sexta-feira, 3 de junho de 2022

LIÇÃO 10: NOSSA SEGURANÇA VEM DE DEUS

INTRODUÇÃO

Para que o cristão não ponha a sua confiança nas instabilidade das riquezas, ou melhor, nos bens materiais (1Tm 6.17), precisa desenvolver um bom relacionamento com o seu Pai, ter consciência verdadeira de quem Ele é, e que nada é mais valioso, de modo que conclusivamente se expressará como o salmista: “Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente” (Sl 16.2).

Pelo que estudamos no capítulo anterior, o crente é tentado em sua vida de piedade, por um lado, desejando que outros o vejam como uma pessoa de práticas religiosas. A tentação nasce dentro do coração, quando parte de nós acredita ser um grande servo de Deus. No entanto, quando se tem a Deus como Pai, o que importa é viver em comunhão com Ele, porque tudo o que fazemos é para o louvor de sua glória.

O salvo em Cristo é ciente de que seus três ferrenhos opositores são o Diabo, a carne e o mundo. A partir da leitura que se faz de Mateus 6.19, a questão que será tratada é do relacionamento do cristão com o mundo. Todo crente sofrerá os ataques de um mundo pecaminoso, que aqui será descrito como atitude, mentalidade. O cristão se relaciona com Deus diretamente e, por meio desse relacionamento, cresce e é transformado, todavia, enquanto estiver neste mundo, sofrerá diversos ataques que visam desfazer o bom trabalho de Cristo em sua vida.

O cristão, caso não vigie e procure viver realmente em santidade, pode ser atraído pelo mundo, passando a amá-lo grandemente. Daí o conselho de João: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo” (1Jo 2.15, ARA). Esse mundo pode gerar no crente uma ansiedade sem controle; é isso que vemos em Mateus 6.16-34. Há muitos que, amando o presente século, afogaram-se em suas atrações, assim aconteceu com a esposa de e Demas (2Tm 4.10; Gn 19.26).

Em João 17.15 (ARA), Jesus disse: “Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal”. Entendemos então que o cristão pode viver no mundo sem ser afetado por ele, mas isso vai depender do seu bom e verdadeiro relacionamento com o seu Pai, e, para que possamos proceder da maneira correta, é preciso voltar para o ensino de Jesus em Mateus 6.16-34, um belo texto que apresenta princípios para viver, e não regulamentos.

Em épocas passadas, muitos entenderam mal essa passagem bíblica, de modo que desprezaram as riquezas e os bens materiais. Outros, por não terem capacidade de lidar com as coisas do mundo, aceitaram viver em mosteiros. Tais posicionamentos são contrários a muitas colocações bíblicas, por exemplo, em Eclesiastes 5.18,19.

Muitos homens de Deus, os quais são destacados como tendo um viver santo, conseguiram viver neste mundo de modo piedoso, sem ser dominado por ele. Em destaque citamos Noé, que era justo no meio de seus contemporâneos e andava com Deus. José viveu no Egito, mas seu coração não estava (Gn 50.24,25). Daniel, que viveu no mundo pecaminoso da Babilônia, teve um procedimento santo, mesmo exercendo grandes posições (Dn 5.11).

Com os ensinos de Jesus, podemos viver no mundo e nos relacionarmos com ele sem sermos atingidos por prazeres efêmeros, tendo consciência do que é melhor para as nossas vidas, tendo os nossos olhos voltados para os tesouros eternos.


RIQUEZA DO CÉU E RIQUEZA DA TERRA


Uma conciliação impossível – Quem procura servir a Deus e às riquezas, quem procura os tesouros do céu e da terra, quem busca amar o mundo e a Deus, jamais terá sucesso, pois tais comportamentos jamais podem ser conciliáveis. Tiago é bem direto e diz que aquele que se torna amigo do mundo, constitui-se inimigo de Deus (Tg 4.4). Observe que há grande dificuldade em relação ao substantivo grego moichós, adúltero.  A questão problemática está relacionada à forma feminina presente em alguns manuscritos pela inclusão do masculino, adúlteros. Alguns julgam que o uso no feminino seja para tratar de algumas mulheres presentes na igreja que não estavam procedendo legalmente, ou melhor, sendo infiéis aos seus maridos, mas tal conotação dentro da carta de Tiago não tem tanta aceitação.

Para se ter uma compreensão correta do termo infiéis usado em Tiago, é preciso voltar ao Antigo Testamento, pois Deus, ao firmar uma aliança com Israel, coloca-se como esposo e Israel como a esposa (Is 54.1-6; Jr 2.2). No momento em que Israel se conectava a outros deuses, era como estivesse quebrando a aliança com Deus, cometendo adultério (Jr 3.2). Quando lemos o livro do profeta Oseias, podemos notar que a ordem de Deus para que ele se cassasse com uma prostituta servia para falar da infidelidade de Israel com o Senhor (Os 2.5,7). Portanto, tradicionalmente Deus era visto como marido e Israel como esposa.

Quando Tiago faz uso da palavra infiel, com certeza, estava se referindo àqueles que estavam sendo infiéis com Deus, fazendo amizade com o mundo, de modo que estariam cometendo adultério espiritual. Nessa condição, se tornavam inimigos de Deus. O cristão que entrou em aliança com Cristo não pode quebrá-la, porque, se assim proceder, será julgado por Ele. A quebra dessa aliança envolve o desejo desenfreado pelas coisas do mundo, a ganância e atitudes carnais, e, agindo dessa maneira, o ser humano torna-se amigo do mundo e inimigo de Deus.

Não pode haver de modo algum conciliação do amor desenfreado pelas coisas do mundo e o amor a Deus. Por isso que João vai ser bem direto: “Não ameis o mundo nem as coisas que no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo 2.15, ARA). O mundo a que João se refere é o pecaminoso, do qual Satanás é o chefe (1Jo 2.19). Esse tipo de mundo nunca é objeto do amor de Deus, mas Ele ama aqueles que são escravizados por seu sistema diabólico, buscando salvá-los (Jo 3.16; 1Jo 2.2).

É impossível conciliar luz com as trevas, caminho estreito com o caminho apertado, porta estreita com a larga, os dois senhores, Deus e Mamom, tesouros do céu com os tesouros da terra, tem de haver uma decisão, uma escolha; ou você deixa o mundo para seguir a Deus, ou deixa Deus para seguir ao mundo. Patinar na incerteza é um caminho perigoso, afinal, Deus exige exclusividade. Jesus disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24, ARA).


Tesouros da terra e tesouros do céu – Antes de penetrarmos propriamente no assunto sobre os tesouros do céu e da terra, é preciso atentar para a definição desse substantivo masculino, que do grego é thesaurós, tendo dois significados. O primeiro, significa um lugar no qual coisas boas e preciosas são colecionadas em porta-joias, cofre, ou outro receptáculo no qual valores são guardados. o segundo, representa um depósito, armazém, coisas armazenadas em um tesouro, coleção de tesouros. Atentar para essa definição é valioso, visto que não se deve ter em mente que o propósito de Cristo era apenas falar de dinheiro, abarcando somente as pessoas ricas; não, seu alvo era atingir a todos.

O cristão deve ser consciente de que as riquezas podem ser um tipo de distração, fazendo com que nos voltemos apenas para as ambições deste mundo, confiando somente nelas, sendo um estorvo para nossa vida espiritual. Os tesouros desta terra podem envolver bens materiais, dinheiro, casas, filhos, homens e mulheres, carros, posição social, cargos, cultura, trabalho. É quando o seu coração se volta para alguma coisa demasiadamente, vivendo somente para elas, que consiste o perigo. Nós podemos ter e desfrutar de todas essas coisas, mas Jesus nos alerta para que não deixemos que elas se transformem em nossos tesouros.

Jamais devemos pensar que os tesouros no céu queiram ensinar que a salvação é pelas boas obras praticadas, pois isso contraria a doutrina da salvação pela graça (Ef 2.8,9). Os que fazem as boas obras realizam isso porque são humildes, limpos de coração, pacificadores, ou melhor, já foram transformados. Paulo diz que aqueles que foram abençoados com riquezas materiais, devem entesourar para o futuro, fazendo o bem a todos (1Tm 6.18,19; Mt 6.25), assim serão recebidos no tabernáculo eterno (Lc 16.9).


O que o cristão precisa saber sobre os bens materiais – Não há mal algum em fazer uso dos bens ou ter riquezas, pois sabemos que tudo vem de Deus. As filhas de Labão tinham consciência de que a riqueza que o pai possuía vinha de Deus (Gn 31.16); a riqueza que Salomão possuía vinha de Deus (1Rs 10.23); Davi era consciente de que riqueza e honra vinham de Deus (1Cr 29.12).

Está claro que as riquezas vêm de Deus, elas são neutras, não fazem nem mal nem bem. A questão está naquele que as possui, da atitude  que manifesta para com elas. Há nas páginas da Bíblia homens que possuíam riquezas, e destacaremos apenas dois: o primeiro é Abrão (Gn 13.2); o segundo é Jó, o qual não era somente rico, mas poderoso na terra (Jó 1.3).

Se como cristão eu tiver uma visão espiritual perfeita, não terei problema com as coisas ou os bens materiais desta terra. Observe que Jesus disse que a “candeia do corpo são os olhos”, eles são os instrumentos através dos quais o corpo vai receber a luz que necessita para se locomover. Interessante que na perspectiva veterotestamentária o olho servia para apontar a uma pessoa a direção da vida. Caso uma pessoa tivesse os olhos maus, seu coração e corpo seriam dominados pela ambição materialista, pela cobiça; seu olhar é comprometedor porque é um olhar de trevas espirituais.

Aqueles que têm olhos bons têm como alvo maior sua comunhão com Deus. Dessa maneira, receberão em seu corpo a luz verdadeira e serão movidos para as coisas eternas, servindo a Deus com todo fervor e sinceridade. Estando desvencilhados da avareza, do materialismo, da cobiça, suas vidas são sempre encaminhadas para a perfeição (Pv 4.18). Eles sabem que não podem focar em Deus e nas coisas materiais, porque se assim procederem, sofrerão graves consequências, por isso, firmam-se com toda lealdade em Deus.

O cristão usa as coisas deste mundo, tendo consciência de que é apenas mordomo delas e não senhor. Tudo vem de Deus e a Ele pertence (Sl 24.1), de posse dessa verdade não se arroga, não se ufana, pois não é proprietário de nada, mas segue sua peregrinação rumo às mansões celestiais, sabendo que um dia prestará contas de tudo que fez e como fez. Por isso, procura usar tudo que está em seu poder para louvor e glória do poderoso Deus, pois vive para o seu propósito.


A IDOLATRIA AO DINHEIRO 


O coração no lugar certo Quando o coração está no lugar certo, que é em Deus, não haverá problema com o dinheiro, bens e outras coisas materiais. Todos nós cristãos deveríamos orar como Ana e dizer: “[...] O meu coração se regozija no Senhor” (1Sm 2.1, ARA). Jesus disse: “Porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21, ARA). Quando o coração do cristão está em Deus, ele não tem amor para com as coisas do mundo, de modo que não procura envidar todos os esforços para conquistá-las, procurando ter apenas o necessário para o seu sustento, e com isso se alegrando (1Tm 6.8). Devemos ter cuidado com o que amamos, pois como bem disse Lutero: “O deus de um homem é aquilo que Ele ama”.

Um salvo em Cristo pode trabalhar para ter o dinheiro necessário para o sustento seu e de sua família (2Co 12.14). Não é pecado crescer na carreira profissional, porém, agir de modo egoístico, entrar em desespero para ter as coisas, perder noites inteiras de sono pensando em como ganhar dinheiro, com ser famoso, importante, nada disso vem de Deus, pois como disse o salmista: “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o enquanto dormem” (Sl 127.2, ARA).

Jesus está nos ensinando em Mateus 6.21 que quer seja um lugar, quer seja uma coisa, quer seja pensamento, tudo quanto tire nossa atenção, tome nosso tempo, cause desgaste, qualquer coisa que nos cause preocupação, nela está o nosso tesouro. As riquezas desta terra causam preocupação para aqueles que a possuem. Vemos isso na quantidade de pessoas ricas que têm medo de perder suas posses. Jesus alertou que, querendo ou não, as riquezas humanas sofrem perdas, pois seus valores não são eternos como os tesouros no céu. Devemos procurar sempre as riquezas do alto (Cl 3.1), porque as riquezas de lá têm valores eternos, não podem ser roubadas, não desvanecem nem se desgastam. Quando tomamos consciência dos valores das riquezas eternais sempre iremos viver contentes em toda e a qualquer situação, pois nosso coração está em paz.


Idolatrando a Mamom Em Mateus 6.24 encontramos a palavra Mamom. Trata-se de um termo aramaico que significa riqueza ou opulência, engloba possessões, propriedade, alimentos, dinheiro, roupas. Por isso que em algumas traduções vemos a palavra riqueza. Por vezes, Mamom é considerado de modo personificado como sendo um tipo de deus pagão dos tempos bíblicos, porém, não passa de suposição, visto que não se tem uma provação clara dessa afimação.

O uso de Mamom esteve muito presente no ensino de Cristo (Mt 6.24; Lc 16.9,11,13), mas é necessário que se leve em consideração que, no tocante à riqueza, em momento algum Jesus a combate ou afirma que tê-las é inadequado aos seus servos. Ele procurou esclarecer que quando o assunto são as riquezas é preciso prudência e bom planejamento. Foi por isso que destacou a parábola do mordomo infiel, o qual soube proceder com o dinheiro. Os que vivem por meio dos seus ensinos deveriam ter uma posição muito mais excelente.

Nas citações de Mateus 6.21-23, quando o homem coloca o coração no lugar certo e tem seus olhos puros, sua mente e vontade irão corresponder ao querer do Senhor, procurando fazer a sua vontade, não tendo dubiedade essa postura não faz parte de sua vida porque já tem tudo bem definido, sabe onde colocou o seu coração.

O cristão que serve a Deus de coração, que ama de verdade, que é consciente de que tudo vem dEle, procura colocar as coisas que estão em seu poder à disposição da obra de Deus. Seu dinheiro, tempo, bens, carros, casas, tudo ao dispor do Senhor. Ao agir assim, o cristão está evidenciando desapego às coisas materiais e uma total devoção para com Deus (Mt 22.37; Mc 12.30).

Você deve decidir — ou Deus, ou Mamom. Não há como viver a vida com Deus camuflando, dizendo que o ama de verdade, mas preso ao dinheiro, pois não demorará para que a verdade seja revelada. Judas foi chamado por Jesus e andava com Ele, parecia que o servia e o amava de verdade, mas não demorou muito para ficar evidente que seu amor era por Mamom, isso vinha sendo paulatinamente revelado (Jo 12.6), mas a confirmação veio quando entregou Jesus por dinheiro (Mt 26.14-16).

Queridos irmãos, se realmente quisermos ser discípulos de Cristo, não podemos ter uma lealdade dividida. Como bem falou Josué, tem de haver uma escolha: “Porém, se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei, hoje, a quem sirvais: se aos deuses a quem serviram vossos pais que estavam dalém do Eufrates ou aos deuses dos amorreus em cuja terra habitais. Eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Js 24.15, ARA). Jesus disse que ninguém pode servir a dois senhores, ou você escolhe servir a Mamom, ser egoísta, amar o dinheiro, servir a si próprio, aos prazeres, ajuntar tesouros apenas desta terra, ou então pode escolher servir a Deus, ajuntando tesouros no céu, tendo os olhos fitos nEle.


A riqueza condenada por Cristo Já acima pontuamos que Jesus em momento algum condenou a riqueza em si, mas em seu ensino o que propriamente buscava era alertar a todos para não serem escravos das riquezas, tornando-se materialistas; pelo contrário, deveriam amar a Deus acima de todas as coisas. Não podemos odiar o mundo material, isso porque ele foi criado por Deus, toda riqueza e bens vêm dEle. Quando um cristão passa a ser bem-sucedido materialmente, por meio do seu trabalho, deve lembrar-se do que falou Moisés: “Antes, te lembrarás do Senhor, teu Deus, porque é ele o que te dá força para adquirires riquezas; para confirmar a sua aliança, que, sob juramento, prometeu a teus pais, como hoje se vê” (Dt 8.18, ARA).

O cristão precisa compreender muito bem a questão sobre o dinheiro à luz da Palavra de Deus, em especial do que Cristo ensinou. Falamos antes que de todas as coisas que Deus criou nós somos apenas mordomos, administradores, e merecem certo lucro aqueles que fazem investimento. Mas é preciso saber que as coisas materiais não trazem nenhum tipo de pecado, inclusive o dinheiro é algo neutro e, como todas foram criadas por Deus, jamais podem ser consideradas como más.

As Escrituras Sagradas falam claramente para nós no que realmente consiste o mal das riquezas, o que foi ensinado por Cristo. As riquezas tornam-se perigosas para nós quando colocamos nossa esperança nelas, quando somos escravizados por elas. Essa é a razão de Jesus dizer que dificilmente entraria um rico no Reino de Deus, por isso a citação de Mateus 6.24 jamais pode ser esquecida.


VIVENDO A QUIETUDE ESPIRITUAL EM DEUS


Os males advindos das preocupações Falamos que o dinheiro é neutro, não há nele poder para causar bem ou mal. Todavia, o desejo excessivo e descontrolado pelo dinheiro leva os homens aos mais diversos pecados. Esse desejo de querer mais, de ser mais não está presente somente nos que possuem bens, mas também muitos pobres são tentados a tal cobiça. Devemos ter todo cuidado, pois esse desejo excessivo pode fazer com que percamos de vista os valores verdadeiros, os quais devem ser prioridades, relegando-os a uma segunda categoria.

Conforme já citamos em 1 Timóteo 6.10, o amor ao dinheiro contribui para que dois erros aconteçam na vida do crente. O primeiro, ele se afasta de Deus e do seu trabalho, fracassando na fé. O segundo, a cobiça faz uma troca, o gozo que o crente sentia de servir e de adorar a Deus com alegria e contentamento agora é substituído pela inveja, pelo egoísmo e pelas dores.

Um exemplo bem claro quanto às preocupações demasiadas com o dinheiro encontra-se na parábola do rico insensato (Lc 12.13-21). Nela, Jesus mostra os males que a avareza traz, pois aqui está um homem que se preocupa apenas consigo mesmo, no seu bem-estar, na sua segurança e no seu prazer. Da parte desse rico insensato não havia qualquer sentimento de gratidão para com Deus; ele não quis reconhecer que tudo vem do Senhor, nem cuidou dos pobres e necessitados, por isso sofreu as graves consequências de suas escolhas. A questão é levantada quando um homem solicita a Jesus para resolver um problema que envolvia uma disputa familiar sobre a herança. É bem verdade que pelas leis do Antigo Testamento tudo já estava bem esclarecido (Nm 26.27; Dt 21.17), mas poderia surgir algo  novo que precisasse da intervenção de outra pessoa que ajudasse na solução do impasse. Jesus aproveitou aquele momento para falar aos  ouvintes sobre os perigos da avareza, do desejo descontrolado pelos bens materiais isso pode ser muito destruidor.

O mais relevante é que Jesus mostra que a boa vida não consiste na posse de bens materiais. Na verdade, enquanto o homem que buscava a solução do problema da herança achava que sua vida iria melhor com o que ganhasse, Jesus diz que ele deveria pensar em questões mais sérias. Jesus fala que a vida não consiste somente de bens, por isso introduziu a história do homem rico.

Os propósitos do rico insensato eram apenas alguns: comer, descansar e folgar. Só por ter seus celeiros bem lotados, muita riqueza para o futuro, ele pensava que tinha o controle de tudo, mas se esquecia ele de que a vida quem é Deus, tudo está sob seu controle e um dia todos terão que comparecer diante dEle. Os que procederam como o homem rico serão vistos como loucos.

No geral, o propósito dessa história é mostrar que há pessoas que são tolas, vivem a vida toda acumulando riquezas ou tesouros terrenos, mas não têm riqueza alguma para com Deus. Aqueles que acumulam tesouros só para si sofrerão grandes males, enquanto aquele que vive em Deus e que tem riquezas está consciente de que elas foram dadas para suprir suas prioridades. No demais, partilha o que tem para com o próximo, de modo que estará aumentando seu tesouro no céu. É nesse sentido que Salomão diz: “A bênção do Senhor enriquece, e, com ela, ele não traz desgosto” (Pv 10.22).


Vivendo sem inquietaçãoEm Mateus 6.24, Jesus é bem direto. De modo imperativo, diz aos seus discípulos para não estarem ansiosos. Hoje sabemos que o mal do século é a ansiedade, tanto ricos como pobres podem ser dominados por ela, o rico com medo de perder o que tem, o pobre, por não saber o que vai ter amanhã para se alimentar. A ansiedade no contexto falado por Cristo assemelha-se também a Mamom, pois a pessoa passa a não confiar em Deus, estando sempre ansiosa.

Jesus diz aos seus seguidores que não podemos pensar que a vida é simplesmente aquisição de coisas materiais, não vivemos apenas por viver, mas que o homem é físico-espiritual. A alma considerada como um ser moral designado para a vida eterna, como uma essência que difere do corpo e não é dissolvida pela morte (distinta de outras partes do corpo). O que se tem aqui na expressão vida é a vida no seu aspecto geral, mostra que o homem é mais do que simplesmente uma matéria, um animal (Mt 12.12), de modo que precisa ser orientado por normas espirituais sabendo que a vida se encaminha para um outro final: Deus.

Aqueles que passam a entender que a vida é mais do que o alimento e o corpo mais do que o vestuário, sendo Deus o criador de ambos, vida e corpo (Gn 2.7), descansarão confiantemente nEle, na certeza de que o Criador providenciará o necessário. Ora, se Deus cuida das aves, fornecendo-lhes o alimento necessário, quando elas não têm qualquer capacidade de semear, plantar e colher, ajuntar alimentos, o homem, que é um ser capacitado com tais poderes, deveria viver sem inquietação, dependendo exclusivamente dos cuidados do Pai celestial.

Como cristãos, devemos atentar para o que Paulo diz: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp 4.6, ARA).


Vivendo sossegados em Deus Se realmente seguíssemos a Palavra de Deus, viveríamos uma vida bem sossegada, porém, para isso acontecer, é preciso ser verdadeiramente espiritual. O apóstolo Paulo fala: “Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm 6.8, ARA). No ensino do Senhor Jesus, usando os pássaros como exemplo, ainda que não tenham a capacidade do homem para pensar e criar, precisam de alimento para o sustento diário, mas eles não semeiam, não segam e nem ajuntam em celeiros, mas quem cuida deles é o Pai celestial.

Eles caçam comida para si e levam para a sua família, o diferencial é que não se preocupam com nada. Assim, a lição do Senhor Jesus é  que, se atentarmos para eles, todos estão no cuidado do Pai, de modo que pela ordem natural das coisas o alimento diário está assegurado  através da criação. Jesus diz que o ser humano tem mais valor que os pássaros: “Não tendes muito mais valor do que elas?” Portanto, se temos mais valor que eles, o que temos que fazer é viver sossegados em Deus, dependendo dEle em tudo, jamais sendo autossuficientes, achando que podemos fazer tudo, mas sabendo que tudo vem dEle e  é para Ele (Tg 1.17).

No ensino de Jesus foram usados dois exemplos para expressar o  cuidado do Pai para conosco afim de termos um viver sossegado em Deus. Com as aves, Ele mostra o cuidado divino para com a nossa alimentação; com os lírios, nos ensina sobre o cuidado do nosso vestuário. Com tal ensino, podemos ver que Jesus estava mostrando que o Deus da providência está atento a tudo, e que nEle devemos sossegar a nossa alma como uma criancinha desmamada para com sua mãe (Sl 131.1-3).

Nunca devemos pensar que Jesus estivesse aqui proibind o trabalho e incentivando a preguiça, pois é do trabalho que vem nossa alimentação (2Ts 3.10). O que Ele está propondo é que quando nos lançarmos a qualquer projeto para o bem da nossa vida terrena não devemos ter o nosso coração dominado pela ansiedade, pois como somos filhos de Deus, o cuidado do Pai sempre será uma realidade para nossa vida.

No final da passagem, mais especificamente em Mateus 6.27-32, Jesus nos ensina que não adianta viver se preocupando demasiadamente, visto que sempre, a cada dia nesta vida, enfrentaremos lutas e problemas diversos. O melhor é orar e confiar no Senhor, porque não podemos acrescentar um côvado ao curso da vida. Na verdade, o que as preocupações fazem é prejudicar a nossa saúde, abalar nossos pensamentos e reduzir muito a nossa produtividade no trabalho, no demais, expressa a falta de confiança em Deus.

Jesus mostra que apesar da beleza das flores de Israel, isto é, os lírios, elas não trabalham nem fiam, mas não demora para que essa beleza se desvaneça e seja colhida com a erva para servir de combustível às necessidades dos homens, indo para o forno. Mesmo assim, há um cuidado especial do Senhor para com elas, pois veste tanto as flores e as relvas do campo de um modo como nem mesmo Salomão, o grande rei de Israel, vestia-se, porém, logo elas  desaparecerão.

Com tais lições ilustrativas de Cristo, falando do cuidado de Deus com a sua criação, providenciando alimento para os pássaros e ores, somos levados a pensar sobre a razão de andarmos inquietos, ansiosos por causa de alimento e roupa, e gastando energia de modo desnecessário. Agir dessa forma significa não confiar em Deus e proceder como os gentios, os quais se voltam totalmente para as coisas materiais, pondo nelas confiança porque não conheciam verdadeiramente a Deus como o bondoso e o cuidadoso Pai.

Aqueles que conhecem a Deus creem que seu cuidado será sempre uma realidade nas questões envolvendo a vida e as necessidades, e não possuem preocupação demasiada com as questões básicas. Aqueles que conhecem a Deus se lançam em suas mãos divinas certos de que seu cuidado não falha, pois Ele é o Deus da providência, o qual tem domínio universal preservando o mundo e todas as suas criaturas (Sl 104; Lc 12.6,7; Mt 5.45; At 14.15-17, 17.25-28), abençoando especialmente o seu povo (Mt 6.26-32; Rm 8.28), que nEle vive sossegado. (GOMES, Osiel. Os valores do reino de Deus: a relevância do Sermão do Monte para a Igreja de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2022. p. 113-124.)

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