sábado, 24 de abril de 2021

LIÇÃO 4: DONS DE PODER

COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I

 INTRODUÇÃO

O ministério terreno de Jesus foi marcado por inúmeros milagres, principalmente curas. A história eclesiástica comprova que a Igreja do primeiro século também operou maravilhas no poder do Espírito Santo. Entre os primeiros cristãos sobejavam os dons de poder. Se Jesus não mudou e os dons espirituais são para a Igreja de hoje, por que atualmente não vemos as manifestações dos dons de poder em nosso ambiente com mais frequência? Será falta de conhecimento a respeito do assunto? Ou será por causa do mau uso que alguns fazem das dádivas divinas?

Nesta lição estudaremos a respeito dos dons de poder. Veremos como eles são necessários à vida da igreja. Se você deseja recebê-los e usá-los para a glória do nome do Senhor; proporcionando a edificação da igreja, busque-os com fé em oração.  Na época em que Paulo se tornou discípulo de Jesus, após sua dramática conversão, no caminho de Damasco, já havia muitos “evangelhos” estranhos, apócrifos, que pregavam “outro Jesus” (2 Co 11.4). Mas o evangelho genuíno tinha que ser um evangelho que demonstrasse ao mundo que era a mensagem de Deus aos homens, através de sinais, prodígios e maravilhas, que o diferençava dos “outros evangelhos”. Jesus, em seu ministério terreno, demonstrou que não viera trazer mais uma corrente filosófica para o mundo. As nações já conheciam as filosofias gregas, de Platão, Aristóteles, Heródoto e outros. O Budismo, o Hinduísmo, o Xintoísmo e outras religiões dominavam o Oriente. O Judaísmo era a religião consagrada na Palestina. Mas não se viam sinais de poder impactante e transformador na vida dos seus adeptos nem daqueles a quem pregavam seus ensinos. Mas Jesus começou transformando “água em vinho” (Jo 2.10). Curou cegos paralíticos, ressicados, lunáticos, e fez o que nenhum líder de religião fizera ou haveria de fazer: ressuscitou mortos, inclusive Lázaro, cujo corpo já entrara em estado de decomposição avançada (Jo 11.4'). O cristianismo apresentou-se como um movimento do Espírito Janto para a salvação de almas e libertação dos males resultantes do pecado. – Além de demonstrar o poder sobre as forças das enfermidades, Jesus demonstrou que tinha poder sobre as forças da natureza. Acalmou a tempestade, repreendendo o vento e o mar (Mt 8.23-27); andou por cima das águas e fez passar a tormenta (Mt 14.22-34). E, para provar que tinha suprema autoridade sobre todos os poderes, expulsou demônios, libertando os oprimidos do Diabo (Mt 8.28-34.

I. O DOM DA FÉ

1. O que significa fé? Na epístola aos Hebreus lemos que “a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (11.1). Essa é a definição bíblica sobre a fé, pois mostra a total confiança e dependência em Deus. Aprendemos com o texto do capítulo 11 de Hebreus, conhecido como a "galeria dos heróis da fé”, que Deus é poderoso para fazer todas as coisas, sendo a nossa fé em Deus, fundamental para as operações divinas entre os homens. 

2. A fé como dom. É distinta daquela que recebemos por ocasião da nossa conversão: a fé salvífica (Rm 10.17; Ef 2.8). Igualmente, se distingue da fé evidenciada como fruto do Espírito (Cl 5.22). O dom da fé é a capacidade que o Espírito Santo concede ao crente para este realizar coisas que transcendem à esfera natural da vida, objetivando sempre a edificação da igreja. De acordo com o teólogo Stanley Horton, esse dom “é uma fé milagrosa para uma situação ou oportunidade especial”. 

3. Exemplo Bíblico do dom da fé. Quando guiou o povo de Israel na saída do Egito e se aproximou do Mar Vermelho, já na iminência de ser destruído por Faraó, Moisés disse: “Não temais; estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êx 14.13,14). Moisés “viu” pela fé o livramento do Senhor antes de o fato acontecer. Esta é uma boa amostra bíblica do exercício do dom da fé. 

A palavra fé (gr. pisteuó; lat. Fides) “É a confiança que depositamos em todas as providências de Deus. É a crença de que Ele está no comando de tudo, e que é capaz de manter as leis que estabeleceu. É a convicção de que a sua palavra é a verdade”. A melhor definição de fé é enunciada pelo autor do livro aos Hebreus, que recebeu uma profunda inspiração para a descrição dessa virtude cristã; “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1). Vemos, nessa definição, três elementos essenciais à fé:

1) Ela é fundamento ou base para a confiança em Deus;

2) Ela envolve a esperança ou expectativa segura do que se espera da parte de Deus;

3) Ela é “a prova das coisas que não se veem”, mas são esperadas, ou significa convicção antecipada.

Já o dicionário VINE assim define o termo fé: “pistis, primariamente, ‘persuasão firme’, convicção fundamentada no ouvir, sempre é usado no NT acerca da ‘fé em Deus ou em Jesus, ou às coisas espirituais”. Em Mt 17.20 Jesus fala de uma fé que pode remover montanhas, operar milagres e curas, e realizar grandes coisas para Deus. É uma fé genuína que produz resultados: ‘nada vos será impossível’. É distinta da fé que produz salvação e da fé como fruto do Espírito. Não se trata da fé para salvação, mas de uma fé sobrenatural especial, comunicada pelo Espírito Santo, capacitando o crente a crer em Deus para a realização de coisas extraordinárias e milagrosas. É a fé que remove montanhas (1Co 13.12) e que frequentemente opera conjuntamente com outras manifestações do Espírito Santo, como os dons de cura e de operação de milagres e maravilhas.

A FÉ COMO DOM – É a capacidade concedida pelo Espírito Santo para o crente realizar coisas que transcendem à esfera natural, visando o benefício e a edificação da igreja. Podemos entender melhor o significado do dom da fé, através de declarações negativas em relação a outros tipos de fé. Não é a fé salvífica, que é despertada pela proclamação da Palavra de Deus (Rm 10.17; Ef 2.8); não é a fé como doutrina, que denota a permanência do crente, vivendo de acordo com a Palavra de Deus, ou a sã doutrina (2 Co 13.5); não é a fé como fruto do Espírito, que consiste nas virtudes, que devem ser cultivadas pelo crente, na comunhão com o Espírito Santo. Não é dada, é buscada e desenvolvida (G1 5.22); o dom da fé também não é a fé natural, que resulta da observação da natureza. Se tudo existe, de maneira organizada e com propósito, há pessoas que creem no Criador (Rm 1.19,20).

O dom da fé “Pode ser considerado como um dom especial da fé para uma necessidade particular. Alguns o definem como a fé que remove montanhas’, trazendo manifestações incomuns ou extraordinárias do poder de Deus”.2 Esse dom é concedido, num momento especial, quando só um milagre resolve algo que não tem solução, no meio da igreja, ou na vida de um servo de Deus, que atende a seus propósitos. Podemos entender que esse dom foi usado por Moisés, quando o povo de Israel percebeu que Faraó estava no seu encalço após a saída do Egito. De um lado e do outro, as montanhas; pela frente, o Mar Vermelho; por trás o exército egípcio com carros e cavalos. – A resposta do líder do Êxodo foi uma demonstração de uma fé fora do comum: “Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará; porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais vereis para sempre. O Senhor pelejará por vós, e vos calareis” (Êx 14.13,14). Ele “viu” o livramento de Deus antes que acontecesse. Se tivesse falhado em sua fé, teria havido uma tragédia contra a sua liderança. Vemos esse dom operando na vida de Daniel. Quando soube do decreto do rei, proibindo que alguém fizesse qualquer pedido ou súplica a qualquer pessoa ou a qualquer Deus, e não unicamente ao rei, seria lançado na cova dos leões famintos, Daniel continuou orando ao Senhor, como o fazia três vezes ao dia. Foi acusado pelos seus adversários, e foi lançado na cova dos leões. O próprio rei viu que Daniel tinha fé em seu Deus (Dn 6.16). Daniel foi salvo da morte (Dn 6.23). – Certamente, o exemplo do profeta Elias, diante dos profetas de Baal e de Asera, no Monte Carmelo, também envolveu o dom da fé. Ele fez um desafio aos profetas dos deuses falsos. Propôs que o Deus que respondesse com fogo seria o verdadeiro Deus. E Deus honrou sua fé, fazendo cair fogo do céu sobre o altar encharcado de água (1 Rs 18.22-39). – O dom da fé não se desenvolve. E concedido, em ocasiões especiais, para a resolução de algum problema insolúvel aos meios normais, racionais ou naturais. E só é dado a quem já tem fé em Deus e em suas promessas. “Esse dom em ação gera uma atmosfera de fé, que dá convicção de que agora tudo é possível (cf. Jo 11.40-44; Mc 9.23). [...] Esse dom é um impulso poderoso à oração da fé (cf. Tg 5.17), pois impõe a certeza de que para Deus tudo é possível (cf. Lc 1.37; Mc 10.27).”3 Quando se diz que tudo é possível deve-se ter em mente que se tem em mente tudo o que é de acordo com a vontade de Deus.

ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Professor, para introduzir a lição, indague: “O que é fé?" "Que diferença há entre fé salvífica e o dom da fé?" Faça as perguntas diretamente aos alunos, individualmente. O objetivo é avaliar o conhecimento dos alunos a respeito do tema. Depois de ouvi-los escreva no quadro o esquema abaixo e discuta-o com a turma.

·  = "Firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem" (Hb 11.1).

·  Fé salvífica = "Proveniente da proclamação do Evangelho, esta fé leva-nos a receber a Cristo como Salvador".

·  Dom da fé = "Capacidade que o Espírito Santo concede ao crente para este realizar coisas que transcendem à vida natural".

É muito importante distinguir essas expressões uma das outras, a fim de que haja um perfeito entendimento.

  II. DONS DE CURAR (1 Co 12.9)  

1. O que são os dons de curar? São recursos de caráter sobrenatural para atuarem na cura de qualquer tipo de enfermidade. Por isso a expressão está no plural. Deus é quem cura! Ele concede os “dons” segundo o conselho da sua vontade, sabedoria e no momento certo. No Antigo Testamento, o Todo-Poderoso se manifestou ao povo de Israel como “Jeová Rafá” — O Senhor que sara (Êx 1 5.26; SI 103.3). A concessão desses dons à Igreja deve-se à necessidade de o Evangelho ser anunciado como uma mensagem poderosa ao não crente, que outrora não tinha fé, mas que agora passou a crer no Evangelho, arrependendo-se dos seus pecados (Mc 16.1 7,1 8; At 3.1 1-26; 4.23-31).

2. A redenção e as curas. Apesar de o crente ser redimido pelo Senhor através da obra expiatória efetuada por Jesus na cruz do Calvário, ele (o crente) ainda aguarda a redenção do seu próprio corpo. Quando o apóstolo Paulo tratou dos males que afligem à criação como resultado do pecado da humanidade, escreveu que “não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo” (Rm 8.2 3). Enquanto não recebermos o novo corpo imortal e incorruptível estaremos sujeitos a toda sorte de doenças. 

3. A necessidade desses dons. Os dons de curar são necessários à igreja da atualidade. Num mundo incrédulo em que a medicina se desenvolve rapidamente, o ser humano pensa que pode superar a Deus. A humanidade precisa compreender a sua limitação e convencer-se da sublime realidade de um Deus Todo-Poderoso que, em sua misericórdia e amor, concede sabedoria a homens e mulheres para multiplicar o conhecimento da medicina visando o bem-estar de todos. Quanto aos dons de curas, são manifestações de poder sobrenatural que o Espírito Santo colocou à disposição da Igreja de Cristo para que a humanidade reconheça que Deus tem o poder de sanar todas as doenças. 

Os dons de curar são de grande valor na pregação do evangelho. As pessoas em geral são descrentes do poder de Deus. Mas, quando veem uma cura de impacto, como a cura de câncer, de diabetes, de paralisia, ou de doenças degenerativas, com Alzheimer, doença de Parkinson, e outras, são compelidas a ter sua fé despertada para o poder de Deus em suas vidas. Milagres de cura, sem transformação de vidas, pelo poder do evangelho de Cristo, tornam-se apenas elementos de “shows” para glorificação do pregador. Mas quando as curas contribuem para a glorificação a Deus, têm grande valor para a divulgação do evangelho. – É promessa de Jesus à sua igreja a delegação de poder para curar enfermidades, como parte da missão de pregar o evangelho (Mc 16.15-18). – Como os sinais devem seguir “aos que crerem”, pode-se entender que pode haver curas, ministradas por uma pessoa, que não tem o dom ou dons de curar. Num momento, um evangelizador, num hospital, ou em outro lugar, pode dizer para um doente: “Em nome de Jesus seja curado”, e o enfermo levantar-se sadio para glória do Senhor. No entanto, no meio da congregação local, em qualquer lugar, é necessário que se busquem os dons de curar, que poderão ser usados, em momentos ou situações em que Deus queira manifestar o seu poder curador, para glória de Jesus Cristo. – É interessante notar que todos os outros dons estão no singular. Mas os dons de curar estão no plural. Não há, portanto, um “dom de curar”, mas uma variedade deles. Os estudiosos não são unânimes na interpretação desse assunto. Há quem acredite que um crente, que possui tais dons, tenha capacidade para curar qualquer enfermidade. A pluralidade dos dons de curar parece indicar que há pessoas que têm o dom de orar por determinadas enfermidades; e outras, para orar por outros tipos de doenças. – Stanley Horton diz “que ninguém pode dizer: ‘Eu tenho o dom de curar’, como se este dom pudesse ser possuído e ministrado ao bel-prazer da pessoa. Cada cura necessita de um dom especial, não à pessoa o dom, mas por meio daquela pessoa para o indivíduo doente, de forma que Deus receba toda a glória. Ele é quem cura (At 4.30)”. Infelizmente, o que se vê, em muitos programas de TV, de determinadas igrejas, é o endeusamento do pastor, do bispo ou apóstolo, que ministra curas de maneira cotidiana. Não ousamos dizer que pessoas não são curadas, em tais igrejas. Mas a exaltação do ministrante de curas ofusca a glória que só pertence a Deus. Diz Boyd acerca desses dons: “Não concordamos com a opinião de que este dom garante a libertação do enfermo, independente da soberania divina ou das condições espirituais e morais do enfermo”. De fato, há ensinos heréticos, desde o século passado, no seio de igrejas evangélicas, notadamente das neopentecostais, que entendem que o possuidor do dom ou dos dons de curar têm poderes ilimitados. Não é bem assim. Se uma pessoa está doente, pode buscar a cura, através da oração da fé. No entanto, Deus não está obrigado a atender todos os pedidos ou súplicas pela cura de nenhuma pessoa. Pr. Eurico Bergstén corrobora esse entendimento, quando afirma: “Esse dom não significa uma capacidade de curar quando e como a pessoa quer, porém é sempre uma transmissão de poder do Espírito Santo. Por isso, é indispensável que o portador do dom esteja ligado a Cristo e siga a sua direção [...]”. – É desejável que os crentes em Jesus procurem “com zelo os melhores dons” (1 Co 12.31). Certamente, os dons de curar são muito necessários, num mundo em que as enfermidades têm-se multiplicado assustadoramente, a despeito dos notáveis avanços da medicina. Esses dons são recursos especiais à disposição da igreja do Senhor Jesus Cristo, para, sob a soberania de Deus, e segundo a fé, os crentes sejam beneficiados com a cura das enfermidades físicas ou emocionais.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Dons de Curas

No grego, as palavras dons e curas estão no plural. Alguns entendem que isso significa que há uma variedade de formas desse dom. Entre os que pensam assim, há quem entenda que certas pessoas têm um dom de curar um tipo de doença ou enfermidade, ao passo que outros curam outro tipo. Filipe, por exemplo, foi especialmente usado para curar os paralíticos e os coxos (At 8.7). Outros, ainda, entendem que Deus dá a uma pessoa um dom na forma de um suprimento de curas numa ocasião específica, ao passo que outro suprimento é dado em outra ocasião, talvez a outra pessoa, mas provavelmente no ministério do evangelista.

Ainda outros entendem que toda cura é um dom especial, isto é, o dom é para o enfermo que tem a necessidade. Logo, segundo esse ponto de vista, o Espírito Santo não torna os homens curadores. Pelo contrário, Ele providencia um novo ministério de cura para cada necessidade, à medida que ela surge na Igreja. Por exemplo, a virtude (poder) que flui para dentro do corpo da mulher com o fluxo de sangue trouxe para ela um gracioso dom de cura (Mt 9.20-22). Atos 3.6 diz, literalmente: ’0 que tenho, isso te dou'. Isso está no singular e indica um dom específico dado a Pedro para este dar ao coxo. Não parece significar que tinha um reservatório de dons de curas dentro de si, mas um novo dom para cada enfermo a quem ministrava" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.297).

III. DOM DE OPERAÇÃO DE MARAVILHAS (1 Co 12.10)

1. O dom de operação de maravilhas. Este dom realiza obras extraordinárias além do poder humano. O dom de operação de maravilhas altera a ordem natural das coisas consideradas impossíveis e impensáveis. 

2. Exemplos bíblicos. O ministério terreno de Jesus foi marcado por operações de maravilhas. O Bom Mestre repreendeu o vento e o mar, e estes logo se aquietaram (Mt 8.23-27). O nosso Senhor atestou por muitas vezes o seu poder sobre a natureza criada para sua glória (Jo 1.3). Podemos destacar outros exemplos de operação de maravilhas no ministério de Jesus: a ressurreição do filho da viúva de Naim (Lc 7.11 -1 7); a ressurreição da filha de Jairo (Mc 5.21-43); a ressurreição de Lázaro, morto havia quatro dias (Jo 11.1-45). Nosso Senhor tem todo o poder sobre a morte, pois para Ele “nada é impossível” (Lc 1.37). Nosso Deus não mudou. O Pai Celestial deu dons a sua igreja a fim de que ela atue no mundo moderno com poder e graça.

3. Distorções no uso dos dons de curar e de operação de maravilhas. O cristão não tem autorização divina para “de terminar”, “decretar” ou “exigir” a cura dos enfermos. A nossa relação com Deus não se dá em forma de barganha. Quem somos nós para exigir de Deus alguma coisa? Somos seres humanos limitados! Se (não fosse a graça e a misericórdia de Deus, o que seria de nós? Como discípulos de Cristo, devemos rogar ao Pai, buscando-o de todo o nosso coração para curar os doentes, pois a Palavra de Deus recomenda que oremos pelos enfermos (Tg 5.14). A oração do justo pode muito em seus efeitos (Tg 5.16), e independe de se ter o dom ou não. Jesus nos ensinou que em seu nome deveríamos impor as mãos sobre os enfermos para que eles sejam curados (Mc 16.18). Nossa responsabilidade é orar pedindo a cura. Quem sara o enfermo, de acordo com a sua soberana vontade, é Deus.

O crente que impõe as mãos sobre o enfermo não pode ser tratado como um ídolo na igreja, principalmente se o enfermo for curado. Nem podemos imaginar que porque aconteceu o milagre aquela vez, sempre haverá outros milagres. Que o Altíssimo tenha misericórdia e proteja-nos dessa pretensão! Quem opera os sinais e as maravilhas é o Senhor, não o homem. Toda ação decorrente dos dons vem do Espírito Santo e, por isso, não podemos agendar dias nem marcar horários para sua operação. Façamos a obra de Deus com honestidade e decência! 

O dom de operações de Maravilhas é algo sobrenatural (2Rs 4.1-7); algo que vai contra todas as leis da natureza (2Rs 4.32-37); algo que vai contra as leis da química e da física (2Rs 6.1-7); algo que está acima da compreensão e raciocínio humano, capaz até mesmo de mudar toda a ordem universal (Js 10.12-13). Existem três termos gregos identificados com o dom de maravilhas: dunamis, que significa poder, sem o qual não haveria milagres. – Um milagre é uma manifestação de poder sobrenatural no reino natural. Esse dom chamado de Operação de Milagres e também é chamado de dom de operação de maravilhas (gr. energemata dunameón). Desses termos gregos derivam as palavras “energia” e “dinamite”. São palavras plurais, no idioma original. Isso dá a entender que pode haver uma variedade enorme de milagres, operados pelo poder do Espírito Santo. – Assim como a dinamite explode rochas consideradas impenetráveis, o dom de milagres anula a ordem natural das coisas. Muitas vezes, é uma verdadeira explosão do poder de Deus, no mundo natural ou na esfera espiritual. Na travessia do Mar Vermelho, temos um exemplo extraordinário de um milagre, operado por Deus. O povo de Israel, com cerca de 3 milhões de pessoas, jamais teria condições de adentrar as águas à sua frente, acossado pelo exército de Faraó. Mas Deus fez o impossível, alterando o curso dos elementos da natureza. “Então, Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas lhes foram como muro à sua direita e à sua esquerda” (Êx 14.21,22).

Em meio a uma grave crise climática, em Israel, uma viúva clamou ao profeta Eliseu para que seus dois filhos não fossem levados cativos para pagar dívidas deixadas pelo seu esposo. Eliseu indagou o que ela tinha em casa, e, em resposta, a mulher disse que só tinham “uma botija de azeite” (2 Rs 4.2). Algo como meio litro ou um pouco mais. Mas isso não significava nada diante do grande problema da dívida que a mulher tinha que pagar, para não perder a guarda de seus dois filhos. A ordem normal das coisas, à luz dos costumes e leis de seu tempo, exigia que ela entregasse os filhos ao credor. – Mas a fé do profeta ultrapassou os limites do plano natural e, confiando em Deus, disse à mulher que conseguisse muitos vasos com seus vizinhos, e os enchesse com aquela pequena quantidade de azeite. A mulher obedeceu ao profeta, e presenciou, com seus filhos um milagre extraordinário. À proporção que derramava o azeite nas vasilhas, o azeite aumentava. Aquilo que parecia ser o fim, foi o começo de um novo tempo na vida daquela pobre viúva. O profeta de Deus disse: “Então, veio ela e o fez saber ao homem de Deus; e disse ele: Vai, vende o azeite e paga a tua dívida; e tu e teus filhos vivei do resto” (2 Rs 4.7). O gravíssimo problema só teve solução mediante a intervenção do poder de Deus na ordem social e econômica daquela família. – O fenômeno em que o sol se deteve por quase um dia inteiro, para que Josué pudesse vencer os amorreus, é um exemplo típico de um milagre ou de maravilha operada por Deus envolvendo seus servos. Pelas leis da mecânica celeste, o sol se põe, no final da tarde, ou “se põe”, como se diz na linguagem figurada. Mas, se a noite caísse, Israel não teria condições de vencer os poderosos exércitos inimigos. Tal situação exigia uma ação de emergência. E Josué, o líder da tomada da terra prometida, pôs sua fé em ação, e confiou em Deus, ao determinar que o Sol se detivesse em Gibeão, e a lua se detivesse, no vale de Aijalom. Diz a Bíblia que, contrariando todas as leis da mecânica celeste, houve um fenômeno jamais visto: “E o sol se deteve, e a lua parou, até que o povo se vingou de seus inimigos. Isso não está escrito no Livro do Reto? O sol, pois, se deteve no meio do céu e não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro. E não houve dia semelhante a este, nem antes nem depois dele, ouvindo o Senhor, assim, a voz de um homem; porque o Senhor pelejava por Israel” (Js 10.13,14). Esse fato tem causado críticas na mente dos incrédulos, pois imaginam que tal relato não passa de uma lenda judaica. Tal visão é compreensível, pois os críticos usam o pensamento racional, lógico, natural. Enquanto o milagre é sobrenatural, fora da lógica e da humana. Deus não está sujeito às leis da natureza. Quando Ele quer, suspende seus efeitos e cumpre os seus propósitos para o seu povo, ou para um servo seu.

Quem mais operou milagres foi Jesus. Após ministrar sua palavra, Jesus entrou no barco com seus discípulos, acompanhado de outros barquinhos. Inesperadamente, levantou-se, no mar, um grande temporal de vento, provocando ondas que cobriam o barco. Talvez pelo cansaço da jornada, Jesus estava repousando na popa da embarcação, enquanto seus discípulos enfrentavam a tormenta. “E ele estava na popa dormindo sobre uma almofada; e despertaram-no, dizendo-lhe: Mestre, não te importa que pereçamos? E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala-te, aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança” (Mc 8.38,39). Nenhum homem, a:é hoje, teve o poder de falar ao vento e ao mar, na tempestade, e os elementos da natureza ouvirem a sua voz. Mas Jesus mostrou, mais de uma vez, que tem poder sobre a natureza, que Ele mesmo criou (Jo 1.3).

O mais terrível inimigo do homem, em sua condição humana, é a morte (1 Co 15.26). E decreto divino, por causa do pecado (Gn 2.17). O homem nasce, desenvolve-se e morre. É o curso natural da existência biológica. Uns morrem mais cedo; outros, mais tarde. Mas Jesus, o criador, doador e Senhor da vida, pode, quando Ele quer, interromper esse curso da natureza humana. Em seu ministério, Jesus demonstrou seu poder sobre a morte física. Ele ressuscitou o filho único de uma viúva, de Naim, quando o féretro já estava a caminho do cemitério (Lc 7.11-16). – Jesus ressuscitou a filha de Jairo, que falecera fazia pouco tempo (Mc 5.22-24). Alguém poderia alegar, em sua mente racionalista, que a menina experimentara apenas um estado cataléptico, ou sono profundo e passageiro. Mas para que não pairassem dúvidas sobre o poder sobrenatural de Cristo sobre a morte, Ele se deixou demorar onde se encontrava, ao receber a notícia de que Lázaro, seu amigo, de Betânia, estava muito enfermo. Em seguida, ele cientifica aos discípulos de que Lázaro houvera morrido. Ao chegar em Betânia, já fazia quatro dias do seu falecimento. Não havia a mínima condição para reverter aquela situação, pois o corpo do defunto já estava sofrendo os efeitos da decomposição. Mas para Jesus, nada é impossível (Lc 1.37). Após consolar a família, Jesus se dirigiu ao túmulo, mandou que fizessem o que as pessoas poderiam fazer naturalmente, tirando a pedra que fechava a entrada da sepultura (Jo 11.43-45). Completando a demonstração real de que a morte não vence o autor da vida, Jesus ressuscitou, após três dias na sepultura, cumprindo o que Ele predissera para seus discípulos (Lc 24.1-8). – Se é a vontade de Deus, e motivo para glorificação ao seu nome, ele pode conceder autoridade a qualquer de seus servos para operar milagres extraordinários. No entanto, quando o pregador, por permissão de Deus, opera milagres para sua promoção pessoal, de seu ministério ou da igreja a que pertence, resta a dúvida se aquele milagre foi de Deus ou de outra origem. Pior ainda, quando o operador de milagres o faz, visando obter ganhos financeiros e enriquecimento pessoal. Isso não glorifica a Deus. E procedimento lastimável, suscetível do juízo de Deus no momento próprio.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

"Diferença entre dom de fé e a operação de milagres

A operação do dom de fé tem algo de semelhante ao dom de operação de milagres, mas esses dons se distinguem pelo fato de o dom de fé operar sem que, às vezes, seja visto seu efeito instantâneo, enquanto a operação de milagres tem efeito imediato.

Quando Jesus se aproximou da figueira sem fruto, disse: 'Nunca mais coma alguém fruto de ti. E seus discípulos ouviram isto' (Mc 11.14). Os discípulos simplesmente ouviram as palavras de Jesus. Parecia que nada havia acontecido. Entretanto, 'passando eles pela manhã, viram que a figueira secara desde a raiz' (Mc 11.20). Enquanto o dom de operação de milagres tem ação instantânea, o dom de fé opera com os mesmos resultados, embora não seja de modo tão espetacular. De certa maneira a fé sobrenatural é acessível a quase todos os crentes na igreja, e pela fé tudo podemos conseguir, pois 'tudo é possível ao que crê'" (SOUZA, Estêvam Ângelo de. Nos Domínios do Espírito. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1987, p.185).

  CONCLUSÃO

Deus pode conceder a seus servos o dom da fé, dons de curar e o de operação de milagres, mas sempre de acordo com a sua vontade e graça. Lembre-se de que os dons de poder contribuem para legitimar a pregação do Evangelho. Infelizmente, há pessoas que querem utilizar essas dádivas para obterem lucros financeiros e enriquecimento pessoal. Isto envergonha o nome de Jesus e mancha a idoneidade da Igreja na sociedade. Quem procede desta forma está suscetível ao juízo de Deus, que virá no tempo próprio. Que nós, a Igreja, o povo do Senhor, façamos uso dos dons de poder para propagar o Evangelho de nosso Senhor e glorificar o nome do Pai no poder do Espírito Santo! – Pela soberania divina é que os dons são distribuídos, não como recompensa ou pelo mérito. Concluo afirmando que é falacioso, antibíblico e insensato o ensino de que aquele que possui um dom de operação exteriorizada (mais visível) é mais espiritual do que quem tem dons de operação mais interiorizada, menos visível. Também, quando uma pessoa possui um dom espiritual, isso não significa que Deus aprova tudo quanto ela faz ou ensina. Os dons de poder, como os demais dons, são soberanamente distribuídos pelo Espírito, continuam atuais e disponíveis à Igreja para a glória do nome do Senhor. O Espírito Santo manifesta Seus dons e poder em homens e mulheres de Deus, para que eles possam fazer o que Ele decide soberanamente o que deve ser realizado. Nós precisamos destas Manifestações Poderosas em nossa vida para que possamos cumprir o nosso papel para o qual fomos alistados: servir e edificar a Igreja, estender a mão aos incrédulos e edificar a nossa fé. No pensamento do apóstolo Paulo, vida na igreja e dons do Espírito Santo eram coisas intrínsecas. Jesus, o nosso Mestre Poe excelência viveu, trabalhou e orou no poder do Espírito Santo e é dele a afirmativa que diz: “Aquele que crê em mim, também fará as obras que eu faço.” Com a mesma unção que estava sobre Ele nós também podemos fazer estas obras e levar a cabo seu imperativo de ir e ensinar todas as nações. Certa feita, os opositores da seita do Caminho inquiriram os discípulos: “Por meio de que poder vocês fizeram isso?” Foi no poder do qual Jesus havia falado: “Recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo”.

REFERÊNCIAS

DICIONÁRIO VINE - W. E. Vine, Merril F. Unger & William White Jr. CPAD, Rio de Janeiro, 2002, p. 648.

LIÇÕES BÍBLICAS. 2º Trimestre 2021 - Lição 4. Rio de Janeiro: CPAD, 25, abr. 2021.

LIMA, Elinaldo Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário