COMENTÁRIO E SUBSÍDIO I
INTRODUÇÃO
O teólogo pentecostal Stanley Horton afirma que “a maioria dos estudiosos classifica os dons de 1 Coríntios 12.8-10 em três categorias: revelação, poder e expressão, [tendo] três dons em cada categoria”. Na lição desta semana estudaremos a respeito dos dons da “primeira categoria”: os de revelação. Estes são concedidos aos servos de Deus para o aconselhamento e orientação da Igreja do Senhor. – Os dons e revelação constituem parte da revelação de Deus, concedida ao homem salvo, para que, por eles, a “multiforme sabedoria” divina seja manifestada no meio da Igreja, e os crentes em Jesus sejam protegidos das sutilezas do Adversário e das maquinações humanas contra a fé cristã.
Sem a presença física de Cristo, após sua Ascensão aos céus, os salvos, reunidos em igrejas locais, precisam, de maneira indispensável, dos dons espirituais, tanto para cumprirem a Missão confiada por Cristo, quanto para lutar e vencer “as hostes espirituais da maldade nos lugares celestiais” (Ef 6.12). Sem eles, a igreja local não passa de uma comunidade humana, uma associação religiosa, como um “vale de ossos”, transformados em corpos com tecidos humanos, mas sem vida. Tem estruturas humanas, ministeriais, denominacionais, intelectuais, políticas e administrativas, mas não tem o poder de Deus em sua vida institucional. Os dons espirituais propiciam a provisão divina para a igreja cumprir a sua missão, concedida por Cristo, de proclamar o evangelho por todo o mundo e a toda a criatura.
I. A PALAVRA DA SABEDORIA
1. Conceito. O termo palavra exprime uma manifestação verbal ou escrita.
Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, sabedoria significa “discernimento
inspirado nas coisas sobrenaturais e humanas”. A sabedoria abordada pelo
apóstolo Paulo em 1 Coríntios 12.8a refere-se a uma capacitação divina
sobrenatural para tomada de decisões sábias e em circunstâncias extremas e
difíceis. De acordo com Estêvam Ângelo de Souza, “a palavra da sabedoria é a
sabedoria de Deus, ou, mais especificamente, um fragmento da sabedoria divina,
que nos é dada por meios sobrenaturais”.
2. A Bíblia e a palavra de sabedoria. Embora na Antiga Aliança os dons espirituais
não fossem plena e claramente evidenciados como na Nova, alguns episódios do
Antigo Testamento vislumbram o quanto Deus conferia aos homens sabedoria do
alto para executar tarefas ou tomar decisões. Um exemplo disso é a revelação e
a interpretação dos sonhos de Faraó através de José, o filho de Jacó (Gn
41.14-41). Ele não apenas interpretou os sonhos de Faraó, mas trouxe
orientações sábias para que o Egito se preparasse para o período de fome que
estava para vir. A habilidade do rei Salomão em resolver causas complexas,
igualmente, é um admirável exemplo de dom da sabedoria no Antigo Testamento
(1Rs 3.16-28; 4.29-34).
No Novo Testamento podemos tomar como exemplo de palavra da sabedoria a
exposição da Escritura realizada pelo diácono e primeiro mártir cristão,
Estevão. O livro de Atos conta-nos que os sábios da sinagoga, chamada dos
Libertos, “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At
6.9,10).
3. Uma liderança sábia. A palavra de sabedoria é de grande valor na tarefa do
aconselhamento pessoal e em situações que demandam uma orientação no exercício
do ministério pastoral. Entretanto, tenhamos cuidado para não confundir a
manifestação desse dom com o nosso desejo pessoal. Lembremo-nos de que Deus
manifesta os dons em nossas vidas segundo o conselho da sua sabedoria, não da
nossa. Tenhamos maturidade e cuidado no uso dos dons!
Os “dons de revelação”
aparecem como categoria de grande valor e necessidade, no meio das igrejas
locais. No tempo de Paulo, havia confusões, mistificações doutrinárias, ensinos
heréticos e tantos outros tipos de informações, que chegavam aos ouvidos dos
crentes, que muitos se desviaram, iludidos pelos “ventos de doutrina” (Ef
4.14). O gnosticismo ameaçava a integridade da fé cristã. Os judaizantes
queriam impor seus ensinos legalistas e ultrapassados. A igreja precisava de
recursos espirituais sobrenaturais para não ser esmagada pelas heresias, muitas
delas travestidas de verdades absolutas. Só a revelação de Deus, manifestada de
forma incisiva, poderia evitar a derrocada do cristianismo.
E, nos dias presentes,
será que não há necessidade da revelação especial de Deus, através de sua
palavra e de dons ou carismas que façam a diferença, para que os cristãos
saibam discernir o “joio do trigo”? Certamente hoje, mais do que nunca, a
igreja de Jesus, em toda a parte, necessita desses recursos. Os dons de
revelação podem identificar a origem, os meios e os propósitos de muitas falsas
doutrinas que surgem a cada dia, no meio evangélico. Pela revelação
sobrenatural, pode-se desmascarar os falsos pastores, os “obreiros
fraudulentos”, “de torpe ganância”.
É parte da sabedoria de Deus, com a
finalidade de propiciar entendimento, na ministração da palavra ou pregação; é
de grande valor na tarefa de aconselhamento, em situações que demandam uma
orientação sábia, notadamente no ministério pastoral. É de fundamental
importância no exercício da liderança, da administração eclesiástica, na
separação de obreiros, ultrapassando os limites do saber intelectual ou humano.
Jesus agradeceu ao Pai por essa revelação: “Naquela mesma hora, se alegrou
Jesus no Espírito Santo e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da
terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste
às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve” (Lc 10.21).
“Esse dom proporciona, pela operação
do Espírito Santo, uma compreensão (cf. Ef 3.4) da profundidade da sabedoria de
Deus, ensinando a aplicá-la, seja no trabalho seja nas decisões no serviço do
Senhor, e a expô-la a outros, de modo a ser bem entendida”.1 Quando os que
dirigem a igreja local contam com esse dom, dispõem de uma diversidade de
serviços ou ministérios que dinamizam o trabalho da igreja (1 Co 12.28) e a
edificação da igreja é feita com sabedoria (1 Co 3.10). Quando surgem
problemas, no meio da congregação, as soluções são encontradas com a ajuda do
Espírito Santo (At 6.1-7; 15.11-21).
Paulo recebeu essa visão, de que há
uma sabedoria sublime, quando escreveu aos coríntios, dizendo: “Mas, como está
escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao
coração do homem são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las
revelou pelo seu Espírito; porque o Espírito penetra todas as coisas, ainda as
profundezas de Deus. Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito
do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o
Espírito de Deus” (1 Co 2.9-11).
Essa sabedoria é de
altíssimo nível, e transcende os limites da sabedoria natural ou humana. Não se
adquire nas escolas seculares, nem também nas escolas teológicas ou
filosóficas. Ela é concedida por Deus, a quem Ele quer, visando atender à
necessidade da igreja, ou individual, de algum servo ou serva sua,
principalmente em ocasiões em que o saber natural é insuficiente para a tomada
de decisões, ou resoluções difíceis.
No Antigo Testamento, temos alguns exemplos marcantes dessa revelação da sabedoria de Deus. Vemos tal sabedoria na construção do Tabernáculo (Êx 36.1,2). José, filho de Jacó, teve momentos especiais em sua vida, em que demonstrou ter a sabedoria concedida por Deus, em situações extremamente significativas. Na prisão, interpretou sonhos de servos de Faraó, os quais se cumpriram plenamente. Chamado ao palácio real, diante de todos os sábios, adivinhos e conselheiros do rei, interpretou os sonhos proféticos que Deus concedera ao monarca egípcio, e, ainda por cima, deu instruções e consultoria gratuita sobre planejamento, economia, contabilidade e finanças a Faraó. Se não fosse a sabedoria do Espírito de Deus, jamais o jovem hebreu teria tamanha capacidade para interpretar os misteriosos sonhos das vacas gordas e das vacas magras, e foi elevado à posição de Governador do Egito (cf. Gn 41.14-41).
A proverbial sabedoria de Salomão
era, sem dúvida alguma, manifestação da sabedoria de Deus, para a resolução de
“causas impossíveis”. O caso das duas mulheres, que disputavam a mesma criança
demonstra tal capacidade, proveniente do Espírito de Deus (1 Rs 3.16-28). Antes
de desviar-se dos caminhos do Senhor, em sua velhice, Salomão foi um exemplo
como beneficiário da sublime sabedoria de Deus. “E deu Deus a Salomão
sabedoria, e muitíssimo entendimento, e largueza de coração, como a areia que
está na praia do mar. E era a sabedoria de Salomão maior do que a sabedoria de
todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios” (1 Rs 4.29,30).
Em o Novo Testamento, há diversas
referências quanto à aplicabilidade dessa sabedoria divina. Paulo exorta aos
colossenses a que saibam transmitir a palavra aos ouvintes, dizendo: “Andai com
sabedoria para com os que estão de fora, remindo o tempo. A vossa palavra seja
sempre agradável, temperada com sal, para que saibais como vos convém responder
a cada um” (Cl 4.5,6). A falta dessa sabedoria de Deus pode causar graves prejuízos
à pregação do evangelho. Há pregadores, que usam o púlpito, em eventos
evangelísticos, de maneira arrogante e prepotente. Houve um que dizia, para uma
grande multidão, que os pastores eram um bando de trambiqueiros; e que a igreja
(denominação da qual fazia parte) estava ultrapassada. E dizia, diante de
pessoas não crentes; “Não sei por que Deus não tira essa velharia de cena”. A
sabedoria desse tipo de pregador não é do Espírito Santo. “Essa não é a
sabedoria que vem do alto, mas é terrena, animal e diabólica” (Tg 3.15).
Na vida de Jesus, como o “Filho do
Homem”, por diversas vezes, ele demonstrou essa sabedoria vinda do Alto. Ao
chegar à sua pátria, causou profunda admiração em seus conterrâneos, por causa
da sabedoria como que ministrava a mensagem. “E, chegando à sua pátria,
ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam e diziam: Donde
veio a este a sabedoria e estas maravilhas? Não é este o filho do carpinteiro?
E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas? E
não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio, pois, tudo isso?” (Mt
13.54-56 — grifo nosso).
Essa mesma sabedoria tem sido
identificada, na vida de irmãos humildes, ao longo da História da Igreja. Há
casos em que pessoas de pouca instrução formal, usadas por Deus, transmitem
mensagens de profundo significado e conteúdo espiritual, que provocam admiração
nos que o ouvem. Em Natal, décadas atrás, o folclorista Luís da Câmara Cascudo,
um dos ícones da literatura nacional, estava num culto, na Assembleia de Deus.
Foi dada oportunidade a um crente muito humilde, que, cheio do Espírito Santo,
entregou a mensagem na unção de Deus. O ilustre visitante não se conteve, e
exclamou: “Esse homem prega e mostra o céu por dentro!”.
Na vida da igreja local, há casos
interessantes, do exercício da sabedoria divina, pois Deus é o mesmo. Um novo
convertido, homem do campo, recebeu a visita de um neto, que era formado em
Medicina, em faculdade famosa. Sabendo que o avô houvera aceitado a Cristo,
passou a criticá-lo com arrogância, dizendo que, em seus estudos houvera
aprendido muitas coisas, inclusive que Deus não existe, que o homem proveio de
um macaco, e, depois de desfilar outras informações do que aprendera, perguntou
ao velho crente: “E, nessa crença, o que o senhor aprendeu?”. O novo
convertido, que nem sequer tivera tempo de conhecer bem a Bíblia, respondeu ao
neto ateu: “Eu aprendi a dizer: para trás de mim, Satanás!”. O materialista
despediu-se, dizendo que não adiantava lutar “contra esses crentes...”. É
interessante que anotemos que o dom da palavra da sabedoria não faz do seu
portador uma pessoa mais sábia do que as outras. Diz Horton: “O Espírito não
torna a pessoa sábia por meio deste dom, nem significa que a pessoa mais tarde
não possa cometer erros (cf. o exemplo do rei Salomão que, no fim da vida, não
só errou, mas pecou).”
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA
Professor, reproduza no quadro o esquema da página seguinte. Utilize-o para introduzir a lição, pois a partir desta estudaremos detalhadamente os dons, então é importante que os alunos conheçam a classificação geral dos nove dons descritos no capítulo 12 de 1 Coríntios. Ao explicar o quadro, ressalte a semelhança que existe entre os respectivos dons. Conclua explicando que todos os dons, independentemente da sua classificação, são importantes e necessários para a edificação do Corpo de Cristo.
II. A PALAVRA DA CIÊNCIA
1. O que é? Este dom muito se relaciona ao ensino das verdades da Palavra de
Deus, fruto do resultado da iluminação do Espírito acerca das revelações dos
mistérios de Deus conforme aborda Stanley Horton, em sua Teologia Sistemática
(CPAD). Este dom também se relaciona à capacidade sobrenatural concedida pelo
Espírito Santo ao crente para este conhecer fatos e circunstâncias ocultas.
2. Sua função. O dom da palavra da ciência não visa servir a propósitos triviais,
como o de descobrir o significado dos tecidos do Tabernáculo ou a identidade da
mulher de Caim, etc. Isto é mera curiosidade humana, e o dom de Deus não foi
dado para satisfazê-la. A manifestação sobrenatural deste dom tem a finalidade
de preservar a vida da igreja, livrando-a de qualquer engano ou artimanha do
maligno.
3. Exemplos bíblicos da palavra da ciência. Ao profeta Eliseu foram
revelados os planos de guerra do rei da Síria. Quando o rei sírio pensou em
atacar o exército de Israel, surpreendendo-o em determinado lugar, o profeta
alertou o rei de Israel sobre os planos inimigos (2Rs 6.8-12). Outro exemplo
foi a revelação de Daniel acerca do sonho de Nabucodonosor, quando Deus
descortinou a história dos grandes impérios mundiais ao profeta (Dn 2.2,3;
17-19). Em o Novo Testamento, esse dom foi manifesto quando o apóstolo Pedro
desmascarou a mentira de Ananias e Safira (At 5.1-11). O dom da palavra da
ciência não é adivinhação, mas conhecimento, concedido sobrenaturalmente, da
parte de Deus.
A Palavra do Conhecimento pode
ser dado por sonho, por visão, por revelação especial, por voz de Deus na
mente, operando na esfera humana, no seio da igreja; sendo um conhecimento
sobrenatural propiciado por Deus. Paulo fala de “todos os mistérios e toda a
ciência” (1 Co 13.2), que só têm valor se for sob a graça do amor de Deus. Esse dom revela coisas que
não são percebidas pela visão natural (ver 1 Sm 16.7; Jo 2.24,25). É uma
revelação sobrenatural do Espírito Santo ao ser humano de fatos e informações
que seriam impossíveis de serem conhecidos se não fossem liberados da mente de
Deus e pode envolver pessoas, lugares e objetos. É uma palavra de conhecimento
do presente ou de alguma coisa do passado que Deus quer revelar, para que seu
nome seja engrandecido e glorificado. Isso só pode acontecer pela ação do
Espírito Santo. Este dom permite que a pessoa identifique fatos recentes, como
cumprimento de profecias bíblicas antigas. Somente o conhecimento da Palavra de
Deus, permitirá que a pessoa reconheça uma profecia e o seu cumprimento.
Exemplos: • O jovem Samuel, foi chamado por Deus e recebeu uma palavra de
conhecimento sobre o futuro da família do sacerdote Eli. I Samuel 3:1-14. •
Mais tarde, Samuel recebeu a revelação de que Saul seria ungido rei de Israel,
e que ele estava escondido entre as bagagens. I Samuel 9:15-16 e I Samuel
10:22. • O profeta Eliseu preveniu o rei de Israel para não seguir por
determinado caminho, por onde o rei da Síria passaria. I Reis 6:8-12. • Eliseu
prediz abundância de comida. II Reis 7:1. • Eliseu recebeu uma palavra sobre
Geazi, seu ajudante, que desobedeceu recebendo presentes do general sírio. II
Reis 5:25-26. O profeta Eliseu sabia os planos de guerra do rei da Síria, mesmo
à distância. Quando o rei pensava em atacar o exército de Israel de surpresa,
em determinado lugar o profeta de Deus alertava ao rei de Israel dos planos do
inimigo, por diversas vezes. O rei sírio ficou intrigado e desconfiou de que
haveria um traidor no meio de suas tropas. Mas um dos servos do rei o fez saber
o mistério: “E disse um dos seus servos: Não, ó rei, meu senhor; mas o profeta
Eliseu, que está em Israel, faz saber ao rei de Israel as palavras que tu falas
na tua câmara de dormir” (2 Rs 6.8-12). Era um conhecimento muito mais
aperfeiçoado do que todos os atuais sistemas de informação, com uso de
tecnologia de ponta, usados no mundo atual. Eliseu não tinha informantes, nem
sonhava com equipamentos de comunicação ou de satélites. Era a mensagem divina,
diretamente do Espírito Santo ao seu coração. Quando o profeta Samuel disse a
Saul que as jumentas do pai já haviam sido encontradas, foi pela ciência ou
conhecimento de Deus (1 Sm 9.15-20).
A revelação dada a Daniel acerca dos impérios mundiais demonstra quão grande é a sabedoria de Deus, como recurso divino para ocasiões especiais, em que de nada adianta a sabedoria humana, ou os conhecimentos adquiridos pela experiência de quem quer que seja. Quis Deus utilizar-se de um rei estrangeiro ao seu povo para revelar segredos sobre acontecimentos que teriam lugar na História, na ocasião, e para o futuro. A visão de Nabucodonosor é uma referência para a Escatologia, com base nas interpretações dadas pelo Altíssimo a Daniel, seu servo, que estava vivendo naquele País, com uma missão do mais alto significado.
Trata-se de um caso bem emblemático
do que significa receber o conhecimento, ou a revelação de Deus. O rei tivera
um sonho muito estranho, que o perturbara sobremaneira. Pela manhã, reuniu “os
magos, e os astrólogos, e os encantadores, e os caldeus, para que declarassem
ao rei qual tinha sido o seu sonho; e eles vieram e se apresentaram diante do
rei. E o rei lhes disse: Tive um sonho; e, para saber o sonho, está perturbado
o meu espírito” (Dn 2.2,3). Tudo em vão. Ninguém soube interpretar o sonho, por
uma razão muito óbvia: o rei não se lembrava do sonho! Furibundo, o rei mandou
matar todos os sábios da Babilônia, pelo fato de não saberem interpretar um
sonho de que não tiveram sequer o relato de sua visão.
Mas Daniel, que estava no reino, em
posição de destaque, pediu ao mensageiro do rei que desse um tempo para que
buscassem a interpretação. Seu pedido foi atendido, e, contando o grave
problema a seus três companheiros, foram orar ao Deus dos céus. Diz a Bíblia:
“Então, Daniel foi para a sua casa e fez saber o caso a Hananias, Misael e
Azarias, seus companheiros, e pediu que orassem a Deus, “para que pedissem
misericórdia ao Deus dos céus sobre este segredo, a fim de que Daniel e seus
companheiros não perecessem com o resto dos sábios da Babilônia. Então, foi
revelado o segredo a Daniel numa visão de noite; e Daniel louvou o Deus do céu”
(Dn 2.17-19). De maneira didática, com precisão histórica, Daniel interpretou o
sonho, mostrando ao rei o desenrolar dos acontecimentos de sua época e de
eventos futuros. Foi o conhecimento de Deus e não humano, lógico ou natural.
Esse dom revela coisas que não são
percebidas pela visão natural (ver 1 Sm 16.7; Jo 2.24,25). Na vida prática da
igreja, algumas experiências demonstram que o dom da palavra da ciência pode
ser dado nos tempos presentes. Num Círculo de Oração, em Natal-RN, as irmãs
estavam tranquilas, orando e louvando a Deus, numa congregação, anos atrás.
Apresentou-se um homem, muito bem vestido, de paletó de tecido fino, sapato
lustroso, gravata e Bíblia debaixo do braço. Ao ser interpelado, para ser
apresentado, disse que era um servo de Deus, que estava de passagem por ali, e
que viera visitar o trabalho. Acrescentou que era “filho do Ministro da
Educação, Sr. Jarbas Passarinho”. A apresentação do “ilustre” visitante foi
feita, e as irmãs de imediato quiseram ouvir uma palavra por ele.
Uma humilde serva de Deus, num
lampejo divino, disse à dirigente: “Não dê oportunidade a ele. E um mentiroso,
falso e procurado pela polícia...!”. Foi um mal-estar, pois a dirigente já ia
anunciar a oportunidade ao visitante. Mas, diante da advertência, não o fez.
Foi criticada por um santo irmão, que achou uma falta de respeito a um “servo
de Deus”, “filho de uma autoridade pública”. Esse também convidou o visitante
para ir à sua casa, num gesto de desagravo e de hospitalidade. No caminho,
dizia ao visitante: “Essas irmãs não têm sabedoria”. E pediu desculpas pelo
constrangimento. Recebeu-o em casa, apresentou à família, e ofereceu dormida ao
desconhecido.
Pela madrugada, alguém bateu à porta.
O anfitrião foi abrir, e deparou-se com policiais federais, apontando
metralhadoras para sua casa, e dizendo que ele estava preso, pois dera acolhida
a um criminoso, estelionatário, que vinha sendo rastreado em sua viagem. Quem
revelaria tal coisa a uma simples serva de Deus? Sem dúvida, foi a operação do
dom da ciência, num momento crucial. Este exemplo é prova de que Deus não muda.
Agiu nos tempos antigos. E age em todos os tempos.
É preciso entender a diferença entre o dom da sabedoria e o dom da palavra da ciência. A ciência é o conhecimento profundo, concedido por Deus, em relação às coisas divinas ou às coisas dos homens, que estão além do conhecimento natural. O dom da sabedoria refere-se à utilização do conhecimento em questões práticas da vida. Conhecimento sem sabedoria é puro exercício intelectual infrutífero e diletante. O cristão deve ter conhecimento de Deus para viver o cristianismo de forma concreta, no seu dia a dia.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
"Uma
Palavra de Sabedoria
Trata-se
de uma palavra (uma proclamação, uma declaração) de sabedoria dada para
satisfazer a necessidade de alguma ocasião [...]. Não depende da capacidade
humana nem da sabedoria natural, pois é uma revelação do conselho divino.
Mediante esse dom, a percepção sobrenatural, tanto da necessidade como da
Palavra de Deus, traz a aplicação prática daquela Palavra [...]ao problema do
momento.
Porque é uma palavra de sabedoria, fica claro que é
concedida apenas o suficiente para aquela necessidade. Este dom não nos
enaltece para um novo nível de sabedoria, nem nos torna impossibilitados de
cometer enganos. [...]. Às vezes, este dom transmite uma palavra de sabedoria
para orientar a Igreja, assim como em Atos 6.2-4; 15.13- 21. É possível,
também, que cumpra a promessa dada por Jesus, que daria 'boca de sabedoria a
quem não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem' (Lc
21.15). A prova de que Jesus falava em um dom sobrenatural (a palavra de
sabedoria) é comprovada, quando proibiu a premeditação do que diriam nas
sinagogas ou diante dos tribunais (Lc 21.13,14). Isso certamente foi cumprido
pelos apóstolos e por Estêvão (At 8.4-14,19-21, 6,9,10)" (HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo
no Antigo e Novo Testamento. 12.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 294).
III. DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS
1. O dom de discernir os espíritos. É uma capacidade sobrenatural dada
por Deus ao crente para discernir a origem e a natureza das manifestações
espirituais. De acordo com o termo grego diakrisis, a palavra discernir
significa “julgar através de”; “distinguir”. Ela denota o sentido de “se
penetrar da superfície, desmascarando e descobrindo a verdadeira fonte dos
motivos”. Stanley Horton afirma que este dom “envolve uma percepção capaz de
distinguir espíritos, cuja preocupação é proteger-nos dos ataques de Satanás e
dos espíritos malignos” (cf. 1Jo 4.1).
2. As fontes das manifestações espirituais. Ao longo das Escrituras podemos
destacar três origens das manifestações espirituais no mundo: Deus, o homem e o
Diabo. Uma profecia, por exemplo, pode ser fruto da ordem divina ou da mente
humana ou ainda de origem maligna. Como saber? Aqui, o dom de discernir os
espíritos tem o papel essencial de preservar a saúde espiritual da congregação.
Segundo nos ensina o pastor Estêvam Ângelo, o “discernimento de espíritos não é
habilidade para descobrir as faltas alheias”. O dom não é uma permissão para
julgar a vida dos outros.
3. Discernindo as manifestações espirituais. A Palavra de Deus nos ensina que os
espíritos devem ser provados (1Jo 4.1). Toda palavra que ouvimos em nome de
Deus deve passar pelo crivo das Sagradas Escrituras, pois o Senhor Jesus nos
advertiu sobre os falsos profetas. Ele ensinou-nos que os falsos profetas são
conhecidos pelos “frutos que produzem”, isto é, pelo caráter (Mt 7.15-20). Jesus
conhece o segredo do coração humano, mas nós não, e por isso precisamos do
Espírito Santo para revelar-nos a verdadeira motivação daqueles que falam em
nome do Senhor. O apóstolo João nos advertiu acerca do “espírito do anticristo”
que já opera neste mundo (1 Jo 4.3).
Como as palavras da ciência e da
sabedoria, o dom de discernir os espíritos é uma capacitação sobrenatural do
Espírito Santo que permite conhecermos a natureza e o caráter dos espíritos.
Ajuda o crente a separar o falso do verdadeiro, o puro do impuro, o santo do
pecador, o joio do trigo e, especialmente, a intenção dos corações (Leia 1 João
4.1). a. Exemplo do Antigo Testamento: – O profeta Elizeu, homem de
Deus, desmascarou o espírito de engano em seu servo que desejou tomar de Naamã
um talento de prata e duas mudas de roupa, como pagamento da cura de sua lepra.
O pobre Geazi herdou apenas a lepra. Os que compram e vendem os dons de Deus
morrem leprosos, mesmo que esta doença não seja visível no corpo, inunda a alma
com a imundície deste pecado, chamado de simonia (2 Reis 5.20-27). b.
Exemplo do Novo Testamento:- É no Novo Testamento que este dom se manifesta em
todo o seu vigor, revelando os espíritos maus e enganadores dos últimos tempos.
Em Atos 16.16-18, Paulo enfrentou uma situação na qual precisou discernir os
espíritos. Ele conheceu a origem daquela bajulação e expulsou o demônio em nome
de Jesus Cristo. Os crentes precisam exercer este dom na atualidade, quando o
espírito de mentira está em muitos lábios, tanto ou mais que nos dias dos
apóstolos.
Esta habilidade conferida pelo
Espírito Santo para reconhecer a identidade dos espíritos que estão envolvidos
nas atividades terrenas, bons ou maus. É um dom que traz clareza a igreja do
Senhor, traz a luz as confusões e orienta. Tem como propósito proteger,
guardar, guiar e alimentar os Filhos de Deus. (Atos 16.16-18). Hoje estamos
passando por manifestações sobrenaturais e muitas vezes o povo de Deus não sabe
de onde vem, se de Deus ou do diabo. Nem todo milagre está vindo de Deus pois
Satanás também é um espírito sobrenatural. Este dom não é liberado para
julgamento do próximo (Mt 7.1), nem para achar falhas de caráter nas
pessoas, mas unicamente para discernir os espíritos. Não se engane, quem possui
esse dom não fica a tentar conhecer as pessoas interiormente. É uma farsa! Este
dom é acompanhado pela habilidade divina para resistir aos espíritos e sair
vencedor.
Somos advertidos contra os falsos
profetas. Devemos prestar atenção para não sermos enganados ou nos deixar
impressionar por eles. Profetas são aqueles que preveem as coisas que vão
acontecer. Existem alguns, mencionados no Antigo Testamento, que tinham a
pretensão de fazer previsões, sem dar nenhuma garantia, e os acontecimentos
desmentiram as suas pretensões; dentre eles, estão Zedequias (1 Rs 22.11) e um
outro Zedequias (Jr 29.21). Os profetas também ensinavam ao povo o seu dever,
de modo que os falsos profetas mencionados aqui também eram falsos mestres.
Cristo, que além de Messias era um Profeta e um Mestre enviado por Deus com a
missão de enviar outros mestres que com Ele aprendessem, está nos advertindo a
prestar atenção nos impostores. Ao invés de terem a pretensão de curar as almas
com tuna doutrina saudável, eles não fazem mais do que envenená-las. Paulo cita
como exemplo digno de ser seguido os crentes de Beréia, os quais conferiam toda
palavra de Paulo nas Escrituras. Aqui está uma grande necessidade da igreja
hoje – muitos crentes são “analfabetos” bíblicos. Esta é a causa de tantas
heresias infiltradas em nosso meio. Sem dúvida, o dom discernir os espíritos é
uma urgência hoje, pois esta é uma das maneiras pelas quais os discípulos de
Cristo poderão ser desviados do caminho ao céu, o que torna o fato uma
advertência necessária. Tomai cuidado, conservai-vos longe, não tende nada a
ver com pseudo-profetas, com profetas falsos. Até mesmo é loucura parar e
discutir com eles. Pois, eles são profetas falsos. Falsificam, deliberadamente,
a Palavra de Deus. Eles colocam suas próprias mentiras e a sabedoria de pessoas
falíveis no lugar da verdade eterna. Chegam, sem serem convidados, sem chamado.
Têm, como prática, ir àquelas pessoas que são membros duma igreja, com a
intenção deliberada de induzi-las a abandonarem a verdade. São sábios em sua
própria presunção e nas formas do engano. Chegam numa forma muito humilde, na
vestimenta da inocência e inofensividade. Confessam ter autorização do próprio
Deus, e são adeptos de fingida amabilidade. Mas seu verdadeiro caráter se
mostrará depois, visto que, por inclinação e treinamento, são lobos vorazes.
Sua natureza é devorar. São gananciosos por dinheiro, ambiciosos por poder,
mas, acima de tudo, são ansiosos para destruir almas. São assassinos de almas
humanas.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Discernimento
de espíritos
A expressão inteira, no grego,
apresenta-se no plural. Este fato indica uma variedade de maneiras na
manifestação desse dom. Por ser mencionado imediatamente após a profecia,
muitos estudiosos o entendem como um dom paralelo responsável por 'julgar' as profecias
(1 Co 14.29). Envolve uma percepção capaz de distinguir espíritos, cuja
preocupação é proteger-nos dos ataques de Satanás e dos espíritos malignos (cf.
1 Jo 4.1). 0 discernimento nos permite pregar a Palavra de Deus e todos os
demais dons para liberar o campo à proclamação plena do Evangelho" (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma
perspectiva pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 475).
CONCLUSÃO
A Igreja de Jesus necessita dos dons de revelação para discernir entre o
certo e o errado, entre o legítimo e o falso. Os falaciosos ensinos e as
manifestações malignas podem ser desmascarados pelo dom do discernimento dos
espíritos. Que Deus conceda à sua igreja dons de revelação para não cairmos nas
astutas ciladas do Maligno.
A Igreja de Jesus
necessita, nestes últimos dias, mais do que nunca, da revelação profunda das
coisas divinas, para discernir entre o certo e o errado; entre o legítimo e o
falso, no que respeita às manifestações espirituais. Em determinados programas
de TV, de responsabilidade de igrejas ou de determinados pregadores, existem
heresias absurdas, como a chamada teologia da prosperidade; o “cair no
espírito”; “maldição hereditária” para o salvo em Cristo; “teísmo aberto” e
outras manifestações heréticas, que, a princípio, têm aparência de serem
genuínas, e levam muitas pessoas incautas, que não leem a Bíblia, a
interessarem-se por tais ensinamentos espúrios. Que o Senhor conceda à sua
igreja os dons de revelação a muitos crentes, incluindo líderes, para
presidirem a igreja local com segurança espiritual e doutrinária.
REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo
Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Candeias. V. 4, p. 605.
LIÇÕES BÍBLICAS. 2º
Trimestre 2021 - Lição 2. Rio de Janeiro: CPAD, 11, abr. 2021.
LIMA, Elinaldo
Renovado de. Dons Espirituais e Ministeriais: servindo a Deus e aos
homens com poder extraordinário. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.
STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1997.
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