sexta-feira, 20 de julho de 2018

LIÇÃO 4: A FUNÇÃO SOCIAL DOS SACERDOTES


 
SUBSÍDIO I

A Função Social dos Sacerdotes

Introdução

Na lição desse domingo, mostraremos por que as ordenanças de Levítico fizeram de Israel o povo mais avançado na área médica, urbanística e jurídica de todo o Oriente Médio. Não exageraremos se considerarmos os hebreus, nesse mesmo período, mais adiantados que os chineses, egípcios e babilônios. Quanto aos gregos e romanos, ainda lutavam por se firmarem como civilização.
Acredito que, sem as orientações levíticas, o Ocidente jamais teria alcançado o seu atual estágio de desenvolvimento. A razão é bastante simples. A Igreja Cristã, ao fazer uso da Bíblia Sagrada, jamais deixou de aplicar os princípios mosaicos ao seu dia a dia. Não quero dizer, com isso, que os teólogos patrísticos e medievais porfiaram em judaizar a sociedade na qual estavam inseridos. Mas, sabiamente, souberam como separar os mandamentos específicos a Israel daqueles que devem ser observados por todos os povos. E, dessa forma, lançaram os alicerces da Civilização Ocidental.
Acompanhemos, pois, o processo de santificação dos israelitas. Esse processo, aliás, não contemplava apenas a interioridade humana, mas também a sua exterioridade, porque esta deveria ser um reflexo perfeito daquela. Para que isso ocorresse, a Universidade Levítica fez-se indispensável.    

I. A Universidade Levítica

Ao separar os levitas para servirem como sacerdotes e ministros do altar, Deus lançava, naquele instante, os alicerces de uma instituição que faria dos hebreus o povo mais civilizado do mundo. Vejamos em que consistia a epistemologia dessa entidade que, com muita justiça, poderia ser chamada de Universidade Levítica.

1. Teologia, a verdade sobre o único Deus. Os sacerdotes levitas, por serem os grandes mestres e catedráticos de Israel, partiam de um pressuposto que faz toda a diferença no campo filosófico, científico e literário: Deus existe. Mas, ao contrário dos deístas atuais, acreditavam eles que Deus não se limitou a criar os Céus e a Terra, mas continua a preservá-los e a intervir em todos os seus negócios, pois Ele é o Senhor de todas as coisas (Gn 1.1).
A teologia levítica não se embasava em meras teorias ou simples assentimentos intelectuais; firmava-se em algo profundo e experimental: o temor de Deus. Como diria mais tarde o sábio rei de Israel, “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7, ARA).
Tendo esse texto de ouro como a pedra de esquina de sua epistemologia, os levitas avançaram nos mais diversos campos das ciências e saberes humanos.
Façamos uma pausa, a fim de explicar o que é a epistemologia. Essa palavra é formada por dois vocábulos gregos: episteme, conhecimento, ciência; e logos, estudo, ou discurso racional. A epistemologia, portanto, é a reflexão em torno da natureza, estágios e abrangências do conhecimento produzido, adquirido e transmitido pelo homem. 

2. Cosmologia, o Universo é de Deus. Os sacerdotes do Senhor não se perdiam em teorias loucas e bizarras acerca do aparecimento dos Céus e da Terra. Eles sabiam que, no princípio, Deus criara tudo quanto existe. Se tudo quanto existe é criação divina, depreende-se logo que somente o Criador é quem deve ser adorado; não a criatura. Tal proposição é fundamental para se estabelecer uma epistemologia segura, eficaz e que conduza o ser humano ao progresso.
Quando os levitas oficiavam a Deus, apresentando-lhe alguma oferenda ou dom, sabiam estar reconsagrando-lhe algo que já lhe pertencia. Por isso, tratavam a Terra não como a deusa intocável dos gregos, nem como a mãe caprichosa dos ecologistas atuais; tratavam-na como criação divina. Tinham eles ciência suficiente para entender que a Terra fora criada por causa do homem, e não o homem por causa da Terra. Que esta, pois, seja o santuário do Senhor, pois do Senhor é a Terra (Sl 24.1).

3. Antropologia, o homem é a imagem de Deus. Já imaginou se os levitas tivessem sido educados por Charles Darwin (1809-1882)? Como iriam eles tratar os filhos de Israel a partir de uma antropologia bizarra, fantasiosa e sem a mínima base científica? Mas, sabendo eles que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, jamais deixariam os hebreus embrenharem-se nas promiscuidades egípcias, cananeias e mesopotâmias. Todos eles porfiavam por serem reconhecidos como o povo escolhido do Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
Eis porque os sacerdotes do Senhor obrigavam-se a cuidar tanto da interioridade quanto da exterioridade dos hebreus. Eles estavam cientes de que Deus exigia de seu povo santidade, pureza e distinção. Todos deveriam ser santos, porque Santo é o Senhor.
Diante de tal reivindicação, como devemos nós, hoje, proceder? Que o Espírito Santo nos ajude a ter uma vida irrepreensível perante Deus e diante dos homens.Diante de tal reivindicação, como devemos nós, hoje, proceder? Que o Espírito Santo nos ajude a ter uma vida irrepreensível perante Deus e diante dos homens.
Como seria bom se os médicos e os demais profissionais de saúde tivessem uma antropologia realmente bíblica. A partir dessa perspectiva, tratariam melhor seus pacientes, pois nestes veriam a imagem e a semelhança do Criador. E, assim, seriam banidos das universidades e dos hospitais experimentos cruéis e desumanos como aqueles realizados pelos alemães e japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

4. Direitos e deveres. Os sacerdotes do Senhor, orientados pelos Dez Mandamentos e pelas demais ordenanças do Pentateuco, foram além dos mestres e juristas da antiguidade. Se Hamurabi, por exemplo, que viveu por volta do século XIX a.C, teve uma influência meramente local, o código levita fez-se universal; eterno. E, hoje, em não poucos tribunais, encontramos uma cópia dos Dez Mandamentos.
Se compararmos a Lei de Moisés à de Dracon ou à de Solon, ambos legisladores gregos do século VII a.D., constataremos que estes jamais lograram alcançar a excelência da legislação que Deus, por meio de Moisés, entregara aos levitas. Por isso, devem os sacerdotes ser vistos como os juristas, advogados, promotores e juízes de Israel. Além disso, lançaram a base jurídica da civilização ocidental.

5. Contrastes entre a Universidade Levítica e a Faraônica. Antes de encerrarmos este tópico, faremos um pequeno contraste entre a academia egípcia, formada, em sua maior parte, por magos e astrólogos, e a hebreia, representada pelos levitas. A egípcia, apesar de suas notáveis conquistas científicas, centrava-se em ciências ocultas e duvidosas (Êx 7.11). Quanto à hebreia, tinha à sua disposição não os conhecimentos escondidos e entretecidos nas profundezas de Satanás, mas o saber verdadeiro que o próprio Deus revelara a Moisés e ainda mostraria aos profetas que viriam depois do grande legislador.
Por essa razão, quem hoje se interessa pelas ciências egípcias dos magos e astrólogos de Faraó? No entanto, a Bíblia Sagrada é lida todos os dias do Ocidente ao Oriente como a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus. 

II. O Início dos Hospitais Modernos

Parece que os médicos egípcios existiam apenas em função dos faraós. Quanto ao povo, que se arrumasse com as suas doenças, moléstias e enfermidades. No que tange aos levitas, observamos que estes, apesar de não serem médicos profissionais, dedicavam-se desvelada e sagradamente aos cuidados preventivos da saúde hebreia. E, assim, vieram a lançar as bases dos modernos hospitais.  

1. O hospital, a Casa do Bom Samaritano. Na língua alemã, a palavra “hospital” tem um significado interessante e que, em sua essência, revela um pouco da filosofia pagã. O termo Krankenhaus significa, etimologicamente, casa do enfermo.
Se buscarmos a etimologia da palavra “hospital”, descobriremos não somente um novo significado linguístico, mas também uma renovada filosofia. O termo, proveniente do latim medieval, vem de hospes que, naquele período, significava “hospedeiro” ou “hospede”. A partir daí, nasceu o vocábulo “hospital”: local onde os viajantes eram bem recebidos e muito bem cuidados. Com o tempo, devido à influência da Igreja Cristã, o hospital começou a ser visto não mais como uma simples hospedaria, mas como um lugar para se acolher os enfermos.
Em seus primórdios, o hospital não era uma casa de enfermo ou de enfermidade, mas um lugar onde o hóspede, se enfermo, podia receber cuidados médicos. A parábola do Bom Samaritano é um quadro que ilustra muito bem a fundação dos hospitais como hoje os conhecemos. Nessa belíssima narrativa, observemos algo muito importante. Os desvelos ministrados pelo samaritano àquele pobre homem refletiam, de certa forma, as funções de um sacerdote levita. Se bem que tanto o sacerdote como o levita, nessa narrativa, embora até possuíssem alguma ciência médica, passaram de largo e ignoraram o seu paciente.
Segundo a história, o primeiro hospital moderno foi estabelecido, em 370 d.C., na cidade de Cesareia, como resultado de um benévolo édito imperial. Mais tarde, Basílio, o Grande (329-379), recomendou a criação de hospitais, tendo como referência um famoso e eficiente hospital de Roma. Não nos esqueçamos da Ordem dos Hospitalários que, apesar de sua forte vocação militar, não deixou de cuidar dos peregrinos que se dirigiam à Terra Santa.
Na história de Israel, as práticas clínicas dos levitas precederam a medicina. É o que podemos inferir do texto sagrado. A seguir, vejamos como os sacerdotes cuidavam da saúde dos hebreus, não propriamente curando-lhes as enfermidades, mas prevenindo-as. Esse cuidado torna-se mais visível em relação à lepra que, naquele tempo, além de ser uma doença incurável, era socialmente repulsiva.

2. Lepra, o símbolo do pecado. Libertos de uma terra idólatra e insalubre, os israelitas corriam o risco de transmitir à próxima geração enfermidades como a lepra, a doença mais repelente da antiguidade (Dt 7.15). Por isso, Deus encarregou os sacerdotes de inspecionar clinicamente o seu povo.
Nos tempos bíblicos, a lepra causava repulsa devido ao seu aspecto e contágio (Lv 13.2). Se Deus não a curasse, médico algum poderia fazê-lo. Haja vista o caso do general sírio Naamã (2 Rs 5.1-14). O Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, curou a diversos leprosos e ordenou a seus discípulos a que os purificasse (Mt 10.8; 11.5).

3. A inspeção clínica. Em sua peregrinação à Terra Prometida, os israelitas não contavam com médicos e sanitaristas. Era um luxo restrito aos nobres egípcios (Gn 50.2).
Portanto, sempre que alguém apresentava algum dos sintomas da lepra, deveria encaminhar-se ao sumo sacerdote para ser examinado (Lv 13.1-30). De acordo com o diagnóstico, o paciente era declarado limpo ou impuro. Se constatada a doença, o enfermo era imediatamente apartado da comunidade (Lv 13.46).  

4. A limitação do sacerdote. Os sacerdotes, por conseguinte, encontravam-se habilitados a diagnosticar, mas não a curar os leprosos; era uma função mais preventiva que curativa. O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote na diagnose da enfermidade (Lc 5.14).
Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus, louvado como o Médico dos médicos, admitiu a utilidade dos médicos humanos. Embora limitados e, às vezes, até inúteis diante de algumas situações, eles aí estão para aliviar-nos a dor (Mt 9.12). Pelo que deduzimos desta saudação tipicamente paulina, Lucas era um médico mui amado entre os cristãos primitivos (Cl 4.14).

III- A Estrutura Jurídica de Israel

Certa vez, um renomado sociólogo assim definiu o nosso país: “O Brasil não é um país pobre; é uma nação injusta”. Infelizmente, sou obrigado a concordar com esse intelectual. Apesar do aparato de nossa justiça, distribuída em palácios suntuosos e inacessíveis, a população fica à mercê da injustiça, da violência e da miséria. Apesar dos que defendem os direitos humanos, vivemos como se não fôssemos humanos, porque, além de desconhecermos nossos direitos, desprezamos nossos deveres.
No Israel dos sacerdotes e levitas, o direito estava sempre ao alcance dos pobres, porque a Lei de Deus havia sido proclamada a toda a nação, e não apenas a uma minoria privilegiada. Ali, pobres e ricos, pequenos e grandes, nobres e plebeus; todos, enfim, estavam sujeitos aos mandamentos divinos. Não havia minoria privilegiada, nem maioria ignorada; eram todos iguais diante da Lei de Deus.

1. A função judicial dos sacerdotes. Judicialmente, o livro de Levítico apresenta várias disposições, a fim de proteger a família, a propriedade privada e, principalmente, a vida humana. Nesse sentido, o sacerdote atuava também no campo jurídico.
No Israel do Antigo Testamento, não havia uma lei-maior para dirigir o país; uma espécie de constituição. Ali, toda a Palavra de Deus funcionava como a ordenança que não podia ser ignorada quer pelo rei, quer pelo plebeu. E, para zelar pelo fiel cumprimento dos estatutos divinos, os sacerdotes e demais levitas faziam-se presentes.

2. Proteção da família. Com o objetivo de manter a pureza e a legitimidade no relacionamento familiar, o Senhor, por intermédio de Moisés, proíbe aos israelitas: o sacrifício infantil (Lv 20.2); o incesto, (Lv 18.6-9); o abuso sexual doméstico (Lv 18.10); a exposição das filhas à prostituição (Lv 19.29); o homossexualismo e a bestialidade (Lv 18.22,23).
Os israelitas, como adoradores do Único e Verdadeiro Deus, eram obrigados a honrar seus pais e a preservar-lhes a autoridade (Lv 19.3; 20.9).
Em Israel, os mandatários, quando tementes a Deus, preocupavam-se com o estado moral e ético do povo; não se eximiam como vemos, hoje, no Brasil. Defendendo sempre o politicamente correto, nossos governantes abandonaram o país à injustiça, à violência e à opressão. Ora, quando um presidente não sai a público para condenar, por exemplo, o aborto e a eutanásia, o que esperar desse mandatário? Precisamos de homens que, ao invés de se bater por seu partido, saia em defesa da moral e dos bons costumes. Infelizmente, boa parte dos políticos que enxameiam os palácios e as repartições públicas nenhuma atenção dá aos valores cristãos de nossa sociedade.

3. Proteção da propriedade privada. A posse de uma propriedade, em Israel, era considerada algo sagrado; uma dádiva de Deus ao seu povo (Êx 3.7,8). Por esse motivo, os israelitas deveriam tratar suas casas e campos de maneira responsável e amorosa (Lv 19.9). As colheitas eram feitas de tal maneira, que os pobres jamais deixavam de ser contemplados (Lv 23.22).
Sendo, pois, a terra propriedade do Senhor, não poderia ser explorada de maneira irresponsável e contrária à natureza (Lv 25.3,4). Do texto sagrado, depreendemos que o sacerdote tinha por obrigação supervisionar o uso sustentável da terra.
A propriedade da terra não era considerada roubo, conforme diria o francês Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865), mas uma herança pela qual valia a pena lutar (1 Rs 21.3). No Israel de Deus, os governantes não se digladiavam hoje pela esquerda, e, amanhã pela direita; punham-se todos no centro da vontade divina. Ali, nas terras do Senhor, não havia lugar para o comunismo assassino e mentiroso, nem para o fascismo desumano e cruel, pois a Lei de Moisés supria todas as carências e lacunas sociais. E, quando do advento da injustiça, Jeová enviava os seus mensageiros que, corajosamente, clamavam contra a opressão, o roubo, o crime e a infidelidade doméstica.  

4. Proteção da vida. Também estava sob o encargo do sacerdote a inspeção das casas (Dt 22.8) e da criação de animais (Êx 21.36). A mulher grávida recebia proteção especial (Êx 21.22). Enfim, a vida na sociedade judaica era e é sagrada; um dom do Criador (Nm 16.22). Por isso, Deus determina no Sexto Mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13). Mencionemos ainda as cidades de refúgio que, administradas pelos levitas, serviam para acolher o que, sem o querer, matava alguém (Nm 35.10-15).
Oremos, para que o nosso país seja realmente justo e misericordioso. Não nos faltam leis, nem legisladores, nem juízes. Ei-los pelos tribunais; ei-los saindo das faculdades e academias. Todavia, falta-nos o temor do Senhor, sem o qual não pode haver princípio algum de sabedoria. É chegado o momento de rogarmos ao Senhor que nos cure a terra. Achamo-nos tão enfermos, hoje, quanto o Israel dos tempos de Isaías (Is 1.1-9). Neste momento, conscientizemo-nos de nossa responsabilidade como sal da terra e luz do mundo.

Conclusão
Conforme profetizou Malaquias, a aliança do Senhor com a tribo de Levi era firme e bem conhecida de todo o Israel. Nesse sentido, seus descendentes deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange à Lei de Moisés, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Infelizmente, os sacerdotes não souberam como guardar o concerto levítico.
Se o Senhor exigiu excelência e correção dos levitas, no Antigo Testamento, como devemos nós agir? Que o nosso culto seja marcado pelo amor e pela não conformação com este mundo.
Nós, obreiros de Cristo, temos de ser um padrão na sã doutrina, segundo recomenda o apóstolo: “Torna-te, pessoalmente, padrão de boas obras. No ensino, mostra integridade, reverência” (Tt 2.7, ARA). Ainda que não sejamos sacerdotes como os filhos de Levi, nossa responsabilidade, diante do povo de Deus, não é menor. Se o Senhor exigiu deles excelência, o que não exigirá de nós, seus despenseiros? Ou será que já não tememos ser reprovados no Tribunal de Cristo? Que o Senhor nos ajude.

ANDRADE, Claudionor de. Adoração, Santidade e Serviço: Os Princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018. 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

Além de zelar pelo culto do Senhor, os sacerdotes tinham ainda como função inspecionar a saúde de Israel, fiscalizar-lhe as moradias e regular-lhe a vida social e jurídica. Nesse sentido, eles podem ser vistos também como médicos, sanitaristas e juízes. Todavia, a sua função mais importante era conduzir o povo na Lei de Deus, a fim de torná-lo propício ao Senhor que exige, de cada um de seus filhos, santidade, pureza e distinção. Vejamos, pois, como os sacerdotes levaram os israelitas a ser o povo mais ordeiro, distinto e saudável de seu tempo.
Os sacerdotes possuíam, em geral, três categorias de obrigações: eram os responsáveis por ministrar no santuário diante do Senhor, ensinar o povo a guardar a Lei e tomar conhecimento da vontade divina, através do Urim e Turim (Êx 28.30; Ed 2.63; Nm 16.40; 18.5; 2Cr 15.3; Jr 18.18; Ez 7.26; Mq 3.11).
Levítico 9 - 10 identifica vários ministérios sacerdotais. Os sacerdotes deviam oficiar em sacrifícios e ofertas, e assim conduzir em adoração. Eles deviam ‘distinguir entre o santo e o profano’ (Lv 10.10). Deviam também ensinar aos israelitas os decretos de Deus. E tem mais: Os sacerdotes deviam diagnosticar males que tornavam adoradores cerimonialmente impuros (Lv 13 — 14). Ofereciam ritual de purificação para aqueles que fossem recuperados. Examinavam todos os animais sacrificiais para verificar se eram saudáveis e sem defeitos (Lv 22.17-21). Os sacerdotes estabeleciam o valor de todas as mercadorias que eram dedicadas a Deus (Lv 27). Eles supervisionavam o cuidado do Tabernáculo e, mais tarde, do Templo (Nm 3;4). Os sacerdotes anunciavam o início de todas as festas religiosas (Lv 25.9). Atuavam como um tipo de suprema corte, reunida para ouvir os casos difíceis (Dt 17.11). Usavam o Urim e Tumim para transmitir a resposta de Deus a questões expostas pelos líderes da nação (Nm 27.21). E, ainda, acompanhavam o exército, para exortar a confiança em Deus (Dt 20.1-4). Em resumo, eles serviam como guardiões da fé de Israel. Suas obrigações não eram somente rituais, mas chamados para o envolvimento com israelitas comuns em todos os aspectos das suas vidas e relacionamento com o Senhor. Nós que estamos em Cristo somos chamados para o seu real sacerdócio e podemos encontrar direção para o moderno ministério ao meditar na chamada dos sacerdotes do Antigo Testamento(RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gęnesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 9.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 81)

I. FUNÇÕES CLÍNICAS
                                                                 
Libertos do Egito, os israelitas corriam o risco de transmitir à próxima geração enfermidades como a lepra (Dt 7.15), a doença mais temida da antiguidade. Por isso, Deus encarregou os sacerdotes de inspecionar clinicamente o seu povo.
1. A inspeção da lepra. Nos tempos bíblicos, a lepra era a doença que causava mais repulsa devido ao seu aspecto e contágio (Lv 13.2). Se Deus não a curasse, médico algum poderia fazê-lo, haja vista o caso do general sírio Naamã (2 Rs 5.1-14). O Senhor Jesus, durante o seu ministério terreno, curou diversos leprosos e ordenou a seus discípulos a que os purificassem em seu nome (Mt 10.8; 11.5).
A Lepra (hebraico: tzaraat) era uma palavra usada para várias doenças de pele, manchas em roupas ou paredes, que nós poderíamos chamar hoje de fungo ou mofo, em suma, algo que era cerimonialmente impuro.
A lepra bíblica é a mesma doença que atualmente conhecemos como hanseníase? A Bíblia não menciona de maneira explícita ou inequívoca a hanseníase, como conhecemos a lepra hoje. Quando se fala de pessoas leprosas, a palavra significa uma doença da pele, e pode abranger tipos diferentes de doenças. Em outros casos, a mesma palavra fala de manchas em roupas ou paredes, algo que nós poderíamos chamar hoje de fungo ou mofo. As instruções sobre a lepra, obviamente, serviam para conter uma doença maligna, mesmo séculos antes de cientistas compreenderem como doenças se espalham.
Mas há um segundo – e mais importante – motivo para falar tanto sobre a lepra no Velho Testamento. Há, pelo menos, duas lições espirituais das ordens sobre a lepra:
1. A importância da obediência. Entre as últimas orientações dadas por Moisés ao povo de Israel são estas palavras: “Guarda-te da praga da lepra e tem diligente cuidado de fazer segundo tudo o que te ensinarem os sacerdotes levitas; como lhes tenho ordenado, terás cuidado de o fazer” (Deuteronômio 24:8).
2. A necessidade de distinguir entre o limpo e o imundo. A chave ao entendimento deste significado da lepra aparece em Levítico 14:54-57 – “Esta é a lei de toda sorte de praga de lepra, e de tinha, e da lepra das vestes, e das casas, e da inchação, e da pústula, e das manchas lustrosas, para ensinar quando qualquer coisa é limpa ou imunda. Esta é a lei da lepra.”
Deus usou coisas físicas – sejam doenças, questões de higiene ou diferenças entre animais – para ensinar princípios espirituais.
Quando foi descoberta a imundícia da lepra, não mediam esforço para se livrarem dela. Pessoas leprosas foram publicamente identificadas e afastadas da congregação para não contaminar outros. Quando as tentativas de purificar as casas não foram bem-sucedidas, foi necessário derrubar casas inteiras para não deixar a praga se espalhar (Levítico 14:43-45).
As mesmas leis sobre a lepra não se aplicam hoje, mas os princípios que aprendemos delas têm muita importância para nós.
Devemos ser obedientes a todas as instruções que o Senhor nos deu. E quando a imundícia do pecado invade a nossa vida, devemos agir com urgência para eliminá-lo, mesmo se forem necessárias medidas radicais.
Sejamos santos, para a glória do nosso Senhor perfeito e santo (1 Pedro 1:14-16; 2 Coríntios 6:17-18)”. (por Dennis Allan. Disponível em: https://www.estudosdabiblia.net/bd13_01.htm. Acesso em: 16 Jul, 2018)

2. A inspeção clínica. Em sua peregrinação à Terra Prometida, os israelitas não contavam com médicos e sanitaristas. Era um luxo restrito aos egípcios (Gn 50.2). Por isso, Deus encarrega os sacerdotes de inspecionar a saúde pública de Israel. Sempre que alguém apresentava algum dos sintomas da lepra deveria encaminhar-se ao sumo sacerdote para ser examinado (Lv 13.1-37). De acordo com o diagnóstico, o paciente era declarado limpo ou impuro. Se constatada a doença, o enfermo era imediatamente separado da comunidade para evitar uma epidemia (Lv 13.46). (LB CPAD, 3º Trim 2018, Lição 4, 22 Jul 18)
A Lei não podia curar, mas instruía como proceder em caso de lepra. De acordo com a Lei, uma pessoa leprosa era considerada imunda: “Disse o Senhor a Moisés e a Arão: O homem que tiver na sua pele inchação (inchaço), ou pústula (erupção), ou mancha lustrosa (mancha brilhante), e isto nela se tornar como praga de lepra, será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, sacerdotes. O sacerdote lhe examinará a praga na pele; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais funda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará e o declarará imundo” (Lv 13.1-3). O diagnóstico era confiado ao sacerdote. Os critérios usados para o diagnóstico da doença eram: inchaço (ou algum tipo de tumoração), pústula e erupção, onde os pêlos se tornaram brancos e a parte afetada aparecia mais afundada que o resto da pele (Lv 13.1-3); caso não se fizesse o diagnóstico de imediato, um novo exame era feito após isolamento de sete dias. Caso houvesse dúvidas ainda, outro exame era feito sete dias depois. Mas a anestesia [supressão da sensação térmica, ou seja, a capacidade de diferenciar entre o frio e o calor, e diminuição da sensação de dor no local, assim como a diminuição da sudorese sobre a mancha, em alguns casos] não é mencionada, nem o espessamento dos nervos superficiais, que são pontos essenciais para o diagnóstico da doença, de modo que a avaliação sacerdotal necessariamente envolvia certo grau de imprecisão.

3. A limitação do sacerdote. Cabia aos sacerdotes inspecionar e diagnosticar os leprosos. Era uma função mais preventiva que curativa. O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote no diagnóstico da doença (Lc 5.14). Quanto à sua cura, só um milagre divino poderia limpar completamente um leproso (2 Rs 5.9-14; Mt 8.1-3). Hoje, apesar dos avanços da medicina, a lepra, modernamente conhecida como Hanseníase, ainda é uma enfermidade assustadora. Entretanto, já não há mais a necessidade de isolar os indivíduos, pois há tratamentos efetivos que curam os portadores da doença. 
Como disse acima, a lepra descrita no Antigo Testamento não era apenas a atual hanseníase, mas se refere a diversos problemas de pele, bem como de fungos em roupas, utensílios e paredes. A própria palavra “lepra” em hebraico (tzaraat), significa “sofrer doença de pele, ficar leproso”. Esta palavra originou outro termo que é tsara´at que por seu turno significa “doença maligna de pele, lepra”. A hanseníase hoje tem cura e já não é como a lepra no Antigo Testamento, uma doença terrível e incurável. (Leia aqui sobre cura da hanseníase). O comentarista declara: “O próprio Senhor Jesus reconheceu a perícia do sacerdote no diagnóstico da doença (Lc 5.14)”. Na verdade, ao ordenar ao leproso para se apresentar ao sacerdote e fazer a oferta prescrita na lei, Jesus não está reconhecendo nada, mas ele quis mostrar mais uma vez sua submissão à Palavra de Deus. Ao obedecer o que Jesus ordenou, no final do processo que o sacerdote iria realizar, o leproso seria declarado purificado e finalmente restaurado a seu lugar na comunhão com seu povo. Com isso Jesus revela sua preocupação para que a honra e glória sejam atribuídas a Deus.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
                               
“Levítico 9 — 10 identifica vários ministérios sacerdotais. Os sacerdotes deviam oficiar em sacrifícios e ofertas, e assim conduzir em adoração. Eles deviam ‘distinguir entre o santo e o profano’ (Lv 10.10). Deviam também ensinar aos israelitas os decretos de Deus. E tem mais: Os sacerdotes deviam diagnosticar males que tornavam adoradores cerimonialmente impuros (Lv 13 — 14). Ofereciam ritual de purificação para aqueles que fossem recuperados. Examinavam todos os animais sacrificiais para verificar se eram saudáveis e sem defeitos (Lv 22.17-21). Os sacerdotes estabeleciam o valor de todas as mercadorias que eram dedicadas a Deus (Lv 27). Eles supervisionavam o cuidado do Tabernáculo e, mais tarde, do Templo (Nm 3;4). Os sacerdotes anunciavam o início de todas as festas religiosas (Lv 25.9). Atuavam como um tipo de suprema corte, reunida para ouvir os casos difíceis (Dt 17.11). Usavam o Urim e Tumim para transmitir a resposta de Deus a questões expostas pelos líderes da nação (Nm 27.21). E, ainda, acompanhavam o exército, para exortar a confiança em Deus (Dt 20.1-4). Em resumo, eles serviam como guardiões da fé de Israel. Suas obrigações não eram somente rituais, mas chamados para o envolvimento com israelitas comuns em todos os aspectos das suas vidas e relacionamento com o Senhor. Nós que estamos em Cristo somos chamados para o seu real sacerdócio e podemos encontrar direção para o moderno ministério ao meditar na chamada dos sacerdotes do Antigo Testamento” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 9.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 81).

II. FUNÇÕES SANITARISTAS

Devido aos povos que a habitavam, Canaã tornou-se doentia e contagiosa (Lv 14.34). Até suas casas e vestes eram tomadas por uma espécie de lepra. Para preservar a saúde dos hebreus, Deus instruiu os sacerdotes a atuarem também como sanitaristas.
1. A função sanitarista do sacerdote. O sanitarista é um especialista em saúde pública; sua função é basicamente preventiva. Manter a cidade livre dos focos de doenças e infecções é o seu trabalho prioritário. Nesse sentido, cabia aos sacerdotes inspecionar as casas e roupas em Israel (Lv 14.34-57).
“Hoje sabemos que muitas doenças são devidas a bactérias que se multiplicam rapidamente sob condições favoráveis de escuridão e de umidade. Antes de os homens saberem disso, Deus já tinha providenciado leis higiênicas que preservariam os obedientes destas pragas” (Bíblia Shedd).
“Essas leis foram dadas para saúde e proteção do povo. Elas ajudavam os israelitas a evitar doenças que eram sérias ameaças naquele tempo e lugar. Apesar deles não entenderem as razões médicas para algumas dessas leis, sua obediência a elas os fariam mais saudáveis. Muitas das leis de Deus podiam parecer estranhas aos israelitas. Essas leis, contudo, os ajudavam a evitar não somente contaminação física, mas também contaminação moral e espiritual. A Palavra de Deus provê um padrão para um viver físico, espiritual e mortal saudáveis. Podemos não entender sempre a sabedoria das leis de Deus, mas se as obedecermos, nós iremos prosperar. (Life Application Study Bible).”

2. A lepra na casa. A lepra numa casa tinha início com o aparecimento de manchas verdes e avermelhadas, que, via de regra, pareciam mais fundas que a superfície das paredes (Lv 14.37). Sempre que isso ocorria, o proprietário era instruído a recorrer ao sacerdote, que, após examinar o imóvel, ordenava o seu despejo para que a praga não se espalhasse por toda a propriedade (Lv 14.36). Em seguida, a casa era interditada por sete dias (Lv 14.38). Caso a praga não cedesse, as pedras contaminadas eram retiradas e as paredes todas eram raspadas. Em último caso, o sacerdote tinha autoridade para ordenar a demolição do imóvel (Lv 14.45). Para evitar que a lepra contaminasse outras propriedades, todo o entulho era jogado fora da cidade. 
A lepra que invade uma casa pode simbolizar o pecado que, querendo tornar conta de uma igreja, que é comparada a uma casa em Ef 2.19-22, e cujos membros são as pedras, 1 Pe 2.5. A primeira coisa a ser feita é remover os móveis, v. 36, que simbolizam todos os hábitos, costumes, cerimônias, e tradições que não têm fundamento na Palavra de Deus. Depois, procuram-se os sinais de corrupção e de podridão, 37; estes se reconhecem logo, seja na prática, na doutrina, seja no culto, pelo contágio que produzem, 39. Procede-se então à remoção das pedras contaminadas, 40 (a excomunhão individual conforme 1 Co 5.1-5). Se depois disto não há cura nem arrependimento, só resta a eliminação da casa, 45 (a rejeição da igreja, Ap 2.5 e 3.16)”. (Disponível em:https://bibliotecabiblica.blogspot.com/2016/05/levitico-14-explicacao-das-escrituras.html. Acesso em: 17 Jul, 2018)
nos vs.33-42 as regulamentações sobre uma casa infectada. Encontramos nestes versos o procedimento que se deveria ter em relação a uma casa infectada pela lepra, isto é, pelo mofo, bolor ou até pelo caruncho. Vale a pena detalharmos essa secção para percebermos suas designações:
1)Cf. o v.34, essas regulamentações seriam válidas principalmente para a época em que Israel habitasse em casas, na Palestina.
2)Ainda cf. o v.34 é necessário um esclarecimento. Essa frase: “e, eu enviar a praga da lepra a alguma casa da terra da vossa possessão...” deve ser bem entendida. Alguém, diante dessas palavras, pode entender que Deus é a fonte imediata de todas as coisas boas ou ruins que nos sobrevém, como p.ex. a lepra. Mas, ao invés de chegarmos a esta conclusão: 1)temos que lembrar que a Bíblia descreve a vontade permissiva de Deus para nós como ato de Deus, cf. Êx 15.26; 1Sm 2.6;Pv 3.33; Is 45.7; 2)temos que lembrar que muitos males são consequência da desobediência do ser humano, cf. Gl 6.7-8 e 1Pe 4.14-16; e, 3)temos que lembrar quer muitos males não tem qualquer relação com o mal ou o bem que tenhamos praticado, como vemos o caso do cego em Jo 9.1-3. Portanto, não devemos entender que Deus mandaria a praga sobre alguma casa, mas, se isso acontecesse então vem as regulamentações...
3)Cf. o v.35 o morador da casa é que tinha a responsabilidade de avisar ao sacerdote que tinha suspeita quem sua casa estava contaminada pelo bolor ou mofo.
4)Cf. o 36. o sacerdote deveria pedir que se desocupassem a casa para que ele pudesse examiná-la corretamente e para que os móveis não ficassem contaminados.
5)Depois de um exame acurado, se perceber contaminação, o sacerdote fecharia a casa por sete dias, cf. os vs. 37-38.
6)Cf. os vs. 39-40 Depois de novo exame, constatando que a casa estava contaminada era necessário a retirada das pedras quem apresentavam o bolor ou o mofo e jogassem essas pedras num lugar imundo, fora do arraial.
7)Nos vs. 41-42 as instruções continuam mostrando que, depois da retirada das pedras a casa deveria ser raspada por dentro e até o pó que resultasse dessa raspagem deveria ser jogado fora longe do arraial. E finalmente, com novas pedras limpas se reconstruiria a casa dando também o acabamento.
Querido amigo, todo esse procedimento certamente tinha caráter higiênico, mas também simbolizava a pureza que deveria ter o povo cujo Deus é Santo. Hoje sabemos que em lugares úmidos e escuros a propagação de bactérias que causam bolor ou mofo é facilitada, portanto, preservando a saúde do povo, mas incutindo a necessidade da santidade em suas mentes, Deus deu essas regulamentações...
Mas o texto prossegue nesse mesmo assunto...” (Através da Bíblia - Levítico 14. Disponível em: http://ccrcbdmpn.blogspot.com/2014/07/atraves-da-biblia-levitico-14.html. Acesso em: 17 Jul, 2018)

3. A lepra nas vestes. As vestes também estavam sujeitas à lepra. Nesse caso específico, tratavam-se de mofos e fungos igualmente nocivos à saúde (Lv 13.47-50). De imediato, a roupa deveria ser levada ao sacerdote (Lv 13.51). Se a praga se mostrasse resistente, o vestuário deveria ser queimado, a fim de se evitar a propagação de doenças (Lv 13.52). Deus advertiu solenemente aos israelitas a se guardarem da praga da lepra, pois a doença abria a porta para outras enfermidades e moléstias (Dt 24.8). Por isso, a lepra tornou-se um dos símbolos mais fortes do pecado (Is 1.6). 
Sendo que as vestimentas são tecidos, e não um organismo vivo, a remoção da parte afetada deveria pôr fim à praga. Havia uma semelhança à lepra no fato de existir a mudança de cores nas manchas, para o verde ou para o vermelho, o que provavelmente era devido à atuação de cogumelos. A limpeza e a higiene exigiam que a praga fosse interrompida e removida. Alguns acham que este trecho se refere ao bolor, ao mofo ou à mangra.
Um leproso usava roupas de luto e devia agir como se a morte já o tivesse vencido. Rasgar as roupas era um sinal costumeiro de calamidade e profunda tristeza (Jó 1.20; 2.12; Mt 26.65). O leproso deveria morar sozinho, e sob nenhuma circunstância poderia entrar na cidade. ele dependia da caridade alheia para viver. “Com o desenvolvimento posterior das sinagogas, foram admitidos ao culto num lugar à parte. Entravam no local de culto antes dos demais adoradores, e saíam depois que a congregação deixava o recinto”. (Bíblia Shedd.)

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Isolamento (Lv 13.45,46)
O isolamento das pessoas com males infecciosos na pele tinha benefícios públicos saudáveis. Pela quarentena de tais pessoas ‘fora do acampamento’, a comunidade estava protegida de males como sarampo, escarlatina, varíola, os quais provavelmente causariam epidemias. Outras regras têm benefícios semelhantes, como aquelas que exigiam lavar qualquer coisa tocada por uma pessoa acometida de mal que cause fluxo da carne (Lv 15.1-12). Enquanto que o primeiro propósito das regras relativas à impureza é espiritual, não nos surpreende que elas tivessem benefícios adicionais. Deus está profundamente interessado em nosso total bem-estar. Qualquer um que seguir as normas bíblicas para o bem-estar espiritual também gozará melhor saúde física” (RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. 9.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 83).

III. FUNÇÕES JURÍDICAS

O livro de Levítico apresenta várias disposições jurídicas, a fim de proteger a família, a propriedade privada e, principalmente, a vida humana. Nesse sentido, o sacerdote atuava também como juiz.
1. Proteção da família. Com o objetivo de manter a pureza e a legitimidade no relacionamento familiar, o Senhor, por intermédio de Moisés, proíbe aos israelitas: o sacrifício infantil (Lv 20.2); relações incestuosas (Lv 18.6-9); o abuso sexual doméstico (Lv 18.10); a exposição das filhas à prostituição (Lv 19.29); a homossexualidade e a bestialidade (Lv 18.22,23). Os filhos de Israel, como adoradores do Deus Único e Verdadeiro, eram obrigados a honrar seus pais e a preservar-lhes a autoridade (Lv 19.3; 20.9). Nesse sentido, os sacerdotes atuavam como reguladores da família israelita.
Essas leis eram cerimoniais e éticas; as últimas são baseadas nos Dez Mandamentos. A santidade e a perfeição de Deus formam a base para se exigir a justiça da parte de todos aqueles que Lhe pertencem. Jesus disse que deveríamos ser perfeitos, como o é nosso Pai Celestial (Mt 5.48).
Na leitura de hoje, vemos Deus chamando a atenção de volta aos Dez Mandamentos, bem como expondo e reenfatizando várias leis. O tema dos primeiros quatro mandamentos pode ser resumido no verso 2, “Santidade ao Senhor”, enquanto o tema dos últimos 6 pode ser resumido no versículo 18, “Honra ao próximo.” No entanto, é interessante que os primeiros mandamentos enfatizados nesta linha de lembretes de Êxodo 20 são uma combinação de “honra aos pais ” e ”honra ao sábado“. Infelizmente, nós, como povo de Deus (tanto nos tempos antigos quanto nos atuais) temos a tendência de esquecer de onde viemos e a quem devemos adorar. E assim, Deus está constantemente trazendo os nossos pensamentos de volta para estes dois pontos importantes. “Lembre-se de onde você veio e respeite seus pais. Mas também além de se lembrar deles, lembre-se de Mim, seu Pai celestial! Eu criei você. Você veio de mim! Sua adoração e lealdade pertencem somente a mim, pois eu sou o Senhor vosso Deus”. (Melodious Echo Mason. Disponível em: http://revivedbyhisword.org/en/bible/lev/19/. Acesso em: 17 Jul, 2018)

2. Proteção da propriedade privada. A propriedade privada, em Israel, era sagrada; uma dádiva de Deus ao seu povo (Êx 3.7,8; 1 Rs 21.3). Por esse motivo, os israelitas deveriam tratar suas casas e campos de maneira amorosa e responsável (Lv 19.9). As colheitas deveriam ser feitas de maneira a atender à carência dos mais pobres (Lv 23.22). Sendo, pois, a terra propriedade do Senhor, não poderia ser explorada de maneira irresponsável e contrária à natureza (Lv 25.3,4). Do texto sagrado, depreendemos que o sacerdote tinha por obrigação supervisionar o uso sustentável da terra. 
Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 42.1). O Antigo Testamento fala muito sobre a propriedade privada. Em relação à afirmação acima de que todos os bens pertencem ao Senhor, a Escritura diz:
Êxodo 19: 5 declara que "toda a terra é minha".
Êxodo 9:29: "a terra é do Senhor".
Levítico 25:23: "a terra é minha". Deus é o proprietário final, mas delegou os cuidados aos que portam sua imagem. Ele os chamou para dominar ou governar tudo o que fez (Gn 1: 26-28). Ele preserva cuidadosamente os direitos dos indivíduos de manter e usar suas terras e propriedades.
Dois dos Dez Mandamentos, "Não roubarás" e "Não cobiçarás", implicam propriedade privada (Êx. 20:15-17). Roubar envolve tomar algo que é de outra pessoa. Cobiçar envolve desejar o que é de outro. Minimamente, a proibição de roubar significa que é errado tomar a propriedade de outra pessoa sem sua permissão. Esta proibição é sublinhada tanto no Antigo como no Novo Testamento.
As proibições divinas contra os marcadores de fronteiras móveis ocorrem cinco vezes ao longo do Antigo Testamento.
Deuteronômio 19:14 diz: "Não mudes o limite do teu próximo, que estabeleceram os antigos na tua herança."
Esta injunção é repetida em Deuteronômio 27:17: "Maldito aquele que remover os limites do seu próximo".
Provérbios 22:28 diz: "Não removas os antigos limites que teus pais fizeram."
Provérbios 23:10 adverte, "Não removas os limites antigos nem entres nos campos dos órfãos"
Em uma lista dos que fazem o mal, Jó 24: 2 inclui: "Até os limites removem; roubam os rebanhos, e os apascentam."
Em 1 Reis 21, a história da repreensão do profeta Elias de Acabe e Jezabel pelo assassinato de Nabote e sua aquisição de sua vinha é uma clássica história bíblica de roubo. Elias pronunciou severo julgamento sobre Acabe e Jezabel por esta ação perversa. (Art Lindsley)

3. Proteção da vida. Também cabia ao sacerdote inspecionar a edificação das casas (Dt 22.8); a criação de animais (Êx 21.36); a preservação da mulher grávida e do filho que ela trazia no ventre (Êx 21.22). Enfim, a vida nas Escrituras é sagrada; um dom do Criador de todas as coisas (Nm 16.22). Por isso, o Senhor determina no Sexto Mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13). Mencionemos ainda as cidades de refúgio, que, administradas pelos levitas, serviam para acolher o que, sem o querer, matava o seu próximo (Nm 35.10-15). 
A Bíblia começa com o Deus vivo criando coisas vivas. Todas as coisas são dele, por ele e para ele (Romanos 11.36). Tudo na vida deve sua existência a ele. Ele anima todas as coisas. Em resumo, ele é o Deus da vida, um Deus que é vivo e que gera coisas vivas. Mesmo quando o diabo tentou frustrar o seu espetáculo vivo, introduzindo a morte – espiritual e física –, Deus a sobrepujou por meio de Jesus. Nele estava a vida (João 1.4) e essa vida era como o alvorecer de um novo dia trazendo luz para todos os homens e dissipando as trevas do maligno (1 João 2.8). Em Jesus e por sua poderosa ressurreição à vida, Deus está soprando nova vida num mundo tenebroso e caído (2 Coríntios 5.17). Tudo isso está por trás das duas palavras e seis consoantes do texto hebraico de Êxodo 20.13. Ele foi redigido de forma tão simples quanto em nossa Bíblia em português e com notável brevidade: “Não matarás”. Das três palavras hebraicas usadas na Escritura Sagrada para descrever a perda da vida, a que está em Êxodo 20.13 é a mais raramente usada e é muito mais específica. Normalmente, embora nem sempre, é usada em referência ao que chamamos “homicídio”. Homicídio não é meramente o ato de tirar a vida de alguém, mas de tirar a vida de alguém injustamente. Isso, é claro, significa que nem todo ato de matar é proibido. Há casos como a legítima defesa, a guerra justa, a pena de morte e outros, nos quais tirar uma vida não é apenas permitido, mas exigido. (Rev. Brian Tallman é pastor da New Life Presbyterian Church (PCA) em La Mesa, Califórnia, EUA.)

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Os sacerdotes também tinham de atuar como mestres da lei (Lv 10.10,11), uma tarefa que nem sempre desempenhavam corretamente (Ml 3.11). Como pedagogos, eles representavam um limitado meio de revelação em certas áreas da saúde da jurisprudência, incluindo o diagnóstico e a limpeza de certos tipos de lepra (Lv 13,14), a purificação de homens e mulheres e de artigos de mobiliário tocados por quaisquer fluxos dos corpos de homens e mulheres (Lv 15), a prova do ciúme (Nm 5.11-21), as controvérsias e os castigos por um assassinato duvidoso (Dt 21.5) e outros assuntos de natureza civil (2 Cr 19.8-11; Ez 44.24).
O sacerdócio hebreu incluía três classes básicas: o sumo sacerdote, os sacerdotes, e os levitas. Os levitas, como uma classe subsidiária que servia aos sacerdotes, não podem ser facilmente distinguidos porque Arão e seus filhos não constavam entre as tribos de Israel como uma tribo, mas foram nomeados para o serviço do Tabernáculo no deserto, especialmente no tocante à sua movimentação. Havia originalmente uma cuidadosa distinção entre os levitas e os sacerdotes, e isso está claramente ilustrado na rebelião de Corá, Datã e Abirão, cujas vidas e as de suas famílias foram perdidas porque como levitas procuraram usurpar o ofício do sacerdote (Nm 16.1-33)” (Dicionário Bíblico Wycliffe. 7.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 1717).

CONCLUSÃO

A aliança do Senhor com a tribo de Levi era firme e bem conhecida de todo o Israel. Eis por que seus descendentes deveriam ser o mais alto referencial da nação no que tange à Palavra de Deus, à instrução e à administração da justiça (Ml 2.4-7). Se o Senhor exigiu excelência e correção dos levitas, no Antigo Testamento, como devemos nós agir no âmbito do Testamento Novo? Que o nosso culto seja marcado pelo amor a Deus e ao próximo. Sejamos, pois, uma fiel referência em todas as coisas. 
Embora tivessem a responsabilidade de serem o referencial de santidade e serviço ao Senhor para a nação, foram, principalmente, os sacerdotes, os culpados pela situação de apostasia em Israel. A advertência de Deus é promulgada em termos da aliança (Ml 2.1). Sete características de um fiel mensageiro de Deus: 1) Possui a vida e paz do Senhor (5a); 2) Teme ao Senhor (5b); 3) Tem a palavra de Deus sempre nos seus lábios (6a); 4) O que fala não está contaminado com o pecado (6b); 5) Anda com o Senhor (6c); 6) Conduz os pecadores para fora do pecado, para a santidade (6d); 7 Prepara-se e procura a instrução do Senhor para poder instruir o seu rebanho (cf. 1 Tm 3.2; 2 Tm 2.14, 15).
“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16).


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

Um comentário:

  1. Que o Senhor tenha misericórdia do seu povo para que a lepra (pecado) nao se prolifere na comunidade cristã.

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