
descendente de Davi e, assim, da linhagem da tribo de Judá. Contudo, Deus
escolheu os descendentes de Levi para serem sacerdotes. Assim Jesus, vivendo
sob a Lei de Moisés, poderia ser rei porque era da tribo real (Judá) e ainda
mais da de Davi (veja 2Sm 7.12-16; At 2.29-31). Mas Jesus não poderia ser um
sacerdote segundo a Lei de Moisés porque não era da tribo certa. O escritor de
Hebreus afirma que Jesus era sumo sacerdote segundo uma ordem diferente, não
segundo a ordem de Arão (ou da tribo de Levi), mas segundo a ordem de
Melquisedeque (5:6,10; 6:20). [...] O autor de Hebreus também observa a consequência
inevitável do sacerdócio de Jesus Cristo. Se o sacerdócio for mudado da ordem
de Arão para a de Melquisedeque, necessariamente a lei associada com o
sacerdócio levítico tem que ser mudada. "Pois, quando se muda o
sacerdócio, necessariamente há também mudança de lei" (7:12). A Lei de
Moisés, associada com o sacerdócio levítico, foi anulada quando o sacerdócio
foi mudado (7:18-19). A obra sacerdotal de Jesus é explicada pelo escritor de
Hebreus em termos de atos do sumo sacerdote levita no Dia da Expiação.
Exatamente como o sumo sacerdote levita entrava no Santo dos Santos do tabernáculo,
isto é, na presença de Deus, com sangue para fazer a expiação pelos pecados,
assim Jesus entrou no Santo dos Santos com sangue (9:11-12). Mais ainda, Jesus
não ofereceu seu sangue num tabernáculo físico, feito por mãos humanas. Ele
ofereceu seu sangue na presença de Deus, no céu. (DVORAK. Allen,
Jesus: Perfeito Sumo sacerdote. Disponível em: https://www.estudosdabiblia.net/d48.htm. Acesso em 6 jan, 2018)
“... corramos, com
perseverança, a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor
e Consumador da fé, Jesus ...” (Hebreus 12.1-2),
Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br
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