sábado, 9 de abril de 2022

LIÇÃO 2: SAL DA TERRA, LUZ DO MUNDO


INTRODUÇÃO

A passagem de Mateus 5.13-16, exposta por Cristo, tem como relevância dizer o que o crente deve evidenciar como um discípulo do Reino. Nos versículos anteriores, a tônica do Mestre pautou-se na essência, na natureza, declarando o que o cristão deveria ser. Não há problema algum de o cristão estar no mundo, ainda que este esteja na mais terrível corrupção moral e espiritual, nem se deve tomar a atitude monástica, ausentar-se dele. Na verdade, a grande diferença está na vida transformada, pois, como bem ensina Paulo, quem já passou pelo processo da transformação espiritual, recebendo uma nova mente, jamais irá padronizar-se com o estilo de vida pecaminosa, porquanto já experimentou a perfeita e agradável vontade do Senhor (Rm 12.2).

Jesus disse: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo 17.15, ARA). Antes de subir aos céus, Ele capacitou seus discípulos com o ensino e o poder do Espírito Santo, tornando-os aptos para enfrentar todo o sistema maléfico do mundo pecaminoso e sob o controle do Maligno (1 Jo 5.19).

Jesus não poderia tirar os discípulos desse mundo pecaminoso, visto que eles iriam dar prosseguimento ao grande projeto da salvação dos pecadores, uma vez que para isso foram vocacionados e treinados. O que precisavam era tão somente serem guardados do Maligno.

O cristão conhecedor da Palavra, em especial desse ensino de Jesus, sabe da importância de estar neste mundo exercendo o papel de sal e de luz. Ele não teme contaminar-se com o mundo, pois já foi totalmente regenerado, transformado e recebeu uma nova mente, e, como membro da comunidade de salvos, poderá influenciar essa sociedade pecaminosa (1Co 5.10), brilhar como luz e proclamar as virtudes daquEle que nos tirou das trevas (Fp 2.15; 1Pe 2.9).

I - SAL TEMPERA E CONSERVA

1. Definição. No grego, sal é um substantivo neutro (hálas), que segundo Strong pode ser definido de quatro maneiras: 1) sal, com o qual a comida é temperada e sacrifícios são salpicados. 2) tipo de substância salina usada para fertilizar terra arável. 3) o sal é um símbolo de acordo durável, porque protege os alimentos da putrefação e preserva-os sem alteração. Consequentemente, na con rmação solene de pactos, os orientais estavam e estão até os dias de hoje acostumados a compartilhar do sal juntos. 4) sabedoria e graça exibida em discurso.

Do hebraico a palavra sal é melach, procedente de malach, rasgar, dissipar, (Nifal) ser dispersado, ser dissipado, salgar, temperar, dessa forma a palavra sal desde Gênesis (Gn 14.3) até chegar ao profeta Sofonias (Sf 2.9) surge aproximadamente trinta vezes. Além das  definições dadas quanto ao sal, é importante atentar para o aspecto histórico em relação a esse elemento, em especial envolvendo o povo  de Deus, os judeus. Somente assim poderemos compreender o que Jesus quis dizer ao falar: “Vós sois o sal da terra”.

Havia nas praias do Mar Morto uma fonte inesgotável de sal, fala-se também de uma montanha de sal com oito quilômetros de comprimento, que ficava na parte meridional do mesmo mar.  Provavelmente, foi sobre isso que falou o profeta Sofonias (Sf 2.9) e o que consta em 2 Samuel 8.13 ao fazer menção ao vale do Sal.

No caso dos fenícios, eles conseguiam sal do Mar Mediterrâneo pela evaporação. Acredita-se que o sal que era usado pelos povos antigos se denominava sal-gema e era oriundo dos lagos de água salgada. Era um sal impuro e a parte exterior era sem sabor. A menção feita em Mateus 5.13 provavelmente foi a esse tipo de sal, pois, às vezes, era posto fora, sendo visto como coisa inútil.

Ainda há que se destacar a aliança de sal, como é descrita no Antigo Testamento. Sabe-se que as ofertas de manjares deveriam ser salgadas com sal (Lv 2.13), de modo que tal aliança falava de um pacto perpétuo entre Deus e o seu povo (Nm 18.19; 2Cr 13.5). Na passagem de Deuteronômio 29.23, compreende-se que o sal tem o poder de queimação, motivo pelo qual pode se entender a esterilidade das praias do Mar Morto, e quando se atenta para  Jeremias 17.6 tem-se a menção de terra salgada, uma referência direta   a lugares improdutivos, secos (Jó 39.6; Sl 107.34; Ez 47.11; Sf 2.9).

Em Juízes 9.45 (ARA) está escrito: “Todo aquele dia pelejou Abimeleque contra a cidade e a tomou. Matou o povo que nela havia, assolou-a e a semeou de sal”. Quando uma cidade inimiga era vencida, de imediato, se espalhava sal sobre suas ruas, esse era um costume praticado e bem antigo, mostrando que o que se desejava era a contínua destruição para sempre.

A história fala também que boa parte do pagamento, isto é, o soldo dos soldados romanos, eram pagos em sal, o que revela seu grande valor, de maneira que nossa conhecida e moderna palavra salário vem dessa tradição.

Pelo exposto agora é fácil chegar a entender, pelos diversos signicados simbólicos aplicados ao sal, a razão de Jesus figurá-lo ao cristão, indo além da importância de tempero (Jó 6.6), remédio (Ez 16.4) ou conservante. Seu grande destaque é visto no que tange à fideelidade, à preservação e ao sabor, mas, em especial, à sabedoria,  pois o cristão como sal deve dar bom gosto em tudo (Cl 4.6).

2. A importância do sal. Não podemos negar que o sal não somente preserva o alimento, mas concede-lhe sabor, daí o motivo de Jó falar: “Comer-se-á sem sal o que é insípido? Ou haverá sabor na clara do ovo?” (Jó 6.6). Esse texto deixa claro que ninguém deseja comer uma comida sem sabor, assim, uma pitadinha de sal como condimento pode ser bom, pois a comida insípida é tão repulsiva que causa até náusea.

Pela Bíblia, como supracitado, o sal tinha o papel do condimento nos alimentos (Jó 6.6), tanto para os homens como também para os animais (Is 30.24). Seu grande papel era o de preservar os alimentos, não deixando que eles entrassem em estado de putrefação (Êx 30.35). Como valor medicinal, era usado no ato de se lavar os recém-nascidos (Ez 16.4), e, quando lemos Colossenses 4.6, a expressão “temperada com sal” fala de bom gosto, sensatez, sabedoria e equilíbrio.

3. O cristão como sal. Na metáfora que Cristo faz comparando o cristão com o sal, Ele mostra que cada discípulo tem uma vida que dá sabor e que pode preservar. É preciso entender que esse mundo dominado pela natureza carnal pecaminosa irá cada vez mais de mal a pior. Desde o momento em que a carne começou a reinar, a situação do homem sem Deus é o caminho da podridão (Gn 6.3).

Não podemos jamais esperar que o mundo seja preservado do pecado por meio da educação, da ciência ou da filosofia. A história tem provado ao longo do tempo que muitos viveram nessa esperança, porém com a chegada da Primeira e da Segunda Guerra Mundial provou-se que a humanidade caminha para o pior. Sendo assim, Paulo disse: “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão” (1Ts 5.3, ARA).

As pessoas que não têm Cristo na vida, nem seu Santo Espírito, vivem dominadas pela carne e seus desejos e as obras que produzem são as mais horríveis (Gl 5.19-21), gerando os micróbios e germes da maldade que contaminam e conduzem ao estado de putrefação. Para deter essa contaminação e corrupção é que se faz necessária a presença do sal.

O mundo podre é dominado pela secularização e mundanismo, no demais, seu controle está nas mãos do Maligno (1Jo 5.19; 2Co 4.4), de modo que não como a contaminação não se alastrar, porém com o  sal presente, não apenas dentro do saleiro, ou seja, isolado, mas sendo aplicado na carne, conterá a contaminação. É preciso entender que não basta apenas destacar as qualidades do sal, sua brancura, poder antisséptico e seu sabor, sua real missão deve ser a de dar sabor e preservar, sendo que a última é mais destacável, pois visa combater a deterioração.

Nesse mundo vil e pecaminoso, quando o cristão atua como sal, vivendo a verdadeira vida cristã, ele pode combater a corrupção moral e espiritual. Entretanto, para que isso aconteça, ele precisa ter um viver segundo a Palavra de Deus, andar em santidade e verdade, desenvolver a prática da leitura e da oração, pois, dessa forma, não se contaminará com o mundo, mas será sal nesta Terra.

Temos visto o pecado aumentando, e a vida de moral comprometida, e não podemos negar nem fechar os olhos para essa realidade, posto que a Igreja em sua maior parte não tem exercido como deveria a pregação da Palavra, somente o evangelho faz a mudança que necessitamos, pois é o poder de Deus (Rm 1.16). Paulo deixou claro em sua primeira carta aos Coríntios que todos os demais sistemas falharam, inclusive a sabedoria humana, mas ele prioriza a mensagem da cruz (1Co 1.18-23). O sal exercendo seu papel leva a menos alcoolismo, menos drogas, menos adultério, menos divórcio, coisas que leis parlamentares não podem mudar, visto que somente Cristo concede a mudança (2Co 5.17). (GOMES, Osiel. Os valores do reino de Deus: a relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2022. p. 25-28.)


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