COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O estudo da lição desta semana concentrar-se-á nos três dons classificados como os de elocução: profecia, variedade de línguas e interpretação das línguas. Os propósitos destes dons especiais são os de edificar, exortar e consolar a Igreja de Cristo (1Co 14.3). Isso porque os dons de elocução são manifestações sobrenaturais vindas de Deus, e não podem ser utilizadas na igreja de forma incorreta. Assim, devemos estudar estes dons com diligência, reverência e temor de Deus, para não sermos enganados pelas falsas manifestações. – O relato bíblico sobre a criação do ser humano demonstra, de modo bem evidente, que Deus comunicava-se diretamente com o ser criado. Sem dúvida, ao por o homem no jardim, para deste ser o responsável e guardador, Deus lhe deu as instruções necessárias, fazendo-lhe ouvir sua voz. E o fez, falando diretamente com o ser criado. Com a Queda, rompeu-se a comunhão com Deus. Antes, sentiam satisfação em ouvir a voz de Deus, que lhes parecia música suave, pois foram os primeiros sons que penetraram em seus ouvidos, naquele momento inicial da criação. A história se repete. Se o homem, e, muito mais, o crente, não zelar pela comunhão com Deus, o pecado destrói a comunicação com o Senhor. Mas, no seio da igreja cristã, Deus comunica-se com seus servos, através da leitura da Bíblia; através de seus mensageiros, pregadores, ensinadores e líderes, visando sua edificação. De modo sobrenatural, o Senhor usa pessoas, com os dons especiais de expressão verbal, ou de elocução, para transmitir sua vontade, orientações, exortações e direção divina. Pelo dom de profecia, Deus supre aquilo que a mensagem costumeira não consegue alcançar. Quantas vezes, no meio da congregação, um servo ou uma serva de Deus, que tem esse dom, levanta-se e entrega uma mensagem de exortação, de alerta, ou de edificação para toda a comunidade presente. Via de regra, a profecia autêntica provoca alegria e glorificação a Deus. Em outras ocasiões, o dom de variedade de línguas é usado por Deus, com interpretação, para confortar a igreja ou, equivalendo a uma profecia (com interpretação), consolar ou edificar o seu povo.
I. O DOM DE PROFECIA (1 Co 12.10)
1.
O que é o dom de profecia? De acordo com Stanley Horton, o dom de profecia
relatado por Paulo em1. O que
é o dom de profecia? De acordo com Stanley Horton, o dom de profecia relatado
por Paulo em 1 Coríntios 14 refere-se a mensagens espontâneas, inspiradas pelo
Espírito, em uma língua conhecida para quem fala e também para quem ouve,
objetivando edificar, exortar ou consolar a pessoa destinatária da mensagem.
Profetizar não é desejar uma bênção a uma pessoa, pois essa não é a finalidade
da profecia. Infelizmente, por falta de ensino da Palavra de Deus nas igrejas,
aparecem várias aberrações concernentes ao uso incorreto deste dom. Não poucos
crentes e igrejas locais sofrem com as consequências das falsas profecias.
Apesar de exortar-nos a não desprezar ou sufocar as profecias na igreja local
(1Ts 5.20), as Escrituras orientam-nos a que examinemos “tudo”, julgando e
discernindo, pelo Espírito, o que está por trás das mensagens. Toda profecia
espontânea deve ser julgada (1Co 14.29-33).
2. A
relevância do dom de profecia. O dom de profecia é tão importante para a Igreja de Cristo
que o apóstolo Paulo exortou a sua busca (1Co 14.1). Não obstante, ele igualmente
recomendou que o exercício desse dom fosse observado pela ordem e cuidado nos
cultos (1Co 14.40). Os crentes de Corinto deveriam julgar as profecias quanto
ao seu conteúdo e a origem de onde elas procedem (1Co 14.29), pois elas possuem
três fontes distintas: Deus, o homem ou o Diabo. Devemos nos cuidar, pois a
Bíblia, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, mostra ações dos falsos
profetas. O Senhor Jesus nos alertou: “Acautelai-vos, porém, dos falsos
profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos
devoradores” (Mt 7.15). Vigiemos!
3.
Propósitos da profecia. A profecia contribui para a edificação do crente. Porém,
ainda existe muita confusão a respeito do uso dos dons de elocução, e em
especial ao de profecia e sua função. Há líderes permitindo que as igrejas que
lideram sejam guiadas por supostos profetas. A Igreja de Jesus Cristo deve ser
conduzida segundo as Escrituras, pois esta é a inerrante Palavra de Deus. A
Bíblia Sagrada, a Profecia por excelência, deve ser o manual do líder cristão.
Outros líderes, também erroneamente, não tomam decisão alguma sem antes
consultar um “profeta” ou uma “profetisa”. Estes profetizam aquilo que as
pessoas querem ouvir e não o que o Senhor realmente quer falar. Todavia, a
Palavra de Deus alerta-nos a que não ouçamos a tais falsários (Jr 23.9-22).
O dom de profecia é um
dom especial, em que seu portador transmite uma mensagem para a igreja ou para
alguém, na inspiração do Espírito Santo. Não pode ser uma mensagem humana, pessoal
da parte do que a transmite, mas é falada numa linguagem humana. É necessário
ter cuidado com as distorções que podem ocorrer na transmissão da mensagem
profética, na igreja de hoje. – Diz a Bíblia: “O profeta que teve um sonho, que
conte o sonho; e aquele em quem está a minha palavra, que fale a minha palavra,
com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor” (Jr 23.28 – grifo
nosso). Não deve haver mistura da “palha” das “profetadas”, que ocorrem aqui e
ali, em certas igrejas, com o genuíno “trigo” da verdadeira profecia,
transmitida por um servo ou serva de Deus, pela inspiração do Espírito Santo. –
Segundo Raymond Carlson, “A profecia, no Novo Testamento, que difere de uma
pregação comum, é uma manifestação sobrenatural, dada para edificação,
exortação e consolação. Através de 1 Coríntios 14.30, entendemos que o dom nos
é dado por revelação através do Espírito”. Uma pregação pode ter caráter
profético, mas nem toda pregação é profecia. Raymond Carlson diz que a
profecia, “como seu homônimo dom de línguas, tem de conter elementos de
revelação, conhecimento e doutrina”. Aqui, cabe um esclarecimento. Sem dúvida,
a profecia resulta de revelação espiritual e de conhecimento, concedido por
Deus. Mas não pode trazer nova doutrina, pois tudo o que consta na Bíblia é a
Palavra de Deus, suficiente e necessária para nossa edificação. Quando o autor
citado diz que a profecia deve conter doutrina, certamente quer dizer que ela
tem que ter fundamento doutrinário ou bíblico. A profecia não pode acrescentar
nada à Bíblia.
Todas as profecias
devem ser devidamente julgadas à luz da Bíblia, a fim de que não venham causar
confusão à igreja nem abalar a fé dos mais fracos. Este tema deve ser visto com
muito cuidado por alguns motivos: primeiro, a unção profética segundo a ordem
do AT, onde pessoas eram separadas por Deus com o ministério profético para
aplicar a revelação da Palavra de Deus e da Lei no meio do povo, foi encerrada
com João (Mt 11.13). Também o que lemos em Efésios 4, é diferente do dom de
profecia listada em 1 Co 12, pois enquanto pelo uso do Espírito no dom todos
podem profetizar, o ofício ministerial de profeta concedido por Cristo é dado
somente para alguns do corpo, como ofício permanente. Porém, este ofício em
muito difere do profeta AT: as palavras do ministério profético não têm
autoridade comparável a das Escrituras, até pelo fato de sua mensagem não vir
por transe ou coisa parecida, mas sim, pelo próprio uso das Escrituras já
reveladas, e por isso, sua mensagem deve ser analisada, e, de uma forma geral,
tais pessoas são constrangidas pelo Espírito a zelar pela santidade no meio do
povo de Deus. A afirmativa de que este ministério se restringe aos primeiros
tempos da era da Igreja é uma afirmação que carece de embasamento bíblico. Se
Cristo asseverou contra os falsos profetas é porque na história haveriam
‘verdadeiros profetas’. Mesmo escritos que eram observados nos primeiros
séculos da Igreja, porém não canônicos, como o Didaqué, traziam instruções
acerca do ministério dos profetas. A perícope de Ef 4.11 refere-se a pregadores
irresistivelmente cheios do Espírito Santo, que cooperavam na edificação da
Igreja (At 13.1). O apostolado original encerrou-se com o fim da era
apostólica. O apostolado enquanto dom de Cristo continua ativo no seio da
igreja do Senhor, e disto vemos o testemunho e amparo bíblico na própria igreja
primitiva no Livro de Atos (Gl 1.9; 1 Ts 2.7; Rm 16.7). Hoje, o apostolado pode
ser melhor visto no trabalho de missionários, embora haja denominações que
unjam pessoas como apóstolos (especialmente no movimento neopentecostal), mas
sem critérios específicos para o mesmo, e isso é muito preocupante. Os profetas
eram homens que falavam sob o impulso direto do Espírito Santo, e cuja
motivação e interesse principais eram a vida espiritual e pureza da igreja. Sob
o novo concerto, foram levantados pelo Espírito Santo e revestidos pelo seu
poder para trazerem uma mensagem da parte de Deus ao seu povo (At 2.17; 4.8;
21.4).]
FINALIDADE DA PROFECIA –
Como todos os demais
dons espirituais, o de profecia tem propósitos especiais da parte de Deus para
a Igreja de Jesus Cristo. Só deve ser usado de forma correta, com base na
Palavra de Deus. “Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que
for útil” (1 Co 12.7) ou proveitoso para a igreja. De maneira bem clara e até
didática, o dom de profecia tem três finalidades básicas, em proveito da
igreja: “Mas o que profetiza fala aos homens para edificação, exortação e
consolação” (1 Co 14.3).
1) Edificação – Assim como um edifício de pedras é
edificado pouco a pouco, com a união dos elementos materiais, com a argamassa
própria, da mesma forma, os crentes em Jesus são “edifício de Deus” (1 Co 3.9).
A formação espiritual de um discípulo de Jesus começa com a conversão, mas não
para no discipulado inicial. Deve continuar por toda a vida. Pouco a pouco, o
ensino da Palavra e da doutrina do Senhor vai construindo o caráter cristão no
crente. Mas, às vezes, é necessária uma mensagem especial ou específica para
alguém ou para toda a congregação. É aí que Deus usa um profeta para transmitir
uma mensagem da parte de Deus, visando corrigir ou colocar “no prumo”, ou “no
nível”, alguma área da edificação espiritual. Pastores são “serventes” ou
“servidores” do supremo Arquiteto ou Construtor, que é Cristo. Não são
perfeitos na edificação. Sua mensagem, mesmo com base na Bíblia, carece de
reparos, aqui e ali. Em grande parte das igrejas, pelo país afora, há grande
falta de preparo para o ensino da Palavra de Deus. Há obreiros despreparados
até para os mais elementares ensinos bíblicos. Por misericórdia, o Senhor dá
sabedoria até mesmo a pessoas sem cultura para transmitir sua mensagem, mas, há
ocasiões em que só uma mensagem específica, para determinadas ocasiões, pode
suprir o que é indispensável para a edificação do Corpo de Cristo, no que
respeita à igreja local.
2) Exortação – Exortar tem o sentido de “chamar para
fora”, para orientar, ajudar e ensinar. Deriva da palavra grega parakalao, que
tem o sentido de confortar, inspirar, defender e guiar. Exortar não tem o
sentido distorcido, entendido por alguns, de que significa ameaçar, intimidar,
ou causar pavor, na igreja. O verbo grego parakalao tem origem em outra palavra
de muito significado, Paracleto, que significa Consolador, o título que é dado
ao Espírito Santo (cf. Jo 14.16; 15.26). Por isso, Paulo ensina que quem exorta
deve fazê-lo “com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.2). Uma mensagem
profética ajuda a entender como aplicar a Profecia Maior, que é a Bíblia
Sagrada, para os dias presentes, quando surgem problemas, situações e
circunstâncias, que não existiam, quando a mensagem bíblica foi escrita. Sem o
ensino da Palavra de Deus e da mensagem profética, há uma tendência para a
ocorrência de desvios de conduta e distorções perigosas no meio das igrejas
locais. Diz Provérbios: “Não havendo profecia, o povo se corrompe...” (Pv
29.18a). As inovações e modismos têm tomado conta de muitos redutos pentecostais.
A chamada “teologia da prosperidade” tem causado grandes estragos, com sua
filosofia utilitarista dos dons e da Palavra de Deus. O evangelho
antropocêntrico tem dado ao homem a primazia nas decisões e ensinamentos de
muitos líderes. Aberrações teológicas ou práticas estranhas têm ocorrido, em
certas igrejas. A “unção do riso’, “a unção do leão”, “a urina ungida”,
inventada por determinada igreja (os crentes saíram urinando, nas esquinas e
ruas de uma cidade, para “marcar território”), para o pecado diminuir. Em lugar
disso, a pecaminosidade tem aumentado; certo pregador, “celebridade” pregou que
seu suor era ungido, pois seu DNA era ungido. Com isso, levou muito dinheiro
dos irmãos, além do “cachê polpudo”. Nada disso tem fundamento bíblico. São
ensinos heréticos, que têm grande aceitação no meio de igrejas e atraem muitos
crentes que não conhecem a Palavra de Deus. – Deus disse, no Antigo Testamento:
“O meu povo foi destruído, porque lhe faltou o conhecimento; porque tu
rejeitaste o conhecimento...” (Os 4.6). Essa palavra aplica-se de modo bem
atual, ao que está ocorrendo no meio dos evangélicos.
3) Consolação – O Espírito Santo é chamado de “O outro Consolador” (cf. Jo 14.16). Ele é o parakleto prometido por Cristo. Por isso, também usa o dom de profecia, para transmitir mensagem de consolação aos servos de Deus. Já vimos que o verbo parakaleo (gr.) significa consolar, confortar. É o que podemos ver em Barnabé, amigo de Paulo (At 4.36; ver Rm 15.4,5; 1 Co 14.3; 2 Co 1.3,4-7)). Consolação vem de paraklesis (gr.) e tem o sentido de “consolar”, “dar alegria”, dar “paz”. Paulo diz que todos os crentes podem profetizar (se Deus conceder tal dom), visando a consolação da igreja: “Porque todos podereis profetizar, uns depois dos outros, para que todos aprendam e todos sejam consolados'’ (1 Co 14.31 – grifo nosso). Muitas vezes, infelizmente, o zelo exagerado de alguns ministros, com a palavra e as normas da igreja local faz com ele se torne agressivo, intolerante e radical. E esquecem que, no meio da congregação, há dezenas de pessoas que estão experimentando momentos difíceis e dolorosos em suas vidas. E estão precisando mais do que nunca de ouvir uma palavra de consolação. A exortação pesada, às vezes, é necessária. Mas fazer uso do púlpito para chicotear as ovelhas, indiscriminadamente, é falta do espírito de consolação. – O Espírito Santo é o mesmo. Ele consolava no Antigo Testamento (SI 23.4; Is 31.12) e continua consolando na Dispensação da Graça (2 Co 1.4; 7.6). Faltaria espaço literário, sem dúvida, se pudessem ser registradas todas as mensagens de consolação que Deus tem dado à sua Igreja, no Brasil e em todos os lugares do mundo. Em cultos de oração, nos círculos de oração, em tantos lugares; em reuniões informais de oração, Jesus tem confortado seus servos, principalmente os que sofrem por causa do seu Nome e do evangelho. “O Dom de Profecia, portanto, serve para falarmos sobrenaturalmente aos homens, assim como o Dom de Línguas serve para falarmos sobrenaturalmente a Deus”.
Devemos ter cuidado para evitarmos erros no uso do dom de profecia tais como: 1) Usar a profecia para guiar a igreja; 2) Usar o dom de profecia como um “oráculo”; Usar o dom de profecia como fonte de doutrina; 4) Usar o dom de profecia de forma desconhecida.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para introduzir o primeiro tópico da lição, faça
as seguintes indagações: "O que é ser profeta?" "Qual é a função
do profeta?" Depois de ouvir os alunos, explique que o profeta é aquele
que fala em lugar de outrem. Sua função é proclamar os oráculos de Deus a fim
de que a Igreja seja edificada, exortada e consolada. A Palavra de Deus nos
exorta a não desprezarmos as profecias, todavia precisamos examiná-las com
sabedoria, de acordo com a Palavra de Deus, pois muitos falsos profetas têm se
levantado atualmente. Leia, juntamente com os alunos 1 Tessalonicenses 5.20,21.
Ressalte que a Igreja não pode deixar de julgar as profecias e discernir os
espíritos.
II. VARIEDADE DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
1. O que
é o dom de variedades de línguas? De acordo com o teólogo pentecostal Thomas Hoover, o dom
de línguas é “a habilidade de falar uma língua que o próprio falante não
entende, para fins de louvor, oração ou transmissão de uma mensagem divina”.
Segundo Stanley Horton, “alguns ensinam que, por estarem alistados em último
lugar, estes dons são os de menor importância”. Ele acrescenta que tal
“conclusão é insustentável”, pois as “cinco listas de dons encontradas no Novo
Testamento colocam os dons em ordens diferentes”. O dom de variedades de línguas
é tão importante para a igreja quanto os demais apresentados em 1 Coríntios 12.
2. Qual é
a finalidade do dom de variedade de línguas? O primeiro propósito é a
edificação da vida espiritual do crente (1Co 14.4). As línguas, ao contrário da
profecia, não edificam ou exortam a igreja. Elas são para a devoção espiritual
do crente que recebe este dom. À medida que o servo de Deus fala em línguas
estranhas vai sendo também edificado, pois o Espírito Santo o toca e renova
diretamente (1Co 14.2).
3. Atualidade
do dom. É
preciso deixar claro que a variedade de línguas não é um fenômeno exclusivo do
período apostólico. O Senhor continua abençoando os crentes com este dom e
cremos que assim o fará até a sua vinda. No Dia de Pentecostes, todos os
crentes reunidos no cenáculo foram batizados com o Espírito Santo e falaram
noutras línguas pelo Espírito (At 1.4,5; 2.1-4). É um dom tão útil à vida
pessoal do crente em nossos dias quanto o foi nos dias da igreja primitiva.
O dom de variedade de Línguas tornou-se um dos mais controversos,
discutidos e debatidos na história da Igreja. Este dom difere das línguas como
evidência do batismo com o Espírito Santo. Não é um dom dado a todos os que
quiserem. Assim como os outros dons, é dado “a cada um” como o Espírito quer
(cf. 1 Co 12.11,30). Também não é uma capacidade aprendida humanamente. Diz
Carlson: “Falar em línguas é expressar-se com palavras que nunca aprendemos,
mas que nos são comunicadas diretamente pelo Espírito Santo. Não se manifesta
através de palavras pensadas de antemão ou vocalizadas pela pessoa que fala” [...]
“As línguas constituem um milagre vocal e não um milagre mental. A mente se faz
espectadora, e os ouvidos a atendem [...]”.
A finalidade do dom de variedade de línguas, com base na Palavra de Deus,
podemos dizer que o dom de variedade de línguas tem finalidades múltiplas: 1)
Edificação da igreja: Como vimos, os dons não são dados para promoção
pessoal de quem os possui. Todas as manifestações espirituais, concedidas pelo
Espírito Santo, são para a edificação no seio da igreja cristã. Paulo diz que
todos os dons devem contribuir para a edificação da igreja: “Que fareis, pois,
irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem
revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Co
14.26). Essa exortação tem caráter atualizadíssimo para os dias presentes. Desse
modo, uma finalidade fundamental do dom de variedade de línguas é “transmitir à
Igreja uma mensagem em línguas, e, por isso, precisa de interpretação para que
aquela seja edificada. Essa interpretação é feita pelo dom de interpretação de
línguas”.8 Trata-se de um milagre, pois quem fala as línguas bem como quem as
interpreta não as conhece. “Trata-se de uma língua verdadeira, seja de homens
ou de anjos (cf. 1 Co 13.1), conforme o Espírito Santo concede que se fale (cf.
At 2.4)”. 2) Edificação pessoal: A variedade de línguas pode ser útil
para a edificação pessoal. Paulo ensina sobre isso de maneira bem clara: “O que
fala língua estranha edifica-se a si mesmo, mas o que profetiza edifica a
igreja” (1 Co 14.4). No caso de o crente falar línguas, para sua edificação
pessoal, não há necessidade de interpretação. “Mas, se não houver intérprete,
esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus” (1 Co 14.28). É um dom
valioso para a edificação pessoal. O crente, cheio do Espírito Santo e
edificado por Deus, pode ser usado nas reuniões para a edificação da igreja,
através do dom de interpretação de línguas. 3) Glorificação a Deus: O
livro de Atos dos Apóstolos registra o episódio da ida de Paulo à casa do
centurião Cornélio, por revelação do Espírito Santo (cf. At 10.3-8; 18-20). Os
judeus tradicionais que se encontravam ali ficaram maravilhados, pois ouviam as
pessoas falando línguas estranhas em adoração a Deus. Na descida do Espírito
Santo, no Dia de Pentecostes, as pessoas de diversas nações, ali presentes,
ouviam os apóstolos, após o batismo com o Espírito Santo, “falar das grandezas
de Deus” (At 2.11). Nada mais natural, essa finalidade, pois Jesus disse que
enviaria o Espírito Santo com a missão de anunciar a Cristo, e glorificar ao
Senhor: “Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de
anunciar” (Jo 16.14). Se um dom não glorifica a Cristo, em sua manifestação,
não deve ser considerado proveniente do Espírito Santo. 4) Comunicação
sobrenatural da parte de Deus: Gordon Chown relata o caso, ocorrido em
1906, de uma jovem suíça, da área de fala alemã, chamada Maria Gerber, que foi
para os Estados Unidos, para estudar num Instituto Bíblico. Seu irmão foi
esperá-la, no porto, e, de imediato convidou-a para ir orar por um amigo
doente. Ela se recusou de pronto, dizendo que não faria nada no país, antes de
aprender a falar inglês. O irmão deixou-a em casa, e foi fazer a visita sozinho.
Mas o Espírito de Deus inquietou a jovem Maria, fazendo-a sentir que não
consultara a vontade de Deus. Ela de imediato, saiu pelas ruas, com o endereço
que fora dado pelo irmão, e, sem saber uma palavra em inglês, perguntava aos
guardas como chegar lá. Foi muito difícil, mas conseguiu chegar à casa do doente,
onde seu irmão já estava. E começou a orar em alemão pelo enfermo para que
Jesus o curasse. Porém, o sobrenatural aconteceu. Ela foi tomada pelo Espírito
Santo, e começou a orar em inglês perfeito, e o doente foi curado de imediato.
Não só isso, mas Maria recebeu o dom de variedade de línguas, e passou a falar
inglês fluentemente, realizando seus estudos sem dificuldades, e orando pelos
que precisavam de sua ajuda. Dizer que esse dom foi apenas para a época dos
apóstolos é sem dúvida um preconceito contra o próprio poder ilimitado do
Espírito Santo. 5) Sinal para os descrentes: Praticamente, todo o
capítulo 14 da primeira carta de Paulo aos coríntios se refere ao uso dos dons,
nas reuniões da igreja local. Ali, ele orienta quanto à ordem e aos cuidados no
uso dos dons. Com relação ao dom de línguas, ou variedade de línguas, ele diz
que o falar línguas, na congregação, deve ser acompanhado da interpretação de
línguas para que a igreja possa ser edificada (1 Co 14.13-17). As línguas
servem para edificação da igreja, desde que sejam interpretadas para toda a
congregação. E também servem de “sinal” para os não crentes, da mesma forma, se
houver interpretação profética.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Natureza Encarnacional dos Dons. Os crentes desempenham um papel vital no ministério dos dons. Romanos 12.1- 3 nos diz para apresentarmos nosso corpo e mente como adoração espiritual e que testemos e aprovemos o que for a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Semelhantemente, 1 Coríntios 12.1- 3 nos adverte a não
perdermos o controle do corpo e a não sermos enganados pela falsa doutrina, mas
deixar Jesus ser Senhor. E Efésios 4.1- 3 nos recomenda um viver digno da
vocação divina, tomar a atitude correta e manter a unidade do Espírito.
Nosso corpo é o templo do Espírito Santo e, portanto, deve estar envolvido
na adoração. Muitas religiões pagãs ensinam um dualismo entre o corpo e o
espírito. Para elas, o corpo é mau, uma prisão, ao passo que o espírito é bom e
precisa ser liberto. Essa opinião era como no pensamento grego.
Paulo conclama os coríntios a não se deixarem influenciar pelo passado
pagão. Antes, perdiam o controle; como consequência, podiam dizer qualquer
coisa e alegar que provinha do Espírito de Deus. O contexto bíblico dos dons
não indica nenhuma perda de controle. Pelo contrário, à medida que o Espírito
opera através de nós, temos mais controle do que nunca. Entregamos nosso corpo
e mente a Deus como instrumentos a seu serviço" (HORTON, Stanley (Ed.). Teologia Sistemática:
Uma Perspectiva Pentecostal. 10.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.469).
III. INTERPRETAÇÃO DE LÍNGUAS (1 Co 12.10)
1. Definição
do dom. Thomas
Hoover ensina que a interpretação das línguas é “a habilidade de interpretar,
no próprio vernáculo, aquilo que foi pronunciado em línguas”. Na igreja de
Corinto havia certa desordem no culto com relação aos dons espirituais, por isso,
Paulo os advertiu dizendo: “E, se alguém falar língua estranha, faça-se isso
por dois ou, quando muito, três, e por sua vez, e haja intérprete. Mas, se não
houver intérprete, esteja calado na igreja e fale consigo mesmo e com Deus”
(1Co 14.27,28).
2. Há
diferença entre dom de interpretação e o de profecia? Embora haja
semelhança são dons distintos. O dom de interpretação de línguas necessita de
outra pessoa, também capacitada pelo Espírito Santo, para que interprete a
mensagem e a igreja seja edificada. Do contrário, os crentes ficarão sem
entender nada. Já no caso da profecia não existe a necessidade de um intérprete.
Estêvam Ângelo de Souza definiu bem essa questão quando disse que “não haverá
interpretação se não houver quem fale em línguas estranhas, ao passo que a
profecia não depende de outro dom”.
O dom de línguas
propicia mensagens de edificação para quem o possui e que, para a edificação da
igreja, necessita de interpretação. E isso é possível, através do dom de
interpretação de línguas. Essa concomitância, entre os dois dons não havia no
Antigo Testamento.
O pastor Antônio
Gilberto ensina que o Dom de Intepretação de Línguas “É um dom de manifestação
de mensagem verbal, sobrenatural, pelo Espírito Santo. Não se trata de
“tradução de línguas”, mas de “interpretação de línguas”. O dom de línguas
prescinde do dom de interpretação de línguas, para que seja útil para a
edificação da igreja. Paulo deu precioso ensino à igreja de Corinto sobre o uso
dos dons. Ao que parece, o dom de línguas era muito usado, mas sem o necessário
equilíbrio espiritual e emocional.
Esse dom deve andar
lado a lado com o dom de línguas, no seio da igreja cristã. São “dons
geminados”. Gordon Chown diz que “A interpretação é tão milagrosa quanto a
própria Língua – e isto quer dizer que quem possui o Dom de Línguas não vai
procurar decifrá-la com a mente, mas sim, pede e recebe a Interpretação da
mesma fonte divina de onde surgiu a Língua”. Isso não quer dizer que o dom de
interpretação de línguas é outro tipo de dom de profecia. A profecia é
autossuficiente em sua ação para quem a ouve. O dom de interpretação de línguas
depende da mensagem em línguas, para que tenha eficácia.
A finalidade do dom de
interpretação de línguas, como é óbvio o que o nome diz, a finalidade principal
é a interpretação da mensagem, transmitida à igreja, através do dom de línguas.
No culto pentecostal, deve haver sabedoria e humildade no uso dos dons. Não é
comum haver quem tenha os nove tipos de dons. Normalmente, o Espírito distribui
“a cada um como quer”. Quanto mais dons houver numa igreja local, maior será
sua edificação espiritual. A Palavra de Deus é a fonte primária e mais
importante para a edificação do crente. Mas, como vimos, os demais dons também
contribuem para a edificação da igreja.
A interpretação é,
portanto, inspirada, extática e espontânea. Assim como o falar em línguas não é
concebido na mente, da mesma maneira, a interpretação emana do espírito antes
que do intelecto do homem. Nota-se que as línguas em conjunto com a
interpretação tomam o mesmo valor de profecia (1Co 14.5). Por que, então, não
nos contentarmos com a profecia? Porque as línguas são um “sinal” para os
incrédulos (1 Co 14.22). Pelo fato de haver interpretação das línguas é que
declaramos anteriormente que tais se referem a “línguas públicas”, uma vez que
são reveladas através de um dom específico de interpretação.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Paulo era grato a
Deus por falar em línguas, e mais do que todos os coríntios. Na igreja, porém,
diz que preferiria falar cinco palavras com seu entendimento, a fim de que
pudesse, pela sua voz ensinar aos outros, do que dez mil palavras em línguas (1
Co 14.18,19). Mas não deseja com isso excluir as línguas. É parte legítima de
sua adoração (1 Co 14.26).
Paulo lhes adverte para que cessem de proibir o falar em
línguas. Segundo parece, alguns não gostavam da confusão causada pelo uso
exagerado das línguas. Procuravam solucionar o problema por meio da proibição
total do falar em línguas. Mas a experiência era preciosa, e a bênção
excelente, para a maioria dos coríntios aceitar essa proibição. Alguns dizem
hoje: 'Há problemas envolvidos no falar em línguas; vamos evitá-las, portanto'.
Mas não foi essa a solução de Paulo para si, nem para a Igreja. Até mesmo os
limites que Paulo impõe não tinham a intenção de impedir as línguas.
Tratava-se, apenas, de dar mais oportunidade, para maior edificação a outros
dons" (HORTON, Stanley M.
A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012, p. 242).
CONCLUSÃO
Ainda que
haja muitas pessoas em diversas igrejas que não aceitem a atualidade do batismo
com o Espírito Santo e dos dons espirituais – os chamados “cessacionistas” –
Deus continua abençoando os crentes com suas dádivas. Portanto, não podemos
desprezar o dom de profecia, o de falar em línguas estranhas e o de
interpretá-las. Porém, façamos tudo conforme a Bíblia: com sabedoria, decência
e ordem (1Co 14.39,40). Agindo dessa forma, Deus usará os seus filhos para que
sejam portadores das manifestações gloriosas dos céus. – Os dons de elocução têm grande
efeito na transmissão da mensagem da parte de Deus para os crentes nas igrejas
locais. Paulo diz que os dons devem ser procurados, pois ele sabia o valor das
manifestações espirituais para a vida dos crentes de sua época. Ainda que haja
pessoas, em diversas igrejas, que não aceitam a atualidade do batismo com o
Espírito Santo e dos dons espirituais, graças a Deus, a realidade dos dons, nas
igrejas cristãs que aceitam o Pentecostes hoje, têm sido beneficiadas pela
presença do poder do Espírito Santo em seu meio. Historicamente, são as que
mais crescem, numericamente, em graça e unção de Deus. Oremos para que o
avivamento não se apague, no meio das igrejas cristãs, até a Volta de Jesus.
REFERÊNCIAS
DICIONÁRIO VINE -
W. E. Vine, Merril F. Unger & William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002,
p. 648.
GILBERTO, Antônio. Teologia
Sistemática Pentecostal: Pneumatologia – a doutrina do Espírito Santo, p. 198,199.
LIÇÕES BÍBLICAS. 2º
Trimestre 2021 - Lição 5. Rio de Janeiro: CPAD, 02, mai. 2021.
LIMA, Elinaldo
Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
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