sábado, 12 de março de 2022

LIÇÃO 11: LUCAS-ATOS: O MODELO PENTECOSTAL PARA HOJE

INTRODUÇÃO

Lucas-Atos são dois volumes de autoria do médico amado (Cl 4.14). Os relatos são escritos a partir de premissas históricas e teológicas. Roger Stronstad anota que “apesar da particularidade histórica de cada livro, eles têm uma perspectiva teológica homogeneamente comum”. Assim sendo, Lucas é tanto historiador como teólogo. Desse modo, além da dimensão histórica, a obra lucana tem também uma dimensão didática. Essas narrativas servem de modelo para o comportamento cristão e a vida da Igreja em todos os tempos.

Lucas descreve a capacitação do Espírito Santo no ministério de Jesus e no ministério da Igreja. A unção do Espírito que repousava em Jesus também foi concedida à Igreja (At 2.33). Esse revestimento de poder na vida do crente não é apresentado como dom para salvação, mas como a unção dos salvos para o testemunho e o serviço cristão. Esse é o padrão bíblico adotado pelo pentecostal submisso ao ensino das Escrituras Sagradas. Desde o Pentecostes, o derramar do Espírito Santo permanece como modelo para a Igreja de Cristo.

I – O EVANGELHO DE LUCAS: O ESPÍRITO SANTO NO MINISTÉRIO DE CRISTO

1. O Espírito Santo no Evangelho. Lucas registra os fatos acerca da vida e obra de Cristo (Lc 1.1-3). A narrativa do Evangelho compreende o nascimento, ministério, morte e ressurreição de Jesus, bem como a promessa do derramamento do Espírito Santo. O evangelista enfatiza o papel e a importância do Espírito no advento do Messias. Nossa Declaração de Fé professa que o Espírito Santo não é apenas um atributo da divindade, mas possui a mesma essência do Deus Pai e do Deus Filho; Ele é a terceira pessoa da Trindade e foi enviado ao mundo pelo Pai e pelo Filho; Ele é “o Espírito que provém de Deus” (1 Co 2.12).

A ação do Espírito no Evangelho de Lucas é percebida em diversos eventos. De modo introdutório, destacamos os seguintes: na vida de João Batista, o precursor de Cristo, quando do anúncio do anjo de que ele seria “cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lc 1.15); na vida de Isabel e Zacarias — os pais de João Batista, quando, no sexto mês da gravidez, ao receber a visita de Maria, “a criancinha saltou no seu ventre; e Isabel foi cheia do Espírito Santo” (Lc 1.41); após o nascimento de João Batista, quando Zacarias “foi cheio do Espírito Santo e profetizou” (Lc 1.67).

E, no anúncio da concepção virginal de Maria, Lucas associa o Espírito Santo com o poder e a presença de Deus. No vocabulário empregado, percebe-se o conceito de Trindade: “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; pelo que também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus” (Lc 1.35). Lucas também registra que após o nascimento de Jesus, Simeão, impulsionado pelo Espírito, foi ao Templo a fim de conhecer o Messias antes de morrer (Lc 2.25-32). O Evangelho ainda ressalta o poder e autoridade de Cristo em batizar no Espírito Santo e fogo (Lc 3.16).

2. O Espírito Santo e o Batismo de Cristo. Jesus foi batizado em águas por João Batista com a idade de “quase trinta anos” (Lc 3.23), a mesma com que os levitas iniciavam o ministério (Nm 4.3, 35). Jesus não precisava arrepender-se de pecado algum (1 Pe 2.22), mas submeteu-se ao batismo em águas para “cumprir toda a justiça” (Mt 3.15). Nossa Declaração de Fé ensina que a palavra “batismo” significa “mergulho, imersão” e que o batismo simboliza a morte, sepultamento e ressurreição de Cristo, deixando claro que se trata de uma prática realizada por meio da imersão do corpo inteiro (Mt 3.16; At 8.38-39; Rm 6.4).

Ao descrever o batismo no Jordão, Lucas informa que, estando o Senhor em oração, ocorreram três eventos extraordinários: (a) o céu se abriu (Lc 3.21); (b) o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba (Lc 3.22a); e (c) ouviu-se uma voz vindo do céu que estava aberto (Lc 3.22b). A abertura do céu significa que se segue uma revelação da parte de Deus. A expressão “forma corpórea, como pomba” enfatiza que a descida do Espírito Santo foi uma coisa real, não ilusão visionária. E, todos testemunharam a voz do céu que dizia a Jesus: “Tu és meu Filho amado” (Lc 3.22b).

O céu aberto, o evento da descida do Espírito e a voz que o identificava como Filho de Deus tinham como propósito marcar o início do ministério público de Jesus (Lc 4.1,14,18). O relato não indica que Jesus não tivesse o Espírito, isso porque Ele já tinha o Espírito desde a concepção (Lc 1.35). Esse evento simbolizava a unção real da messianidade de Jesus (Is 11.2; 42.1). Também serviram como sinal para João Batista confirmar que Jesus era de fato o Cristo (Jo 1.32,33). Percebe-se, também, na narrativa a presença e atuação da Santíssima Trindade: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

3. O Espírito Santo e a Tentação de Cristo. Após o batismo nas águas e cheio do Espírito Santo (Lc 4.1a), Jesus foi impelido pelo Espírito ao deserto, e lá foi tentado pelo Diabo durante quarenta dias (Lc 4.1b; 4.2a). Depois de receber a unção do Espírito para o exercício público de sua messianidade, Jesus foi submetido a um severo teste de fidelidade para com o Pai. A articulação das trevas focou na frase dita por Deus a Jesus: “Tu és meu Filho amado” (Lc 3.22). Não somente uma vez, mas duas vezes o Diabo desafiou Jesus com respeito a essa declaração: “Se tu és o Filho de Deus [faz isso... faz aquilo]” (Lc 4.3,9).

Em todos os desafios da tentação, Jesus contra-ataca por meio das Escrituras. O Diabo sugeriu que Jesus provasse a sua filiação divina transformando pedra em pão (Lc 4.3), Cristo revidou citando Deuteronômio 8.3, e reafirmou que o homem não vive só de pão, mas de toda palavra que procede de Deus (Lc 4.4). O Adversário, para instigar o Senhor, distorce o livro de Salmos 91.11-12 e sugere que Jesus teste a sua condição de Filho de Deus atirando-se do pináculo do Templo (Lc 4.9-11). O Senhor o repele e ratifica o verdadeiro sentido das Escrituras: “não tentarás o Senhor, teu Deus” (Dt 6.16; Lc 4.12).

O Maligno também ofereceu todos os reinos do mundo em troca de ser adorado por Jesus (Lc 4.5-7). Porém, o Senhor cita Deuteronômio 6.13 e com firmeza lhe retruca: “Vai-te para trás de mim, Satanás; porque está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás” (Lc 4.8, ACF). A postura adotada por Jesus sinaliza que Ele manteve a comunhão com o Pai fortalecido pela oração e o jejum (Lc 4.2b). A vitória do Senhor sobre a tentação demonstra que Ele estava capacitado para cumprir o seu ministério. Cristo venceu o Diabo pelo poder do Espírito e da Palavra de Deus (Lc 4.4,8,12,13).

4. O Espírito Santo e a Missão de Cristo. Vencida a tentação no deserto, Jesus voltou à Galileia, conduzido pelo Espírito (Lc 4.14). Aqui é importante pontuar a ação do Espírito Santo no ministério de Jesus. Ele foi conduzido ao deserto e de lá retornou, sempre no poder do Espírito. Lucas informa que, após ministrar em alguns lugares, o Espírito dirigiu o Senhor para Nazaré (Lc 4.15,16). Nazaré era uma aldeia situada a 24 quilômetros do mar da Galileia. Era um lugar depreciado pelos judeus (Jo 1.45,46), porém, foi ali que o anjo anunciou o nascimento de Jesus (Lc 1.26), o local onde Ele foi criado, e por isso chamado de Nazareno (Mt 2.23).

Na sinagoga de Nazaré, em um dia de sábado, Jesus levantou-se para ler (Lc 4.16). O rito litúrgico na sinagoga obedecia à leitura da Lei e dos profetas. A. T. Robertson esclarece que “sete pessoas eram convidadas a ler pequenos trechos da Lei. Essa primeira lição era seguida por uma leitura dos profetas e um sermão, a segunda lição”. Nesse dia, coube a Jesus fazer a leitura de um dos profetas e proferir o sermão. Não sabemos se o oficiante lhe entregou aleatoriamente o livro de Isaías ou se era a lição fixa do dia (Lc 4.17), mas sabemos que era ação providencial do Espírito de Deus.

Ao desenrolar o rolo de Isaías, Jesus leu a passagem que dizia: “O Espírito do Senhor é sobre mim” (Lc 4.18; cf. Is 61.1,2). Ao terminar a leitura, Jesus assentou-se no lugar do orador e a congregação fixou os olhos nEle (Lc 4.20). Então, o Senhor passou a explicar o texto e afirmou: “Hoje se cumpriu esta Escritura” (Lc 4.21). Aqui, Jesus declara que a unção do Espírito qualificava seu ministério para evangelizar os pobres, curar os quebrantados de coração, libertar os cativos e oprimidos, restaurar os cegos e anunciar aos pecadores o ano aceitável do Senhor (Lc 4.18,19).

II – ATOS DOS APÓSTOLOS: O ESPÍRITO SANTO NO MINISTÉRIO DA IGREJA

1. O Espírito Santo em Atos. Ao concluir o Evangelho, Lucas anota que Jesus instruiu os discípulos a esperar o revestimento de poder do alto (Lc 24.49). A promessa tem conexão com a palavra profética de Isaías direcionada a Israel — “derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade” (Is 44.3); de Ezequiel — “derramarei o meu Espírito sobre a casa de Israel” (Ez 39.29); e, mais precisamente, com a profecia de Joel que estende a promessa para todos os crentes — “E há de ser que, depois, derramarei o meu Espírito sobre toda a carne” (Jl 2.28). Após o Senhor ter sido elevado aos céus, o livro de Atos dá prosseguimento à narrativa da promessa do Espírito à Igreja (At 1.1-4).

O autor ratifica que o derramamento do Espírito era a capacitação necessária para a evangelização dos povos: “recebereis a virtude do Espírito Santo [...] e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra” (At 1.8). A palavra “virtude” ou “poder” significa “ser capaz” ou “ter força”. A promessa não era de poder político, mas de poder que procede da parte de Deus. A atribuição de testemunhar de Jesus não poderia ser executada por esforços humanos, os seguidores de Cristo deveriam aguardar o derramamento do poder do Espírito.

O livro de Atos relata que o Senhor apresentou aos discípulos muitas e infalíveis provas de sua ressurreição (At 1.3). Eles desfrutaram da companhia do Cristo ressurreto por 40 dias, tinham elementos suficientes para testemunhar do Filho de Deus, mas não deveriam fazer sem o poder de Deus. Assim, cerca de 120 discípulos voltaram a Jerusalém e, em oração, aguardaram o Espírito Santo (At 1.12-15). Portanto, Atos registra a ação do Espírito na inauguração histórica da Igreja como agência de Cristo. Trata-se da continuação da obra de Jesus por meio dos discípulos capacitados pelo Espírito Santo (At 2.38).

2. A Promessa Cumprida no Pentecostes Como já visto, a promessa do batismo no Espírito Santo remonta às profecias de Isaías, Ezequiel e Joel (Is 44.3; Ez 39.29; Jl 2.28). No Novo Testamento, João Batista, o precursor do Messias, confirma essa promessa que é registrada por todos os evangelistas (Mt 3.11; Mc 1.8; Lc 3.16; Jo 1.32,33; At 11.16). Em Lucas-Atos, Cristo a avalizou como sendo “a promessa do Pai” (Lc 24.49; At 1.4), isto é, feita pelo Pai por meio de seus santos profetas. Nossa Declaração de Fé ratifica que “o batismo no Espírito Santo é um revestimento de poder do alto, uma promessa divina aos salvos, uma experiência espiritual”. 

O cumprimento da promessa se deu no Dia de Pentecostes (At 2.1). O termo “pentecostes” refere-se à festa judaica que ocorria cinquenta dias após a Páscoa (Lv 23.15-21; Dt 16.9-12). Os judeus da Palestina tinham sua maior celebração na festa da Páscoa, ocasião em que Cristo foi crucificado e ressuscitou (Lc 22.1,2; 24.1,6). Porém, entre os judeus da dispersão, a festa do Pentecostes era a mais concorrida, ocasião da descida do Espírito Santo (At 20.16; 1 Co 16.8). Isso explica a variedade de idiomas presentes em Jerusalém na festividade (At 2.9-11). Lucas escreveu que, cumpindo-se o dia do Pentecostes, os discípulos reunidos no cenáculo foram cheios do Espírito Santo e falaram noutras línguas (At 2.1, 4).

A narrativa de Atos registra dois sinais sobrenaturais que marcaram o advento do Espírito Santo: o “som, como de um vento” (At 2.2) e as “línguas repartidas, como que de fogo” (At 2.3). Nossa Declaração de Fé ensina que “eram sinais particulares que não se repetiram posteriormente nos batismos no Espírito Santo subsequentes, pois se tratava de um evento solene e único, que marcou o início de uma nova dispensação”. 8 Somente o falar em línguas se repetiria nos demais registros de Atos. Desse modo, a partir do Pentecostes, os discípulos começaram a pregar pelo poder do Espírito. Muitas maravilhas e sinais eram operados e as almas eram alcançadas (At 2.43,47).

3. A Expansão da Igreja Primitiva. Conforme promessa do Senhor, o poder do Espírito capacitou os crentes para o serviço cristão. Já no primeiro sermão, Pedro, que outrora se acovardou e negou o Senhor (Lc 22.61,62), agora revestido de poder anunciou a Cristo com ousadia e intrepidez, e quase 3.000 almas se converteram (At 2.36,38,41). No sermão do Pentecostes, o apóstolo esclarece que os acontecimentos daquele dia são o cumprimento da profecia de Joel (At 2.16-18) e assevera que “a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar” (At 2.39).

Dias depois, às três da tarde, Pedro e João sobem ao Templo para orar (At 3.1). Eles entram pela porta chamada Formosa, que era a passagem favorita para o pátio do Templo. Junto dela estava um homem com mais de 40 anos de idade, nascido coxo, a pedir esmolas (At 3.2). Pedro, cheio do Espírito Santo, em nome de Jesus, ordena que o homem se levante e o milagre acontece (At 3.6-8). A multidão se aglomera ao redor de Pedro e João, que lhes ministram a Palavra e o Cristo ressuscitado. Como resultado, quase 5.000 vidas se renderam ao Senhor (At 3.8,19; 4.4). Esse sinal miraculoso demonstra o poder sobrenatural do Espírito que os discípulos receberam no Dia de Pentecostes.

O avanço do evangelho irritou as autoridades judaicas que ameaçaram e proibiram os apóstolos de pregar em nome de Cristo (At 4.17-18). Mais tarde, lançaram os apóstolos na prisão pública, mas miraculosamente o anjo do Senhor os libertou (At 5.18,19). Enfurecidos, os religiosos condenaram Estêvão ao apedrejamento (At 7.59). A violência contra a Igreja foi tão grande que, com exceção dos apóstolos, todos foram expulsos de Jerusalém, e isso obrigou a Igreja a se tornar missionária (At 8.1).

Por conseguinte, Filipe, na virtude do Espírito, pregou em Samaria, expulsou os espíritos imundos, curou paralíticos e coxos, e muitas vidas foram salvas (At 8.5-13). Pelo mover do Espírito, também o gentio Cornélio e sua casa receberam o evangelho (At 10.24-29). Anos depois, Paulo, convertido e cheio do Espírito, alvoroçou o mundo e milhares de almas foram salvas e curadas pela pregação do evangelho (At 9.15,17; 17.6; 19.10; 24.5). Esses relatos e tantos outros demonstram a ação do Espírito Santo na propagação do Reino de Deus.

III – UM MODELO PENTECOSTAL PARA A IGREJA CONTEMPORÂNEA

1. O Revestimento de Poder do Alto. Como já observado, em Lucas-Atos o “batismo no Espírito Santo” (At 1.5) equivale a “revestimento de poder do alto” (Lc 24.49). Significa que o batismo no Espírito é dado ao crente como fonte de poder para o testemunho eficaz acerca da Palavra de Deus — as Boas-Novas da salvação. É a capacitação espiritual da parte de Deus para operação de atos miraculosos (Mc 16.17,18). O batismo no Espírito dinamiza a nossa vida de serviço a Cristo e a seu corpo — a Igreja. Nesse aspecto, o papel do Espírito Santo é equipar o crente para “saber o que dizer” em todas as situações (Lc 12.11,12; 21.15); “pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo” (Lc 10.19); fazer as mesmas obras que Cristo fez, porém maiores (Jo 14.12); e evangelizar os povos (Mt 28.19,20).

O apóstolo Pedro ensina que essa promessa está em vigor para todos os salvos em todas as épocas, independentemente da idade, sexo ou classe social (At 2.38,39). Robert Menzies enfatiza que “um dos grandes pontos fortes do movimento pentecostal é que lê a promessa de Pentecostes, contida na citação que Pedro faz de Joel (At 2.17-21) como modelo para a missão da Igreja”. 9 Nessa compreensão, o Pentecostes é um paradigma a ser observado pelos crentes. A experiência do Pentecostes corresponde à unção de Jesus com o Espírito Santo logo após o batismo em águas no Jordão (Lc 3.21, 22). Desse modo, tendo Jesus Cristo como modelo, e como aquEle que batiza no Espírito (Mc 1.8), após a capacitação recebida, temos o compromisso de fazer a obra do Senhor com diligência.

A experiência do batismo no Espírito Santo pode ocorrer junto ou após à regeneração. Entre os samaritanos, revestimento de poder aconteceu pós-conversão (At 8.15-17). Na casa de Cornélio, a experiência se deu durante o ato de conversão (At 10.44-46). Ressalta-se que no Pentecostes os discípulos já tinham o Espírito Santo (Jo 20.22). Todo salvo em Jesus recebe o Espírito Santo na conversão (Gl 3.2). Porém, o batismo no Espírito Santo é algo distinto do novo nascimento. Significa, como já frisado, poder espiritual para a obra de expansão do evangelho (At 1.8), para uma vida cristã vitoriosa (At 6.8-10) e adoração mais profunda (1 Co 14.26). Em vista disso, a exemplo dos primeiros cristãos, a igreja hodierna deve buscar o revestimento de poder (Lc 11.13).

2. As Línguas como Evidência Inicial. No Pentecostes, os discípulos falaram noutras línguas conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem (At 2.4). A palavra “glossolalia”, de origem grega, indica que as “línguas” concedidas pelo Espírito podem ser humanas ou celestiais (1 Co 13.1). Os intérpretes disputam se as línguas faladas em Jerusalém foram glossalalia (desconhecidas) ou xenolalia (conhecidas). Robert Menzies anota que, no Pentecostes, o fenômeno foi duplo, isto é, os discípulos falaram um idioma desconhecido e a multidão representada pelas diversas nações milagrosamente entenderam a glossolalia dos discípulos cada um em suas próprias línguas maternas.

Quanto ao conceito de “falar noutras línguas”, Donald Stamps esclarece que “como sinal do batismo no Espírito Santo é uma expressão verbal inspirada, mediante a qual o espírito do crente e o Espírito Santo se unem no louvor e/ou profecia em uma língua nunca aprendida”. Reitera-se que, no Pentecostes, os discípulos falaram “línguas” (At 2.4). Em Cesareia, o centurião Cornélio e a família falaram “línguas” (At 10.46). Os irmãos em Éfeso falaram “línguas” (At 19.6). Em Samaria, e na vida de Paulo, as “línguas” estão implícitas (At 8.17,18; 9.17). Em vista disso, nossa Declaração de Fé ratifica que “o derramamento do Espírito veio com um sinal específico, o falar em línguas (At 2.4)”. 

A Teologia Sistemática Pentecostal assegura que “o batismo dos crentes no Espírito Santo é testemunhado pelo sinal físico inicial de falar em línguas conforme o Espírito de Deus lhes concede que falem (At 2.4)”. Nessa assertiva, toda experiência desacompanhada do “falar línguas” não se caracteriza como “batismo no Espírito Santo”. O “falar línguas” repete-se na vida da Igreja (At 10.46; 19.6). Isso porque a experiência pentecostal não ficou restrita ao Dia de Pentecostes; ela acontece no cotidiano da Igreja de Cristo na terra ao longo dos séculos, conforme a promessa divina (At 2.39). As línguas só cessarão quando Cristo voltar (1 Co 13.8-10). Por isso, a instrução bíblica diz: “procurai, com zelo, profetizar e não proibais falar línguas” (1 Co 14.39).

3. A Plenitude do Espírito Santo. Ratifica-se que a experiência pentecostal não ficou restrita ao tempo dos apóstolos (At 2.39). A promessa não era exclusiva dos judeus e seus descendentes, mas alcança a todos que responderem ao chamado divino, inclusive os gentios. O emprego de Lucas da expressão “do meu Espírito derramarei” (At 2.17) aponta para o início da dispensação do Espírito e mostra que a efusão será contínua até “o grande e glorioso Dia do Senhor” (At 2.20). No Antigo Testamento, apenas algumas pessoas experimentaram o Espírito. A partir do Pentecostes, Deus tornou disponível a todos os seus filhos a plenitude do Espírito.

Somado ao revestimento de poder, a plenitude abrange o “fruto do Espírito” (Gl 5.22). O fruto do Espírito Santo se relaciona com o crescimento espiritual e o desenvolvimento do caráter do cristão. Refere-se à nova vida em Cristo, o modo de andar e proceder daqueles que pertencem a Cristo e são cheios do Espírito (Gl 5.16- 18; Ef 5.18). Jesus ensinou que é pelo fruto que se conhece a árvore (Mt 12.33). O Comentário de Aplicação Pessoal ensina que “os crentes exibem o fruto do Espírito, não porque eles trabalham nele, mas simplesmente porque o Espírito controla as suas vidas”.

A plenitude também compreende as manifestações espirituais, tais como: as profecias, as curas, os sonhos, as visões, os prodígios e os sinais (At 2.17,19). Assim, o Espírito permanece em ação na vida da Igreja. Ele é quem capacita e conduz o povo de Deus (Jo 16.13,14). Em razão disso, a Bíblia ensina: “enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). Assim sendo, Lucas-Atos serve de modelo para a Igreja contemporânea. Portanto, que a nossa oração seja igual à da Igreja Primitiva: “Ó Senhor, [...] concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome do teu santo Filho Jesus” (At 4.29,30).

Fonte: BAPTISTA, Douglas. A Supremacia das Escrituras: a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus. Rio de Janeiro, 2022, p. 125-134.

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