sexta-feira, 7 de junho de 2019

LIÇÃO 10: O SISTEMA DE SACRIFÍCIOS


SUBSÍDIO I

O SISTEMA DE SACRIFÍCIOS

A necessidade e a importância dos sacrifícios pelos pecados tornaram-se indispensáveis à vida do homem, começando com Adão e Eva. Depois que eles pecaram, Deus estabeleceu em sua infinita sabedoria que o seu trono de justiça requeria a punição pelo pecado (ver Rm 5.12). Por sua perfeita justiça, Deus criou o sistema de sacrifícios para punição e perdão dos pecadores e, por esse modo, satisfazer a justiça de Deus e promover a paz entre Ele e o homem (Rm 5.1).  
O sistema de sacrifícios adotado por Israel, antes de ser uma ideia de Moisés, foi ordenado por Deus e colocado na mente e no coração da nação israelita. Os livros de Êxodo e Levítico são os livros que apresentam com precisão as práticas dos sacrifícios a Deus pelos pecados do povo. Os sacrifícios e ofertas eram tomados tanto do reino vegetal quanto do reino animal. Do reino vegetal, empregavam-se alguns alimentos como, por exemplo, farinha, cevada, trigo, bolos e incenso, e as libações eram feitas com vinhos nas ofertas de bebidas. Do reino animal, traziam-se bois, cabras, carneiros e pombos. Não se ofereciam peixes e nem sacrifícios humanos (ver Lv 18.21; Lv 20.2). Os sete primeiros capítulos levíticos falam-nos de cinco tipos de ofertas (sacrifícios) para chegar-se ao sacrifício supremo, que foi o sacrifício de Cristo (Rm 5.8-10). Em termos de tipologia, as cinco ofertas — sem falar na oferta do Grande Dia da Expiação — apontam para Jesus, o Filho de Deus, que se fez carne para identificar-se com os homens e que fez o sacrifício maior na cruz do Calvário. Cada uma das ofertas constitui figura do sacrifício maior e único do Senhor Jesus Cristo.

A OFERTA VOLUNTÁRIA – HOLOCAUSTO (Lv 1.1,2)

Todas as ofertas levíticas eram essenciais para representar a obra de Cristo. Cada tipo de oferta era relativo às prescrições divinas em termos de qualidade e natureza da oferta. A primeira de todas as ofertas tinha um caráter vicário, e, a partir de então, todas as demais ofertas dependem dessa primeira. Não se podia oferecer uma oferta pelo pecado a menos que houvesse sido feita uma oferta de expiação. Não se oferecia uma oferta de paz a menos que se tivesse sido feita uma oferta expiatória. 
Num capítulo anterior, foi dito que o Altar de Sacrifícios é o mesmo utilizado para as outras ofertas feitas com fogo. Esse Altar tinha na sua estrutura interna madeira de cetim (acácia) e era recoberto com bronze (ou cobre). Havia uma grelha ou tela de bronze colocada no fundo do Altar para assar as carnes ou queimá-las. Para essa oferta, Deus estabeleceu leis que orientariam os ofertantes e, especialmente, os sacerdotes quanto a sua efetivação. Os rituais seriam executados pelos sacerdotes, Arão e seus filhos; por isso, o fogo no altar deveria ser mantido o tempo todo aceso (Lv 6.9). As ofertas de holocausto eram chamadas “ofertas queimadas” porque o animal oferecido era queimado por inteiro até virar cinza (Lv 6.12,13). 
A palavra “holocausto” vem de Olah, no hebraico, que significa “levantar, fazer subir, que ascende”. Era uma peça impressionante, quadrada, em forma de baú e cheia de terra até a metade. Nos seus quatro cantos, havia quatro chifres cobertos com bronze (ou cobre), que significavam segurança e autoridade. Quando o sacerdote colocava a vítima do sacrifício sobre o altar, “o cheiro suave” do sacrifício subia até chegar às “narinas de Deus”. Esse é um modo antropomórfico de referir-se a Deus, atribuindo a Ele coisas típicas humanas.
Os holocaustos eram oferecidos a cada manhã e ao cair da tarde. Nos dias comuns, era oferecido apenas um cordeiro com um ano de idade, sem defeito algum. Aos sábados, eram oferecidos dois cordeiros, um pela manhã e outro pela tarde (ver Nm 28.9,10). Os animais oferecidos podiam ser bois, ovelhas, cabras, pombinhos ou rolas. Cada um desses animais tipifica o sacrifício de Jesus, que foi chamado servo de Jeová (ver Is 52.13-15; Hb 12.2,3). 
A oferta era voluntária, da própria vontade do ofertante (Lv 1.3) e tinha por objetivo aproximar-se de Deus para conquistar sua aceitação. Antes de o sacerdote imolar o animal perante os olhos do ofertante, este colocava as mãos sobre a cabeça do animal, dando a entender que aquele animal para o sacrifício era o seu substituto (Lv 1.4). A aceitação do ofertante dependia da aceitação da oferta perante o Senhor. O animal era imolado fora da tenda e, em seguida, conduzido ao Altar de Sacrifícios. O animal inteiro, com exceção do seu sangue, era queimado, e a fumaça do holocausto subia como cheiro suave ao Senhor. O próprio ofertante, com a ajuda dos levitas, tinha que degolar a sua vítima (Lv 1.4-11).  
O sacrifício de Cristo no NT, assim como o holocausto no AT, foi uma oferta agradável ao Pai. Dois textos exprimem essa verdade. Um está em Efésios 5.2: “[...] Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”. O outro está em Hebreus 9.14: “[...] pelo Espírito Eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus”. O mérito infinito de seu sacrifício é atribuído por Deus ao pecador que recebe a Cristo como Senhor e Salvador de sua vida. 

Texto extraído da obra “O TABERNÁCULO”, editada pela CPAD. 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

A Lição desta semana é talvez a mais desafiadora de todo o trimestre, devido a própria natureza complexa do sistema sacrificial dos hebreus. Como nos é impossível detalhar todos os variados tipos de ofertas ou sacrifícios ministrados pelos crentes da antiga aliança, abordaremos aqui aspectos gerais e essenciais dos sacrifícios mais comuns, alguns voluntários e outros obrigatórios para reparar a ofensa cometida contra Deus.
Baseando-nos especialmente no livro de Levítico, que era o antigo manual do culto israelita, traremos sucinta descrição sobre cada sacrifício/oferta e apontaremos as devidas aplicações tipológicas, que demonstram como Jesus Cristo, o Salvador, estava prefigurado naqueles sacrifícios. Não nos esqueçamos que mais do que exaustivas descrições sobre a liturgia do culto levítico, estamos interessados em compreender os símbolos da obra redentora de Cristo

I. A OFERTA VOLUNTÁRIA: o holocausto
                                                                 

1. Que oferta era esta? (Conf. Lv 1; 6.8-13; 8.18-21; 16.24)

Na Lição 4 já estudamos sobre o primeiro móvel do tabernáculo que era o altar de bronze, chamado de “altar do holocausto”. Naquela ocasião vimos que a palavra holocausto, de origem grega, significa totalmente queimado, e que a raiz hebraica da palavra (ôlâ) significa aquilo que sobe.
O holocausto, portanto, dizia respeito a oferta ou sacrifício (estes termos são muitas vezes usados como sinônimos) em que o animal era totalmente queimado, excetuando-se o sangue e o couro. O sangue era borrifado nas pontas do altar de bronze e também derramado na sua base; o couro era entregue aos sacerdotes e passava a pertencer-lhes. Tal sacrifício subia espiritualmente até Deus como um aroma agradável, e redundava em expiação de pecados para o ofertante.
O holocausto representava para o adorador da antiga aliança a devoção e entrega total a Deus, e, dado seu aspecto voluntário, aponta para a necessidade de todos os homens virem livremente buscar a reconciliação com Deus, não apenas quando sob ameaças da ira divina. Como dizia A.W. Tozer, “resolva diante de Deus que você não vai esperar que uma tragédia o conduza até ele. Tome a sua cruz voluntariamente”.
A pessoa que cometia um pecado involuntário (por fraqueza ou desatenção, mas não premeditadamente) deveria levar um animal sem defeito para o sacerdote no tabernáculo. O animal para o holocausto poderia ser um bode, carneiro, boi ou, no caso de ofertantes pobres, pombinhos. Todavia, o animal não podia ter defeitos. 
2. Cristo tipificado no holocausto. O animal inocente e fisicamente perfeito apontava para Cristo, o Justo (1Jo 2.1,2). O ato de colocar a mão sobre a cabeça do animal, demonstrando ao mesmo tempo uma identificação com a oferta como também a substituição que ela representaria diante de Deus, aponta para Cristo, nosso substituto na cruz, que cumpriu perfeitamente as exigências de Deus e recebeu a sentença de condenação em nosso lugar.
Como a pele do animal ficava para o sacerdote, a fim de servir-lhe de vestimentas, assim também a justiça de Cristo revestiu-nos e nos livrou da nudez espiritual que era repugnante ao Senhor (Ap 3.18); assim como o holocausto era uma oferta voluntária, Cristo é o nosso sacrifício perfeito, que se entregou voluntariamente para pagar e apagar os nossos pecados (Mt 27.35-36; Ef 5.2; Hb 7.26; 9.14; 1Jo 2.6).

II. A OFERTA DE MANJARES

1. Que oferta era esta? (Conf. Lv 2; 6.14-23). A voluntária oferta (ou oblação) de manjares, também chamada de oferta de cereais ou oferta de vegetais, era um ato voluntário de adoração e reconhecimento da bondade e das provisões de Deus. A oferta de manjares acompanhava todas as ofertas de holocaustos. Três tipos de ofertas de manjares eram oferecidos: (1) flor de farinha com incenso e azeite; (2) bolos finos untados com azeite; (3) grãos de cereais tostados com azeite e incenso.

Nas ofertas de manjares era exigido o sal (que representa preservação), ao mesmo tempo em que se proibia o uso de fermento ou mel (Lv 2.11-13). O erudito pentecostal Abraão de Almeida sugere que a proibição do mel se dava por este ser um agente de fermentação, assim como o fermento propriamente. E por que o fermento não era permitido na oferta de manjares? Há uma nota interessante na Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal:

Sendo um fungo bacteriano, o fermento constitui um símbolo apropriado para o pecado. Da mesma forma que o fermento leveda a massa do pão, o pecado se prolifera e corrompe a vida. Um pouco de fermento é bastante para afetar toda a massa, assim como o pecado pode destruir uma vida inteira. Jesus continuou esta analogia ao alertar sobre “o fermento dos fariseus e saduceus” (Mt 16.6; Mc 8.15). 
O teólogo Beckwith ressalta que os dízimos e as primícias eram, em parte, ofertas de vegetais, e as três festas mosaicas relacionadas à colheita anual dos feixes (cevada), Pentecoste ou festa das semanas (trigo) e das cabanas ou encerramento da colheita (o restante da colheita) estão centralizadas em ofertas de vegetais.

2. Cristo tipificado na oferta de manjares. Abraão de Almeida disserta a favor de uma aplicação tipológica da oferta de manjares. Segundo este respeitável teólogo:
a) O incenso presente nas ofertas de manjares fala da vida perfeita de Jesus, vida de santidade diante do Pai, e por isso o Pai podia dizer: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”. Além disso, destacamos que incenso foi um dos presentes que Jesus recebeu quando era ainda um menino na casa de Maria e José (Mt 2.11).
b) A ausência de fermento e mel apontam para Jesus como a verdade (Jo 14.6).
c) O azeite aponta para a unção do Espírito Santo na vida de Jesus desde a sua concepção no ventre de Maria e durante todo seu ministério (Mt 1.20,21; Lc 4.18,19).

III. A OFERTA PACÍFICA, O SACRIFÍCIO PELO PECADO E O DIA DA EXPIAÇÃO

1. O que era a oferta pacífica e como Cristo está tipificado. Assim como o holocausto e a oferta de manjares, a oferta de paz também era voluntária, e buscava expressar louvores e gratidão a Deus pela comunhão desfrutada com Ele. Conforme Levítico 3 e também 7.11-34, essa oferta envolvia animais sem defeitos e também uma variedade de bolos.

Nessa oferta, Deus permitia que o ofertante compartilhasse do alimento ofertado, isto é, se alimentasse dele. Tomar parte nos alimentos dos sacrifícios era quase sempre um privilégio da classe sacerdotal, mas nas ofertas de paz Deus é visto como um rei generoso que oferece um banquete não apenas aos seus príncipes, mas a todos os seus súditos, inclusive a plebe e os leigos. Beckwith discorre melhor sobre essa simbologia:
O tabernáculo e o templo representam a corte de um rei; na verdade, a mesma palavra hebraica (hêkâl) é usada tanto para templo quanto para o palácio. O altar do holocausto é a mesa do rei (Ml 1.7,12), e os sacrifícios normais ali são acompanhados de oferta de cereal e ofertas de bebidas (Êx 29.38-41; Nm 15.1-12) porque a mesa de um rei precisa não só carne, como também pão e vinho. O sacrifícios são descritos como pão e alimento de Deus (Lv 3.11; 21.6,8…), que seus servos, os sacerdotes, podiam normalmente comer (Lv 21.22…), mas esse é um privilégio que no período da Páscoa e da oferta de comunhão Deus estendia generosamente a todos os seus súditos.
No Novo Testamento, Cristo é a grande oferta de paz que o próprio Deus oferece pela reconciliação com o mundo. Nas palavras de Paulo, “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados” (2Co 5.19). Jesus é o grande Príncipe da paz (Is 9.6), e por isso pode contundentemente dizer aos seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá” (Jo 14.27). Além do mais, ainda que não literalmente, também nos banqueteamos com nosso Senhor, como os israelitas nas ofertas pacíficas: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo” (Ap 3.20).
O pecador, porém, que não recebe esta oferta da paz de Cristo em seu coração através da fé, ele é considerado inimigo de Deus (Tg 4.4), filho da ira (Ef 2.3; Jo 3.36), permanece em condenação (Jo 3.18) e a sentença contra ele é clara: “Não há paz para os ímpios, diz o meu Deus” (Is 57.21) 

2. O que era o sacrifício pelo pecado e pela culpa e como Cristo está tipificado (Lv 4.1 – 6.7; 6.24 – 7.10)

2.1 – Pecados involuntários. As ofertas de holocausto, manjares e pacíficas já estavam presentes entre os crentes do Antigo Testamento desde a época dos patriarcas, e até mesmo desde os dias de Caim e Abel, como se pode ver no quarto capítulo de Gênesis. Todavia, as ofertas pelo pecado (ou purificação) e pela culpa (ou reparação) foram instituídas no Sinai.
Como anotou Donald Stamps na Bíblia de Estudo Pentecostal, Deus requeria o sacrifício pelo pecado cometido por ignorância, fraqueza ou involuntariamente, para que o perdão fosse concedido. Pecados deliberados e insolentes, por outro lado, eram punidos com a pena de morte (Nm 15.30,31; Hb 10.28). Um sacrifício pela culpa, semelhante ao sacrifício pelo pecado, foi provido para quem cometesse pecado ou dano possível de plena restituição.
2.2 – Pecados voluntários. Poderá ser perguntando: mas e no caso dos pecados voluntários, isto é, praticados conscientemente, não havia remissão para eles? Alguns teólogos sugerem que a remissão desses pecados ocorria no grande Dia da Expiação, quando todos os pecados de todos os tipos eram expiados, desde que o povo cumprisse as condições estabelecidas por Deus em Levítico 16 (reverência, jejum e confissão de pecados). Mas a opinião de Beckwith parece mais razoável: “o verdadeiro contraste parece ser não com o pecado consciente, mas com o pecado arrogante e a blasfêmia, para os quais na verdade não há expiação”.
Como destacou Russel Champlin, é verdade que todos nós, como também os santos do Antigo Testamento, praticamos pecados voluntários (veja-se, por exemplo, o adultério cometido por Davi, bem como o assassinato premeditado de seu soldado Urias). Se não houvesse expiação por estes pecados, que carne se salvaria? Em todo caso, a ênfase da Lei mosaica recai sobre os pecados involuntários, e o autor da Carta aos Hebreus, tendo a Lei mosaica como pano de fundo, faz ecoar a necessidade de vigilância contra a prática deliberada do pecado: “Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus” (Hb 10.26,27). Portanto, não nos acostumemos com o pecado!
Oremos como sempre como Davi: “Quem pode discernir os próprios erros? Absolve-me dos que desconheço! Também guarda o teu servo dos pecados intencionais; que eles não me dominem! Então serei íntegro, inocente de grande transgressão” (Sl 19.12,13). O sangue de Jesus Cristo é poderoso e nos purifica de todo pecado (1Jo 1.17), desde que busquemos sinceramente refúgio ao pé da cruz.
2.3 – Holocausto, culpa e pecado. A síntese destas ofertas é a seguinte: embora a oferta de holocausto tivesse valor expiatório para pecados gerais, as ofertas pelo pecado e pela culpa tencionam a remissão por pecados específicos dos quais o ofertante tinha plena consciência no ato do sacrifício. Enquanto no holocausto todo o corpo do animal está em evidência, não podendo parte alguma dele ser comido (apesar do sangue ser derramado e da pele ser dada ao sacerdote), nas ofertas pela culpa e pelo pecado, é o sangue da expiação que ganha evidência e partes dos animais oferecidos podem ser tomados pelos sacerdotes – nunca pelos ofertantes – para alimento.
Quanto a uma distinção entre a oferta pelo pecado e a oferta pela culpa, a primeira se caracterizava mais pelo reparo de algum dano causado ao Senhor, enquanto que a oferta pela culpa se caracterizava mais pelo reparo de algum dano causado ao próximo. Neste segundo caso, tanto o arrependimento e a oferta ao Senhor eram devidos, como também a restituição a quem fosse de direito.
2.4 – Cristo tipificado. Em Cristo, temos não só uma oferta pelo nosso pecado, mas também pela nossa culpa; o preço que Jesus pagou na cruz não somente remove a nossa ofensa, como devolve-nos ao nosso Senhor, que nos criou e nos fez para sermos eternamente seus. O pecado que nos fez escravos e o diabo que nos seduzia foram vencidos por Jesus Cristo (Cl 2.13-15), e agora somos a dracma perdida que foi encontrada; a ovelha desgarrada que foi reconduzida ao redil; o filho pródigo a quem o pai recebeu de volta em casa e para quem preparou grande banquete! (Lc 15.1-24)
O profeta Isaías, com riqueza de detalhes já prenunciava a oferta do Cristo para remissão dos nossos pecados, e a nossa culpa que ele carregou sobre si: “Mas ele foi transpassado por causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniquidades” (53.5), “o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós”(v. 6), “por causa da transgressão do meu povo ele foi golpeado” (v. 8), e ainda mais contundentemente aqui: “o Senhor faça da vida dele uma oferta pela culpa”(v. 10) e aqui “porquanto ele derramou sua vida até à morte” (v. 12). A linguagem do versículo 12, ao dizer “ele derramou sua vida até à morte”, também relembra as ofertas de libações (bebidas), que eram derramadas sobre as ofertas de manjares.
Deus esteve em Cristo “perdoando-vos todas as ofensas” (Cl 2.13). Que maravilhosa notícia para os que creem!

3. Uma síntese do Dia da Expiação. Para não nos alongarmos, transcrevemos abaixo um resumo da liturgia do culto levítico no Dia da Expiação, extraída da Bíblia de Estudo Pentecostal. É importante que o professor e o aluno da Escola Dominical leiam na íntegra o capítulo 16 de Levítico.

Nesse dia, o sumo sacerdote, vestia as vestes sagradas, e de início preparava-se mediante um banho cerimonial com água. Em seguida, antes do ato da expiação pelos pecados do povo, ele tinha de oferecer um novilho pelos seus próprios pecados. A seguir, tomava dois bodes e, sobre eles, lançava sortes: um tornava-se o bode do sacrifício, e o outro tornava-se o bode expiatório (16.8). Sacrificava o primeiro bode, levava seu sangue, entrava no Lugar Santíssimo, para além do véu, e aspergia aquele sangue sobre o propiciatório, o qual cobria a arca contendo a lei divina que fora violada pelos israelitas, mas que agora estava coberta pelo sangue, e assim se fazia expiação pelos pecados da nação inteira (16.15,16). Como etapa final, o sacerdote tomava o bode vivo, impunha as mãos sobre a sua cabeça, confessava sobre ele todos os pecados dos israelitas e o enviava ao deserto, simbolizando isto que os pecados deles eram levados para fora do arraial para serem aniquilados no deserto (16.21, 22).

(1) O Dia da Expiação era uma assembleia solene; um dia em que o povo jejuava e se humilhava diante do Senhor (16.31). Esta contrição de Israel salientava a gravidade do pecado e o fato de que a obra divina da expiação era eficaz somente para aqueles de coração arrependido e com fé perseverante (cf. 23.27; Nm 15.30; 29.7).
(2) O Dia da Expiação levava a efeito a expiação por todos os pecados e transgressões não expiados durante o ano anterior (16.16, 21). Precisava ser repetido cada ano da mesma maneira.

CRISTO E O DIA DA EXPIAÇÃO

O Dia da Expiação está repleto de simbolismo que prenuncia a obra de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. No NT, o autor de Hebreus realça o cumprimento, no novo concerto, da tipologia do Dia da Expiação (ver Hb 9.6—10.18)
(1) O fato de que os sacrifícios do AT tinham de ser repetidos anualmente indica que eles eram provisórios. Apontavam para um tempo futuro quando, então, Cristo viria para remover de modo permanente todo o pecado confessado (cf. Hb 9.28; 10.10-18).
(2) Os dois bodes representam a expiação, o perdão, a reconciliação e a purificação consumados por Cristo. O bode que era sacrificado representa a morte vicária e sacrificial de Cristo pelos pecadores, como remissão pelos seus pecados (Rm 3.24-26; Hb 9.11, 12, 24-26). O bode expiatório, conduzido para longe, levando os pecados da nação, tipifica o sacrifício de Cristo, que remove o pecado e a culpa de todos quantos se arrependem (Sl 103.12; Is 53.6,11,12; Jo 1.29; Hb 9.26).
(3) Os sacrifícios no Dia da Expiação proviam uma “cobertura” pelo pecado, e não a remoção do pecado. O sangue de Cristo derramado na cruz, no entanto, é a expiação plena e definitiva que Deus oferece à raça humana; expiação esta que remove o pecado de modo permanente (cf. Hb 10.4, 10, 11). Cristo como sacrifício perfeito (Hb 9.26; 10.5-10) pagou a inteira penalidade dos nossos pecados (Rm 3.25,26; 6.23; Gl 3.13; 2Co 5.21) e levou a efeito o sacrifício expiador que afasta a ira de Deus, que nos reconcilia com Ele e que restaura nossa comunhão com Ele (Rm 5.6-11; 2Co 5.18,19; 1Pe 1.18,19; 1Jo 2.2).
(4) O Lugar Santíssimo onde o sumo sacerdote entrava com sangue, para fazer expiação, representa o trono de Deus no céu. Cristo entrou nesse “Lugar Santíssimo” após sua morte e, com seu próprio sangue, fez expiação para o crente perante o trono de Deus (Êx 30.10; Hb 9.7,8,11,12,24-28).
(5) Visto que os sacrifícios de animais tipificavam o sacrifício perfeito de Cristo pelo pecado e que se cumpriram no sacrifício de Cristo, não há mais necessidade de sacrifícios de animais depois da morte de Cristo na cruz (Hb 9.12-18).

CONCLUSÃO

O complexo sistema sacrificial levítico tem seu prazo de validade cumprido na cruz de Cristo Jesus. Deus simplificou tudo no único e legítimo Cordeiro, cujo sacrifício é perfeito e invalida a continuidade dos sacrifícios de animais. O sacrifício de Cristo foi voluntário (ninguém o obrigou), espontâneo (de iniciativa própria) e eficaz para salvação de todo aquele que nele crê. Tamanha é a confiança daquele que crê em Jesus, que ele pode fazer coro com o apóstolo Paulo e perguntar: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo quem morreu” (Rm 8.33,34).

Tiago Rosas

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO III

INTRODUÇÃO

Antes de ser uma resolução de Moisés, o sistema de sacrifícios estabelecido em Israel foi ordenado por Deus. Os livros de Êxodo e Levítico apresentam, com precisão, as instruções sobre como eles deveriam ser apresentados a Deus dentro do Tabernáculo. Nesta lição, veremos como esse sistema foi praticado e desenvolvido até que chegasse ao supremo e suficiente sacrifício de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo: a expiação do Calvário.
Esse grande sacrifício não foi realizado em segredo, mas Deus expôs publicamente o seu filho no calvário para que todos vissem. A propiciação, crucial para o valor do sacrifício de Cristo, essa palavra carrega a ideia de conciliação ou satisfação — nesse caso, a morte cruel de Cristo satisfez a santidade ofendida e a ira de Deus contra aqueles pelos quais Cristo morreu (Is 53.11; Cl 2.11-14). A palavra hebraica equivalente a essa era usada para descrever o propiciatório — a tampa da arca da Aliança — onde o sumo sacerdote aspergia o sangue do animal morto no Dia da Expiação para expiar os pecados do povo. Nas religiões pagãs, é o adorador e não deus o responsável por acalmar a ira da deidade ofendida. Porém, na realidade, o homem é incapaz de satisfazer a justiça de Deus se não for por intermédio de Cristo, exceto se passar a eternidade no inferno. A justiça de Deus exige que todo pecado e todo pecador seja punido. Deus teria sido justo se, quando Adão e Eva pecaram, ele os tivesse destruído, e com eles, toda a raça humana. Mas, pela sua bondade e longanimidade, ele adiou o seu julgamento por certo tempo (cf. SI 78.38-39; At 17.30-31; 2Pe 3.9).

I. A OFERTA VOLUNTÁRIA: O HOLOCAUSTO (Lv 1.1-3)
                                                                                                                                   
1. O conceito de holocausto. A palavra “holocausto”, no hebraico, olah, significa “levantar, fazer subir, que ascende”. Vimos esse conceito em lição anterior, mas em relação ao altar do holocausto. Aqui, estamos analisando a apresentação do próprio sacrifício de holocausto. Nesse sentido, essa oferta era apresentada pelo sacerdote no altar, de onde um “cheiro suave” subia “às narinas de Deus”. Era um modo antropomórfico; isto é, uma figura tipicamente humana para referir-se a Deus.
Holocausto é oferta queimada. Ao falarmos sobre a Oferta do Holocausto, precisamos entender que este tipo de sacrifício corresponde a toda carne queimada sobre o altar do holocausto. A palavra holocausto vem do termo hebraico "hle" - `olah, e tem como significado "queimado que sobe". No dizer de Shedd: “O termo original ‘olah de significado ‘aquilo que sobre’, tanto podia referir-se à oferta que subia ao Senhor, como ao ‘cheiro suave’ (Lv 1.17), ou ainda ao animal inteiro, e não apenas parte dele, que era oferecido, ou erguido sobre o altar. Embora não seja o mais importante, é no entanto este sacrifício o que se menciona em primeiro lugar, talvez por ser o mais grandioso"” (SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. I, pág. 158.). Um holocausto era um sacrifício totalmente queimado para Deus. O animal era morto e seu sangue era derramado sobre o altar onde a carcaça era queimada (Êx 29.16-18). O holocausto servia como pagamento pelo pecado. Muito antes de Moisés receber a Lei de Deus, já era prática oferecer holocaustos a Deus. O holocausto era um animal sem defeito (boi, carneiro, bode ou pomba), que servia como substituto, levando o pecado da pessoa que o oferecia (Lv 1.3-4). A primeira vez que a palavra holocausto aparece na Bíblia é em Gênesis 22.2, onde Deus pede a Abraão que sacrifique seu único filho em holocausto. Isso significa que já era uma prática conhecida antes da normatização pela Lei.

2. O que era a oferta de holocausto? Basicamente, a oferta apresentada no altar do holocausto podia ser de animais como boi, ovelha, cabra, pombinhos ou rolinhas. Cada vítima era queimada no altar. Era um tipo de sacrifício que apontava para a vítima perfeita: o Cordeiro de Deus “que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29 cf. Is 52.13-15; Fp 2.5-8; Hb 12.2,3).
No contexto das Escrituras, teologicamente o holocausto significa dedicação a Deus e propiciação pelo pecado (Lv 1.4; 6.8-13). O sacrifício propiciatório tinha o objetivo de acalmar a indignação divina contra o pecado e prefigurar a morte de Cristo Jesus, o holocausto perfeito (Is 53.10). Então quando lemos sobre os sacrifícios da Antiga Aliança à luz do Novo Testamento, percebemos facilmente que o sistema sacrifical levítico tinha um caráter transitório. Os holocaustos em Israel envolviam a oferta de animais domésticos selecionados sob critérios rígidos. Havia também ofertas de cereais, azeite e vinho. Cada sacrifício tinha suas características próprias, de acordo com sua finalidade particular. Mas todos os sacrifícios tinham em comum o fato de simbolizarem o adorador que se apresentava diante de Deus.
- Um dos títulos aplicados a Jesus é ‘Cordeiro de Deus’ (Jo 1.29). O escritor de Hebreus fala muito sobre a natureza temporária dos holocaustos na Antiga Aliança. Ele diz que através deles o pecador não podia desfrutar de uma purificação completa de sua consciência alcançando o perdão total e definitivo de seus pecados (Hb 9.11). Somente Jesus, o holocausto perfeito, foi capaz de fazer isto. Ele redimiu seu povo de uma vez por todas. Ele ofereceu sua própria vida em holocausto para a expiação do pecado de seu povo. Os holocaustos da Antiga Aliança serviam para apontar para o holocausto perfeito de Cristo.

3. Uma oferta voluntária. A oferta tinha um caráter voluntário (Lv 1.3). O objetivo do holocausto era que Deus aceitasse o ofertante. Essa aceitação dependia de a oferta apresentada pelo sacerdote ser aceita diante de Deus. Assim, o ofertante colocava a mão sobre a cabeça da vítima a ser sacrificada, transferindo, para si, os benefícios do sacrifício: a expiação dos pecados. O animal era imolado fora da tenda e, em seguida, conduzido ao altar dos holocaustos.
O livro de Êxodo, e especialmente o livro de Levítico, trazem todas as especificações sobre os holocaustos que deveriam ser oferecidos pelos hebreus (cf. Êx 29; Lv 1-9). Uma pessoa simplesmente não poderia oferecer holocaustos a Deus de qualquer maneira. Para isso Deus separou uma classe sacerdotal para mediar e cuidar o culto em Israel. Por isso o livro de Levítico dedica seções acerca da adoração no Tabernáculo (Lv 1.1-6.7 e Lv 6.8-7.38). Essa seção apresenta leis pertinentes aos sacrifícios. Pela primeira vez na história do Israel, um conjunto bem definido de sacrifícios foi dado a elos, embora o povo tivesse oferecido sacrifícios desde o tempo de Abel e Caim (cf. Gn 4.3-4): Essa seção contém instruções para o povo (1.1—6.7) e para os sacerdotes (6.8—7.38). Todos esses sacrifícios eram maneiras de cultuar a Deus, dar expressão ao coração penitente e agradecido. Os que fato pertenciam a Deus pela fé ofereciam esses sacrifícios com atitude de culto; para os demais, tratava-se apenas de rituais externos.

4. O sacrifício de Cristo foi um “holocausto” agradável ao Pai. Dois textos bíblicos expressam essa verdade. Efésios 5.2 diz: “Cristo vos amou e se entregou a si mesmo por nós, em oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave”. E também Hebreus 9.13,14: “porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?”. Trata-se, pois, de uma imagem perfeita de como fomos reconciliados com o Pai mediante o sacrifício de seu amado Filho (2 Co 5.19).
Em seu amor altruísta pelos pecadores perdidos (Ef 4.32; Rm 5.8-10), o Senhor é o supremo exemplo. Ele tomou sobre si o pecado do ser humano e deu a sua própria vida para que as pessoas pudessem ser redimidas de seus pecados, recebessem uma natureza nova e santa e herdassem a vida eterna (2Co 5.21). A oferta de Cristo de si mesmo pelo ser humano caído agradou e glorificou o seu Pai celestial, porque demonstrou do modo mais completo e perfeito o soberano, perfeito, incondicional e divino amor de Deus. O livro de Levítico descreve cinco ofertas ordenadas por Deus para Israel, dentre elas, o holocausto (Lv 1.1-17), que retratava a perfeição de Cristo; Quando a redenção foi realizada em Cristo, toda a obra agradou a Deus por completo. Ele redimiu seu povo de uma vez por todas. Ele ofereceu sua própria vida em holocausto para a expiação do pecado de seu povo. Os holocaustos da Antiga Aliança serviam para apontar para o holocausto perfeito de Cristo. Essa conexão está clara em toda a Escritura, como por exemplo, quando Deus providenciou o carneiro para que Abraão pudesse oferecê-lo em holocausto em lugar de Isaque. Aquele sacrifício substituto tipificou o sacrifício de Jesus Cristo. Ele morreu no lugar de suas ovelhas para que estas pudessem viver. Jesus, o holocausto perfeito, reconciliou o pecador, que merecia a morte, com Deus. O fogo do juízo de Deus que consumia o holocausto pela expiação do pecado passou sobre Cristo no Calvário. É por causa de Jesus, o holocausto perfeito, que o redimido não é consumido. Entenda também por que Deus é fogo consumidor.

SUBSÍDIO DIDÁTICO-PEDAGÓGICO

A aula desta semana é uma excelente oportunidade para que seus alunos conheçam a aplicabilidade de cada cerimonial de sacrifício instituído na Lei mosaica. Neste caso, à medida que você destacar a importância do holocausto como imagem perfeita do sacrifício de Cristo na cruz do Calvário, é fundamental que seus alunos visualizem como acontecia este cerimonial. Para tanto, pesquise na internet, ou revistas, e leve para a sala de aula imagens ou figuras que representem o momento do holocausto realizado pelo sacerdote. Sugiro para o seu estudo o Novo Manual de Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos, especificamente, o capítulo que trata a respeito da religião; e o livro Tempos do Antigo Testamento: um contexto Social, Político e Cultural.

II. A OFERTA DE MANJARES (Lv 2.1-3)

1. O significado da oferta. Essa oferta representava a gratidão do hebreu pela fecundidade da terra. Ele tirava os cereais comestíveis e oferecia-os ao Senhor como “um sacrifício de manjares”. Essa imagem nos fala de como devemos apresentar o fruto do nosso trabalho diante de Deus. Não podemos nos apresentar perante Ele de mãos vazias (Mt 25.14-30).
A palavra hebraica empregada para “oferta de manjares” é minchah. Significa uma dádiva feita a outro, de ordinário, a um superior. A oferta de manjares significava homenagem e gratidão a Deus por meio da oferta voluntária, que era oferecida junto com o holocausto e oferta de libação de determinados sacrifícios (cf. Nm 28.1-15). Três variações foram prescritas: 1) farinha não cozida (2.1-3); 2) e farinha assada (2.4-13); ou 3) primícias da colheita de grãos tostados (2.14-16). Esse era o único sacrifício não animal dos cinco e mostra que havia espaço para oferecer dos frutos da terra (como no caso de Caim em Gn 4). Cristo é o perfeito alimento que Deus enviou a este mundo e só Ele pode satisfazer todas as necessidades do homem.

2. Como era a oferta de manjares? Essa oferta também era chamada de “Festa das Primícias” (2.12-16). Ela compunha-se de grãos novos e macios colhidos na primeira colheita. Essa oferta também era feita de farinha fina misturada com azeite. Sabemos, pela Bíblia, que o azeite é um dos símbolos do Espírito Santo (Zc 4.2-6; Êx 30.31). Essa oferta faz-nos lembrar da importância de vivermos uma vida dependente do Espírito Santo. Que possamos, na força do Espírito, fazer as mesmas obras que o nosso Senhor fez (At 10.38).
Três variações foram prescritas: 1) farinha não cozida (2.1-3); 2) e farinha assada (2.4-13); ou 3) primícias da colheita de grãos tostados (2.14-16). Esse era o único sacrifício não animal dos cinco e mostra que havia espaço para oferecer dos frutos da terra (como no caso de Caim em Gn 4). Cristo é o perfeito alimento que Deus enviou a este mundo e só Ele pode satisfazer todas as necessidades do homem. A primeira variação consistia de farinha não cozida cuja qualidade de "flor" e paralela ao animal "sem defeito" do holocausto. Uma porção dessa oferta destinava-se ao sustento dos sacerdotes (v. 3). Semelhante à oferta de libação, a oferta de manjares era acrescentada ao holocausto.

3. A oferta aponta para um alimento espiritual. A Palavra de Deus diz que o nosso Senhor é o “pão vivo que desceu do céu”, o trigo que foi moído para se tornar o nosso alimento espiritual (Jo 6.33-35). Logo, da mesma forma que Israel obedeceu à ordenança divina de apresentar a oferta de manjares diante de Deus, nós somos instados, por Cristo, a alimentar-nos dEle. O testemunho do Senhor é verdadeiro (Jo 5.30; 8.28).
Inicialmente podemos dizer que a Oferta de Manjares, simboliza o nosso sustento e provisão diária. Dependemos de Deus para ganhar o nosso pão-de-cada-dia. Foi por esta razão que Jesus, na oração do Pai-Nosso, nos orientou a orar pelo "pão": "... o pão nosso de cada dia nos dá hoje", Mt 6.11. Como filhos de Deus não precisamos conviver com a ansiedade e preocupação características dos homens sem Deus. Como nos ensinou Jesus: "Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário?", Mt 6.25. Deus certamente suprirá cada uma de nossas necessidades, incluindo a necessidade de pão, Fp 4.19, "Meu Deus suprirá todas as vossas necessidades segundo as suas riquezas na glória em Cristo Jesus". Queremos recorrer ao comentário de Mesquita:
Antigamente, era o pão das Faces que significava a presença de Deus na mesa e no sustento dos crentes. Era uma mostra material, objetiva, de acordo com a capacidade dos crentes de antanho. Agora, com um novo santuário não feito por mãos, com novos moldes religiosos, novo sacerdócio, as antigas verdades se hão de crer e propagar de um modo diverso. Assim é o fato em Cristo Jesus. Por todos os ensinos do Novo Testamento se encontram as promessas da presença real de Cristo em nós. Somos o seu templo, o seu órgão de revelação aos perdidos, por meio do testemunho da vida, somos as suas testemunhas. Vivendo de tal modo identificados nele, vivemos a vida dele. Paulo chega a afirmar que não vivia mais o Paulo, mas Cristo vivia nele, pois que a vida que agora vivia, vivia-a na fé do Filho de Deus (Gl 2:20). Deste modo, Cristo é a nossa diária oferta, é o nosso pão, e as manifestações religiosas da vida são outras tantas mostras dessa verdade. Não vamos mais levar um punhado de farinha ao templo, mas vamos de outras maneiras públicas declarar que Me nos tem sustentado e sustenta. Se um hebreu confiava na sua provisão diária, muito mais nós, que vivemos mais diretamente ligados à divindade. Cristo é nossa provisão diária. (IBVIR)

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“O próprio cerne da relação do concerto — comunhão entre o Senhor e o seu povo — e o meio da sua realização inicial de Levítico, onde, com respeito aos holocaustos, o Senhor diz: ‘À porta da tenda da congregação [a oferta] trará, para que o homem seja aceito perante o SENHOR’? (Lv 1.3, ARA). [...] O fato de o concerto entre o Senhor e Israel ter sido modelado segundo os pactos do antigo Oriente Próximo em forma e função, permite-nos entender com clareza incomum, a miríade de detalhes relacionados ao culto no Pentateuco. Os sacrifícios e as ofertas tinham o objetivo de demonstrar a subserviência de Israel, expiar as ofensas contra o Soberano, o Senhor, e refletir a harmonia e a índole pacífica da relação estabelecida ou restabelecida.
O holocausto e a oferta de manjares (Lv 1-2) serviam para identificar o ofertante como servo do rei, servo que não ousava chegar diante dele de mãos vazias. As ofertas pelo pecado e pela culpa (Lv 4-5) serviam para restabelecer uma relação que fora rompida por causa da desobediência do servo. Elas eram a sua recompensa a um senhor ofendido. As ofertas pacíficas (ou de comunhão, Lv 3) constituíam expressão da ação de graças pelo vassalo a um estado de comunhão que atualmente existia. Eram testemunhos voluntários e não-obrigatórios de um coração cheio de graças e louvor pela bondade do Senhor” (ZECK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp. 71,72)

III. A OFERTA PACÍFICA, O SACRIFÍCIO PELO PECADO E O DIA DA EXPIAÇÃO (Lv 3.1,2; 7.1,2)

1. O que era a oferta pacífica? Era um sacrifício em que o ofertante imolava o animal, tirando porções especiais e separando-as do sangue e da gordura do animal. Em seguida, o sacerdote espargia o sangue do animal imolado ao redor do altar, em sinal da propiciação pela vida do pecador. Depois, os miúdos do animal eram queimados no fogo do altar e, assim, tanto o sacerdote quanto o ofertante, e sua família, comiam a carne nobre do animal imolado (Lv 2.8,13,16,17). Essa oferta significava, literalmente, “um presente oferecido a Deus”, e denotava a comunhão e a felicidade do ofertante com o Pai.
A paz deve ser entendida como base da comunhão com Deus. Os capítulos 14 e 15 de Lucas mostram o caminho pelo qual Deus, em sua graça, vem ao encontro do homem e o atrai para si. A oferta pacífica simboliza a paz e a comunhão entre o verdadeiro adorador e Deus (assim como a oferta voluntária). Era a terceira oferta voluntária que resultava em aroma suave ao Senhor, que servia de elemento adicional conveniente ao holocausto de propiciação e a oferta de manjares de consagração e dedicação. Simbolizava o fruto de reconciliação redentora entre o pecador e Deus (cf. 2Co 5.10).

2. A simbologia da oferta pacífica. A oferta pacífica aponta para a nossa reconciliação com o Pai. A Palavra de Deus mostra que o nosso Senhor proveu a paz entre o homem e o Criador: “porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus” (Cl 1.19,20). Isso demonstra que o Senhor foi a oferta pacífica para reconciliar-nos com o Pai, tornando-se assim, a nossa Paz (Is 9.6).
Outro simbolismo envolvida na Oferta pacífica é o fato de que podemos erguer nossa voz para dar ações de graças a Deus. Devemos ter em mente que inúmeros dos sacrifícios que compunham as Ofertas Pacíficas, eram sacrifícios que deveriam expressar por parte do ofertante uma gratidão ao Senhor, "Se alguém o oferecer por oferta de ação de graças, com o sacrifício de ação de graças oferecerá bolos ázimos amassados com azeite, e coscorões ázimos untados com azeite, e bolos amassados com azeite, de flor de farinha, bem embebidos", Lv 7.12. Como filhos de Deus, temos muitos motivos para agradecê-lo! Falando aos crentes de Corinto Paulo não somente reconhece que devemos dar "graças a Deus", mas que esta prática seja também abundante, 2Co 4.15, "Pois tudo é por amor de vós, para que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de Deus". Falando ainda aos efésios, afirma que devemos dar graças continuamente, Ef 5.20, "sempre dando graças por tudo a Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo"” (IBVIR)

3. O que era a oferta pelo pecado? Diferentemente das outras oferendas, as ofertas pelo pecado e pela culpa eram obrigatórias. Elas identificavam a natureza pecaminosa do homem; alguém que necessitava apresentar a Deus algo por seus pecados. Esse sacrifício era feito fora do arraial. O animal teria de ser imolado fora do acampamento hebreu. A Bíblia mostra que Nosso Senhor Jesus foi morto fora de Jerusalém, fazendo-se pecado por nós (1 Pe 2.24).
- “A Oferta Pela Transgressão ou Sacrilégio, era um tipo de sacrifício envolvendo certos pecados, onde ficava patente que o dano causado carecia de uma retribuição. Ele é apresentado de duas maneiras: 1) A transgressão envolvendo uma falta diante de Deus, na omissão em dar as "coisas santas ao Senhor", aquilo que é do Senhor, como por exemplo, os dízimos, as ofertas, as primeiras coisas da colheita. Quando estas exigências não eram cumpridas pelos israelitas, exigia-se a entrega ao sacerdote dos bens retidos, ou o resgate; 2) A transgressão de mandamentos e princípios dados pelo Senhor. – Neste caso, a defraudação era contra o semelhante. Antes do ofertante apresentar qualquer oferta ao Senhor, deveria reparar o dano através de uma compensação do prejuízo. Shedd nos fala deste tipo de oferta: "Este sacrifício refere-se ao pecado que exige uma restituição, mesmo antes da oferta, e apresenta-se sob duas formas: uma, pela transgressão de faltar em dar as ‘coisas sagradas do Senhor’ (5.15) isto é. nos dízimos, nas ofertas, nas primícias, etc., como pertencendo a Deus, e exigindo a entrega ao sacerdote ou o resgate: outra, pela transgressão ‘contra os mandamentos do Senhor’ (5.17). Já que as mesmas palavras se encontram várias vezes no cap. 4 (vs. 2, 13, 22 e 27), não há dúvida que o pecado em causa exigia uma restituição"” (IBVIR).

4. O grande dia da expiação. Levítico 16 narra o mais importante dia para o povo judeu: o dia da Expiação. O dia em que todo judeu devia observar um jejum e não fazer qualquer trabalho. Esse dia é ainda hoje observado por eles como Yom Kippur, o “Dia do Perdão”. O dia da Expiação era a data em que o Sumo Sacerdote apresentava um novilho por si mesmo e por sua família (Lv 16.6) e um bode pelo povo (Lv 16.710) no Santo dos Santos, aspergindo o sangue das vítimas sobre o propiciatório (Lv 16.11-19). O rito representava a mais importante oferta pelo pecado de toda a nação. Esse rito aponta para o nosso grande dia da Expiação, no Calvário, quando Jesus Cristo, nosso Senhor, exclamou na cruz: “Está consumado” (Jo 19.30).
Expiação é quando Deus perdoa o pecado de um pecador arrependido e se reconcilia com o pecador através de um sacrifício de um “substituto”, ou seja, nesse caso, Deus aceitava o animal que era sacrificado no lugar do pecador que deveria morrer por conta de seu pecado, mas que é “salvo” por esse substituto que morre no lugar dele. Isso era necessário porque Deus estabeleceu mesmo antes de haver o pecado entrado no mundo que a punição para a desobediência era a morte: “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gênesis 2:17). Mas sendo misericordioso, Deus aceitou substitutos que fariam expiação pela vida do ser humano. No Antigo Testamento Deus determinou que fossem alguns tipos de animais. Entendendo essa questão, agora vamos entender como funcionava esse dia da expiação no Antigo Testamento.” (ESBOCANDOIDEIAS)


SUBSÍDIO DE VIDA CRISTÃ

“Em certo sentido, o Senhor foi morto pelos executores romanos. Pedro disse: ‘Vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos’ (At 2.23). Mas, em outro sentido, Ele não foi morto, pois entregou voluntariamente sua vida. Jesus disse: ‘Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar e poder para tornar a tomá-la. Esse mandamento recebi de meu Pai’ (Jo 10.17,18). O Senhor morreu voluntariamente, o Pastor entregando a vida pelas ovelhas. Que coisa surpreendente! Ninguém morria de boa vontade nos sacrifícios do Antigo Testamento. Nenhum cordeiro, bode ou ovelha jamais rendeu espontaneamente a sua vida. Mas Jesus fez isso por nós. É maravilhoso poder afirmar: ‘Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito’.
Antes de entregar sua vida, Jesus perdoou os inimigos. Deu salvação a um ladrão arrependido. Cuidou de sua mãe. Terminou a obra que Deus lhe dera para fazer. [...] hoje devemos seguir o exemplo de Cristo e perdoar nossos inimigos, pois é possível que venhamos morrer ainda hoje. Não queremos encontrar o Senhor tendo alguma coisa contra quem quer que seja no coração. Queremos chegar à hora da nossa morte havendo compartilhado com outros a salvação” (WIERSBE, Warren W. O Que as Palavras da Cruz Significam Para Nós. 1ª ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2001, p.119).

CONCLUSÃO

Nesta lição, vimos o quanto era complexo o sistema de apresentação de ofertas para diversos pecados, e o dia anual de expiação, em que o Sumo Sacerdote apresentava a oferta pela nação inteira. Mas a Palavra de Deus mostra-nos que o sacrifício único de Cristo, no Calvário, foi suficiente para apagar os nossos pecados (2 Co 5.21; 1 Pe 3.18). Valorize a graça de Deus e alegre- -se no Espírito Santo por este presente: a salvação.
Em 2 Co 5.21 Paulo resume o cerne do evangelho, solucionando o mistério e o paradoxo dos versículos 18-20, e explicando como os pecadores podem se reconciliar com Deus por meio de Jesus Cristo. Essas 15 palavras gregas expressam as doutrinas da imputação e substituição como nenhum outro versículo, aquele que não conheceu pecado. Jesus Cristo, o Filho de Deus sem pecado (Cl 4.4-5; Lc 23.4,14,22,47; Jo 8.46; Hb 4.15; 7.26; 1Pe 1.19;-2.22-24; 3.18; Ap 5.2-10). Deus, o Pai, usando o princípio da imputação, tratou Cristo como se ele fosse um pecador, embora não o fosse, e o fez morrer com o um substituto, a fim de pagar o castigo pelos pecados daqueles que creem nele (Is 53.4-6; Gl .3.10-13; 1Pe 2.24). Na cruz, ele não se tornou um pecador (como alguns sugerem), mas permaneceu tão santo como sempre. Foi tratado como se fosse culpado de todos os pecados já cometidos por todos aqueles que creriam, um dia, embora ele nunca tivesse cometido nenhum. A ira de Deus foi exaurida nele e a condição justa da lei de Deus atendida para aqueles pelos quais morrera, justiça de Deus. Outra referência à justificação e imputação. A justiça creditada na conta do cristão é a justiça de Jesus Cristo, o Filho de Deus (Rm 1.17; 3.21-24; Fp 3.9). Como Cristo não era pecador, embora tenha sido tratado como tal, do mesmo modo os cristãos que ainda não foram justificados (até a glorificação) são tratados como se fossem justos. Ele suportou os pecados deles, por isso eles puderam experimentar a sua justiça. Deus tratou-o com o se ele tivesse cometido os pecados dos cristãos, e trata os cristãos como se tivessem realizado apenas as obras justas do Filho de Deus sem pecado..
Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

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