COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos a
respeito dos dons de poder. Veremos como eles são necessários à vida da igreja.
Se você deseja recebê-los e usá-los para a glória do nome do Senhor;
proporcionando a edificação da igreja, busque-os com fé em oração. – Na época em que Paulo se tornou
discípulo de Jesus, após sua dramática conversão, no caminho de Damasco, já
havia muitos “evangelhos” estranhos, apócrifos, que pregavam “outro Jesus” (2
Co 11.4). Mas o evangelho genuíno tinha que ser um evangelho que demonstrasse
ao mundo que era a mensagem de Deus aos homens, através de sinais, prodígios e maravilhas,
que o diferençava dos “outros evangelhos”. Jesus, em seu ministério terreno,
demonstrou que não viera trazer mais uma corrente filosófica para o mundo. As
nações já conheciam as filosofias gregas, de Platão, Aristóteles, Heródoto e
outros. O Budismo, o Hinduísmo, o Xintoísmo e outras religiões dominavam o
Oriente. O Judaísmo era a religião consagrada na Palestina. Mas não se viam
sinais de poder impactante e transformador na vida dos seus adeptos nem
daqueles a quem pregavam seus ensinos. Mas Jesus começou transformando “água em
vinho” (Jo 2.10). Curou cegos paralíticos, ressicados, lunáticos, e fez o que
nenhum líder de religião fizera ou haveria de fazer: ressuscitou mortos,
inclusive Lázaro, cujo corpo já entrara em estado de decomposição avançada (Jo
11.4'). O cristianismo apresentou-se como um movimento do Espírito Janto para a
salvação de almas e libertação dos males resultantes do pecado. – Além de
demonstrar o poder sobre as forças das enfermidades, Jesus demonstrou que tinha
poder sobre as forças da natureza. Acalmou a tempestade, repreendendo o vento e
o mar (Mt 8.23-27); andou por cima das águas e fez passar a tormenta (Mt
14.22-34). E, para provar que tinha suprema autoridade sobre todos os poderes,
expulsou demônios, libertando os oprimidos do Diabo (Mt 8.28-34.
I. O DOM DA
FÉ
1. O que significa fé? Na epístola aos Hebreus lemos que “a fé é o
firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem”
(11.1). Essa é a definição bíblica sobre a fé, pois mostra a total confiança e
dependência em Deus. Aprendemos com o texto do capítulo 11 de Hebreus,
conhecido como a "galeria dos heróis da fé”, que Deus é poderoso para
fazer todas as coisas, sendo a nossa fé em Deus, fundamental para as operações
divinas entre os homens.
2. A fé como dom. É distinta daquela que recebemos por ocasião da nossa conversão:
a fé salvífica (Rm 10.17; Ef 2.8). Igualmente, se distingue da fé evidenciada
como fruto do Espírito (Cl 5.22). O dom da fé é a capacidade que o Espírito
Santo concede ao crente para este realizar coisas que transcendem à esfera
natural da vida, objetivando sempre a edificação da igreja. De acordo com o
teólogo Stanley Horton, esse dom “é uma fé milagrosa para uma situação ou
oportunidade especial”.
3. Exemplo Bíblico do dom da fé. Quando guiou o povo de
Israel na saída do Egito e se aproximou do Mar Vermelho, já na iminência de ser
destruído por Faraó, Moisés disse: “Não temais; estai quietos e vede o
livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes,
nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êx
14.13,14). Moisés “viu” pela fé o livramento do Senhor antes de o fato
acontecer. Esta é uma boa amostra bíblica do exercício do dom da fé.
A palavra fé (gr. pisteuó;
lat. Fides) “É a confiança que depositamos em todas as providências de Deus. É
a crença de que Ele está no comando de tudo, e que é capaz de manter as leis
que estabeleceu. É a convicção de que a sua palavra é a verdade”. A melhor
definição de fé é enunciada pelo autor do livro aos Hebreus, que recebeu uma
profunda inspiração para a descrição dessa virtude cristã; “Ora, a fé é o firme
fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb
11.1). Vemos, nessa definição, três elementos essenciais à fé:
1) Ela é fundamento ou base para a confiança em Deus;
2) Ela envolve a esperança ou expectativa segura do que se espera
da parte de Deus;
3) Ela é “a prova das coisas que não se veem”, mas são
esperadas, ou significa convicção antecipada.
Já o dicionário VINE assim define o
termo fé: “pistis, primariamente, ‘persuasão firme’, convicção fundamentada no
ouvir, sempre é usado no NT acerca da ‘fé em Deus ou em Jesus, ou às coisas
espirituais”. Em Mt 17.20 Jesus fala de uma fé que pode remover montanhas,
operar milagres e curas, e realizar grandes coisas para Deus. É uma fé genuína
que produz resultados: ‘nada vos será impossível’. É distinta da fé que produz
salvação e da fé como fruto do Espírito. Não se trata da fé para salvação, mas
de uma fé sobrenatural especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o
crente a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas.
É a fé que remove montanhas (1Co 13.12) e que frequentemente opera
conjuntamente com outras manifestações do Espírito Santo, como os dons de cura
e de operação de milagres e maravilhas.
A FÉ COMO DOM – É a capacidade concedida pelo
Espírito Santo para o crente realizar coisas que transcendem à esfera natural,
visando o benefício e a edificação da igreja. Podemos entender melhor o
significado do dom da fé, através de declarações negativas em relação a outros
tipos de fé. Não é a fé salvífica, que é despertada pela proclamação da Palavra
de Deus (Rm 10.17; Ef 2.8); não é a fé como doutrina, que denota a permanência
do crente, vivendo de acordo com a Palavra de Deus, ou a sã doutrina (2 Co
13.5); não é a fé como fruto do Espírito, que consiste nas virtudes, que devem
ser cultivadas pelo crente, na comunhão com o Espírito Santo. Não é dada, é
buscada e desenvolvida (G1 5.22); o dom da fé também não é a fé natural, que
resulta da observação da natureza. Se tudo existe, de maneira organizada e com
propósito, há pessoas que creem no Criador (Rm 1.19,20).
O dom da fé “Pode ser considerado
como um dom especial da fé para uma necessidade particular. Alguns o definem
como a fé que remove montanhas’, trazendo manifestações incomuns ou
extraordinárias do poder de Deus”.2 Esse dom é concedido, num momento especial,
quando só um milagre resolve algo que não tem solução, no meio da igreja, ou na
vida de um servo de Deus, que atende a seus propósitos. Podemos entender que
esse dom foi usado por Moisés, quando o povo de Israel percebeu que Faraó
estava no seu encalço após a saída do Egito. De um lado e do outro, as
montanhas; pela frente, o Mar Vermelho; por trás o exército egípcio com carros
e cavalos. – A resposta do líder do Êxodo foi uma demonstração de uma fé fora
do comum: “Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos e vede o
livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes,
nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êx
14.13,14). Ele “viu” o livramento de Deus antes que acontecesse. Se tivesse
falhado em sua fé, teria havido uma tragédia contra a sua liderança. Vemos esse
dom operando na vida de Daniel. Quando soube do decreto do rei, proibindo que
alguém fizesse qualquer pedido ou súplica a qualquer pessoa ou a qualquer Deus,
e não unicamente ao rei, seria lançado na cova dos leões famintos, Daniel
continuou orando ao Senhor, como o fazia três vezes ao dia. Foi acusado pelos
seus adversários, e foi lançado na cova dos leões. O próprio rei viu que Daniel
tinha fé em seu Deus (Dn 6.16). Daniel foi salvo da morte (Dn 6.23). – Certamente,
o exemplo do profeta Elias, diante dos profetas de Baal e de Asera, no Monte
Carmelo, também envolveu o dom da fé. Ele fez um desafio aos profetas dos
deuses falsos. Propôs que o Deus que respondesse com fogo seria o verdadeiro
Deus. E Deus honrou sua fé, fazendo cair fogo do céu sobre o altar encharcado
de água (1 Rs 18.22-39). – O dom da fé não se desenvolve. E concedido, em
ocasiões especiais, para a resolução de algum problema insolúvel aos meios
normais, racionais ou naturais. E só é dado a quem já tem fé em Deus e em suas
promessas. “Esse dom em ação gera uma atmosfera de fé, que dá convicção de que
agora tudo é possível (cf. Jo 11.40-44; Mc 9.23). [...] Esse dom é um impulso
poderoso à oração da fé (cf. Tg 5.17), pois impõe a certeza de que para Deus
tudo é possível (cf. Lc 1.37; Mc 10.27).”3 Quando se diz que tudo é possível
deve-se ter em mente que se tem em mente tudo o que é de acordo com a vontade
de Deus.
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, para introduzir a lição, indague: “O que é
fé?" "Que diferença há entre fé salvífica e o dom da fé?" Faça
as perguntas diretamente aos alunos, individualmente. O objetivo é avaliar o
conhecimento dos alunos a respeito do tema. Depois de ouvi-los escreva no
quadro o esquema abaixo e discuta-o com a turma.
· Fé = "Firme
fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem"
(Hb 11.1).
· Fé salvífica = "Proveniente da
proclamação do Evangelho, esta fé leva-nos a receber a Cristo como
Salvador".
· Dom da fé = "Capacidade que
o Espírito Santo concede ao crente para este realizar coisas que transcendem à
vida natural".
É muito importante
distinguir essas expressões uma das outras, a fim de que haja um perfeito
entendimento.
II. DONS DE CURAR (1 Co 12.9)
1. O que são os dons de curar? São recursos de caráter
sobrenatural para atuarem na cura de qualquer tipo de enfermidade. Por isso a
expressão está no plural. Deus é quem cura! Ele concede os “dons” segundo o
conselho da sua vontade, sabedoria e no momento certo. No Antigo Testamento, o
Todo-Poderoso se manifestou ao povo de Israel como “Jeová Rafá” — O Senhor que
sara (Êx 1 5.26; SI 103.3). A concessão desses dons à Igreja deve-se à
necessidade de o Evangelho ser anunciado como uma mensagem poderosa ao não
crente, que outrora não tinha fé, mas que agora passou a crer no Evangelho,
arrependendo-se dos seus pecados (Mc 16.1 7,1 8; At 3.1 1-26; 4.23-31).
2. A redenção e as curas. Apesar de o crente ser
redimido pelo Senhor através da obra expiatória efetuada por Jesus na cruz do
Calvário, ele (o crente) ainda aguarda a redenção do seu próprio corpo. Quando
o apóstolo Paulo tratou dos males que afligem à criação como resultado do
pecado da humanidade, escreveu que “não só ela, mas nós mesmos, que temos as
primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a
saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.2 3). Enquanto não recebermos o novo
corpo imortal e incorruptível estaremos sujeitos a toda sorte de doenças.
3. A necessidade desses dons. Os dons de curar são
necessários à igreja da atualidade. Num mundo incrédulo em que a medicina se
desenvolve rapidamente, o ser humano pensa que pode superar a Deus. A
humanidade precisa compreender a sua limitação e convencer-se da sublime
realidade de um Deus Todo-Poderoso que, em sua misericórdia e amor, concede
sabedoria a homens e mulheres para multiplicar o conhecimento da medicina
visando o bem-estar de todos. Quanto aos dons de curas, são manifestações de
poder sobrenatural que o Espírito Santo colocou à disposição da Igreja de Cristo para que a humanidade reconheça que Deus tem o poder de sanar todas as
doenças.
Os dons de curar são de
grande valor na pregação do evangelho. As pessoas em geral são descrentes do
poder de Deus. Mas, quando veem uma cura de impacto, como a cura de câncer, de diabetes, de paralisia,
ou de doenças degenerativas, com Alzheimer, doença de Parkinson, e outras, são
compelidas a ter sua fé despertada para o poder de Deus em suas vidas. Milagres
de cura, sem transformação de vidas, pelo poder do evangelho de Cristo,
tornam-se apenas elementos de “shows” para glorificação do pregador. Mas quando
as curas contribuem para a glorificação a Deus, têm grande valor para a
divulgação do evangelho. – É promessa de Jesus à sua igreja a delegação de
poder para curar enfermidades, como parte da missão de pregar o evangelho (Mc
16.15-18). – Como os sinais devem seguir “aos que crerem”, pode-se entender que
pode haver curas, ministradas por uma pessoa, que não tem o dom ou dons de
curar. Num momento, um evangelizador, num hospital, ou em outro lugar, pode
dizer para um doente: “Em nome de Jesus seja curado”, e o enfermo levantar-se
sadio para glória do Senhor. No entanto, no meio da congregação local, em
qualquer lugar, é necessário que se busquem os dons de curar, que poderão ser
usados, em momentos ou situações em que Deus queira manifestar o seu poder
curador, para glória de Jesus Cristo. – É interessante notar que todos os
outros dons estão no singular. Mas os dons de curar estão no plural. Não há,
portanto, um “dom de curar”, mas uma variedade deles. Os estudiosos não são
unânimes na interpretação desse assunto. Há quem acredite que um crente, que
possui tais dons, tenha capacidade para curar qualquer enfermidade. A
pluralidade dos dons de curar parece indicar que há pessoas que têm o dom de
orar por determinadas enfermidades; e outras, para orar por outros tipos de
doenças. – Stanley Horton diz “que ninguém pode dizer: ‘Eu tenho o dom de
curar’, como se este dom pudesse ser possuído e ministrado ao bel-prazer da
pessoa. Cada cura necessita de um dom especial, não à pessoa o dom, mas por
meio daquela pessoa para o indivíduo doente, de forma que Deus receba toda a
glória. Ele é quem cura (At 4.30)”. Infelizmente, o que se vê, em muitos
programas de TV, de determinadas igrejas, é o endeusamento do pastor, do bispo
ou apóstolo, que ministra curas de maneira cotidiana. Não ousamos dizer que
pessoas não são curadas, em tais igrejas. Mas a exaltação do ministrante de
curas ofusca a glória que só pertence a Deus. Diz Boyd acerca desses dons: “Não
concordamos com a opinião de que este dom garante a libertação do enfermo,
independente da soberania divina ou das condições espirituais e morais do
enfermo”. De fato, há ensinos heréticos, desde o século passado, no seio de
igrejas evangélicas, notadamente das neopentecostais, que entendem que o
possuidor do dom ou dos dons de curar têm poderes ilimitados. Não é bem assim.
Se uma pessoa está doente, pode buscar a cura, através da oração da fé. No
entanto, Deus não está obrigado a atender todos os pedidos ou súplicas pela cura
de nenhuma pessoa. Pr. Eurico Bergstén corrobora esse entendimento, quando
afirma: “Esse dom não significa uma capacidade de curar quando e como a pessoa
quer, porém é sempre uma transmissão de poder do Espírito Santo. Por isso, é
indispensável que o portador do dom esteja ligado a Cristo e siga a sua direção
[...]”. – É desejável que os crentes em Jesus procurem “com zelo os melhores
dons” (1 Co 12.31). Certamente, os dons de curar são muito necessários, num
mundo em que as enfermidades têm-se multiplicado assustadoramente, a despeito
dos notáveis avanços da medicina. Esses dons são recursos especiais à
disposição da igreja do Senhor Jesus Cristo, para, sob a soberania de Deus, e
segundo a fé, os crentes sejam beneficiados com a cura das enfermidades físicas
ou emocionais.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Dons de Curas
No grego, as palavras dons e curas
estão no plural. Alguns entendem que isso significa que há uma variedade de
formas desse dom. Entre os que pensam assim, há quem entenda que certas pessoas
têm um dom de curar um tipo de doença ou enfermidade, ao passo que outros curam
outro tipo. Filipe, por exemplo, foi especialmente usado para curar os
paralíticos e os coxos (At 8.7). Outros, ainda, entendem que Deus dá a uma
pessoa um dom na forma de um suprimento de curas numa ocasião específica, ao
passo que outro suprimento é dado em outra ocasião, talvez a outra pessoa, mas
provavelmente no ministério do evangelista.
Ainda outros entendem que toda cura é
um dom especial, isto é, o dom é para o enfermo que tem a necessidade. Logo,
segundo esse ponto de vista, o Espírito Santo não torna os homens curadores.
Pelo contrário, Ele providencia um novo ministério de cura para cada
necessidade, à medida que ela surge na Igreja. Por exemplo, a virtude (poder)
que flui para dentro do corpo da mulher com o fluxo de sangue trouxe para ela
um gracioso dom de cura (Mt 9.20-22). Atos 3.6 diz, literalmente: ’0 que tenho,
isso te dou'. Isso está no singular e indica um dom específico dado a
Pedro para este dar ao coxo. Não parece significar que tinha um reservatório de
dons de curas dentro de si, mas um novo dom para cada enfermo a quem
ministrava" (HORTON, Stanley M. A
Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2012, p.297).
III. DOM DE
OPERAÇÃO DE MARAVILHAS (1 Co 12.10)
1. O dom de operação de maravilhas. Este dom realiza obras
extraordinárias além do poder humano. O dom de operação de maravilhas altera a
ordem natural das coisas consideradas impossíveis e impensáveis.
2. Exemplos bíblicos. O ministério terreno de Jesus foi marcado por
operações de maravilhas. O Bom Mestre repreendeu o vento e o mar, e estes logo
se aquietaram (Mt 8.23-27). O nosso Senhor atestou por muitas vezes o seu poder
sobre a natureza criada para sua glória (Jo 1.3). Podemos destacar outros
exemplos de operação de maravilhas no ministério de Jesus: a ressurreição do
filho da viúva de Naim (Lc 7.11 -1 7); a ressurreição da filha de Jairo (Mc
5.21-43); a ressurreição de Lázaro, morto havia quatro dias (Jo 11.1-45). Nosso
Senhor tem todo o poder sobre a morte, pois para Ele “nada é impossível” (Lc
1.37). Nosso Deus não mudou. O Pai Celestial deu dons a sua igreja a fim de que
ela atue no mundo moderno com poder e graça.
3. Distorções no uso dos dons de curar e de operação de
maravilhas. O cristão não tem autorização divina para “de terminar”,
“decretar” ou “exigir” a cura dos enfermos. A nossa relação com Deus não se dá
em forma de barganha. Quem somos nós para exigir de Deus alguma coisa? Somos
seres humanos limitados! Se (não fosse a graça e a misericórdia de Deus, o que
seria de nós? Como discípulos de Cristo, devemos rogar ao Pai, buscando-o de
todo o nosso coração para curar os doentes, pois a Palavra de Deus recomenda
que oremos pelos enfermos (Tg 5.14). A oração do justo pode muito em seus
efeitos (Tg 5.16), e independe de se ter o dom ou não. Jesus nos ensinou que em
seu nome deveríamos impor as mãos sobre os enfermos para que eles sejam curados
(Mc 16.18). Nossa responsabilidade é orar pedindo a cura. Quem sara o enfermo,
de acordo com a sua soberana vontade, é Deus.
O crente que impõe as mãos sobre o enfermo não pode ser tratado
como um ídolo na igreja, principalmente se o enfermo for curado. Nem podemos
imaginar que porque aconteceu o milagre aquela vez, sempre haverá outros milagres.
Que o Altíssimo tenha misericórdia e proteja-nos dessa pretensão! Quem opera os
sinais e as maravilhas é o Senhor, não o homem. Toda ação decorrente dos dons
vem do Espírito Santo e, por isso, não podemos agendar dias nem marcar horários
para sua operação. Façamos a obra de Deus com honestidade e decência!
O dom de operações de
Maravilhas é algo sobrenatural (2Rs 4.1-7); algo que vai contra todas as leis
da natureza (2Rs 4.32-37); algo que vai contra as leis da química e da física
(2Rs 6.1-7); algo que está acima da compreensão e raciocínio humano, capaz até mesmo de mudar toda a
ordem universal (Js 10.12-13). Existem três termos gregos identificados com o
dom de maravilhas: dunamis, que significa poder, sem o qual não haveria
milagres. – Um milagre é uma manifestação de poder sobrenatural no reino
natural. Esse dom chamado de Operação de Milagres e também é chamado de dom de
operação de maravilhas (gr. energemata dunameón). Desses termos gregos derivam
as palavras “energia” e “dinamite”. São palavras plurais, no idioma original.
Isso dá a entender que pode haver uma variedade enorme de milagres, operados
pelo poder do Espírito Santo. – Assim como a dinamite explode rochas
consideradas impenetráveis, o dom de milagres anula a ordem natural das coisas.
Muitas vezes, é uma verdadeira explosão do poder de Deus, no mundo natural ou
na esfera espiritual. Na travessia do Mar Vermelho, temos um exemplo
extraordinário de um milagre, operado por Deus. O povo de Israel, com cerca de
3 milhões de pessoas, jamais teria condições de adentrar as águas à sua frente,
acossado pelo exército de Faraó. Mas Deus fez o impossível, alterando o curso
dos elementos da natureza. “Então, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o
Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar
tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram
pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram como muro à sua direita e à sua
esquerda” (Êx 14.21,22).
Em meio a uma grave
crise climática, em Israel, uma viúva clamou ao profeta Eliseu para que seus
dois filhos não fossem levados cativos para pagar dívidas deixadas pelo seu
esposo. Eliseu indagou o que ela tinha em casa, e, em resposta, a mulher disse
que só tinham “uma botija de azeite” (2 Rs 4.2). Algo como meio litro ou um
pouco mais. Mas isso não significava nada diante do grande problema da dívida
que a mulher tinha que pagar, para não perder a guarda de seus dois filhos. A
ordem normal das coisas, à luz dos costumes e leis de seu tempo, exigia que ela
entregasse os filhos ao credor. – Mas a fé do profeta ultrapassou os limites do
plano natural e, confiando em Deus, disse à mulher que conseguisse muitos vasos
com seus vizinhos, e os enchesse com aquela pequena quantidade de azeite. A
mulher obedeceu ao profeta, e presenciou, com seus filhos um milagre
extraordinário. À proporção que derramava o azeite nas vasilhas, o azeite
aumentava. Aquilo que parecia ser o fim, foi o começo de um novo tempo na vida
daquela pobre viúva. O profeta de Deus disse: “Então, veio ela e o fez saber ao
homem de Deus; e disse ele: Vai, vende o azeite e paga a tua dívida; e tu e
teus filhos vivei do resto” (2 Rs 4.7). O gravíssimo problema só teve solução
mediante a intervenção do poder de Deus na ordem social e econômica daquela
família. – O fenômeno em que o sol se deteve por quase um dia inteiro, para que
Josué pudesse vencer os amorreus, é um exemplo típico de um milagre ou de
maravilha operada por Deus envolvendo seus servos. Pelas leis da mecânica
celeste, o sol se põe, no final da tarde, ou “se põe”, como se diz na linguagem
figurada. Mas, se a noite caísse, Israel não teria condições de vencer os
poderosos exércitos inimigos. Tal situação exigia uma ação de emergência. E
Josué, o líder da tomada da terra prometida, pôs sua fé em ação, e confiou em
Deus, ao determinar que o Sol se detivesse em Gibeão, e a lua se detivesse, no
vale de Aijalom. Diz a Bíblia que, contrariando todas as leis da mecânica
celeste, houve um fenômeno jamais visto: “E o sol se deteve, e a lua parou, até
que o povo se vingou de seus inimigos. Isso não está escrito no Livro do Reto?
O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia
inteiro. E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo
o Senhor, assim, a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por Israel” (Js
10.13,14). Esse fato tem causado críticas na mente dos incrédulos, pois
imaginam que tal relato não passa de uma lenda judaica. Tal visão é
compreensível, pois os críticos usam o pensamento racional, lógico, natural.
Enquanto o milagre é sobrenatural, fora da lógica e da humana. Deus não está
sujeito às leis da natureza. Quando Ele quer, suspende seus efeitos e cumpre os
seus propósitos para o seu povo, ou para um servo seu.
Quem mais operou
milagres foi Jesus. Após ministrar sua palavra, Jesus entrou no barco com seus
discípulos, acompanhado de outros barquinhos. Inesperadamente, levantou-se, no
mar, um grande temporal de vento, provocando ondas que cobriam o barco. Talvez
pelo cansaço da jornada, Jesus estava repousando na popa da embarcação,
enquanto seus discípulos enfrentavam a tormenta. “E ele estava na popa dormindo
sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que
pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te,
aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança” (Mc 8.38,39). Nenhum
homem, a:é hoje, teve o poder de falar ao vento e ao mar, na tempestade, e os
elementos da natureza ouvirem a sua voz. Mas Jesus mostrou, mais de uma vez,
que tem poder sobre a natureza, que Ele mesmo criou (Jo 1.3).
O mais terrível inimigo
do homem, em sua condição humana, é a morte (1 Co 15.26). E decreto divino, por
causa do pecado (Gn 2.17). O homem nasce, desenvolve-se e morre. É o curso
natural da existência biológica. Uns morrem mais cedo; outros, mais tarde. Mas
Jesus, o criador, doador e Senhor da vida, pode, quando Ele quer, interromper
esse curso da natureza humana. Em seu ministério, Jesus demonstrou seu poder
sobre a morte física. Ele ressuscitou o filho único de uma viúva, de Naim,
quando o féretro já estava a caminho do cemitério (Lc 7.11-16). – Jesus ressuscitou
a filha de Jairo, que falecera fazia pouco tempo (Mc 5.22-24). Alguém poderia
alegar, em sua mente racionalista, que a menina experimentara apenas um estado
cataléptico, ou sono profundo e passageiro. Mas para que não pairassem dúvidas
sobre o poder sobrenatural de Cristo sobre a morte, Ele se deixou demorar onde
se encontrava, ao receber a notícia de que Lázaro, seu amigo, de Betânia,
estava muito enfermo. Em seguida, ele cientifica aos discípulos de que Lázaro
houvera morrido. Ao chegar em Betânia, já fazia quatro dias do seu falecimento.
Não havia a mínima condição para reverter aquela situação, pois o corpo do
defunto já estava sofrendo os efeitos da decomposição. Mas para Jesus, nada é
impossível (Lc 1.37). Após consolar a família, Jesus se dirigiu ao túmulo,
mandou que fizessem o que as pessoas poderiam fazer naturalmente, tirando a
pedra que fechava a entrada da sepultura (Jo 11.43-45). Completando a
demonstração real de que a morte não vence o autor da vida, Jesus ressuscitou,
após três dias na sepultura, cumprindo o que Ele predissera para seus
discípulos (Lc 24.1-8). – Se é a vontade de Deus,
e motivo para glorificação ao seu nome, ele pode conceder autoridade a qualquer
de seus servos para operar milagres extraordinários. No entanto, quando o
pregador, por permissão de Deus, opera milagres para sua promoção pessoal, de
seu ministério ou da igreja a que pertence, resta a dúvida se aquele milagre
foi de Deus ou de outra origem. Pior ainda, quando o operador de milagres o
faz, visando obter ganhos financeiros e enriquecimento pessoal. Isso não
glorifica a Deus. E procedimento lastimável, suscetível do juízo de Deus no
momento próprio.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Diferença entre dom de fé e a operação de milagres
A operação do dom de fé tem algo de semelhante ao dom de
operação de milagres, mas esses dons se distinguem pelo fato de o dom de fé
operar sem que, às vezes, seja visto seu efeito instantâneo, enquanto a
operação de milagres tem efeito imediato.
Quando Jesus se aproximou da figueira
sem fruto, disse: 'Nunca mais coma alguém fruto de ti. E seus discípulos
ouviram isto' (Mc 11.14). Os discípulos simplesmente ouviram as palavras de
Jesus. Parecia que nada havia acontecido. Entretanto, 'passando eles pela
manhã, viram que a figueira secara desde a raiz' (Mc 11.20). Enquanto o dom de
operação de milagres tem ação instantânea, o dom de fé opera com os mesmos
resultados, embora não seja de modo tão espetacular. De certa maneira a fé
sobrenatural é acessível a quase todos os crentes na igreja, e pela fé tudo
podemos conseguir, pois 'tudo é possível ao que crê'" (SOUZA, Estêvam
Ângelo de. Nos Domínios do Espírito. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1987,
p.185).
CONCLUSÃO
Deus pode conceder a seus servos o dom da fé, dons de curar e o
de operação de milagres, mas sempre de acordo com a sua vontade e graça.
Lembre-se de que os dons de poder contribuem para legitimar a pregação do
Evangelho. Infelizmente, há pessoas que querem utilizar essas dádivas para
obterem lucros financeiros e enriquecimento pessoal. Isto envergonha o nome de
Jesus e mancha a idoneidade da Igreja na sociedade. Quem procede desta forma
está suscetível ao juízo de Deus, que virá no tempo próprio. Que nós, a Igreja,
o povo do Senhor, façamos uso dos dons de poder para propagar o Evangelho de
nosso Senhor e glorificar o nome do Pai no poder do Espírito Santo! – Pela soberania divina é que os dons são distribuídos, não
como recompensa ou pelo mérito. Concluo afirmando que é falacioso, antibíblico
e insensato o ensino de que aquele que possui um dom de operação exteriorizada
(mais visível) é mais espiritual do que quem tem dons de operação mais
interiorizada, menos visível. Também, quando uma pessoa possui um dom
espiritual, isso não significa que Deus aprova tudo quanto ela faz ou ensina.
Os dons de poder, como os demais dons, são soberanamente distribuídos pelo
Espírito, continuam atuais e disponíveis à Igreja para a glória do nome do
Senhor. O Espírito Santo manifesta Seus dons e poder em homens e mulheres de
Deus, para que eles possam fazer o que Ele decide soberanamente o que deve ser
realizado. Nós precisamos destas Manifestações Poderosas em nossa vida para que
possamos cumprir o nosso papel para o qual fomos alistados: servir e edificar a
Igreja, estender a mão aos incrédulos e edificar a nossa fé. No pensamento do
apóstolo Paulo, vida na igreja e dons do Espírito Santo eram coisas
intrínsecas. Jesus, o nosso Mestre Poe excelência viveu, trabalhou e orou no
poder do Espírito Santo e é dele a afirmativa que diz: “Aquele que crê em
mim, também fará as obras que eu faço.” Com a mesma unção que estava sobre
Ele nós também podemos fazer estas obras e levar a cabo seu imperativo de ir e
ensinar todas as nações. Certa feita, os opositores da seita do Caminho
inquiriram os discípulos: “Por meio de que poder vocês fizeram isso?”
Foi no poder do qual Jesus havia falado: “Recebereis poder ao descer sobre
vós o Espírito Santo”.
REFERÊNCIAS
DICIONÁRIO VINE -
W. E. Vine, Merril F. Unger & William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002,
p. 648.
LIÇÕES BÍBLICAS. 2º
Trimestre 2021 - Lição 4. Rio de Janeiro: CPAD, 25, abr. 2021.
LIMA, Elinaldo
Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
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