sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

LIÇÃO 1: DEUS DÁ SUA LEI AO POVO DE ISRAEL






TEXTO ÁUREO

“Que são israelitas, dos quais é a doção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas.” (Rm 9.1).


VERDADE PRÁTICA


Uma nova nação despontava no horizonte e precisava de uma legislação que definisse as bases em que o povo devia viver, isto é, fundamentada nas promessas feitas aos patriarcas.



LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Êxodo 20.18-22; 24.4,6-8.


20.18 - E todo o povo viu os trovões, e os relâmpagos, e o sonido da buzina, e o monte fumegando; e o povo, vendo isso, retirou-se e pôs-se de longe.
19 - E disseram a Moisés: Fala tu conosco, e ouviremos; e não fale Deus conosco, para que não morramos.
20 - E disse Moisés ao povo: Não temais, que Deus veio para provar-vos e para que o seu temor esteja diante de vós, para que não pequeis.
21 - E o povo estava em pé de longe: Moisés, porém, se chegou à escuridade onde Deus estava.
22 - Então, disse o SENHOR a Moisés: Assim dirás aos filhos de Israel: Vós tendes visto que eu falei convosco desde os céus.
24 - Um altar de terra me farás e sobre ele sacrificarás os teus holocaustos, e as tuas ofertas pacíficas, e as tuas ovelhas, e as tuas vacas: em todo lugar onde eu fizer celebrar a memória do meu nome, virei ali e te abençoarei.
24.4 - E Moisés escreveu todas as palavras do SENHOR, e levantou-se pela manhã de madrugada, e edificou um altar ao pé do monte e doze monumentos, segundo as doze tribos de Israel;
6 - E Moisés tomou a metade do sangue e a pôs em bacias; e a outra metade do sangue espargiu sobre o altar.
7 - E tomou o livro do concerto e o leu aos ouvidos do povo, e eles disseram: Tudo o que o SENHOR tem falado faremos e obedeceremos.
8 - Então, tomou Moisés aquele sangue, e o espargiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue do concerto que o SENHOR tem feito convosco sobre todas estas palavras.



OBJETIVO GERAL


Explicar o processo de desenvolvimento da Lei de Deus.
 

OBJETIVOS  ESPECÍFICOS


Após esta aula, o aluno deverá estar apto a:

·     Conhecer como a Lei foi promulgada.
·     Afirmar a autoria de Moisés.
·     Conceituar “Concerto” ou Aliança”.
·     Classificar os sacrifícios que foram estabelecidos com a Lei.



SUBSÍDIO I




INTRODUÇÃO


Neste trimestre estudaremos a respeito dos dez mandamentos, enfocando primordialmente sua relação com a igreja de hoje. Existem diferentes abordagens bíblico-teológicas quando à aplicação do decálogo na atualidade. Ao longo das aulas, adotaremos uma perspectiva evangélica, isto é, que considere o contexto no qual a torah foi revelada, mas que seja aplicado de acordo com os princípios cristãos.


1. CONCEITO BÍBLICO-TEOLÓGICO DE LEI


O uso desse termo sempre esteve relacionado às instruções diárias de Deus para o Seu povo. A torah orientava todos os aspectos da vida do povo israelita. E essa não era dos homens, mas do próprio Deus, que fala pessoalmente a respeito da “minha torah” (Ex.16.28; Sl. 78.1; 89.20; Is. 51.4,7). Além da torah, Deus estabeleceu seus estatutos – hoq em hebraico – às observâncias religiosas associadas aos levitas (Ex. 20.31; Lv. 6.18; 10.15). Para a cultura popular, particularmente a religiosa, a lei é negativa, pois impõe limites às atitudes humanas. Para os escritores bíblicos, a torah é positiva, pois mostra a vontade soberana de Deus para o bem do povo. Deus revelou a Sua torah para o bem daqueles que foram chamados por Ele (Jr. 31.33). Os salmos, a maioria deles da autoria de Davi, celebram a beleza da torah de Deus (Sl. 1; 19; 119). No Novo Testamento, a nomos – lei em grego – diz respeito à torah, isto é, aos primeiros cinco livros da Bíblia, também denominado de Pentateuco, e por extensão a todos os escritos do Antigo Pacto (Mt. 5.17; Jo. 1.17; Rm. 3.21). A nomos, tal como a torah, diz respeito também às regras e ordenanças de Deus ao Seu povo (Jo. 7.19; At. 15.5). Mas as pessoas, ao contrário do que defendem alguns religiosos, não são salvas pela nomos, mas pela graça de Deus, manifestada em Cristo (Ef. 2.8-10). As Epístolas de Romanos e Gálatas, escritas por Paulo, refutam o argumento religioso da salvação guarda da torah/nomos (Rm. 3.28; Gl. 2.16). Ainda que a torah/nomos não salve, aquele que crê obedece, não para a salvação, mas porque foi salvo. A anomia, expressão da língua portuguesa que vem de a (negação) nomia (lei) não se coaduna com o caráter cristão, não se pode viver “sem nomos” (Rm. 2.12). Paulo esclarece essa nova condição ética em Rm. 6.15, ao indagar: “Pois quê? Havemos de pecar porque não estamos debaixo da nomos, mas debaixo da graça?” Ele mesmo responde: “De modo nenhum”.


2. O PRINCÍPIO DA LEI DE DEUS PARA OS ISRAELITAS


O livro do Êxodo põe em evidência as dez palavras, fundamentadas na aliança com o povo de Deus com o povo de Israel. A importância desse código para aquele povo é ressaltada pelo fato de aparecerem duas vezes no Pentateuco (Ex. 20 e Dt. 5). O princípio da lei se encontra em Gn. 2.9-16, nas instruções dadas a Adão e Eva no Jardim (Gn. 2.17). Essas são palavras do próprio Deus, isso é confirmado em Dt. 5.22, que se revela como o Eu Sou (Ex. 3.13,14).  O fundamento dessas dez palavras é a santidade, primeiramente a de Deus, que demanda uma resposta do Seu povo (Lv. 19). Os feitos de Deus também determinam a exigência da torah, pois o Senhor libertou Seu povo do Egito (Ex. 3.15). A torah, por conseguinte, decorre da graça de Deus, pois primeiramente Ele salvou o povo, a fim de que esse fosse preservado (Dt. 4.1). Contrariando a interpretação legalista da torah, a lei deve ser percebida como um ato de liberdade, não de escravidão (Tg. 1.25). Por isso, assim como fez o salmista, o ouvinte da torah deve se expressar seu amor pela revelação de Deus (Sl. 119.97). Esse é um tema recorrente nos livros poéticos, tendo em vista que, para esses autores, a tora do Senhor é lâmpada e Suas correções o caminho para a vida (Pv. 6.23). A base do decálogo é relacional, pois enfatiza o relacionamento do homem com Deus (1 ao 4) e com outros homens (6 ao 10). Por esse motivo Jesus sumarizou essas palavras à obediência de coração (Mt. 5.21-30; Mt. 22.38,39).


3. APLICAÇÃO PARA A LEI DE DEUS HOJE



Essas palavras consideram inicialmente que o Deus de Israel não é apenas um deus, é O Deus entre muitas supostas divindades, podendo, assim, exigir exclusividade (I Co. 8.5). Nossas mentes e corações devem está cheios daquilo que o Senhor falou (Dt. 4.12-19), esse é o fundamento dos três primeiro mandamentos, o reconhecimento de que Deus é Espírito, portanto deve ser adorado em espírito e em verdade (Jo. 4.23-24), considerando que Sua palavra deve habitar em nós (Cl. 3.16). O quarto mandamento diz respeito à condição humana diante de Deus, devemos saber que não somos máquinas, por essa razão, precisamos ter momentos de contemplação, para nos voltar para Aquele que é nosso verdadeiro descanso. Trata-se de um ato de imitação, pois o próprio Deus descansou (Gn. 2.1-3). As palavras de Deus identifica nossa natureza redimida (Ef. 4.20-24), por isso devemos honrar nossos pais, a família deve ter preeminência nos relacionamentos. A paternidade deriva de Deus, isso é motivo suficiente para os filhos honrarem seus pais (Ef. 3.15). A vida tem é valiosa aos olhos de Deus, isso porque somos a imagem de Deus (Gn. 5.1; 9.6). Esse é um princípio que dignifica o ser humano, por isso os servos de Deus serão sempre pró-vida. Outro princípio estabelecido no decálogo é o da propriedade privada, sendo assim, as relações comerciais e econômicas devem ser respeitadas. Mas o dinheiro não deve ser colocado acima das pessoas, na verdade, caso é preciso ter cuidado para esse não tomar o lugar de Deus (Mt. 6.24). Conforme adverte o apóstolo Paulo, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (I Tm. 6.10). Nesse contexto, o contentamento deve ser cultivado, a cobiça não deve ter lugar no coração daqueles que amam a Deus (I Tm. 6.6). Em um mundo pautado pela mentira, o respeito à verdade deve ser estimulado, afinal, o Deus a quem servimos não é de mentira (Tt. 1.2).


CONCLUSÃO


Os dez mandamentos, ou mais propriamente, as dez palavras, foram dadas a Israel, em consonância com a aliança estabelecida por Deus com aquele povo. Mas essas instruções, ressaltando a propriedade do termo torah em hebraico, podem ser aplicadas à igreja nos dias atuais. O princípio norteador da torah se encontra nas palavras de Cristo, que a corroborou destacando o amor como fundamento das relações entre o homem e Deus e com os outros homens (Mt. 22.37-39)

Prof. Ev. José Roberto A. Barbosa


SUBSÍDIO II



INTRODUÇÃO


O tema do presente trimestre são os Dez Mandamentos, a base de toda a legislação mosaica. Aqui vamos iniciar com a solenidade da promulgação da lei, no Sinai*, a cerimônia do concerto que Deus fez com Israel. O evento envolveu holocaustos e a leitura do livro da lei num ritual com profundas implicações messiânicas. [Comentário: Iniciamos 2015 com um currículo novo. A primeira lição trata dos “Dez Mandamentos”. O que os Dez Mandamentos têm a nos dizer hoje? O objetivo deste trimestre é ajudar o povo de Deus a distinguir entre lei e evangelho, lembrando que os Dez Mandamentos não são a lei, mas parte dela, que introduz o sistema legal de Moisés. Quando lemos os Dez Mandamentos, quase sempre, não paramos para refletir no contexto de libertação em que o povo judeu estava situado. Geralmente olhamos para os mandamentos como “leis fixas ou regras duras” e não damo-nos conta de que a existência deste código divino tinha o objetivo de garantir a liberdade recém-conquistada pelos israelitas. Há pouco, o povo judeu fora liberto da opressão dos egípcios. Os mandamentos foram dados pelo Eterno para conduzir Israel a uma vida de santidade prática. Neles, o povo poderia ver a natureza de Deus e seu plano, segundo o qual deveriam viver. Os israelitas sofreram as influências da cultura, da religião, da filosofia de vida egípcia, etc. Não há como ficar incólume sob 430 anos de influência em uma cultura majoritária como a do Egito Antigo. Por isso, a providência divina foi a de estabelecer princípios divinos e de vida para os judeus a fim de que o processo de libertação do povo não fosse em vão. Voltar ao “espírito” do Egito, em pleno deserto, seria a sombra que os hebreus conviveriam por 40 longos anos. Mas, Deus estava disposto a libertá-los para sempre dessa sombra.] Convido você para mergulharmos mais fundo nas Escrituras!


1. A PROMULGAÇÃO DA LEI


1. A solenidade. O ritual do concerto e da promulgação da lei no pé do monte Sinai aconteceu cerca de três meses após a saída de Israel do Egito (Êx 19.1-3). Os israelitas permaneceram ali durante um ano (Nm 10.11,12). A revelação da lei começa aqui e vai até o livro de Levítico (Lv 27.34). O livro de Números registra as jornadas de Israel no deserto, e Deuteronômio é o discurso em que Moisés recapitula a lei e traz ao povo uma reflexão sobre os acontecimentos no deserto desde a saída do Egito, exortando Israel à fidelidade a Deus (Dt 1.3; 4.1). [Comentário: O local onde nos encontramos é o Monte Sinai, de significado desconhecido, sendo uma possível derivação da palavra seneh, um arbusto espinhoso daquela região, ou pode ser uma referência ao deus lua Sin, cujo culto havia-se espalhado por toda a Arábia. Às vezes esse monte é chamado apenas de "a montanha de Deus" como em Ex 3.1 e 4.27; Sinai e Horebe. Essas variações podem referir-se ao mesmo monte, ou podem estar em vista montanhas diferentes localizadas na península. O escritor protestante americano Norman Russel Champlin afirma que foram necessários três meses para que Israel chegasse ao Sinai, depois de haver escapado da servidão no Egito. Na ocasião, um grande acontecimento esperava por eles, o pacto sinaítico. No terceiro mês. Ou seja, no terceiro mês do calendário religioso, que tinha início na páscoa, no mês de abibe (nisã). Entre os israelitas também havia um calendário civil. O terceiro mês do calendário religioso chamava-se sivã, correspondente ao nosso mês de maio. O Targum de Jonathan diz que a chegada de Israel ao Sinai ocorreu quarenta e cinco dias depois da partida do Egito, presumivelmente cinco dias antes da lei ter sido dada, ou seja, no sexto dia do mês de sivã. No primeiro dia desse mês, eles chegaram ao Sinai, e ali acamparam-se. No dia seguinte, Moisés subiu ao monte em sua entrevista com YAHWEH (hebraico: יהוה) ou com Sua teofania. No terceiro dia, ele reuniu os anciãos do povo (vs. 7), e lhes declarou as palavras de Deus. Três dias mais tarde, que foi o sexto dia do mês de sivã, foi dada a lei aos anciãos do povo, e, deles, para todos os israelitas. A exatidão desses cálculos, porém, dificilmente pode ser averiguada (Êx 19.2). O autor sacro oferece aqui uma pequena digressão a fim de lembrar-nos os movimentos de Israel após a partida de Refidim (Êx 17.1) para o Sinai. O Sinai foi um dos pontos de parada, onde Israel deveria permanecer por onze meses e seis dias. Fica entendido que YAHWEH (יהוה) se manifestava ali de maneira especial, tal como os gregos pensavam que o Olimpo era a residência de deuses. Assim, Moisés subiu ao monte cheio de expectativa, em busca de uma entrevista com o Senhor. O autor liga a cena da sarça ardente (cap. 3) com a cena deste capítulo. Chegara o momento de outra grande revelação. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 383.

2. A credibilidade de Moisés. Diante de tudo o que aconteceu, quem poderia questionar a legitimidade de Moisés como mediador entre Deus e o povo? Quem podia duvidar da autenticidade e da autoridade da lei (Êx 20.22)? Não seria exagero afirmar que Deus quis fortalecer a autoridade de Moisés com aquelas manifestações sobrenaturais (Êx 19.9). A manifestação visível do poder de Deus ao povo era uma prova irrefutável de sua origem divina (Êx 20.18-22; 19.16-19). As coisas de Deus são sempre às claras. Uma das grandezas do cristianismo é que ele foi erigido sobre fatos. Os evangelhos estão repletos dos milagres que Jesus operou diante do povo (Jo 18.19-21). [Comentário: Os israelitas tinham pedido que Moisés atuasse como mediador entre Deus e eles mesmos (vs. 19), quando Moisés já estava atuando nessa capacidade. YAHWEH (יהוה) instruiu Moisés para que transmitisse ao povo a Sua palavra, e assim teve início a multiplicação dos dez mandamentos básicos; e essa multiplicação, mediante a Interpretação, nunca terminou para o judaísmo. YAHWEH (יהוה) enviava a Sua mensagem do Seu céu, o que significa que estamos falando em termos de revelação. As coisas ditas pelo Senhor seriam posteriormente formuladas nas Escrituras. O fato de que a voz de YAHWEH (יהוה) era ouvida por Moisés servia de motivo para o povo de Israel obedecer, pois as palavras subiam acima da compreensão imediata deles. Segundo o comentarista bíblico e pastor presbiteriano inglês Matthew Henry, isto pareceu, também, ter particularmente a finalidade de honrar Moisés: “Para que o povo ouça, falando eu contigo, e para que também te creiam eternamente”, v. 9. Desta maneira, a correspondência devia ser primeiro estabelecida por uma manifestação perceptível da glória divina, e depois deveria ter continuidade, de modo mais silencioso, pelo ministério de Moisés. De igual maneira, o Espírito Santo desceu visivelmente sobre Cristo, no seu batismo, e todos os que estavam presentes ouviram Deus falando com Ele (Mt 3.17), para que posteriormente, sem a repetição de tais sinais visíveis, pudessem crer nele. E da mesma maneira, o Espírito desceu em línguas partidas sobre os apóstolos (At 2.3) para que as pessoas cressem neles. Observe que quando as pessoas se declararam dispostas a obedecer à voz de Deus, então Deus prometeu que eles ouviriam a sua voz. Pois, se alguém quiser fazer a vontade dele, irá conhecê-la, João 7.17. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 290.]

3. A lei. A lei de Moisés é o alicerce de toda a Bíblia, e os judeus a consideram "a expressão máxima da vontade de Deus". O termo hebraico torah aparece no Antigo Testamento como "instrução, ensino, lei, decreto, código legal, norma", e vem da raiz de um verbo que significa "instruir, ensinar". A Septuaginta emprega a palavra grega nomos, "lei, norma",  usada também no Novo Testamento. Além de designar toda a legislação mosaica (Dt 1.5; 30.10) - o Pentateuco (Lc 24.44; Jo 1.45) - indica também o Antigo Testamento (Jo 10.34, 35; Rm 3.19; 1 Co 14.21). Segundo os antigos rabinos, a lei contém 613 preceitos contendo 248 mandamentos e 365 proibições. [Comentário: Torah (hebraico תּוֹרָה, instrução, apontamento, lei) é o nome dado aos cinco primeiros livros do Tanakh (também chamados de Hamisha Humshei Torah, חמשה חומשי תורה - as cinco partes da Torá) e que constituem o texto central do judaísmo. É o equivalente ao Pentateuco ma Bíblia Cristã. Chamada também de Lei de Moisés (Torat Moshê, תּוֹרַת־מֹשֶׁה), por vezes o termo "Torá" é usado dentro do judaísmo rabínico para designar todo o conjunto da tradição judaica, incluindo a Torá escrita, a Torá oral (Talmud) e os ensinamentos rabínicos. A Bíblia de Estudo Genebra (Cultura Cristã e SBB) traz a seguinte nota: “Os seres humanos não foram criados autônomos (isto é, seres livres para seguirem sua própria lei), mas foram criados seres teônomos, ou seja, para estarem sujeitos à lei de Deus. Isso não constituía uma privação para o homem, porque Deus o criou de tal maneira que uma obediência agradecida poderia proporcionar-lhe a mais alta felicidade. Dever e prazer seriam coincidentes, como ocorreu com Jesus (Jo 4.34; cf. SI 112.1; 119.14, 16,47-48,97-113, 127-128, 163-167). O coração humano decaído odeia a lei de Deus, tanto pelo fato de ser uma lei quanto por ela vir de Deus. Os que conhecem a Cristo, contudo, descobrem não só que amam a lei e querem guardá-la tanto para agradarem a Deus e como gratidão pela graça (Rm 7.18-22; 12.1-2) mas também que o Espírito Santo os conduz a um grau de obediência que nunca tiveram antes (Rm 7 .6; 8.4-6; Hb 10.16). A lei moral de Deus está abundantemente exposta nas Escrituras, no Decálogo (Os Dez Mandamentos), em outros estatutos de Moisés, em sermões de profetas, no ensino de Jesus e nas cartas do Novo Testamento. A lei reflete o caráter santo de Deus e seu propósito para os seres humanos que criou. Deus ordena o comportamento que lhe agrada e proíbe aquilo que o ofende. Jesus resume a lei moral nos dois grandes mandamentos: o amor a Deus e o amor ao próximo (Mt 22.37-40). Ele diz que desses dois dependem todas as instruções morais do Antigo Testamento. O ensino moral de Cristo e de seus apóstolos é a velha lei aprofundada e reaplicada a novas circunstâncias, as da vida no Reino de Deus, onde o Salvador reina, e na era pós-pentecostes do Espírito, quando o povo de Deus é chamado a viver uma vida santificada no meio de um mundo hostil (Jo 17.6-19). A lei bíblica é de várias espécies. As leis morais ordenam o comportamento pessoal e comunitário, que sempre são de nosso dever observar. As leis políticas do Antigo Testamento aplicavam princípios da lei moral à situação nacional de Israel, quando Israel era uma teocracia, como povo de Deus na terra. As leis do Antigo Testamento a respeito de purificação cerimonial, regime alimentar e sacrifícios eram estatutos temporários, com o objetivo de instruir o povo. Essas leis foram canceladas pelo Novo Testamento, porque o seu significado simbólico foi cumprido (Mt 15.20; Me 7.15-19; At 10.9-16; Hb 10.1-14: 13.9-10). A combinação de leis morais, judiciais e rituais nos livros de Moisés comunicam a mensagem de que a vida sob a orientação de Deus não deve ser vista nem vivida em compartimentos, mas como uma unidade multifacetada. Comunicam também que a autoridade de Deus como legislador deu força igual a todo o código. Contudo, as leis eram de diferentes espécies e tinham diferentes propósitos. As leis políticas e cerimoniais tinham aplicação limitada, enquanto parece claro, tanto do contexto imediato quanto do ensino de Jesus, que a afirmação de Jesus a respeito da imutável força universal da lei se refere à lei moral como tal (Mt 5.17-19; cf. Lc 16.16-17). Deus exige a total obediência de cada pessoa a todas as implicações de sua lei. Como diz o Catecismo Maior de Westminster; p. 99: "A lei... obriga todos à plena conformidade do homem integral à retidão dela e à inteira obediência para sempre"; "a lei é espiritual e, assim, se estende tanto ao entendimento, à vontade, às afeições e a todas as outras potências da alma, quanto às palavras, às obras e ao procedimento." Em outras palavras, tanto os desejos quanto as ações devem ser retos. Jesus condena a hipocrisia que oculta a corrupção íntima com fingimentos exteriores (Mt 15. 7-8; 23.25-28). Além disso, as decorrências da lei são parte de seu conteúdo: "onde um dever é ordenado, o pecado contrário é proibido; e, onde um pecado é proibido, o dever contrário é ordenado".” Bíblia de Estudo de Genebra. Editoras Cultura Cristã e Sociedade Bíblica do Brasil. pag. 103.]


SÍNTESE DO TÓPICO I


A Lei foi entregue a Moisés no Monte Sinai. O legislador de Israel cumpriu o papel de mediador entre a vontade de Deus e o povo de Israel.



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2. OS CÓDIGOS


1. Classificação. Os críticos costumam fragmentar os escritos de Moisés. Consideram a legislação mosaica uma coleção de diversos códigos produzidos num longo lapso de tempo. A classificação apresentada é a seguinte: os Dez Mandamentos encabeçam a lista desses expositores (Êx 20.1-17; Dt 5.6-21). Em seguida, há o que eles denominam Código da Aliança (Êx 20.22-23.33). O que vem depois é o Código de Santidade (Lv 17-26). O Código Sacerdotal é o restante do livro de Levítico e o Código Deuteronômico (Dt 12-26).). [Comentário: O Pentateuco é uma coletânea de escritos diversos. Nele encontramos história, poema, genealogia, narrativa, prescrição e exortação, tudo com um objetivo único: que Israel seja instruído quanto ao significado e propósito. O comentarista deste trimestre, o Pastor Esequias Soares, escreve em sua obra que serve de apoio a estas lições, Os dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança (CPAD): “Os códigos do Pentateuco são seções distintas no sistema mosaico que a crítica considera porções legais produzidas durante um longo lapso de tempo. Os críticos afirmam ter encontrado sete grupos: os Dez Mandamentos (Êx 20.1-17; Dt5.6-21); o que eles costumam chamar de Código da Aliança (Êx 20.22-23.33); Ritual do Decálogo (Êx 34.10-26); Código de Santidade (Lv 17- 26); Código Sacerdotal (Lv 1-16); o Código Deuteronômico (Dt 12-26); além do discurso sobre as bênçãos e as maldições (Dt 27-28). Outros expositores mais ousados chegam a afirmar que o texto se constituía dos Dez Mandamentos sem as explicações de Êxodo 20.4-6, 9-11 e Deuteronômio 5.9, 10, 13-15, as quais teriam sido acrescentadas posteriormente. Há, na verdade, entre os críticos judeus e cristãos mais conservadores, a ideia de que Moisés recebeu as tábuas sem as respectivas explicações, mas que Deus mandou o próprio Moisés incluí-las no livro da Lei.” Esequias Soares. Os dez Mandamentos. Valores Divinos para uma Sociedade em Constante Mudança. Editora CPAD. pag. 21-22.]

2. O que há de concreto? Estas seções ou códigos são realmente identificáveis no Pentateuco; no entanto, é inaceitável a ideia de sua existência independente de cada um deles na história. O argumento dos críticos contraria todo o pensamento bíblico. Não existem provas bíblicas nem extrabíblicas de qualquer código isolado no Antigo Israel. A Bíblia inteira atribui a autoria a Moisés, e o próprio Senhor Jesus Cristo chamava o Pentateuco de "lei de Moisés" (Lc 24.44). ). [Comentário: A visão das Escrituras de que Moisés era o autor humano do Pentateuco é sustentada pelas evidências. Há seis passagens no Pentateuco que declaram especificamente a autoria de Moisés (Êx 17.14; 24.4-8; 34.27; Nm 33.1,2; Dt 31.9,24-26; 31.22,30-32.43). Três dessas referências estão ligadas às partes legislativas, e três às partes históricas. Estas 6 partes são partes integrais do seu contexto, de forma que as referências citadas provavelmente atribuem a Moisés a autoria de uma boa parte do contexto em que elas ocorrem. Com relação a Gênesis, nenhuma declaração específica de autoria é encontrada no livro. Mas Gênesis é uma parte integrante do Pentateuco. Sua narrativa conduz a acontecimentos relatados em Êxodo, e sem ela o Êxodo não seria compreensível. O Êxodo pressupõe claramente Gênesis; de fato, sua primeira palavra hebraica voe, normalmente traduzida como "e", mostra que deve ser conectada com o que precede em Gênesis. Se Moisés foi o autor dos últimos 4 livros do Pentateuco, também foi o autor de Gênesis. Ao longo dos últimos 4 livros do Pentateuco, Moisés foi o personagem principal. Ele era o mediador pelo qual Deus falava à nação ao transmitir sua lei. Deus deu a este patriarca as instruções para a construção do Tabernáculo, e lhe revelou as leis com relação à adoração. Cada vez mais, lemos sentenças como "Então, disse o Senhor a Moisés", "Como o Senhor ordenara a Moisés" etc. Quando chegamos a Deuteronômio, estamos na mesma atmosfera. O livro começa com "Estas são as palavras que Moisés falou..." Em todo o livro de Deuteronômio, Moisés aparece como a figura central. Nos demais livros e passagens do AT, o Pentateuco é uniformemente considerado como obra de Moisés. É correto dizer que a única lei autorizada que é reconhecida no AT é a lei de Moisés; o mesmo é verdade em relação ao NT. Citações feitas do Pentateuco atribuem sua autoria a Moisés (cf. Mt 19.8; Mc 10.3-5; Lc 24.27,44; Jo 5.46,47; 7.19; At 3.22; Ap 15.3 etc). Tanto o AT como o NT consideram Moisés como o autor humano da lei. No século XVIII, surgiu a visão de que o Pentateuco não era inteiramente uma obra de Moisés. Pensou-se que a presença de diferentes nomes divinos em Gênesis fosse uma marca de diferentes autores. Finalmente, assumiu-se que Gênesis consistia de três documentos principais, que foram finalmente reunidos por um redator. Pensou-se que estes 3 documentos, ou partes deles tivessem sido encontrados também em Êxodo, Levítico e Números, sendo que Deuteronômio foi atribuído a uma fonte diferente. No entanto, a hipótese documentária, como é chamada, embora sustentada por muitos estudiosos, destrói a verdadeira unidade e harmonia do Pentateuco. E uma teoria que não tem o suporte dos fatos e, portanto, deve ser abandonada. PFEIFFER .Charles F. Dicionário Bíblico Wycliffe. Editora CPAD. pag. 1499-1500.]


SÍNTESE DO TÓPICO II


Embora os críticos bíblicos afirmam que os escritos atribuídos a Moisés são fragmentados, a Bíblia inteira, bem como o testemunho de Jesus Cristo, atribui a Moisés a autoria do Pentateuco (Lc 24.44).




3. O CONCERTO


1. O que é um concerto? O termo usado no Antigo Testamento para "concerto" é berit, "pacto, aliança", que literalmente indica obrigação entre pessoas como amigos, marido e mulher; entre grupos de pessoas; ou entre divindade e indivíduo ou um povo. Sua etimologia é incerta. A Septuaginta emprega o termo grego diatheke, "pacto, aliança, testamento", ou seja, a mesma palavra usada por Jesus ao instituir a Ceia do Senhor. O Antigo Testamento fala de três concertos: com Noé, com Abraão e com Israel no monte Sinai (Gn 9.8-17; 15.18; Êx24.8). O Novo Testamento fala do novo concerto que o Senhor Jesus fez com toda a humanidade (Mt 26.28; Hb 8.13). [Comentário: Em hebraico, uma "aliança" é determinada pelo termo berit, e berit karat significa "fazer (lit., 'cortar' ou 'lapidar') uma aliança". Em grego o termo é diatheke (que pode significar tanto "pacto"como "último desejo e testamento"), e o verbo é diatithemi (At 3.25; Hb 8.10; 9.16; 10.16). Uma aliança é um acordo entre duas ou mais pessoas em que quatro elementos estão presentes: partes, condições, resultados, garantias. As alianças bíblicas são importantes como uma chave para duas grandes facetas da verdade: Soteriologia - O plano de Deus através de Jesus Cristo para redimir os seus eleitos, está revelado de uma maneira ampla e profunda nas sucessivas alianças. Mais uma vez cito Russell Norman Champlin, que chama berit de pacto e enumera-os assim: 1. O pacto edênico (Gn 1.26-28). Esse pacto condicionava a vida do homem em seu estado de inocência; 2. O pacto adâmico (Gn 3.14-19). Esse pacto condicionava a vida do homem após a queda, dando-lhe a promessa da redenção; 3. O pacto noaico (Gn 9.1 e ss). Esse pacto estabeleceu o principio do governo humano; 4. O pacto abraâmico (Gn 15.8). Esse pacto diz respeito à fundação física e espiritual de Israel, impondo condições aos que quisessem pertencer ao Israel espiritual; 5. O pacto mosaico (Êx 19.25; 20.1-24.11 e 24.12-31.18). A lei foi dada, supostamente como meio de vida, mas terminou por ser o motivo da morte e da condenação; 6. O pacto palestiniano (Dt 28-30). Esse prometeu a restauração de Israel no tempo devido; 7. O pacto davidico (2 Sm 7.8-17). Esse pacto estabeleceu a perpetuidade da família e do reino davídico, cumprido em Cristo como Rei (Mt 1.1; Lc 1.31-33; Rm 1.3). Isso inclui o reino milenar (2 Sm 7.8-17; Zc 12.8; Lc 1.31,33; At 15.14-17; I Co 15.24), que tipifica o reino eterno de Cristo. 8. O novo pacto. Esse repousa sobre a obra sacrificial e sacerdotal de Cristo, tendo por fito garantir a bênção eterna e a salvação para os homens. Apesar dos homens não poderem produzir nada que esse pacto exigia, por si mesmos, a verdade é que ele está condicionado à fé e à outorga da alma nas mãos de Cristo. O trecho de Hb 10.19 – 12.3 é, essencialmente, uma descrição de como esse novo pacto é melhor. Ê o pacto mosaico que está em foco no trecho de Hb 8.6, contrastado com o novo. Fazia exigências impossíveis aos homens, transformando-os em escravos. Mas não era capaz de dar-lhes a força para viverem à altura dessas exigências. Portanto. o pacto baseado na lei estava condenado ao fracasso. No novo pacto foi dada a lei do Espírito de Deus que opera no coração e em que as operações intimas do Espírito garantem o cumprimento das condições. Dai vem o sucesso desse novo pacto. CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 1. Editora Hagnos. pag. 6.]

2. Preparativos. Até este ponto na história dos israelitas, Deus vinha agindo em cumprimento às promessas feitas aos patriarcas Abraão, Isaque e Jacó (Gn 15.18; 17.19; Êx 2.24). Essa promessa precisava ser levada avante. Agora os filhos de Israel formavam um grande aglomerado de pessoas, e essa multidão precisava ser organizada como nação e estabelecida uma forma de governo com estatutos que constituíssem sua lei. [Comentário: Preparação para o Pacto (19.1-25): Agora os israelitas tinham chegado ao monte Sinai. Ali eles permaneceram, pelo resto dos eventos registrados no trecho compreendido entre Êxodo 19.1 e Números 10.10. Estiveram ali pelo período de onze meses e seis dias, desde o décimo quinto dia do terceiro mês de seu primeiro ano de jornadas (ver Êx 12.2,6 e 19.1) até ao vigésimo dia do segundo mês de seu segundo ano de jornadas (Nm 10.11). Ao receber a lei de Moisés, o povo de Israel tornou-se uma virtual teocracia, ganhando assim a característica distintiva que fez deles o povo de Israel. Desse modo, o Pacto Abraâmico estava adquirindo novas dimensões. Israel era agora a nação consagrada à lei, porquanto aquilo que o evangelho é para a Igreja, a lei o é para Israel. Somente em Cristo o Pacto Abraâmico receberia ainda maiores dimensões e espiritualidade do que recebeu com Moisés (Gl. 3.14 ss). A redenção da servidão ao Egito tinha sido completa; muitos milagres tinham levado Israel até àquela parada prolongada, no Sinai. Naquele lugar, um novo pacto seria estabelecido que tornaria Israel a nação distintiva em que ela se tornou. A lei de Moisés era a constituição de Israel, a base do estado teocrático, sob YAHWEH (יהוה), o Deus único e verdadeiro. Ficou assim estabelecido, de modo absoluto, o monoteísmo, se porventura isso já não tinha acontecido antes. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 382.]

3. O concerto do Sinai. O concerto do Sinai não era apenas a ratificação da promessa feita a Abraão, mas sua aprovação oficial (Gn 15.18; Gl 3.17). As duas partes envolvidas eram, de um lado, o grande Deus Jeová: "se diligentemente ouvirdes a minha voz" (Êx 19.5); e, de outro, Israel: "Tudo o que o SENHOR tem falado faremos" (Êx 19.8). O povo reafirma esse compromisso mais adiante (Êx 24.7). Era um concerto temporal, local e nacional com mediador falível, ao passo que o de Cristo tinha aplicação universal, foi em favor de toda a raça humana e o Mediador era perfeito. [Comentário: O Pacto Mosaico. As alianças bíblicas (brit) fazem declarações sobre o que Deus pretende ou está comprometido a fazer. Ao mesmo tempo em que Moisés ou o Pacto da Lei compartilham essa característica essencial com outros pactos bíblicos, eles são também diferentes entre si. A aliança original que Deus fez com Abraão continha um número de declarações “E far-te-ei” feitas pelo Senhor (Gn 12). Foram dadas a essas promessas força legal e formal em um pacto de sangue (Gn 1 5). Nessa época, Deus fez Abraão adormecer, e o Senhor passou sozinho entre as partes dos animais sacrificados. O Senhor, então, demonstrou que manteria as promessas feitas a Abraão não importando o que ele fizesse. Outras alianças, tais como a de Davi e a Nova Aliança, são também compromissos unilaterais. Deus fará o que prometeu independente da forma como o homem se comporte. O que distingue a Aliança (Lei) Mosaica é o que Deus declara que fará dependendo de como o seu povo se comportará. O povo de Deus será abençoado e protegido se amar e obedecer ao Senhor. Se, por outro lado, o povo de Deus desviar-se para cultuar divindades pagãs e abandonar os caminhos corretos, então o Todo-Poderoso o disciplinará e o punirá. Somente aqui o que Deus fizer será em resposta às escolhas de Israel. Há outras diferenças entre o Pacto Mosaico e os outros. Os outros tratam do que Deus fará no final da história. Este pacto refere-se ao que Deus fará a cada geração enquanto a história se desenrola. Os outros são pactos permanentes. O Mosaico é um pacto temporário, valendo somente até Jesus, o Redentor prometido. Hoje o Deus da Lei do AT continua a revelar a natureza santa do Senhor e seus padrões morais. Entretanto, hoje o Santo Espírito de Deus nos capacita a ter uma vida de amor que cada vez mais demonstre perfeitamente o caráter do nosso Senhor. RICHARDS. Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia. Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo. Editora CPAD. pag. 62.]

4. O livro do concerto. Moisés "tomou o livro do concerto e o leu aos ouvidos do povo" (24.7). O concerto foi feito sob as palavras desse livro que continha os mandamentos e os direitos e deveres para a vida de Israel (24.8). Deus já havia mandado Moisés escrever os acontecimentos ocorridos até a guerra dos amalequitas (Êx 17.14). Mas aqui o texto se refere a uma coleção de ordenanças escritas pelo próprio Moisés (24.4). Segundo Umberto Cassuto, professor das universidades de Milão, Roma e Jerusalém, esse livro continha Êxodo 19-20.19 e 20.22-23.33. Nessa época, a revelação do Sinai ainda estava em andamento. [Comentário: O livro da aliança (hebraico aepher habberit) foi lido por Moisés como a base do pacto de YAHWEH (יהוה) com Israel (Êx 24.7). Não há certeza sobre que livro era esse, mas, provavelmente, era ou incluía o decálogo, isto é, Êxodo 20.2-17. Entretanto, a expressão também foi aplicada a Êxodo 20.22 22: 33. Em 2º Reis, a expressão refere-se à lei deuteronômica como um todo. Seja como for, estamos tratando da mais antiga codificação da lei de Israel, que consiste em juízos (mispatim) e estatutos (debarim). Os juízos eram mandamentos positivos: ...faze isto... e os estatutos eram mandamentos negativos: Não. Também havia provisões chamadas leis participiais, porquanto, no hebraico, são expressos por algum verbo no tempo particípio: Fazendo isto ou aquilo, morrerá. A grosso modo, podemos dizer que o ..livro da aliança.. é o decálogo, com seus comentários e implicações. Um código, similar quanto. a certos pontos, é o de Hamurabi, embora ali os homens estivessem divididos em três classes: a aristocracia, a classe comum dos cidadãos e os escravos. E as leis eram bastante desiguais, quando aplicadas a essas três classes. Algumas das provisões, porém, eram idênticas, como, para exemplificar, a sentença de morte contra o sequestro. (Êx 21.16; Dt 24.7; Código de Hamurabi, nº 14). Quanto ao furto, as leis hebraicas não requeriam a morte, e o código de Hamurabi requeria a punição capital, embora com o tempo, isso fosse relaxado para o roubo de objetos religiosos ou de propriedades do estado, posteriormente, foi requerida uma sêxtupla devolução. Ambos esses códigos permitiam que as dividas fossem saldadas mediante a servidão, havendo provisões para a redenção, a fim de que os cidadãos não se tomassem escravos permanente Êx 21.2-11; Dt 15.12-18; Código de Hamurabi nº 117-119. A lei de Talião, em face da qual o castigo aplicado correspondia exatamente ao dano praticado, era aplicada de forma um tanto mais dura no código de Hamurabi (nº 198), do que na lei mosaica. Diz Êxodo 21.23-25: «Mas se houver dano grave, então darás vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferimento por ferimento, golpe por golpe... O povo comum e 'os escravos eram menos protegidos nas leis babilônicas do que na lei mosaica. Um pastor que perdesse uma ou várias ovelhas, tinha de fazer reparação em valores, de acordo com o Código de Hamurabi nº 267. A lei. mosaica (Êx 22.10-13) era mais suave, porquanto admitia perdas que não se deviam à culpa do pastor, como o ataque de algum animal feroz. Nesses casos, bastava-lhe fazer um juramento de sua inocência, e nada precisava pagar. Essas e outras comparações demonstram que o Código de Hamurabi, bem como outras legislações existentes na região, juntamente com as leis do Antigo Testamento, estavam alicerçadas sobre algum fundo comum de leis. Mas, em diversas provisões, as leis do Antigo Testamento elevaram os padrões, injetando um maior espírito de misericórdia do que outros códigos. CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 3. Editora Hagnos. pag. 869.]




SÍNTESE DO TÓPICO III


Enquanto o Antigo Testamento fala de três concertos – os de Noé, Abraão e Israel – o Novo revela uma nova e suficiente aliança: Jesus Cristo se fez homem.



4. O SACRIFÍCIO


1. Os holocaustos. A solenidade foi celebrada com sacrifícios de animais (20.4). O holocausto, olah, em hebraico, significa "o que sobe", pois a queima subia em forma de fumaça, como cheiro suave diante de Deus. Neste sacrifício, a vítima era completamente queimada como sinal de consagração do ofertante a Deus. A Septuaginta emprega holokautoma, derivado de duas palavras gregas: holos, "inteiro, completo, total", e kaustos, "queima". Ou seja, uma oferta totalmente queimada, ou completamente queimada no altar, era considerada o mais perfeito dos sacrifícios. [Comentário: Essa palavra vem do grego hol «inteiro». E kautoI. «queimar». A Septuaginta usa essa palavra para. traduzir o termo hebraico olah, que significa «trazido a Deus». Um sinônimo, kalil, significa «queima completa», referindo-se ao consumo dos sacrifícios em sua totalidade, incluindo os órgãos internos, a gordura e tudo o mais, até tudo tornar-se em cinzas. A olah era oferecida como expiação pelo pecado. Outros sacrifícios expiavam pelos pecados particulares, mas a olah visava a uma expiação geral. Os holocaustos, no decorrer da sua história eram efetuados privada e publicamente. Posterior: mente transformaram-se na tamid diária, o grande sacrifício nacional, em favor de toda a nação de Israel. Essa cerimônia é que deu origem à oração judaica diária, que prevalece no judaísmo moderno. Em um sentido secundário, o termo é usado para indicar qualquer grande e terrível destruição, como a destruição de seis milhões de judeus, por determinação de Adolf Hitler, durante a Segunda Guerra Mundial. Qualquer grande destruição, sem importar a sua causa, pode ser assim denominada. CHAMPLIN, Russell Norman, Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol. 3. Editora Hagnos. pag. 150.]

2. O sangue. Deus mandou Moisés oferecer o sacrifício do concerto e aspergir o sangue sobre o altar e o povo (24.6, 8). Todo o sistema sacrifical fundamenta-se na ideia de substituição, e isso implica expiação, redenção, perdão e sacrifício vicário à base de sangue (Lv 17.11). O sangue aqui era o ponto de união entre Deus e seu povo; com ele, Israel começava uma nova etapa em sua história (Sl 50.5). O escritor aos Hebreus lembra que o concerto do Sinai foi celebrado com sangue e faz uma analogia com a Nova Aliança, porque o Senhor Jesus a selou com seu próprio sangue (Hb 9.18-22). [Comentário: Metade do sangue dos sacrifícios, que havia sido posto em receptáculos, a ser usado para aspergir o povo (vs. 8). A outra meta- de foi aspergida sobre o altar. Temos aí o rito da ratificação, selado a sangue. Por muitas vezes, o sangue fala de expiação; e, talvez, essa idéia esteja incluída no rito, embora a noção principal tenha sido a ratificação feita pelas duas partes interessadas: YAHWEH (יהוה) representado pelo altar, e o povo de Israel, que foi aspergido. Entre vários povos antigos havia pactos de sangue. Algumas vezes, o sangue dos sacrifícios era sorvido pelas partes envolvidas no acordo. “Deus e o povo uniram-se em sagrado companheirismo. Houve uma refeição sagrada (vss. 9-11), que também servia de meio comum de estabelecimento dessa comunhão. Provavelmente devemos pensar aqui em uma forma mais antiga, e que a aspersão do sangue simbolizava aquilo que se fazia mais antigamente, ou seja, o sangue era bebido”. A aversão de Israel ao uso de sangue como alimento não permitiria que eles bebessem do sangue. CHAMPLIN, Russell Norman, Antigo Testamento Interpretado versículo por versículo. Editora Hagnos. pag. 411. Aqui é fornecida uma razão para esta lei (v. 11): “Porquanto é o sangue que fará expiação pela alma”. E, por isto, é através do sangue que se faz a expiação, porque a vida da carne é o sangue. O pecador merece a morte. Por isto, o sacrifício deve morrer. Mas, sendo o sangue, de tal forma, a vida, a ponto de que os animais normalmente eram mortos para o uso do homem, com a extração de todo o seu sangue, Deus recomendou o espargir ou o derramar do sangue do sacrifício sobre o altar, para significar que a vida daquele sacrifício era dada a Deus, em lugar da vida do pecador, e como um resgate ou contra-oferta por ela. Por isto, sem derramamento de sangue não há remissão, Hebreus 9.22. Por esta razão, eles não deveriam comer o sangue. Além disto: (1) Esta era, então, uma razão muito boa. Pois Deus, desta maneira, desejava preservar a honra daquela forma de expiação que Ele tinha instituído, e conservar, na mente do povo, uma consideração reverente por ela. Como o sangue do concerto era algo perceptível, nenhum sangue devia ser comido ou pisoteado como algo comum, da mesma maneira como eles não deviam ter ungüento nem perfume iguais àqueles que Deus havia ordenado que eles fizessem para Ele. HENRY. Matthew. Comentário Matthew Henry Antigo Testamento Gênesis a Deuteronômio. Editora CPAD. pag. 404-405.]

3. A aspersão. Moisés colocou metade do sangue em bacias e aspergiu outra metade sobre o altar (24.6). O sangue das bacias foi aspergido sobre o povo, como recipiente das bênçãos de Deus e parte do concerto. O sangue do altar representa o próprio Deus, a outra parte da aliança, visto que sem derramamento de sangue não há remissão (Hb 9.22). Tudo isso era também um prenúncio da redenção em Cristo. [Comentário: ASPERSÃO No AT, essa palavra envolve o uso de sangue, água ou azeite. O Comentário Bíblico Beacon (CPAD) traz o seguinte: “A necessidade de derramamento de sangue, tipificando a doação de vida, é resumida no versículo 22. No que tange à purificação cerimonial, as coisas, i.e., o Tabernáculo e seus acessórios de adoração, lemos o seguinte: E quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue. Mas ainda mais indispensável é o sangue remidor oferecido em favor dos pecadores. Coisas requerem o aspergir de sangue quando são consagradas. Mas pessoas requerem perdão; e embora possa haver exceções em relação às coisas, não há exceção no perdão; porque sem derramamento de sangue não há remissão de forma alguma. Esta é a grande diferença entre o caminho de Deus e o caminho do homem, entre a verdadeira religião e a falsa. O homem tem uma visão inadequada do pecado e despreza o sangue como inerentemente necessário para o perdão. Mas ao exigir sangue, Deus ressalta a excessiva pecaminosidade do pecado; e ao prover o Sangue, Ele revela o seu infinito amor. O sangue do pecador pode ser poupado — mesmo o de animais — porque Deus sacrificou seu próprio “Cordeiro [...] que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).” Richard S. Taylor. Comentário Bíblico Beacon. Hebreus. Editora CPAD. Vol. 10. pag. 83.]


SÍNTESE DO TÓPICO IV


Deus informou a Moisés, na Lei, a constituição de sacrifícios santos: os holocaustos; derramamento de sangue; aspersão do sangue.


 
CONCLUSÃO


A grandeza do acontecimento no Sinai mostra a natureza sem igual da cerimônia, algo nunca visto. Era a manifestação do próprio Deus de maneira explícita diante de todo o povo. O que devemos aprender é que a observância meramente exterior, destituída de significado interior, não passa de simples cerimônia. A riqueza espiritual e seu significado residem na figura do Filho de Deus e no cumprimento do concerto em Cristo. [Comentário: A Lei, termo traduzido pela Septuaginta por dekalogos, “decálogo" (deka, "dez", e logos,"palavra"). O Decálogo é a única parte do Pentateuco escrita "pelo dedo de Deus" (Êx 31.18), Agostinho de Hipona diz ser linguagem figurada que significa "pelo Espírito de Deus" e, de acordo com Clemente de Alexandria, "pelo poder de Deus". É também a única porção da lei que Israel ouviu partir da voz do próprio Deus no monte quando ele transmitia essas dez palavras (Êx 19.24, 25; 20.18-20). O Decálogo se reveste de um valor especial no Pentateuco, mas para o cristianismo tem o mesmo valor que qualquer outra parte do Antigo Testamento como Escritura inspirada por Deus (2 Tm 3.16). As dez palavras foram escritas pelo próprio Deus em ambos os lados de duas tábuas de pedra, e entregues a Moisés (Êx 31.18; 32.15, 16; Dt 4.13; 5.22; 10.2-4). Os judeus, desde Fílon de Alexandria até a atualidade, dividem os Dez Mandamentos em dois grupos de cinco, um grupo para cada tábua. Agostinho de Hipona supunha haver três mandamentos na primeira tábua e sete na segunda. Calvino e muitos da atualidade acreditam que na primeira tábua estavam gravados os quatro mandamentos relativos aos deveres do homem com Deus e, na segunda, os seis mandamentos relativos ao homem e seu próximo. Alguns interpretam que o Senhor Jesus Cristo sintetizou as duas tábuas nos dois grandes mandamentos (Mt 22.34-40), com a ressalva do sábado, pois não há ensino no Novo Testamento para a observância do quarto mandamento]. “NaquEle que me garante: ‘Pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus’ (Ef 2.8)”.

Francisco Barbosa
Disponível no blog: auxilioebd.blogspot.com.br.

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