quinta-feira, 29 de junho de 2017

A SAÚDE DA IGREJA E DA ESCOLA DOMINICAL

I-Sintomas de que algo não vai bem

Para falar de saúde e doença, tomemos como exemplo algumas das igrejas na Ásia descritas em Apocalipse: Éfeso (Ap 2.1-7), Pérgamo (Ap 2.12-17), Tiatira (Ap 2.18-29), Sardes (Ap 3.1-6) e Laodiceia (Ap 3.14-22). As cartas que foram endereçadas por João a essas igrejas são instrumentos divinos que nos ajudam a examinar nossas igrejas, pois, segundo Steven Lawson, "as questões e os problemas, enfrentados por essas igrejas, são os mesmos que atingem a igreja, hoje". Em que áreas essas igrejas adoeceram? Vejamos: Éfeso abandonou o primeiro amor (Ap 2.4); Pérgamo compactuou com as coisas do mundo, carnalidade (Ap 2.14,15); Tiatira foi contaminada pelo "vírus" da imoralidade (Ap 2.20,21); Sardes já estava morta (Ap 3.1); e Laodiceia, pela indiferença (Ap 3.15-17).
Uma igreja ou Escola Dominical enferma não pode produzir bons frutos, tornando-se estéril, muito menos usufruir da vida abundante que Cristo conquistou na cruz do Calvário. Jesus veio para que tivéssemos vida abundante, saudável (Jo 10.10). Em breve, Jesus virá buscar a sua Igreja, mas Ele vai arrebatar a Igreja pura, sem mancha, sem mácula, sem enfermidades (Ef 5.27).
Em geral, quando contraímos alguma doença, nosso corpo começa a apresentar alguns sinais de que algo vai mal. Por exemplo, quando estamos gripados, apresentamos uma série de sintomas: febre, dor no corpo, coriza, tosse. Esses sintomas causam incômodo, desconforto, mas, graças a eles, podemos saber que algo não vai bem. E quando a saúde da igreja e da Escola Dominical não vai bem, quais são os sintomas? Existem diversos sinais, porém em geral preferimos escondê-los em vez de tratá-los, o que somente faz piorar a situação. Temos que ser realistas e não tentar mascarar aquilo que pode nos prejudicar e levar até mesmo ao óbito. Vamos observar alguns sintomas de que a saúde da igreja e da Escola Dominical não vai bem:

• Mornidão espiritual, crentes e alunos apáticos  (Ap 3.15.16)

O que é ser morno? Ser um crente ou aluno da Escola Dominical morno é ser desprovido de calor, de vida. Mornidão nos remete a aborrecimento, a monotonia. Jesus advertiu a igreja de Laodiceia a respeito do estado em que se encontravam. Os crentes dessa igreja estavam mornos (Ap 3.15). Eles estavam vivendo um cristianismo sem vida, monótono. Atualmente muitos também se encontram dessa maneira. Ir à igreja e a Escola Dominical se tronou uma obrigação, um fardo. Alguns frequentam a igreja e a ED como uma obrigação religiosa. Esses já perderam a alegria de aprender. A igreja e a Escola Dominical deve ser um lugar cheio de vida e de alegria. Temos um Cristo que está vivo e temos a Sua Palavra. A Palavra de Deus é vida, pois procede do próprio Pai. Somos confrontados e transformados pela Palavra de Deus. Logo, percebemos a importância da pregação e do estudo sistemático das Escrituras Sagradas. Quando se dá a devida importância a Palavra de Deus as pessoas podem ver e compreender quem realmente são — imperfeitas diante de um Deus perfeito. A Palavra de Deus é remédio para a nossa alma. Uma igreja e uma ED saudáveis, comprometidas com Deus, são aquelas que pregam a Palavra de Deus com pureza (não se utilizam de artifícios para enganar) e anunciam que a salvação é somente pela fé em Cristo Jesus.
Crentes e professores mornos, são carrancudos e sem vida. Jesus, o nosso exemplo de Mestre, não era carrancudo. Suas aulas eram tão agradáveis, tão especiais que as pessoas não saiam nem para comer (Mt 14.13-21). As crianças, sempre tão autenticas, queriam estar perto de Jesus e ser abençoadas por Ele (Mc 10.13-16). Temos que resgatar a alegria e o prazer de aprender a Palavra de Deus. A Escola Dominical tem que ser um local prazeroso. Que nossos alunos ao acordarem nas manhãs de domingo, possam dizer: "Oba, hoje tem Escola Dominical!" Que eles possam ir à Casa de Deus com alegria e ali encontrem professores motivados, felizes, pois, "a alegria do Senhor é a nossa força". Os escribas, professores e intérpretes da lei se mostravam ser intolerantes, arrogantes, carrancudos, sem afeição por seus alunos. Por isso, quando as pessoas ouviam o Mestre elas ficam admiradas: "E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas" (Mc 1.22). O Mestre fazia a exegese correta. Não acrescentava ou retirava nada das Escrituras. Jesus tinha autoridade, conhecimento superior a dos doutores da Lei, mas tinha também amor e alegria. Os mestres da lei, juntamente com seus partidos, os escribas, se opunham fortemente aos ensinos de Jesus. Sabe por quê? Segundo o Dicionário Bíblico Wycliffe Jesus "expunha as tradições daqueles homens, bem como a falsa exegese que usavam a fim de preservar um sistema legal".
O ensino de Jesus era dinâmico e inclusivo. Ele ensinou as minorias do seu tempo, ensinou as mulheres, crianças, coxos, pobres... A Palavra de Deus é vida, todavia alguns tem tornado os momentos de estudo bíblico e reflexão em algo doloroso, amargo e enfadonho. Não é hora de reverter isso?

• Divisões, discórdias, facções (Mc 3.24; GL 5-19-21; ICo 12.25)

Esse é um dos primeiros sintomas de que algo não vai bem. Em algumas igrejas e ED há tanta confusão que mais parece uma "Torre de Babel". As pessoas falam, mas não se entendem. Somos únicos e temos opiniões diferentes. Não existe nada de mal nisso, mas quanto às doutrinas bíblicas não podemos ter divergências. Um dos benefícios de se ter um currículo de ED é favorecer a coesão doutrinária e a unidade. Jesus afirmou que um reino (ou qualquer instituição) dividido não pode subsistir (Mc 3.24). Um dos motivos das divisões está no fato de que não queremos ouvir as pessoas. Professores e líderes que acreditam que somente eles têm sempre algo importante a dizer, por isso, nunca param para ouvir seus alunos e seus liderados.
Alguns líderes, gestores e professores, gostam de falar, mas na hora de ouvir deixam a desejar. Precisamos aprender a ouvir com atenção o outro. Ouça o que os alunos e as pessoas estão tentando dizer. O primeiro passo para uma mudança significativa está no ouvir o que o outro tem a dizer, mesmo que você discorde do posicionamento da pessoa. Não leve nada para o lado pessoal. Para se chegar a um diagnóstico de determinada situação é preciso primeiro ouvir. Um líder, gestor ou professor que não sabe ouvir em breve verá o esvaziamento das classes e até da igreja. O esvaziamento de uma Escola Dominical e por que não dizer de uma igreja, é uma forma de comunicação. As pessoas estão sinalizando que alguma coisa não vai bem. Não dá para tapar os ouvidos e fingir que nada está acontecendo. Muitos adotam o silêncio como uma fuga. Não falam nada e não fazem nada também. Estes estão fadados ao fracasso. Precisamos seguir o exemplo de Moisés como líder e gestor do povo de Deus. O Senhor falava com seu servo face a face, mas ele não hesitou em ouvir o que seu sogro, Jetro, tinha a lhe dizer: "O sogro de Moisés, porém, lhe disse: Não é bom o que fazes" (Êx 18.17). Moisés era humilde e "deu ouvidos à voz de seu sogro", porém ele não somente ouviu, mas tomou a iniciativa de fazer tudo quanto Jetro dissera (Êx 18.24). Ouvir o que o outro tem a dizer é uma questão de humildade. Deixe de lado à soberba, pois ela precede à ruína. Estabeleça uma gestão participativa.

• Relacionamentos adoecidos pela falta de amor (Lc 10.27; 1Jo 2.10,11) 

        Viver é relacionar-se. Nossas vidas são marcadas positiva ou negativamente pelos relacionamentos que construímos. Jesus veio para restaurar nosso relacionamento com Deus, com o próximo e nos dar uma vida abundante (Jo 10.10). Estabelecer relacionamentos saudáveis é viver a vida abundante que Jesus conquistou para nós na cruz do Calvário. Sim, o Filho de Deus morreu e ressuscitou para nos trazer vida e vida de qualidade. Infelizmente, muitos cristãos não estão vivendo uma vida plena em Jesus Cristo. Eles vão à igreja, oram leem a Palavra de Deus, mas não sabem se relacionar de forma significativa e ser feliz. Muitos estão tristes e decepcionados com as pessoas. Alguns já desistiram de se relacionar de modo saudável. Já não acreditam mais em ninguém e afirmam com toda a convicção que não existe mais  amizade verdadeira. Estes afirmam que é o fim dos tempos e que só nos resta agora esperar a volta de Jesus. Creio na segunda vinda de Cristo, mas sinto dizer que o céu não é fuga, rota de escape para quem está cansado, desanimado, desiludido e não sabe estabelecer relacionamentos saudáveis. Alguns crentes se esquecem que no céu nossos relacionamentos serão eternos. Teremos um relacionamento para todo o sempre com o Deus Pai, Deus Filho, Deus Espírito Santo e com todos que lá estarão. Olha que no céu estarão homens de todas as tribos e nações. Já pensou nisso? Se seus relacionamentos não vão bem aqui na terra, como será no céu? Agora é à hora de tentar mudar, consertar o que precisa ser retificado e revisto. Aproveite a oportunidade que o Pai está dando a você. Ele o ama e deseja tratá-lo. Caso você se encontre desta maneira, saiba que Deus tem cura para você. O Senhor não quer somente curar o nosso corpo, mas também a nossa alma e os nossos relacionamentos. "Porque restaurarei a tua saúde e sararei as tuas chagas diz o Senhor [...]" (Jr 30.17).
Deus se importa com você e com a forma como você se relaciona com o próximo. Ele quer que você seja bem-sucedido em todas as áreas. João desejava que o seu amigo Gaio fosse bem em tudo, o Pai também quer isto para sua igreja: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma" (Jo 3). Deus deseja nos dar "saúde relacional".
Ser um cristão é estabelecer relacionamentos saudáveis com o próximo e com Deus. Os mandamentos divinos, na nova aliança, se resumem a dois: "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo". Amar ao próximo e se relacionar com ele de modo saudável. O amor é à base dos relacionamentos saudáveis. Jesus enquanto homem investiu nos seus relacionamentos. Ele escolheu um grupo de doze para estar com Ele. Jesus foi à festa de casamento e jantares nas casas dos amigos. Em nenhum momento vemos o Mestre isolado ou amargurado com a vida e com as pessoas. E olha que não faltaram bons motivos para isso. Judas, um dos seus discípulos o traiu. Ele foi perseguido pelos fariseus e líderes religiosos e foi acusado de ser amigo dos publicanos e pecadores. Mas, Jesus continuou acreditando e investindo no seu relacionamento com a humanidade. Jesus investiu no relacionamento com as mulheres, com crianças, publicanos, cobradores de impostos, religiosos e descrentes. Jesus gostava de gente. Ele deve ser o nosso exemplo. E você, como um crente, tem investido em seus relacionamentos? Ou Você é daqueles que estão trancados nas "cavernas" da alma?
Atualmente os relacionamentos estão a cada dia mais distantes e superficiais. Até mesmo entre os crentes. São pais que já não mantém um relacionamento fecundo com seus filhos. Cônjuges que embora vivam debaixo do mesmo teto mal se comunicam. Patrões que não sabem dialogar com seus cooperadores. Atualmente fala-se tanto em vida saudável. Isto é bom, mas ouvimos tão pouco a respeito de relacionamentos bem-sucedidos e saudáveis.
Na atualidade estamos vivendo a era da informação, todavia parece estar faltando diálogo. Tenho observado por onde ando, ensinando e aprendendo, que as pessoas parecem investir muito nos relacionamentos virtuais. Porém será que investimos o mesmo tempo e esforço nos nossos relacionamentos reais? Não tenho nada contra as redes sociais. Eu faço parte delas. As redes podem nos aproximar, mas elas também podem nos afastar das pessoas ou pensar que os relacionamentos podem ser descartáveis. Relacionamento é algo precioso que exige investimento. Você tem investido nos seus relacionamentos.
Quando falo de relacionamento saudável estou me referindo a um misto de amizade, amor, compreensão e compromisso. Creio que todo ser humano busca este tipo de relacionamento, pois Deus nos criou para isto. A Bíblia diz que depois de criar o homem Deus viu que este ser não poderia viver sozinho (Gn 1.18). Então Deus criou uma companheira para Adão. O homem necessita se relacionar. Ninguém pode viver sozinho. Precisamos uns dos outros. Por isso, o Pai deseja tanto nos ajudar em nossos relacionamentos.
As pessoas estão "famintas" de afeto e de bons relacionamentos. Até mesmo aqueles que frequentam as igrejas. Muitos entram, saem nos templos sem falar com ninguém. Não podemos nos esquecer que Igreja é koinonia, amizade, compreensão, afeto. Um não pode viver sem o outro. Vivemos em uma sociedade individualista e egoísta onde é Deus por todos e cada um por si. Porém não podemos nos conformar com está maneira de pensar: "E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento [...] (Rm 12.2).
Desejo que você estabeleça relaciomentos abençoados, saudáveis e duradouros, até o dia que estaremos para sempre unidos com Cristo na sua glória, desfrutando de um relacionamento eterno com o Pai e todos aqueles que foram remidos pelo Senhor.

• Predomínio das obras da carne (Gl 5.19-21)

Não podemos dar lugar à carne (Gl 5.16). Em Jesus Cristo nos tornamos novas criaturas (2 Co 5.17). Fomos gerados novamente pelo Espírito Santo e passamos a viver uma nova vida. Não vivemos mais segundo a carne, cumprindo os seus desejos malignos. Como novas criaturas, produzimos novos frutos, ou seja, novas ações, pois agora somos guiados e dirigidos pelo Senhor. Nossas atitudes são como frutos. Elas nos identificam, revelando o nosso caráter cristão (Gl 5.22). Como podemos distinguir um cristão autêntico de um falso? Pelas suas ações, atitudes. A Palavra de Deus deixa claro que uma árvore boa não pode produzir mau fruto, pois vai contra a sua natureza, sua essência. Assim também acontece conosco.

• As pessoas não têm prazer em servir ao Senhor e prestam o seu serviço como que por obrigação

Servir ao Senhor é um privilégio, por isso, fazemos com alegria. A obra de Deus não é uma obrigação, um fardo. Ensinar a Palavra de Deus, seja na igreja ou na ED, é um ato de gratidão ao Senhor. Certa vez o Mestre, desejando ensinar aos seus ajudantes a respeito do servir, tomou uma bacia com água e lavou e secou os pés dos seus discípulos. No tempo de Jesus quem lavava os pés dos convidados eram os criados (escravos). Com este gesto, Jesus mostrou que Ele estava disposto a servir. Quantos estão dispostos a servir a Deus e ao seu irmão?

• Falta de crescimento, raquitismo


Uma igreja e uma Escola Dominical saudáveis têm um crescimento qualitativo e quantitativo (At 1.15; 2.41; 4.4). A falta de ensino e a falta de organização e metas levam a estagnação. Aprenda a estabelecer metas a cada trimestre, pois na Escola Dominical a cada três meses temos um novo conteúdo e um novo material didático. A liderança da igreja também precisa estabelecer alvos e todos os crentes precisam estar conscientes das metas e saber exatamente o que se espera de cada um.
Telma Bueno
Extraído do Ensinador Cristão. Ano 18, nº 71, jul./set. 2017

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