sexta-feira, 6 de julho de 2018

LIÇÃO 2: A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO


SUBSÍDIO I

A Beleza e a Glória do Culto Levítico

Introdução

Em virtude de sua natureza didática e tipológica, o culto levítico tinha de ser majestoso e belo; um reflexo da glória do Deus de Israel. Sua liturgia, por isso mesmo, era para ser vista, ouvida e tocada. Nalguns ritos e cerimônias, até o olfato e o paladar do adorador eram contemplados.
Apesar de tantos recursos pedagógicos, somente alguns vieram a descobrir a essência dos procedimentos levíticos: a plena comunhão entre Deus e o seu povo. Esses raríssimos homens e mulheres tornaram-se conhecidos, na literatura profética, como o remanescente fiel. 

I. O Culto a Deus no Coração Humano

Veremos que o culto divino, para ser perfeito, tem de ser precedido pelo cultivo do coração humano. No âmbito teológico, cultuar e cultivar são sinônimos; harmonizam-se belamente.

1. Definição do culto divino. A palavra “culto” advém do vocábulo latino cultus que, originário do verbo colere, descreve o esmero que o lavrador, na antiga Roma, dispensava a terra, a fim de torná-la arável. Inspirados por essa belíssima etimologia, os romanos não demoraram a associar o cultivo do solo às lides religiosas.
Teologicamente considerado, o culto pode ser definido como as honras, deferências e louvores que o homem, já cultivado pela Palavra de Deus, tributa ao Deus da Palavra. No ato cultual, o homem externa o seu reconhecimento a Deus como o Criador, Senhor e Mantenedor de todas as coisas. Para ser verdadeiro, o culto há de ter como fundamento a doutrina dos profetas e apóstolos, conforme a encontramos na Bíblia Sagrada.
Rigorosamente, os louvores carreados a um ídolo não podem ser considerados culto, pois somente Deus é digno de toda adoração: Ele tudo criou e a tudo mantém. Quanto aos ídolos, que tributos merecem? Logo, o culto a um ídolo não é culto, mas idolatria; algo esdrúxulo, bizarro, grotesco.
Se a criatura tem de venerar o que a criou, conclui-se que o ídolo, por ser criação do homem, deveria adorar a esse mesmo homem. Silogisticamente, o homem está para o ídolo, assim como Deus está para o homem. A diferença é que somente Deus pode criar a partir do nada. O homem limita-se a recriar coisas de matérias e refugos já existentes. É por isso que o ídolo, embora exista, não passa de um objeto vil e desprezível.

2. Jesus e o cultivo do coração humano. O nosso relacionamento com Deus requer cuidados e zelos agriculturáveis. Exige atenção, sabedoria, paciência. Foi por isso que o Senhor Jesus assemelhou a pregação do Evangelho ao semear (Mt 13.3-18). Nessa faina, o Semeador ansiará por obreiros e diaristas, para que uma parte da sementeira, ao menos, venha a germinar (1 Co.3.6).
Mas quem, de fato, está a sulcar o coração humano? O Senhor Jesus responde a essa pergunta com surpreendente beleza: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor” (Jo 15.1, ARA). Se nos voltarmos a Isaías, deparar-nos-emos com o próprio Deus a sulcar o coração de Israel, a fim de fertilizá-lo, para que a boa semente germine: a Palavra da Fé. A descrição do profeta é de uma sublimidade que transcende a poesia.
O cultivo do coração de Israel, levado a efeito pelo próprio Deus, não foi suficiente para reconduzi-lo, naqueles dias já distantes e rebeldes, ao culto verdadeiro. A alma israelita em nada diferia daquele terreno pedregoso e cheio de cardos descrito pelo Senhor na Parábola do Semeador.
Sim, o culto divino tem muito a ver com o cultivo da terra. Para se cultuar a Deus tem de se cultivar, antes, o coração do homem.
Dessa explanação, concluímos que o culto ao Deus Único e Verdadeiro não vinga como as ervas daninhas, nem como o joio que, nem bem é lançado ao solo, alastra-se e já sufoca o bom plantio. O culto divino exige uma lavragem zelosa, paciente e constante da alma; um trabalho que, iniciado com o semeador, prossegue com o que rega e com o que, vigilante e atento, impede o inimigo de lançar a cizânia durante as vigílias solitárias e já tomadas pelas trevas (1 Co 3.6).

3. O coração humano e o conhecimento de Deus. A melhor forma de se cultivar o coração humano encontra-se no livro de Oseias: “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao SENHOR; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra” (Os 6.3).
Quanto mais conhecemos a Deus, mais aprofundamos a nossa comunhão com Ele. O coração de Moisés estava de tal forma cultivado pela presença divina que, segundo o derradeiro registro do Deuteronômio, ele já não orava ao Senhor, mas, com o Senhor, falava cara a cara (Dt 34.10-12). O conhecimento que o profeta tinha de Deus transcendia o mero assentimento teológico; era algo experimental, profundo e cotidiano. 

4. Os cultivadores do coração humano. Foi para cultivar o verdadeiro culto, no coração hebreu, que o Senhor providenciou profetas, sacerdotes e reis. Cada um desses pedagogos tinha a obrigação de educar o povo na Palavra de Deus e mantê-lo ante o Deus da Palavra. Era uma educação tão perfeita, que levava o israelita a crescer tanto diante de Deus como perante os homens. Samuel, apesar do ambiente em que fora criado, alcançou esse ideal (1 Sm 2.21,26).
Vinha o profeta, e ensinava a nação a guardar os mandamentos divinos. Em seguida, chegava o sacerdote que, intercedendo pelo povo, tornava-o propício diante do Senhor. Quanto ao rei, possuindo este um mandato cristológico, tinha por obrigação sustentar o ofício profético e manter o ministério sacerdotal. Doutra forma, os ministros divinos não teriam condições de desempenhar a sua função. Na Igreja de Cristo, temos obreiros igualmente valiosos, cuja função também é educar-nos na Palavra de Deus (Ef 4.11-16).No ato de congregar, cultivamo-nos mutuamente por intermédio do louvor, da oração, da celebração da Santa Ceia e, principalmente, da exposição da Palavra de Deus. Sem as Sagradas Escrituras, a liturgia é inútil. 

II. O Culto Levítico

O culto levítico é o resultado de um processo litúrgico que, iniciado por Adão, culminou na chamada dos descendentes de Levi, cujo ministério precípuo consistia em zelar pela adoração ao Deus Único e Verdadeiro. Neste tópico, veremos os antecedentes do culto hebreu.

1. O culto adâmico. Se Adão não tivesse dado ocasião ao pecado, suas oferendas a Deus, no Éden, teriam consistido apenas em sacrifícios pacíficos e de louvores. Ao invés de ofertas cruentas, limitar-se-ia ele a apresentar ao Senhor as primícias de seu trabalho no paraíso: a exuberância do reino vegetal.
Ao desobedecer ao Criador, o pai da raça humana percebeu que, além das ofertas de paz, teria de apresentar ao Senhor, também, sacrifícios por suas transgressões. Doutra forma, como poderia ele fazer-se propício diante do Santíssimo Deus? Aliás, na morte do animal, ou animais, cujas peles serviram-lhe de vestes, Adão e Eva vieram a entender o mecanismo da expiação (Gn 3.21).
Adão, apesar de sua culpa universal, jamais deixou de ser tratado por Deus como filho amado (Rm 5.12; Lc 3.38). Sem o seu exemplo de arrependimento e de adoração, os cultos que se seguiram, na História Sagrada, não teriam sido possíveis. 

2. O culto noético. O culto com que Noé servia ao Senhor tinha, como genealogia, uma sequência de homens santos, piedosos e ousados em sua adoração. O primeiro dessa lista foi Abel, cujo sangue clamou da Terra aos Céus (Gn 4.10). Assim como a morte de Estêvão deflagrou o crescimento da Igreja (At 11.19.20), de igual modo acontecera com o martírio de Abel; o seu exemplo foi imitado por homens como Enos, filho de Sete, cuja vida levou a linhagem piedosa de Adão a um reavivamento (Gn 4.26).
O culto de Noé era tão excelente que só poderia ser equiparado ao de Jó e ao de Daniel (Ez 14.14). Aliás, esses foram os três varões mais piedosos de toda a História Sagrada. A adoração noética sobressaía-se pela graça divina e constituía-se num poderoso libelo contra uma geração perversa, corrompida, irrecuperável e blasfema (Gn 6.8,9; Hb 11.7).Sobrevivendo ao Dilúvio e à apostasia de Cam, o culto noético teve, como herdeiros imediatos, a Sem, a Jó e, finalmente, a Abraão, nosso pai na fé (Gn 9.26; Jó 1.1). Cronologicamente, o patriarca Jó precedeu ao patriarca hebreu, pois, em suas lamúrias, cita Adão, mas não menciona Abraão (Jó 31.33).

3. O culto abraâmico. O culto de Abraão teve início quando ele ainda era um gentio como eu e você, querido leitor (At 7.2). Os próprios israelitas, aliás, reconhecem que o seu grande patriarca não passava de um pagão entre outros pagãos (Dt 26.5). Mas, reconvocado em Harã, obedeceu prontamente ao Senhor (Gn 12.1-4). Já firme na fé, pôs-se a peregrinar por uma terra que, embora sua, tratava-o como estrangeiro (Hb 11.9). Mas, para o crente Abraão, o que mais lhe importava era a sua confiança em Deus. Ele sabia que, além de sua herança terrestre, aguardava-o uma cidade, nos Céus, cujo artífice era o Senhor Todo-Poderoso.
O auge do culto abraâmico deu-se quando o patriarca encontrou-se com Melquisedeque, depois de uma renhida batalha contra uns régulos orientais. Ali, na já querida Salém, ele foi reconhecido pelo rei-sacerdote como servo de Deus e legítimo representante do verdadeiro culto (Gn 14.19,20).
Celebra-se, ali, a proto-ceia do Senhor Jesus, unindo, numa única liturgia, os representantes de ambos os testamentos (Gn 14.18). Nessa celebração, encontrava-se já presente, nos lombos de Abraão, o responsável pelo culto oficial de Israel, conforme a interpretação do autor da Epístola aos hebreus: “E, por assim dizer, também Levi, que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (Hb 7.9,10, ARA).
Para mim, o capítulo 14 de Gênesis é o texto de ouro da religião divina. Nessa narrativa, Melquisedeque ergue-se como sacerdote do Deus Altíssimo. E, nessa condição, traz o pão e o vinho consagrados ao crente Abraão, que, pela fé, celebra a redenção do corpo e do sangue de Jesus Cristo. Ao fazê-lo, mostra a eternidade do sacrifício vicário do Filho de Deus. Naquele ato, Levi, em Abraão, curva-se ao Novo Testamento.
Com base nesse texto sagrado, declaramos que existe apenas uma religião abraâmica: a religião do Deus Único e Verdadeiro. Esta, por seu turno, manifestou-se plenamente na vinda de Jesus Cristo, conforme explica muito bem o autor da Epístola aos Hebreus, na introdução de sua carta. Portanto, considerar o Islã uma religião abraâmica é desconhecer o espírito do Antigo Testamento. Rigorosamente falando, nem o próprio Judaísmo, como hoje o conhecemos, é uma religião abraâmica. Foi o que o próprio Cristo deixou patente aos seus contemporâneos (Jo 8.40).

4. O culto levítico. Herdeiro direto da devoção abraâmica, o culto levítico pode ser definido como a instituição oficial da verdadeira religião confiada a Israel pelo próprio Deus. Seu objetivo não é apenas litúrgico, mas essencialmente teológico, conforme exorta o profeta Oseias aos seus contemporâneos (Os 6.3). Apesar de sua imponência e exterioridade, a adoração levítica é voltada ao interior de cada adorador de Jeová, que sempre buscou estar presente entre o seu povo.
Segundo a narrativa sagrada, o culto levítico foi instituído pela celebração da Páscoa, na noite que precedeu a saída dos filhos de Israel do Egito. E, tendo como fundamento esse fato, conduziu litúrgica, didática e teologicamente os israelitas a se apresentarem ao mundo como um povo escolhido, profético, sacerdotal e real. Um povo, aliás, que deve a sua redenção unicamente a Jeová.      

III. As Finalidades do Culto Levítico

O culto divino, no Antigo Testamento, tinha quatro finalidades básicas: adorar ao Único e Verdadeiro Deus, reafirmar as alianças divinas, professar o credo mosaico e aguardar o Messias. Era uma celebração teológica e messiânica. 

1. Adorar ao Único e Verdadeiro Deus. Ao reunir-se para adorar a Deus, a comunidade de Israel demonstrava duas coisas: a aceitação do Único e Verdadeiro Deus e a rejeição dos deuses pagãos (Sl 86.10; 97.9). Enfim, o culto levítico afastava os israelitas da idolatria e aprofundava a sua comunhão com o Senhor (Sl 96.5). Esse era o teor dos cânticos congregacionais do Santo Templo.

2. Reafirmar as alianças antigas. Se os filhos de Israel, por exemplo, entoassem o Salmo 136, professariam ser herdeiros das alianças que o Senhor firmara com Abraão, Isaque, Jacó e Davi. E, assim, cultuando ao Senhor, lembravam-se de que Deus comanda a História. Em boa parte de seus cânticos, os filhos de Israel relembram a presença de Deus em sua vida familiar e comunal (Sl 47.9). Veja o Salmo 105. 

3. Professar o credo divino. Em seus cultos, os israelitas, guiados pelo ministério levítico, professavam o seu credo: “Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4, ARA). Nesta sentença, resume-se toda a teologia do Antigo Testamento. É necessário que voltemos a recitar e a cantar o nosso credo. 

4. Aguardar o Messias. No livro de Salmos, há uma elevada cristologia, que descreve a paixão, a morte, a ressurreição e a glorificação do Senhor Jesus Cristo como Rei dos reis (Sl 22.1-19; 16.10; 110.1-4; 2.1-8). Um israelita crente e predisposto a servir a Deus jamais seria surpreendido com a chegada do Messias, pois o culto levítico era essencial e tipologicamente cristológico.

IV. Os Elementos do Culto Levítico

Em seu auge, o culto divino do Antigo Testamento era composto por estes elementos: sacrifícios, cânticos, exposição da Palavra, oração, leitura da Palavra e bênção. Isso não significa, porém, que todo esse conteúdo estivesse presente em todas as celebrações.  

1. Sacrifícios. O culto inaugural do Santo Templo, que teve início com a chegada da Arca Sagrada, foi marcado por uma grande quantidade de sacrifícios de animais (1 Rs 8.5). De forma sem igual, o rei Salomão e todo o Israel demonstraram suas ações de graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

2. Cânticos. Em seguida, os cantores e músicos puseram-se a louvar ao Senhor, entoando provavelmente os cânticos que Davi e outros salmistas haviam composto (2 Cr 5,12,13). Nesse período, a arte musical de Israel era a mais desenvolvida de toda região oriental. 

3. Exposição da Palavra. Logo após, Salomão dirigiu-se ao povo, fazendo uma síntese da História Sagrada até aquele instante. Ele mostra a clara intervenção de Deus em cada etapa da existência de Israel (2 Cr 6.1-13). 

4. Oração. O rei dirige-se, agora, a Deus em oração, agradecendo-o por aquele momento, e intercede não só por Israel, mas pelos gentios que, ouvindo acerca da intervenção divina na vida de seu povo, para ali acorreriam.

5. Leitura da Palavra. Após o cativeiro babilônico, já no tempo de Esdras e Neemias, a Palavra de Deus começou a ser lida publicamente como parte da liturgia do culto (Ne 8.1-8). Nesse período, os sacerdotes puseram-se também a explicar a Lei ao povo de Deus. Antes disso, a leitura das Escrituras limitava-se aos montes Gerizim e Ebal (Dt 29.11).

6. Bênção. O culto levítico era encerrado com a bênção araônica (Nm 22.6). Ao serem assim abençoados, os filhos de Israel conscientizavam-se de que eram propriedade particular do Senhor. 


ANDRADE, Claudionor de. Adoração, Santidade e Serviço: Os Princípios de Deus para a sua Igreja em Levítico. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018. 

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO II

INTRODUÇÃO

O que é o culto divino? Não é fácil responder a essa pergunta, pois, no ato da adoração ao Deus Único e Verdadeiro, temos de evitar dois extremos: a informalidade profana e indecente, e o ritualismo que mata o genuíno culto bíblico. Por esse motivo, o Senhor deixou à congregação israelita, nos Livros de Êxodo e de Levítico, ordenanças e instruções quanto à essência de seu culto. Tendo como exemplo a consagração do Santo Templo, em Jerusalém, mostraremos, nesta lição, a beleza e a glória do culto levítico. Que a nossa adoração a Deus conte, igualmente, com a presença do Espírito Santo em todos os atos. Sem a glória de Deus, nenhum culto tem validade.
De todos os aspectos da vida da igreja cristã, o culto é o mais importante. É no culto que a presença atuante de Deus se focaliza, instruindo, corrigindo, consolando e transformando vidas, já que o Senhor habita não somente no corpo físico do crente (1Co 6.19), mas também (e especialmente) na comunidade dos salvos que se une para servir e adorar (1Co 3.16,17; Ef 2.21,22; 1Pe 2.5). Como deve ser a liturgia do culto? Será que Deus está recebendo a adoração que oferecemos? Podemos adorar de qualquer maneira, ou como sentimos no ‘coração’? A Bíblia indica que, em nosso culto coletivo, os crentes deveriam fazer apenas aquelas coisas que Deus positivamente exige de nós, seja por mandamento ou por inferência. Somente Deus tem o direito de determinar como ele deve ser adorado (Lv 10.1-3; Jo 4.20-26; 1Co 14). O segundo mandamento proíbe não apenas adorar outros além do único Deus verdadeiro, mas também adorar o Deus verdadeiro de um modo que ele não ordenou (Êx 20.2-6). É no culto que o nome de Deus é exaltado em cânticos e orações, com a força que decorre da união de vozes, pensamentos e corações: “Engrandecei o Senhor comigo, e todos, à uma, lhe exaltemos o nome” (Sl 34.3).
Levítico é dedicado à adoração de Deus pelo povo resgatado, como se vê pela frequente ocorrência das palavras relacionadas com santidade e sacrifício. As cinco ofertas são descritas nos capítulos 1 a 7 e explicam tudo que foi realizado no calvário. Não há nenhum livro do Velho Testamento que nos faça melhor compreender o novo que o de Levítico. Não há em toda a Bíblia nenhum livro que nos conduza mais diretamente à cruz que o de Levítico. Ele é o “Evangelho do Velho Testamento”. Se quiser perceber, do modo mais claro possível, a relação vital entre o velho e o novo Testamento, estude esse livro. Se quiser adquirir um sentimento mais profundo de horror ao pecado e entender a sua hediondez, estude Levítico. Se desejar entender mais enfaticamente a necessidade da cruz, estude Levítico. Se desejar adquirir uma apreciação mais profunda da santidade, da misericórdia e da graça de Deus, então comece a estudar os fatos a respeito das cinco ofertas. O livro começa com a voz do Senhor chamando Moisés da Tenda da Congregação Lv 1.1. Todas as ofertas foram ordenadas ainda que eram voluntárias. As cinco ofertas em ordem:
1 – O Holocausto. Com sangue, Lv 1.1-17 e 6.8-13.
2 – A Oferta de Manjares. Sem sangue, Lv. 2.1-16 e 6.14-23.
3 – A Oferta Pacífica. Com sangue, Lv. 3.1-17 e 7.11-34.
4 – A Oferta pelo Pecado. Com sangue, Lv. 4.1-35.
5 – A oferta pela Culpa. Com sangue, Lv 5.14-19.” (O CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO - Pr. Ananias Cândido Diniz. Disponível em:https://facteologia.webnode.com.br/estudos-biblicos/o%20culto%20no%20antigo%20testamento%20-%20pr-%20ananias%20c%C3%A2ndido%20diniz/. Acesso em: 3 Jul, 2018). 

I. O CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO

Vejamos o que é o culto divino e o seu desenvolvimento na era patriarcal, no período de Moisés, no tempo de Davi e de Salomão, e após o Cativeiro babilônico.
1. Definição. O culto divino é o serviço amoroso, voluntário e exclusivo que Deus requer de cada uma de suas criaturas morais (anjos e homens), mui particularmente de Israel, no Antigo Testamento, e, agora, da Igreja, para que todos, em todos os lugares e tempos, glorifiquem-no como o Criador, Senhor e Mantenedor de todas as coisas (SI 100.1; Ap 14. 7).

Culto é homenagem ao que se considera divino ou sagrado; é o conjunto de atitudes e ritos pelos quais se adora uma divindade. O culto é a invocação a Deus, feita por seu povo, a fim de glorificar ao próprio Deus. O culto é a resposta reverente e adoradora que só se torna possível pela graça de Deus, que nos dá vida (Jo 10.10; Ef 2.1,5; Cl 2.13), capacitando-nos para esse evento.
O culto levítico era bem elaborado. Seus gestos e sons constituíam-se num espetáculo de raríssima beleza. Haja vista a observação da rainha de Sabá ao visitar o rei Salomão. A soberana enalteceu a Jeová diante da postura dos israelitas na Casa de Deus (1Rs 10.5).
Os ministros do altar não poupavam esforços nem minúcias na condução do culto. Tudo tinha de sair perfeito; nenhum detalhe haveria de ser esquecido. A apresentação do sumo sacerdote, dos ministros da música e dos demais levitas não contemplava a menor hipótese de falha. Nos sacrifícios e oferendas, redobrados desvelos. A atenção sacerdotal perseguia o menor descuido. Era uma liturgia sublimada.
Na inauguração do Santo Templo, tamanha foi a majestade divina a baixar no santuário, que o cronista simplesmente registrou: “E os sacerdotes não podiam entrar na casa do Senhor, porque a glória do Senhor tinha enchido a sua casa” (2Cr 7.2).” (O culto cristão e a liturgia. Disponível em: http://www.cacp.org.br/o-culto-cristao-e-a-liturgia/. Acesso em: 3 Jul, 2018)

2. Na era patriarcal. O primeiro grande patriarca a prestar culto a Deus foi Noé (Gn 8.20). Abraão, Isaque e Jacó também construíram altares para adorar ao Senhor, que os chamara a constituir a nação profética, sacerdotal e real por excelência (Gn 12.7; 26.25; 35-1-7).
Gênesis 4.3 e 4 traz a primeira referência a um ato de culto, com Caim e Abel, em borá não explique porque os rituais tiveram início. Na época de Noé, o sacrifício de animais devia ter sido reconhecido como a forma aceitável de culto (Gn 8.20). O culto dos patriarcas era diferente do de seus vizinhos pagãos, porque era baseado não em ritos agrícolas ou de fertilidade, mas em visitas de Deus aos patriarcas. Eles edificaram os seus altares e lugares de culto onde Deus se fazia presente (Gn 12.7; 28.18; Êx 17.15). A promessa de Deus a Abraão foi repetida a Isaque, e ele reagiu de maneira semelhante, em Gênesis 26.24,25. A visão que Jacó teve de Deus levou-o a dar, ao lugar do encontro, o nome de “Betel” (casa de Deus) e a fazer o seu voto memorável. Depois da reconciliação de Jacó com Esaú, Deus chamou aquele para fazer um altar e executar um ritual de purificação e troca de vestes (Gn 35.1-4). Este acontecimento revela o aspecto familiar do culto nesse período. Embora pareça primitivo, o culto entre os patriarcas era pessoal e familiar, e estava ligado, inseparavelmente, com um comportamento reto diante de Deus. Esses homens criam que Deus lhes estava muito próximo e era mui real (Gn 18.1).

3. No período de Moisés. Deus, através de Moisés, entregou ao seu povo leis e instruções para que o seu culto passasse da informalidade a uma etapa mais teológica, litúrgica e congregacional (Êx 12.21-26). A partir daí, estabeleceram-se as festividades sagradas como a Páscoa e o Dia da Expiação (Êx 12.14,20; Lv 23.27,28). Agora, não somente as famílias, mas todo o povo é intimado a cultuar ao Senhor.
“2. Do Egito a Canaã. Esse senso de percepção imediata da presença de Deus é mostrado na experiência de Moisés com um arbusto em fogo — a sarça ardente (Êx 3.1-6). Ela o preparou para a sua confrontação com Faraó, e o culto foi a base de sua exigência de que os israelitas fossem libertos (Êx 5.1-3). A apoteótica experiência de libertação da escravidão egípcia foi celebrada na Festa da Páscoa (Êx 12.11; 34.25). Ela também era conhecida como Festa dos Pães Asmos, e tornou-se o mais importante dos festivais de Israel. Embora ela possa ser relacionada com observâncias pré-israelitas, a sua relação com o ato de Deus no Egito tomou-a central no culto a Yahweh. Sabemos muito mais a respeito de sua celebração da parte do Novo Testamento do que do Velho. Depois de atravessar o Mar Vermelho, Moisés e o povo de Israel cantou ao Senhor o cântico que consta em Êxodo 15.1-19. Era característico de Israel prestar louvor a Deus por seus atos poderosos. Eles não apenas cantaram, mas Miriã tomou o seu pandeiro e liderou as mulheres na dança. O período em que o povo de Deus ficou acampado nas cercanias do Monte Sinai foi também ocasião de memoráveis experiências de culto. O povo foi instruído a lavar as suas vestes e a evitar, a qualquer custo, qualquer contato com a montanha, depois que Moisés o consagrou (Êx 19.10-14). E, então, eles tremeram diante da dramática demonstração da presença de Deus antes de o Decálogo ser dado a Moisés. Depois disso, atos pactuais de culto foram executados (Êx 24.3-8). Antes de o povo deixar as fraldas do Sinai, o Senhor instruiu Moisés para fazer com que eles lhe construíssem “um santuário, para que eu habite no meio deles” (Êx 25.8), conforme disse. Essa tenda grande com o seu mobiliário são descritos em Êxodo 25 a 27. Este consistia em altares para ofertas queimadas e para incenso, entre outras coisas, mas o seu objeto mais reverenciado era a arca do pacto, que ficava em um compartimento separado da tenda, chamado o santo dos santos. Essa caixa coberta de ouro provavelmente continha o Decálogo ou alguma outra lista de requerimentos do pacto. Em cada ponta de sua tampa de ouro sólido ficava um querubim, com suas asas estendidas para o outro, e, entre os querubins, ficava o propiciatório, e o lugar de habitação de Yahweh ficava acima desse propiciatório. Sacrifícios, ofertas e observâncias dos tempos mosaicos são descritos em Êxodo 29.38-31.17. Depois que o tabernáculo havia sido edificado, tornou-se centro também de comunhão individual com Deus (Êx 33.7-11), bem como o foco nacional de culto. De acordo com o livro de Números, os homens da tribo de Levi foram escolhidos “para fazerem o serviço da tenda da revelação (8.15). Desta forma, o culto israelita foi uma questão de desenvolvimento, de acordo com a necessidade e com as ordens divinas. A entrada de Israel em Canaã e a queda de Jericó podem ser consideradas como pompa religiosa, tanto quanto procissões militares. Quando Israel se acampou em Gilgal, na margem oriental do Jordão, doze pedras de memorial foram carregadas do leito do Jordão, para lembrar, aos seus filhos, que Deus carregara o seu povo através do Jordão, como o fizera através do Mar Vermelho, “para que todos os povos da terra conheçam que a mão do Senhor é forte” (Js 4.24). Ê provável que Gilgal tenha sido o lugar do primeiro ato de culto de Israel na Terra Prometida. Desta forma, esse local tomou-se um santuário importante; muitos anos mais tarde, Saul foi coroado ali. Ã medida que conquistou a terra, Israel também capturou os santuários dos cananeus. Cada aldeia, por menor que fosse, tinha o seu “lugar alto”. Outros santuários notáveis, desse período, foram Dã, Berseba, Siquém e Siló. As práticas pagãs começaram a influenciar tanto o culto quanto a moralidade dos israelitas, mas, depois da terceira distribuição do território conquistado, o povo “se reuniu em Siló, e ali armou a tenda da revelação” (Js 18.1)”. (Adoração e Culto segundo Deus. Disponível em: http://botanicochurch.blogspot.com/2015/06/adoracao-e-culto-segundo-deus.html. Acesso em: 3 Jul, 2018).

4. No tempo de Davi e Salomão. Até a ascensão de Davi, como rei de Israel, a música não era utilizada no culto divino. O cântico de Miriã e o de Débora constituíam manifestações espontâneas que precederam a inserção da música na liturgia do Santo Templo (Êx 15.20,21; Jz cap. 5). Mas, com o rei Davi, que também era profeta, salmista e músico, a celebração oficial ao Senhor foi enriquecida com a formação de coros e instrumentos musicais (l Cr 15.16). Buscando sempre a excelência do culto divino, o rei Davi inventou e fabricou diversos instrumentos musicais (l Cr 23.5; 2 Cr 7.6). Salomão dedicou-se igualmente ao enriquecimento litúrgico e musical na adoração divina (2 Cr 5.1-14). No auge do Santo Templo, a Liturgia hebréia impressionava por sua beleza e arte (2 Cr 5.13). Ezequias também destaca-se pelo zelo ao culto do Senhor (2 Cr 29.26-28).
“3. O Culto nos Primórdios da Monarquia. A contenda com os pagãos foi difícil, tanto em termos de política quanto de religião. O livro de Juizes revela o quanto o culto a Baal minou a fé e o comportamento israelita. Na época de Samuel, a arca do pacto foi usada em vão, como fetiche, na tentativa de Israel de derrotar os filisteus. Quanto a arca foi capturada, Siló perdeu o seu significado como santuário de Deus. Culto regular em um lugar central não é mencionado desde Josué até I Samuel. E, então, em II Samuel, começou um reavivamento do culto a Yahweh, sob a direção de Davi. Ele levou a arca para Jerusalém (II Sm 6.15) e colocou-a em uma tenda especial. Mais tarde, ele comprou a eira de Omâ, como local para edificar um altar a Deus — e mais tarde o Templo de Salomão. Alguns eruditos acham que Davi combinou várias tradições religiosas para ajudar a fé de Israel a falar à sua época. Seja o que for que tenha acontecido, “ele elaborou os princípios, o espírito e algumas das formas” (Davies, p. 880) e foi o principal responsável pelo desenvolvimento da música no culto israelita (II Sm 6.5; I Cr 24-26) — desenvolvimento este de tremendo potencial espiritual.” (Adoração e Culto segundo Deus. Disponível em:http://botanicochurch.blogspot.com/2015/06/adoracao-e-culto-segundo-deus.html. Acesso em: 3 Jul, 2018).

5. Após o cativeiro babilônico. Em 586 a.C., os judeus foram levados em cativeiro à Babilônia, onde permaneceram 70 anos (Jr 25.11,12). Nesse período, pelo que inferimos do Salmo 137, a adoração divina foi praticamente esquecida. Mas, com o retorno a Jerusalém, os repatriados, incentivados por Esdras e Neemias, reavivaram o culto levítico (Ne 12.22-30).
“Durante os anos do cativeiro, pararam os rituais sacrificiais. As festas regulares não puderam ser celebradas, mas um estudioso sugeriu que as suas estações podem ter sido comemoradas como memoriais, quando as misericórdias de Deus eram renovadas e as suas esperanças reacendidas para o futuro. O sábado tornou-se o principal dia de culto regular. Foi também durante esse período que a sinagoga pode ter começado, como substituta do Templo e como centro local de estudo e culto. Privado do culto no Templo, o povo apegou-se, cada vez mais à lei de Deus, de que era o único guardião. Como lugar de leitura e estudo da lei, a sinagoga era primariamente uma instituição de ensino. Mas o culto ali consistia de oração, leitura da Lei e dos Profetas, cântico de Salmos e ensino. Podemos presumir com certeza que o culto na sinagoga refletia bem, como contribuía para o intenso espírito de nacionalismo, zelo extremo pelas interpretações rabínicas da Lei, crescente expectativa escatológica e conceitos de devoção religiosa mais cerimoniais do que morais — características estas que expressavam um judaísmo em desenvolvimento. A literatura do período vetero- testamentário e suas implicações, verificadas claramente no ensino de Jesus, expressavam estas características do culto desse período. Depois do exílio, o povo, que havia conservado as suas características através das décadas de cativeiro estrangeiro, continuou a observar as festas principais, mas fez algumas modificações nos padrões de culto. Os profetas cúlticos provavelmente tornaram-se os corais de cantores do Templo, que usaram diferentes coleções de salmos. A Festa dos Tabernáculos foi aumentada e dividida em três festivais: Dia do Ano Novo, Dia da Expiação e Festa dos Tabernáculos. Presumimos que o segundo Templo não se comparava com o de Salomão em tamanho e beleza (Ag. 2:3), mas levou vários anos para ser construído e durou cerca de cinco séculos. Embora o seu santo dos santos não contivesse mais a arca, o Templo ainda era o centro de culto de Israel e o símbolo de sua dedicação a Deus.” (Adoração e Culto segundo Deus. Disponível em: http://botanicochurch.blogspot.com/2015/06/adoracao-e-culto-segundo-deus.html. Acesso em: 3 Jul, 2018).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
                               
Culto
1. Definição etimológica e antropológica. A palavra culto é originária do vocábulo latino ‘culto’, e significa adoração ou homenagem que se presta ao Supremo Ser. No grego, temos duas palavras para culto: ‘latréia’, significando adoração; e ‘proskuneo’, reverenciar, prestar obediência, render homenagem.
2. Definição teológica. O culto é o momento da adoração que tributamos a Deus; marca o encontro do Supremo Ser com os seus adoradores. Eis porque, durante o seu transcurso, cada membro da congregação deve sentir-se e agir com o integrante dessa comunidade de adoração — a Igreja de Cristo.
Se o culto aos ídolos induz o ser humano às mais abjetas práticas, a adoração cristã enleva-nos ao coração do Criador. O teólogo Karl Barth via o culto cristão como ‘o ato mais importante, mais relevante e mais glorioso na vida do homem’” (ANDRADE, Claudionor. As Disciplinas da Vida Cristã: Como alcançar a verdadeira espiritualidade. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, pp. 58,59).

II. ELEMENTOS DO CULTO LEVÍTICO

A fim de mostrarmos a beleza e a glória do culto divino no Antigo Testamento, tomemos como exemplo a consagração do Santo Templo, pelo rei Salomão, em Jerusalém.

1. Sacrifícios. O culto inaugural do Santo Templo, que teve início com a chegada da Arca Sagrada, foi marcado por uma grande quantidade de sacrifícios de animais (1Rs 8.5) - Cf. Levítico cap. 1. De forma sem igual, o rei Salomão e todo o Israel demonstraram sua ação de graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.
O holocausto (‘Olah em hebraico, cujo significado é ‘elevar fumaça’ ou ‘totalmente queimado’), é a oferta por excelência, de onde todas as demais são decorrência. O holocausto significa dedicação integral (alma e corpo) a Deus, e tipifica a pessoa e obra de Cristo, ao se oferecer imaculado a Deus, a fim de cumprir completamente a vontade do Pai (veja Hb 9.14;Fp 2.6-8). O Templo de Salomão, o Primeiro Templo, destruído em 587 a. C. por Nabucodonosor II; fato narrado pelo historiador judeu Flávio Josefo que escreveu: "o templo foi queimado 470 anos, 6 meses e 10 dias depois de ter sido construído" [Josephus, Jew. Ant. 10.8.5]. Em sua inauguração, muitos sacrifícios pacíficos foram oferecidos, a tal ponto que foi necessário usar o átrio do templo porque o altar não comportava tudo. As festas duraram duas semanas, incluindo a festa dos tabernáculos, terminadas as quais o povo voltou feliz para casa.

2. Cânticos. Em seguida, os cantores e músicos puseram-se a louvar ao Senhor, entoando provavelmente os cânticos que Davi e outros salmistas haviam composto (2 Cr 5.12,13).
Acabando Salomão de orar, desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios; e a glória do SENHOR encheu a casa. E os sacerdotes não podiam entrar na Casa do SENHOR, porque a glória do SENHOR tinha enchido a Casa do SENHOR. E todos os filhos de Israel, vendo descer o fogo e a glória do SENHOR sobre a casa, encurvaram-se com o rosto em terra sobre o pavimento, e adoraram, e louvaram o SENHOR, porque é bom, porque a sua benignidade dura para sempre” (2Cr.7.1-3). Levando ao templo a arca da aliança, Salomão fez como seu pai Davi: a cada seis passos oferecia sacrifícios; e com canto e música e com grande cerimônia, ‘trouxeram os sacerdotes a arca do concerto do Senhor ao seu lugar, ao oráculo da casa, à santidade das santidades’ (2Cr 5.7). Dentro do Templo, os cantores tomaram os lugares que lhes eram designados – “levitas vestidos de linho branco, com címbalos, e com alaúdes, e com harpas – permaneceram de pé para o oriente do altar, e com eles até cento e vinte sacerdotes que tocavam as trombetas” (2Cr 5.12).

3. Exposição da Palavra. Logo após. Salomão dirigiu-se ao povo, fazendo uma síntese da História Sagrada até aquele instante. Ele mostra a clara intervenção de Deus em cada etapa da existência de Israel (2 Cr 6.1-13).
Salomão toma a palavra e discursa dirigindo-se à multidão. O que Salomão disse sobre a presença de Deus na escuridão foi o prefácio do seu discurso de consagração. O coração do rei estava repleto naquele dia. Todas as suas esperanças haviam sido realizadas. Deus desceu para morar na casa que Salomão havia construído. Salomão discursa sobre a aliança, as promessas de Deus, Sua fidelidade, abençoa todo o povo, exalta e agradece a Deus.

4. Oração. O rei dirige-se, agora, a Deus em oração, agradecendo-o por aquele momento, e intercede não só por Israel, mas pêlos gentios que, ouvindo acerca da intervenção divina na vida de seu povo, para ali acorreriam (2 Cr 6.32,33).
“A oração de Salomão apresenta três divisões facilmente identificáveis:
1. Um apelo geral para que DEUS honrasse sua palavra a Davi e ouvisse a oração de seu servo, Salomão (vv. 22-30).
2. Sete petições especiais (vv. 31-50). Essas petições foram expressas mediante paralelismos poéticos. Suas colocações foram colocadas de um modo condicional, contrapondo-se o vocábulo ‘quando’ (ou ‘se’) à palavra ‘então’.
Quando um homem for obrigado a prestar algum juramento, então ouve do céu e age (vv.31,32).
Quando o povo de Israel confessar o seu pecado, então ouve do céu e perdoa o seu pecado (vv. 31,32).
Quando se converterem do seu mau caminho, porque os afligiste, então ouve do céu e perdoa-lhes o pecado (vv. 35,36).
Quando o povo enfrentar fome, ou praga, e voltar-se para ti em oração, então retribui a cada um segundo o seu coração (vv. 37-40).
Quando chegar um estrangeiro e orar voltado para o templo, por causa do teu grande nome, então faze tudo o que ele clamar a ti (vv. 41-43).
Quando enviares o teu povo à guerra, e eles orarem, então ouve do céu e sustenta a causa deles (vv. 44,45).
Quando forem levados em cativeiro, se abandonarem o seu pecado e orarem, então ouve a sua oração e perdoa-lhes o pecado (46-51).
3. Um apelo final, solicitando o cuidado especial de DEUS sobre o povo que escolhera para que fosse seu, entre todos os povos da terra (51-53).
Digno de destaque na oração de Salomão é sua consciência de que as bênçãos e as provisões de DEUS estão relacionadas a ações concretas no sentido de satisfazer aos requisitos e condições divinos. Esquecer esse fato é orar em vão.
O versículo 27, ao reconhecer a onipresença de DEUS como o faz revela a percepção que Salomão tinha da grandeza e infinidade divinas, certamente um ingrediente vital na oração eficaz. Quão completamente gratificante é abandonarmos nossas limitações humanas e nos voltarmos para o DEUS Todo-Poderoso! Pois não há quem se iguale àquEle que é, ao mesmo tempo, infinito e eterno, que não pode ser contido numa mera casa terrestre, e tampouco no Céu dos céus. Nosso DEUS não habita nos espaços limitados do tempo, nem está subordinado à sucessão infinita dos anos. Quão grande é o Senhor!” (BRANDT, Robert L.; BICKET, Zenas J. Teologia Bíblica da Oração. Rio de Janeiro, CPAD, 4. ed., 2007, pp. 143-4).

5. Leitura da Palavra. Após o cativeiro babilônico, já no tempo de Esdras e Neemias, a Palavra de Deus começou a ser lida publicamente como parte da liturgia do culto (Ne 8.1-8). Nesse período, os sacerdotes puseram-se também a explicar a Lei ao povo de Deus. Antes disso, a leitura das Escrituras limitava-se aos montes Gerizim e Ebal (Dt 29).
O tópico pode dar a falsa idéia de que o Livro da Lei passou a ser lido publicamente somente depois de Esdras e Neemias, o que não é verdade. O Pr Esequias Soares assevera: “A lei foi dada a Israel como legislação para o povo antes de conquistar a terra de Canaã. Inúmeros preceitos permanecem ainda hoje na legislação de praticamente todos os países do planeta. Sua origem divina é indiscutível, pois aparece no relato dessa comunicação de Deus a Moisés desde Êxodo 20.1 até Levítico 27.34. Além disso, a Bíblia declara esse fato de maneira direta. O presente trabalho tem por objetivo ajudar o povo de Deus a distinguir entre lei e evangelho, lembrando que os Dez Mandamentos não são a lei, mas parte dela, que introduz o sistema legal de Moisés. O Decálogo é o exemplo mais conhecido da forma categórica ou absoluta que se caracteriza pelo comando absoluto, geralmente pelo uso da segunda pessoa do singular no futuro ou no imperativo, e algumas vezes no plural. Isso aparece nos mandamentos negativos ou positivos. O mandamento com o verbo no particípio hebraico também é considerado categórico ou absoluto por muitos, como em: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem seu sangue será derramado” (Gn 9.6); ou: “Quem ferir alguém, que morra, ele também certamente morrerá” (Êx 21.12). As expressões “quem derramar” e “quem ferir” estão no particípio, na língua original. Mas há quem afirme que a referida forma é casuística.” (Esequias Soares. Os dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 11, 14).

6. Bênção. O culto levítico era encerrado com a bênção araônica (Nm 6.22-26). Ao serem assim abençoados, os filhos de Israel conscientizavam-se de que eram propriedade particular do Senhor (Êx 19-5).
O Senhor te abençoe e te guarde; O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; O Senhor sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz” (Nm 6.24-26). “Bênção sacerdotal” ou “bênção Arônica” é a bênção que os sacerdotes impetravam sobre o povo de Israel conforme ordenou o Senhor. Foi especificada pelo próprio Deus que ordenou que Moisés instruísse Arão e seus filhos sobre o modo correto de como deveriam proceder ao abençoar o povo (Nm 6.22,23).

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“Há muito tempo que os estudiosos se empenham em achar a ideia controladora por trás dos sacrifícios religiosos. Alguns sugerem que seja comunhão, ato simbolizado pela refeição comum. Outros enfatizam a propiciação, a substituição ou a gratidão festiva. É óbvio que o sacrifício é algo multifacetado da mesma maneira que é a relação do homem com Deus. Envolve comunhão, mas comunhão com Deus que implica em proposição, gratidão e petição. Assim, nossa atenção é remetida novamente à ideia de proximidade e intimidade com Deus. Tudo que diz respeito a aproximar-se de Deus está implícito no sacrifício. Este conceito explica as cinco variedades de ofertas: holocausto, oferta de manjares, oferta de paz, oferta pelo pecado e oferta pela culpa. Cada oferta fala de uma faceta diferente da proximidade com Deus.
Levítico toma por certo que quando os homens se achegam a Deus, eles não devem ir de mãos vazias. Há algo sobre a relação que torna correto e apropriado os homens levarem uma oferta. Desde os tempos do Novo Testamento é fácil esquecer esta verdade. Mas sempre temos de nos lembrar de que, embora os crentes possam se aproximar de Deus com ousadia, eles não devem ir de mãos vazias. Sob o antigo concerto, os adoradores iam com dádivas próprias. Hoje, os crentes vão com a própria Dádiva de Deus, seu Filho Jesus, como base de aproximação e intimidade dos adoradores com Deus” (Comentário Bíblico Beacon. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 259).

III. FINALIDADE DO CULTO LEVÍTICO

O culto levítico, no Antigo Testamento, tinha quatro finalidades básicas: adorar a Deus, reafirmar as alianças divinas, professar o credo mosaico e aguardar o Messias. Era uma celebração teológica e messiânica.
1. Adorar ao Único e Verdadeiro Deus. Ao reunir-se para adorar a Deus, a comunidade de Israel demonstrava duas coisas: a aceitação do Único e Verdadeiro Deus e a rejeição dos deuses pagãos (Lv 19-4; SI 86.10; 97.9). Enfim, o culto afastava os israelitas da idolatria e aprofundava sua comunhão com o Senhor (5196.5). Esse era o teor dos cânticos congregacionais do Santo Templo. (LB CPAD, 3º Trim 2018, Lição 2, 8 Jul 18)
O culto era centralizado em Deus, que reivindica e espera isso de Seu povo. Honramos ao Senhor quando O adoramos pelo que Ele é. Deus não está limitado a experiências humanas, as quais não podem determinar ou governar o tipo de liturgia do culto prestado ao Senhor. O Salmo 93 diz que Ele está revestido de majestade. Deus é glorioso, é sublime, é belo na Sua santidade. Devemos adorá-Lo no Seu esplendor e na Sua beleza. É com essa concepção que devemos adorar ao Senhor. O culto no AT é a resposta da criatura:
-    à glória do Criador revelada (Sl 19).Deus é o Altíssimo (Sl 83.12), o Deus que vê (Gn 16.13), escudo (Sl 84.11);
-aos atos salvíficos de Deus (Êx 15;Sl 105);
-à ação bondosa de seu Criador (Mq 6.8;Is 1.13-17; Lv 10.1,2). (O culto no Antigo Testamento. Disponível em: http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/o-culto-no-antigo-testamento/. Acesso em: 3 Jul, 2018)

2. Reafirmar as alianças antigas. No culto Levítico, os filhos de Israel professavam as alianças que o Senhor firmara com Abraão, Isaque, Jacó e Davi (Lv 26.9,45). Já em seus cânticos, reafirmavam a fé na presença de Deus em sua vida familiar e comunal (SI 47.9), como mostra o Salmo 105.
Instrução (Gn 4.7; Dt 31.9-13; 2Cr 34.30; Ne 8.8). Este é o meio pelo qual Deus revela Sua vontade. A pregação não pode ser relegada aos momentos finais do culto. Ela não é matéria para ser apenas descrita ou comentada, mas deve ser explicada (Ne 8.3, 7- 8, 12). Deus fala, o homem se cala, medita e responde. Com a pregação fiel e revestida de autoridade da Palavra, Deus é honrado e glorificado, os descrentes são desafiados, os crentes são edificados e a igreja é fortalecida. A adoração genuína também deve ser fruto de um correto entendimento da lei, justiça e misericórdia de Deus, reconhecendo-O assim como Ele Se revela nas Escrituras. Sem a Palavra não há adoração e não importa quão emocionantes sejam os demais atos do culto. (O culto no Antigo Testamento. Disponível em:http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/o-culto-no-antigo-testamento/. Acesso em: 3 Jul, 2018)

3. Professar o credo divino. Em seus cultos, os israelitas, guiados pelo ministério levítico, professavam o seu credo: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor" (Dt 6.4). Nesta sentença resume-se toda a teologia do Antigo Testamento. Que a Igreja de Cristo recite a doutrina divina. 
Shemá Israel (em hebraico שמע ישראל; "Ouça Israel") são as duas primeiras palavras da seção da Torá que constitui a profissão de fé central do monoteísmo judaico (Devarim / Deuteronômio 6:4-9) [WIKPÉDIA], tornou-se a grande confissão de fé monoteísta de Israel, sendo recitada todas as manhãs e finais de tarde pelos judeus (cf Mc 12.29).
O monoteísmo – a crença em somente um Deus – era uma característica distintiva da religião hebraica. Muitas religiões antigas acreditavam em muitos deuses. … Este era um importante entendimento para a nação judaica porque eles estavam prestes a entrar em uma terra habitada por muitas pessoas que acreditavam em muitos deuses” (Life Application Study Bible)

4. Aguardar o Messias. No livro de Salmos, há uma elevada cristologia, que descreve a paixão, a morte, a ressurreição e a glorificação do Senhor Jesus Cristo como Rei dos reis (SI 22.1-19; 16.10; 110.1-4; 2.1-8). Um israelita crente, e predisposto a servir a Deus, jamais seria surpreendido com a chegada do Messias, pois o culto Levítico era essencial e tipologicamente cristológico (Lc 2.25-35).
Antes da vinda de Cristo, aprouve a Deus ordenar a Seu povo que O servisse por meio do sistema altamente elaborado do culto oficiado por levitas e sacerdotes no Tabernáculo, e posteriormente no Templo. A tipologia de Jesus no livro de Levítico está nas cinco ofertas e nas Festas Judaicas do Lv. 23. Ali, Deus, deu as instruções sobre o cerimonial de Levítico que representa todos os detalhes da obra de Jesus Cristo na cruz. Sabemos pelo Novo Testamento que após o único e definitivo sacrifício de Cristo (Hb 10:12), oferecendo a Si mesmo pelos pecados do Seu povo (Hb 7:27), efetuando uma eterna redenção, por seu próprio sangue (Hb 9:12), tais ofertas não devem mais ser oferecidas literalmente. Elas eram apenas sombras da realidade que viria em Cristo (Cl 2:17).

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO

“O capítulo 9 de Levítico é um referencial da adoração no Antigo Testamento. Registra os primeiros sacrifícios públicos de Israel sob o regime do sacerdócio levítico. No capítulo 8, os sacrifícios foram oferecidos na ordenação de Arão e seus filhos, mas o povo ficou só observando; não participou. Agora, os sacerdotes começam de fato o ministério de mediação. Este era um dia importante para Israel. O Senhor apareceria para coroar a ocasião.
Para preparar o aparecimento de Deus, Arão ofereceu por si e seus filhos uma expiação de pecado e um holocausto (7,8). A oferta pelo pecado de Arão era um bezerro, e seu holocausto, um carneiro. Esta é a única ocasião na qual a legislação sacrificial exigia um bezerro. Rashi comenta a respeito do bezerro: ‘Este animal foi escolhido como oferta pelo pecado para anunciar ao sacerdote [Arão] que o Santo, bendito seja Ele, lhe concedeu expiação por meio deste bezerro por causa do incidente do bezerro de ouro anteriormente feito.
[...] A conclusão adequada para este culto é a presença do Deus vivo manifesto em sua glória ao povo. A palavra glória é termo particularmente bíblico. A ideia do radical hebraico (kabed) é ‘ser pesado, ter peso, pesado’. A forma substantivada é empregada no mundo antigo para aludir à aparência do esplendor que acompanha um grande personagem. Brockington explica que, na Bíblia, glória se refere ‘àquilo que os homens podem perceber, originalmente pela visão, da presença de Deus na terra’. Note o uso do termo em Ezequiel 1. A palavra fala das seguintes experiências em tempos e situações diversas: Israel no Sinai; Salomão e o povo quando a Shequiná encheu a cada de Deus; Isaías no Templo; os pastores nos arredores de Belém; e os discípulos no monte da Transfiguração” (Comentário Bíblico Beacon. Vol 1. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2005, pp. 275, 276).

CONCLUSÃO

Os filhos de Israel não souberam cultuar a Deus como Ele o requer de cada um de nós. Por isso, deixaram-se contaminar pelo formalismo. Apesar de sua rica e significativa liturgia, adoravam a Deus apenas com os lábios, pois o seu coração achava-se distante do Deus de Abraão (Is 29.13). Então, adoremos a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.24). Apresentemos ao Senhor o nosso culto racional (Rm 12.1-3). Quando cultuamos verdadeiramente a Deus, sua glória jamais nos faltará (Lv 9.23,24). 
Nem toda adoração agrada a Deus. Há o perigo de trazermos “fogo estranho” diante do altar e do trono do Senhor (Lv 10.1-2). Esse “fogo estranho” consistia em contrariar os mandamentos divinos quanto à adoração. Não apenas a adoração a falsos deuses é proibida nas Escrituras, mas também a adoração ao verdadeiro Deus de maneira errada (Ml 1.7-10; Os 6.4-6; Am 5.21).
Somos uma geração centralizada no homem, mas a igreja não pode tornar-se antropocêntrica. A distração e o entretenimento da nossa era tecnológica não podem tornar-se o centro. Nosso desejo por santidade deve ser maior que o nosso desejo por felicidade. O culto pode e deve, sim, ser agradável às pessoas, mas com base na instrução bíblica apresentada e não no grau de satisfação pessoal alcançado. Que possamos dizer: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome da glória” (Sl 115.1).
“Achando-se as tuas palavras, logo as comi, e a tua palavra foi para mim o gozo e alegria do meu coração; porque pelo teu nome sou chamado, ó Senhor Deus dos Exércitos”. (Jeremias 15.16)


Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br

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